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DIR5106 - História do Direito

Curso de Graduação em Direito

Direito e autoritarismos no século XX


PROF. DIEGO NUNES
Questões preliminares
• Fontes do direito – ambivalência: pluralidade, mas legislação como ato de força do Estado
• Disciplinamento estatal das profissões jurídicas: advocacia, magistratura...
• Denúncia da igualdade formal: sexismo, racismo, colonialismo
• Anulação do indivíduo frente aos grupos e ao Estado: sindicatos “estatais” e família “base”
• Tecnicismo: instrumentalização do direito à política
«Sintesi Fascista», Alessandro Bruschetti (1935)
Questões preliminares
• Autoritarismos
• Itália (fascismo):
• manutenção da legalidade formal;
• codificações - tecnicismo;
• corporativismo - nem individualismo liberal, nem coletivismo comunista
• Portugal (salazarismo), Espanha (franquismo), etc.
• Totalitarismos
• URSS (stalinismo) & Alemanha (nazismo)
Constitucionalismo
e ditaduras
PAIXÃO, CRISTIANO. DIREITO, POLÍTICA, AUTORITARISMO E
DEMOCRACIA NO BRASIL: DA REVOLUÇÃO DE 30 À PROMULGAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. ARAUCARIA: REVISTA
IBEROAMERICANA DE FILOSOFÍA, POLÍTICA Y HUMANIDADES, AÑO 13, Nº 26.
SEGUNDO SEMESTRE DE 2011, PP. 155 - 165
Direito, política, autoritarismo e democracia no Brasil
• Estado Novo e Ditadura [Civil-]Militar
• complexidade das transformações
• capacidade de manutenção no regime novo de componentes da ordem anterior
• impossibilidade de explicações monocausais
• Problema constitucional nos regimes autoritários brasileiros
• modificações no regime político ensejam processos de elaboração constitucional
• vigência do direito depende da compreensão dessas transformações constitucionais
• relação específica entre direito e política nos regimes estudados
• dinâmica variável dos regimes
Direito, política,
autoritarismo e democracia no Brasil

• Moderniza o autorit ria: da Revolu o de


30 ao Estado Novo (1937-1945)
• Estado de exceção: suspensão
condicional da constituição
• Democracia não era associada à
liberdade ou à igualdade
• Democracia = governo forte + Estado
profissionalizado + burocracia técnica
(Francisco Campos)
• “governo democrático” + modernização
autoritária = “democracia autoritária”
(Azevedo Amaral)





O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, ATENDENDO às
legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por
conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente a gravação dos dissídios
partidários, que, uma, notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes,
e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural,
resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta iminência da guerra civil;
ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna
dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente;
ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de
preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo;
Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras
justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da rapidez
com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e políticas;
Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao
povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua
segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que
se cumprirá desde hoje em todo o Pais

CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, DE 10 DE NOVEMBRO DE 1937 (preâmbulo)


Direito, política,
autoritarismo e democracia no Brasil

• Ditadura militar (1964-1985) e seus


desdobramentos: rumo democracia e a
um novo constitucionalismo
• “constituição material”: Atos
Institucionais (AI-1, AI-2 e AI-5) como
“anticonstituição” (U. Guimarães)
• Exceção permanente (presente e
futura): impossibilidade de controle
judicial
• “legalidade autoritária” (A. Ferreira):
“necessidade” de emanar normas
jurídicas - DL 911/1969

A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição
popular ou pela revolução.[…] O presente Ato institucional só poderia ser editado pela revolução
vitoriosa, representada pelos Comandos em Chefe das três Armas que respondem, no
momento, pela realização dos objetivos revolucionários, cuja frustração estão decididas a
impedir. Os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo, que
deliberadamente se dispunha a bolchevizar o País. Destituído pela revolução, só a esta cabe ditar
as normas e os processos de constituição do novo governo e atribuir-lhe os poderes ou os
instrumentos jurídicos que lhe assegurem o exercício do Poder no exclusivo interesse do Pais.
Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter
a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do
Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a
ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão
comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas
dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha
investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as
reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional. Fica, assim, bem
claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso. Este é que recebe deste
Ato Institucional, resultante do exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as revoluções, a
sua legitimação.
ATO INSTITUCIONAL (Nº 1) Rio de Janeiro-GB, 9 de abril de 1964 (preâmbulo)
Direito penal e
segurança nacional
DAL RI JR., ARNO. O CONCEITO DE SEGURANÇA NACIONAL NA DOUTRINA
JURÍDICA BRASILEIRA: USOS E REPRESENTAÇÕES DO ESTADO NOVO À
DITADURA MILITAR (1935-1985). REVISTA DIREITOS FUNDAMENTAIS &
DEMOCRACIA (UNIBRASIL), V. 14, P. 525-543, 2013
O conceito de Segurança Nacional na doutrina jurídica
brasileira

