Você está na página 1de 11

(e-STJ Fl.

471)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
EXMO SR. DR. JUIZ PRESIDENTE DO
E. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO.

Processo nº 5009741-39.2014.404.0000
Recorrente: União
Recorrido: Gilberto de Oliveira Ferreira e outros

A União, pessoa jurídica de direito público interno, por sua advogada signatária,
vem, com fundamento na alínea “a” do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, à presença
de Vossa Excelência interpor

RECURSO ESPECIAL,

requerendo que, devidamente admitido, seja procedida sua remessa ao


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, acompanhado das razões que seguem em
anexo.

Nesses termos, pede deferimento.

Porto Alegre, 22 de março de 2016.

NORLANA FINGER
ADVOGADA DA UNIÃO
Documento recebido eletronicamente da origem

OAB/RS 42.043
(e-STJ Fl.472)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

COLENDA TURMA.

I – DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Conforme relatório constante da decisão ora embargada, trata-se de agravo de


instrumento interposto em face de decisão proferida em execução de sentença, nos seguintes
termos:

“O acolhimento da tese da União, quanto aos pagamentos


efetuados na via administrativa, em sede de embargos à execução, acarreta,
consequentemente, o acolhimento dos critérios de cálculo cuja preclusão é
apontada pela parte exeqüente, na medida em que são critérios intrínsecos à
decisão que, em embargos à execução, determinou fossem procedidos os
descontos dos pagamentos realizados na via administrativa.

Veja-se, ainda, que os embargos à execução se deram sobre a


totalidade desta, sendo que a sentença de parcial procedência oportunizou ao
exeqüente a confecção de cálculos novos, com a inclusão de critérios que,
anteriormente não foram dados à União conhecer, e, dessa forma, garantiu-se-lhe
a oportunidade de impugná-los, o que fez o ente público oportunamente.

É de se atentar para o fato de que, ao ser determinada a


compensação dos valores recebidos na via administrativa pelo exeqüente,
restaram acolhidos também os critérios que envolvem tal pagamento, tal
Documento recebido eletronicamente da origem

como este pagamento foi feito ao exeqüente na via administrativa, afastando


a possibilidade de inclusão na base de cálculo de rubrica de insalubridade e
determinando-se a observância do índice residual de 0,48% devido a parte
de junho/98, com o afastamento, em março de 2000 do percentual de 3,74%
e, a partir de março/2001, do percentual de 16,29%. Por fim, consequência
(e-STJ Fl.473)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
lógica do pagamento na via administrativa é o cômputo de juros negativos
sobre tais parcelas.

Assim, resta afastada a pretendida preclusão sobre tais pontos.


(...)
Dessa forma, retornem os autos à Contadoria para retificação da
conta apresentada pela União, no que tange à correção monetária, considerando
o acima explicitado, bem como para que proceda o correto cálculo do PSS, sem a
incidência do referido desconto sobre a parcela de juros.

Vinda a conta, intimem-se as parte da mesma e da presente


decisão.

Não havendo óbice, requisitem-se os valores.

Após, transmita-se a requisição e intimem-se as partes. (grifei)”

Em suas razões recursais, o apelante alegou que, reconhecida a improcedência


dos embargos n.º 2004.71.00.025844-0 e determinado o prosseguimento da execução nos termos
do cálculo exequendo, a impugnação da União à nova conta por ele elaborada constitui inovação
extemporânea, uma vez que pleiteia (a) a exclusão da rubrica insalubridade da base de cálculo do
reajuste de 28,86%, (b) a correção do percentual residual apontado como devido a partir de
março de 2000 e (c) o cômputo de juros negativos sobre as parcelas pagas na via administrativa.
Sustentou que tais questões deveriam ter sido suscitadas nos embargos, por se referirem a
critérios de cálculos já utilizados na conta inaugural. Argumentou que a preclusão só não atinge o
erro material, conceito no qual se enquadra o excesso apontado pela executada.
Documento recebido eletronicamente da origem

A Colenda Turma entendeu em dar parcial provimento ao recurso, nos seguintes


termos:

“(...)

