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MARIANA JESUS REIS

DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

EXAME ANTECIPADO DE DEZEMBRO 2023

I – INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO

Defina sucintamente:
1. Administração Pública.

A AP consiste, por definição, na gestão de um conjunto de bens escassos para a


prossecução de interesses públicos confiados a entidades públicas.

2. Interesse público (primário e secundário).

Os interesses prosseguidos pela AP são os denominados interesses públicos.

A escolha das opções fundamentais enquadradas neste âmbito de «interesses


públicos» são determinados por certos órgãos da comunidade que vão, dentro de
um conjunto de interesses, avaliar os mesmo segundo uma ótica de importância
comunitária – muitos destes interesses públicos assumem tamanha importância
que da sua satisfação resulta o equilíbrio da própria comunidade.
Importa ressaltar que a opção por este ou aquele interesse é diretamente
influenciado pelo contexto histórico-social em que se insere, pelo que vão
mudando com o tempo e em função da época.

Após a seleção dos interesses públicos relevantes, estes são confiados a serviços
próprios do aparelho que dirige a vida da comunidade, sendo os mesmos
responsáveis pela promoção da sua satisfação.

Os interesses da sociedade podem ser classificados por 2 vias:


o Interesses privados – Administração Privada;
o Interesses públicos – que podem tanto ser confiados a entes públicos,
como à AP; como podem ser confiados a privados – Administração
Privada.

A administração pública pode ser classificada por 2 vias:


o Fins (interesses) públicos;
o Previsão legal e Subordinação Jurídica
Quanto aos interesses públicos estes subdividem-se em 2 categorias:
o Interesses primários
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o Interesses secundários.
Os interesses primários são os valores básicos que orientam uma comunidade
politicamente organizada e que são indispensáveis à sua manutenção e
desenvolvimento – falamos aqui do bem público/a salus pública. Como exemplo
temos a Paz, Justiça e Bem-estar. A sua definição é feita pelos órgãos políticos
da comunidade.
Os interesses secundários ou instrumentais consistem na individualização de
interesses que se consideram como um instrumento necessário à prossecução dos
interesses primários.
Os interesses públicos secundários são tarefas públicas cuja realização se atribui
e impõe às entidades públicas por 2 vias:
o Em exclusividade – Por uso legítimo da força, justiça, defesa, segurança
pública, tributação;

o Ou com complementação do setor social pelo setor privado – a sua


satisfação pode caber ao Estado ou a outros entes públicos, mas também
pode ser deixada à iniciativa privada.

3. Subordinação Política

A subordinação política a que a AP se encontra vinculada consiste na não


definição/escolha dos interesses prosseguidos por parte dos órgãos que atuam
para a realização dos mesmos, isto é, não são os órgãos que atuam na realização
dos interesses que definem/escolhem os interesses que vão prosseguir.
Os interesses prosseguidos por estes órgãos são definidos num plano superior,
num plano político legislativo, onde a nível público se definem as políticas
públicas.
Pode se dizer que a AP está sujeita a previsão normativa (executiva) – é a lei que
define o que é, em cada momento, interesse público; e é politicamente
subordinada.

4. Direito Administrativo.
O Direito administrativo é o ramo do Direito Público constituído pelo sistema de
normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da AP, bem
como as relações por ela estabelecidas com outros sujeitos de Direito no
exercício da atividade administrativa pública.

É um ramo que regula o exercício de poderes públicos de autoridade:

o Das entidades administrativas;


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o Das PC privadas quanto atuam no exercício de prerrogativas de


autoridade pública.

DIREITO ADMINISTRATIVO
TIPOS DE NORMAS ADMINISTRATIVAS TIPOS DE RELAÇÕES
ADMINISTRATIVAS

NORMAS ORGANIZATÓRIAS: 3 TIPOS:

- Regulam a organização da AP; - Administração -> Particulares;


- Entre duas ou mais PC;
- Que entidades fazem parte da Administração, a sua - Entre dois ou + particulares (concessionário e
estrutura, os seus órgãos, etc. utente)

NORMAS FUNCIONAIS/PROCEDIMENTAIS:

- Regulam o modo de agir específico da Administração; ---------------------------------------------

- Podem ser meramente internas ou de caráter externo


(CPA)

NORMAS RELACIONAIS:

- Regulam as relações da Administração;

- Podem ser as que:


o Conferem poderes de autoridade à AP;
---------------------------------------------
o Submetem a Adm. a deveres, sujeições e limitações
especiais por motivos de interesse público;

o Atribuem direitos subjetivos ou interesses legítimos


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face à Adm.

5. Princípio da Separação de Poderes

Um dos princípios fundamentais no estudo do Direito Administrativo é o


princípio da separação de poderes, que teve a sua afirmação com a Revolução
Francesa de 1789 e que ficou plasmado no art.º 16.º DDHC.

O seu principal objetivo foi o de erigir como uma das formas de reação ao
absolutismo real vigente na época do Estado de Polícia. Atualmente este
princípio aparece ligado ao princípio da competência.

Este princípio comporta vários sentidos:

SENTIDO POLÍTICO – A ver com a questão da titularidade ou da soberania do


poder.

SENTIDO ORGANIZATÓRIO – Divisão dos serviços dentro de uma certa


organização política previamente definida. Trata-se da existência de complexos
organizatórios entre si que desempenham diversas atividades.

SENTIDO FUNCIONAL OU MATERIAL – Determina quais as


atividades/funções/tarefas do Estado e como se caracterizam.

6. Função Administrativa.

Numa unidade curricular de Direito Administrativo vê-se como algo fulcral


descobrir o local e o papel próprio da função administrativa.

Podemos dizer que ela corresponde à cura de interesses não auto-escolhidos,

Mas para que ela se compreenda temos de fazer um confronto entre ela e as
restantes funções públicas: legislativa, política e jurisdicional.

O modelo teórico originário (simplificado) de John Locke atribuía os 3 poderes


a 3 funções:

- Ao Parlamento competia a função legislativa, exercida através de leis;


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- Ao Governo competia a função executiva, exercida através de atos;


- Aos Tribunais competia a função judicial, exercida através de sentenças.

No contexto mencionado a função administrativa era uma atividade de execução


material e função residual, veja-se não legislativa, porque não incluía elaboração
e normas gerais e abstratas com valor jurídico; não jurisdicional, porque não
visava resolver litígios entre partes com força de caso julgado.

Atualmente, a distinção da função administrativa só é possível com base na


caracterização típica de cada um dos poderes (num conjunto mais ou menos
genérico das características que normalmente se verificam, mas podem estar
ausentes em algumas das formas de manifestação do poder em questão).

Apesar das dificuldades na distinção que hoje se apresentam – não raros os casos
as esferas de delimitação do que é função administrativa, função política, função
legislativa e função jurisdicional acabam por não ser estanques, já que, por
vezes, a administração utiliza alguns instrumentos de outras esferas que não a
sua.

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E FUNÇAO LEGISLATIVA


Quanto à função administrativa e à função legislativa, com base nas suas típicas
características:

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA FUNÇÃO LEGISLATIVA


Individual e Concreta Tendencialmente geral e abstrata

Onde esta característica não permite a distinção (caso da atividade


regulamentar – emissão de normas jurídicas gerais e abstratas à semelhança
das normais legais):

- Deve lançar-se mão das ideias de primariedade, essencialidade ou novidade


da lei;

- Cabe, em regra, aos regulamentos a tarefa de executar ou pormenorizar a


disciplina legal.

Função de 2º grau: Função de 1º grau:

- Subordinada à lei - Desenvolvimento e aplicação direta


da CRP;

- “Liberdade constitutiva do
legislado”, desde que respeite o
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quadro constitucional

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E POLÍTICA

FUNÇÃO POLÍTICA – Atividade desenvolvida pelos órgãos supremos do


Estado, ou seja, por órgão criados diretamente pela Constituição e cuja missão e
competência, nos seus traços essenciais, também ela define. Atividade de
conteúdo similiar ao da atividade administrativa.

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA FUNÇÃO POLÍTICA


Prática de atos que exprimem
opções fundamentais sobre a
-------------------------------- definição e prossecução dos
interesses ou fins essenciais da
coletividade.

Por razões de interesse público geral,


atribui-se valor jurídico superior
-------------------------------- àquele que corresponde à atividade
administrativa normal.

Subtração dos atos jurídicos em que


ela se analisa ao controlo dos
Está sujeita ao controlo dos tribunais. tribunais – o ato ou decisão política
não está sujeita ao controlo dos
tribunais.

Caráter primário:

- Desenvolve-se em aplicação direta


da Constituição (onde está fixada a
competência e os respetivos limites)

- Sem interposição da lei ordinária;

- Tem em vista a realização direta de


interesses fundamentais da
comunidade política

DISTINÇÃO ESSENCIAL
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A atuação do governo através de programas e de políticas públicas exercida


frequentemente através de decretos-lei submetidos a legislação-quadro veio
aumentar a dificuldade de distinção.

