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DIREITO CONSTITUCIONAL

Inês Espinhaço Gomes

T2 e T3 | 2022/2023
SEMANA 2| SUMÁRIO
• A Constituição como ordem material, aberta, não estática, não hierárquica,
pluralista e positiva.
• O poder constituinte originário: conceito, modos de exercício, titular,
procedimento constituinte, limites materiais ao poder constituinte

• Análise do texto “O Conceito Ocidental de Constituição”, Rogério Soares

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Constituição como ordem:

1. Aberta (“quadro normativo aberto”, mutações sociais, evolução)


2. Material (princípios e valores fundamentais, limites)
3. Não estática (princípio da revisibilidade constitucional e princípio da mutação de
sentido normativo)
4. Pluralista (ordem valorativa plural e complexa)
5. Não hierárquica (harmonização)
6. Positiva (texto como reflexo da realidade e cultura constitucionais)

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PODER CONSTITUINTE
ORIGINÁRIO

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1. O QUE É O PODER CONSTITUINTE?
O poder constituinte e os seus modos de revelação

Segundo o movimento constitucional oitocentista (séc. XVIII):

Poder de dotar o Estado de uma Constituição escrita

Poder de aprovar um texto tido como estatuto jurídico fundamental do Estado

Poder constituinte como exercício primário da soberania (relação com autoprimazia normativa)

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v John Locke
• Poder constituinte (povo è nova forma de governo)
¹
• Poder ordinário (legislador e executivo è criar e aplicar leis)

v Abade de Sieyès (teoria clássica)


“Uma Constituição supõe, antes de tudo, um poder constituinte” (Sieyès, 1789)
• Poder constituinte: poder de criar uma Constituição
1. Originário
2. Autónomo
3. Omnipotente
4. Inesgotável

- “poder reconstituinte” *1 (ex. Preâmbulo CRP 76 § 3 e § 4)


- “poder desconstituinte” *2 (ex. Preâmbulo CRP 76 § 1 e § 2)
¹
• Poderes constituídos: poderes criados e regulados pelo poder
constituinte e exercidos nos termos da Constituição 6
v Experiência do constitucionalismo inglês: revela a Constituição
confirma a existência de direitos naturais, reafirma a ordem social pré-existente (direito
consuetudinário e documentos escritos); desconfiança perante o poder criador constituinte

v Experiência do constitucionalismo norte-americano: diz a Constituição


filosofia garantística, soberania da Constituição e do Povo, “We the People”

v Experiência do constitucionalismo francês: cria a Constituição


uma nova ordem jurídica e sociopolítica*1, que rompe com antigo regime*2

v Constitucionalismo português (séc. XIX, Constituição de 1822) – remissão para experiência do


constitucionalismo francês

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2. QUEM É O TITULAR DO PODER CONSTITUINTE?

1) Nação – soberania nacional


¹
2) Povo – soberania popular
- Artigos 1.º, 2.º, 3.º, n.º 1 e 108.º CRP
- Como “grandeza pluralística” (Peter Häberle)
Pessoas que agem segundo interesses, ideias, crenças e valores plurais, convergentes ou
conflituantes

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ANÁLISE DO TEXTO: “O CONCEITO OCIDENTAL DE CONSTITUIÇÃO”, DE ROGÉRIO SOARES

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3. QUAL O PROCEDIMENTO CONSTITUINTE E FORMAS DE MANIFESTAÇÃO?

