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Opinião - Wilson Gomes: Não há paz sobre o que


fazer para regular mídias digitais
Gabriela Biló-7.fev.23/Folhapress
5-6 minutes

Pelo número de reportagens e colunas publicadas nas últimas semanas sobre o


assunto, a pergunta sobre se o Estado vai, deve ou pode fazer alguma coisa para
dar um jeito no vale-tudo da esfera pública política digital se tornou uma questão
central no país.

Como costuma acontecer em momentos em que a angústia da sociedade encontra


vontade de tomar providências por parte do governo, do Parlamento e, para
completar a trinca, do Judiciário, emergem várias abordagens para um problema
que, no fundo, é o mesmo.

Assim, há quem diga claramente que se trata de aprovar uma norma legal que
imponha obrigações às empresas de plataforma, entre elas a dita "obrigação de
cuidar" —que é uma forma carinhosa de dizer que quem pariu o Mateus das fake
news e da radicalização online que embale a sua cria.

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Há quem coloque o foco nos usos sociais que interesses políticos espúrios fazem
dos instrumentos e recursos tecnológicos da vida online (as tais "affordances") e
reivindique um tipo penal específico para fake news (desculpem, "desinformação"),
de modo a facilitar e a tornar juridicamente mais precisa a atuação de juízes e
promotores, nas eleições e além delas.

Recentemente, adotou-se uma abordagem em termos de proteção dos direitos


humanos (combate ao discurso de ódio) e, enfim, da ordem republicana contra o
vilipêndio dirigido a minorias ou contra a incitação e a glorificação do terrorismo, de
massacres escolares, de golpes de Estado.

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Quem olha esse negócio de fora vê principalmente uma grande confusão. Há um


sentimento predominante de que algo está ruim, e acho que até há uma maioria que
pensa que algo deveria ser feito. Mas a paz termina exatamente depois dessa
constatação.

Há divergências sérias em relação a basicamente tudo: o objeto (empresas de


plataformas, usos políticos ou comportamentos?), os meios (transparência dos
algoritmos, supervisão das plataformas, criminalização da desinformação e da
incitação à sedição), os diagnósticos (tudo culpa do monopólio das comunicações
digitais, do capitalismo eletrônico, da extrema direita, do "ódio do bem" da
esquerda, das pessoas que viram feras em ambientes online?) e até as
expectativas (constituição de espaços negociados, mas justos, em que se garanta o
direito de existir mesmo de discursos ofensivos e opiniões contra a corrente, como
requer a liberdade de expressão, ou a criação de um utópico "safe space", isento de
ódio, em que o lobo pastará com o cordeiro?).

Sem mencionar os que acham que nada deve ser feito, seja porque esse ímpeto de
limitar a liberdade de expressão acaba geralmente mal para a democracia, seja
porque não confiam na neutralidade ou na boa-fé de quem agora "está por cima" e
pode regular.

Por fim, há um desacordo em relação aos princípios que deveriam orientar as


iniciativas de regulação, pois, afinal, a liberdade de expressão é fundamental para a
democracia e identificar certas expressões odiosas que não estejam protegidas ou
cobertas pelo princípio da liberdade de expressão não é tarefa simples.

Numa sociedade em que pessoas confundem "discurso do ódio" e a fala preferida


com raiva e acham que só abnegados monges tibetanos "teriam moral" para
condenar o ódio que escorre nas redes digitais, talvez o tema exija sutilezas e
distinções demais. Do mesmo modo, em um país em que cada um dos lados das
trincheiras não acredita em "ódio reverso" (embora seja pródigo em brandir o
chicote no lombo dos adversários), uma vez que considera que o furor ético que lhe
serve de motivação goza de autorizações e imunidades morais, expedidas pela
própria tribo, toma-se por óbvio que só o que o outro lado diz é fascista,
preconceituoso, extremista e ofensivo e, portanto, é só dele que se trata quando se
fala de ódio e discurso.

Em suma, há uma afobação generalizada no governo, com grupos tropeçando uns


nos outros, há um Parlamento com a sua velha crença de que todos os problemas
sociais se resolvem com novas leis, e há uma sociedade civil, a organizada e a

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desorganizada, a que publica e a que comenta, que anda bem perdida nas várias
camadas de complicações e nuances envolvidas nessa conversa.

Fazer alguma coisa é preciso, mas é fato que não há paz sobre o que exatamente
deve ser feito.

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