SE FOR CONCRETA É DE SE FOR GERAL É DE ÍNDOLE


ÍNDOLE ADMINISTRATIVO! POLÍTICO!

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E FUNÇÃO JUDICIAL

A função jurisdicional era mais vinculada à lei do que a função administrativa.


ATUALMENTE: Lei como pressuposto e fundamento da atividade
administrativa, que surge cada vez mais vinculada ao Direito e sujeita a
procedimentos complexos e formalizados.
Reconhece-se ao poder jurisdicional espaços de criação na aplicação da
lei e do Direito.

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA FUNÇÃO JUDICIAL


Ambas atuam tipicamente através de decisões concretas, momentâneas e
individuais.

Procura criar as condições concretas Tem como conteúdo e fim exclusivo a


para a realização do interesse resolução de uma “questão de
público. direito”, a cargo de um órgão
imparcial e inoficioso num conflito
de interesses.

EM SUMA – DEFINIÇÃO DE FUNÇÃO ADMINISTRATIVA POR


VIEIRA DE ANDRADE
A função administrativa é a que abrange a atividade pública, podendo o
conteúdo ser abstrato, mas preferencialmente concreto, desenvolvida, em regra,
pelo governo e pelos órgãos dos entes públicos, subordinada á lei, caracterizada
por uma intenção teleológico-social, visando a criação de Segurança, Justiça e
Bem-Estar, em termos pré definidos pelos órgãos com competências política-
legislativas.
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Uma atividade pública – abstrata, e, principalmente, concreta;


Subordinada à lei;
Não se destina a título principal à resolução de “questões de direito”;
Visa a criação de condições concretas de realização do Ideal de Paz, Justiça e
Bem-estar;
Nos termos pré-definidos pelos órgãos político-legislativos.

IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO ENTRE FUNÇÕES


ADMINISTRATIVA VS ADMINISTRATIVA VS ADMINISTRATIVA VS
LEGISLATIVA POLÍTICA JUDICIAL
Diretriz ao legislador quanto à
atribuição de competências à
Necessidade de se encontrar um
critério que permita determinar a
Administração:
NECESSIDADE DE FORNECER impugnabilidade ou não dos atos
AO TC UM CRITÉRIO QUE públicos, pois os atos políticos não
PERMITA DETETAR: são impugnáveis perante tribunais. - Deve respeitar o princípio da
reserva da função jurisdicional para
o juiz.

INVASÕES DO PODER Orientação constitucional de


LEGISLATIVO PELO PODER limitação e de autoconcentração do
ADMINISTRATIVO juiz perante o perigo de invasão da
esfera de avaliação e de decisão
própria da Administração
---------------------------

INVASÕES DO PODER
ADMINISTRATIVO PELO PODER
LEGISLATIVO --------------------------- ------------------------------

------------------------------ --------------------------- ------------------------------

SISTEMAS DA ADMINISTRAÇÃO
SISTEMAS DA ADMINISTRAÇÃO
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EXECUTIVA (continental ou latino- JUDICIÁRIA (inglês ou anglo-


germânico) saxónico)
-Estrutura administrativa fortemente
centralizada com um modelo
- Forte descentralização
hierárquico de relações de supra-infra
administrativa;
ordenação;

Clara distinção estre Adm central e Adm local;


- Administração subordinada a um Existência de autarquias locais independentes não
ramo de Direito próprio – Direito sujeitas à hierarquia dos órgãos centrais
Administrativo;

- Parlamento como órgão central da


- Direito Administrativo concede vida política;
poderes exorbitantes à Administração
sobre os cidadãos;
- Subordinação ao Direito Comum;

- Administração sujeita a um conjunto


de deveres e restrições especiais; Não dispondo a Adm, assim, de privilégios ou de
prerrogativas de autoridade

- Privilégio da execução prévia


(faculdade de executar as suas decisões
por autoridade própria, - Existência de um único tipo de
independentemente de qualquer tribunais - Tribunais comuns;
pronúncia judicial) – autotutela
executiva;
- Execução judicial das decisões
administrativas;
- Jurisdição própria – Tribunais
Administrativos (ordem jurisdicional
própria e autónoma face aos tribunais A administração tem de recorrer aos tribunais
judicias comuns) para fazer atual e executar coativamente os seus
atos.

NOTA: No que toca à atuação não gozam de


plena jurisdição face à Administração – só - Jurisdição plena dos tribunais face à
pode anular o ato se ele for ilegal – mera Administração;
fiscalização da legalidade!

Os particulares dispõem de um sistema de


- Garantia Administrativa – o Estado é garantias contra ilegalidades e abusos da Adm,
responsável pelos atos dos seus onde os tribunais gozam de jurisdição plena.
funcionários;
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O juiz pode anular as decisões da Adm e ordenar


que a Adm cumpra a lei, em caso de
- Controlo pelos órgãos da desobediência desses mandados/ordens/injunções
Administração – há órgãos dão lugar à prisão do titular do órgão recalcitrante
administrativos especiais incumbidos de
exercer funções de controlo em relação às
atuações dos órgãos da Administração - Responsabilidade pessoal dos
ativa titulares dos cargos públicos;

- Grande importância do procedimento


administrativo

Necessidade de os órgãos exercerem a sua


atuação jurídica no âmbito de um processo de
formação das suas decisões juridicamente
reguladas.

PARTE I – ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA


Defina sucintamente:

A. ASPETOS ESTRUTURAIS – PCP, ÓRGÃOS, TITULARES DO


ÓRGAOS E TRABALHADORES DA AP

1 – Organização Administrativa
A organização administrativa é o sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem
como das demais pessoas coletivas públicas, que asseguram, em nome da coletividade,
a satisfação regular e contínua de interesses públicos secundários – desempenham, a
título principal, a função administrativa – “máquina administrativa”.
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ELEMENTOS BÁSICOS DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVO:

PESSOAS COLETIVAS DE DTO PÚBLICO -> [integrados por] -> ÓRGÃOS


ADMINISTRATIVOS -> [e dentro destes temos] -> SERVIÇOS PÚBLICOS
Tradicionalmente a administração pública era constituída apenas por pessoas coletivas
publicas integralmente submetidas a um regime de direito administrativo;
Atualmente o exercício da função administrativa encontra-se também atribuído a:
o pessoas coletivas, que embora de criação e/ou controlo públicos, se revestem de
forma jurídico-privada;

o pessoas coletivas puramente privadas.

Este fenómeno não pode deixar de se traduzir num alargamento da administração


publica em sentido orgânico.
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2 – Pessoas coletivas públicas.


As pessoas coletivas públicas são aquelas criadas por iniciativa pública que visam
assegurar a prossecução necessária de interesses públicos e, por isso, são dotadas, em
nome próprio, de prerrogativas de autoridade, isto é, exorbitantes do direito privado
(poderes e deveres públicos).

ESPÉCIES DE PCP – CRITÉRIO DA DEPENDÊNCIA (DECRESCENTE) EM


RELAÇÃO AO ESTADO:

✔ ESTADO;

✔ IP;
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✔ EPE;

✔ ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS E OUTRAS CORPORAÇÕES PÚBLICAS;

✔ AL;

✔ RA;

✔ ENTIDADES ADMINISTRATIVAS INDEPENDENTES.

DISTINÇÕES ENTRE ESPÉCIES DE PCP’s


ESTADO VS ENTES PÚBLICOS MENORES

ESTADO ENTES PÚBLICOS MENORES

- Principal ente público; - Entes exclusivamente administrativos,


não desempenham funções estaduais;

- Órgão superior é o Governo


- Atribuições administrativas com um fim
mais restrito:
o Quer do ponto de vista da matéria;
o Quer do âmbito territorial

- Dependem, em regra, do Governo:


o Superintendência + Tutela
Administrativa

DISTINÇÕES ENTRE ESPÉCIES DE PCP’s


ENTIDADES PÚBLICAS TERRITORIAIS VS ENTIDADES FUNCIONAIS

ENTIDADES PÚBLICAS ENTIDADES FUNCIONAIS


TERRITORIAIS
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- Têm substrato populacional + base - Território não entra na sua definição;


territorial;

- Têm atribuições ou finalidades


- Têm caráter originário e necessário; especiais;

- Generalidade de atribuições; - Detêm um caráter atípico;

- Tipificação constitucional; EXEMPLOS: IP e Corporações Públicas

- Poder de criar outros entes públicos


sobre os quais exercem controlo;

EXEMPLOS: Estado, RA’s e AL’s

DISTINÇÕES ENTRE ESPÉCIES DE PCP’s

ENTES PÚBLICOS INFRA-ESTRUTURAIS:


ENTES PÚBLICOS DEPENDENTES VS ENTES PÚBLICOS NÃO
DEPENDENTES

ENTES PÚBLICOS DEPENDENTES ENTES PÚBLICOS


INDEPENDENTES

- Criados por outros entes públicos;


- Gozam de autonomia;
o Razões de agilidade e de conveniência
administrativa;

- Têm capacidade para definir a sua


- Não têm capacidade de prosseguir orientação
outros fins que não os que os do ente que o Que pode ser divergente da do Estado;
os criou;
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- Os seus dirigentes são nomeados pelo - Independência dos seus órgãos face ao
“ente mãe”; Estado

- Sujeitos a controlo de mérito do ente EXEMPLOS: AL’s, Corporações


mãe (ex: IP’s) Públicas, Entidades administrativas
independentes

REGIME JURÍDICO (TRAÇOS GERAIS) DAS PCP DE DIREITO PÚBLICO:

✔ Criação e extinção é de iniciativa pública;

✔ Capacidade de Direito privado e Património privado, podendo prosseguir


atividades de gestão privada;

✔ Capacidade de Direito Público detendo poderes e deveres públicos;

✔ Capacidade administrativa e financeira;

✔ Sujeitas ao regime da contratação pública dos contratos administrativos;

✔ O seu pessoal está sujeito a um regime especial de emprego público;

✔ Subordinados ao regime administrativo de responsabilidade civil;

✔ Sujeitas ao controlo por parte do Tribunal de Contas e à jurisdição dos tribunais


administrativos.

