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AUTOCRACIA E DEMOCRACIA

Quando falamos de regime de governo, tendemos a fazer uma confusão com


outros conceitos que habitam o espectro da ciência política. Em geral, confunde-se
regime de governo com forma de governo e com sistema político. As formas de
governo (tipo de governo) podem ser clássicas, descritas por Aristóteles como
monarquia, aristocracia e democracia (essas são as legítimas), além das ilegítimas,
como tirania, oligarquia e demagogia. Além dessas classificações antigas, figuram
ainda as classificações modernas e contemporâneas, como a república (incluída por
Maquiavel junto ao principado). Tipo de governo, tipo de regime.

Quando falamos de sistemas políticos , estamos falando de sistemas pelos


quais o poder político é organizado e o poder é exercido, como o parlamentarismo e
o presidencialismo. Ao se falar de regime de governo (tipo de regime), estamos
dizendo apenas do modo como o poder está distribuído entre os elementos de um
mesmo Estado, podendo ser de forma autoritária, democrática e totalitária.

É por meio do regime de governo (tipo de regime) que identificamos como se


relaciona a soberania de um governo com os outros elementos dele: governante e
governados. Ao longo da história, vimos repetidas vezes os mesmos regimes de
governo aplicados de maneiras distintas.

A nossa confusão entre regimes de governo e formas de governo nos faz


pensar, por exemplo, que uma república sempre é democrática, enquanto uma
monarquia sempre é autoritária. O erro encontra-se na confusão conceitual, pois
uma monarquia é uma forma de governo que pode se apresentar como um regime
democrático, pautado por uma Constituição e com um Parlamento eleito, que cria as
leis, como as monarquias parlamentaristas que começaram a surgir no século XIX.
A Inglaterra é um exemplo desse tipo de monarquia. Pensar em uma monarquia
parlamentar não é contraditório, visto que uma monarquia é uma forma de governo,
enquanto o parlamentarismo é um sistema político.

Do mesmo modo, existem repúblicas que, na teoria, são democráticas, mas


que os governantes utilizam-se de subterfúgios para manter-se no poder, criando
regimes autoritários. Um exemplo é o da Coreia do Norte, onde existem eleições
periódicas, que não respeitam os parâmetros estabelecidos por organismos
internacionais para regulamentar tais eleições.

Outros exemplos são os de ditaduras, como a Ditadura Militar brasileira, que


ocorreu entre 1964 e 1985. O governo militar era autoritário, tendo fechado o
Congresso Nacional, cassado mandatos de parlamentares opositores, proibido
partidos políticos e suspendido os direitos constitucionais, criando um Estado de
exceção. Apesar do governo militar, o Estado Nacional Brasileiro nunca deixou de
ser uma república. De todo modo, as formas de governo são norteadoras da ação
política.
Podemos dizer que as formas de governo são embasadas em sistemas
filosóficos que dizem como um governo deve comportar-se e organizar-se para
enquadrar-se naquela forma.

Os regimes de governo, por sua vez, são mais simples e dizem respeito
apenas ao modo como um governo ou um governante atua, exercendo o seu poder
sobre os governados. Nesse sentido, temos governos que exercem o poder de
forma mais concisa, desconsiderando a participação popular, e governos abertos à
participação popular,

Autocracia

A palavra autocracia possui origem nas palavras gregas “autos” (um só) e
“kratos” (governo). Por isso, pode-se afirmar que autocracia significa “governo por
um só” ou “governo por si próprio”. A característica fundamental da autocracia é que
ela é um sistema de governo onde a única representação e exercício de poder
existentes estão vinculados às convicções de uma só pessoa, assembléia ou
semelhante, estão concentradas na mão de um líder com poder total que governa
em nome de si mesmo e seguindo os seus próprios critérios, possuindo absoluto
controle e pode sobre todos os níveis governamentais. Dessa forma, na autocracia
todos os níveis organizacionais da sociedade são subordinados ao poder de um só
centro e é um regime político marcado por uma relação de poder vertical (de cima
para baixo) e com a presença de atos autoritários por parte do líder do governo.
Algumas outras características centrais de um regime autocrático são também:

● Personalização do poder: as políticas empreendidas no governo tendem a


ser confundidas com ações e interesses pessoais. Além disso é comum o
culto a personalidade do autocrata por seus seguidores;
● Centralização do poder, ou despotismo: a concentração do poder em um
único líder, e esse poder é arbitrário, isolado e absoluto. Não existe
autocracia sem um líder autocrata;
● Outros membros do governo são ignorados ou nem existem;
● Também não há participação de outros indivíduos ou grupos sociais;
● Intolerância e truculência com a qual comumente se lida com opiniões
contrárias e oposições;
● Absoluta impunidade para o autocrata e seus aliados, resultante da
concentração de poder.

A origem desse poder central ou governante não é definida. Ele pode existir a
partir de meios legais, como a eleição, onde, posteriormente, o líder eleito impõe
uma autocracia. Para isso, pode utilizar inclusive dos mecanismos republicanos e
adequar as leis para que suas convicções sejam impostas. Entretanto, governos
autocráticos podem advir também de golpes de Estado e instauração de ditaduras.
Em uma matéria da revista Veja postada em 2019, fala sobre o Relatório
Mundial de Direitos Humanos 2019, onde esse relatório aponta o atual presidente
do Brasil como sendo um líder que foi eleito democraticamente, mas que não tem
compromisso com essa democracia, ou seja, o atual presidente foi considerado
como um líder autocrático eleito de forma populista, pelo povo, pelo voto.

Na história da humanidade governos autocratas foram liderados por políticos


de diversas origens, militares e civis. Governos autocráticos existem desde o
Império Bizantino, onde o Imperador era chamado de autocrator, em referência ao
seu poder central, absoluto e ilimitado.

Dentro dessa forma de governo, derivam-se outras que seguem basicamente


o mesmo princípio da autocracia, que é a ideia de poder centralizado sobre as
massas e de todas as instâncias de governo. Podemos citar como formas de
governos autocráticos as monarquias absolutistas, as ditaduras, os regimes
totalitários e o autoritarismo.

Monarquias Absolutistas: O Absolutismo foi um sistema político que, em


geral, defendia o poder absoluto do monarca sobre o Estado e foi muito comum a
partir do século XVI até meados do século XIX em diversas partes da Europa. O
Absolutismo concentrou todo o poder nacional no rei e tornou absoluta a vontade do
monarca.

Esse sistema político surgiu a partir dos interesses da burguesia emergente,


assim, à medida que o Estado Nacional foi consolidando suas fronteiras e
demandas e com o surgimento de uma forte classe mercantil, houve a necessidade
de um representante que defendesse seus interesses e, assim, o poder passou a
ser concentrado na figura do monarca. Diferentemente do que acontecia durante a
Idade Média em que o poder do real não era unânime, no Absolutismo, o monarca
controlava todo o poder na tomada de decisões da nação. Além disso, os monarcas
acabavam por fazer tudo aquilo que eles quisessem, sem que levassem a culpa por
isso, sua autoridade não podia ser questionada uma vez que usavam como
justificativa que seus atos partiam da vontade divina.

Assim, eram determinadas pelo rei a organização das leis, a criação dos
impostos, a delimitação e implantação da justiça etc. Surgiu ainda, nesse período, a
burocracia, toda uma estrutura de governo que era responsável pela execução do
trabalho administrativo da nação, de forma a auxiliar o rei na administração do
Estado recém-criado.

Com a delimitação das fronteiras nacionais, o Absolutismo contribuiu para a


diminuição das diferenças culturais locais, ou seja, houve uma padronização. Assim,
uma só moeda foi implantada e um só idioma foi escolhido para toda a nação. Com
o fortalecimento do comércio, foi criada uma série de impostos para a sua
regulação, além de impostos alfandegários para a defesa da economia interna.
Há uma famosa frase do Rei Luís XIV (Rei Sol) que ilustra essa identificação
do poder com a figura do governante autocrata: O Estado sou eu!

Ditaduras: São consideradas governos defeituosos pois, não existe


legitimidade em relação ao início do governo e nem em relação ao exercício do seu
poder, com isso, há a usurpação do processo eleitoral democrático e/ou legítimo por
meio de um golpe, por exemplo.