² Procedimento constituinte
• Atos procedimentais (iter) è manifestação concreta do poder constituinte
Exs: atos de discussão, de votação, de promulgação, de publicação

• Qualificação do procedimento constituinte depende da forma como o povo intervém na elaboração e


aprovação da Constituição:
1. Monárquico ou autocrático
2. Democrático direto
3. Democrático indireto ou representativo
4. Misto

² "momentos constitucionais extraordinários” (Gomes Canotilho)


Exs. revoluções, golpes de Estado, nascimento de novos Estados

² Decisões pré-constituintes
• Decisões políticas de criar uma nova Constituição
• Decisão de regular o procedimento constituinte: adoção de leis transitórias, definição do titular do
poder constituinte
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v Procedimento constituinte (originário)

1. Monárquico ou autocrático
• Poder constituinte pertence ao Monarca
Ex. Carta Constitucional de 1826

2. Democrático direto
1) Poder político vigente não eleito (gabinete, comissão) elabora
projeto constitucional
2) Povo aprova o texto constitucional através de referendo ou
plebiscito constituinte
Ex. Constituição de 1933

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3. Democrático indireto ou representativo
1) Povo (titular soberania) elege Assembleia Constituinte (órgão representativo)
2) Assembleia Constituinte (soberana) elabora + aprova Constituição
Ex. Constituição de 1822, de 1838, de 1911 e de 1976

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4. Misto
a) Assembleia constituinte não soberana
1) Povo (titular soberania) elege Assembleia Constituinte (órgão representativo)
2) Assembleia Constituinte (não soberana) elabora projeto
3) Povo aprova o texto constitucional (referendo ou plebiscito)

Ex. Constituição italiana de 1944

b) Convenções do povo (conventions of the people)


Ex. Constituição norte-americana de 1787
1) Assembleia Constituinte elabora projeto (delegados constituintes elaboram Convenção de
Filadélfia)
2) Povo aprova/ratifica através de convenções reunidas nos vários Estados
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As Constituições portuguesas Momento constitucional Procedimento
extraordinário/decisão pré-
constituinte
Constituição de 1822 Revolução liberal de 1820 Representativo/democrático indireto:
Cortes Gerais Extraordinárias e
Constituintes da Nação Portuguesa
Carta Constitucional de 1826 Revolta de Vilafrancada, 1823 Monárquico/autocrático (“Carta”)

Constituição de 1838 Revolução setembrista, 1836 Representativo/democrático indireto:


Cortes Constituintes
Constituição de 1911 Proclamação da República, 1910 Representativo/democrático indireto:
Assembleia Nacional Constituinte
Constituição de 1933 Golpe militar de 1926/ditadura Democrático direto plebiscitário
militar (projeto constitucional por Oliveira
Salazar/Conselho Político Nacional)
Constituição de 1976 Revolução de 25 de Abril de Representativo/democrático indireto:
1974/golpe militar MFA Assembleia Constituinte

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4. EXISTEM LIMITES JURÍDICOS E POLÍTICOS AO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE?

• Sieyès: poder omnipotente (ilimitado)

• Castanheira Neves: “Absoluto é o Direito e não o poder, ainda que seja o poder constituinte”

ê
Reconhecem-se limites materiais do poder constituinte (originário)

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Limites materiais do poder constituinte (originário)

1. Limites horizontais (de facto, políticos, naturais) è realidade constitucional (Vieira de Andrade)

(Jorge Miranda)
a. Limites imanentes è realidade política, social e cultural (situação existencial) da comunidade
b. Limites heterónomos è condicionalismos externos (comunidade internacional e europeia)

2. Limites verticais (jurídicos) è cultura constitucional


a) Limites superiores: valores transcendentes, supraconstitucionais, ideia de Direito, princípios
jurídicos fundamentais, consciência jurídica geral
- Relação com “normas constitucionais inconstitucionais”
b) Limites inferiores: princípio da essencialidade/autocontenção
- Relação com normas formalmente constitucionais

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Vieira de Andrade Jorge Miranda
1. Limites horizontais 1. Limites imanentes
• realidade constitucional • realidade política, social e cultural

2. Limites heterónomos
• condicionalismos externos

2. Limites verticais
a) Superiores
• valores fundamentais
a) Inferiores
• princípio da essencialidade

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PARA A PRÓXIMA AULA PRESENCIAL

ANÁLISE DO TEXTO: “MUDE-SE A CONSTITUIÇÃO – I E II”, CATARINA SANTOS BOTELHO

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