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Da Monarquia à República

Evaristo de Morais

A finalidade deste estudo é descrever o crescimento e desenvolvimento desse partido político, que
coroou de sucesso os seus esforços após 19 anos de empreendimento. Pág. 17

No estudo da história politica do Império um papel especial cabe aos partidos. Através deles
movimentou-se o parlamentarismo brasileiro. Pág. 19.

Conservadores e liberais representam os pratos da balança politica. Pág. 19.

Foi ainda no Império que surgiu o Partido Republicano. Pág. 19

Iniciando suas atividades em 1870, com o célebre Manifesto republicano, coube ao novo partido
exercer influência nos acontecimentos que precederam o 15 de novembro. Pág. 19

A atuação do Partido Republicano se fez sentir neste período, e sua influência foi sensível, de
significativa expressão não só política como social. Atuou através de alguns líderes de talento,
como, entre muitos outros, o seu próprio presidente, Quintino Bocayuva, que vindo do jornalismo
levou à campanha republicana sua palavra e sua ação eficiente. Pág. 20

Eles souberam dar ao novo Partido seu conteúdo nacional, sua significação não restrita a esta ou
aquela Província, mas de caráter geral, o que possibilitou o alastramento da idéia republicana. Pág.
20

A monarquia instituída, no Brasil em 1822, foi única na América. Apenas no México, com as duas
sérias tentativas feitas no tempo de Iturbide e Maximiliano, e no Haiti, onde os vários regimes
monarquistas constituíram tragicomédias, deu-se o caso de que outros povos americanos, ao
realizar a sua independência política, escolhessem a forma de governo monárquico. Pág. 23

O certo, porém, é que a presença dos membros da casa de Bragança no Rio de Janeiro foi a
condição sine qua non para o estabelecimento da monarquia no país. Quando, em 1821, a família
real — com exceção do príncipe herdeiro Dom Pedro, que ficara como regente — voltou a
Portugal, contava já o Brasil com a experiência direta de treze anos de instituição monárquica.
Pág. 23

E, sem dúvida, também as classes comerciais portuguesas por sua vez bem representadas nas
Cortes, forçaram a promulgação de leis criando barreiras comerciais que favoreciam a agricultura
portuguesa em detrimento da prosperidade e do comércio brasileiro. Pág. 24

Não parece que Dom Pedro, o príncipe regente, tivesse tentado aplacar ou atenuar a irritabilidade
dos brasileiros; agravou-a, pelo contrário, e colocou-se, então, à testa da facção independente.
Quando as Cortes, num decreto insolente e humilhante exigiram a sua volta a Portugal, ele hesitou,
recuou depois e finalmente, a 9 de janeiro de 1822, anunciou a sua determinação de permanecer
no Brasil. A 7 de setembro — a onda de sentimentos separatistas atingira a um grau impressionante
— ele proclamou simbolicamente a independência do país, e tornou-se o seu primeiro monarca
nacional. Pág. 24
As ideias republicanas estavam então no ar e influenciaram alguns brasileiros. Já em 1789, em
Minas Gerais, um certo número de conspiradores, encabeçados por Joaquim José da Silva Xavier,
mais conhecido por Tiradentes, admirador dos Estados Unidos — que por sua vez encontravam-
se sob a influência do pensamento francês contemporâneo — tinham esboçado vagos planos para
o estabelecimento de uma república independente. Pág. 25

A 2 de julho, como república independente, foi proclamada a Confederação do Equador, adotando


provisoriamente a constituição da Nova Granada. Pág. 26

Em 1831, pouco disposto a suportar por mais tempo a oposição, ele abdicava, em condições
dramáticas, em favor de seu filho menino que se tornou Dom Pedro II. Pág. 26

Até a fundação do Partido Republicano, em 1870 e a derrocada final do império, em 1889, a


revolução do Rio Grande foi a última ameaça séria e manifesta à monarquia. Pág. 27

Entretanto, o país punha mãos à tarefa de governar-se sob a constituição de 1824. O Parlamento
compunha-se do Senado cujos membros eram vitalícios e da Câmara dos Deputados, com
membros eleitos por períodos de quatro anos. As províncias eram representadas, em ambas as
casas, na base da população. O poder executivo era exercido pelo imperador, mediante um
conselho de ministros. O cargo de presidente do conselho, análogo ao do primeiro ministro
britânico, foi criado por decreto de 20 de julho de 1847. Pág. 27