• A nova doutrina da segurança nacional


• Leis de Segurança Nacional
• Tradição anterior: 1935, 1938, 1942, 1953
• Ditadura: 1967, 1969, 1978, 1983
• “ideologia” da “segurança nacional" (NWC - ESG)
• Militarização - Jurisdição militar a civis
• Lei de Anistia, CF/88 e ADPF 153 (STF) - compromisso político X efetiva reconciliação
Art. 22. Não será tolerada a propaganda de guerra ou de processos violentes
para subverter a ordem politica ou social (Const., art. 113, n. 9).
§ 1º A ordem política, a que se refere este artigo, é a que resulta da
independencia, soberania e integridade territorial da União, bem como da
organização e actividade dos poderes politicos, estabelecidas na
Constituição da Republica, nas dos Estados e nas leis organicas respectivas.
§ 2º A ordem social é a estabelecida pela Constituição e pelas leis
relativamente aos direitos e garantias individuaes e sua protecção civil e
penal; ao regimen jurídico da propriedade, da família e do trabalho; á
organização e funccionamento dos serviços publicos e de utilidade geral; aos
direitos e deveres das pessoas de direito publico para com os individuos e
reciprocamente.

Lei nº 38, de 4 de Abril de 1935. Define crimes contra a ordem política e social.
Art. 1º Tôda pessoa natural ou jurídica é responsável pela segurança nacional, nos limites
definidos em lei.
Art. 2º A segurança nacional é a garantia da consecução dos objetivos nacionais contra
antagonismos, tanto internos como externos.
Art. 3º A segurança nacional compreende, essencialmente, medidas destinadas à
preservação da segurança externa e interna, inclusive a prevenção e repressão da guerra
psicológica adversa e da guerra revolucionária ou subversiva.
§ 1º A segurança interna, integrada na segurança nacional, diz respeito às ameaças ou
pressões antagônicas, de qualquer origem, forma ou natureza, que se manifestem ou
produzam efeito no âmbito interno do país.
§ 2º A guerra psicológica adversa é o emprêgo da propaganda, da contrapropaganda e de
ações nos campos político, econômico, psicossocial e militar, com a finalidade de influenciar
ou provocar opiniões, emoções, atitudes e comportamentos de grupos estrangeiros,
inimigos, neutros ou amigos, contra a consecução dos objetivos nacionais.
§ 3º A guerra revolucionária é o conflito interno, geralmente inspirado em uma ideologia ou
auxiliado do exterior, que visa à conquista subversiva do poder pelo contrôle progressivo da
Nação.
Decreto-Lei nº 314, de 13 de Março de 1967. Define os crimes contra a segurança nacional, a
ordem política e social e dá outras providências.
Crimes políticos no
Estado Democrático
de Direito
NUNES, DIEGO. AS INICIATIVAS DE REFORMA À LEI DE SEGURANÇA
NACIONAL NA CONSOLIDAÇÃO DA ATUAL DEMOCRACIA BRASILEIRA: DA
INÉRCIA LEGISLATIVA NA DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
À ASCENSÃO DO TERRORISMO. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS CRIMINAIS,
SÃO PAULO, V. 22, N. 107, MAR./ABR. 2014, P. 265-305.
As iniciativas de reforma à Lei de Segurança Nacional na
consolidação da atual democracia brasileira
• Contexto hist rico-penal e aspectos metodol gicos
• Entre a "reserva de c digo" e lei especial: os regimes jur dicos da legalidade penal na reforma da LSN
durante a redemocratiza o brasileira
• Da fuga da l gica securit ria prote o do Estado Democr tico de Direito
• Da doutrina de seguran a nacional ao terrorismo global (acerca do Anteprojeto de C digo Penal de 2012)
• Lei Antiterrorismo (Copa, Olimpíadas e Anteprojeto CP/2012)
• Aspectos gerais (tratados internacionais; movimentos sociais)
• Conflito aparente de normas (art. 20, LSN x art. 3º, LAT)
• Casuística (Operação Hashtag)
• Aspectos político-criminais (flexibilidade das categorias dogmáticas)














