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CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

• A Constituição como Texto político texto jurídico


• A Constituição enquanto projecto político
• Os diferentes projectos políticos e as Constituições
de diferentes Países
• O projecto do:
• - constitucionalismo monárquico
• - da 1ª República
• -da Constituição de 1933
• - da Constituição de 1976
• As revisões constitucionais e as alterações ao projecto
• político na vigência da mesma Constituição

Faro, 2013 © Carlos Fraga - DCDH 2


DIREITO CONSTITUCIONAL

• A Constituição constitui um texto político e um texto jurídico um texto jurídico


• A Constituição enquanto projecto político pretende consagrar num texto jurídico
o projecto político de um Povo num dado momento histórico.
• Assim como não há dois projectos políticos iguais não há duas Constituições
iguais entre os diferentes Países.
• O projecto politico português desde 1911 é uma república e há outros países
que têm a república como projecto político.
• Outros como a Espanha têm como projecto político uma monarquia
constitucional.
• Entre nós temos um sistema capitalista. Outros países optaram por sistemas
socialistas como a República Popular da China ou Cuba.
• Nas formas de Estado alguns optaram pela forma federal comos os EUA e a
Bélgica; outros são Estados unitários com regiões autónomas como a Espanha,
Portugal com os Açores e Madeira.
DIREITO CONSTITUCIONAL

• Esses projectos políticos vão-se reflectir nas respectivas Constituições.


• A partir daí a Constituição converte-se em texto jurídico com que todas as normas
jurídicas têm de se conformar.
• Como texto jurídico a Constituição visa possibilitar a construção jurídica de uma
ordem política. «Uma Constituição é um conjunto de normas e princípios jurídicos,
que se propõe congregar um povo num projecto colectivo». JORGE MIRANDA, Os
«Princípios Fundamentais», in Estudos sobre a Constituição, 1.º Vol, Ed. Petrony,
1977, p. 32.
• Od projectos políticos vão variando e consequentemente vão variando os textos
constitucinais de acordo com esse projecto.
• Na nossa História as Constituições do Séc. XIX reflectiam o projecto de uma
Monarquia Constitucional, a Constituição de 1911 vem consagrar um projecto
republicano, a de 1933 um regime autoritário e a de 1976 um regime democrático ou
seja em Portugal tivemos os projectos do:
• - constitucionalismo monárquico
• - da 1ª República
• -da Constituição de 1933
• - da Constituição de 1976
DIREITO CONSTITUCIONAL

• Quando a Constituição já não reflecte o projecto político pretendido surge uma nova
Constituição seja por ruptura com a anterior seja por revisão.

• A história constitucional portuguesa,é feita de rupturas.


• As Constituições emergem em ruptura com as anteriores, sofrem alterações nem
sempre em harmonia com as formas que prescrevem e acabam com novas rupturas
ou revoluções .
• A de 1822 é consequência da revolução de 1820, a de 1838 da revolução de 1836, a
de 1911 da revolução de 1910, a de 1933 da revolução de 1926 e a de 1976 da
revolução de 1974; da mesma maneira, o Acto Adicional de 1852 é consequência da
revolução de 1851 e a alteração de 1918 da revolução de 1917. Única excepção: a
Carta Constitucional, embora situada na vertente de 1820.
• Na ruptura constitucional termina a vigência de uma Constituição e surge uma nova.
Na revisão constitucional mantém-se a mesma constituição mas é alterada.
• Veja-se p. ex. nos artºs 1º e 2º da CRP a diferença entre a versão original de 1976 e
a actual.
A CRP-1976

• VERSÃO ACTUAL (introduzida na revisão


• VERSÃO INICIAL constitucional de 1989, Lei 1/89)
• Artigo 1.º
• ARTIGO 1.º (República Portuguesa)
(República Portuguesa)
• Portugal é uma República soberana, baseada
• Portugal é uma República soberana,
baseada na dignidade da pessoa humana e na dignidade da pessoa humana e na vontade
na vontade popular e empenhada na sua popular e empenhada na construção de uma
transformação numa sociedade sem sociedade livre, justa e solidária.
classes.
• Artigo 2.º
• ARTIGO 2.º
(Estado democrático e transição para o (Estado de direito democrático)
socialismo) • A República Portuguesa é um Estado de direito
• A República Portuguesa é um Estado democrático, baseado na soberania popular,
democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização
no respeito e na garantia dos direitos e
liberdades fundamentais e no pluralismo de política democráticas e no respeito e na
expressão e organização política garantia de efectivação dos direitos e
democráticas, que tem por objectivo liberdades fundamentais, que tem por objectivo
assegurar a transição para o socialismo a realização da democracia económica, social
mediante a criação de condições para o
exercício democrático do poder pelas e cultural e o aprofundamento da democracia
classes trabalhadoras. participativa.