O imperador podia exercer apenas um veto temporário sobre os atos do Parlamento. As


assembléias provinciais foram, a princípio, meros corpos consultivos, sendo as províncias
governadas por presidentes nomeados pelo imperador, por prasos indefinidos. O imperador foi
investido de um poder moderador, podendo usar dele em seguida à consulta do Conselho de
Estado, cujos membros, nomeados por ele, eram vitalícios. Sob o poder moderador, o imperador
podia nomear senadores escolhidos nas listas tríplices que lhe eram apresentadas, aprovar as leis
passadas pelo Parlamento, convocar, dissolver e prorrogar suas sessões, nomear e demitir ministros
de Estado, suspender magistrados, conceder perdões e anistias. O papel do imperador, sob a
constituição, era evidentemente de grande importância. Mudança significativa na Constituição foi
feita pelo Ato adicional de 1834, abolindo o Conselho de Estado, reduzindo o número de regentes
de três para um e concedendo poderes legislativos às assembléias provinciais. Esse Ato foi ainda
modificado a 23 de novembro, para permitir a restauração do Conselho de Estado. Pág. 27

A constituição sancionou um sistema de eleições indiretas. Nas eleições paroquiais, os


cidadãos que tivessem uma renda anual de cem mil réis ficavam habilitados a votar em eleitores
que por sua vez, votavam nos deputados provinciais, deputados gerais e senadores. Os requisitos
de propriedade para esses funcionários eleitos foram se tornando sempre mais elevados. No
primeiro período do império, as eleições baseavam-se principalmente nas províncias. As eleições
para senador diferiam das outras pois, os nomes dos três candidatos primeiros colocados, eram
apresentados ao imperador. O candidato sobre o qual recaia a livre escolha deste, de ordinário,
ainda que não necessariamente — era declarado eleito.
Faziam-se de vez em quando mudanças nas leis eleitorais e levantavam-se gradualmente
barreiras contra o sistema de corrupção. As primeiras melhorias importantes foram introduzidas
em 1842 e em 1846. A 15 de setembro de 1855, decretou-se novo sistema de representação nas
assembléias provinciais. As províncias passaram a ser divididas em distritos, dos quais cada um
elegia pelo menos dois membros para a assembléia local (8). Em 1875, o número de eleitores. por
paróquia, foi fixado em um para cada quatrocentos brasileiros. Nos casos em que se verificava um
excedente de um múltiplo de quatrocentos, permitia-se mais um eleitor, para cada grupo adicional
de cem pessoas (9). Havia ainda as cláusulas seguintes:
17. Para deputados à Assembléia Geral, ou para membros das
Assembléias Legislativas Provinciais, cada eleito, votará em tantos nomes
quantos corresponderem aos dois terços do número total marcado para a
Província. Se o número total marcado para a Província. Se o número
marcado para Deputados à Assembléia Geral e membros da Assembléia
Legislativa Provincial fôr superior ao múltiplo de três, o eleitor adicionará
aos dois terços um ou dois nomes de cidadãos, conforme for expediente.
18. Enquanto por lei especial não for alterado o número de
Deputados à Assembléia Geral, cada província elegerá na mesma proporção
ora marcada.
19. Nas que tiverem de eleger Deputados em número múltiplo de
três, cada eleitor votará na razão de dois terços; nas que tiverem de eleger
quatro Deputados, o eleitor votará em três nomes, e nas que tiverem de
eleger cinco Deputados, o eleitor votará em quatro. Nas Províncias que
tiverem de eleger somente dois Deputados, cada eleitor votará em dois
nomes (10).
Por decreto de 5 de julho de 1876, declarou-se que o país tinha 1.468 paróquias para fins de
votação e 24.637 (11).
Esse sistema continuou até a reforma eleitoral de 9 de janeiro de 1881, durante o Ministério
de José Antônio Saraiva, quando foram introduzidas as eleições diretas e a todos os cidadãos com
a renda anual de 200$000, foi concedido o direito de voto (12). Pág. 28 e 29

«O Poder Moderador pode chamar a quem quiser para organizar ministérios: esta pessoa faz a
eleição porque há de fazê-la; esta eleição faz a maioria. Eis aí o sistema representativo do nosso
país. Pág. 30

É difícil saber até que ponto se usou de fraude e pressão, para determinar os resultados da eleição.
Pág. 31

Referindo-se ao período imperial, escreve Oliveira Viana:


«Realmente, espírito político nunca existiu no Brasil. Entre nós a
vida política foi sempre preocupação e obra de uma minoria diminuta, de
volume pequeníssimo em relação à massa da população. O grosso do povo,
levando às urnas apenas pela pressão dos caudilhos territoriais, nunca teve
espírito público nem consciência alguma do papel que estava representando.
No Brasil como observava Luiz Couty, não existe povo, no sentido político
da expressão…
Em síntese: pela grande simplicidade de nossa estrutura social; pela
ausência de antagonismo de classes; pela feição acentuadamente patriarcal
de nossa sociedade, a «opinião do povo», sob o 2º Império, estava ainda em
condição muito rudimentar. O processo de sondagem por meio de eleições
não podia trazer, pois, ao imperador, nenhum elemento seguro de
orientação. Num povo sem educação eleitoral e de opinião assim
embrionária, o processo de «consulta à nação», próprio aos governos
parlamentares, estava realmente condenado a ser como sempre foi uma pura
ficção constitucional». (19). Pág. 32
Contudo, elas eram também um indício da influência dominante que os partidos exerciam sobre
porções do eleitorado, em vários períodos, enquanto durou a monarquia. Pág. 32