Além disso, a ditadura é um regime antidemocrático que se caracteriza por


ter censura, falta de eleições transparentes, de liberdade partidária e um intenso
controle do Estado na vida dos cidadãos. Para exercê-lo, o dirigente, ou ditador, se
apoia em apenas um partido político cuja ideologia será a única considerada correta
e na censura.

É preciso lembrar que a repressão é bem atenuada nesse regime de governo


e usam da violência como forma de reprimir aqueles que criticam ou ameaçam o
seu regime, e pode ser exercida de duas maneiras: tanto física como psicológica. A
física se caracteriza pela brutalidade com que os agentes da ordem mantém a lei,
enquanto a psicológica vai desde a propaganda política até a limitação de liberdade
de expressão.

As ditaduras podem ser de direita, de esquerda, religiosas, monárquicas, etc


e, inclusive, costumam utilizar recursos democráticos como as eleições para
disfarçar seu caráter autoritário.

O Brasil sofreu ditadura em dois períodos de sua história: no governo de


Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (1937-1945), e a ditadura militar entre 1964
a 1985.

Regimes Totalitários: os Regimes totalitários, eles se caracterizam pela


adoração da figura de um líder que geralmente é bem carismático e visto como um
representante do bem, ele pertence a um único partido político que possui
ideologias bem definidas, a partir da adoção dessa ideologia, o líder passa a eleger
um inimigo comum e que deve ser combatido para assegurar o bem da nação.

O totalitarismo, como regime político, nasce no século XX, junto à crise do


capitalismo internacional e das democracias liberais surgidas no período entre
guerras.

Igualmente, se reforça com a profunda crise econômica mundial de 1929.


Afinal, o aumento da inflação, desemprego e miséria, levou a ascensão de ideias
totalitárias que conquistaram os cidadãos de alguns países.

A ideia comum aos líderes totalitários fascistas era encontrar formas de


restabelecer a ordem social e capitalista impedindo assim, o avanço do socialismo (
que era o inimigo nacional). Por sua vez, os regimes totalitários de esquerda
usavam os mesmos métodos para conter o capitalismo.

Então, o totalitarismo é uma prática política onde o Estado é forte,


centralizador, e se identifica com as ideias de um único partido político.

Algumas características desse regime político é o culto a figura do líder (O


dirigente sempre é retratado como a pessoa que possui liderança nata e reúne
todas as qualidades para conduzir o povo a melhores condições de vida);
estabelecimento de um único partido no país (Isso significa que todos os outros
partidos políticos serão considerados ilegais ,assim, por meio de uma ideologia
oficial e hierarquia rígida, a política deixa de ser algo que pode ser discutido por
toda sociedade, para ser apenas feita por um grupo reduzido); controle ideológico
(Para controlar a população são criados órgãos de repressão como a polícia
política. Todo indivíduo que leia, discuta ou propague uma ideia diferente daquela
ensinada pelo Estado seria passivo de condenação); militarismo; propaganda e
censura (A propaganda política do Estado prolifera com o intuito de exaltar a
personalidade do líder, captar os cidadãos para a nova ideologia e controlá-los. Os
meios de comunicação são censurados e somente aquilo que era autorizado pelo
Estado podia ser transmitido. Desta maneira, a população deixa de ter contato com
novas ideias).

Autoritarismo: Diferente do regime anterior, o Autoritarismo configura-se na


figura do líder como ele próprio representando uma ideologia, pode haver a
existência de outras ideologias e suas reivindicações por demais grupos sociais,
porém, a ideologia que permanecerá no poder será a da figura do líder, além disso,
possui algumas características como: ausência de uma ideologia original, promoção
do terror, forte presença militar, domínio de um partido político e uso dos meios de
comunicação para propaganda política.

Autocracia Burguesa: A autocracia burguesa é um termo criado pelo


sociólogo Florestan Fernandes para explicar e criticar a estrutura social brasileira.