No que tange à exigibilidade de diferenças residuais após junho de


1998, é matéria de defesa da executada, constituindo a impugnação indevida
(e-STJ Fl.474)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
inovação, uma vez que não foi aventada nos embargos à execução. Os percentuais
ora hostilizados já haviam sido apresentados na conta original e sua exatidão
deveria ter sido questionada oportunamente, operando-se a preclusão.

Em face do disposto nas súmulas n.ºs 282 e 356 do STF e 98 do


STJ, e a fim de viabilizar o acesso às instâncias superiores, explicito que a decisão
não contraria nem nega vigência às disposições legais/constitucionais
prequestionadas pelas partes.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao agravo de


instrumento.

É o voto.”

Opostos embargos declaratórios, o recurso foi parcialmente provido, apenas para


fins de prequestionamento.

Ao decidir dessa forma, “data maxima venia”, o Tribunal “a quo” não deu a
interpretação exata aos dispositivos legais aplicáveis ao caso sob enfoque.

2 - DO CABIMENTO DO RECURSO

A v. decisão proferida pela C. Turma do Tribunal “a quo” é de última instância,


razão pela qual preenchido está o requisito do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal.
Documento recebido eletronicamente da origem

No que tange ao requisito da letra “a” do mesmo inciso, tem-se que, como se
demonstrará a seguir, aquele julgado contrariou a inteligência dos artigos mencionados neste
recurso.

Presentes, dessa forma, os requisitos do recurso, nos termos do art. 105-III- letras
“a”, da CRFB/1988, requer sua admissibilidade.
(e-STJ Fl.475)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO

3 - CABIMENTO DO RECURSO PELO ART. 105, III, “A”, DA CF/88:

DA VIOLAÇÃO AO ART. 535, I, II, DO CPC

Pretendeu a União, nos Embargos de Declaração opostos, o saneamento de


omissões no acórdão, e obter do Tribunal um pronunciamento expresso a respeito dos
dispositivos legais tidos por violados e da omissão na análise das seguintes matérias, a saber:

- art. 741, V do CPC; arts. 471 e 473 do CPC; § 3º do art. 475 – B, do CPC –
que tratam do excesso de execução e da ausência de preclusão no caso em tela.

No caso em tela, a decisão de primeiro grau, em contraposição à decisão do


acórdão, afastou a preclusão, ante os seguintes fundamentos:

O acolhimento da tese da União, quanto aos pagamentos efetuados na via administrativa, em


sede de embargos à execução, acarreta, consequentemente, o acolhimento dos critérios de
cálculo cuja preclusão é apontada pela parte exeqüente, na medida em que são critérios
intrínsecos à decisão que, em embargos à execução, determinou fossem procedidos os descontos
dos pagamentos realizados na via administrativa.

Veja-se, ainda, que os embargos à execução se deram sobre a totalidade desta, sendo que a
sentença de parcial procedência oportunizou ao exeqüente a confecção de cálculos novos, com a
inclusão de critérios que, anteriormente não foram dados à União conhecer, e, dessa forma,
garantiu-se-lhe a oportunidade de impugná-los, o que fez o ente público oportunamente.

É de se atentar para o fato de que, ao ser determinada a compensação dos valores recebidos
na via administrativa pelo exeqüente, restaram acolhidos também os critérios que envolvem
tal pagamento, tal como este pagamento foi feito ao exeqüente na via administrativa,
afastando a possibilidade de inclusão na base de cálculo de rubrica de insalubridade e
determinando-se a observância do índice residual de 0,48% devido a parte de junho/98, com
o afastamento, em março de 2000 do percentual de 3,74% e, a partir de março/2001, do
percentual de 16,29%. Por fim, consequência lógica do pagamento na via administrativa é o
cômputo de juros negativos sobre tais parcelas.

Assim, resta afastada a pretendida preclusão sobre tais pontos.


(...)

A União reforça que não há preclusão da questão, porquanto, tais delimitações


podem ser realizadas de ofício pelo magistrado, nos termos do § 3º do art. 475 – B, do CPC,
Documento recebido eletronicamente da origem

ora transcrito:

“Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo


credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de
assistência judiciária.”

