Você está na página 1de 3

 Introdução

Em seu artigo 5°, inciso XXII, a nossa CF estabelece a garantia do direito de


propriedade, sendo este um direito e uma garantia fundamentais. Da mesma forma, o
inciso XXIII principia que a propriedade deverá atender a sua função social, o que, sem
dúvidas, mostra-se como um limitador ao referido direito. Outros limitantes também
estão expressos no ordenamento, como os institutos que regulam a utilização da
propriedade e que possibilitam a intervenção do Estado no domínio privado.

É visível que o atual conjunto de normas constitucionais sobre a propriedade revelam


que ela não pode mais ser considerada como um simples instituto de direito privado,
pois devido ao seu caráter constitucional, lhe são atribuídos também as condições de
direito fundamental e de princípio. Além disso, relativizou-se seu conceito e aplicação,
pois a partir da função social, das limitações e da interferência estatal, houve perda do
caráter absoluto que possuía, passando atualmente a ser considerada como um dos
instrumentos capazes de assegurar a todos uma existência justa socialmente.

A necessidade dessa relativização de conceito e aplicação se deu devido à percepção de


que, ao longo da história, a propriedade privada sempre foi um foco de conflitos e
disputas socioeconômicas. Sendo assim, o Estado, através do exercício do direito, passa
a buscar meios para a proteção desse direito, bem como tentar regular seus efeitos, no
sentido de alcançar um equilíbrio social.

 Direito de Propriedade

O conceito de propriedade teve sua interpretação modificada, vindo a ser uma relação
jurídica entre um indivíduo e um sujeito passivo universal integrado por todas as
pessoas, o qual tem o dever de respeitá-lo. Sendo assim, cada indivíduo tem um poder
subjetivo sobre seus pertences e essa relação deve ser respeitada pelos demais membros
da coletividade.

Essa concepção individualista, também conhecida como função individual ou privada


da propriedade, é bastante influenciada pelo capitalismo e entende que a propriedade
existe apenas para a satisfação exclusiva de seu dono e obtenção dos interesses
econômicos do indivíduo e sua família.

Assim, temos o direito de propriedade como direito de usar, gozar, usufruir e dispor de
um determinado bem, e de reavê-lo, de quem quer que injustamente o esteja possuindo.
 A Função Social da Propriedade

Com o reconhecimento pelo sistema jurídico de que o direito de propriedade, em seu


exercício, deveria voltar-se aos interesses gerais da coletividade em detrimento dos
interesses particulares. E, assim, a propriedade funcionalizou-se socialmente. Agora, a
propriedade, além de exercer o seu papel interno, que é o constituído pelos poderes do
proprietário, deve exercer, também, uma função externa, representada pela função social
que deve ser cumprida no sentido de evitar subutilização da propriedade que possa vir a
causar descontentamentos sociais.

O proprietário não pode agir com abusividade e ao seu bel prazer, pois assim poderia
ferir direitos e interesses coletivos e difusos, interesses esses que devem interagir com o
seu direito subjetivo e não serem subjugados por ele.

 Limitações ao direito de propriedade

Como já observado, a legislação brasileira em vigor estabeleceu limites ao direito de


propriedade, que perdeu seu caráter absoluto e intangível de antes e que permitia ao
titular usar do imóvel da maneira indiscriminada. Agora, o Poder Público impõe
limitações a esse uso e exige que haja colaboração em prol do interesse coletivo. A
observância dessas exigências tornou-se condição para a sobrevivência jurídica do
domínio privado, pois caso contrário, existe a possibilidade de perda da propriedade.

Os meios de intervenção a propriedade estão previstos na CF, visto que a propriedade é


cláusula pétrea e serão vistos a seguir:

1) Requisição: Traz restrições quanto ao uso da propriedade, implicando na perda


temporária da posse por razões de iminente perigo público. Exemplo: requisição de um
imóvel para combater um incêndio.

2) Ocupação temporária: Traz restrições ao uso da propriedade, podendo ou não


implicar na perda temporária da posse por razões de interesse público. Exemplo:
Ocupação de um imóvel para deixar maquinário em razão de um serviço público.

3) Limitação administrativa: Traz restrições ao uso da propriedade, não implicando na


perda da posse. Exemplo: limite de altura para construção de prédio, recuo na calçada.

4) Servidão: Traz restrições ao uso da propriedade não implicando na perda da posse,


mas traz restrições quanto ao uso por meio de uma imposição específica, onerosa e
unilateral. Exemplo: a colocação de postes de eletricidades recai sobre alguns imóveis
em não sobre todos.

5) Tombamento: Traz restrições ao uso da propriedade não implicando na perda da


posse, mas traz restrições quanto ao uso para preservação.

6) Desapropriação: É um meio de intervenção na propriedade de caráter compulsório,


que ocasiona a sua transferência o poder público, em razão de interesse público ou
descumprimento de função social, mediante indenização.

7) Confisco: É um meio de intervenção na propriedade que ocasiona sua transferência,


em razão de o proprietário ter cometido um ato ilícito.

Você também pode gostar