Lei de Segurança Nacional de 1983
& transição
• “compromisso”: LSN de 1983
• Permanências:
• justiça militar
• referências ao CPM
• CRFB/1988:
• justiça federal e STF (RC)
• fim da incomunicabilidade
Tentativas de reforma
& Lei Antiterrorismo
• Parecer n.º 3/1984 (análise da LSN/1983)
• Anteprojeto de “Lei de defesa do Estado
Democrático” (1985-86)
• Projeto de Lei n.º 4873/1990, revoga a LSN e
incorpora o título “Crimes contra o Estado
Democrático de Direito e a humanidade” no
Código Penal
• Projeto de Lei n.º 2.462/1991, idêntico ao
anterior, mas em lei especial
• Projeto de Lei n.º 6.764/2002, insere o
título“crimes contra o Estado democrático de
direito” ao Código Penal
• Anteprojeto de novo Código Penal (2012),
disposições esparsas (crimes contra a paz
pública - “terrorismo”, crimes cibernéticos,
estrangeiros, direitos humanos e crimes de
guerra)
Lei de Segurança Nacional pós CF/88:
casuística
• greves da Polícia Militar na Bahia e dos
bombeiros no Rio de Janeiro em 2012
(Cabo Daciolo)
• movimento “O Sul é meu País”
• ocupações do MST no Rio Grande do Sul
(2000)
• ataques do PCC em São Paulo (2006)
• manifestações contra os gastos da
Copa do Mundo em Minas Gerais (2013)
• Posse de granada em Uberlândia (2017)
Lei de Segurança Nacional hoje:
casuística
• Polarização política
• Eleições de 2018
• Governo Bolsonaro: crises e reações
• Inquéritos do STF
• Consequências no parlamento
Cargos políticos
& direito penal
• Crime político ou crime comum
• Fim especial de agir (art. 1º e 2º, LSN)
• Incitação ou apologia (art. 286 & 287, CP)
• Excludente - doutrinas
• Presidente: Crime comum, de
responsabilidade ou ambos? (art. 86, CF/88)
• Deputados: imunidade(art. 53, CF/88)
Cargos políticos
& direito penal
• Daniel Silveira (ex-PSL/RJ) é preso pelo Inq. STF
sobre manifestações antidemocráticas
• ADPFs no STF - recepção da LSN/83 pela CF/88
• 797 (3/3/21) - PTB: não recepção completa
(liberdade de expressão);
• 799 (4/3/21) - PSB: harmonização de alguns dos
dispositivos da lei com a constituição (núcleo
mínimo de proteção ao estado democrático de
direito);
• 815 (24/3/21) - PSDB: não recepção completa (prazo
para o Legislativo votar uma nova lei);
• 816 (25/3/21) - PSOL, PT & PCdoB: não recepção de
partes específicas da lei; e
• 821 (4/4/21) Cidadania: não recepção completa da lei,
subsidiariamente não recepção de partes
específicas da lei e interpretação conforme aos
crimes contra a honra no CPB/1940.
Substituição da lei de segurança nacional

Projetos de lei - crimes contra o Estado Democrático de Direito


2.462/1991 (de Hélio Bicudo): lei especial
6.764/2002 (do Executivo): Título XII do CP
Substitutivo global/2021 (de Margarete Coelho)
Regime de urgência
Crimes contra o
estado
democrático de
direito no código
penal
LEI 14.197 (1º/9/21)
TÍTULO XII DO CP/40
EM VIGOR DESDE DE 02/12/21
Perspectivas para o Futuro
Crimes contra o estado democrático de direito

• Vetos: justificativas plausíveis?


• Técnica legislativa
• Finalismo X T.I.O.
• Competência - “crime político”:
• Justiça Federal (& STF) ou Justiça
Eleitoral
• Inquéritos no STF: o que fica?
• Extradição: Crimes políticos são os da
Lei 14.197/21?
•NUNES, Diego. A aplicação da lei de segurança nacional às manifestações antidemocracia. JOTA,
04/05/2020.
•NUNES, Diego. NUNES, Diego. O que fazer com a Lei de Segurança Nacional? JOTA, 03/08/2020.
•NUNES, Diego; OLIVEIRA, Claudio Ladeira de. Em defesa da liberdade de expressão, a Lei de
Segurança Nacional pode ser aplicada. JusCatarina, 03/08/2020.
•NUNES, Diego. Mais uma vez, a Lei de Segurança Nacional. ConJur, 09/03/2021.
•NUNES, Diego; FALAVIGNO, Chiavelli. A reforma da LSN: um debate dogmático ou de política
legislativa? ConJur, 23/04/2021.
•NUNES, Diego. Crimes políticos: competência para o julgamento dos delitos da Lei 14.197/2021.
ConJur, 08/09/2021.
•NUNES, Diego. O m da Lei de Segurança Nacional? JusCatarina, 13/09/2021.

Links úteis - textos


fi
•NUNES, Diego. Manifestações antidemocracia e lei de segurança nacional. PET Direito UFU, 28/05/2020.
•NUNES, Diego. NUNES, Diego. “Intervenção Militar” & G.L.O. Uniaraxá, 28/05/2020.
•NUNES, Diego. Prisão do deputado Daniel Silveira, STF e Lei de Segurança Nacional. Polemos UFU, 29/02/2021.
•NUNES, Diego; REIS, Luciana Silva. A DELIMITAÇÃO DA LEI DE SEGURANÇA NACIONAL PELA
CONSTITUIÇÃO DE 1988. Diretório Acadêmico XXI de Abril & PET Direito UFU, 18/03/2021.
•NUNES, Diego. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. TV Universitária de Uberlândia, 22/03/2021.
•NUNES, Diego; WUNDERLICH, Alexandre. Lei de Segurança Nacional. AACRIMESC, 14/04/2021.
•NUNES, Diego; MARINELLA, Fernanda. As modi cações na lei de segurança nacional. Conselho Nacional do
Ministério Público CNMP, 13/09/2021.
•NUNES, Diego. A revogação da Lei de Segurança Nacional e os novos crimes contra o Estado Democrático de
Direito. IMDH - Instituto Memória e Direitos Humanos, 02/12/2021.
•NUNES, Diego. Crimes contra o Estado Democrático: passado, presente e futuro. Diretório Acadêmico XXI de
Abril, 03/02/2022.

Links úteis - vídeos


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