Em face da indisponibilidade dos bens e direitos da União, tem entendido a


jurisprudência ser sindicável inclusive de ofício o valor da execução proposta diante da Fazenda
Pública.
(e-STJ Fl.476)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
Portanto, não há falar em preclusão, como entendeu o acórdão recorrido, em
evidente violação às normas dos arts. 471 e 473 do CPC.

Nesse sentido, a jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA


PÚBLICA. COMPENSAÇÃO DE VALORES PAGOS ADMINISTRATIVAMENTE. POSSIBILIDADE.
COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA. JUROS NEGATIVOS. 1. Se uma leitura apressada do acórdão
exequendo permite inferir que a possibilidade de abatimento dos valores pagos foi afastada, a tal
conclusão não pode chegar o intérprete primeiro do título executivo, qual seja, o juiz da execução.
A ele cabe a fixação das diretrizes para o cumprimento da ordem emanada do aresto, tarefa que
deve ser levada a cabo com estrita observância dos princípios gerais do Direito, dentre os quais
encontram-se a boa fé e a vedação ao enriquecimento sem causa. 2. Correta a metodologia
de cálculo na qual se aplicam juros e correção monetária sobre as parcelas pagas
administrativamente, a fim de que, no termo final do período de cálculo, o valor pago seja abatido
do devido. Inexistência de prejuízo ao credor, vez que se chega ao mesmo resultado abatendo
mês a mês os valores pagos na via administrativa, pelo valor nominal. 3. Não é da sistemática do
pagamento de servidores reconhecer direito à determinada parcela remuneratória e destinar o
pagamento pura e simplesmente para quitação dos juros da respectiva verba sem que o faça
primeiramente em relação ao principal. Descabida a aplicação do art. 354 do CC. (TRF4, AG
5016469-33.2013.404.0000, Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Luís Alberto D'azevedo Aurvalle,
D.E. 28/08/2013) – grifos nossos.

No mesmo sentido, cita-se ainda o AG 0001975-59.2010.404.0000,


Terceira Turma, Relator Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 28/04/2010.

Nesse sentido, a jurisprudência do STJ:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. EMBARGOS.


IMPROCEDÊNCIA. NULIDADE DA EXECUÇÃO POR INEXISTÊNCIA DO TÍTULO EXECUTIVO.
EXCESSO DE EXECUÇÃO. MATÉRIA CONTIDA NO ÂMBITO DA DEVOLUTIVIDADE
RECURSAL E, POR SER DE ORDEM PÚBLICA, NO EFEITO TRANSLATIVO DA APELAÇÃO.
REEXAME NECESSÁRIO. DESCABIMENTO.
IRRELEVÂNCIA, NO CASO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. (REsp 928.631/DF, Rel.
Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/10/2007, DJ 05/11/2007,
p. 237)

Pede-se licença para transcrever o voto do ilustre Ministro Teori


Zavascki no precedente acima referido:

“(...)
4. Por outro lado, ainda que assim não fosse, é certo que o ponto controvertido estava
compreendido no chamado efeito translativo da apelação, por força do qual o tribunal, uma vez
conhecido o recurso, pode decidir sobre a matéria de ordem pública, sujeita a exame de ofício em
qualquer tempo ou grau de jurisdição, como é o caso das nulidades absolutas, das condições da
Documento recebido eletronicamente da origem