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A CRP-1976

• OS PERÍODOS DO CONSTITUCIONALIMO PORTUGUÊS


• 1- O Constitucionalismo liberal- De 1822 a 1933
• 2-O Constiucionalismo autoritário – A vigência da Constituição de 1933
• 3-O Constitucionalismo, democrático – desde 1975 com a Constituição actual

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O constitucionalismo português- A Monarquia
• A Constituição destina-se a limitar o poder real

• O constitucionalismo português inicia-se com a revolução liberal de 1820 e a


Constituição de 1822.

• Já antes houvera uma tentativa de se criar uma Constituição outorgada por


Napoleão. Foi a designada “súplica pela Constituição”, pedido que não foi atendido.

• A instauração do liberalismo acarretou a abolição do regime monárquico tipo


senhorial e a sua substituição por uma ordem constitucional por uma ordem
constitucional que acarretava:
O constitucionalismo português
• 1- a aprovação de um texto constitucional, esclarecendo as normas que regulavam o
poder político, impondo uma hierarquização formal da ordem jurídica estadual;

• 2. consagração de direitos fundamentais dos cidadãos, em reconhecimento do papel


limitado do Rei e do poder político em geral;

• 3-o estabelecimento de uma separação de poderes, aceitando-se a representação


parlamentar através da eleição dos Deputados às Cortes;

• 4- criação de uma união real entre Portugal e o Brasil, assinalando a importância


crescente deste nas relações que se foram fortalecendo com Portugal.

• Para elaboração da Constituição decretaram-se as “Cortes gerais, Extraordinárias e


Constituintes da Nação Portuguesa”:

• O processo constituinte conheceu dois momentos:


AS BASES DA CONSTITUIÇÃO

• o primeiro foi a definição das “Bases da Constituição” e só depois viriam a ser


elaborados e redigidos os preceitos constitucionais.

• I. O texto das Bases da Constituição compunha-se por duas secções nelas se


resumindo as matérias principais a verter no texto constitucional definitivo:

• - a Secção I — Dos Direitos Individuais do Cidadão; e

• - a Secção II — Da Nação Portuguesa, sua Religião, Governo e DinastIa

• III. Na Secção I, as Bases da Constituição fixaram o primeiro elenco de direitos


fundamentais consagrados em Portugal, neles sobressaindo os seguintes tipos,
percebendo-se a importância das garantias criminais assim como da implantação
dos fundamentos da ideologia liberais":
AS BASES DA CONSTITUIÇÃO

• a trilogia da "liberdade, segurança e propriedade";

• a afirmação do princípio da liberdade;

• o princípio da culpa no Direito Penal;

• a proibição da prisão sem culpa formada;

• a garantia do direito de propriedade;

• as liberdades de opinião, de expressão e de imprensa;

• a humanização das penas, com a proibição das penas infamante;

• o direito de petição e o sigilo da correspondência.


AS BASES DA CONSTITUIÇÃO

• ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

• IV. Na Secção II, as Bases da Constituição afirmaram a nova organização política


constitucional, de acordo com os seguintes tópicos:

• 1- o carácter constitucional do sistema político, adoptando-se um texto


constitucional, com todas as consequências que lhe estavam associadas;

• 2- a introdução da monarquia constitucional, assim como da religião católica como


religião oficial do Estado Português;

• 3- a consagração da separação dos poderes, na concepção tripartida dos poderes


legislativo, executivo e judiciário;

• 4- o princípio da soberania nacional, conjugando-se a sua expressão com aqueles


diversos poderes.
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• Após mais de um ano de discussão, as "Cortes Gerais, Extraordinárias: e


Constituintes da Nação Portuguesa" aprovariam a C1822, com data de 23 de
Setembro de 1822596, oferecendo a seguinte sistematiza num total de 240 artigos:

• Título I — Dos direitos e deveres individuais dos portugueses

• Título II — Da nação portuguesa e seu território, religião, governo e dinastia

• Título III — Do poder legislativo ou das Cortes

• Título IV — Do poder executivo ou do Rei

• Título V — Do poder judicial

• Título VI — Do governo administrativo e económico


A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA CONSTITUIÇÃO DE 1822


• 1- O princípio democrático pois a soberania reside essencialmente na Nação (artº
26), só à Nação livre e independente pertence fazer a sua constituição ou Lei
fundamental, «sem dependência do rei» (art. 27.°), e a própria «autoridade do rei
provém da Nação» (art. 121.°);
• 2- o principio representativo, dado que a soberania só «pode ser exercitada pelos
seus representantes legalmente eleitos» e só aos deputados da Nação «juntos em
Cortes» pertence fazer a Constituição (arts. 26.°, 27.°, 32.°, 94.°);
• 3- o,princípio da separação de poderes (legislativo, executivo e judicial), «de tal
maneira independentes» «que um não poderá arrogar a si as atribuições do outro»
(art. 30.°);
• 4- princípio da igualdade jurídica e do respeito pelos direitos pessoais (cfr.,
sobretudo. arts. 3.° e 9.°).
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
• . Um dos grandes marcos a assinalar nesta primeira Constituição Portuguesa foi o
da proclamação de direitos fundamentais, na esteira da inspiração iluminista e liberal
que estimulou a Revolução de 1820.
• O conjunto de direitos, para além da sua consagração ao nível constitucional e de
um modo tipológico, tocava vários domínios, no âmbito do ideário liberal, a partir da
trilogia "liberdade, segurança e propriedade” sendo de elencar os seguintes direitos
enumerados:
• - a liberdade em geral, a segurança, a propriedade e o direito a indemnização no
caso de expropriação,
• - a proibição da prisão sem culpa formada,
• -a inviolabilidade do domicílio,
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• - a liberdade de expressão,

• - a liberdade de imprensa,

• - a proporcionalidade da pena e a proibição das penas desumanas ou infamantes,

• - a liberdade de acesso a cargos públicos,

• - a responsabilidade por erros de ofício e abusos de poder por parte dos


empregados públicos,

• - o direito a remuneração por serviços prestados à Pátria,

• - o direito de petição

• - a inviolabilidade da correspondência.
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• Era também possível deparar com mais alguns outros direitos fundamentais não
enumerados, ainda que do mesmo modo muito relevantes noutros lugares do texto
constitucional: o direito à cidadania e a liberdade de culto privado para
estrangeiros.

• Numa possível síntese dos grandes domínios em que estes direitos, fundamentais
inovaram em Portugal, cumpre referir estes como mais significativos:

• - a humanização do Direito Penal e do Direito Processual Penal;

• - a consagração do direito de propriedade, bem como da liberdade económica, na


esteira do liberalismo económico;

• -a abolição dos privilégios e a proclamação do princípio da igualdade formal;

• -o reconhecimento de liberdades públicas no domínio da opinião reunião e


associação;
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• a participação democrática na escolha dos parlamentares, em nome de uma ideia de


representação política.

• ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

• Verificou-se uma distribuição e separação de poderes através dos respectivos


órgãos:

• As Cortes

• O Rei

• Os Tribunais
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• . As Cortes, não obstante o nome plural, eram um órgão parlamentar unicameral,


exercendo os poderes legislativo e de fiscalização política numa base representativa
e com uma legislatura de dois anos.
• A sua designação era feita por sufrágio directo e universal dos cidadãos de acordo,
porém, com um sufrágio restrito, censitário e capacitário.
• Não podiam votar as mulheres, os menores de 25 anos, os filhos de família que
estivessem no poder e companhia dos pais, os criados de servir, os vadios.
• O Rei protagonizava o poder executivo e era na sua figura de órgão singular que se
desenvolviam aquelas competências,
• Contudo, o Rei não agia sozinho: o texto constitucional referia a existência de
Secretários de Estado, em relação aos quais atribuía poderes às Cortes para
realizarem a respetiva regulação
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• (GC) A Constituição de 1822 configura a monarquia como uma monarquia limitada.


Consagrando a soberania nacional e estabelecendo a separação de poderes, o texto
vintista não só acentua o carácter derivado da autoridade do rei (art.121.°: «A
autoridade do Rei provém da Nação»), como extrai os corolários lógicos da divisão
de poderes, definindo a competência do monarca de forma positiva e de forma
negativa.
• De forma negativa, ao estabelecer a proibição da ingerência do executivo no
legislativo e nos tribunais (cfr. art. 124.°).
• De forma positiva, o Rei é considerado como «Chefe de Estado» com as respectivas
atribuições (cfr. art. 123.°), e como chefe do Executivo (cfr. arts. 30.° e 157.° ss). No,
exercício desta última função, o Rei era assistido por secretários de Estado (arts.30.°
e 157.° ss), aos quais incumbiria a assinatura de «todos os decretos ou
determinações do Rei» (art. 161.°).
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• O rei era ainda auxiliado pelo Conselho de Estado, órgão de natureza consultiva, e
composto por treze cidadãos, eleitos para um mandato de 4 anos.

