Você está na página 1de 168
“Por que razao os regimes autoritarios se dao 20 trabalho de lancay mao de manobras legais, alteragdes das leis, procedimentos formais comple- x08 e demorados ¢ de levar 05 oponentes aos tribunais? Se chegaram ga poder através da forga, por que no continuam a exerce-o,tinica e exclusi- vamente, por meie da forga, desistindo de fingir una legelidade inexistente? ‘Uma ver que a maioria deles no 0 faz, tentando, em vez disso, judicializar sua repressiio, por que alguns regimes alcangany essa judicializagao de forma mais ampla ¢ efetiva que outros? F. também, por que alguns so mais radi- cals que outros na maneita de lidar com a legalidade anterior? (..) que dif renga as varices da legalidade estoritaria exercem sobre a extensio & a intensidade da repressio?"” Ditadura ¢ repressao investiga o enizma da legalidade autoritéria a0 analisar 95 aspectos legais das ditaduras militares no Brasil (1964-1985), no Chile (1973-1990) e na Argentina (1976-1983), | 0 PERT) eoestad Por meio de estude de processos politicos overrides em tribunals, Anthony OO Us| Pevetn demonstra de que mancira os regimes autovetror do Cone Sul con. , seguiram tomar 9 caminho para a ditadura sem abandonar completamente ue) 20 Ba O o-sistema legal, explicando, assim, como se constrain sss dissimulagao, com sauaior ou menor siicesso, ‘aia Ditadura e repressao © AUTORITARISMG E Q ESTADO DE DIREITO NO BRASIL, NO CKILE ENA ARGENTINA BU Anthony W. Pereira traducaode Patrtia de Queiroz Carvalho Zimlares Ian psy ony ah, ke AONE Bi te farting PAZ ETERRA Sumario Preficio dedigdo brasleva— Paula SéugiaFiniro sta de ilstragies Silas Agyadecimentos da ator Introdugi Capitulo. Represszo,legaidad eyepimesaoritnios Capitulo 2: egaidate ds seguranga nacional ao Brasil 2 no Come Sal fem perpectva comparative (Capitulo: evolugto de legaldade da segecansa nacional no Bras, ena Cane Su Capitulo 4:0 julgamentos por cxiraespolticos no Bees a masutengie dewssa teadigae coaservadora Capitulo Legalidade de"tempos de guerre adaptacto tedicel no Chile Capitulo 6: Antilegaliame na Argentina Capitulo 7: Os sdvosades de dfesa nos ribumais niltaresbrasieios: 8 cedafinigto de iberdade de expresso, subversio, Capitulo 8; A justia transiciamal ea heranca da egolidade autetnia Capitulo 9: cspada ea toge as relagbes ence 0 militares ‘o judicidro em regimes autontrios e demacestiens Capitulo se: © enigma da egaidade aotornia Aplindice I Nota sobre fontes¢dados Apéndice I: Ererevstas Obras citadas Indice remissivo 2s a a im Ww 3 wr = 7 oo ws 2 gso 2 $C001889746 1 205, Unset of Pasha Pee Tease do cpl en ls Pel Unni aerial he ule Le lin hed Aen ‘a ick de Quer Cabo Zab 6AM MOD tan 0 igi ssa Mindat acquis 209) ors rn dems Dordt vw Tieclvte, Fj pane depen Pog Eos ee Para meus lsc, Belae Bevan ~ Copa tbinm Soe vice ae Tengen de cope Syl Bee abommalshiersk Jute para que p mundo de voces reste. SSAA = sei as jase weet, DARED xeecane 8 CIP-BRAST, CATALOGAGAD-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL 18H EDITORES DE LIVRDS 8) esi Anthony Diidaraerepureio onary ¢+ etd de dita no Brae no Chile oa Argentine | Anthony Wi Pcehas tudagto Pcie de Qavear Carmike Zimbre ~ Sa Pub: Pee Tes 206 isp. ‘radogn de: Pole Gusti authored the ale wi Bra, Cie eget Tochitiogsfa ISON 974-087755.(20.2 |. italo Ge eto seal 2 aunesitariony «ae, 8 Baad de rts = Chie Autti = Chie 5. Bada de vie Arjentny, 6 Aurrerane Argan. ? Diadere Teale 19.08 cpp sae dra Pata Lh, un ean 7? Sta gens, to Bul, SP — CD Wa 011) ssr-a390 a ends pecoer com be Bere page wmer psn ne Innes ao Brass ited Bri Prefacio a edicao brasileira Paulo Sérgio Pinheire © EHICHA 0A LEGALIDADE DO AUTORITARISKO Umm dos enigmnas nao resolvidos pela historiografia politica dos regi- ‘mes militares no chemnado Come Sul, sil, Argentina e Chile, 6 aquele de ‘se explicar 0s lagos entee o autoritarismo e o estado de dieite, Num pri- iro momento, as ditaduras militares implantadas com sucesso nos pases pPareceram novas formas tropieais do fascisimo om a simples retorno 20s regimes personalistas na regio, apesar des contetides ideoligicos difeeen- ads de Juan Domingos Pecan e de Getilia Vargas. © curiose no case brasileira & que a definigia do tipo de cegime ja hhavia side de slgum mogo solucionsda por Karl Loewenstein! bem antes de Tuan Line caracterizar 0 regime franquista na Pspanha como “autorti- Flo” eta 1964 (categoria que ele vai aplicar mais tarde 20 Brasil." consti= ‘ucionalist alemio, que visitara 9 Brasil durante 9 Estado Nove a convite do governo Vargas, oferece uma das melhores andlises do funcionamento de sistema judicéal do rogime, indicande que {oo tosaeate 0 Bras é ums dadura plenemente conselidedas 9 etedo Se dieivo que yoweens a sociedade politics nfo foi submerido i populacao, ‘as imposto de cima pelo governo. Se ha nna contrapartide do teem “de oertico’ regime deve ser cham de“atoritcio" Mas nfo &toiaacio snem “semitoraltécio" ~ houver algo que saja 2 metade de total...) “Autoritrio” se refore forma de govern, 20 ipo e tfenica do pode de defi- nie polticse Usa das carzeceristicas dessa nova ond de regimes autoritisins nos 18s paises foi a sobrevivéncis de farcionamento das instituig6es jutid ‘cs estat anteriores dentro do quads normativo ditatorial Aloda que Categoria do fascismo nfo desse conts da netureza das ditaduras militares 10s try paises, importa evar em con que os regimes navistae fascista na ‘Alemanha ¢ na Ilia preservaram a fancionamento do sistema judiciirio dentro da nova erdiem, a Piadinae veprecto [Nesie caso, como maito ber demonstra Anthony Fereira, no caso bra- silezo esti configuracao mois acabada desse hibridisma, © golpe de Fstae ddo de 1984, como seus congéneres argentino e chileno, tomadas as devidas proporsoes, preocapod-se, como na caso naaista, coma “aguisigao pseudor legal do poder’ aqui esucessio presidencial seguéu a Constituigae odhtae dor foi “eeito” pelo Congresso Nacional, a8 eleiydes jamais foram suspen 25, justiga eleitoral fancionoo de forma autOnome, ¢ 0 Congresso esteve em funcionamentn a maior parte do periode ditatoriel. Fsse modelo de “aquisigéo legal do poder” nunca se esea; totalmente. Fm 2008, 0 gulpe de Estado militar contra o presidem'e eleito de Honduras tentou igualmen- te segair 0 mesmo figurine. feite um grande esforgo “para demonstrar como, sem uma gusbra formal da Constimicio, & possivel tomar 0 carni- nnho para s ditedura’® Todas as ditaiuras dq Cone Sul esforgaram-se por construe esa cissimulago, com maior (Brasil} ou menor (Argentina, Chile} ‘utro ponto de contato do auloritarisme com os fscismas fi a fun- cionamenta dos tribonais ragulares do sistema de ustiga que comtarara core «a disposico dos juizes de aplicar alegistogdo ditatorie. Mas seria equivo- ado, como cocreiamente indica Anthony Poreira, crer que as diferentes caperidacias de “legalidade auoritiria® tenbam sido experiéncias a! he, adaptacbes improvisadas a extraoréindeias ¢ noves circunstincias. Nao es- panta que ao caso brasileira poutcos juizes tenham side cassados © que a ‘aioria continuasse na fungi depais do fal da ditadara ‘Antes do golpe de 1964, o que pode ser considerado, segundo Perciza, «como a “matrie” da colabora¢to civl-militar na apticagao da legislagao de excegao € 2 criagdo, de maneica articulada com 0 sistema judicial civ, ert 1937, do Tribunal de Seguranca Nasional, qu, segundo reconhese Lozwen- stein (1942) 4..] tomade na sua intivza# leglago em ques fund, constitu un deple- rival desvio da tadigio do estedc de diteito ||. Os duetes do acusado sto pesadamente reduzides. Una pessoa acusada ela propria tom de provar ino ‘ente de culpa o que & pesticulaenente odiaso se lembestmes que denuincias annimas ¢ sltérios paliciis sem proves poder levar a candenagios Nao espanta que ne Brasil, apis o final da diteduea, aide como ocar- 220 no Estado Novo, sendo os membros desse tribunal de excegio integra Prefécio dos a0 fudictirie, poucos juizes ou promotores tenhamn sido demitidos € ccontinuassem exercendo as mesinas funges, o mesma aeorrendo depois de 1985, Nos euros dois paises examinados houve dilerencss de geau ¢ da na: tuteza da “legalidade antoritaria’, acompanhados de diferentes formas de institucioneliar a repressio politica, ada regime exercendo de mancica diferenciada a aplicagao das leis de excegao. No Chile, onde havia um bom funclonamento do sistema judicial, 0 cansenso sobre a forma de funcionemento do sistema Judiciério entre as elites civise militares nao existiu. No a2so argentino, ae contrérie do Bra- si), que manteve intocada a estrutura da justiga civil e militar (que sempre cxistia aqui ne Repiiblica em paralelo& justia civil, mes apenas pata cri- ses militares), foi clada ume Corte Penal nacional de modo a der uma aparéncia de legalidade @ repressto, Ccntudo, em ver de legalicé-la, expds ainda mais a avbitrariadade da repressio militar, tendo tide existencia mera, tendo of militares resolvido abandonar essa sinmulagzo Tegalista. No Chile, a itnposicio do regime militar ao sistema Jodiciasio foi bem mais radical de que no Brasil, mss menas radical em relagio 3 Argentina, que, A pattie de certo momento da conselidagao da ditadura, abandanon pot completo a tentativa de normalizar a repsesedo por meto do sistema juridi- co existent Exidentemente 0s diferenses madalas nao foram timplantados de ime diato apés o golpe de Estado, mas gradvalmente, A grande ullidade deste Jivva € 4 revelagao precisa do funcionamente do fudicidrio nas varies feses de implementesao do regime antoritécio nos trés pafes. obra demonstca ceabaliuente que 0 funcionamento de fudicstio civil «do sistema militar de just Forma)", come diz Anthony Peveira,“ee vonerto entre as aites militares & civis na aplicagio da lepislagao de seguranica nacional importa” ~ observa- ‘glo cruclal nfo apenas para entender » funcionamento da éitadure. © estado do consenso jucicial-rrifitar antes, durante © depois da di a varidvel-chave no fancionamento do poder de Estado. "O grau tadura miitex na ova transigao € consolidagio, permaite-mos ter uma