ação, dos pressupostos processuais e das demais matérias referidas no § 3º do art. 267 e no § 4º
do art. 301 do CPC. Ora, no processo de execução, o título executivo é requisito indispensável
(CPC, arts. 580 e 586), sem o qual há nulidade (CPC, art. 618, I).
Liebman, inspirador teórico do sistema processual brasileiro, considera o título "condição
necessária e suficiente da execução" (LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de Execução, 3ª ed.,
Saraiva, 1968, p. 8), entendimento placitado também na doutrina especializada
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 41ª ed., Forense,
2007, p. 154). Há quem o classifique como pressuposto processual (ASSIS, Araken de. Manual do
Processo de Execução, 8ª ed., SP, RT, p. 141). Seja ele pressuposto de validade, seja condição
da ação, seja pressuposto processual, o certo é que o título executivo, sua existência suficiência e
regularidade, pertencem ao domínio jurídico dos temas sujeitos a conhecimento de ofício, de
(e-STJ Fl.477)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
acordo com os citados dispositivos processuais. E, como bem observou Dinamarco, nos casos de
excesso de execução, “a parcela do pedido que não estiver coberta pelo título, ou seja, a parte
excedente , apresenta-se como pedido sem título executivo” e “como é notório, o juiz deve
indeferir a inicial executiva que vier desacompanhada de título, porque neste é que reside a
indicação da probabilidade suficiente de existência do crédito, legitimadora de constrição judicial
sem prévia verificação” (DINAMARCO, Cândido. As três figuras da liquidação de sentença,
Atualidades sobre liquidação de sentença , coord. Tereza Arruda Alvim Wambier, SP, RT, p. 24).
Daí porque a adequação entre o valor executado e o título correspondente constitui matéria de
ordem pública, controlável não apenas por provocação do devedor, como também por iniciativa
oficial, inclusive em grau de apelação.
Sustentamos esse entendimento em sede doutrinária, com amparo em autorizadas fontes
(Processo de Execução – Parte Geral, 3a. ed. SP:RT, pp. 280-286 e 414). No caso, ao extirpar da
execução parcela do pedido que considerou sem apoio no título executivo, o Tribunal recorrido
agiu em legítimo exercício de juízo sobre matéria de ordem pública, nos termos do art. 267, § 3o.
do CPC.
(...)”

Assim sendo, a decisão recorrida implica também violação à norma do art.


741, V, eis que caracterizado excesso de execução.

A Colenda Turma acolheu tal recurso aclaratório exclusivamente para fins de


prequestionamento. Entretanto, com a devida vênia, não restou efetivamente apreciada a
matéria devolvida em confronto com os dispositivos violados.

Com a devida vênia, tal decisão fere o disposto no art. 535, II, do CPC, atual art.
1022, I e II, do CPC e os artigos 5.º, XXXV, LIV e LV, e 93, IX, da Constituição Federal de 1988,
pois inviabiliza à Recorrente o acesso aos Tribunais Superiores, e, por conseguinte, a plenitude
de jurisdição, impedindo que se exerça plenamente o direito à ampla defesa, além de implicar
contrariedade direta às demais normas legais aqui indicadas.

Por tudo isso, espera-se o provimento ao presente recurso, com a aplicação


da norma do art. 1025 do novo CPC, que assim dispõe:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para
Documento recebido eletronicamente da origem

fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou


rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade.

Sucessivamente, ad cautelam, requer seja decretada a nulidade do acórdão,


retornem os autos ao E. Tribunal a quo, ensejando-se o devido prequestionamento.
(e-STJ Fl.478)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
Por outro lado, caso Vossas Excelências entendam que a matéria já se encontra
devidamente prequestionada, passa a apresentar razões para reforma do acórdão.

DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA

- DO EXCESSO DE EXECUÇÃO E DA AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO- art. 741,


V, do CPC, atual art. 535, I e II, do Novo CPC, e arts. 876 e 884 do CC, bem
como arts. 471 e 473 do CPC, atuais arts. 505 e 507 do Novo CPC; § 3º do art.
475 – B, do CPC:

Por fim, quanto ao mérito, consoante restou demonstrado nos autos, não merece
prosperar a pretensão do demandante, eis que de acordo com o art. 876 do Código Civil, todo
aquele que recebeu o que não lhe era devido fica obrigado a restituir. Da mesma forma o art. 884
do Código Civil estabelece que quem sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetariamente. No
caso, a sistemática de cálculo adotada pela recorrente vai de encontro ao art. 741, V, do CPC,
atual art. 535, I e II, do Novo CPC, pois, conforme demonstrado em juízo, importa em excesso
de execução.

No caso em tela, a decisão de primeiro grau, em contraposição à decisão do


acórdão, afastou a preclusão, ante os seguintes fundamentos:

O acolhimento da tese da União, quanto aos pagamentos efetuados na via administrativa,


em sede de embargos à execução, acarreta, consequentemente, o acolhimento dos
critérios de cálculo cuja preclusão é apontada pela parte exeqüente, na medida em que
são critérios intrínsecos à decisão que, em embargos à execução, determinou fossem
procedidos os descontos dos pagamentos realizados na via administrativa.