• Ele devia ser ouvido pelo Rei «nos negócios graves, e particularmente sobre dar ou
negar a sanção das leis; declarar a guerra e a paz e fazer tratados» (art. 167.°).
Competia-lhe igualmente propor ao Rei pessoas para os lugares da magistratura e
para os bispados».

• TRIBUNAIS
• Os tribunais, de diversas instâncias, reservavam o poder judicial numa concepção
estrita da sua independência, pois que "O poder judicial pertence exclusivamente aos
juízes. Nem as Cortes nem o Rei o poderão exercitar em caso algum. Não podem
portanto avocar causas pendentes; abrir as findas; nem dispensar nas formas de
processo prescritas pela lei».
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• Se bem que num tom bastante superficial, já havia a preocupação de se estabelecer


uma especialização funcional e hierárquica, avançando-se com algumas categorias
de juízes — juízes de facto e juízes letrados- e de tribunais — tribunais de primeira
instância, tribunais da relação e o Supremo Tribunal de Justiça, No plano da
fiscalização da constitucionalidade, tendo sido ela admitida como tal, vigorava um
sistema de fiscalização parlamentar, na prática ente ineficiente.

• UNIÃO REAL

• Quanto à forma do Estado, o texto constitucional de 1822 ainda seria sensível à


ligação com o Brasil, estabelecendo uma união real entre Portugal- com todos os
seus territórios ultramarinos — e o Brasil assim constitutucionalmente a
reconhecendo como Estado composto, bem evidente no facto de o respectivo
território formar "...o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves..."
A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• Esta primeira vigência da C1822 foi muito efémera, já que logo 1823, poucos
meses depois seria revogada pela "Vilafrancada", repondo –se com D. Miguel, a
ordem institucional pré-constitucional, só vigorando de 23 setembro de 1822 a 2 de
Junho de 1823.

• A C1822 teria posteriormente uma segunda vigência, depois da Revolução de 9 de


setembro de 1836, entre 10 de setembro de 1836 e 4 de Abril de 1838, nesta altura
entrando em vigor a C1838, concluídos os trabalhos da sua elaboração.

• É ainda de referir que este texto, em qualquer dessas duas vigência' jamais sofreria
qualquer alteração constitucional, ou mesmo qualquer aditamento.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• .O ambiente político-institucional em Portugal, claramente reforçado pela recente


proclamação da independência brasileira, não permitiu que a C1822 vigorasse muito
tempo, depressa se regressando à ordem pré-constitucional.

• Se é verdade, como se disse, que este texto constitucional era demasiado liberal
para o seu tempo, não é menos verdade que o tempo também já não era de Estado
pré-constitucional, tendo as raízes do Liberalismo, depois de feita a Revolução
Liberal, apreciavelmente frutificado.

• .Daí que tudo se conjugasse para uma solução de equilíbrio, mantendo-se uma
ordem constitucional, mas temperada de alguns excessos cometidos, na tentativa de
se fazer a "ponte" entre os legitimistas - encabeçados por D. Miguel - e os liberais -
chefiados por D. Pedro IV, entretanto imperador do Brasil.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• Foi assim que a C1826 nasceria num especial contexto de Restauração, numa linha
compromissória, reconhecendo-se que a C1822 tinha ido longe demais,
• A outorga régia do texto constitucional e as suas três vigências
• I. O resultado foi o da outorga de um texto constitucional, por D. Pedro IV, nome de "Carta
Constitucional para o Reino de Portugal, Algarves e Domínios", em 29 de abril de 1826, no
Rio de Janeiro, com a seguinte sistematização, num total de 145 artigos.
• A Carta tinha o desejo de reafirmar o poder real por isso não só não afirma o princípio da
soberania popular como ainda concede ao rei um importante papel: o rei continua como
supremo chefe do poder executivo e também passa a ser detentor do poder moderador. O
poder moderador foi uma novidade e passava a ser o 4º poder. Este poder dava ao rei a
possibilidade de: nomear os Pares, convocar as Cortes, dissolver a Câmara dos
Deputados, nomear e demitir o Governo, suspender os magistrados, conceder amnistias e
perdões e vetar (a titulo definitivo) as resoluções das Cortes. O poder legislativo foi
entregue às Cortes, que estavam divididas em duas câmaras: a dos Deputados e a dos
Pares. O poder judicial era composto por juizes e jurados.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• Título I — Do reino de Portugal, seu território, governo, dinastia e religião