nova visio da queatio de legalidade dos diferentes regimes, Esse consense {oxtra varidvel que Pereira usa) mio 6e zompe de modo magico na transigao €s0- Drovive nas fases posteriores entre o¢ dois grupos na ditadura militar. Pe- rita demonstra ae: 22 Phadurn erepresoe (Onde as corres militares foram parte da jusige civil, com a paticipagto de Iizes e prorastoriacvis, como no Bradt [ap conto do Chile, elites mi Ttatesecivis sao compels, atsves de soa partcipagio com ness sie tems hibrido, e comstrvite mentee ums cempreensio crurada entre as dss suru do sgnifcado da construed episode de eporangn nacional Este exemplar estado vai muito olém de uma sigorosa reconsttuigse bistérica, pois, por intermédio do funcionemnento da “legalidade autorité- "a" podemos entender melhor ¢ estado de discito ta trensicao paca a de- ‘moctacia e em seu processo de consolidacae. Como ocorzew nos fascsmos anteriores, em nenhum pats hous uma depuragio complete dos quadros do sistema Judicidrio, gute contiouaram a servir a0 consliucionalisma de ‘moccatica tao bem cone haviam servida as ditacuras militares, Wo se tra- '3 apenas de nio expurgo dos qvadeas que serviram fielmente o autorita- 10, has de verificar a imtegeagto do sistem Judicidrio na “legalidade ‘tovitdria’, de entender coma esta legelidade nan ceiva com @ mudanca do Fegiune militar para o civil ¢, depeis, pare o eonstitucional-democeatico Durante algom tempo achei que essa fraqucza da implementacio de lama nova legalidade democrética poderia ser eatzcterizada come um "nao estado de diceito” mas hoje creio que essa eategocia tem um largo peso de idealiragio do modslo demecriticoliberat, uma vez que én: nenbur pais je gstada de dircito estd plenasmemte zealizado. A firanula também tena ‘isco de negar qualquer valor dos sistemas de diveita reairaente existentes no Cone Sul e de nfo levar em cama @ que de fato foi reformade em con- fronto com 2 “legalidade aucoritiia’?™ Assim, apés ler Anthony Peseira, fica claro que s “egalidade demo. éeiice” nto seesvai com a transisto democratic, mas sobrevive, apesar da ‘Constituiedo, da nova legidlagio, ca caducidade de grande pate da normar sividade autoritavia. A forraulagio meis adequads seris apontar que a nova lcgatidade democritica (para nao se falar de nove estado de dieita} nao sa pera por completo a legalidade anterior. Aqui, come na Alemanha,"mesin0 {ve teahamos nes acostumnada com 9 funcionamente de uma democracta fandada na lel, esia nao estéitmare a recaida em aftees aptoritaries, que tomam a forma de intolerincia era relagdo a grupos marginals, estangei- 706 ecaiticas radicals As décados1ps-implan‘agae da democracia nos #8 Pree a paises do Cone Sul sto marcadas por ‘recaidas" nas quais as parents do de« vido processo inesistem para a maiotia da populagdo, em pexticular para os afre-latines, os indigenas 28 meninas as ctiangas, os adolescectes,! LGBT, De certo mado parece que ficamos ofuscados pela suspense dos ase ecios mais evidentes da lepalidade autoritiria {como a legislacio de se- ‘guranga nacional e a competéncia militar para o exame de crimes civis) € | Iudicidrio ¢ os militares, nto imporia a varidvel que esse medica tenta ex- | iar ~ a esteatégia legal adotade plo regime alter Dif mas no ins | posivel Neste livres dois indizadores pars avalerograu de cansedso€ | megragdo ene 0 ofclato das Eras arma eas ees llc. Pe | metd, a organzagie do satems de justica militar unc vaisve!-chave. 0 jgrau de conexaa formal entre as lites militares ejdeitria xa aplicasio das eis de seguranga nacional é pitas, os casos em gat os tibunais | milates so part do sistema Jd ico cil econtam com a pattcpagto de jtzesepromotores evi, camo ocotreu no Brest, as elites militares ¢ jndciris so compelidas, por sta participa comum nesse mesi peo- sia bibrido, a constiuire mtante am entendimentointerorganizacioual sobre signtiado conctto ea abizsildade dali de sepucanga nacionat | Quando os ribunaie militares de prisieisainstincia sto totalmente separa- | dosdajustiga civil, como oeorne na Chile 0 mars tém mais aclidade |em recorier& prépia vis de jatga polltca amo base para seus aos, | sem levar ecm conta as ideias dos julzes # advogados civis. Essa varidvel pode oer discern na aquiteura forrest do stem de justiga mill, mas sua Jimportncia vi aldo da arguitetara ens eta as atitudes, as dspost- 825 ¢9 entendimento mituo ene a lites militares ejucicra. Jf.9 conseato é de mensurasio mais dificil. O consenso se refer ao aca de acoxde exisente entre os grupos poderosos no tocante sieias fandamentais sobre a seguzanca nacional r sue aplicasio, Para avati-o, ‘examine as opinidies tanto de especialistas em sistema jurtdico quanto de ofciis mitazes sobre alegelidac da segucanct nacional os processos por crimes politicos € 0 tratamento dado pelo regime a seus opositores. Essas ‘opinives podem ser encontradas cm jornais, memories estudes académi- 0s sentencas judicias e vevstas especialzadss ers assuntos militares, ers cles, ¢ uma forge moderadora que are espace para a defesa das garantia constitucionais. Nos regimes 2ut0- ritérios, 20 contréri, o encesso de coniito entze os militares eo Jadiciario rode incitar 05 militares 8 adocio de repressio extrajudicial. Nesse contex to, aintegracio e o consenso entte esses dois grupos de poder permitem a dosio de um sistema limitado por regras no qual algumas das garantias fsicas concedidas aos prisioneiros politicos podem sex preservadas. A di- intima da. justiga politica, portanto, pode diferir muito, dependendo da natareza do regime politico. Colocadode outa forma legalidade autori= tia deve ser estadada dentzo do contexto politica mais amplo go qual cla parte Nous 1, Os noses dos eéue dos casos discutidor neste lives form atersdos, excata quando indicado, por tratar-se de pessras corhecids, cuas istris sa0 de dominio pica, Os advogaos de defesa si ctados pelos nomes reals, Todas as wadugbes de teins do espanhol edo portuguts, teat no que se refee a Fontes ecundarias guano» documentos primris, sia do pedrio autor salvo se indieade em emia 2 4s Ditadereerepreste Seie outtos us desse caso ressberaws sentensa que variaram de cinco a 25 ono, Todos os acusados civeram os dretor politicos cassados pot dez anos inchive 0 de votur ea de eancorcera cargo eletiv, size indayasouteas cites do do argu Tas, Nunca Mats 38098 (esses 2505 agai em dante, ser39zsencionadoscocas esas MM).O whmeto BNO 4# wax caso mio £0 mesmo mimeo ueado pelos wibuasis lates de prigelta insténcia © pelos tibunats de epelagso, No caso de Clveta Brandt, o nies do caso era 43/71 a Segunde Aucitoria da Segunda Clconseria0 da astiga Militar de Sav Paulos mimero 39.085 ne STM [Superior Tribunal Militar, 9 tribune de recursns da justiga milizay,Jocalizado em Brasilia: € miisero 119) no STF (Supreme Tribunal Federal} 20 gual 98 casos juldosu justi tar seam levedos par recurso de iti istinca, também loeaieado ers Besa, “Teegramma da Westera Union etvindo de Pais Franca, dado de 7 de jn de 2871, protestando coners © tamento dada « Oliveta Brandt, assinade por professores da Ecole Pratique des lays Eudes edirgidvan de, Nelson de Sion Machedo Guimaraes, avenida Bigndeire Lois Amténio, 1249, Sto Pauto. En ‘tral ne transrigdo do cate BNM 98, Dols outros réusforém semiencados a sets anos e és anos, sespectivarcote, or, supostamente,terem susilisdo inceativade Bolafos¢ Petes, Bate €sen norne eal O caso consta das cegictos publicos e # mencionade em Andersen (1993, p 252) Entrevista do autor com opi de Movica, Bi Mignone (advogado e finds or do Centro de Rstucios Legos y Sociales), Baenos Aices, 19 de justo de 1987.4 hisidriads Monies & contada tember rm Mignone (1985, p. 1) e Nine (896, p55). Ao usar o term "gues suja eve ao carder extrajudicial wo minimno puriatmente clandestine eextrenainente vole da epeeso, Noo enlossoa opinige de alguns ofciis milliamse de seus paridirion ce que cases operagtes sproximavim-se de uma goecra-onvendianal#tamspouco acetao arguments 3 que as apes da exquetdlaattoada justicavam o extraoedindto sbandone os limites imposing pela ei aa 30 8 fga, Mandacos de habeas corpus so ordens emisids pes tris 4 aucoridaces presidirias detecmiaacdo que 0: presos deveo se trazidos 203 tribunals pars uo juizes possom determina ea prisso fa epl es eles deverm ou i ser Ubertados. 0 tetano latino signiice “voc® tena a corpo” (lack, 1979, 9. 638) A probcao da impetragia de habeas corpus oi uma das caracersias que or smaram {Go repessiv0s os regimesmilitaresbrasino ¢ dos paises slo Cane Sul sta distingbes entre modos de repressio politica nes us repimes to #20 alysoltas. Desaparacimentos, xs-usies suri Juigament9s econtetam nox ues regimes. Os regimes, além dito, fequemtementeignaravem 38 pedprins Jes, No entanto, proporgio do usa decaca uma des formes de teprenae te ‘avs de modo considerivel entre les, e wile o dads ceponiveseanny base ara minha clsiicagi, n. 1 18. 