Os Liberais e os Conservadores eram os dois grandes Partidos do Brasil Império. Ambos


emanaram do caos da Regência, o Partido Liberal em 1831 e o Conservador em 1837 (20). Quando
Dom Pedro II subiu ao trono, em 1840, ambos os partidos estavam já bem firmes e continuaram a
existir, com algumas modificações, até a fundação da República, em 1889. Os Liberais e os
Conservadores alternaram-se no poder. Os liberais, de julho de 1840 a março de 1841; os
Conservadores, até fevereiro de 1844; os Liberais até setembro de 1848; os Conservadores até
setembro de 1853 e ambos conjuntamente, sob um governo de coalizão (a política de conciliação)
até maio de 1857; os Conservadores até maio de 1862, os Liberais até julho de 1868, os
Conservadores até janeiro de 1878, os Liberais até julho de de 1885, os Conservadores até junho
de 1889 e os Liberais até 15 de novembro de 1889. Pág. 32 e 33

«Em nosso país… os partidos não disputam o poder para realizar


idéias; o poder é disputado pelos proventos que concede aos políticos e aos
seus clans. Há os proventos morais, que sempre dá a posse da autoridade;
mas há também os proventos materiais, que essa posse também dá. Entre
nós a Política é, antes de tudo, um meio de vida: vive-se do Estado, como
se vive da Lavoura, do Comércio e da Indústria, e todos acham
infinitamente mais doce viver do Estado do que de qualquer outra coisa.
Num país assim, a conquista do poder é um fato inquestionavelmente mais
sério e mais dramático do que em outro país, em que os indivíduos vão ao
poder no intuito altruístico de realizar um grande ideal coletivo. Dai, a
áspera violência das famosas «derribadas». O partido que subia derrubava
tudo — quer dizer: sacudia para fora dos cargos públicos, locais, provinciais
e gerais, todos os ocupantes adversários; era uma vassourada geral, que
deixava o campo inteiramente limpo e aberto ao assalto dos vencedores»
(24). Pág. 34 e 35

Confundindo o imperador com o trono, amargurados por seus desastres pessoais, nos últimos anos,
os monarquistas, quase por despeito, apoiavam freqüentemente o Partido Republicano. Pág. 37

O Partido Republicano foi fundado no Rio de Janeiro, em 1870. Os seus primeiros membros
vieram da ala avançada do Partido Liberal (31). Pág. 38

O Partido Republicano era no início muito fraco e dirigia seus apelos a um país sem verdadeira
tradição política, sem contar mesmo com sentimentos bem desenvolvidos em favor do sistema
republicano de governo. Contudo, foi ganhando impulso, com o passar dos anos. Não, de certo,
devido às atrações do seu programa, mas antes graças ao advento de uma situação política que lhe
estimulava o crescimento. Durante os anos de 1871-1888, o movimento abolicionista encontrou a
oposição encarniçada dos grandes senhores de escravos que eram, em geral, conservadores,
homens de importância da política local e provincial. Quando, segundo mencionamos acima,
tornou-se evidente que o imperador apoiava o movimento e que seu próprio partido estava
inclinado a promovê-lo, com o objetivo de assegurar-se do poder ou de conservá-lo, os senhores
de escravos abandonaram a monarquia e voltaram-se para o novo partido revolucionário. Um
segundo fator, na situação política, foi a séria controvérsia entre a Igreja e o Estado, em 1872-
1875, que custou caro à monarquia, alienando-lhe as simpatias da Igreja. O terceiro fator foi uma
série de contendas entre as classes armadas e as autoridades civis, o que veio dar aos militares uma
certa razão para colocar-se à frente da revolução de 15 de novembro de 1889, que derrubou
finalmente o regime. O último fator, que se desenvolveu já no fim do império, causado pela
desmoralização dos dois partidos tradicionais, foi a falta de lealdade para com a monarquia. Pág.
39

A facilidade com que se realizou essa revolução não significa, de certo, que a maioria dos
brasileiros politicamente conscientes tivessem aderido às fileiras republicanas, por volta de 1889.
Pág. 39

Mas, em novembro desse mesmo ano, os membros dos dois partidos tradicionais tinham perdido
a fé no sistema que se presumia representarem, e, abandonando a lealdade à monarquia, passaram
a interessar-se mais pelo poder do que pela perpetuação do regime (32). Pág. 40