CLASSIFICAÇÃO ALTERNATIVA - PCP POR VIEIRA DE ANDRADE


SERIAM:

⮚ PC DE POPULAÇÃO E TERRITÓRIO: Estado, RA e AL;


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⮚ ENTES INSTITUCIONAIS: Institutos e empresas;

⮚ ENTES CORPORATIVOS OU ASSOCIATIVOS: Corporações territoriais,


Consórcios Públicos e Associações Públicas;

⮚ ENTES HÍBRIDOS: Corporações para institucionais e Institutos para


corporativos.

3 – Órgãos.
As PC são dirigidas por órgãos, os quais tomam decisões em nome da PC ou
manifestam a vontade imputável àquela.
Art.º 20.º CPA – Centros institucionalizados titulares de poderes e deveres para efeitos
da prática de atos jurídicos imputáveis à PC.
São figuras institucionais dotadas de poderes (consultivos, decisórios ou de fiscalização)
capazes de preparar, declarar ou controlar as manifestações de vontade – isto é, os atos
jurídicos – imputáveis ao ente.

TIPOS DE ÓRGÃOS

✔ ÓRGÃOS COLEGIAIS (constituídos por 3+ titulares – art.º 21.º a 35.º CPA) e


ÓRGÃOS SINGULARES (1 titular);

✔ ÓRGÃOS CENTRAIS E ÓRGÃOS LOCAIS;

✔ ÓRGÃOS REPRESENTATIVOS E ÓRGÃOS NÃO REPRESENTATIVOS;

✔ ÓRGÃOS ATIVOS (decisórios ou deliberativos), CONSULTIVOS E DE


CONTROLO;

✔ ÓRGÃOS PERMANENTES (ex: Presidente da câmara, CM) E


TEMPORÁRIAS (um júri);

✔ ÓRGÃOS SIMPLES E COMPLEXOS (ex: Governo como órgão constituído


por outros órgãos – os ministérios)
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OUTROS ELEMENTOS:
TÍTULAR OU MEMBRO – Pessoa física que representa o órgão ou qualidade que
exprime a ligação de um indivíduo a um órgão.
INVESTIDURA – Vínculo que liga o titular ao órgão, e que o permite representá-lo.
TRABALHADOR DA AP – Indivíduos com uma relação especial de serviço com os
entes administrativos e que desenvolvem sob a direção dos titulares a atividade dos
serviços. Não têm poderes decisórios, limitando-se a preparar e a executar decisões dos
órgãos.

B. ASPETOS FUNCIONAIS – ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS E


LEGITIMAÇÃO
4 – Atribuições
Fins ou interesses que a lei incumbe as PCP de prosseguir e realizar – pertence à
pessoa coletiva:
o PC de fins múltiplos – as territoriais – Estado na área da saúde, educação;
o PC de fins especializados – Associações Públicas – a OA vai regular essa
atividade específica.
Para o fazerem, as PC necessitam de poderes funcionais denominadas competências.

5 – Competências.
Conjunto de poderes funcionais que a lei confere aos órgãos para a prossecução
das atribuições das PCP – pertence ao órgão – art.º 36.º e ss. CPA.

Qualquer órgão ao agir conhece e encontra uma dupla limitação:


(1) LIMITADO PELA SUA PRÓPRIA COMPETÊNCIA : Não pode invadir a
esfera de competência dos outros órgãos da mesma PC;

(2) LIMITADO PELAS ATRIBUIÇÕES DA PC EM CUJO NOME ATUA –


Não pode praticar atos sobre a matéria estranha às atribuições da PC a que
pertence.

ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS LIMITAM-SE RECIPROCAMENTE!


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⮚ Nenhum órgão administrativo pode prosseguir atribuições da PC a que pertence


por meio de competências que não sejam as suas;

⮚ Também não pode exercer a sua competência fora das atribuições da PC em que
se integra.

CASO ESPECIAL DOS MINISTÉRIOS!


Tudo isto é assim, em geral, nas pessoas coletivas, no entanto, no caso do Estado a
questão é mais complexa (caso especial dos ministérios).
No Estado o que separa juridicamente os Ministérios (que são órgãos) uns dos
outros são as atribuições.
Enquanto, em geral, os órgãos têm competências diferentes para prosseguir as mesmas
atribuições (da pessoa coletiva pública a que pertencem), no Estado os vários Ministros
(que são órgãos) têm competências idênticas para prosseguirem atribuições
diferentes.
Aqui, são as próprias atribuições que se encontram repartidas pelos vários ministérios,
pelo que cada ministro possui atribuições específicas (finanças, saúde, educação)
embora usando para isso poderes jurídicos idênticos aos seus colegas de governo
(autorizar, nomear, contratar, punir etc.).
A distinção entre atribuições e competências além da importância para se compreender
a diferença entre os fins que se prosseguem e os meios jurídicos que se usam para os
prosseguir também se mostra relevante – violação das atribuições e violação das
competências.
Os atos praticados fora das atribuições são nulos e os atos praticados fora da
competência do órgão que o pratica são, em regra, anuláveis. Não basta que o órgão
atue dentro do domínio das atribuições da pessoa coletiva a que pertence e no âmbito
das suas competências. É necessário que o órgão tenha legitimação.

As competências são poderes funcionais, os órgãos têm competências e devem


desempenhar a sua função.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA COMPETÊNCIA – A conferência de competência
só pode ser conferida, delimitada ou retirada pela lei. A competência é de ordem
pública.
Art.º 36.º CPA – Funcionalidade e legalidade ou ordem pública, com os consequentes:
o IMODIFICABLIDADE
o IRRENUNCIABILIDADE
o INALIENABILIDADE
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✔ COMPETÊNCIA NÃO SE PRESUME – Só há competência quando a lei


inequivocamente a confere a um dado órgão;

✔ COMPETÊNCIA É IMODIFICÁVEL – nem a Adm. nem os particulares


podem alterar o conteúdo ou a repartição de competências estabelecida por lei;

✔ COMPETÊNCIA É IRRENUNCIÁVEL E INALIENÁVEL – os órgãos


administrativos não podem, em caso algum, renunciar aos seus poderes ou
transmiti-los para outros órgãos da administração ou para entidades privadas.

REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS SEGUNDO CRITÉRIOS


CRITÉRIO DO MODO DA ATRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA:
o COMPETÊNCIAS EXPLÍCITAS – definidas de forma expressa pela lei;

o COMPETÊNCIAS IMPLÍCITAS – Dedução de ouras determinadas legalmente


ou de certos princípios de Direito público.

CRITÉRIO DA TITULARIDADE:
o COMPETÊNCIAS PRÓPRIAS - Conferidas diretamente pela lei ao órgão em
causa;

o COMPETÊNCIAS DELEGADAS – Delegação de poderes a qual permite,


sempre que a lei o preveja, que o órgão exerça competências de outro órgão.
o
CRITÉRIO DA REPARTIÇÃO:
o EM RAZÃO DA MATÉRIA – Em vista fazer corresponder um especial
interesse ou grupo de interesses a um órgão particularmente adequado a realizá-
lo pela sua estrutura ou qualidade.

o DA HIERARQUIA E DO TERRITÓRIO – Atribui-se a cada órgão uma


determinada circunscrição ou área territorial sobre a qual atuar.
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6 – Legitimação
Qualificação específica dos órgãos para exercer a sua competência na situação concreta.
No entanto existem fatores de legitimação.
Podemos qualificar os fatores de legitimação por duas vias:
FATORES POSITIVOS DE LEGITIMAÇÃO: Em determinadas situações, enquanto
tais fatores não se verificarem, o órgão não pode exercer a competência.
FATORES NEGATIVOS DE LEGITIMAÇÃO: Noutras, a competência não pode
ser exercida se esses fatores se verificarem

FATORES DE LEGITIMAÇÃO
FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS
INVESTIDURA DO TITULAR DO CASOS DE IMPEDIMENTO
ÓRGÃO

- Casos em que a lei impede que os


- «Investidura» -> Ato de transformação titulares de um órgão pratiquem em atos
de um indivíduo(s) titular(es) do órgão ou ou participem em atos e respetivos
em agente(s) da PC; procedimentos que toquem os seus
interesses particulares ou de quem lhes é
próximo.
- Exercício da competência só pode ser
feito por uma pessoa física ou membro
que tenha uma ligação formal ao órgão.