2». a presto tsolida crepes entorivirios 39 ‘Um eacaexeegso ¢Loper (1984, p. 70, Brooker (2000), Apeser dessa ola, 9 Lveo & win tentative dt de clssicas os regimes autoriedeos do século XX. Devevte notar que, nesta pasogcm, Mechheliner rele se a julgumesica por stitoes politicos sob um regime voustitaconal Sua general na parece se ss, Centar em alguns, mas, provavelmente, no em toes os eglnesattortarios, O autor de term ¢ Guillermo O'Donrll {1973},cujo trabalho srsinal € Moder triscion and Bureaueretic Aushor avian: Seuss in South Ameviean Pac, ‘ina das mancirasconvencionas de analisara politica dos diferentes regimes & near-los unicamente, ema terms daiteragdu ete 08 membros mis peor ‘inemtes da ete politica Ness perspectiva os tribunzs eae jlgomentos pot ‘rimes paliticns nto zevelam nada de esenctalsobre es reyimes Neste abut, fotreinto, fai ifluenciado por terices que aiemamn que as relays entce go ‘wernantes¢ goremnados so constantemente nepociadas erenepociadas ern cada ends, os ibunaissendo um, eles. Agumnas ubrasimporiantes que igpiram ‘0s pesquisadores que adotars esa visio si Gramsci (1921), Tharepaoa (1966) Seon 11985) ‘We por exemple, Giorgio Agamben, "Pert exceptlon": Le Mende, 12 de de- erro de 2000, Neste particular, o presente tizo complements a perspective oferecda por Lo- ‘vem (1999), cua Iveo uaz valiosas intepretacee de como a8 consti Dspauc-americanas conferiam poder extraardindrios aos peesdentes, to. ‘quanto eponto pars peemantacin de we coccnte de radgbes ives pela menos no Bra. ‘Charles Ragin (1984, pp. 48045) afema que utn objets Legitim das clencias politics, até da tarefaessencial dr exphcac os fndmenos ancine€ oe va" a pestoas ea gevpos que, de atte mod, nao seriamn entenes Para una interessante ansise do papel des juuesantiscravocrvtas na manu. ‘eagao das leis esravngistas nos Hetades Unides da epoca anesios 4 Guetta Gil wee Cover (1975), opinlso de Corer sobre esses jnies pacers facies te ser aplicads as promotures¢ julzs des julgamentos por cries politicos brasileira © chilenos: qualquer que fos sua opinigo pessoal. eles, em ula dniliseservitam zo sistema judicial epresivn Racine o onsite de comparagt estrataradaeenfocuda de George (1878, 5 bp 81-68), Davidfitn (2002, pp. 630-483, 587-09 aiemacque me nareuve ‘urimente informa # win dos tes grandes métodos dacitneie politica con ‘emporinea, a0 lado du estatistia «da modelogem farsa Dee est distngao entce gape oensivare defendivnse Deake (1995, pp 31-33} ‘in gop defensivw corre ances des ombliagau de masta, nceada pelo go- ‘ernante no poder ter atingido pioporcécs amplas, e tem come ubjativu eter 2 erescimento desss mobilizajae ainda hepiente, Um golpe ofesine € menos tongervodor, no sentido de que renta reweeter as reformes do eegzne deposo ceamaaara mobilizicio de massa cei atinoim grandes nennrtenes 50 Prexduvae epee 20, alguns autores contestam sea visio afirmando que esquend arma |& hava ‘edo em grande parte aniqullade 3 gpoce da golpe argentine de 1896. Yer, por exemplo, Anderee (1095), 23. Um entso exemple, da posto aul defend, # que os Tupamares uroguaos ‘ram wen ds mavimentos armagos de maior forga na América Labia da dca dade 1970,mia. goveane urugynia nunca recor ¢ ues guerra suja de gran de cicala, commg Ft © ovemo argentino, 24, Um grupo de pretpin € um cenjunto de pessoas gue tém erm cornu ma _petensée efetiva & estima social ~além de, talvez, monopolios de status ~ cous base em enti de vid, educagioou farmagio # tadiches. Ver Heber (1978, pr. 305-307) 25, Brora conconle com Gerardo Murick que» consenso entre as clits em eral cra mai: uo Chile queno Beas arguruents gue, ax exeraespetica da egal de autoritiria eda coopera enireo judiciio e a forces seta, 0 con seoss era maioe no Bras (ver Munck, 19%, pp 156-84, ep p.172). 26, A Vieara de Js Solidaridad chilena publicws urn detalhade estudo em qustio volun sabte ot juigamentas por crimes paliteas ducante o regime militar Premier vw rite Duro normale laments emeessama ae fuente erp est sie 0 Orpeianges — dearmaereeiae proferimente da sontenga pelo tribunal de recussos militar. 5 r€us, a ve 22s (ouas nem sempre], podiam pesmarecer em liberdade durante esse pe- iodo. O processo judicial assegusava que, dos que haviam cumpria tern ‘pode pristo,a maioria acabasse por receber sentencas claramente definidas. Amaloria desses prisioneitas foi lthertaxia seis anas antes do fim do regime rita e, em 1985, todos haviam sito seltos. Se accitarmos que a razio en- tre 0s levaciosajulgamiento em tribunal e os martes pelo Exada sevela algo sobre a estrategia udicial empregada por um regime, a epresso, no regi- me militar brasileito, parece tax sido mais judicializada que a de ceus vi- inhos da Argentina, do Chile ¢,ate mesmo, do Uruguai. Coro mostra 2 ‘Tabels 2.1, ess razdo, no Brasil, fi de £3 para 1. No Chile, por vutra lado, sla chegou porto da paridsele, com 1,5 para 1; enquanto na Argentina, apo- ngs uma pessos foi Jevaca a julgamento paca cada urea das 71 pessoas mar- tas por métodos exirajudicias? [No Chile, @ historia da repressia eda legalidade autoritsria € bem di- forente da brasileiro. A repressdo chilena, desencadeada pelo golpe de 1973 liderada pelo Bxército, foi muita mais macica ¢ intensa que a do Brasil, A junta declarou estado de sitio em todo o pals, que fol dividide em zonas sliretamente controladss pelos comandzntes militares, can 0 Bxército asu- 60 Diladwa erga ‘indo 0 controle da mor pace do terrtério, Os militares wsavarn pes- soas suspeias de apoio a0 gorerno Allende een particela, membros dos pactidos socialista e communist Essa primeira fase da zepzessio foi pouco eoordenada e ndo stetiva, xs comandantes militares de cada regia ti sham um alto grau de autonamia, Santiago foo fce principal, mas, nos primeicos meses aps o golpe, ocorreram mertes « desaperecimenids por todo/0 pals, violBncia ltl centinuou bastante alt até 1974, Em 1975, como demonstra Peblo Poticzer, a represido praticada pelo regime se tornou rouito tas sletive entraligada (Poiczes, 2001) cria- 0 da Disecciéa Nacional deTntligencia (Dina), unis poicia politics & servigo de intclgencia, controkida de made diceto pelo presidente Pino- chet, trou a repeessio cotidiana das mos das mice. A Dina também se ‘evolves nos firnusos assascinatos de eriticas do regime anitar que zes- rocessas por crimes politicos. Os srs casos representam um espectto indo de um alto gran de judieiaisma € sgradhuelismo {com respeito a legaidade antes vigente) até um geau de p- ‘ura muito radical com 2 legalidade do pesfodo anteriosse de repressio quae se que totalmente extrajudicial? Explicagbes para a vatiacao da legalidade autoritéria Como poderios expicar essa varigae? Da mesma forma que Lich- back eZuckerman, podemosidentificardhoréagens estruturalistas, recions- Listas e colturais a0 protlema (1997), Um grancle corpo de obras explice os padres de repressio politica em termos da economia, da esteutura de cak- sese da posigao ocupada na economia irternacional pelos diferentes pats. ses argumentos, essencialmente estronuzlistas, postulam oma afinidade «letiva entre determi natas formas de economia politica eo uso de forca por parte dos governos {ver Ozlak, 19815 O'Donnell, 198% Moore, 1966, Rus= chemeyer, Huber Stephens e Stephens, 1992] Tor exemelo, Cardoso ¢ Fac lerto (1879), assim como muitos outros autores dessa mesma epoca (por ‘exemplo, Hutch, 1986}, viam ur encaie precise entre a acumalagio do ‘capitalism dependente€os regimes pol tis autoritirios. Bm algumas va soes dessa perspectiva repressao de clesse interns &reflexo de um sistema capitalist internacional no qual a violencia praticada pelos Estados clien- ‘es facitita a exploragao global pelas empresas transnacionais¢ pelos Est dloshegemonicos (ver Wolgin, 1986; Cr com, 1983; Cardoso c Faetto, 197% Petras, 1997), ssa perspectiva sugere que n aomerto da abrangéncia eda intensidade da repressao politica deva ser atribuido,em especial As caractersticas obje sivas da economia politica. Por exeinple as crises da acumulasae capitals- ta, que induzem os dirigentes palticos a adotarinicativas Ge veestratura «fo radical, inevitavelraente, acaba po: evar a vioKéncia de Estado voltada contra os movimentos trabalhista que se intespOemn no eaminko dessa zee ‘raturacdo, As formes repressivas mais pesadas tendem a ocorzer em so 64 Disadurae mpresio ‘iedades agririas, que dependem fortemente de mao de obra barata ¢ con- trolada, e onde « repressaa politica ¢ altamente Buscivmal, wna veo que ela redhz os custos da mao de obrapara os proprietitios de terres assegurando pslucros deste altimos. de esperss, portato, que a zepressao politica en ‘pregada na América Central seia pior que 3 das sociedades mais industeia- ladas, couno as do Come Sul da América Latina. A repressto politica, por- ‘tanto, ¢ explicada cm particularatravésdlas exigeneciasecondimicascolacadas pelos peaprietirios dos meiesde produgio. A repressie politica é essen cialmente, opressio de clase, Essa perspectiva levanta pontos vilides, Bla, ne entanto, evita teorizar dle forma exptcitasobrea form jucidica tomada pela tepresséo. O que im- porta & coalizio de classes ¢ estados, formada de cada ta dos laos da isto criada pela repressio. Nesse tipo de andlise, a institaigbes potiticas «© judicidrias que forrsulam, regulamentam e leghinara a repressfo estatal ‘costumaen ser vistas como epifendmenos, ce importinicia menor que os in- teressos materiais que representam a forga motrie do processo, No entanto, éimpossivel confinar tados os casos de repressfo politica 2 uma abordagem de economia politica, Exshora algumas insténcias de re ressdo politica sejam Glaramente miotivadas par preacupagses com conf ‘ns de classe eorgunizacto da praducao, outrascisées sociais,coino religito, etnia, raga e nacionalistao, podem taenbémn ocxpar 0 primeiro plane." As instituigoes e praticas poiticas nie s4o apenas a reflexo de forges materais subjacentes, tendo uma légica e ums autonomia proprias que dever ser recanhecidas, ‘A pecspectiva da escolha recional, por outeo lado, localiza a fonte des estratégias judicias aplicadas elo regime nas agles estratégicas movidas fem interesse proprio pelos prctagonistas internos ¢ externos a0 regime, A existéncis ou ndo de julgameatas representaria, portasto, um equilibria estabelecidio vom o fim de atender aos interesses astzatégicos de curio prazo os dirigentes do regime, que podem sez de canguistar aquiescéncia a sex poder, subjugar as f2egdes rvais nternas a0 regime ou alcargaralgum outeo objetivo." As difeventes mancinss de encarara apcaa de levar o¢ oponentes 40 tribunal podem ser explicacas cm termos da variagio dos obstécules enirentados pelo regime, tais como intensidade da oposicio ou grau de ‘oesio interna, ¢ das respostasrscionai a esses obstculos ssa perspectiva tem muito « recomendi-la, Como aponta Bacbara (Geeldes, em conflitos polticos de alto risco, onde a derzota poderia resultar A laglidade du seguranga nacional no Brae wo Cone Sul & cm morte pata os perdedones, 0 empergo de acbesextatégiems & mais pro vivel do que em simzagies em que 0s FAcos sie menores.