• Título II — Dos cidadãos portugueses

• Título III — Dos poderes e representação nacional

• Título IV — Do poder legislativo

• Título V — Do Rei

• Título VI — Do poder judicial

• Título VII — Da administração e economia das províncias-

• Título VIII — Das disposições gerais e garantias dos direitos civis e políticos dos
cidadãos portugueses
A CARTA CONSTITUCIONAL

• Diferentemente do que se passaria com a C1822, este segundo texto constitucional


seria, aquele que mais tempo vigoraria no Portugal da Idade Contemporânea.

• Contudo, essa não foi uma vigência contínua, antes uma vigência encaixada em três
distintos períodos, em articulação com outros tantos acontecimentos político-
constitucionais:

• 1ª vigência: de 31 de julho de 1826 a 3 de maio de 1828;

• 2ª vigência: de 27 de maio de 1834 a 9 de setembro de 1836; e

• 3ª vigência: de 28 de janeiro —10 de fevereiro, oficialmente — de 1842 a 5 de


outubro de 1910.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• A primeira vigência correspondeu a um período de estabilidade inicial na sequência


do acordo celebrado entre liberais e legitimistas (apoiantes de D. Miguel), mas não
duraria muito tempo e que, a partir de 1828, seria quebrado, e Portugal entrado num
período de governo pré-constitucional, ao que se seguiu a guerra civil.

• A segunda vigência enquadrou-se no rescaldo da derrota dos legitimistas e da vitória


dos liberais, pondo termo àquela guerra civil, celebrada; na Convenção de Évora-
Monte, altura em que a Carta Constitucional seria reposta em vigor.

• A terceira vigência aconteceria depois do golpe de Costa Cabral, em que poria fim à
vigência da C1838 e, no momento, restauraria a vigência da C1826, desta feita
continuamente até à implantação da República em 1910.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

• A Carta manteve os direitos anteriormente previstos e acrescentou alguns:

• o princípio da não retroactividade das leis em geral,(art. 145 § 2)

• a abertura a uma limitada liberdade religiosa; ,(art. 145 § 4)

• a liberdade de deslocação e emigração;((art. 145 § 5)

• a necessidade da decretação da prisão por uma autoridade legítima; (art. 145 § 7)

• a independência do poder judicial e o princípio do caso julgado;(art. 145 § 11)

• a liberdade de trabalho e de empresa; e a defesa da propriedade intelectual. (art.


145 § 23)
A CARTA CONSTITUCIONAL

• A observação da C1826, através do Ato Adicional de 1885, permitiu verificar o


acréscimo de mais um importante direito: o direito de reunião, que até então faltava
na estrutura fundamental das liberdades públicas que constituíam o núcleo do
liberalismo político.

• 2. A novidade do poder moderador e a paulatina parlamentarização do sistema


político

• I. No plano da organização política, a C1826 manteve a orientação geral da


separação de poderes, dentro de uma concepção orgânico-funcional, mas com a
novidade, na esteira do pensamento político de BENJAMI CONSTANT, da introdução
do poder moderador' a cargo do rei divisando-se os seguintes poderes:
A CARTA CONSTITUCIONAL

• 1-o poder legislativo, para as Cortes;


• 2-o poder moderador e o poder executivo, para o Rei e os seus ministros;
• 3-o poder judicial, para os tribunais.
• II. As Cortes, desenvolvendo o poder legislativo, tinham uma estrutura bicameral,
com a Câmara dos Pares e a Câmara dos Deputados:
• a Câmara dos Pares era constituída por aristocratas designados pelo Rei, a título
vitalício ou hereditário;
• a Câmara dos Deputados era composta por parlamentares eleitos, num primeiro
momento indiretamente, mas depois através de sufrágio direto, para um mandato de
4 anos.
• O funcionamento das Cortes adequava-se a um sistema bicameral perfeito, em que
ambas as câmaras podiam intervir na aprovação dos diplomas, apesar de algumas
competências específicas serem atribuídas a cada delas.
A CARTA CONSTITUCIONAL