FALTA DE QUÓRUM DECURSO DO TEMPO

- «Quórum» -> fração mínima do número - Quando se tenha extinguido o tempo


legal de membros do órgão colegial cuja dentro do qual a administração está
presença é necessária na reunião para que autorizada a agir
possam ser votados em deliberações.

- Falta de quórum = falta de legitimidade


do órgão para decidir na situação
concreta
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DECURSO DO TEMPO

- A Administração não puder praticar os -----------------------------------


atos antes de decorrido um determinado
período de tempo

AUTORIZAÇÃO PARA AGIR

- Um determinado órgão só pode exercer


aquela sua competência depois de ter
obtido, de um outro órgão, uma
autorização que visa fazer um controlo -----------------------------------
preventivo sobre a legalidade ou o mérito
do ato que vai ser praticado

PS: O fator de legitimação «decurso do tempo» tem tanto uma vertente positiva como
negativa, daí estar em ambas as colunas.
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C. SETORES DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA


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(REVER CONCEITO DE IP E EPE - já saiu em exames passados! )


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DISTINÇÃO POR FATOR TERRITORIAL


ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA
TERRITORIAL NÃO TERRITORIAL

- Congrega todos os membros da - Congrega somente pessoas integrantes


comunidade local respetiva (residentes); de agrupamentos sociais que partilhem
determinada qualidade (profissão);

- Fins múltiplos; - Fins únicos – é de fins especiais;

- Constitucionalmente necessária; - Constitucionalmente facultativa


dependendo da decisão do legislador;

- Fortemente regulada na constituição (a - Atribui-se um amplo espaço de


lei não pode criar outros tipos para além manobra ao legislador para reconhecer e
dos ali previstos); construir as estruturas que as integram;

- CRP menciona expressamente as suas - Os seus poderes dependem do


principais dimensões: legislador;

o Autonomia financeira

- Forma organizatória idêntica à do - Variedade de formas organizativas


Estado (órgãos representativos)

ADMINISTRAÇÃO INDEPENDENTE
Organismos criados pelo Estado para realizarem tarefas administrativas que lhes
competem (como a Administração Indireta). Está isento de subordinação e controlo por
parte do Estado.

PONTOS FORTES DA SUA INDEPENDÊNCIA:


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✔ Seus membros são em regra nomeados pela AR ou/e integram titulares


designados por entidades privadas;

✔ Membros designados pelo Governo não o representam nem recebem instruções


dele;

✔ Não devem obediência a nenhum outro órgão;

✔ Titulares são inamovíveis e irresponsáveis pelas posições ou opiniões que


adotem no exercício das suas funções;

✔ Não podem ser dissolvidos nem demitidos;

✔ As suas tomadas de posição são públicas;

✔ Pareceres, recomendações e diretivas emitidas por eles são, em regra,


vinculativos.

D. RELAÇÕES FUNCIONAIS INTERORGÂNICAS E


INTERUSBJETIVAS

Estas relações subdividem-se em 2 modalidades:

⮚ RELAÇÕES INTRAPESSOAIS: Estabelecem-se entre os vários órgãos


administrativos de uma determinada pessoa coletiva;

⮚ RELAÇÕES INTERPESSOAIS: Relações entre órgãos pertencentes a pessoas


coletivas distintas.

CRP, Artigo 199.º - (Competência administrativa)

Compete ao Governo, no exercício de funções administrativas:

d) Dirigir os serviços e a atividade da administração direta do Estado, civil e militar,


superintender na administração indireta e exercer a tutela sobre esta e sobre a
administração autónoma;
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I – RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO GERAL

HIERARQUIA (RELAÇÃO INTERORGÂNICA)


NOÇÃO: Modelo de organização administrativa vertical, constituído por 2 ou mais
órgãos e agentes com atribuições comuns, ligados por um vínculo jurídico que confere
ao superior o poder de direção e ao subalterno o dever de obediência.

MODELO DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA VERTICAL


SUPERIOR (poder de direção) ------------> SUBALTERNO (dever de obediência)
LIGADOS POR UM VÍNCULO JURÍDICO

Hierarquia pressupõe a existência de:


(1) 2 ou mais órgãos;
(2) Atribuições comuns entre os elementos da hierarquia;
(3) Vínculo jurídico – relação hierárquica – constituído por poderes e deveres de
obediência
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

NOTA PARTICULAR AO DEVER DE OBEDIÊNCIA!


QUANDO É QUE EXISTE DEVER DE OBEDIÊNCIA? SEMPRE QUE:
(1) As ordens sejam emanadas do legítimo superior hierárquico, e em matéria de
serviço e com a forma legal (art.º 271.º/2 CRP);

(2) Que não impliquem a prática de um crime (273.º/3 CRP) – se a ordem ou


instrução implicar a prática de um crime, não há dever de obediência.

Relativamente às ordens ilegais, também há dever de obediência, mas para


que a responsabilidade do funcionário seja afastada este deve:

o Reclamar ou exigir a confirmação da ordem por escrito, fazendo menção


expressa de que considera a ordem ou a instrução legal;

o Se a ordem for dada com menção de cumprimento imediato, basta que a


reclamação com a opinião sobre a ilegalidade da ordem seja enviada logo
após a execução.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

As relações de hierarquia encontram-se tipicamente no âmbito da administração


estadual direta, logo a estrutura do Estado é fortemente hierarquizada.

SUPERINTENDÊNCIA (RELAÇÃO INTERSUBJETIVA)


NOÇÃO: Poder conferido ao Estado ou a outra PCP de fins múltiplos de: (1) definir os
objetivos – fixando diretivas e recomendações, não os meios; (2) guiar a atuação -
orientar – das PC de fins singulares ou específicos colocados por lei na sua dependência
(IP e EPE).
Que poderes temos aqui presentes?

⮚ PODER DE ORIENTAÇÃO OU DE DEFINIÇÃO DE ORIENTAÇÕES


ESTRATÉGICAS.
A superintendência não se presume! -> Existe apenas quando expressamente prevista
pela lei.

TUTELA (RELAÇÃO INTERSUBJETIVA)


NOÇÃO: Conjunto de poderes de intervenção de uma PCP na gestão de outra PCP, a
fim de assegurar a legalidade (administração indireta + administração autónoma) e o
mérito (administração indireta) da sua atuação – art.º 199.º/d CRP.

CARACTERÍSTICAS DA TUTELA:
(1) Pressupõe a existência de 2 PCP distintas – PC tutelar e PC tutelada;

(2) Fim da tutela administrativa:

- Assegurar, em nome da entidade tutelar, que a entidade tutelada cumpre as leis


em vigor (legalidade);

- Caso a lei o permita, garantir que sejam adotadas as soluções convenientes e


oportunas para a prossecução do interesse público (mérito).
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Quanto às autarquias locais:


A tutela que o Governo exerce sobre as autarquias locais é apenas uma tutela da
legalidade (art.242º/1CRP), devendo ser consideradas inconstitucionais as disposições
legais que alarguem os poderes de intervenção do Gov. Pode, no entanto, haver tutela de
mérito sobre IP e EPE, quando expressamente previstas na lei.
Quanto às autarquias locais não é constitucionalmente admissível a tutela
revogatória nem a tutela substitutiva. O núcleo central é o da tutela inspetiva.
Há possibilidade, quando estiver expressamente prevista na lei, a tutela:

⮚ Integrativa;

⮚ Sancionatória (a lei da tutela não a prevê, mas a CRP não a afasta);

⮚ Anulatória.

Vigora o princípio da tipicidade das medidas de tutela, ou seja, a ligação a um


procedimento e vinculação quanto aos fundamentos da dissolução do órgão ou perda de
mandato. A lei da tutela defende que podem existir inspeções às Autarquias Locais, mas
não estão previstas as anulações dos atos, se existirem ilegalidade graves o M comunica
ao MP que interpõe a ação em tribunal.

Em sede de RECURSO, só há recurso para o Ministro, recurso administrativo especial,


caso a lei o preveja (vide art.º 199.º/1/c) CPA + n.º 3 a 5).
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Hierarquia Superintendência Tutela

Administração Indireta
Localização (na Administração estadual Administração Indireta (tutela de legalidade e de
ordem/setores direta (serviços (entidades criadas pelo mérito) e Autónoma (tutela
administrativa administrativos do Estado sob Estado, que prosseguem apenas de legalidade)
portuguesa) direção do Governo) interesses estaduais) (interesses próprios de uma
coletividade própria)

Inerente à relação
Lei (expressamente
Fundamento jurídico hierárquica (não tem de ser Lei (expressamente prevista)
prevista)
prevista na lei)

Objeto Dirigir (dar ordens) Orientar Controlar

Ordens e instruções;
Diretivas e
Poderes poder disciplinar, Fiscalização
recomendações
revogatório…

Não controlável Não impugnáveis Impugnáveis


Controlo Contencioso contenciosamente (nos
contenciosamente contenciosamente
tribunais administrativos)

ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO INDIRETA


AUTÓNOMA

Os entes autónomos dão a si próprios O Estado orienta a sua atuação: hétero-


uma direção ou orientação político- orientação
administrativa que lhes não é definida
pelo Estado: auto-orientação.