& de fite passivel ntiicar mutos expos de ago exteaégica de nivel individual nos ca- 405 agi analisados. No entanto, Geddes observa também que embora x teoria da escolba racial muitas vezescousigaesclarecer a eacionalidade «dos meios empregados pelos pactcipanes para atingr soos fins ela & bern menos capae de explicar& razao pela qual os ateres patiram da escalha esvesobjetivas expeciicas.” £ © que é ainda mis importante,» teovia da cacolba racional etn geral parte do pressupesta de que as instinuigbes 20 reios relativamente efiientes pata a solugto de problemas espectfcas — «que una espécie de “rao invsivel”produ2 os equillosivs que solucionarn os grandes problemas politicos dos alores dominant, sé queesses probio. amas passem por tcansformacSes, pueriinde que sas instituicoes sam criadas para ater dle.” No entanto, pode acantecer de decisdes paseadas, mesmo se tomas indéentalmente, acabarem por prender os regimes x esquernas institucio- ‘nnis ducedousos, que continuam esn ¥ gor mesma apés.o desaparecimento des citcunstancias que as tornaram atraentes aos protegonistas (Pietson, 2000, p. 264}. Os resultados, portanto, nem sempre si eficientes,e ado é ‘cil teforrmular a instituigbes, mesrme qeando elas impoem limites sos i teresses dos protagonistas. Como observa « antropéloya Virginie Domin. _gucz (1986, pp. 8-8) a0 explicar esses resultados sociais, ¢ importante le varem conta nioapenas as ercalhae feitas pelos individuos, mas, causes, ‘a constrngao das categorise e as institulgoes que estruturam exsas escolbas, Além disso, 0s individuos, de modo geral,nio sin os atoresisolados e ato zalsticos postulados por boa parte da Gerla da escolha racianale, sim, pes sous inseridas em redes de contatos e em organizaySes que influenciamn suas escothas (Til 1998, pp. 16-25, 34). Meu argumenta é de que os lideres dos regimes argentino, brasileira e chilene tentaram usar as insttuigbes para fins extratégicos, embora nge tenhamn sido capazes de refeeinali-las ds for 'ma que mais hes couviesse. As condicties hesdadas por eada um desses ru POS ~ organizagSes, pracedimentos, sentalidads e quadmos ~ erain dile- antes etiveram influéncia importante sabre as estratépias empregadas por seus dirigentes, em especial apés os golpes militates, quando smpottantes ecisbes politicastiveram que ser tomadas, A undlise de equillbrio, que par ‘edo pressuposto de que essas escolhias foram fetes com base ern condigbes prévias mais ou menos semeliantes, nio capta essa caractersticavital~ os 66 Pradurne repress carninhos historicas distintos—dos casos qui anatisados. Come disse Dow glass North, “no viveros num mundo ergédivo” eds were preisamas é ferramentas ndo ergSicas para entend#-lo.* ‘Uma abordagem diferente seria negax qualquer tipo de racionalidade aniversalisa 20s stores e propos 2m seu logar, a existéncia de cultorasjurt- dicas e poltticas dstintas em caca pats. Da mesma forma que a teotia da escolha racional esse esquema seembasa em pressupostos plausieis, neste caso sobre as naneiras coma padvoes stints desigificado sto formados nos sistemas polticos, € como esses padedes influenciam a natuzeza dos conilitos entre os diferentes grupos. Essa ahorslagem enfoca s colervidade, « no os individuos, A cultuza, como elemento constitutive de todas as re lag6es socicis,infuencia a mancira como os cinas tocados entre 0s dife- rentes atores sio interpretados ¢ tomados como base para 8 asf, sendo, portinto, de importincia fundamental para a compresnsio da exiagfo in tersubjetiva dos acordas ¢ dos resultados politica. No entanto, a explicacto dos tds casos aqui discutidas,arabordagens pporamente cullaraisesbarram contra evidencias confitantes¢ mites ve- es tbigues sobre as culturas potas da Argentina, do Brasil edo Chive Alem disso, tcbalhos histéricos ecentes-vém guestionaeido nogées antiges sobee as diferengas cultura entre os pases, tis como “os brasileitos ten ema nao usar de violencia por rardes politics’ restaltando a necessidade de usacmaos de eautele 20 comparsr culuras diferentes * Alvin dg ties expbora a cultura pasa ser estodada como um far namic e passvel de ser desagregado ema niveisinfeioees a0 do Bstado-na- se (como “caltucas empresarais” ou cultures regionais, por exempla}, cla, suits veres se converte nume generaizagao estitica se usada pata explicar 4s tendénciast conciliagSo, violencia ou a algum cutzo tipo de comporta- zento, demonstradas por macionalidades espectices. 2 razodvel condliz, portanto, que unsa predispotieio cultural profunda de wma nagie é, camo varidvel, ampla demais para explicar a variagio verficada nos resultados aqui esindados. A explicagdo oferecida neste livre, ao contrérin, em coma objetivo uum teoria situada entre a alta generalidade das teorias dos detecminantes secondmicos da repressio © das dLferengas entre as culturas nacionais, por ‘um Lado ¢, por outsa, as explicagzes metodologicaunente individualistas da teorie da escalba racional Essa teoria pretende fazer nso das molhores percepsies de cada uma dessas atordagens e, a0 mesmo tempo, escapar de ‘A legate da seguanya noc i Bribe na Cone Set 67 suas limitagoes, Conelul-se assim querem todas a8 caraetenstcas da 1e- pressio praticada pelos regimes autoritrios podem ser atribusdas & econo smia polities que as excolhas fetes pelos governantesdessstegiies muitas ‘eres forain racionas,emborafossem também resteingidsse inden ciadas por esqnemnas eacordes intitucionas prévios © que, embors a coltura sje importante, ela nio pode ser captada por simples generaiioagbes sobre as difereneas nacionas. Para chegara ess conelustes, este estada baseousse em dofs impor tanies corpos de iteratura.O primeieo trate das institaienes e de sew desen volvimenio, a redescoberta, na cigncia politica, de que “as istitaigdes so importantes" 0 segundo tata dos “rods de transigao” sendo ealeado no entendimento de que forma come 2s regimes entram ent celapsoeaer- ce influéncia sobre a qualidade co regime sucessor (ver, por exeraplo, Lina Stepan, 1996). Esse vorpo de literatura centra-se nas instinsiedes ow na “matriz instilacional” da repressao povitica praticada por cada regime, A smatriz institucional consiste nas “regrasdo jogo” ot na "imitayées Focrna- Indas pelos homens que dao forma A interogdo humans” entre o regime © seus opositores (North, 1999, p. 3), Bla zonsiste de regras foxmais (dispesi- {vos constitucionais, sto institucionai: ¢decretos executivos, leis de sez tanga nacional, cdigos de procedimentos interns ao ssterna de jstiga mii Litarregulamentagio penal) ¢ de Timitesinformais (atitudes preduminantes sobre segurange nacional etratamenta dado aos prsioncivos politicos; per- cepcao da ameaga colocade pelos “subyersivos"; elas hegemanicas sobre © papel ds le na sociedad e sabre os limites carcatos da discordancia eda ‘oposigao civil ao reginne militar). Estes ultimos inchuens aspectos da cultura politica e juridica mais umpla na qual arepressio teve lugar Segnnde o historiador de economia Douglass North (1950, p. 4), “uma ppacteesscncial do funcionamensto das instituigbes st0 08 custos das investi- gages das transgressOes ¢ da ceveridade das panigies” Um bom lugar pasa tmalsara natureza das inetitaigSes repressivay sob os regimes rllitares, par- tanta, io 05 tribunals, onde os eidadcs acusades de transgredie as sogras ppoliticas eramn provesiados e muitas veves punidos, Bate Hivio, por essa ra= fo, centra-se principalmente nos tribunas e, em particutas, nm tribunals inilitaes onde ocatteu a maioria des processos por criines politicos, ado tanda um arcabougo tebrico que fiz use das percepgdes do institucionalis- ‘mo historico." Essa abordagem tem a pecullaridade de encarars sequencia- imenio especifice dos acontecimentos on das processor come delerminante 88 Diasturs epee ins sesulados divergentes® Mais especifieaments, o lero exarine simila ridades econtrastes entre paseso longo do tempo e engea-se no “restea siento de processes” (path depentency) com telagao a determinads es- ‘quem intitucionas ulizadospor um pa’ ae longo de tempo (Caller ¢ Calis, 1993, p.5) Alf dessa percepcio cent, 0 insitucionulismo histoico, tal come splicado aos casos tratados neste live, bareit-te em quatro outras afi sagées. Em primer lugar os resltadas sao contingents: visio dees So Possiveis num determinado momento, ¢€ pauco peavavel que wm rest tado Gnico sea inevitavel ou necesséro, (Nese particular institucions limo historico compartlha com individusliomo metodotagico a preo eupasto de evita argementos fncionslistas.) Coma relagdo a0s cas08 ag discutidos signiice que ndo era necessri cinevitivel que apenas o regime ‘nilitar argentino, e nae seus comsspendentes no Brasil e no Chil, se ian s#sse a uina politica de desapatecimentas em massa, Embora 0 pasado segenting tenba tdo forte infu cia sobre essa incutt30‘e tervor macigoe schitedio, também os governantes do Brasile da Chile poderiam ter opta- do por politicas dessa arden, nio fesse pela adogao e manutengdo de es ‘quemmas alternativs. (© alguns desaparecimentos de fato ocotterem, exsho- yaem menor scala que na Acgectina,) Em segunde Luger, grandes consequéncias podem advie de aconteci= seats zelativamente desinportantes on contingents e, ern receio lugat, jurdico basico, os governantcs eutori= trios tém que decidir se levatéo eu nao seus oposiores a julgamento. Al- {guns analistesafirmann que a naturezae a frequéncia dos pracessos por ‘crimes politicos variam de acordo.com o tipo de regime, Kittie, por exci plo, contrasta tees maclelos de tratamento dado aos ritninosos politicos: 0 ‘olalitéio,oautoritario e o demeeritico, © primeizo é 9 mais severamente pPunitivo cele, a definigao de ceine politica é expandida para incur, até resin, expressoes brandas fe opinido costritia ao regime. Ae democre «is, pelo contravio, sio caracterizadas por ume legislagto liberal que em etal protege a lberdade de expreisio,excluinde apenas crimes como, por exemplo, ameacar antoridades piblicas distingue entre atos opesicionis tas passiveis de punigao e manifesagdes diseordantes permissive. Os regi mes autoritirios situam-se entze esses dois polos, eombinondo uma brutal suptessdo da discordncis com epitdios esporsdices de iberalidede no tra tuneuty de disidentes€ opositores (Rite, 2000, pp. 301-17) Essa tipologia, entcetanto, van tantas perguntas quanto comsegue responder, nie serido capsz de explicar a variscio veriicsls no Spo de xe- gine tratado neste estudo, mbar, sem divi alguma,o tipa de veyione nos ajude a perceber contrastes amplos entre os padres de jastica politica adotados, essa classificagio, por sis6,¢insbficiente para explicar a natune- 24 0 timing dos processos por cranes politiens.