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História do Direito Português

Período da formação
do
direito português moderno
Época do direito social
 Considerações gerais sobre a época do direito social
 Inicio: em geral, a partir da I Grande Guerra (1914-1918); em
Portugal, a partir dos finais da década de vinte do século
passado.
 Caracterização (quanto ao direito privado)
 A legislação limita os anteriores dogmas da autonomia da
vontade e da liberdade contratual – antes sustentava-se que
«quem diz contratual diz justo», mas deixa de se acreditar na
justiça resultante da livre celebração dos contratos (devido à
desigualdade entre as partes);
 Reconhece-se à propriedade uma função social (devendo, por
isso, ser produtiva); [Continuação]
Época do direito social
 Edifica-se um direito social ou uma tendência social do direito e
verifica-se a sua publicização, por influência das tendências
solidaristas, que subordinam os interesses individuais aos colectivos
(afastando-se o individualismo) – doutrina social da igreja (com
início na encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, de 15 de
Maio de 1891, na qual se defende, em especial, a necessidade de
uma melhor distribuição da riqueza e de intervenção do Estado na
economia, em proveito dos mais pobres e desprotegidos) e ideias
socialistas.
 Desde o início do séc. XXI tem-se assistido, porém, a um
movimento inverso, no sentido da desintervenção do Estado na
economia e de retorno aos instrumentos jurídico-privados,
confiando-se na eficácia dos mecanismos de regulação.
Época do direito social

 O direito do Estado Novo Corporativo (breve


referência)
 Período a que corresponde: 1926-1974 (25 de Abril),
sobretudo a partir de 1933 (Estatuto Nacional do
Trabalho e Constituição Política)
 Caracterização
 Recusa do liberalismo individualista exacerbado (que
era considerado anti-nacionalista, isto é, contrário ao
interesse da Nação) e do parlamentarismo
democrático (favorecendo o executivo); [Continua]
Época do direito social

 O art. 1.º do Estatuto Nacional do Trabalho


considera a Nação como unidade moral,
política e económica, cujos fins e interesses se
sobrepunham aos dos indivíduos e grupos que
a compunham e de que se distinguia
(concepção nacionalista);
 Esta concepção unitarista conduzia ao
primado do bem comum sobre os bens
particulares dos indivíduos.
Época do direito social

 Sendo uma entidade distinta dos indivíduos, a Nação era


uma pessoa moral, dotada de direitos, deveres e
dignidade – nomeadamente, o direito de exigir a
contribuição dos homens para o bem de todos e o dever
de realizar o bem comum;
 Enquanto unidade política, a Nação reconduzia-se ao
Estado, concebido como corporativo (integrado por
corporações de diferentes níveis);
 A ideia da Nação como unidade económica traduzia a
existência de um sentimento de solidariedade de
interesses.
Época do direito social
 A Constituição de 1933
 Elaboração do projecto de Constituição pelo Governo e aprovação
mediante plebiscito
 O Governo elaborou um projecto de Constituição, que foi publicado
nos jornais de 28 de Maio de 1932;
 Depois introduzidas algumas pequenas alterações, o «Projecto de
Constituição Política da República Portuguesa» foi publicado pelo
Decreto n.º 22:241, de 22 de Fevereiro, no «Diário do Govêrno», I
Série, n.º 43, de 22 de Fevereiro de 1933 (em cumprimento do
disposto no art. 2.º do Decreto n.º 22:229, de 21 de Fevereiro), e,
depois, submetido a plebiscito nacional, que teve lugar no dia 19 de
Março de 1933 (como estabelecia o art. 1.º do referido Decreto n.º
22:229; [Continua]
Época do direito social
 Nos termos do art. 4.º, § 1.º, do citado Decreto n.º 22:229,
considerava-se «como tendo dado tàcitamente o seu voto
concordante ao projecto» os eleitores que não tivessem votado
no plebiscito e em relação aos quais se não tivesse provado
perante a mesa eleitoral, até ao momento de se iniciar o
escrutínio, qualquer das circunstâncias que a seguir se indicavam
(nomeadamente, o falecimento de determinados parentes
próximos nos 3 dias anteriores, doença que impossibilitasse de
comparecer e ausência do concelho desde 12 de Março);
 Os eleitores que desejassem dar a sua aprovação deviam entregar
o boletim de voto em branco (os que quisessem votar contra
deveriam escrever «Não»).
Época do direito social
 Algumas normas da Constituição de 1933
 Consagração dos direitos e garantias individuais dos cidadãos
portugueses (art. 8.º), nomeadamente:
• Direito à vida e à integridade pessoal (1.º);
• Direito ao bom nome e reputação (2.º);
• Liberdade e inviolabilidade de crenças e práticas religiosas (3.º);
• Liberdade de expressão do pensamento sob qualquer forma (4.º);
• Liberdade de reunião e de associação (14.º);
• Direito de propriedade e sua transmissão (15.º);
• Direito de resistir a quaisquer ordens que infringissem as garantias
individuais, se não estivessem legalmente suspensas (19.º).
Época do direito social

