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ROTEIRO DA AULA V

Disciplina (TGP e Processo de Conhecimento)


Prof.: Vanderlei de M. Afonso
Tema da aula: competência no processo civil e suas principais
características

* Objetivos

- Identificar os critérios de fixação da competência


internacional;

- Compreender os mecanismos de cooperação internacional;

- Aplicar os critérios de competência nacional;

- Identificar os critérios de modificação da competência.

O professor deve iniciar a aula explicando o que a jurisdição,


recordando o debate feito na semana 1, de modo que os alunos
compreendam que se trata de apenas uma forma de composição de
conflito, e não a única, provocando-os a, nesta aula, compreender
as características e os princípios da jurisdição. Em seguida, deve
incentivar os alunos a lerem o conteúdo digital.

Situação-problema: A concepção de jurisdição foi se modificando ao


longo da história, reconhecendo-se hoje o exercício da atividade
jurisdicional, enquanto monopólio estatal, como permeado pelas
garantias processuais. Porém, encontra-se a máxima que todo juiz,
regularmente investido, após aprovação em concurso de provas e
títulos, tem jurisdição, mas nem todo juiz tem competência. Com
base nos conceitos de jurisdição e de competência, analise o caso
a seguir: Mário, brasileiro, foi casado com Mariah, norte-americana,
e, durante o casamento, houve a aquisição de bens no Brasil.
Porém, após diversas brigas, o casal resolveu se divorciar, tendo
Mariah retornado à sua terra natal. Para a sua surpresa, após
alguns meses, Mário recebeu uma citação, cujo teor esclarecia a
tramitação, nos Estados Unidos, de um processo sobre o divórcio e
a partilha dos bens imóveis que adquiriram durante o casamento,
todos situados em território brasileiro. Preocupado, Mário procura
um advogado, para saber se o que for decidido nos Estados Unidos
poderá ser homologado e, consequentemente, produzir seus efeitos
aqui no Brasil. Como o advogado poderá responder à consulta
sobre a homologação da sentença estrangeira neste caso? E se a
ação fosse ajuizada no Brasil, qual seria o juízo competente?

Metodologia: O professor deve abrir o conteúdo digital desta aula,


incentivando os alunos a fazerem o mesmo. Então, deve mostrar o
vídeo "Os limites da jurisdição nacional". Em seguida, adotando a
metodologia da sala de aula invertida, com a técnica do
brainstorming, deve refletir com os alunos: i) quais os limites da
competência internacional; ii) quais os limites da competência
nacional. As respostas deverão ser anotadas no quadro.

Atividade verificadora da aprendizagem: Após reler o conteúdo


digital e a situação-problema, o docente deverá indagar: em relação
ao caso, imagine que Mário e Mariah celebraram um negócio
jurídico processual manifestando a vontade de eleger um juízo
competente para o processamento do divórcio e partilha dos bens
decorrentes do casamento. Analise se a manifestação de vontade
das partes poderia eleger um juízo competente.

Estudo de caso: Davi, residente no município de Salvador/BA, fazia


uma viagem de carro até Ilhéus/BA. Após algumas horas de
viagem, quando trafegava em uma rodovia na altura da cidade de
Valença/BA, seu carro se chocou com o de Luciano (este, por sua
vez, residente na cidade de Cairu/BA, e estava ali a trabalho). O
carro de Davi teve sérios danos materiais, e os motoristas não
chegaram a um consenso sobre quem teve culpa no acidente.
Testemunhas (moradores da cidade onde ocorreu o sinistro)
presenciaram tudo. Davi pretende ingressar com ação judicial de
reparação de danos em face de Luciano. Como advogado de Davi,
onde você explicaria ao seu cliente que a ação deveria ser
ajuizada?
* Competência no processo civil

A) Conceito
Como bem salienta o prof. Edward Carlyle Silva, o
Poder do Estado é uno e indivisível, porém se manifesta através
de 3 (três) funções: a função legislativa, a função executiva e a
função jurisdicional.
A jurisdição tem como principal característica a unidade.
Todavia, em razão da necessidade de imprimir às prestações
jurisdicionais maior eficiência, em todos os âmbitos do processo, a
jurisdição sofre limitações, pautadas por normas de ordem pública.
Nessa esteira de pensamento, denomina-se competência a
limitação ao poder jurisdicional conferido ao magistrado. Logo,
pode-se definir competência, de acordo com conhecida expressão
doutrinária trazida por Enrico Tullio Liebman, como a medida (ou
limite) da jurisdição.

Em resumo: a competência está dentro da jurisdição,


porque mesmo a jurisdição sendo una, ela pode ser limitada para
que ocorra a melhor prestação jurisdicional.

