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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CAMPUS TOLEDO

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO DO AGRONEGÓCIO


PROF: ALESSANDRA

RESUMO: FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

JOÃO VITOR GELLER

Toledo, 2024
1. Considerações Preliminares

A Função Social da Propriedade começou a ganhar especial atenção a partir da Idade


Média (séc. XIX), quando passou a integrar os textos constitucionais;

O crescimento e a diversificação da atividade econômica, levam a grande


concentração societária do capital e ao surgimento da grande empresa, controladora
da produção e do mercado;

A idéia do direito da propriedade está ligada ao um dever perante a coletividade, qual


se procura distinguir o direito de propriedade e o uso desta.

Por volta do séc. XIX, a propriedade individualista sobreleva a utilidade social da


propriedade, prevalecendo a ideia de que os bens devem ser dirigidos para a
produção da riqueza, visando atender harmonicamente as necessidades do titular do
direito de propriedade e o interesse da coletividade;

Seguindo, a partir da revolução industrial, começaram a emergir as sociedades por


ações, as quais já se diferenciavam da anterior, porque estas tornavam irrelevante a
posse direita sobre os bens integrantes do ativo da empresa, pois o poder de
disposição do proprietário passou a ter como objeto a ação, que corresponde a uma
fração do capital;

Trata-se neste contexto de uma das mais importantes alterações no conceito de


propriedade, pelas quais “o direito passa da posse ao crédito e muda, sem dize-lo, o
sentido da palavra propriedade.”;

Com o desenvolvimento decorrente das revoluções a configuração de propriedade


passa a ser cada vez mais complexa, a partir da qual sua regulamentação há de se
diversificar.

2. Estrutura e Função

A noção de função da propriedade esta ligada a finalidade de determinado instituto ou


direito e corresponde aos interesses objeto da tutela, indicando como um instituto ou
direito deve operar;
Já a estrutura é composta pelas faculdades de usar, gozar e dispor da coisa, bem
como pelo direito de exclusão de terceiros, enquanto que a ideia da função esta ligada
a utilidade da coisa;

“o direito de propriedade serve para fundar estruturalmente um mercado”, cuja


característica depende da configuração jurídica atribuída ao direito de propriedade.

3. Função Social da Propriedade

A tutela da propriedade, sob a perspectiva social, extrapola os limites do direito


individual e passa a tutelar também o interesse social, na medida em que se
reconheça que “o exercício dos poderes do proprietário não deveria ser protegido tao
somente para satisfação do seu interesse”.

Portanto, a referência a uma propriedade dotada de função social é uma referência a


propriedade privada, pois a propriedade estatal e a propriedade coletiva já
nascem impregnada da ideia da função social;

Importante mencionar que, o direito subjetivo e a função, aquele condicionado por


esta, mediante imposição de deveres, positivos ou negativos, visando o cumprimento
da finalidade definida para os bens objeto do direito de propriedade;

Sendo assim, a noção da função social da propriedade recai de um critério delimitador


do conteúdo da situação jurídica como consequência das finalidades definidas para
os bens sobre os quais recai, o que supõe novas limitações do direito de propriedade
e, em certas circunstâncias, a criação de novas obrigações e deveres concretos para
seu titular;

O fato de o conteúdo da propriedade ser composto de poderes e deveres significa que


o proprietário dispor de um espaço mais limitado, dentro do qual pode satisfazer seus
interesses individuai;

Trata-se, portanto, de uma concepção finalística, que conjuga direitos, deveres,


obrigações e ônus impostos ao proprietário;

Na atualidade, considera-se sua destinação e o adequado aproveitamento do


seu potencial;
Seja como for, a função social da propriedade condiciona o exercício dos poderes do
proprietário, tendo em vista a destinação que, mediante critérios de politica legislativa,
se defina certos bens, em determinadas circunstâncias;

Assim, a propriedade deve ser vista e regulamentada de acordo com a natureza dos
bens sobre os quais incide – bens de produção, imóvel rural, industrial, urbano, etc.

A titulo de exemplo o artigo 1.228, §1 do CC diz pelo qual a funlçaio social da


propriedade será caracterizada.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas


finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das
águas.

4. Os princípios da Constituição de 1988.

A CF garante o direito de propriedade em geral, mas exige o cumprimento de sua


função social;

A CF distingue a propriedade urbana e a propriedade rural, cada uma com seu regime
jurídico peculiar;

Também reitera o princípio da função social da propriedade, associando-a a


exploração dos bens de produção e ressaltando a função social da empresa;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;


Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público


municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus
habitantes.

§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída
no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento,
sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão


previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e
os juros legais.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio


ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.


A Fixação desse balizamento comporta, evidentemente, construção doutrinária e
legislativa que harmonize os princípios que, a par do direito subjetivo do titular da
propriedade, condicionam o exercício dos seus poderes a realização da função social;

5. A função social da propriedade urbana: o Estatuto da Cidade.

Cuida a Constituição de retirar do titular da propriedade a faculdade de não-uso, nas


hipóteses em que o plano diretor da cidade especificar determinado uso para a
propriedade e determinar sua utilização;

Nesse contexto, o poder do proprietário de deliberar sobre o aproveitamento de seu


terreno urbano vai cedendo lugar ao interesse coletivo;

Sendo assim, novas modalidades de intervenções do Estado também vão surgindo,


dando origem a inovações significativas nos mecanismos de apropriação de terrenos
urbanos, do direito de construir e de legitimação de posse, para assentamento da
população de baixa renda;

Quanto aos fundamentos da propriedade imobiliária urbana, o Estatuto da Cidade (Lei


n. 10257/01), fixa que: “o objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”, tendo em vista a
realização de sua função social, qual seja: garantia do direito de cidades sustentáveis,
planejamento do desenvolvimento das cidades, controle de ordenação e controle de
uso do solo, fixação de padrões de produção, proteção, preservação e recuperação
do ambiente natural;

Para Cumprimento destas diretrizes gerais, o Estauto da Cidade criou novas figuras
em nome da função social, tais como a concessão de direito real de uso, a concessão
de uso especial para fins de moradia, o parcelamento, edificação ou utilização
compulsórios, etc.;

Portanto, o conceito de função social urbana haverá de ser aquele que estiver
expresso no plano diretor.;

“A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende as exigências


fundamentais da ordenação da cidade, expressa no Plano Direitor”;
6. Código Civil de 2002.

Em matéria de usucapião, introduziu importantes inovações, seja priorizando a


situação possessória pela redução dos prazos de prescrição aquisitava, em geral, mas
também, criando nova modalidade de usucapião fundada na noção da posse-trabalho,
na qual é igualmente exíguo o prazo prescricional, no caso o possuidor tenha
estabelecido no imóvel sua residência e de sua família, e nele tenha realizado obras
ou serviços produtivos;

Tornando assim, aquele que trabalha na terra e faz produtiva merecedor de tutela de
direito positivo;

Aqui, mais uma vez, sobressai a maior valoração jurídica da posse, em cotejo com a
propriedade, na medida em que, apesar de ser devida indenização aoo proprietário, a
situação possessória prevalece, em detrimento do direito de propriedade;

Criou também, no campo da função social da propriedade a revisão de normas


relativas ao direito de vizinhança, a regulamentação do direito de superfície e a
inclusão, entre direitos reais, do direito real de aquisição do promitente comprador do
imóvel.

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