O controlo apenas se destina a verificar- O controlo é destinado a verificar a


se os respetivos órgãos ultrapassaram observância da orientação político-
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

os limites fixados pela lei. administrativa do Estado.

Os órgãos são eleitos pela respetiva Os órgãos são normalmente designados


comunidade sendo responsáveis pela Administração principal, sendo
perante ela. responsáveis perante ela, que os pode
destituir.

II – RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO ESPECIAL

DELEGAÇÃO DE PODERES
NOÇÃO: Ato pelo qual um órgão permite que outro órgão exerça uma competência que
continua a ser do primeiro órgão.

A delegação de poderes está prevista no art.44º e seguintes do CPA, onde para além da
delegação de poderes entre órgãos da mesma pessoa coletiva – delegação de
competências -, está prevista a delegação de competências de um órgão de uma
pessoa coletiva para um órgão de uma pessoa coletiva distinta – delegação de
atribuições.

Existem várias teses que se focam em perceber no que consiste o ato de delegação de
poderes.

⮚ A tese da autorização, que defende que o ato da delegação visa facultar ao


delegado uma competência que já é sua, no fundo, a delegação será um ato
pelo qual um órgão permite ao outro o exercício de poderes próprios – a lei
da habilitação confere uma competência condicional;

⮚ A tese da transferência da competência (ou da concessão translativa),


advoga que a delegação é um ato de transmissão de competências para o
delegado passando para ele a titularidade dos poderes que pertenciam ao
delegante.

Nenhuma destas teses traduzem a verdadeira natureza do ato de delegação de poderes.


MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

⮚ A tese defendida pelo Curso, é a tese da concessão constitutiva - ato de


delegação de poderes pelo qual um órgão de uma PCP permite que outro
órgão (em princípio da mesma PC) exerça uma competência que continua a
ser do primeiro órgão.

Competência continua a pertencer, apesar da delegação, ao delegante: apenas o


seu exercício passa a ser feito por outro órgão.

Com a delegação, cria-se no delegado uma qualificação para o exercício, em


nome próprio, de uma competência alheia.

REGIME JURÍDICO DA DELEGAÇÃO DE PODERES


(1) HABILITAÇÃO EXPRESSA (art.º 44.º/1 CPA) – Este ato de delegação
depende da habilitação legal expressa (44.º/1).

A falta desta faz com que a delegação corresponda a uma renúncia de


competências, sendo nula (36.º/2). O ato que venha ser pratico ao abrigo da
delegação sofrerá de um vício de incompetência que gera a anulabilidade do
ato.

Art.º 44.º/3/4 CPA dispensa uma habilitação geral específica.

A delegação carece sempre de um ato de delegação de poderes, no entanto essa


delegação pode ser tácita ou legal.

(2) SUBDELEGAÇÃO DE PODERES (46.º CPA) – A lei admite a possibilidade


de uma competência delegada ser subdelegada.

EM QUE TERMOS? – Art.º 46.º/1 CPA – Não é necessária autorização legal,


mas é necessário que:

(1) A lei não proíba essa possibilidade («salvo disposição legal em contrário»);
(2) Delegante tem de autorizar o delegado a subdelegar.

SUBDELEGAÇÃO POR PARTE DO SUBDELEGADO – O subdelegado


pode subdelegar as competências que lhe haviam sido subdelegadas.
EM QUE TERMOS? – Art.º 46.º/2 CPA – desde que:
(1) A lei não o impeça («salvo disposição legal em contrário»);

(2) Desde que o delegante ou o subdelegante não tenham reservado essa


possibilidade – basta que nada se tenha estabelecido.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Só podem existir 2 subdelegações.

(3) EXIGÊNCIAS DOS ATOS DE DELEGAÇÃO E SUBDELEGAÇÃO –


Art.º 47.º CPA

QUANTO AO CONTEÚDO:

✔ Delegante deve especificar os poderes delegados – art.º 47.º/1 – de


forma a impedir delegações genéricas; menção para o 45.º/a)

A especificação deve ser feita positivamente, ou seja, fazer uma


enumeração explícita dos poderes delegados ou dos atos que o delegado
pode praticar.

✔ Necessidade de no ato de delegação fazer a menção expressa à norma


atributiva do poder delegado e àquela que habilita a delegação –
art.º 47.º/1 CPA

QUANTO À PUBLICAÇÃO:

✔ Atos de delegação e de subdelegação estão sujeitos a publicação – art.º


47.º/2 – sob pena de ineficácia;

QUANTO AO USO:

✔ A lei exige que o delegado ou subdelegado faça menção da sua


qualidade no uso da delegação ou subdelegação – art.º 48.º/1 CPA.
Esta exigência é muito importante para que se determinem os meios de
reação contra os atos. A falta de menção não implica a invalidade do
respetivo ato.

(4) RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE (SUB)DELEGANTE E


(SUB)DELEGADO

O ato de delegação cria entre o delegante e o delegado uma relação jurídica


nova, que não é uma relação hierárquica, caso ela existisse é neutralizada no
âmbito da delegação.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

NOVA RELAÇÃO JURÍDICA ESTABELECE:

✔ Delegação cria para o delegado o poder-dever de exercer a


competência delegada – no fundo não pode renunciar a delegação;

✔ O delegando pode emitir diretivas ou instruções vinculativas sobre o


modo como o delegado deve exercer os poderes delegados – art.º
49.º/1 CPA – pode pré-fixar objetivos.

NOTA: No entanto não significa determinar o conteúdo a dar ao ato a


praticar, que é escolhido pelo órgão delegado.

✔ Delegante tem o poder de revogar, anular ou de substituir os atos do


delegado – art.º 49.º/2 + 169.º/4 CPA;

✔ Delegante tem o poder de anular ou revogar a delegação – art.º 50.º


CPA;

✔ Delegante tem o poder de avocar a competência delegada – art.º


49.º/2 CPA

AVOCAÇÃO: Poder que o delegante tem de chamar a si o caso


concreto ou o procedimento.
Com a avocação impede-se a competência do órgão delegado, mas
apenas em relação ao caso abrangido.
O que se pretende evitar com a avocação é um exercício simultâneo da
mesma competência o que pode traduzir-se na emissão de 2 soluções
não coincidentes num mesmo procedimento.
Na medida em que o delegante tem o poder de anular ou de revogar os
atos do delegado, nestes casos prevalecerá sempre a decisão tomada
pelo delegante, sendo o aparente conflito superável.

A avocação não tem de ser publicada, sendo, no entanto, necessário


que os interessados no procedimento tomem conhecimento dela.
Tal conhecimento será assegurado mediante notificação, se antes não
tiverem tomado conhecimento oficial, por qualquer via, da existência de
avocação.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(5) EXTINÇÃO DA DELEGAÇÃO

A delegação e subdelegação extinguem-se por anulação, revogação e por


caducidade – art.º 50.º CPA.

o Quer porque os efeitos da delegação se esgotaram;

o Quer porque os titulares dos órgãos mudaram, isto acontece porque


entre nós a delegação de poderes é vista como um ato intuitos personae,
ou seja, um ato fundado numa relação de confiança.

(6) EFEITOS DA REAÇÃO CONTENCIOSA

Art.º 199.º/2 CPA – Recurso (facultativo) para o delegante dos atos


praticados pelo delegado.

Atual CPA -> Este recurso administrativo especial apenas pode ser mobilizado
quando exista expressa previsão legal, o que levanta fortes dúvidas e várias
críticas.

MODELO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIO DA DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

NOÇÕES DE DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA


SENTIDO AMPLO SENTIDO ESTRITO

- Repartição de atribuições por uma - Várias tarefas públicas estiverem


pluralidade de PCP; atribuídas a unidades administrativas
infra estaduais que sejam:

o Dotadas de autonomia em relação


ao Estado;
o Detenham capacidade de gerir
autonomamente os seus assuntos

A verdadeira descentralização pressupõe:


(1) Criação de PC distintas do Estado;
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(2) Com autonomia face ao Estado – PC com personalidade jurídica própria;

(3) Com órgãos eleitos no e pelo ente descentralizado;

(4) Possua a característica de autogestão de interesses próprios.

A descentralização em sentido estrito é o processo de estabelecimento e de


alargamento das administrações autónomas.

DEVOLUÇÃO DE PODERES (descentralização técnica ou desconcentração


personalizada): Sistema em que alguns interesses públicos do Estado, ou de PC de
população e território, são postos por lei a cargo de PCP de fins singulares.
Sistema que dá origem a entidades públicas que prosseguem, em nome próprio,
interesses de outra pessoa coletiva pública, cujos órgãos são designados por um ato de
governo, podendo por ele ser demitidos e existindo uma intervenção acentuada do
Governo na sua gestão. É o processo que dá origem à designada Administração Estadual
Indireta.