Veja-se, ainda, que os embargos à execução se deram sobre a totalidade desta, sendo
Documento recebido eletronicamente da origem

que a sentença de parcial procedência oportunizou ao exeqüente a confecção de


cálculos novos, com a inclusão de critérios que, anteriormente não foram dados à União
conhecer, e, dessa forma, garantiu-se-lhe a oportunidade de impugná-los, o que fez o
ente público oportunamente.

É de se atentar para o fato de que, ao ser determinada a compensação dos valores


recebidos na via administrativa pelo exeqüente, restaram acolhidos também os
critérios que envolvem tal pagamento, tal como este pagamento foi feito ao
exeqüente na via administrativa, afastando a possibilidade de inclusão na base de
cálculo de rubrica de insalubridade e determinando-se a observância do índice
(e-STJ Fl.479)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
residual de 0,48% devido a parte de junho/98, com o afastamento, em março de
2000 do percentual de 3,74% e, a partir de março/2001, do percentual de 16,29%.
Por fim, consequência lógica do pagamento na via administrativa é o cômputo de
juros negativos sobre tais parcelas.

Assim, resta afastada a pretendida preclusão sobre tais pontos.


(...)

A União reforça que não há preclusão da questão, porquanto, tais delimitações


podem ser realizadas de ofício pelo magistrado, nos termos do § 3º do art. 475 – B, do CPC,
ora transcrito:

“Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo


credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos
casos de assistência judiciária.”

Em face da indisponibilidade dos bens e direitos da União, tem entendido a


jurisprudência ser sindicável inclusive de ofício o valor da execução proposta diante da Fazenda
Pública.

Portanto, não há falar em preclusão, como entendeu o acórdão recorrido, em


evidente violação às normas dos arts. 471 e 473 do CPC, atuais arts. 505 e 507 do Novo CPC.

Nesse sentido, a jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONTRA


A FAZENDA PÚBLICA. COMPENSAÇÃO DE VALORES PAGOS
ADMINISTRATIVAMENTE. POSSIBILIDADE. COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA.
JUROS NEGATIVOS. 1. Se uma leitura apressada do acórdão exequendo permite
inferir que a possibilidade de abatimento dos valores pagos foi afastada, a tal
conclusão não pode chegar o intérprete primeiro do título executivo, qual seja, o juiz
Documento recebido eletronicamente da origem

da execução. A ele cabe a fixação das diretrizes para o cumprimento da ordem


emanada do aresto, tarefa que deve ser levada a cabo com estrita observância dos
princípios gerais do Direito, dentre os quais encontram-se a boa fé e a vedação
ao enriquecimento sem causa. 2. Correta a metodologia de cálculo na qual se
aplicam juros e correção monetária sobre as parcelas pagas administrativamente, a
fim de que, no termo final do período de cálculo, o valor pago seja abatido do
devido. Inexistência de prejuízo ao credor, vez que se chega ao mesmo resultado
abatendo mês a mês os valores pagos na via administrativa, pelo valor nominal. 3.
Não é da sistemática do pagamento de servidores reconhecer direito à determinada
parcela remuneratória e destinar o pagamento pura e simplesmente para quitação
dos juros da respectiva verba sem que o faça primeiramente em relação ao
(e-STJ Fl.480)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
principal. Descabida a aplicação do art. 354 do CC. (TRF4, AG 5016469-
33.2013.404.0000, Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Luís Alberto D'azevedo
Aurvalle, D.E. 28/08/2013) – grifos nossos.

No mesmo sentido, cita-se ainda o AG 0001975-59.2010.404.0000, Terceira


Turma, Relator Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 28/04/2010.

Nesse sentido, a jurisprudência do STJ:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. EMBARGOS.


