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DIREITO CONSTITUCIONAL II

PROFESSORA FRANCINE FIGUEIREDO

1. DIREITO DE PROPRIEDADE

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade

Art. 5º, XXII ‐ é garantido o direito de propriedade.

Art. 5º, XXIII ‐ a propriedade atenderá a sua função social.

Art. 5º, XXIV ‐ a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição.

Art. 5º, XXV ‐ no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar
de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano.

Art. 5º, XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

Art. 5º, XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário
para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

1.1. Introdução

Abarcando as prerrogativas de usar, gozar, dispor e possuir um bem (material ou


não), bem como a de reavê-la diante de detenção indevida por outrem, o direito de
propriedade é assegurado pela Constituição Federal em seu art. 5º, em variados incisos
(XXII, XXIII, XXIV, XXVII, XXIX e XXX).

Note que nossa Constituição protege a propriedade de forma muito ampla,


englobando qualquer direito de conteúdo patrimonial, sejam eles materiais ou mesmo
imateriais, como os direitos autorais, a propriedade industrial (marcas) e o direito à
herança.

A atual proteção à propriedade (art. 5º XXII, e art. 170, II, da CR/88) é abrangente,
incluindo o patrimônio e sob esse título os direitos reais, os direitos pessoais e as
propriedades literárias e artísticas, as invenções e as descobertas. Mas a noção de
patrimônio inclui ainda o conjunto, não apenas de direitos, mas ainda de obrigações de
um indivíduo. Coligado também ao direito de propriedade está a proteção constitucional à
herança (art. 5º , XXX, da CR/88).

Mas, como o direito de propriedade não poderá, por óbvio, ser considerado
absoluto, as relativizações trazidas pela Constituição Federal serão apresentadas nos
itens a seguir, por intermédio de comentários referentes à função social da propriedade
(art. 5°, XXIII), à desapropriação (art. 5º, XXIV), à requisição (art. 5º, XXV, da CF/88), e à
expropriação (art. 243, CF/88).

PROPRIEDADE E PATRIMÔNIO SÃO SINÔNIMOS?

“O patrimônio não goza de proteção constitucional, todavia, tanto doutrinária


quanto jurisprudencialmente há o reconhecimento da impossibilidade de leis tributárias
agirem de modo confiscatório.” MENDES, Gilmar Ferreira e tal.,Cursodedireitoconstitucional,p.415.

PROPRIEDADE E DIREITO SUBJETIVO DE PROPRIEDADE

Direito de propriedade e os direitos subjetivos de caráter patrimonial (pensões


previdenciárias, salários de servidores públicos ou direito à restituição de tributos
indevidos).

É importante salientar que o STF recentemente já afirmou que é possível o


confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência
do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir (investigar) a habitualidade,
reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a
descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além
daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição de 1988.
Nesses termos, conforme o informativo 865 do STF, o confisco previsto no art. 243,
parágrafo único, da CF, deve ser interpretado à luz dos princípios da unidade e da
supremacia da Constituição, ou seja, não se pode ler o direito de propriedade em
separado, sem considerar a restrição feita a esse direito. Assim, a habitualidade do uso
do bem na prática criminosa ou sua adulteração para dificultar a descoberta do local de
acondicionamento não são pressupostos para o confisco de bens.

Confira o Informativo 865 do STF

https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2017/06/info-865-stf.pdf

Porém, nos termos do informativo 851 do STF, para que haja a sanção do art. 243
da CR/88, não se exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No entanto,
apesar disso, trata-se de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para
sua caracterização. Assim, mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente,
mas se agiu com culpa, deverá ser expropriado. O fundamento aqui é o de que a função
social da propriedade gera para o proprietário o dever de zelar pelo uso lícito do seu
imóvel, ainda que não esteja na posse direta.

Confira o Informativo 851 do STF

https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2017/02/info-851-stf.pdf

1.2. Função social da propriedade

Quando garantiu o direito à propriedade, nosso texto constitucional explicitamente


determinou que ela deveria atender a sua função social (art. 5º, XXIII).