Mesmo Dom Pedro II nada podia fazer. Pág. 40

Dava a impressão de acreditar que a república seria o governo do futuro. Pág. 40

A família imperial conduziu-se com grande dignidade, mas perdeu o trono. Pág. 40

O movimento republicano no Brasil, que culminou na derrocada da monarquia, em 1889, começou


oficialmente na cidade do Rio de Janeiro, em 1870, com a fundação do Clube Republicano, a 3 de
novembro e a publicação de um manifesto, a 3 de dezembro. Pág. 41

Quintino Bocayuva, nascido Ferreira de Sousa, não era antes de 1870, amplamente conhecido
como figura política. Era dramaturgo e publicara várias obras de crítica à monarquia, porém era
mais conhecido como jornalista. Durante a guerra do Paraguai, foi correspondente na Argentina,
onde se tornou abertamente republicano. Depois de 1870, fez parte de jornais republicanos e semi-
republicanos. Como diretor de O País, tornou-se o mais importante jornalista do Brasil. Depois da
queda do império, tomou parte mais saliente na política e ocupou vários cargos importantes.
Ministro das Relações Exteriores do primeiro Governo Republicano, Senador pelo Estado do Rio
de Janeiro, Presidente desse Estado, Vice-Presidente do Senado Federal. Pág. 44

Esses sócios fundadores eram, Joaquim Saldanha Marinho, Aristides da Silveira Lobo, Cristiano
Benedito Otoni, Flávio Farnese, Pedro Antônio Ferreira Viana, Lafayette Rodrigues Pereira,
Bernardino Pamplona, João de Almeida, Pedro Bandeira Gouveia, Francisco Rangel Pestana,
Henrique Limpo de Abreu, Augusto César de Miranda Azevedo, Elias Antônio Freire, Joaquim
Garcia Pires de Almeida, Quintino Bocayuva, Joaquim Maurício de Abreu, Miguel Vieira Ferreira,
Luiz Vieira Ferreira, Pedro Rodrigues Soares de Meireles, Júlio César de Freitas Coutinho, Alfredo
Moreira Pinto, Carlos Americano Freire, Jerônimo Simões, José Teixeira Leitão, João Vicente de
Brito Galvão, José Maria de Albuquerque Melo, Gabriel José de Freitas, Joaquim Heliodoro
Gomes, Manuel Marques da Silva Acauan, Francisco Leite Bittencourt Sampaio, Salvador de
Mendonça, Eduardo Batista Roquette Franco, Manuel Benício Fontenelle, Felix José da Costa e
Sousa, José Lopes da Silva Trovão, Antônio Paulino Limpo de Abreu, Macedo Sodré, Alfredo
Gomes Braga, Manuel Marques de Freitas, José Jorge Paranhos da Silva e Emílio Rangel Pestana.
Pág. 46 e 47

Depois da primeira tiragem de 1871, o formato até então pequeno de A República, foi ampliado e
em setembro desse mesmo ano, o jornal tornou-se diário, com uma circulação de 2.000
exemplares. No fim do ano a distribuição de A República, estendeu-se do Rio a Alagoas,
Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. A maioria dos agentes da província
eram membros eminentes do Partido. Pág. 47 e 48
Ao assumir Bocayuva a direção do jornal, este deixou de ser o órgão do Partido Republicano,
tornando-se propriedade particular. Pág. 48

Bocayuva pertencia ao grupo de republicanos moderados, que nem sempre viam com bons olhos
os radicais dirigidos por Aristides Lobo. Pág. 48

Em janeiro de 1875 fundava-se o Clube Republicano Federal, tendo como presidente Augusto
Fomm e sendo secretário Pompílio de Albuquerque, para substituir o extinto Clube de 1870. Pág.
51

«A bandeira a que se aludiu não era, portanto uma bandeira


republicana; nenhum lema, nenhum símbolo, nenhuma alusão dava-lhe este
caráter.
Era pura e simplesmente um pano, com as cores nacionais, cores
(sic) que como dissemos, em um dos manifestos, nos pertencem também,
como brasileiros que somos.» (38). Pág. 55

A República, o primeiro órgão oficial do Partido Republicano no Brasil, era sem dúvida alguma,
um grande jornal, mas pela sua própria natureza, não podia exercer senão uma influência muito
restrita numa cidade tão monarquista como era o Rio. Pág. 57

Quintino Bocayuva tinha sido a força propulsora, atrás do primeiro jornal e Aristides Lobo, que
não igualava Bocayuva, como jornalista, encontrava-se atrás do segundo. Pág. 58