PRINCÍPIO DA DESCONCENTRAÇÃO ADMINISTRATIVA


NOÇÃO: Tipo organizatório em que a parcela maior ou menor de poder de decisão
administrativa é repartida entre órgãos pertencentes à mesma PC.

PESSOA COLETIVA
CONCENTRADA DESCONCENTRADA

- Quando o superior hierárquico for o - Quando o poder decisório estiver


único órgão competente a tomar decisões, repartido entre o superior e os
detendo toda a capacidade decisória; subalternos, com direção/supervisão
daquele.

- Fica reservado aos restantes órgãos e


serviços a preparação e execução das
decisões daquele.

CLASSIFICAÇÕES DE DESCONCENTRAÇÃO:
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

⮚ FUNCIONAL/BUROCRÁTICA – Ministro > Direções Gerais > Repartições;

⮚ TERRITORIAL – Para a Administração Periférica do Estado;

⮚ ORIGINÁRIA – Feita diretamente pela lei;

⮚ DERIVADA – Decorrente de uma delegação de poderes.

Regra geral: Estrutura administrativa desconcentrada = Maior eficiência e rapidez


de resposta = Maior qualidade dos serviços.
Porém o facto de implicar múltiplos centros decisórios pode inviabilizar a tomada de
decisões harmoniosas.

DESCONCENTRAÇÃO CONCENTRAÇÃO – Esta última é um modelo


organizativo no qual um determinado órgão dentro de uma PC, em regra colocado no
topo de uma hierarquia, detém toda a competência decisória, dicando reservados aos
restantes órgãos e serviços a preparação e execução das decisões daquele.

EM SUMA:

ADMINISTRAÇÃO SERVIÇOS DESCONCENTRAÇÃO


DIRETA DEPENDENTES

ADMINISTRAÇÃO INSTITUIÇÕES E DEVOLUÇÃO DE


INDIRETA FUNDAÇÕES PODERES

ADMINISTRAÇÃO AUTARQUIAS LOCAIS


AUTÓNOMA E ASSOCIAÇÕES
DESCENTRALIZAÇÃO
PÚBLICAS
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

PRINCÍPIO DA EFICÁCIA E UNIDADE DE AÇÃO ADMINISTRATIVA


Para alguns é um limite à descentralização (modelo da descentralização máxima).
Para uma doutrina mais recente a organização administrativa deve ser definida pelo
legislador ordinário numa perspetiva de harmonização equilibrada entre o princípio
da descentralização e da unidade de ação administrativa orientados pelo princípio
da eficiência máxima (princípio do equilíbrio eficiente).
O princípio da unidade da ação do Estado é garantido pelo Governo uma vez que é a ele
que cabe dirigir os serviços e a atividade da administração direta do estado,
superintender na administração indireta e exercer tutela sobre a administração
autónoma.
A unidade de ação justifica a centralização e a hierarquia nas zonas em que sejam
indispensáveis e na medida em que se mostrem adequadas (mas não pode ser posto em
causa o núcleo essencial da autonomia).
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

PARTE II – A ADMINISTRAÇÃO E O DIREITO


Apesar de muitos sistemas de administração executiva e continental terem um ramo
próprio de direito ao qual a Administração se subordina, sempre que atua no uso dos
seus poderes ou prerrogativas de autoridade - Direito Administrativo – não devemos
negligenciar as relações entre a Administração e o Direito privado.

2 TIPOS DE RELAÇÕES ADMINISTRAÇÃO - DIREITO PRIVADO:


(1) Direito privado como limite da atividade administrativa lícita;
(2) Utilização direta de meios e instrumentos de direito privado por parte da
administração:
- Atividade privada da própria administração;
- Satisfação direta de necessidades coletivas (no exercício de atividades
materialmente administrativas

OS FENÔMENOS DE PRIVATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Uma das dimensões da privatização passa pela criação de entidades para a gestão de
tarefas que continuam a ser materialmente públicas - ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA SOB FORMA (ORGANIZATORIA) PRIVADA

OBJETIVOS DA PRIVATIZAÇÃO:
- Maior celeridade e flexibilidade;
- Maior eficiência;
- Menor controlo;
- Participação dos privados na Administração;
- Respeito pela vinculação comunitária.

AS VÁRIAS DIMENSÕES DA PRIVATIZAÇÃO:

PRIVATIZAÇÃO MATERIAL OU SUBSTANCIAL:


Noção: Tarefas que eram de início públicas e que deixaram de o ser, em virtude da
transferência da sua realização para o setor privado e, por isso, passando a assumir-
se como substancialmente privadas, em regra sujeitas a concorrência.
EXEMPLO: Comercialização de energia elétrica, que passa a ser liberalizado.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Contudo, na medida em que muitas dessas tarefas privatizadas assumem um relevo


fundamental na vida em sociedade (“serviços de interesse económico geral"), as
mesmas ficam subordinadas à regulação pública desempenhada pelo Estado.

PRIVATIZAÇÃO FORMAL OU INSTRUMENTAL (ORGANIZAÇÃO OU A


GESTÃO ADMINISTRATIVA)
Noção: Tarefas que permanecem públicas, sendo geridas por PCP mas com recurso ao
direito privado.
QUEM AS GERE?
- Geridas por PCP com recurso ao Direito Privado (ex: EPE’s, hospitais-
empresas) - privatização da gestão;

- Entes públicos de Direito privado com forma privada (entidades administrativas


privadas) - privatização da organização

Ou seja, é a sujeição da atividade de PCP ao Direito privado.


EXEMPLO: O hospital de Santa Maria da Feira, sendo EPE, a gestão das tarefas que
levam a cabo são de acordo com o direito privado.

PRIVATIZAÇÃO FUNCIONAL (EXERCÍCIO POR PRIVADOS DE FUNÇÕES


ADMINISTRATIVAS)
As tarefas continuam a ser substancialmente públicas, mas a sua execução é objeto
de concessão (em que o risco económico é do privado) ou delegação (substituição de
controlos públicos) a entidades privadas (sob orientação ou fiscalização pública).
Enquanto mecanismos de intervenção de particulares no exercício de tarefas públicas.
No seu grau máximo pode traduzir-se na atribuição aos privados da responsabilidade
efetiva pela função pública. Por exemplo quando o Estado transfere a realização de uma
obra para o privado.

O CASO DA PRIVATIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS (DO CONTROLO) -


PRIVATIZAÇÃO PROCEDIMENTAL
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Noção: Procedimentos que passam a ser feitos por entidades privadas. Ex: Projetos
de especialidades no licenciamento de obras.
Assiste-se à substituição do princípio da autoridade pública pelo princípio da
autorresponsabilização dos particulares. Ex: Procedimentos de mera comunicação
prévia.

LIMITES A TER EM CONSIDERÇÃO:


1. ADMISSIBILIDADE GERAL DE “DELEGAÇÃO" EM MATÉRIAS QUE
SEJAM ADEQUADAS À GESTÃO PRIVADA - isto é, que não envolvam
essencialmente o exercício de poderes públicos de autoridade.
Embora devendo:
(1) Poderes “delegados” ser excecionais e enumerados;
(2) Ser impedida a concessão a estrangeiros ou a entidades sujeitas a
conflitos de interesses.

2. ADMISSIBILIDADE LIMITADA;
Quando estão em causa poderes públicos de autoridade

3. INDELAGABILIDADE, quando:
(1) Poderes constitucionalmente atribuídos a determinados órgãos ou
entidades (Ex: poder de planeamento territorial - art.º 65.º CRP);
(2) Poderes que envolvam a força como meio.

DIREITO PRIVADO COMO LIMITE DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA


LICITA
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

O direito privado visa fixar e proteger as esferas jurídicas dos particulares, criando
barreiras externas ao comportamento de todos os sujeitos jurídicos:
- Qualquer atuação de um sujeito que atente contra um direito de um outro é
um ato ilícito.

Quanto à Administração Pública, o Direito privado fixa um domínio de licitudde que


não pode ultrapassar, sob pena de estar a praticar atos ilícitos e de,
consequentemente, ter de indemnizar os lesados.

UTILIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO PELA ADMINISTRAÇÃO: COMO


MEIO DE ATUAÇÃO
A administração na sua atuação meramente privada, utiliza o direito privado nas
seguintes situações:
(1) QUANDO LANÇA MÃO DELE NOS SEUS NEGÓCIOS AUXILIARES,
que desempenham uma função meramente instrumental na atuação da
Administração.
Ex: Quando celebra um contrato de arrendamento de um imóvel para instalar
determinado serviço público.

(2) ADMINISTRAÇÃO DOS BENS PRIVADOS QUE INTEGRAM


PATRIMÓNIO DAS ENTIDADES PÚBLICAS E NA GESTÃO PELA
ADMINISTRAÇÃO, NO MERCADO DA CONCORRÊNCIA, de atividades
económicas, comerciais ou de serviços, através da criação de sociedades ou
participação em sociedades de direito privado.