Esse inciso divide os autores. Na percepção de alguns, a função social é uma


limitação ao exercício da prerrogativa; para outros, todavia, ela é parte integrante da
própria estrutura do direito, não havendo que se falar, no texto constitucional, de tutela à
propriedade que não atenda à sua função social. Partidário dessa segunda acepção, José
Afonso da Silva preceitua que “a função social da propriedade não se confunde com os
sistemas de limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito ao
proprietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade”.

Nosso entendimento, todavia, é a de que a primeira visão referente à função social


é a mais correta. Isso porque, ainda que o cumprimento da função social seja essencial
para que o proprietário usufrua plenamente de todas as faculdades que o direito lhe
confere, sua eventual inobservância não poderá subtrair do proprietário inadimplente
todos os seus direitos referentes ao bem. Desta forma, confundir a propriedade com sua
função social “daria margem até para justificar a expropriação sem o pagamento de
indenização”.

Entenda a função social como uma exigência constitucional que, se efetivada,


culmina no reconhecimento de que o direito de propriedade estará resguardado na sua
plenitude.

E o que é que justifica essa imposição constitucional? É uma releitura


contemporânea, que defende que a noção individualista de propriedade cede e dá lugar à
uma concepção que não nega o direito individual, mas o ajusta aos interesses sociais. A
função social tem por objetivo impulsionar o indivíduo a contribuir ao bem-estar da
coletividade em detrimento de interesses egoísticos e unicamente individuais. Não por
outra razão, a propriedade privada e sua função social foram listadas como princípios da
ordem econômica (art. 170, II e III, CF/88).

Para reforçar nossa ideia, as precisas palavras do STF:

o direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que,


sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida
a função social que lhe é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a
intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo,
para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na
própria CR. O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o
aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização
apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do
meio ambiente constituem elementos de realização da função social
da propriedade.

No que se refere à função social dos imóveis rurais, a Constituição Federal


preceituou, em seu art. 186, que será cumprida quando a propriedade rural atender,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, os
seguintes requisitos:

1) aproveitamento racional e adequado;

2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio


ambiente;
3) observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
4) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Repare que a efetivação da função social por imóveis rurais dependerá da
obediência a três ordens de condições:

1) econômica: relacionada à produtividade do imóvel (que deve ser aproveitado


racionalmente e adequadamente);

2) social: ótica que implica na obediência das normas referentes às relações de trabalho,
visando essencialmente o bem-estar dos envolvidos na atividade;

3) ecológica: utilização responsável do imóvel, com vistas a assegurar a proteção ao


direito fundamental ao meio ambiente.

Se o imóvel rural descumprir sua função social, poderemos ter a desapropriação,


pois nos termos do art. 184, CF/88, “compete à União desapropriar por interesse social,
para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano
de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”.

Por outro lado, a propriedade urbana cumprirá sua função social quando atender às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (art. 182, §
2º, CF/88). A propósito, o plano diretor –aprovado pela Câmara Municipal e obrigatório em
cidades com mais de vinte mil habitantes –, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana, conforme enuncia o art. 182, § 1º, CF/88.

A Constituição, em seu art. 182, § 4º, CF/88, faculta ao Poder Público municipal,
mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei
federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I – parcelamento ou edificação compulsórios;

II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão


previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.

Por fim, vale deixar firmado que, nada obstante a importância da função social da
propriedade, o seu descumprimento não justifica invasões clandestinas, revestidas de
caráter ilícito, que nada mais são do que atos atentatórios ao Estado de Direito. Assim,
não se pode admitir que movimentos ditos “sociais” (normalmente marcados pelo
emprego arbitrário da violência) se substituam ao Estado na definição das consequências
da desobediência à exigência constitucional do atendimento à função social.
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

PROPRIEDADE URBANA PROPRIEDADE RURAL

Dispositivos constitucionais: Artigos 5º, XXIII e 182, §2º e Dispositivos constitucionais: Artigos 5º, XXIII, 186 e 184
4º da CF da CF