& possvel identifica vias tabes plausiveis para o use de processos por crimes politicos en vegimes autovitiios. A primeira e mais Sbvia delas é a de elevar o prego da opo sicto, intimidando-a,tachandlo-a de crieminosa, cnvlvendo-s ena hatalsas legais oneroses e prolongadas.e impedindo-a de desempenhar un papel po. Iitico eftivo, Os julgamentos sia mecanismos engenhosos usados pata al- cana esses objetivo uma ver qur, ao aewsar de crimes poltios determis ‘nades individuos, individualizam conflitoscoletivos, transformando assiin as grandes quesines de moralidade politica em caso aparentsmente objet A feglidade da orguranga nacional no Brasle ng Cone Sal 74 vvos de eulpa 01 inocéacia, Nos processos por crimes politicos, 0 1odo de fato pode ser maior que o soma das pees, ume ver que esses julgementos podem servir para demonstrar de fora grtante o prece da oposigto e da Gissidéncia politica a pessoas quc, em cutras crcuastincias, talvezse seis. sem tentads a se ongajar numa oposigio miltante ae regime. Os jelzamen: tos, portanto, poder desempenbar um papel importante na desmobikza ‘40 dos movimentes sociais oposicionistas. Por outeo lado, um regime que Langa mao de processos por erimes politicos aisc-se a criar mavtzes © a inadvertidamente, galvanizar essa mesma opasicio. (Una segunde razao para o usa de processos por eximes politcns é 0 ddesojo dos dinigentes do regime de usa: os tibumeis para jstifica a repres- so praticada por eles econuista legitimidade ov, pela menos, aquiescén- cia passiva a sea poder. Os tribunais so investidas ce uma forte earge si bolice que pade emprestar una ar de ravidade e ponderaclo até mesmo 3s acusagies mais forjadas ¢ aos procedinentos mais gritantemente injustos, “Flex podem con‘ereleitimidade interaa e internacional. Internarsewts, pow ‘dem reassequrar, aos cidadios no corsprometidos com uma posigS0 p. tica, que 0 regime ndo esté reprimninds sous opositores de forma axbiteéria mas 20 contrério, petmitinde que triaunais independents sigam 0s pro» re-oposicfo, Nas palavras de Kichheimer (1961, p. 422), 08 julgamentos “elevar a imagem (do inisnigo poltco] da esfera dos acontecimeos pi ‘Yadose das constragSespartidvis a um esfera fil compecenteegua- se neutra” Os julgementos cri taanbém ams histriaofcial de culpa € inovéncia, que pode edquitie un. a de vercidade inguestiondvel, quan do divulgads e repetida em meio 10 piblico, Hles podem se tornar parte de um aiemdria historica que refarga a acetasse impensada do dosinio coercido pelo regime.” Em quarto lugar os processas por crimes politicos podem set reagoes 09 confitosetivalidedeinternos 20 regime, padendo ser adotados para controlar econter as Forgas represiva ou camo concessoes eta as fades internas que dessjam investr de forma maie agiessva conta os adversi- ios io xegime.Taivez os exemplos mais Famosos da uso de algamentis em condos internos ao regime tenon sido os jalgammentosexpeticula da era stainista,zealizdos entre 1936 ¢ 1938, nos quai a totalidade dos integuan- tes do Politburo de Lenin, que ainda se encomtravain em tervtozio russ, foram presos, aeusndos de walgae ¢sabotagem, e exccutedos (Lane, 1985, ver também Sida, 1964, p. 201). A supesigzo de que os jalgementos por crimes politica sejam sempre a ragdo proporcional ¢racional de um ator nitro — 0 cegime~ contra seus inimigos nem sempre é corel, portanto, Como sponta Stanley (1996, p, 12) em sea estudo sobre violencia palitica 2 represso estatal muitasvezes €enormemente desproporsional inten sidade da opasigfo, eos Estados, mites wees mais provocdmn do que supri ema oposigio através de atos de coer indiscriminada, Alem disso, o Estados nem sempre sie stores urstéros, contend em seu Bojo unidades ‘Alagotidade da seguranga nacivel i Bias] eno Cone Sab 33 Dboroeriticas que persegoem objetivos diversns e, muitas vezes, competem entte sie contradizem~se tmas as outrss, Na opinido de Stanley, “os Exte~ dos podem operar ‘redes de proteyo manipulando a aparéncia da apoti- «2p em massa, ou até mesmo gerando ess oporicio par meio de inflexibix Jidade © brotalidade, com o fun de go-antir a permaséncia das concessses politicas eecandmicas eitaspelas elites sociais™" Fs indica pode fune cionar nos julgamentos polfcos, que podem estar ascocindes tanto aos embates entre facgBes intermas 3 nm mesmo regime quanto a lota entre 0 regime seus inienigos, Por fim, 08 processos por crimes politicgs podem servir para esabil- der a repressdo praticada pelo regime, so foruecer um conjunto de vegeas, relativamente previsiveis, para egulamentar 4 panies de comportienen- tos discordantes ou dissidentes, Isso aque John Cavey chama de “pergemi- ‘pho'"—as regras formais¢ esritas das leis de segranga nacional, os proce- dimentos judiciais dos tribunais millazes coisas deste genera — poder {geverexpectativas muituas entre os ators politicos que, entio,estabilizeea€ fortalecem as instituigses envolvidas ra repressio politics. Os julgaentos podem servis também como mecanisnes de moniteramento, fornecendo ‘40s governantes informagGes sobre as atividades da oposigao e das forgas de seguranga (MeCubbins e Weingast, 1584), Nesse xentido, os processas por «times politicos, da pento de vista dos dirigentes dos regimes antoritivios, prsler servie para factor 2 normaliaasio de instinaigtes repecsives novas ce reorganizadas,¢ tanibém pars estabiiaar o damninio politico do regime Em sumia, 0s processos por crimes politicos sfo restadores para os go- vernantes autoritiris, por terem a cepacidade de desmobilizar 08 movi- ments populares de oposigao, de angariar legilimidade pare o regime a2 cortvence setores importantes do pilblico de que as opanentes sfotratadas com justiga, de criar imagens politica positivas pura o regime e negativas para a oposiyo, de auxiliar ua facgio de regime a genhar ascendéacia sobre as dernais, e de estabiliaar a repiessio, ap fornecer nao apenas infor ‘mages como, tambéra, um conjonta de regras previsiveis, em torno do qual as expectativas tanto dos oposileres quanto das eutoridades podem seeglutines, (Qs provesses por crimes polticespadem variac também, dependenda dese yoltarem contra partdasios de wn regime anteriot, opusitoresatuais, integrantes do aparato estalal que estelam send visadas ob opasicionistas 24 Ditaduraereprosco da sociedade em geral. Varlam também dependendo de serem realizados sm tribunas militares (com ou sem participacio civil), em tribunais espe de ur Fstado” foi empregada para des- crever o papel politico descmpenhado pelos militares chilenes durante esse perfodo, termo esse que seria mex.os aproprisdo se aplicado as fozgas atma- das brasieiras. Em segundo Luger, essa coesio e essa rigider "prassianss” podem ser pescebidas na maneiracomo o Exércitolidava com a “desordern” interna, que tendia a ser sltarmente repressiva¢ ivre de contrale civil. Por exemplo, no séeule XIX, a guerra contra os araucanianos (mapuches), A anlage de lgalidade da gurenga aaconal 95 rio sal do pais, foi ua gucers de extermsnio (Sater ¢ Herwig, 1999, p. 20. Bema Corts emt 1925, soldacos metralhersse trabalhadoreserpa ra- nifestagao de pretest, destruindo suas cases com artilhasia de campo © atando ene siscentas ¢ oftcentas pssoas inclusive prisioneltos cpu- zados eferidas2® A terecia ilerenga com zelasao a0 Brasil i regpeito 3 polcia, Iba, om 1905, ransferie a forga pelicialcentaizada, os corabineres, de Ministé= rio do Intecior pare o Ministrio do Eséteito, dando aa Exércitochileno 0 ‘controle sobre a polica de todo o pats Rise cantrole no teve purleios no Brasil, ende as forge poiciais des Bstatos ram comandades pelos gover- sealore, [baller usou 0s carcbineas eo Exércitn para reprimit onganizacbes ‘eabathista, 0 Partido Comunists, aaarqustes © outeos apositores pol ticos, Ele empregou livremente seu poster de palicia, por exemelo, quan: do desefiow a ordem do presidente civil Arturo Alessandri e us0u 08 ca- rabuteros para dispersar, de forma violents, as manifestagdes trabalhistas ‘ocorridas ao porto de Iquique, em maio e junio de 1925 (Nunn, 1988, pp. 321-122), Além disso, quande explodiram protestas trabalbistas em Antofagas tac Tatapaeé, nesse mesmie pericdo, o comandante de Primeita Divisio do Exército, o yeneral Florentino de la Guarda, deceetou estado de sitio & Ie marcia] ¢ levou os manifastantes 2 julgamenta em: tribunal militar como “revolucionarios comunistas® (Nunn, 1988, p. 122). Ele bbedecia ordens do presidente civil Aletsand, mas o importante agai & gue = jestiga politica fj apticada pelos proprios militares, e ra0 num tribunal cvil,como no ca so do TSN brasileiro. Os militares, na déceda de 1920, tansbém prenderara eailaram seus opositores (Nurn, 1976, pp. 181-164). 