IMPROCEDÊNCIA. NULIDADE DA EXECUÇÃO POR INEXISTÊNCIA DO TÍTULO
EXECUTIVO. EXCESSO DE EXECUÇÃO. MATÉRIA CONTIDA NO ÂMBITO DA
DEVOLUTIVIDADE RECURSAL E, POR SER DE ORDEM PÚBLICA, NO EFEITO
TRANSLATIVO DA APELAÇÃO. REEXAME NECESSÁRIO. DESCABIMENTO.
IRRELEVÂNCIA, NO CASO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. (REsp
928.631/DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/10/2007, DJ 05/11/2007, p. 237)

Pede-se licença para transcrever o voto do ilustre Ministro Teori Zavascki no


precedente acima referido:

“(...)
4. Por outro lado, ainda que assim não fosse, é certo que o ponto controvertido
estava compreendido no chamado efeito translativo da apelação, por força do qual o
tribunal, uma vez conhecido o recurso, pode decidir sobre a matéria de ordem
pública, sujeita a exame de ofício em qualquer tempo ou grau de jurisdição, como é o
caso das nulidades absolutas, das condições da ação, dos pressupostos processuais
e das demais matérias referidas no § 3º do art. 267 e no § 4º do art. 301 do CPC.
Ora, no processo de execução, o título executivo é requisito indispensável (CPC,
arts. 580 e 586), sem o qual há nulidade (CPC, art. 618, I).
Liebman, inspirador teórico do sistema processual brasileiro, considera o título
"condição necessária e suficiente da execução" (LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo
de Execução, 3ª ed., Saraiva, 1968, p. 8), entendimento placitado também na
doutrina especializada
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 41ª ed.,
Documento recebido eletronicamente da origem

Forense, 2007, p. 154). Há quem o classifique como pressuposto processual (ASSIS,


Araken de. Manual do Processo de Execução, 8ª ed., SP, RT, p. 141). Seja ele
pressuposto de validade, seja condição da ação, seja pressuposto processual, o
certo é que o título executivo, sua existência suficiência e regularidade, pertencem ao
domínio jurídico dos temas sujeitos a conhecimento de ofício, de acordo com os
citados dispositivos processuais. E, como bem observou Dinamarco, nos casos de
excesso de execução, “a parcela do pedido que não estiver coberta pelo título, ou
seja, a parte excedente , apresenta-se como pedido sem título executivo” e “como é
notório, o juiz deve indeferir a inicial executiva que vier desacompanhada de título,
porque neste é que reside a indicação da probabilidade suficiente de existência do
(e-STJ Fl.481)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO NA 4ª REGIÃO
crédito, legitimadora de constrição judicial sem prévia verificação” (DINAMARCO,
Cândido. As três figuras da liquidação de sentença, Atualidades sobre liquidação de
sentença , coord. Tereza Arruda Alvim Wambier, SP, RT, p. 24). Daí porque a
adequação entre o valor executado e o título correspondente constitui matéria de
ordem pública, controlável não apenas por provocação do devedor, como também
por iniciativa oficial, inclusive em grau de apelação.
Sustentamos esse entendimento em sede doutrinária, com amparo em autorizadas
fontes (Processo de Execução – Parte Geral, 3a. ed. SP:RT, pp. 280-286 e 414). No
caso, ao extirpar da execução parcela do pedido que considerou sem apoio no título
executivo, o Tribunal recorrido agiu em legítimo exercício de juízo sobre matéria de
ordem pública, nos termos do art. 267, § 3o. do CPC.
(...)”

Entendimento contrário implica, também, em excesso de execução e ofensa ao


art. 741, V, do CPC, bem como em enriquecimento sem causa, com violação aos arts. 876 e 884
do Código Civil.

4. CONCLUSÃO

Diante do exposto, a UNIÃO requer seja conhecido e provido o presente Recurso


Especial, para anular (por violação ao art. 535 do CPC atual art. 1022 do Novo CPC) ou, desde
logo, aplicando a norma do art. 1025 do Novo CPC, para reformar o decisum recorrido, afastando-
se as violações aos dispositivos legais acima relatadas e, com isso, afastando-se a preclusão no
caso dos autos, com o consequente reconhecimento dos critérios de cálculo apresentados pela
União. Requer, ainda, a condenação da parte adversa nos ônus da sucumbência.

Nestes termos, espera deferimento.

Porto Alegre, 22 de março de 2016.

NORLANA FINGER
Documento recebido eletronicamente da origem

ADVOGADA DA UNIÃO
OAB/RS 42.043

Você também pode gostar