Requisitos da função social: atender às exigências Requisitos da função social: sob o aspecto econômico,
fundamentais de ordenação da cidade expressas no social e ecológico
plano diretor
1. Aproveitamento racional e adequado

2. Utilização adequada dos recursos naturais


disponíveis e preservação do meio ambiente

3. Observância das disposições que regulam as


relações de trabalho

4. Exploração que favoreça o bem estar dos


proprietários e trabalhadores

Consequência para o descumprimento da função social: Consequência para o descumprimento da função social:

1. Parcelamento ou edificação compulsórios Desapropriação por interesse social, para fins de


reforma agrária pela competência da União,
2. IPTU progressivo
mediante prévia e justa indenização em títulos
3. Desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação
da dívida pública de emissão previamente do valor real, resgatáveis pelo prazo de até 20
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e
resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, cuja utilização será definida em lei
iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais

PARA FIXAR

[CESPE - 2019 - PGE-PE - Conhecimentos Básicos - Cargos: 1, 2, 3 e 4] À luz da


Constituição Federal de 1988, julgue o item a seguir:

O direito de propriedade é constitucionalmente garantido, devendo as propriedades


atender a sua função social.

Comentário:

Em razão da previsão dos incisos XXII e XXIII do art. 5º, pode marcar este item
como correto.
[CESGRANRIO - 2018 - Petrobras - Advogado Júnior] Nos termos da Constituição
de 1988, o direito de propriedade é um direito:

a) social, cabendo ao proprietário respeitar os limites da função social.

b) social, pois não possibilita ao proprietário dispor conforme o seu próprio e


exclusivo interesse.

c) individual, que impede qualquer tipo de intervenção do Estado.

d) individual absoluto, que possibilita ao proprietário sempre dispor conforme o seu


próprio e exclusivo interesse.

e) individual relativo, cabendo ao proprietário respeitar os limites da função social.

Comentário:

Você bem sabe, caro aluno, que a propriedade representa um direito individual.
Todavia, não é absoluto, aliás, como costuma acontecer com os demais direitos e
garantias individuais. A relatividade de tal direito fica evidente quando nos
lembramos do inciso XXII do art. 5o, que determina ao proprietário o necessário
respeito à função social.
1.3 Limitações ao direito de propriedade

AGU EXPLICA: LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA

https://youtu.be/G6wNSQuR4Vc

As limitações constitucionalmente firmadas ao direito de propriedade que


estudaremos nessa aula são as seguintes:

 a desapropriação (art. 5º, XXIV, CF/88);

 a requisição (art. 5º, XXV, CF/88); e

 a expropriação (art. 243, CF/88).

Enquanto a função social impede atribuir à propriedade um caráter absoluto, a


requisição atinge a exclusividade do direito, e a desapropriação e a expropriação afastam
seu caráter perpétuo.

1.3.1. Desapropriação

AGU EXPLICA: Desapropriação Indireta

https://youtu.be/Er5s0oxJFdA

Como o direito de propriedade perdura ao longo de toda a vida do proprietário e,


com sua morte, é transmitido aos seus sucessores, a princípio, podemos considerá-lo um
direito de duração ilimitada, vale dizer, perpétuo.

Todavia, o Poder Público pode determinar a desapropriação da propriedade


particular por meio de uma transferência compulsória, em que toma para si (ou transfere
para terceiros) bens particulares, mediante o pagamento de justa e prévia indenização
(em regra, em dinheiro).

Não há dúvida, estimado aluno, que a desapropriação é uma maneira bastante
agressiva de o Estado intervir no direito de propriedade. No entanto, é a forma que o
Poder Público tem para vencer eventuais obstáculos à efetivação de obras e serviços de
interesse da coletividade, como por exemplo a construção de um viaduto, de uma rodovia,
ou até mesmo a criação de uma reserva ambiental.

Uma vez que não há nenhum título anterior, ou seja, adquire-se o bem
independentemente de qualquer situação jurídica prévia, a desapropriação é considerada
uma forma originária de aquisição da propriedade. Assim, “o bem expropriado ingressa no
domínio público livre de ônus, gravames ou relações jurídicas, de natureza real ou
pessoal, que eventualmente o atinjam”.