Nos anos de 1877-1878, o Partido Republicano, especialmente no Rio de Janeiro, atingiu o ponto
mais baixo de sua história, em parte porque perdera alguns dos seus membros mais importantes,
tais como C. B. Ottoni, e Lafayette Rodrigues Pereira, os quais tornaram a ingressar nas fileiras do
Partido Liberal. Tentando deter essas deserções, os republicanos mais radicais, tendo à frente
Aristides Lobo, assinaram, em 1877, dois Termos de compromisso e adesão, um a 20 de setembro
e outro a 27 de outubro, nos quais hipotecavam seu apoio ao Manifesto de 1870. Entre os
signatários mais notáveis encontravam-se Lobo, Miranda Azevedo, José Carlos do Patrocínio,
Antônio Justiniano Esteves Junior, Pedro Antônio Ferreira Viana, João Clapp, Demétrio Nunes
Ribeiro, Miguel Lemos, Raimundo Teixeira Mendes, Bocayuva, Francisco Cunha, Lopes Trovão,
Francisco de Paula da Silveira Lobo (o senador por Minas Gerais), Jose Nápoles Teles de Meneses
e José Tomás Porciúncula (52). Para alguns dos signatários, foi essa a primeira profissão oficial
de fé republicana e também o início de carreiras vantajosas. José Carlos do Patrocínio e João Clapp
tornaram-se chefes, tanto no movimento republicano como no abolicionista, Demétrio Nunes
Ribeiro veio a ser importante líder do Partido, no Rio Grande do Sul, Miguel Lemos e Teixeira
Mendes foram os fundadores da Igreja Positivista ortodoxa no Brasil e à sua maneira, contribuiram
para espalhar o republicanismo. Pág. 58 e 59

A queda do governo conservador, em 1878, e a subida do Partido Liberal, pela primeira vez em
dez anos, constituíram outra rude prova para os republicanos. Um dos fatores que contribuíram
para a formação do Partido Republicano, em 1870, era a desilusão e a repulsa que sentiram os
liberais mais radicais, quando o seu Partido foi bruscamente apeado do poder, pelo imperador, em
1868. Pág. 60

O Partido enfrentava um dilema: tinha de apegar-se ao ideal de uma república como objetivo
imediato, e recusar a colaboração com os liberais, ou então trabalhar com amigos e ex-aliados
políticos, em prol das reformas advogadas por ambos os partidos. Para os republicanos a segunda
alternativa significava o sacrifício da república. Pág. 61

No dia do Ano Novo de 1880, verificaram-se no Rio sérios distúrbios incitados por um dos mais
violentos agitadores republicanos. Em outubro, por intermédio de Afonso Celso, então ministro
das Finanças, o governo impusera uma taxa de 20 réis nas passagens de bonde — o imposto de 1
de janeiro de 1880. José Lopes da Silva Trovão, então diretor de A Gazeta da Noite e cujos
discursos inflamados não encontravam aprovação em alguns círculos republicanos, sublevou o
povo contra a nova taxa e num comício realizado dia de Ano Novo, aconselhou-o a não pagá-la.
Incitada, a populaça começou a subir nos bondes, a atacar os motorneiros e condutores e a arrancar
os trilhos. Essas violências continuaram até 4 de janeiro, a despeito dos esforços da polícia.
Armando-se, a populaça levantou barricadas numa das ruas da cidade. Numa escaramuça
morreram três pessoas, ficando feridas vinte oito, após o que, intervieram as forças armadas.
Dessas desordens resultaram a queda do gabinete e a abolição do imposto (67). Naturalmente
Lopes Trovão tornou-se herói popular mas o republicanismo em si não representou nenhuma parte
nos distúrbios. Pág. 64

O Partido participou ainda de quatro eleições diversas, em 1886. No começo do ano, concorreram
às eleições para a Câmara dos Deputados — sem contudo obter êxito — Quintino Bocayuva,
Ubaldino do Amaral e José do Patrocínio. Nas eleições para vereador, Ubaldino do Amaral,
Esteves Junior e José do Patrocínio apresentaram-se pela chapa republicana. Somente Patrocínio
foi eleito, porém, sendo também candidato da poderosa Confederação Abolicionista, da qual era
membro a sua eleição não podia ser considerada como uma vitória republicana. Pág. 69

(87) Em agosto, Aristides Lobo descrevia o partido nos seguintes termos: «Aqui, na Corte, o
partido é pouco coeso, pouco disciplinado, pouco governamental, sem dúvida, mas o que não
temos são ilegítimas ambições». O Diário Popular, 31 de agosto de 1885. Pág. 69

José do Patrocínio, que trabalhara longa e apaixonadamente pela emancipação da sua raça,
abandonou os republicanos, tornando-se monarquista, a fim de dar o seu apoio à princesa imperial,
que forçara o governo a destruir a escravidão. Pág. 72