Segundo ele, o Estado brasileiro em seu desenvolvimento no capitalismo periférico,


desde o início do século XX, atua como uma falsa democracia. Apenas os
interesses da burguesia assumem o plano das decisões políticas. Assim, as
demandas da classe trabalhadora são descartadas e seus representantes
cooptados, ou seja, levados a agir em conformidade com os interesses da
burguesia. Desse modo, a burguesia concentra, em si, todo o poder político. Seus
interesses são defendidos em todas as esferas do poder (executivo, legislativo e
judiciário). Para Florestan Fernandes, caracterizaria a estrutura de um Estado
autocrático e impediria a realização de uma democracia efetiva.
Democracia

A Democracia passou por diversas mudanças desde o seu surgimento até


chegar à concepção que temos hoje em dia, a Democracia contemporânea
diferencia-se por exemplo das Democracias clássicas, como a que ocorria na
Grécia, que era bastante restrita, abrangendo apenas uma parcela da população
que atendesse a alguns critérios como renda, idade e etc.
A democracia pode ser conhecida como "poder do povo, pelo povo e para o
povo", e é um regime oposto aos regimes autocráticos e por isso, possui
características opostas a autocracia, são regimes que buscam garantir uma maior
liberdade para a população, como por exemplo, liberdade de imprensa,
pensamento, liberdade de culto, liberdade para manifestações e etc.
O povo, que são os governados, possui a possibilidade de participação no
governo, além de nos garantir direitos políticos e sociais. Além disso, há a existência
de vários partidos políticos e de ideologias, sem que apenas um deles seja
considerado oficial.
Apesar da Democracia representar uma excelente forma de governo, ela
deve esta em constante vigilância para que não haja perturbações na sua ordem,
uma das formas de manter esse balanço é por meio da alternância de poder, onde
os cargos políticos ocupados pelos indivíduos não são vitalícios, seguindo critérios
de eleição e reeleição limitados, com isso torna-se possível uma diversidade de
ideologias e de representantes no poder.
Para Aristóteles, falar em democracia diz respeito à soberania do povo,
porém, o povo não pode viver e fazer tudo que bem querem dentro desse regime
democrático, pois, a partir do momento em que o povo faz o que quer, como se
nada fosse impossível, a democracia se torna uma tirania, dessa forma, viver como
bem entender torna a democracia um individualismo, contrário ao que é o bem
comum que seria o propósito da Democracia. As leis são a liberdade, a salvação.
“A Democracia ilimitada, assim como a oligarquia, é uma tirania espalhada
por um grande número de pessoas”

Grosso modo, diziam que algumas pessoas nasceram para governar e outras
para serem governados. Esse tipo de justificativa para a desigualdade remonta pelo
menos a Aristóteles.

O filósofo grego defendia, por exemplo, que a escravidão é natural e legítima,


portanto. Sua defesa da escravidão se baseava na alegação de que algumas
pessoas nasceram por natureza para serem escravos. Essas pessoas não têm
capacidade de cuidar de si mesmas e precisam que outros as comandem. São
como crianças que não podem ser deixadas sem a supervisão e o cuidado de um
adulto. Para Aristóteles, há uma desigualdade natural entre homens livres e
escravos e isso justifica a escravidão.
Democracia para Rousseau

Rousseau discordava da afirmação de que há uma desigualdade natural


entre os homens. Para o autor, a desigualdade era criada pela sociedade que
posteriormente usava esse fato como justificativa para a desigualdade. A história se
passa mais ou menos assim. Um grupo de pessoas é escravizado. Através do uso
da violência, é obrigado a obedecer e não tem acesso a qualquer tipo de formação
ou educação. Depois de um tempo, seus senhores olham para essas pessoas,
observam que não fazem nada que não seja obedecer (como poderiam fazer?) e
concluem que elas nasceram para ocupar essa condição.

Para Rousseau, de tanto as pessoas serem obrigadas e ensinadas a


obedecer, acabam sabendo só obedecer. Mas se pudéssemos criar os homens
livres das convenções sociais, de todas essas vozes que dizem que uns são
superiores e outros inferiores, veríamos que são todos iguais, com mais ou menos
as mesmas capacidades, de modo que não é possível justificar a desigualdade.