0 que podemos ver hnos anos do entreguerras chileno ¢ um grau menor de cooperagao entre civis e militares , em especial, entze 0 Judicidrio eas Forgas armedas, e que. ‘mais que no Brasil, os militares preservaram as caractertticas de uma insti luigio impeneicdve, hierarquica e separeda, JEssns caracrSsticas persstiram nos snes posteriores& Segunda Guer- a Mundial, embora os militares :enhan recuado para ume posigio consti- ‘ucionalista, Camo no Brasil o infeio da Guerea Fria trove um endure cimento do sparato judicial do Bstade hems § opasigaa © & dissidéncia, potenciais ou concretas Em 1948, 0 Congresso chileno aprovou Lei pare 1 Defesa Permanent da Democracia (Jel m. 8987), como reagio 20 medo Gespertado pelo comunisare naquels éoce. Chamade de ley malin por 4 Disdnaerepresto seus celticos, esta medida, eatre outros dispositivos, colocava na ilegalidade 6 Partido Comunista, proibia seus membras de partieipar de sindicatos e sviava zonas para o banimento ou “relegagéo de supostos subversvos (Loe ‘vemian, 1988, p-254), On comunistas foram fortemente reprimidos durante 0s der anos seguintes, ca nova [i foi usade para impedir a arganizacdo sical nas 2onas rors para destrogaz © movimento tabalhista urbano. Na époce da aprovagto da iey maldita, Augusto Pinochet Ugart, o fie taro ditador, era capitao de um tegimente de infantaria em iquique, Em sues anemdtias, ele conta que, ap6s a aprovasao da lei, fer. com que sas tropas cireulassem por Tquique prendendo "agitadores” comunistss, com ‘base uma lista de nomes que the foi fornecida pelo servigo militar de in- formeed0. Levoa os detiGas para una base militar em Pisagua, onde mais de quinhentos dees foram tranceiados, « de qual Pinachet se tornou ca ‘mandante militar em janeizo de 1948, Segundo Pinochet, um grupo de par Jamentares liderados peo sorado: socislista Salvador Allende apaceceu em Pisagua e pediu para visitar os press. Pinochet disse Ihes que nao tinham permissio pars essa vista, e gue, se tentassem fazéslo, cle os fuilaria, Os parlznentares particam, Perguntado por um entrevstador se teria curnpri« ddo essa ameaca, Pinochet respond: "“Acredito que eu tea feito 0 que dis- se, pois as ordens eram de nao permitir vsitantes, muito menos esses se inhores que 86 vievam para agiter 95 prisionei0s" ssc episidio nos alerta para poder ea autonomia des milcaxes chi- lens a esfera judicial, Um mnero capitao do Fxercita prendew”criminosis" politicos e proibin que qualquer pessoa, inclusive membsos do Congresso, visitasse “scus" prisioneicos. Ness histéria, nfo € feta meno a justiga ci vil. Uma goragao anterior de estudiosos ressaliou a singularidade de cons éracionalismo das militares chilenos no periode 1982-1973 (ver Laveman, 1988, p. 229; ¢ Drake, 1981, p. 269). Bsse constitucionalismo é tino, mas 0 ‘que também chama a atenglo & que 26 disposigses constitucionais chile- sas deinavam larga marger pata s intervenge autOnoma és militares era ‘questées pollticas ¢ jodiciais de afvel local, Loveman atibui esse fato 20 legaco do golpe de 1924¢ do governo Tbafer (1924-1927) (Loveman, 1988, ppp. 15-194, 224), Seja qual fora cause, 611m engano deserever 0 profissio- nalismo dos militares chilenos eae consistinde de um “nio envalvimen- (0? na polttica™ A Le para a Defesa Permanente da Demacracia foi abolida en 1958 pelo presidente Ibafiez, logo antes de ele deixar 0 poder, O Partido Coma A woke da tegalidade cde sarang nacional 95 nist foi assim legalizado, pondo fim a lez anos de clandestinidade. Nesse resmo ano, o presidente Alessandri e » Congresso aprovarantambérn a in, 12,927, «Lei ds Seguranga Fst sa el consinka va defiaigio snuito ampla ¢ mutlo pouce liberal dos runes contra o Estado, © aztigo 4° declarave que qualquer um que" de quahuer forma ou por quaisquet meios se insnijs contra o governo constitu 21 provoque ums guerza civil” et cometendo um crime contra a segizangs estatal Esse mesmo artigo pica também a inctagao de membros dis forgas armadas, inclusive carabinetes a indisciplne ou desobedincia (artigo 4, letra b), vedando também a ci vralgacdo de infortnaybes, dentro ou fori do pais, com vistas a“pertarbar a crdem constiacional, a seguranga do pats... aextabiidade dos valozes" (artigo 4°, letra ).A profanagso publics da bandelea também era express ‘mente probida por I Durante década de 1960, diversosgaveznos smapliaeam seu dirsto de ecretarestadys de exoogio, o que hes premitia supeimir as garantias cons- stkacionais sem prévia auiorizagie do Congresso. Esa decreragto foi usada ‘elo Fxecutivo etn particular para supsimi as preves nas nvinas de cobre Mais uma ver, vemos 6 padrio da suprssdo de protestos trabaistasspli- cada diretamente pelos militares, Bm 1886, dursnte 0 governo Frei 8 de pattamentos de El Loa, Tocorila, Rancagus Chaiaral foram declarsdos sonas de emergéncia em razie de uma geve nes inioas de cobre.O deci autorizava o Bxércto a entrar na cidade de Bl Salvador que de foto acar- seu, para por fim as rivindicacaes dos trabelbadores. beret © 0 «2 tabineros acabatam per matar sete pessoas e feix 38, sepundo as cifas oficits. Apts o massacre, 05 debates no Congresso trouxetam clticas 19 presidente Eduardo Frei Montalva em pastictlar, 30 miniszo da Defe- sa oan de Dios Carmona, espansivel pela acta das wopas. No entento,a ‘Comissio de Tepslagio, Constituigso ¢Justiga do Senade conclu: que & asd militar em Fi Salvador era de responsabilidade exclusiva do presidente rel (Manns, 1999, pp. 175-180}. Senadio partanto, nesee caso, concorde coma prerrogativa do Executivo de inapor lei marca] om zone de condita social, onde as eivindicagfes dos tabalaadores eram visas como emeagas orden.” Aqui, também, vemos que, apesar de sua estrita observancia das reste 46es constitucionas no petioda anterior 1973, 0s militares clilenos comt- pordhavan com seus colegss braseso:eargetinos a preocupagi com a manutengio de urna determinada visio de seguraaga itecna. Hern Videl 96 Pitadesa eraprece arma ver nos militares chilenos uma vacasie ae exercicio “Ua fengio s0- cial redeniora do uso da violéncia” (Vidal, 1989, p. 125}. E um livro-texto sobre as forgas armadas, escrito por tm oficial militar chilena e publicade cm 1972, usa lingragem mite semelhante & de documentos brasiteirzas € argentinos dessa mesma ¢poca,revelando que elit militar se considerava uma guardia conteisia @ propaganda subersva e & “guerra psicossacial” (Roldan, 1972, pp. 61-66, 123-188) Quando os militares tomanan o poder ne golpe de 1973, eles decaca vam estado de guerra ¢ impuscram tribunais militares de tempo de guerra aos seguidores do governo de Unidade Popular de Allende, Qs teibuaais militares haviam sida usadas para pracestar civis durante a Guerre do Pa: cifico (1879-1883) e nas disput trabalbistas de épocas posteriores Embo- +a, tanto para os oficiats militares brasileizos do pOs-1964 quanto para os oficiaischilenas elo pas-1973, lear adveesieios politicos civis a julgamsento em tribunals militares fosse parts de ume meméria viva, o modelo de just ¢8 politica adotado no Chile foibem diferente do lnrasileico. Enquanto, no Brasil, os processos por crimes politicas contassem com a cooperags das elites militares ¢judiciérias aum sistema hibrido que fundia aesistemas de justign vile militar; ao Chile, azbes judiciais desse tipo eram uma questio exclusivamente milter, tendo Inger mums sistema que segeegava os tribunals ruilitares do Tudiedtvio civil na primeira insténcin e dava aos comandantes militares arbitrio exclusive sobre as agbes impetzadas no Smbito de sua ju- rlsdigdo, Além disso, diferente do regime brasileizo,oxegirae chilenc se sen Liu ameagade pela subversio no lange de tad o seu tempo no poder ¢ man ‘eve seu subsistema voltado pars tratar de crimes politicos, até as vésperas dda transgao para a democrecia Assim como no Brasil, us posturas dos militares chilenoy frente & sub- versao ja estavam em grande parle configuradas antes mesmo do golpe, ‘Comte seus colegss brasileiros eargentins, muitos oficias chilenos vicam 0 desenvolvimento dos movimentos politicos de classe trzbalhadors ea che- sada de imigrantes europeus cm inicios do século XX como ameagaaa ume visio conservadora de identidade nacional (Smallman, 2002, p.28). Duran- ten gowsrnn da Unidade Popular de Allende, o Bxército chilene eivindicow com sucesso a aprovagie de unt lei de controle de armas que Ihes persia prender ¢ instaurar processo contra pessoas suspeitas de pertencerem 3 es quetda arineda, Apés 0 golpe, ess Ij acabou por se converter na base mais frequente paca as acusagbes levantadas contra prisioneicos politicas. Da A rosso a ingaiadedasguranga waconal smoesma forms gze a abertara de processo contra os sindicalistas ocortida ‘no Brasil em 1963, a lei chilens de controle de armas apoata pare o papel ‘tivo desempenhado pelos militares ro combate a esqucrda antes mesmo <3 tomada do poder pelos militares. Também coma no Brasil, 0s processos por crimes politicos ao Chile dos pritcieos anos do regime militar, em bos Parte, omnararn como base leis que haviam entrado ema vigor antes da. ase censio dos moiitares av poder. Uma discussie anais detalhada do pretidio ao polpe militar no Chile pode ser encanirada no capsnulo 5 Argentina © método empreyado pelos argentines para enfrentar o problema da oposigdo foi o mais radical dos és aqui examinados. © regime militar e 1976-1983 cin boa parte dispensou qualquer tipa de eslsatégia legal, langando-se nunna guetea totale inexnrdvel aes suposios agentes da sub- versio, De certo modo, essa propensio a abordagens radicals c extrajudi- dais a repressio politica pode ser encontrada em épocas anteriores da IistOrie argentina, ‘Miwitos de seus padeaes basicos, contude, so familiares aos estudiosos dos casos brasileiro e chileno. Da mesma forme que os militares brasleiros cechilenos, o¢ militares argentinos viamy-te dilacerados por dissens6esrela- tivas aos grandes conflitos poiticas qus ecorriam & sua lta, Um hom aii- mero de oficisis era hostil & democracia liberal e fortemente preocupade fom impedis 0 avanien da exquerda, ¢ tobéun partido de uma orivalagan refyrmista¢ nacionalista no rato dos problemas tabalhistas econdmicos, Da mesma forms que os oficialatos brasilaitn e chileno, 08 oficiis argem- tinos também tomaram parte numa “-evolucie’, que precede em apenas lum més ¢ revolla armaada da Alfanga Liberal no Brasil de 1930, Agui tem- béin, camo seus pares brasileiros e chilenos, og oficiais argentinas forars Lnfluenciados por misses militares estrangeitas, neste caso, alerted.” No entanto, a Argentina exibe difirengas importantes com relagio 20 Brasil e ao Chile. A mais fundamental dels talvez sea ofato de que os mi litares argemsines se viam em meio a um satema politico ne qual “nenbuma ‘antoridade consiitucional é forte @ basante para impedir que um determi ‘nado presidente ienpanhs sua ventade, mesmo que implique transgressdo