A abolição encontrou o Partido, no Rio, inteiramente desorganizado. Passando em revista a


situação, para os leitores de São Paulo, Aristides Lobo escreveu:
«... É triste ver a atitude indiferente, quase nula, em que se acha o
partido republicano da Corte perante os fatos eloqüentíssimos que se
desdobram aos olhos do país. Formado sobre as areias quentes do mar,
crescido à sombra deliciosa das palmeiras imperiais, lânguido, indolente
como uma tartaruga, ele não se move, adormecido entre as altas montanhas
que guardam esta cidade portuguesa de sua alteza a Regente.
Ele não assume a si, como lhe compete pelo direito ainda pernicioso
da centralização intelectual, de que goza o Rio de Janeiro, ele não assume,
repetimos, a direção do espírito democrático, porque não pode contar com
as forças da cidade do rei, republicanas embora contudo viciadas, sem
disciplina, insurgidas, quase áulicas, quase monárquicas.
Ele espera, ele — o republicano fluminense, uma nova festa do
vintém para aproveitar a onda do povo e a emoção dos capoeiras no sentido
de abater o trono… (sic)
E entre esses sonhadores, que poderão fazer um ou outro Saldanha,
ou Quintino, ou Ubaldino do Amaral, ou Aristides Lobo, palmeiras isoladas,
na calma enervante do deserto, grandes solitários no anel de niquel ordinário
da república fluminense?» (99). Pág. 72

Excetua-se uma ocasião em que a Guarda Negra — organização de ex-escravos que agora
advogavam a causa da princesa imperial — interrompeu um comício no qual devia falar Silva
Jardim (104). Pág. 73

Por esses resultados podemos avaliar a votação total republicana na cidade como sendo um pouco
mais de um sétimo do total, percentagem de modo algum substancial, quando se considera que a
república seria implantada dentro de dois meses e meio. Por ocasião da queda da monarquia, a 15
de novembro. Pág. 75

A despeito da deficiência numérica, a liderança do Partido. na capital era excelente. Todos os


sucessos obtidos no Rio, nos anos de 1870-1889, foram devidos aos esforços de alguns homens,
cada um dos quais, à sua maneira, contribuiu para o aumento do republicanismo numa cidade na
qual todas as vantagens estavam do lado da monarquia. Pág. 76

(115) A República Brasileira havia sido fundada recentemente. Felício Buarque, Origens
republicanas, estudos de gênese política em refutação ao livro do Sr. Afonso Celso, O Imperador
no exílio (Recife, 1894), pp. 82-83, enumera nove periódicos republicanos. em 118. Contudo,
inclui os que eram oficialmente não-partidários e outros, monarquistas, A Revolução, de Minas
Gerais, 23 de agosto de 1889, cita apenas três. Pág. 76

Saldanha Marinho (...), Aristides Lobo (...), Quintino Bocayuva (...), Lopes Trovão (...), Silva
Jardim (...), Ubaldino do Amaral (...). Pág. 76 e 77

O fato de que esses republicanos jamais tivessem ganho uma eleição importante era de esperar,
visto que a presença da corte, do governo e dos negócios, com o conseqüente interesse pela
conservação do statu quo, faziam do Rio de Janeiro, em todo o Brasil, o lugar menos indicado para
a realização de um movimento revolucionário triunfante. O Rio aceitou depois o fait accompli,
mas não tomou parte na revolução. O movimento foi importante no Rio de Janeiro, porque essa
cidade tinha sido o berço e o centro intelectual do republicanismo no Brasil. Ali os representantes
de todas as províncias vieram finalmente reunir-se para edificar um Partido unido. Foi ali que se
fizeram os maiores chefes e jornalistas republicanos do Brasil e foi ali também que se plantaram
as sementes do republicanismo nos partidos monárquicos. Pág. 77

Embora distintas do ponto de vista administrativo, a província e a cidade do Rio de Janeiro estavam
contudo estreitamente ligadas. Pág. 77

Em 1872, fundou-se em Niterói o jornal O Nacional (116). Quatro anos mais tarde, por meio dos
esforços de Francisco Portela, apareceu em Campos um semanário, A República (117). Pág. 77 e
78

O fato mais importante foi o aparecimento, em 1883, de A República, bi-semanário, órgão de um


Clube Republicano, de Paraíba do Sul (121). Pág. 78

De fato, o Partido era muito pequeno e só pôde destacar-se em eleições municipais, como as de
1886, quando elegeu dois vereadores e quatro juízes de paz em Petrópolis, um vereador, em Rio
Bonito, outro em Magé, e ainda um terceiro em Paraíba do Sul (125). (O Partido de Paraíba do
Sul, sob a direção de Luiz dos Santos Werneck, era talvez o mais forte da província). Pág. 78 e 79
Papéis de Saldanha Marinho, XII. Pág. 79

O maior progresso foi alcançado depois da abolição, e em 1888, quando numerosos senhores de
escravos aderiram ao Partido Republicano. É interessante notar que freqüentemente havia
deputados provinciais que abandonavam os monarquistas, mas conservavam suas cadeiras. Essas
conversões não eram incomuns no Brasil, porém na província do Rio eram mais freqüentes do que
em qualquer outra parte. Significativas eram também as alianças com os partidos monarquistas. A
aliança com os liberais foi de longa duração. Esses saltos de um partido para outro continuaram
até muito depois de terem os republicanos da capital rejeitado qualquer afiliação, em 1888. A
afiliação aos conservadores sobreveio apenas depois da abolição e ajudou materialmente o rápido
avanço de 1888. Porém mesmo depois de assegurar-se de mais de um quarto do eleitorado, o
Partido não atingira ainda uma situação política proeminente, antes da revolução de 15 de
novembro de 1889. Pág. 82