Todos nascem livres, mas se encontram a ferros

Então, o ponto de partida de Rousseau é o fato de sermos todos livres e


iguais. Ou seja, ninguém é obrigado, por natureza, a obedecer a ninguém. Todos
são livres para fazerem o que desejam.

Porém, nota Rousseau no início do livro chamado Contrato Social, “o homem


nasceu livre, e em toda parte se encontra a ferros”. Aqui o autor está comparando
um direito natural de todos os seres humanos à dura realidade da Europa do século
XVIII, com seus governos absolutistas. Os homens se encontram a ferros, para
Rousseau, porque são obrigados a obedecer a um rei. Não gozam de sua liberdade
natural.

O grande objetivo de Rousseau foi pensar uma alternativa ao governo


absolutista que garantisse aos homens viver em sociedade, com um governo, e ao
mesmo tempo livres. Para o autor, uma condição indispensável para que o governo
seja legítimo é garantir a liberdade e a igualdade. Do contrário, o governo não é
legítimo e ninguém tem qualquer obrigação de obedecer às leis.

Porém conciliar igualdade e liberdade com um governo é um grande


problema. Por que se há governo, há alguém que manda e alguém que obedece.
Então essa pessoa que obedece não será livre. Ela tem que obedecer. Ao mesmo
tempo, se há governo, também há desigualdade, já que quem manda e quem
obedece são desiguais: um tem poder outro, não; um pode mandar, outro, não.
Então, como Rousseau resolve esse aparente paradoxo? Pois o governo
parece ser sinônimo de desigualdade e algum tipo de perda de liberdade.

A democracia como única forma de governo legítimo

Para Rousseau, a única maneira de conciliar liberdade e igualdade com um


governo é através da democracia. A razão para isso é a seguinte. Um governo em
que todas as pessoas governam há igualdade. Uma cabeça, um voto é uma fórmula
que expressa isso. Quer dizer, ao contrário de uma monarquia, em que apenas uma
pessoa governa e todas as demais devem obedecer, numa democracia todas as
pessoas governam, todas têm o mesmo poder político.

Vamos fazer uma comparação. Poder político é o poder de definir como uma
sociedade será governada. Por exemplo, o poder de decidir legalizar o aborto, por
exemplo, é poder político. Imagine agora que o poder político é um grande bolo.
Numa monarquia, apenas o Rei tem direito a esse bolo. Numa democracia, esse
bolo é dividido em partes iguais para todos os cidadãos.

Rousseau também pensava que numa democracia existe liberdade. Numa


monarquia já vimos que não. Um manda, outros obedecem. Numa democracia, pelo
contrário, mandamos em nós mesmos e por isso somos livres. Quando alguém nos
obriga a fazer algo, não estamos gozando de nossa liberdade. Mas quando
mandamos em nós mesmo, sim. Então, se participo da criação de uma lei que
obriga a todos os motoristas a não dirigirem alcoolizados, sou livre ao obedecer
essa lei, já que fui eu mesmo quem a criou. Por outro lado, se uma pessoa apenas
cria essa lei (um rei) e obriga todos a obedecerem, se trata de uma condição de
escravidão, já que estamos obedecendo não à nossa vontade, mas a vontade de
outra pessoa.

Democracia direta e representativa

Então, para Rousseau, a resposta para o problema de qual a forma de


governo adotar, o que é um governo legítimo, é: democracia.

Em uma primeira análise, poderíamos dizer então que nossa forma de


governo atual é legítima, já que vivemos numa democracia. Mas essa seria uma
conclusão precipitada.

Para entender a razão, vamos conhecer primeiro uma distinção importante e


bastante simples. Existem democracias diretas e democracias representativas. As
democracias representativas são as atuais. Como elas funcionam? Periodicamente,
toda a população escolhe para fazer parte do governo representantes que tomarão
as decisões políticas. Por outro lado, democracias diretas são aquelas em que o
próprio povo vota para decidir se aprova ou não uma lei.