da lei ow da propria Constinaigto" (Porash, 1989, p. 105]. Esse vol siste- sma higerpresdencialsta era polarizade entre mavimentos papolates¢ t= balbistas unuite fortes (representadas politicamonte pelo partido Redcat e, 98 Diedanaereprente mais tarde, pelo partido Peroniseal, por um lado, e poderoses elites agririas einanceiras, por outro, © papel desempenhado pelos militares na repressio violenta dos mo: vimentos trabelhistas pade ser vio} nos anos do entreguersas. Em jane ro de 1919, durante a comana trigla, a potica e inteprantes da Liga Pate tica (com a partisipagio de um grande nilmero de oficais)e da Associngao do Trabslho efetuacam ups viokota batida nos baievos de classe traba- Inadara de Buenos Aires, ostensivamente& caga de subversivos e"bokchevi- ‘quee! A comunidade russo-judaia fo} particularmenteafeteda, estine-se ‘que entre setecentasecitocentas pessoas tenham sido moras, além dos mi- Inares de feridase presos (Colliere Collies, 1993, p. 147; ver também Nino, 1896, p42). Os mlitaces tiveram partcipasao ainda mais deta na "Pats ‘gonia migica”, 0 equivalente roral da “semana irégica ocorrida em 192% “1922. Ness ago, 0 Exéecitoeepsimi com violencia trabalhadores grevis- tas nas farendas de criagéo de ovelhas, atando entre mail e dots mil dees, segundo estimativas (Collier e Calir, 1991, 9.148), E possivel que as opinides peiticas dos oficiais ergamtinos née fossem increntemente mais conservaderss que de seus coleges brasileira e dle nos. No entanto, seu papel politico o er. [sso se devia em parte a fatores «stratus, em especial & profunda polarizagao entce um movimento de trabalhadores industria forte ealtamente miitante ¢ uma classe domi- ante rica, poderosa eintvansigerte, dominada por iateresses agrévios f= nnanceiros. Bsa comunidade politica assstia a“confzontos diretos entre associagoes de diferemtes classes grupos sctoriis, nos quais 0 Estado € 0s partidos politicos desempenhavara apenas umn frac papel de mediagso & agregacio dos interesses socinis" (Collie ¢ Cellier, 1891. p. 148). Nesses confrontes, havia menos espace para a repressio judicislizada, quer através de tribunais dvil-milicares hibridys, como no Brasil, quer etravés de tibu- nis exclusivamente mitares, como no Chile. Ao contréri, 0 uso de fora dizeta pelos militares quase sempre acabeva por prevaleves A polarizacio politica ndo prasmou apenas 0 papel dos militares, ae tando também o Judiciéri. Nino (1996, p. 44) observa que wina saraceris- tica marcente da politica argentira ¢ © duatisme ideolégico na esfera judi- cial: os iberais ndo eram democcatas e vice-versa, Embora esse dualismo existe por toda a América Latina, era mais claramente crisalizado na Ar- sgentina, Oteiza (1994, pp, 17-48) aponta que, nesse sistema politica, © Ju- A evalu da lgetdade desepsrange racional 99 diciiio saramente conseguia marcar posigio de independéncia face a0 demais poderes do Hstado, A Suprenia Corte, mn particular, teve papel de \destaque em sucessivos conilios politicos. A partir de sua accitegao do gol- pe de 1930, somade aos frequentes exprngos por ecasizo das trocas de go ‘erno, até sua recuse em conceder habmas corpus dusaate o regime militar de 1576-1983, essa corte transtormou-se em serva do poder Exceutivo (ver também Nino, 1996, pp. 47-48), Em 1954, 06 mulitares puseram fim ao gaverno do Rattido Radical ¢ ‘inauguraram uma década de manipalagia e repressao das eleighes. Dife vente da associagdo dos militares brasleiros com um grojeto de incluso sas classes médias ¢trabalhadoras, come ocorreu no governs Vargas, ou do papel desernpenhado pelos militares chitenos na Constituigio relaivamen- te inclusiva de 1925, os militares argersines, antes de 1946, essociavamn-se doa reformas progressstas, mas a9 fechomente oligicquich da arena poli tice. Apos o polpe de 1930, o primeira presidente foi o general José Peli ‘Triburu, que havia se eposte as politicas pré-trabalbistas do Pactico Rad ale era membre da Liga Patriotica (Collier e Callies; 1991, p. 154), Como observa o historiador Tulio Halperin Donghi (1993, pp. 194 £€ 203), 20 Chile do periodo entreguertas (e também no Brasil, poderiataos ‘aceesveatar), o¢ militaces desempenbaram o papel de "érbivos entre a cite politica do pais ¢ ay forgas da democratizayia’, enquanto na Argentina, os iiltares tormaram com mais lareza o partide da elite aligérquica, © 4e- sempenho desse papel nio bastou para formar os militares consstentemente mais violeatns que seus colegas brasileias ¢ chilenas: Por exemplo, Potash (1968, pp. 58-59) celata que, durante 2 lei marsial decretade pelo governa Usiburu, entre setembro de 1930 ¢ juako de 1931, cinco pessoas, incluinds lois anarquistas, foram executadas per pelotaes de fuzilamento, muitos Sindicalistas naturais de pafses estvangeitos foram deportados, ¢ a tortura fi largermente empregada, Bssa violéneia mio parece maior que a peaticada nna Brasil ea6 Chile nesse mesemo petiode. No entanto, la pode ter foreado, 6s militares a se comprometerem com una posters politica que, be flu +o, os levatia zo emprege cada vez maisintenso da violéncia, (Os mallitares argentinos, lem disse, parecem ter sida mais segregacion nistas e mais relutantes a trabalhar com, os cvis do que seus colegas brasi- leinos ¢ chilenes. McSherry (1887, p. 37), em 1993, entrevistou umn oficel inilitar da reserva, qos declazou que uo Diana erepreto & getagio da décade de 1880 oi w him grupo sociokigica onde hala civic # mniiteres que se conheciam, que haviam ot fo juntos por seu pais [na guerco ‘contra o Peragusi..2 principlo, ninguém de roviteateng8o, mas na década de 1930 [os orate os civ] foram cada qual para seu peta, os cvs eae vam ocnpidos denis ganhando dicheiro, Quando visas assim comecam a facontece, acho que se rir ums espécie de muro, am mare muito dill dc scalar, um muro mito a, Ocontraste entre a Argentina ¢o Brasil, onde a cooperagio entve civis «militares na esferajudieiria era muito mais, deve ser ebservada aqui ‘Alera do mais, « hiecarquin militar argentina ngo saftea rompimento 0 periods do entreguernas, Aqui também, ¢ contraste é especialmente ‘arcante com relagao a0 Brasil, ande, na revolugao de 1930, oficais de Dabea patente se flierara & um movimenta civil-militar que Visava a"repu- Dlicanieae a repablica’ insurgindo-se contra alguns de seus pedprios gene- vais, O golpe de Estado chileno de 139 tamibém desafiow a hierarqui mi- Bras. Na Argentina desse periodo, enteetanto, nfo howre nenlouma revolta bbem-sucedida contea s hierarquia lita. Tamibém, o facciosismo era mais Intenso nas forgas armadas argentinas que no Beas € ao Chile, ¢ a rela cs entre os militares eo Judicidsio erarm mais tensas, uma vez que, mais que 20 Chile ene Brasil 0 Judicirio se apuntia com maais vigor as idcias militares sobre segurancs nacica ‘Apés 4 revolucio de 1930, os militares argentinos creseeram em nie susera €importancla denice doaparats eststal. Entre 1930 ¢ 1945, 0 compa ddeoficinis Guplicou, as capas sob seu comand tiplicaram, a inddairiz argentina de ermamentos se expandiu, zelletindo a posica de pais de maior potincts industrial da Améric: Latina naguele pertade (McSherry, 1997, pp. 39-409, ‘Com o erescimento ds forgas sumadas, as questdes de segueanga in- terns tornazam-se cada vex mtis militarizadas. Por exemple, em 1941, 0 presidente civil Ramada. Castillo deczetou estado de sitio, suspendendo as girantias constinacionais. O estado de sitio voltou a ser asada por varie ve. es até 1963. Em 1942, foi criada, dentso do Ministérie do Interios, urna vunidade especial da policia incurabida de exercer “wigilAncie ¢ erradicar as atividudes autiargentings'. Em 1943, os militares intervieram de nove para essen 0 controle dizeto do poder Bxecutivo, A coalizao do golpe de 1933 cra formada por ofiisismiitares, empresirios da pequena e media indi A evolu dis hgalade da segura nacional 01 {cia ealgumas liderangas do sindicatiamo erganizado, & Marinha, teadicio- nolmente figoda & Gra-Bretanha ¢ acs Estados Unidos, ¢ simpatizante da direita liberal, de modo geval se opés a golpe, mas bos parte do Exército 0 poiou (McSherry, 1997, pp. 40-41), As facgdes populista-nacionalists das forcas armadas argentinas gae dharar ascendéncis empocéria com a chegaee de Juan Dontingo Peron & presidéncia, em 1946. Diferente do Chile, onde, em 1932, ura experimento populista havia durado menos de ur. ano, 9 regime de Pern sobsevivew Por nave anos, indo até 1935. Perén tinha algo a oferecer a ambos os pares sla order social argentina: concessoesmaterias significativas ao movimen. 