O inciso XXIV do art. 5º da CF/88 prevê que a desapropriação depende de prévia


declaração do Poder Público de que o bem é de

1) necessidade pública,

2) utilidade pública ou

3) interesse social.

Vejamos o significado de cada uma dessas expressões:

1) Na necessidade pública, a Administração Pública precisa realizar, em caráter


emergencial, uma atividade essencial e indispensável ao Estado e, por isso, deve
promover a transferência urgente de bens particulares para o domínio público – pois
desapropriar foi a única solução administrativa encontrada para solver uma adversidade.
A doutrina entende que as situações descritas no art. 5º, do Decreto-lei 3.365/1941 (Lei
Geral de Desapropriações), alíneas “a”, “b” e “c” (segurança nacional, defesa do Estado e
socorro público em caso de calamidade) são hipóteses de necessidade pública (em que
pese o decreto listá-las como situações de utilidade pública).

2) Na utilidade pública, a realização de uma atividade estatal não é urgente ou


imprescindível, mas é conveniente para o Estado. Destarte, a desapropriação não é a
única, mas sim a melhor solução existente para superar o problema. O art. 5º do Decreto-
lei 3.365/1941 (Lei Geral de Desapropriações), excetuando suas alíneas “a”, “b” e “c”,
enuncia as hipóteses que autorizam essa modalidade de restrição.
3) O interesse social objetiva promover justa distribuição da propriedade para que esta
seja mais bem aproveitada, em benefício da coletividade ou de segmentos sociais que
mereçam amparo especial por parte do Estado. Essa modalidade tem caráter
sancionatório, destinando-se aos proprietários de imóveis que descumpram a função
social constitucionalmente exigida. Como exemplos de desapropriação por interesse
social, podemos listar:

(a) As desapropriações para política urbana (art. 182, §4º, III, CF/88). Se o imóvel urbano
não cumprir sua função social, poderá o Município exigir o parcelamento ou edificação
compulsórios e, não sendo tal medida satisfatória, poderá o ente federado determinar a
cobrança de IPTU progressivo no tempo. Todavia, se nenhum dos dois procedimentos for
suficiente para desembaraçar o problema, a Constituição autoriza que o Município adote a
medida enunciada no inciso III, a saber: a desapropriação mediante pagamento por meio
de títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com
prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados
o valor real da indenização e os juros legais.

(b) As desapropriações para reforma agrária (art. 184, CF/88). Nesse caso, é de
competência exclusiva da União desapropriar o imóvel rural que não esteja cumprindo
sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão. Diga-se, ainda, que as benfeitorias úteis e necessárias
serão indenizadas em dinheiro (art. 184, § 1º, CF/88), enquanto as voluptuárias integrarão
os títulos da dívida agrária.

PARA FIXAR

[FUNDATEC - 2018 - SPGG - RS - Analista de Planejamento, Orçamento e Gestão -


Adaptada] No que diz respeito aos direitos e garantias fundamentais previstos na
Constituição Federal, analise a seguinte afirmação:

A propriedade atenderá a sua função social, admitindo-se a desapropriação por


necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos em lei.

Comentário:
O item caminhava muito bem. No entanto, será considerado falso em razão da parte
final. Isso porque o inciso XXIV do art. 5º determina que tais ressalvas deverão
estar previstas na Constituição, e não em lei.

[VUNESP - 2017 - UNESP - Assistente Administrativo] Ressalvados os casos


previstos na Constituição Federal, a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante:

a) títulos da dívida pública.

b) justa e prévia indenização em dinheiro.

c) títulos da dívida agrária.

d) precatórios judiciais.

e) ordens de pagamento do Tesouro.

Comentário:

Como a indenização em razão da desapropriação por necessidade ou utilidade


pública, ou por interesse social, deverá ser justa e prévia e paga em dinheiro, nossa
resposta está na letra ‘b’.