Nos dois casos o povo como um todo tem direito a votar. A diferença reside
no fato de que numa democracia representativa, o voto é usado para escolher um
representante que terá total autonomia para decidir aprovar ou não uma lei. Já na
democracia direta, o voto é usado para decidir, sem intermediários, qual lei adotar.

A opinião de Rousseau em relação à democracia representativa era


categórica. Comentando sobre o governo Inglês, que na época era representativo,
afirma o seguinte:

“O povo Inglês pensa ser livre, mas está completamente iludido; apenas o é
durante a eleição dos membros do Parlamento; tão logo estejam estes eleitos, é de
novo escravo, não é nada.”

A única forma de governo compatível com a ideia de liberdade e igualdade,


portanto, é uma democracia na qual o povo tenha poder constante de decidir sobre
questões políticas.

Thomas Hobbes (Monarquia)

Para Hobbes, antes do homens viverem em sociedade, eles viveram em uma


situação (hipotética), denominada ‘estado de natureza’, em que o homem era
sozinho e apenas se preocupava em satisfazer suas necessidades e desejos, além
de defender seus direitos naturais, que são a vida e a liberdade. Afirma ainda que a
natureza humana é egoísta, ou seja, quer satisfazer seus desejos, mesmo que
aquilo que queira pertença a outro homem. É nessa situação em que
compreendemos a famosa frase “homini lupus homini” (o homem é o lobo do
homem), justamente por que, pelo fato de sermos egoístas e entrarmos em conflito
uns com os outros, somos uma ameaça constante uns aos outros. Dessa forma,
inevitavelmente, a guerra se torna geral. Todos são ameaças a todos o tempo todo.
A chamada "guerra de todos contra todos" (bellum omnia omnes).

Apesar de egoísta, o homem, movido pelo “medo da morte violenta” e pela


racionalidade (afinal o homem é racional, pensar), chega à conclusão que o bem
maior e mais importante, a vida, está em risco. E para defendê-la, só há um
caminho possível: abrir mão da liberdade total e fazer um pacto, um contrato, o
“Contrato social”, pelo qual os homens saem da vida solitária do ‘estado de
natureza’ e vão viver juntos, sob um poder soberano, no ‘estado civil’, ou seja, em
sociedade.

No entanto, a única forma deste contrato dar certo, ou seja, que os homens
respeitem o que prometeram uns aos outros e que preservem a sua vida, é se
houver um poder absoluto que os obrigue a respeitar o contrato. Lembre-se: o
homem é mau por natureza (egoísta) e viver em sociedade não significa que essa
natureza modificou. Se não houver um poder maior que, pelo medo, imponha o
cumprimento do pacto, o homem não respeitará o prometido. Justamente a partir
daqui é que podemos compreender a obra mais importante do filósofo, o "Leviatã".

Retirado na mitologia fenícia, o Leviatã, figura que também é relatada no


antigo testamento, no livro de Jó, é um monstro gigantesco, uma espécie de
crocodilo, que vivia em um lago e tinha como missão defender os peixes mais fracos
dos peixes mais fortes. Dessa mesma forma age o Estado hobbesiano: defende a
vida de todos, não permitindo que uns atentem contra a vida dos outros. Mas para
garantir o respeito ao pactuado, o Estado deve impor, pelo medo, tal obediência. Por
isso ele deve ser FORTE, CRUEL E VIOLENTO.

O poder do Estado Leviatã, a quem Hobbes chama de “deus mortal”, deveria


ser exercido por um rei com poderes absolutos que, pelo medo, governaria a vida
de todos. Seria o soberano e os homens os súditos. Estaria acima das leis, sem
limites para suas ações, desde que agisse no cumprimento de sua parte no
contrato: garantir a vida, a prosperidade e a paz. Os homens abdicam de sua
liberdade, pois sabem que, se não houver este poder soberano, a vida estaria
constantemente ameaçada, pois onde não há lei, não há limites.

A atualidade de Hobbes

A visão pessimista de Hobbes acerca da natureza do homem, pode ser


explicada pelo período vivido por ele, marcado por inúmeros conflitos na Inglaterra e
na Europa. Também, há de se levar em conta que toda a sua filosofia tem como
objetivo legitimar o absolutismo na Inglaterra.

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