(3) PRÓPRIA REALIZAÇÃO DE FUNÇÕES PÚBLICAS - apesar da


Administração ter como prossecução os interesses ou fins públicos, é possível
que as atribuições sejam desempenhadas através de meios de direito privado

PERIGOS INERENTES
Os perigos de uma “fuga para o direito privado” - subtração ao cumprimento de
obrigações legais e contabilísticas estabelecidas pelo direito publico.

Contudo estes perigos de “fuga” podem ser evitados através de:


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a) ESTABELECIMENTO DE CAUTELAS PARTICULARES, que devem


garantir o cumprimento das obrigações da Administração para com o interesse
público e os direitos e interesses legítimos dos administrados;

b) COMBINAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO COM


LIMITES E REGALIAS DE DIREITO PÚBLICO

QUAIS OS LIMITES E REGALIAS DE DIREITO PÚBLICO QUE NÃO


PODEM SER POSTOS DE LADO QUANDO A ADMINISTRAÇÃO RECORRE
AO DIREITO PARA REGULAR DETERMINADA RELAÇÃO?
1 – DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ADMINISTRADOS: Limitação da atuação
da Administração pelo respeito devido a estes direitos;

2 – RESPEITO PELO PRINCÍPIO DA PROSSECUÇÃO DO INTERESSE


PÚBLICO E PELOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE
ADMINISTRATIVA (Art.º 2.º/5 CPA);

3 - PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE ESCOLHA LIMITADA: O recurso ao direito


privado só é admissível se tal for necessário para a prossecução das finalidades de um
ente público;

4 - PRINCÍPIO DA DECISÃO ADMINISTRATIVA PRÉVIA: A formação da


vontade de contratar privadamente deve ser enquadrada num procedimento
administrativo regulado pelo direito público.
Apesar de participar numa relação jurídica de direito privado, a decisão de recorrer a
esse direito é tomada no âmbito de direito administrativo.

REGALIAS:
(1) A Administração não pode perder, de forma absoluta, os seus poderes de
autoridade; (ainda que só os deva usar em casos excecionais)

(2) Impenhorabilidade dos bens públicos.


MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

A ADMINISTRAÇÃO E O DIREITO PÚBLICO - PRINCÍPIO DA


LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO

A VINCULAÇÃO/SUBORDINAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO AO DIREITO


PÚBLICO
É o Direito administrativo que fixa as condições de possibilidade e de legitimação
da atuação administrativa, especialmente quando se trata da utilização dos atos
autoritários, reflexo dos poderes de supremacia que pertencem à Administração
pública.

A Administração Pública encontra-se subordinada a todo o Direito Público:


(1) SUBORDINAÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL;
(2) SUBORDINAÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO

O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO


O princípio da legalidade da Administração foi, juntamente com o princípio da
separação de poderes, o grande responsável pelo nascimento do Direito
Administrativo, na sequência das revoluções liberais.
Com as Revoluções Liberais, o Estado passa a subordinar-se ao Direito, nascendo o
Direito administrativo e, com ele, um conjunto de regras destinadas a defender os
cidadãos.

SÉC. XIX - ÉPOCA LIBERAL


Direito administrativo encontrava-se subordinado a:
(1) PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES;
(2) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO
Este último ainda se subdivide em:
2.1 PRINCÍPIO DO PRIMADO DA LEI;
2.2 PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES


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DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(VISÃO LIBERALISTA DO SÉC. XIX)


PRINCÍPIO DO PRIMADO DA LEI PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI

- Na Época liberal era entendido - Só o Parlamento podia invocar


apenas no seu sentido negativo: disposições inovatórias:
Administração não podia
praticar qualquer ato que
contrariasse o disposto nas o As matérias mais importantes (liberdade
normas legais; + propriedade) só podiam ter uma
regulamentação inovatória através de
uma lei;

- Pretendia-se que a administração


não atuasse contra legem, lei
- Administração só podia atuar
como única fonte de Direito que a
com uma prévia autorização
Administração tinha que
legal;
respeitar;

o atuação meramente executiva de


- Lei como único limite à concretização das disposições legais
atividade administrativa – a aprovadas no parlamento.
Administração podia fazer tudo
o que não estivesse
expressamente proibido na lei
(subordinação mínima) - TRIPLA RESERVA:

o RESERVA ORGANICA:
Reserva de lei do Parlamento,
como domínio normativo da
exclusiva competência de um
órgão;

o RESERVA FUNCIONAL:
Reserva de função legislativa,
ou seja, a função legislativa
começa e acaba nas normais
gerais e abstratas elaboradas
pelo Parlamento;

o RESERVA MATERIAL,
JURÍDICA OU DE DIREITO:
Identificação do Direito com a
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

lei, logo a matéria reservada à


lei era a única onde havia
criação de Direito

Matérias que não fossem relativas à propriedade e à liberdade e, se não existisse uma lei
prévia que vinculasse a atuação da Administração, esta podia atuar livremente:
DISCRICIONARIEDADE! - poder discricionário que se apresentava como poder
originário da Administração, não controlável pelos tribunais.

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES


(VISÃO DO SÉC. XX)
PRINCÍPIO DO PRIMADO DA LEI PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI

- SENTIDO NEGATIVO: - TRIPLA RESERVA DEIXA DE


Administração continua a não FAZER SENTIDO:
poder praticar atos que
contrariem o disposto nas o RESERVA ORGANICA:
normas legais; Alargada - apesar de o
Parlamento manter a competência
legislativa mais importante, o
Por força da primazia normativa da lei Governo passa também a dispor
sobre os atos da administração. de competência legislativa
normal, bem como as ALR;

o RESERVA FUNCIONAL:
- SENTIDO
Perde o sentido - grande
POSITIVO/PRECEDÊNCIA
alargamento do âmbito de
DA LEI: Lei (em sentido amplo)
reserva da lei para além da
como pressuposto e fundamento
propriedade e liberdade, o que
de toda a atividade
torna difícil determinar quais as
administrativa.
matérias que exigem uma
regulamentação inicial do
legislador;
Lei não só do Parlamento mas também
do Governo e das normas da UE com
valor legislativo.
o RESERVA MATERIAL,
JURÍDICA OU DE DIREITO:
No tem mais sentido - Direito é
A lei tem de determinar, no muito mais do que a lei;
mínimo:
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(1) FINS - Interesses públicos


a satisfazer;

(2) COMPETÊNCIAS -
órgãos encarregados de
prosseguir esses fins

EM SUMA:

Sem a existência de uma lei prévia que


estabeleça os fins e as competências dos
órgãos, estes não estão habilitados a
atuar, uma vez que a lei é pressuposto e
fundamento da atividade administrativa.

Isto significa que a administração só pode


fazer aquilo que a lei expressamente
permite.

PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE
A Administração não está apenas subordinada à lei, mas a todo o bloco juridicamente
relevante:
(1) Princípios jurídicos fundamentais;
(2) Constituição;
(3) Direito Europeu;
(4) Fontes de Direito Internacional;
(5) Princípios gerais da atividade administrativa;
(6) Regulamentos

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE (Art.º 7.º CPA)


MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

A Administração, com as suas decisões, deve provocar a menor lesão de interesses


privados compatíveis com a prossecução do interesse público em causa.

A verificação do cumprimento deste princípio obriga a administração a tornar explícito


o juízo de ponderação feito entre os benefícios que as suas medidas têm para o
interesse público e as desvantagens que as mesmas acarretam para a esfera jurídica
dos interessados.

DISCRICIONARIEDADE
A atividade administrativa pública está condicionada/vinculada pela legislação, não
dispondo de liberdade constitutiva para escolher os fins e competências que prossegue,
sendo estes definidos pelo legislador, sendo um continuum entre vinculação e
discricionariedade.

ATOS VINCULADOS
No entanto há vários casos em que a lei vai mais longe indicando, para além dos fins e
competências, o conteúdo dos atos a praticar pela Administração, isto é, a lei prevê
os meios que a Administração deve usar para atingir o fim público previsto na
norma.
Como tal, há atos vinculados, pelos quais o seu conteúdo e meios se encontra
legisladamente definido, não tendo a Administração qualquer poder de escolha em
relação ao seu conteúdo. Aqui existe apenas uma solução possível - a que resulta
diretamente da lei aplicável. A administração assume uma tarefa executiva.

ATOS DISCRICIONÁRIOS
No entanto, há casos em que a lei se limita a definir o fim/interesse público e os
órgãos competentes para o prosseguir. Aqui o legislador atribui deliberadamente
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autonomia à Administração, por a considerar capaz de determinar os meios mais


adequados para atingir o fim pretendido.
Aqui a Administração é capaz de determinar o conteúdo, o procedimento, o momento e
a oportunidade da sua atuação.
Atos Discricionários: Possibilidade de a Administração determinar o conteúdo dos
atos, fixando o grau das modificações jurídicas pretendidas; A lei dá a possibilidade e
remete para a administração o poder de fazer escolhas, há um espaço de avaliação
e decisão onde a administração determina os meios mais adequados.