A província de São Paulo - hoje a mais importante área do Brasil - não atingiu durante a monarquia,
a proeminente posição política e econômica de que desfruta. Para a história do republicanismo, ou,
mais propriamente, para a história do Partido Republicano, durante o período de 1870-1889,
porém, São Paulo é a mais importante das províncias brasileiras. Em São Paulo, durante aqueles
anos, o Partido republicano desenvolveu-se de maneira excepcional, e ademais, foi essa a única
província a ter um «front» unificado, desde os primeiros anos do movimento. Pág. 83

(1) Américo de Campos foi um dos mais eminentes jornalistas republicanos da época. Era nesse
tempo diretor de O Correio Paulistano e iria ligar-se ao jornalismo republicano, por toda a duração
do império. Estava também na vanguarda do movimento abolicionista, dentro do Partido
Republicano. Ver Santos, op cit. passim. Pág. 83

Em Itu, o Clube Republicano, recém-formado, publicou a 10 de setembro, um manifesto de adesão


assinado por oitenta membros (9). Pág. 84

Entre as mais importantes, encontram-se as de Rio Claro, onde setenta e três pessoas assinaram
um manifesto, em seguida a um comício no qual falou Manuel Ferraz de Campos Salles (11). Pág.
84

(11) Ibid., 18 de janeiro de 1872. Campos Sales foi um dos mais eminentes republicanos. No
período imperial foi deputado provincial e um dos dois republicanos paulistas eleitos para a
Câmara dos Deputados. Veio a ser mais tarde presidente da República. Pág.84

(21) O nome Prudente de Morais Barros, irmão de Manuel, futuro deputado e presidente da
república, é também encontrado na lista dos delegados. Isso contudo parece um acréscimo feito
depois. Prudente de Morais Barros não estava presente à reunião, nem era republicano nessa época.
Ver, Silveira Peixoto, A tormenta que Prudente de Morais venceu! (2ª ed., São Paulo, 1942), p.
21. RR., 5 de dezembro de 1871, cita Prudente de Morais como seu agente na cidade de
Constituição. Pág. 87

A 19 de maio de 1876 surgiu em São Paulo outro periódico importante. Era A República, o órgão
do Clube Republicano dos estudantes da Escola de Direito que sendo, havia muito, uma fortaleza
do republicanismo, vira já outros jornais republicanos, efêmeros embora. Pág. 92
A República, pelo contrário, atravessou todo o período de agitação republicana, embora aparecesse
às vezes com longos intervalos. Pág. 92

E, o que é mais importante, serviu como campo de instrução aos futuros redatores da imprensa
republicana permanente. Entre os eminentes chefes republicanos e jornalistas que trabalhavam
então na sua redação, contam-se Adolfo Gordo, Lúcio de Mendonça, Magalhães Castro, Afonso
Celso Junior, Caio Prado, Sampaio Ferraz, Valentim Magalhães, Julio de Castilhos, Aristides
Maia, Alberto Sales, Julio de Mesquita, Xavier da Silveira, Alberto Torres e Rivadávia Corrêa
(40). Pág. 92 e 93

A República jamais apegou-se a uma ideologia republicana contínua e uniforme, mas variava, de
acordo com as tendências individuais de seus vários redatores. Era «evolucionista», quando
advogava a consecução da república por meio de processos eleitorais; conservadora, quando
tentava uma aproximação com os estudantes ultramontanos: altamente inflamada e revolucionária,
quando advogava a causa da república pelos meios que propunham os adeptos de Augusto Comte
e separatista, quando pregava a separação de São Paulo do resto do Brasil. Mas, apesar dessa
constante mudança de ênfase, o seu cerne republicano permanecia o mesmo. Pág. 93

Em 1876, o partido concorreu às eleições municipais, alcançando alguns êxitos, entre os quais a
eleição de Prudente de Morais Barros, de Piracicaba, para o Conselho Municipal. Pág. 93

Alguns, principalmente Afonso Celso Junior e Caio Prado, deixaram o partido e se tornaram
monarquistas. Pág. 93

As eleições foram realizadas a 15 de agosto e havia três republicanos, entre os trinta e seis
candidatos de maior êxito: Prudente de Morais, em 27º lugar, com 533 votos, Martinho Prado
Junior, no 28º, com 521 votos e Cesário Nazianzeno, 34º, com 451 votos. Pág. 96