OBS: o prof. Alexandre Câmara define competência


como o conjunto de limites dentro dos quais cada órgão do
Judiciário pode exercer legitimamente a função jurisdicional. Assim
sendo, salienta o citado doutrinador que o exercício da função
jurisdicional por um órgão do judiciário em desacordo com os limites
traçados por lei será ilegítimo, sendo de se considerar, então, que
aquele “juízo” é incompetente.
B) Limites da jurisdição nacional

B.1) Competência brasileira “concorrente” (arts. 21 e 22 do


CPC)
Aqui a demanda pode tramitar no Brasil ou no
estrangeiro. (por isso concorrente)

OBS: em regra, não há litispendência (arts. 21 e 22 do


CPC) nas hipóteses de competência concorrente, salvo se já houve
uma coisa julgada (art. 960 CPC) c/c (art. 24 CPC), quando então
prevalecerá a 1ª decisão que já houver transitado em julgado.

OBS 2: é possível que ocorra “HDE” nas hipóteses de


competência brasileira concorrente (art. 960 CPC).

OBS 3: atenção ao art. 24, parágrafo único, do CPC. (c/c


arts. 21, 22 e 960 do CPC).

B.2) Competência brasileira “exclusiva” (art. 23 do CPC)


Aqui a demanda só pode tramitar no Brasil. (por isso
exclusiva).

Nesses casos observa-se a soberania nacional


plenamente (exclui-se totalmente a autoridade judiciária
estrangeira), protegendo os bens que estejam situados no Brasil
(bens imóveis ou móveis).

OBS: atenção ao art. 25, caput, do CPC (que não se


aplica ao art. 23 do CPC), salvo se ofender efetivamente as
hipóteses do art. 23 do CPC (c/c art. 25, §1º, CPC).

C) Critérios de “definição da competência” interna brasileira

São basicamente 03 (três) critérios de definição da


competência interna brasileira, a saber: critério objetivo, critério
funcional e critério territorial.

C.1) Critério “objetivo” de definição da competência brasileira

O critério objetivo abrange a competência em razão da


matéria (ratione materiae), em razão da pessoa (ratione personae) e
em razão do valor da causa (ratione valore).

1º) Critério objetivo de Competência em razão da matéria


(exemplos: área cível, família, criminal, infância e juventude etc.)

Com efeito, em razão da crescente necessidade de


especialização da jurisdição, de forma a oferecer melhor composição
das lides apresentadas e maior pacificação social, a lei cria varas
especializadas, e em razão de tais critérios serem definidos por normas
pautadas na ordem pública, “não” há possibilidade de derrogação pelas
partes, sendo critério de competência absoluta.

Exemplo: ação de divórcio deve tramitar na vara de


família; demandas envolvendo certos ilícitos penais devem tramitar na
vara criminal etc. Assim sendo, conclui-se que a observância da
competência em razão da matéria perpassa pelo devido enquadramento
do assunto versado no caso concreto com sua área competente
(criminal; cível; família; de infância e juventude; de registros públicos
etc.), respeitando as “matérias” aqui analisadas.

2º) Critério objetivo de Competência em razão da pessoa


(exemplo: varas de Fazenda Pública)

A análise do critério objetivo da competência em razão da


pessoa, que baseia-se, resumidamente, na devida observância da
competência em relação a “certas pessoas” que estariam participando
da demanda.

Exemplo: demanda contra o Estado do Rio de Janeiro


(pessoa jurídica de direito público) deve ser ajuizada perante uma
das Varas de Fazenda Pública.

3º) Critério objetivo de Competência em razão do valor


da causa (exemplo: nos Juizados Especiais em geral)

Quando o valor da causa é utilizado para identificar


competência, “em regra”, é utilizado como critério definidor de
competência relativa, conforme elencado em certas leis especiais
(exemplo: Lei 9099/95) e pelo próprio CPC (exemplo: art. 63 do CPC).

ADENDO: se a competência em razão do valor da causa for


da Lei 9099/95 (JEC) - (será competência relativa), mas se o valor da
causa envolver as Leis 10259/01 (JEF) e 12153/09 (JEFAZ) - (será
competência absoluta).
C.2) Critério “funcional” de definição da competência brasileira

A competência funcional se desdobra em competência


hierárquica (análise vertical: exemplos nos recursos em geral e nas
ações de competência originária dos tribunais, como HDE, arguição de
inconstitucionalidade, ações rescisórias, IRDR etc.) e competência em
razão do bom funcionamento do Judiciário (análise horizontal:
exemplos das demandas que são distribuídas por dependência).

Em resumo, o critério funcional observa qual será o órgão


competente para analisar o feito de acordo com a função do órgão
jurisdicional para cada assunto que desempenha, por exemplo, nas
situações envolvendo os recursos em geral, nas hipóteses de
competência originária dos tribunais e nas demandas que observam a
distribuição por dependência.

C.3) Critério “territorial” de definição da competência brasileira

No CPC o critério territorial de competência está previsto nos


artigos 46 e seguintes.

Tem-se por critério territorial, ou de foro, a norma indicativa


do local de ajuizamento da ação, observando questões geográficas,
ou seja, a comarca, seção ou subseção judiciária em que deve ser
ajuizada a demanda. A competência territorial, via de regra, versa
sobre competência relativa. Nesse sentido, utiliza, normalmente, o
domicílio do réu para identificar a competência territorial (art. 46 e
seguintes, do CPC).