• Todavia, o exercício da liberdade de expressão do


pensamento, (…), de reunião e de associação seriam
regulados por leis especiais (§ 2.º).
 Disposições sobre a ordem económica e social
• A organização económica da Nação deveria «realizar o
máximo de produção e riqueza socialmente útil» (art.
29.º);
• O Estado tinha o «direito e a obrigação de coordenar e
regular superiormente a vida económica e social» (art.
31.º), com vista a realizar os objectivos aí indicados;
[Continua]
Época do direito social
• A propriedade, o capital e o trabalho desempenhavam uma função social
(art. 35.º).
 Organização política do Estado
• A soberania reside em a Nação e tem como órgãos o Chefe do Estado, a
Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais (art. 71.º);
• O Chefe de Estado (que era o Presidente da República), inicialmente, era
eleito por «sufrágio directo dos cidadãos eleitores» (art. 72.º, § 2.º); mas,
com a alteração introduzida pelo art. 7.º da Lei n.º 2100, de 29 de Agosto de
1959, passou a ser feita por um colégio eleitoral constituído pelos membros
da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa em efectividade de
funções e por alguns outros elementos (representantes municipais de cada
distrito ou de cada província ultramarina não dividida em distritos e
representantes dos conselhos de governo e dos conselhos legislativos das
províncias de governo-geral e de governo simples); [Continua]
Época do direito social

• Assembleia Nacional – composta por 90 deputados, eleitos


por sufrágio directo dos cidadãos eleitores (art. 85.º),
incumbia-lhe fazer leis, mas limitando-se à aprovação das
bases gerais dos regimes jurídicos (art. 91.º, § 1.º, e 92.º);
• A Câmara Corporativa – funcionava junto da Assembleia
Nacional e era composta de «representantes das autarquias
locais e dos interesses sociais, considerados estes nos seus
ramos fundamentais de ordem administrativa, moral,
cultural e económica» (art. 102.º), à qual competia dar
parecer escrito sobre as propostas ou projectos de lei
apresentados à Assembleia Nacional; [Continua]
Época do direito social

• Governo – Constituído pelo Presidente do


Conselho e pelos Ministros (art. 106.º) e com
competência legislativa, para elaborar
decretos-leis no uso de autorizações
legislativas ou nos casos de urgência e
necessidade pública(art. 108.º, § 2.º);
• Tribunais – exerciam a função judicial e
podiam ser «ordinários e especiais» (art.
115.º).
Época do direito social

 A Concordata com a Santa Sé de 7 de Maio de 1940


e as suas implicações quanto à relação matrimonial
 Consagrou o sistema do casamento civil facultativo
(para os católicos), podendo os católicos celebrar
casamento civil ou católico – afastando, assim, o
sistema do casamento civil obrigatório acolhido na
legislação republicana;
 O Estado reconhecia efeitos civis ao casamento
católico, desde que a acta do casamento fosse
transcrita no registo civil; [Continua]
Época do direito social
 O casamento católico era um instituto diferente do
casamento civil, e não, apenas, uma diferente forma de
celebração;
 Para evitar os inconvenientes do sistema, os impedimentos
ao casamento civil eram, igualmente, impedimentos ao
casamento católico;
 Os casamentos católicos celebrados depois da entrada em
vigor da Concordata (em 1 de Agosto de 1940) não podiam
ser dissolvidos por divórcio (art. XXIV), o que viria a ser
alterado pelo Protocolo Adicional de 15 de Fevereiro de 1975
[Entretanto foi celebrada uma nova Concordata: 18 de Maio
de 2004].

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