1 tabalhists organizado ¢ anticommnismo aos militares, No entanta, aad sministagde dessa dificil coalizae cevelou contradigics em excesso, O golpe de 1985 contra Peron, que uniu a maicria do alto-comando as forgas armada a Igrein Catélica eas elites agréiase financeinas, fot sangrento, precipitande a Argentina gums espiral de violencia, Os gover- hos posteriores a 1995 tentaram em rio eezadicar 0 “comunisno”, agora amptiado pars incluis 0 peronisino radical, O Decreto-Lein, 18.787 de 1956 «olocou na degalidade todas as atividades comunistas, definindo communis. tes como os fliados ao Partido Carmerists ou a qualquer outro partido que fizesse parte do “movimento comunina”. O DecretorLei n. 4.214 de 1953 eu uma definigio mais técnica e detahada de comunisme, induindo nele todas as atividades praticadas “devide a ideologia conmunista, motivadae por cla ou em razfo dela’?! Como peranisme na clandestinidade, 6 Bertido ‘Comunisia em si detxou de sera prinepal ameaga pare ox sdministeadores ddo uparato de seguranga nacional. Com. surgimento de ums esquerda ar- ‘mada incipiente, os militares, em inicias da déceda de 1960, passaram a usst ‘wibunais militares para instaurar processa cones os suspeltos de participa ‘40 em guerrthas. E, ern 1966, as forcasannadas de novo tornarama o poder. Ao vontrério dos golpes de 1930, 1043 ¢ 1955, quando os militares des creveram sua intervensae como uma ‘limpena" temporaria do corpo pol tico, 0 golpe de 1966 deixon clara a intense dos militates de permanecer indefinidamente no poder. Nesse sent, ele se assemelheva a0 golpe bra sileiro de 1964, embora, no cass argertino, a “zevalusio” tenha side anais radical, Por exemplo, © nov regime substinuia a totabidade dos membros a Suprema Corte, repetindo am pacrao que ja havia ocorride antes na Argentina. E,o que fo3 sinds mais imyortante, 0 rege abendonon qu: quer tentative de posar como governo provissrio ou de preparar o terreno 102 Disnduraerepresio pera oretorno da democracia, Ao contrésio, 0 novo regime aiterou a Cons tinsigio, denarminou de “Iris” seus decretos,e deu o titulo de “governador’, fe alo de interventor, aos nomeadios para assumnis 0 governo das provinces, as pelavras do expeciaita em quastaes juridicas Enrique Groisman (1883, ph "Pela primeira vee, um gover de ct evtou assumir 0 cormpeomis- $0 de retorno 8 ordem constixuconal, comportando.se como #€ hones insiaurado unta legitisaidade & parte” Além disso, o governo estabeleven ‘uma autoceaca petsoal em torno de general Joan Carlos Onganin. © regime mibtar argentine de 1985-1973, embora de eusta dneagio, empregot métodos repoesivos nto senelhantes aos dos regimes malta yes brasileiro ¢ chilene, Pot exemplo, as universdades forant. expergedas,¢ fo Decreto-Lei n, 17.245 de abril de 1967 proibin a realizagto, nos cxwepi © suniversitrios, de quaisqueratividades relacionadas a“forinas de milixineis, agitagio, propaganda, proselitisne ox doutrinacao de carter politico” (McSherry, 1997, p. 64). Menos conhecido £ 0 Deoreto-12i n. 17.401 para a repressdo do comunisma, promulgado em 29 de agosto de 1967. Sua de- finig’o de comunisino era muito mais fexivel que as das leis anteciores, camo o Deceetor.tin, 18,787 de 1956 # 0 Decreto-Lei 4.214 de 1963, ‘A medida de 1367 conferia ao secretirio da Informacéo Eststal « prerroge tiva de determinar se 0s intividuns exam comunistas, auma determinagie aque permanecen secrets ‘As consequéncias de ser tackado de comunista pelo Estado eram seve- sas, ncluindo a perda dos seguirtes beneficios ¢ direitus: carteira de iden tidade, emprogo pablico e catedia em waiversidades pablicas ou privadass concessao para operar estagOes de ridio ou televiskos perrmissto para ser proprietirio de gréficas propriedade de iméveis em frens considevadas de interesse para a segucanga nacioral do Estado; cargos em associagbes pro- Fesionais (quer como eenpregades ou empregadores). Os cidadaos natore tizados argentinos podiam tambéen perder a cidadsnia ¢ serem deportadon, «caso fossem considerados exlpados de comnismo nos termos dessa Ii Alm disso, qualquer pessoa condenada por atvidades de praselitismo— ow ej distribuir propaganda sobversiva ou propaganda hostih3 ordem publi- ca, motivada por ideologla com mista ~ estava sujeta a pena de um a ito anos de pristo nas tetmas do Decreto-Lei 17.403 (Gobierno de Argenti- 1a, 1957, pp. 1633, 1634, 1636) “Apesar da dvassica pexda de direitos softida pelas pessoas vistas como comnisias pelo Estado, os procedimentos de impetragao de recurso contra A evolu da legolds de gene nacional 103 1 determinacao original eram desfavordveis aos edsdios. Come ocorria ‘também em alguns teiyunais militares brailetos echilenos,o nus da pro- ‘va cabia aos acusados, que tinbar que provar que wo eram comunistas ODecreto-Lein, 17.401 mostra que a egime militar argentino no po- der enire 1886 ¢ 1973, da mesma form que seu correspondente no Brasil, assumiu o conpeomisso de julcializar, pelo menos em parte, a epresedo praticada por ele, Em nota emitida pele poder Executive come justficasva para ess lei,» entio ministro da Justica Jaime Perriaux declarou! Seva Hele confortével dizer que stera jicit erdiniio da Argentina @ de seus iemos do Oeidente € otalmentecarente de eficicia¢ provicoriamen- tes tem que ser abandonado, a menos num certo sentido. Acredite firme rente que est sol secin prematess, © que o Estado argentina devs ty ponder Aamesga desss aos [terrorists] mastranda a capacidade necesicin de rodeenizare moditiar suas insttnigGes fim de reais com maior eft ia, (Gobieeno de Argentina, 1971, pp (265) \Vemnos aqui aadogao de um prota de legalidade autaritéria que nfo exist no periodo 1975-1985, No entanto, os drigentes do regirs viram-sefrustrados em suas ten- tativas de Ievar a cabo esse projeto, em parte devide & independéncia da Judieirio, Embora presidente Onganis teas nomeads novos merabsos para a Supreme Corte e in novo prosurador-getal todos os jltes de re not hierarquiacoatinuavam a gorar de inamovibilidade.A antonomia das instincia inferires, na verdade, teve am ligeica aumento, porque o poder deexonra juiescabia ao Congreso, qe fi fechado pelo goipe de 196. A partir de entio, a responsabilidade pela exeragio de juizes passou a aber a0 prdpro Judictrio, Como demonstra Arseneau (2001, p. 36)sf01 permitido aos governadores das provinces, por acasiao de sua nomesczo pelo governe militar, proceder & um tice expurgs dos trihanais, 2pés-@ qual “as gurantias de inamovibildade previstas na Constitugo esta seriam respeitadas O resultado foi que “os niveis mis altos da hierarguia judiciavia eram subservientes 20 Bxecstiva, mas no os nivel infriores” Por exemplo, um tibunal de instance inferior, em 1968, descobriu que © governe nfo tinha zetoridade pars fechar determinadas revistas notions, embors essa devsto tenha sido mais unde derrubads pela Supreme Corte (éxceneav, 2004, pp. 36:37). 103 Dadra repento Entender o regime militar argentino de 1966-1973 & de impoctincia fundamental para entender 0 regime que sesgutu cm 1976-1983. Pata fins deste trabalho, duas das caracteriticas do negineantcrlor merecem sten fo, Bm primeteo higen le, semdivida algums,elevou nivel de represio interna ¢laniou es bass d legalidade da segranga nacional que,em gran- de parte, sinda vigorava em 1975" No entanto, s comparado as regines railtaes do Brasl¢ do Chil, o regime militar srgentina de 1966-1973 s0- ‘sia uma oposigio mais maciga € mais grave patinio de diversas forees politics em consequéncia,vt-se mais acuado, Por ess F240 0 regime foi foreado a preserva um maior nzmaro de elementos do sistema judicial civil pré-autoritirio, no qual os dzetos dos ruse a possblidade de com testacio das politias do regime zontinwavatn a exit. Ap60 0 cordobazo de fins de mato de 1969 ~ ura levante de estudantes ¢ operéring, de uma semana de ducacio, que camecou em Césdabe, pa thando-se em seguida para Correntes, Rosério* Tacumé, e que foi debee Lado pele Exército— 0 regime patio a recuse (azceneau, 2001, p.59).Em jho de 1999, o presidente Ongania foi deerubado por um “golpe dentro do golpe’¢ 8 goveraossabsequentes dos presents Levingstone Lauusse ‘buscaram uinaestrangga de retinada pero regime mata Sob Levingston # Lanusse, ¢ fargae a autaniomis 208 alse inferiores dia hierarquta judas forgararo regime militar a adotarsolugses judi- ‘ais a hor para o problerna da oposigao politica, em particular atcavés da csiagao, ern 1973, de umn Then! Nectar Penal. Rese sibunal ie, d+ ‘ante sa breve existéncis, instaurou processo contra centenas de prisione ros politicos. salda dos militares do poder, que cuore logo em segida, levou a elsgio de umn governo peronista, em 1973, A forte oposigio ao re- ime militar wiunfou ne resiaurigie peronista, o Tsibunal Nacional Penal foi disolvido e todos os prisoncios polics foram tbertades ¢, em segu dla anistados, Iso contribulu pera wma ceescente frustragao em mei aos ritares pata «posterior adoydo das tices de guerzasa, nal em 1975, eno nivel nacional zm 1976 © regime militar ergenting de 1965-1873, portato, tentou coastrair tna legaldade autortria sersehante 2 existente sob o exime militar bra sito, ¢¢analisado em maior dtalhe mais adiante nese live. No entanto, ‘resistencia ao poser milter eramals forte na Argentina que no Brasil, 2 nivel regio polarizacio politica era mais grave, o que levou ao abandono do projeto ‘uiginl pelos militares © uma muodanca abrupt de zegime ema 1973. Co- ‘A evolu da tgatidade da seperanpa nacional 105 ‘mo seed mostrado no capitulo 6, ness: guinada politica, as militares decidi- ram-se por uma radical mudanga de curso, em grande medica repudiando a estratégia anterior de legalism, ‘Tendéncias historieas ¢ variagées A primeira vst, pode parecer gue as forms de lealidade autoriiia aMatadas pelos regimes do Bras Ole e Argentina, nas décacn de 1960 & 1970, foram a hoe adapragies decuro pra ucccunstincas aaraordind- Flas totaliente novas que, camo ta povca rela tnham com o& can tecimentoshistoricos de epoess anteriores. Ne verdede, & posse aigu- -entar quem temas joa os resultados desmentitem por completo ‘08 padrBes mas antigos.Noentano, a tendacies verfcadasem cada um dlesies regimes tinham precedents em periodos anteciores. Esta tenién- sfas podem ser abservadas nos anes do entzegusrrasytenda sido sfongadas por aconteciments subsequentes no pereda posterior 3 Segunda Guetra Mondial. Nos ts paises, as foras arcades, om perfados anteriores ao gol po tentaram coperar com ox cvs me reviso das instituigdes, de ema 2 fezerfenie 20 que er visto como ameasssubvettive, Os reultados desas ‘entaivas equiparatn-sesubstancalmnte As estranégas depois empregadas sob o regime militar Pes eesltados én dso, tivetam influbncie sobee 2 opybesabertas aos militares omtes ci tomada do poder En todos a pat vesscondigoesprevssaeteram as dee ses omadas aps glpe gue cot am novo sisteme de esliade auoritiie er tds lec sisters per= staneceubasiarente em vigor durante todo o regime militar. ‘A mates institucional besiera,na década de 1930 ede novo, made 2960, fola mais aradualst das tet, «também a qe aprésentou o maior atin de cooperapao ene 0 Judiieio eas forge armada. Q Tribunal de Segaranga Nacional da cea Varta ora ibrige,contando com prteipaio de vis ede rlitares. da mesma form gue os tribunals miltares da déeada - ‘Gibui para a tendéncia dos militares a usarem um fraseado legalisa para ‘exprimi suas posigtes. O fato de o golpe de 1964 ter ocorride nos das fi nis da Aliange para o Progresso, ¢ x30 depois talver sea também signi6s

Você também pode gostar