[IBFC - 2017 - EBSERH - Advogado (HUGG-UNIRIO)] Analise os itens a seguir e


considere as normas da Constituição Federal sobre a garantia de sigilo para
assinalar a alternativa correta:

a) A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou


utilidade pública, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos na própria Constituição, sendo vedado tal ato por interesse social

b) A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou


utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e posterior indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos na própria Constituição

c) A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou


utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e posterior indenização em
dinheiro ou isenções, ressalvados os casos previstos na própria Constituição
d) A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro ou títulos, ressalvados os casos previstos na própria Constituição

e) A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou


utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos na própria Constituição

Comentário:

A letra ‘e’ é a tradução exata do inciso XXIV do art. 5º, sendo, portanto, nossa
resposta.

1.3.2. Requisição

Podemos considerar a requisição como sendo uma forma de intervenção pública


no direito de propriedade em situações emergenciais, em que há iminente perigo público
e a autoridade competente precisa usar temporariamente uma propriedade particular (art.
5º, XXV).

Existem duas modalidades de requisição: a civil (art. 5º, XXV, CF/88) e a militar
(art. 139, VII, da CF/88). Em nenhuma delas teremos a perda da propriedade (supressão
de domínio), mas, tão somente, o uso do bem pelo Estado no intuito de atender o
interesse público.

A requisição terá lugar em situações de urgência, nas quais o Poder Público não
tem tempo suficiente para a adotar outras providências alternativas que não dependam da
interferência nos bens particulares.

O fato é: o Estado precisa da propriedade privada, a utiliza e a devolve ao


proprietário logo após a ação.

Se por acaso, com tal postura, o Estado gerar danos, terá que pagar uma
indenização. Do contrário, não tendo ocorrido qualquer avaria ao bem utilizado, a
indenização não será necessária.

Assim é justamente em razão da necessária comprovação de existência de dano,


que a indenização será sempre posterior.
ATIVIDADE: FAÇA em seu caderno, um comparativo entre a
desapropriação e a requisição.

DESAPROPRIAÇÃO REQUISIÇÃO
Limitação ao direito de propriedade Limitação ao direito de propriedade
Permanente Temporária
Indenização prévia Indenização ulterior, se houver dano
Justa indenização obrigatória Não há obrigatoriedade na indenização
Não tem caráter de urgência, salvo na Ocorre diante de iminente perigo
desapropriação por necessidade pública
Espécies: necessidade pública, utilidade Civil: artigo 5º, XXV, CF
pública, interesse social: função social, Militar: artigo 139, VII, CF
reforma agrária

A requisição é uma forma de intervenção pública no direito de propriedade em situações


emergenciais, em que há iminente perigo público e a autoridade competente precisa usar
temporariamente uma propriedade (ou um bem ou um serviço) particular (art. 5º, XXV).

Existindo na modalidade civil (art. 5º, XXV, CF/88) e na militar (art. 139, VII, da CF/88), na
requisição não se fala em perda da propriedade (supressão de domínio), mas apenas em uso do
bem pelo Estado visando atender o interesse público.

Trata-se de situação de urgência em que o Poder Público não tem tempo suficiente para a adoção
de providências alternativas que não dependam da interferência nos bens particulares. O Estado
precisa da propriedade privada, a utiliza (de forma compulsória) e a devolve ao proprietário logo
após a ação. Caso o uso acarrete danos, há de ser fixada uma indenização. Caso contrário, não
tendo ocorrido qualquer avaria ao bem utilizado, a indenização não se faz necessária. Vê-se, pois,
que é em razão da necessária comprovação de existência de dano, que a indenização será sempre
posterior.

(...)

O instituto da requisição administrativa foi bastante debatido no ano de 2020, durante o combate
à pandemia da Covid-19. O STF se pronunciou sobre o tema na ADI 6362 (julgada em
setembro/2020), determinando que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios
podem, no exercício de suas competências constitucionais, decretar a requisição administrativa
prevista na Lei no 13.979/2020. Assim, restou firmado pela nossa Corte Suprema que os gestores
locais de saúde (secretarias estaduais e municipais, por exemplo) façam as requisições de bens e
serviços (como a utilização de leitos de UTIs de hospitais privados, dentre outros recursos) mesmo
sem autorização do Ministério da Saúde. Um dos fundamentos centrais utilizados pelo STF foi o de
que constitui competência comum da União, Estados, DF e Municípios “cuidar da saúde e
assistência pública” (art. 23, II) – o que significa que a defesa da saúde é atribuição de todas as
unidades federadas, que será efetivada sem que os entes dependam da autorização de outros
níveis governamentais para levá-las a efeito, cumprindo-lhes, tão somente, consultar o interesse
público que, por obrigação constitucional, os entes têm de preservar.