ATOS VINCULADOS ATOS DISCRICIONÁRIOS

- Os fins, competências, conteúdo - Lei limita-se a definir os fins e os


e meios de atuação da órgãos competentes para os
Administração encontram-se prosseguir;
legisladamente definidos, sendo
a única solução passível a - Legislador atribui
resultante da aplicação direta da deliberadamente autonomia à
lei; Administração;

- A Administração não tem O legislador considera a Administração


qualquer poder de escolha em capaz de determinar os meios mais
adequados para atingir o fim pretendido.
relação ao seu conteúdo, tendo
uma função meramente
- Possibilidade de a Administração
executiva.
determinar o conteúdo dos atos,
fixando o grau das modificações
jurídicas pretendidas.

- Há um espaço de avaliação e
decisão onde a Administração
determina os meios mais
adequados.

DISCRICIONARIEDADE
- Ideia de escolha (deixada pela lei), de acordo com parâmetros/critérios
(discricionariedade não é arbítrio), estando sujeita a um controlo que, em todo
o caso, não pode subsituir o juízo/escolha feito pela Administração
(proibição de uma dupla administração.
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DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA: Poder de decisão, próprio da


Administração, concedido por lei e no âmbito da qual, porque se trata de um espaço de
responsabilidade própria da Administração, o juiz efetuará somente um controlo
atenuado de juridicidade, sendo que esta atenuação resulta da ausência e
predeterminação legal da atuação administrativa.

ÂMBITO DO PODER DISCRICIONÁRIO

TÉCNICAS DE CONCESSÃO DOS PODERES DISCRICIONÁRIOS


No seio da estrutura das normas administrativas temos:
- HIPÓTESE: Pressupostos da atuação da administração - contém a descrição
típica de uma situação;

- ESTATUIÇÃO: Conteúdo do ato, inclui as medidas/providências que o agente


deve adotar - consequências jurídicas.

O elemento de ligação entre a hipótese e a estatuição - fator deôntico:


(1) DEVIDO (deve);
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(2) PERMITIDO/AUTORIZADO (pode); -> ELEMENTO DEÔNTICO-


PERMISSIVO;

(3) PROIBIDO
NORMAS DETERMINADAS
Uma norma condicional terá uma estrutura determinada se, à hipótese legal, se fizer
corresponder uma só solução (Se x, DEVE y), isto é, se a verificação concreta de
um determinado pressuposto, se segue uma determinada consequência jurídica.
Neste caso, se se verificar a previsão legal, é dada à Administração uma única solução,
que é aquela que terá de ser adotada na situação concreta - é um ato vinculado.

NORMAS INDETERMINADAS

(1) INDETERMINAÇÕES ESTRUTURAIS DAS NORMAS


Há poderes discricionários sempre que a norma administrativa assume uma
estrutura indeterminada.
As indeterminações estruturais são uma das formas de concessão de poder
discricionário.

1.1 NORMAS CONDICIONAIS;


1.2 NORMAS PROGRAMÁTICAS

(2) INDETERMINAÇÕES CONCEITUAIS DAS NORMAS: CONCEITOS


IMPRECISOS OU INDETERMINADOS

CONCEITOS CLASSIFICATÓRIOS: Conjunto de conceitos indeterminados


que não têm a ver com este problema, pois não são verdadeiros conceitos
indeterminados, logo, não atribuem discricionariedade. Trata-se de conceitos
cuja imprecisão é resolvida em sede de interpretação jurídica.

CONCEITOS SUBJETIVOS: Conceitos de tal forma vagos que se considera


não estarem em causa apenas indeterminações conceituais, mas também
indeterminações estruturais, cabendo sempre à Administração o seu
preenchimento e aplicação aos casos concretos. Aqui existe discricionariedade.
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CONCEITOS IMPRECISO TIPO: Classe de situações individualizáveis, mas


a um tipo difuso de situações da vida e não podem, portanto, ser preenchidos em
sede de interpretação jurídica, remetendo a administração para juízos de valor da
sua própria responsabilidade.

Exemplos:
- Conceitos de valor no âmbito de juízos sobre aptidões pessoais ou de
avaliações técnicas (ex: jurista de reconhecido de mérito, filme de
qualidade, aptidão agrícola);

- Situações com elementos determinantes de prognose (ex: justo receio


de ser perseguido, perigo para o trânsito, ameaça de ruína);

- Situações que envolvem a ponderação de interesses públicos ou


privados complexos (ex: localização de um aterro sanitário);

- Decisões com consequências políticas (ex: recusa de visto a uma


personalidade de relevo internacional)

POSIÇÃO DE COIMBRA
Conceito unitário e amplo de discricionariedade como espaço de decisão da
responsabilidade da Administração, decorrente de uma indeterminação
legal.
Este conceito deve abranger os efeitos, bem como as condições da decisão,
incluindo a identificação do interesse público, quando a lei não define, de
modo preciso, as circunstâncias de facto que o relevam.
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TÉCNICAS DE CONCESSÃO DE DISCRICIONARIEDADE!


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EM SUMA:
Tendo em conta a concepção ampla ou unitária do poder discricionário, a
resposta é que ela resulta das situações de abertura ou indeterminação das
normas, quer ela se encontre
- No lado da estatuição da norma, formulada como preceito de possibilidade ou
como faculdade de acção;
- Quer no lado da hipótese, através da utilização de conceitos indeterminados;
- Quer ainda de normas jurídicas que misturam técnicas (normas acopladas);
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- Ou de normas que contêm meras atribuições de fins legais.

CONTROLO JUDICIAL
O exercício de poderes discricionários é suscetível de fiscalização pelo juiz.
Os tribunais julgam do cumprimento pela Administração das normas e
princípios jurídicos que a vinculam e não da conveniência ou oportunidade
da sua atuação.
Cabendo à Administração a autoria dos atos e a responsabilidade pelos mesmos
e aos tribunais o controlo da compatibilidade entre a atuação administrativa e as
normas legais e os princípios jurídicos.
O tribunal controla apenas a juridicidade, sendo que este não se substitui à
administração.

PODEMOS DISTINGUIR 2 CONTROLOS:

(1) CONTROLO EXTERNO


Tendo em conta que nenhum ato é absolutamente discricionário, contendo
sempre alguns aspetos vinculados, será sempre possível controlá-lo no que toca
aos fins e competências estipulados na norma legal.

VÍCIO DA INCOMPETÊNCIA: Se o órgão que atuou não era competente


ou não dispunha de legitimação para agir, o tribunal administrativo vai
proceder à anulação do ato.
DESVIO DE PODER SUBJETIVO: Quando a Administração se serviu dos
poderes discricionários para prosseguir interesses diferentes daqueles que a
lei tinha em vista ao conceder-lhe tal competência discricionária.
A dificuldade aqui reside na prova de que os interesses que motivaram a
administração são diferentes daqueles que o legislador previu, mas é possível de
superação pela obrigatoriedade da Administração motivar os atos
administrativos praticados ao abrigo dos poderes discricionários.

(2) CONTROLO INTRÍNSECO


Coloca-se à prova o próprio uso dos poderes discricionários, sendo o critério de
controlo os princípios jurídicos, que devem nortear a Administração ao decidir
com base em poderes discricionários.
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Aqui é necessário analisar todo o processo que antecede os atos administrativos,


bem como a fundamentação que os justifica.

O controlo dos momentos discricionários ocorre quando:


DESVIO DO PODER OBJETIVO: Violação ostensiva ou intolerável destes
princípios. Tem por consequência a anulação jurisdicional dos respectivos
atos praticados ao abrigo de poderes discricionários, sob pena de os tribunais
administrativos praticarem uma “dupla administração” ao pronunciarem-se
sobre o mérito das decisões administrativas.

ERRO DE FACTO: Anulação dos atos quando a Administração se baseia


em factos inexistentes ou falseados.

ERRO MANIFESTO OU DE APRECIAÇÃO: Anulação dos atos quando se


torna evidente que a Administração avaliou ou qualificou mal a realidade.

Os tribunais não vão substituir a Administração e avaliar a situação, mas


vão proceder à anulação do ato sempre que a avaliação seja manifestamente
desacertada e inaceitável, ou seja, quando o erro é ostensivo e notório.
Nestas situações, há fiscalização mas não reexame - logo o controlo é
atenuado.

A condenação à prática de um ato, ou adoção ou abstenção de um


comportamento só acontece em casos de redução da discricionariedade a zero,
isto é, quando, face aos dados concretos, se consegue identificar uma única
solução juridicamente possível.
Este controlo deve-se à repartição de competências entre Administração e
Tribunais. Assim, se à Administração cabe a adoção da solução mais adequada a
um dado caso concreto, recaindo sobre si a responsabilidade de prosseguir o
interesse público, aos tribunais caberá a fiscalização da atuação administrativa
mas abstendo-se de se pronunciar sobre a conveniência dessa atuação.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

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