OBS: “sempre lembrar” - sendo justiça estadual


(denomina-se comarca) e sendo justiça federal (denomina-se seção ou
subseção judiciária).

Art. 46 do CPC (...): (em regra, o foro competente será o do


domicílio do réu).

Cuidado com o art. 101, I, CDC (princípio da especialidade).

Art. 47 do CPC (...): (o foro competente será o da situação


da coisa).

Aqui envolve o foro do local do imóvel.

OBS: esta hipótese é um exemplo de competência territorial


que não será relativa, mas absoluta.

Art. 48 do CPC (...): (o foro competente será o do domicílio


do de cujos).

OBS: se o autor da herança não possuía domicílio certo,


aplica-se o parágrafo único.

Art. 49 do CPC (...): (o foro competente será o do último


domicílio do ausente).

Art. 50 do CPC (...): (o foro competente será o do domicílio


do representante do incapaz).

Art. 51 do CPC (...): (o foro competente será o do domicílio


do réu).

OBS: quando a União for autora (caput) e quando a União for


ré (parágrafo único).

Art. 52 do CPC (...): (o foro competente será o do domicílio


do réu).

OBS: quando os Estados ou DF forem autores (caput) e


quando forem réus (parágrafo único).

Art. 53 do CPC (...): (foro privilegiado).

I - (...).

II - (...) foro do alimentando (quem recebe alimentos).

III - (...) foro do lugar.

IV - (...) foro do lugar do ato ou fato.

V - (...) foro do domicílio do autor ou do local do fato


(aqui ele também pode optar pelo domicílio do réu).
D) Perpetuação da jurisdição (ou competência)

Art. 43 do CPC (...) - “Princípio da perpetuação da


jurisdição ou competência”.

E) Competência absoluta ou relativa

Para a maioria da doutrina temos o seguinte critério:

E.1) Competência absoluta:

Em razão da matéria.

Em razão da pessoa.

Em razão da função (critério funcional).

Nas situações envolvendo especificamente os imóveis (art.


47 do CPC).

E.2) Competência relativa:

Em razão do valor da causa (em regra).

Em razão do território (salvo as exceções trazidas em lei).

OBS: na Lei 9099/95 (competência relativa), com valor até


40 salários-mínimos.
OBS 2: nas Leis 10259/01 e 12153/09 (competência
absoluta), com valor até 60 salários-mínimos.

F) “Características” da competência absoluta ou relativa

F.1) Competência absoluta:

Art. 62 do CPC (...): é inderrogável por convenção das


partes.

Art. 64 do CPC (...): alegável por preliminar de


contestação.

Art. 64, §1º, do CPC (...): deve ser alegada de ofício e pode
ser em qualquer tempo e grau de jurisdição, por isso não preclui.

Art. 64, §2º, do CPC (...): antes de o juiz se manifestar deve


ouvir a outra parte.

Art. 64, §3º, do CPC (...): se for acolhida, os autos serão


remetidos ao juízo competente.

É improrrogável.

Art. 966, II, CPC (...): permite seu questionamento via ação
rescisória.

F.2) Competência relativa:

Art. 63 do CPC (...): permite modificação por convenção


das partes via cláusula de eleição de foro.
Art. 64 do CPC (...): alegável por preliminar de
contestação.

Normalmente não pode ser alegada de ofício e por isso


preclui.

Art. 65 do CPC (...): pode ser prorrogada se......

G) Causas de modificação da competência “relativa” (04 formas)

1) Por conexão (art. 55 do CPC)

OBS: atenção ao § 3º (aqui mesmo que não tenha conexão).

2) Por continência (art. 56 do CPC)

OBS: atenção ao art. 57 do CPC.

3) Por cláusula de eleição de foro (art. 63 do CPC)

4) Por prorrogação de competência (art. 65 do CPC)

ADENDO: exemplo de conexão.

um veículo bate em outros quatro veículos que estavam


corretamente estacionados. Os 4 proprietários ajuízam ações
requerendo danos materiais e cada ação está tramitando em varas
diferentes. Nessa situação hipotética, há a mesma causa de pedir e,
consequentemente, permite a conexão.

ADENDO: exemplo de continência.

Uma parte entra com ação para anular 5 cláusulas de


determinado contrato. A outra parte entra com ação para anular todo o
contrato. Nessa situação hipotética, o pedido de uma ação é mais amplo
que o da outra e permite a continência.

H) Juízo prevento para reunião das ações via conexão ou


continência

Art. 58 do CPC - (juízo prevento).

Art. 59 do CPC - (o juízo torna-se prevento através do


registro ou a distribuição da petição inicial).

Art. 60 do CPC - (imóvel em mais de um local).

Art. 61 do CPC - (da ação acessória).

I) Conflito de competência (art. 66 do CPC)

OBS: c/c arts. 951 a 959 do CPC.

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