11
. Vale frisar que a requisição só atinge bens particulares, não bens de outros entes federados. Partindo dessa premissa, o Min. Celso de Mello
(aposentado em outubro de 2020), em abril de 2020 (durante o combate à pandemia decorrente da Covid-19), determinou que a União não poderia
requisitar respiradores que tinham sido adquiridos pelo governo do Maranhão (Ação Cível Originária - ACO 3385). O Estado do Maranhão, ao pedir
a suspensão da medida que houvera sido determinada pela União, argumentou que a autonomia dos entes federados impediria que um deles (no
caso, a União) assumisse, mediante simples requisição administrativa, o patrimônio, o quadro de pessoal e os serviços de outro ente público. A
única ressalva seria a excepcional circunstância de se tratar de requisição federal de bens públicos na vigência do estado de defesa (CF, art. 136, §
1o, II) ou do estado de sítio (CF, art. 139, inciso VII). Ademais, por se tratar de conflito federativo, o STF era a instância adequada para decidir o
tema (art. 102, I, ‘f’, CF/88).

12
. Lei federal editada em fevereiro de 2020, estabelecendo medidas para o enfrentamento do coronavírus.

1.3.3. Expropriação ou confisco

AGU EXPLICA DESAPROPRIAÇÃO SANÇÃO

https://youtu.be/ArkKVqXHdp4

A expropriação representa a supressão punitiva da propriedade privada, por ordem


judicial, sem que o proprietário tenha direito a receber qualquer indenização!

Está descrita no art. 243, CF/88, e ocorre naqueles casos em que o sujeito se
utiliza de sua propriedade, rural ou urbana, localizada em qualquer região do País, para
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo.

As propriedades (possuídas a qualquer título) que forem expropriadas serão


destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular (haverá o
assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos).
Ressalta-se, ainda, que todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá a
fundo especial com destinação específica, na forma da lei (art. 243, parágrafo único,
CF/88, com redação dada pela EC no 81/2014).

2. Propriedade Rural

Art. 5º, XXVI ‐ a pequena propriedade rural, assim definida em lei,


desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.

Eis a garantia da impenhorabilidade, que o poder constituinte originário concedeu à


pequena propriedade rural trabalhada pela família.

O intuito protetivo dos pequenos trabalhadores rurais é obvio, pois nossa


Constituição determinou a impenhorabilidade da pequena propriedade rural, só exigindo o
cumprimento de duas condições:

1) que ela seja trabalhada (explorada economicamente) pela família e

2) que a dívida causadora da possível penhora tenha sido originada na atividade


produtiva.

Destarte, tenha muito cuidado com afirmações em prova que digam que a pequena
propriedade rural trabalhada pela família em nenhuma hipótese poderá ser objeto de
penhora, pois ela poderá sê-lo para efetivar o pagamento de débitos estranhos à sua
atividade produtiva.

É igualmente válido destacar que se a pequena propriedade rural não for


trabalhada pela família, ela também pode ser penhorada para pagamento de débitos
decorrentes e débitos estranhos à sua atividade produtiva.

PARA FIXAR

[CESPE - 2013 TJ-BA - Titular de Serviços de Notas e de Registros] Considerando


as normas constitucionais sobre direitos e garantias fundamentais, analise a
assertiva:

A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora, salvo se para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva.

[FUNCAB - 2014 - MDA - Técnico em Agrimensura - Adaptada] Sobre os direitos e


garantias fundamentais, julgue a assertiva:

É permitida a penhora da pequena propriedade rural para pagamento de débitos


decorrentes da atividade produtiva.