• . O Rei era titular de dois distintos poderes, o poder moderador e o poder executivo,
cabendo à dinastia da casa de Bragança:
• o poder moderador, de exercício individual, incluía a prática de atos necessários ao
equilíbrio do sistema político, como a dissolução da Cortes, a demissão dos ministros
ou o poder de veto;
• o poder executivo compreendia a prática de atos de administração, exercido pelos
seus ministros e secretários.
• Na economia dos poderes públicos, a proeminência cabia ao poder moderador, facto
que seria mesmo proclamado pelo texto constitucional: "O Poder Moderador é a
chave de toda a organização política, e compete privativamente ao Rei como Chefe
Supremo da Nação, para que incessantemente vele sobre a manutenção da
independência, equilíbrio e harmonia dos mais Poderes Políticos"
A CARTA CONSTITUCIONAL

• A actividade do rei era auxiliada pelo Conselho de Estado, órgão de consulta


composto por membros vitalícios por ele nomeados, com competência para serem
"...ouvidos em todos os negócios graves e medidas de pública administração,
principalmente sobre a declaração de guerra, ajustes de paz, negociações com as
nações estrangeiras; assim como em todas as ocasiões, em que o rei se proponha
exercer qualquer das atribuições próprias do poder moderador...".

• IV. Os tribunais exerciam o poder judicial, que "...é independente, e será composto
de Juízes, e Jurados, os quais terão lugar, assim no Cível como no Crime, nos casos
e pelo modo que os Códigos determinarem"'.

• A carreira da magistratura começava a ser constitucionalmente esboçado., ainda que


com numa linha de ambiguidade, com a outorga de várias garantias de
imparcialidade, mas ao mesmo tempo se aceitando o afastamento dos juízes por
prevaricação.
O CONSTITUCIONALISMO SETEMBRISTA E A CONSTITUIÇÃO DE 1838

• 84. A Revolução de 9 de Setembro de 1836

• I. A C1838 - ou, na sua expressão formal, a "Constituição Política da Monarquia


Portuguesa" - surgiu na sequência de uma revolução, que foi a Revolução de
Setembro, ocorrida em 9 de Setembro de 1836, a qual poria termo à segunda
vigência da C1826.

• (JM).A elaboração da Constituição

• A Constituição de 1838 resulta do acordo entre as Cortes e o Monarca. As Cortes,


eleitas com poderes constituintes, prepararam, discutiram e votaram a Constituição e
depois submeteram-na à Rainha, pedindo que a aceitasse. E esta, «achando que ela
deve ser promulgada como Lei Fundamental do Estado», resolveu jurá-la. A
aceitação e o juramento de D. Maria II não foram actos meramente formais como os
de D. João VI em 1822; foram actos de decisão política, corresponderam a sanção
em sentido próprio.
O CONSTITUCIONALISMO SETEMBRISTA E A CONSTITUIÇÃO DE 1838

• O texto de 1838 é dos mais aperfeiçoados, técnica e literariamente, dos textos


constitucionais portugueses.

• .Fontes e projecto

• I — A Constituição tem como fontes as duas Constituições anteriores, as


Constituições francesa de 1830 e belga de 1831, a Constituição brasileira e a
espanhola de 1837.

• Costuma dizer-se que representa uma síntese entre os textos de 1822 e 1826. Na
realidade, está mais perto do primeiro do que do segundo, porque reafirma a
soberania nacional, restabelece o sufrágio directo e elimina o poder moderador,
embora institua uma segunda Câmara (a Câmara dos Senadores) e aumente os
poderes do Rei em relação aos atribuídos pela Constituição de 1822.
O CONSTITUCIONALISMO SETEMBRISTA E A CONSTITUIÇÃO DE 1838

• II — A concepção de uma monarquia liberal, baseada na aliança do Rei e da


burguesia e à imagem do regime moderado de Luís Filipe em França, tal é o projecto
da Revolução de Setembro e da Constituição de 1838.

• Mas esse projecto não tinha ainda condições para se impor demoradamente e, cedo,
o Decreto de 10 de Fevereiro de 1842- golpe de Estado de Costa Cabral-
restauraria a Carta Constitucional. Viria a ser a Regeneração, nove anos mais tarde,
a fazer aquilo que poderia ter sido a função histórica do setembrismo: a pacificação
da sociedade portuguesa e a conciliação dos partidos desavindos, mas numa
perspectiva agora mais próxima de 1826 do que de 1822.

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