Comentário:
Tendo em vista que a Constituição determina que a pequena propriedade rural,
assim definida em lei e desde que seja trabalhada pela família, não será objeto de
penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, os
dois itens devem ser marcados como falsos.

Gabarito: Errado/Errado

3. Direitos Autorais

Art. 5º, XXVII ‐ aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,


publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros
pelo tempo que a lei fixar.

Art. 5º, XXVIII ‐ são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à


reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras


que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e
às respectivas representações sindicais e associativas.

Os direitos autorais recebem proteção constitucional. Assim, enquanto estiver vivo,


o indivíduo autor controla a utilização, a publicação e a reprodução de suas obras, sendo
esse direito transmissível aos seus herdeiros pelo tempo determinado por lei (e não
eternamente, pois, a partir de um determinado momento, a obra cairá em domínio
público).

4. Propriedade Industrial

Art. 5º, XXIX ‐ a lei assegurará aos autores de inventos industriais


privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às
criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.

O inciso XXIX assegura a chamada propriedade industrial na condição de um


direito individual. Note, prezado aluno, que ao contrário do direito autoral, que o autor
possui até sua morte, a propriedade industrial é um privilégio temporário, de forma que o
inventor só possua sobre os seus inventos um privilégio provisório.

PARA FIXAR

[FUNDATEC - 2018 - SPGG - RS - Analista de Planejamento, Orçamento e Gestão -


Adaptada] No que diz respeito aos direitos e garantias fundamentais previstos na
Constituição Federal, analise a seguinte afirmação:

A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas,
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. V

5. Herança e Sucessão

AGU EXPLICA: REGRAS DE SUCESSÃO

https://youtu.be/pFEJnhVnbcs

Art. 5º, XXX ‐ é garantido o direito de herança.

Art. 5º, XXXI ‐ a sucessão de bens de estrangeiros situados no País


será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos
filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do "de cujus".

O direito de herança é constitucionalmente assegurado na condição de direito


individual fundamental, sendo esta uma novidade introduzida pela atual Constituição –
antes de ela entrar em vigor, as normas que regulamentavam o tema eram todas
infraconstitucionais.

Destarte, se algum estrangeiro falecer deixando bens situados no Brasil, esta


sucessão de bens (recebimento da herança) será regulada pela lei brasileira de forma a
beneficiar o cônjuge ou seus filhos brasileiros, a não ser que a lei do país do falecido seja
ainda mais favorável a estes.

Em outras palavras: vamos aplicar a norma sucessória que mais beneficie os


brasileiros sucessores.

PARA FIXAR
[INSTITUTO AOCP - 2018 - TRT - 1a REGIÃO (RJ) - Analista Judiciário - Engenharia
Civil - Adaptada] De acordo com o que dispõe a Constituição Federal acerca dos
direitos e deveres individuais e coletivos, julgue a assertiva:

A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei


brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus".

Em razão do art. 5º, em seu inciso XXXI, determinar que a sucessão de bens
estrangeiros situados em nosso país será regulada pela lei brasileira em benefício
do cônjuge ou dos filhos brasileiros, desde que a lei pessoal do favorecido não seja
mais favorável, poderemos marcar o item como verdadeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANOTILHO, J. J. Gomes; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; MENDES,


Gilmar Ferreira. Comentários a Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina,
2013.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. Ed. –
Coimbra: Almedina, 2013.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 24. Ed. – São Paulo:
Saraiva, 2003. KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. 4a ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2005. LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la Constitución. Barcelona: Ed.
Ariel, 1965.
HAURIOU, André. Droit Constitutionnel et Intitutions Politiques. Paris: Éd. Montchrétien,
1966. MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 6a. ed. Salvador: Juspodivm,
2018.

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito


Constitucional. 10a ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21a ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 14. Ed — São Paulo: Saraiva,
2016.

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. — São Paulo: Saraiva, 2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 33a ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2010.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros,
2005.
VELOSO, Zeno. O controle jurisdicional de constitucionalidade. 2a ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000.

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