A eleição dos três republicanos para a Assembléia Provincial foi a primeira vitória tangível que o
partido alcançou em todo o Brasil. É preciso contudo lembrar aqui que dois dos candidatos tinham
também concorrido na chapa liberal e que um deles declarava publicamente que a política não
ditaria seus atos na Assembléia. O terceiro candidato vitorioso. que provinha de uma família
poderosa na política, tivera também forte apoio liberal. Pág. 97

Em suma, as vitórias eleitorais não eram um índice claro de força. Para obter êxito, o Partido
Republicano dependia dos votos dos partidos monarquistas; a sua linha não fora ainda rigidamente
demarcada (54). Pág. 97

A atitude assumida pelo partido, em São Paulo, foi, julgamos, a grande contribuição de São Paulo
à causa republicana no Brasil. A convenção de Itu vem sendo considerada de há muito como o
mais importante acontecimento da vida republicana, em São Paulo. A famosa convenção foi sem
dúvida a primeira tentativa frutífera para a formação de um partido, em escala provincial, mas
constituiu apenas a primeira fase de crescimento desse partido, que não o era ainda senão em nome.
Os acontecimentos de março de 1878 definiram mais acentuadamente o Partido Republicano,
separando-o dos liberais. Pág. 99

É evidente que em algumas áreas, o Partido já se encontrava em condições de influir numa eleição.
Ia-se tornando uma força com a qual os outros partidos tinham de contar. Pág. 103
(78) Segundo outra estimativa, havia 902 republicanos. PSP., 25, 27, 29, 30 e 31 de março, 3, 13,
3, 19 de abril, 4, 25 e 28 de maio, de 1881. Nas seguintes cifras, o primeiro número representa os
republicanos, o segundo os liberais e o terceiro os conservadores. Os números entre parênteses
representam outras estimativas: Campinas, 230, 200, 131; Amparo, 122, 160, 95; Rio Claro, 118,
78, 90; Casa Branca, 34, 80, 105; Araras, 40, 10, 40; Limeira, 10, 90, 50; (6, 89, 39); Capivari, 35,
80, 20; Porto Feliz, 17, 44, 40; Mogi-Mirim, 10, 100, 135; São Simão, 15, 35, 90 (8, 22, 24);
Ribeirão Preto, 23, 15, 100; Atibaia, 10, 75, 50; Tieté, 16, 110, 47; Cunha, 1, 134, 50; Socorro, 5,
58, 50; Nazaré, 0, 21, 20; Campo Largo, 0, 20, 0; São João da Boa Vista, 30, 55, 60; 46, 66, 96;
São José dos Campos, 3, 86, 65; Piracicaba, incluindo São Pedro e Santa Bárbara, 58 (41), 59,
103; Mococa, 19, 49, 69; Cajuru, 3, 42, 92; Batatais, 4, 44, 112; Franca e Fregueses (?), 20, 155,
260; Botucatu, 41, 79, 51; Santa Bárbara, 11, 11, 11. Pág. 104

Além disso, nem todos os conservadores mostravam-se gratos. Em maio de 1882, João Mendes de
Almeida, chefe dos conservadores dissidentes de São Paulo Pág. 108

Paulo atacara impiedosamente os conservadores que se aliavam aos republicanos:


«Quem acreditaria que conservadores, cujo programa é defender as
instituições constitucionais, poderiam fazer aliança com republicanos, cujo
programa é destruir essas mesmas instituições ? São homens com duas
almas: a aliança é notória; os fatos eleitorais, desde 1876, a afirmam;
somente cegos a não vêem.
Não é raro ouvir negar ou contestar essa aliança. Contestando ou
negando-a, logram manter adesões de muitos conservadores de boa fé. É
certamente uma perfídia; mas o que eles querem é apenas o sucesso, nada
mais. Se confessassem a aliança, os sinceros monarquistas os
abandonariam; e este abandono prejudicaria os seus planos de dominação
exclusiva. Vivem identificados nas urnas, mas ostentando ao mesmo tempo
um simulacro de combate por idéias contrárias, quer na imprensa, quer na
tribuna» (99). Pág. 109

Com o auxílio dos conservadores o Partido Republicano pôde levar avante a eleição no 7º distrito,
onde Campos Sales alcançou 875 votos, contra os 670 do seu oponente liberal (124) e no oitavo,
onde Prudente de Morais alcançou 711, contra os 537 do candidato liberal (125).
A aliança com os conservadores foi profundamente significativa. Pela primeira vez, na sua história,
o Partido Republicano elegeu deputados à Câmara. Ambos os deputados haviam sido eleitos com
o auxílio dos conservadores. Pág. 113

A 11 de maio de 1885, Prudente de Morais explicou-o nas seguintes palavras:


«Trabalhando para estabelecer e formar a república pela eliminação
da monarquia, desde que não aceitamos a revolução como meio, ao menos
por enquanto, é nosso dever representar as funções públicas como
cooperadores de reformas, que operem, por partes, essa eliminação.
«Portanto, Sr. Presidente, os deputados republicanos não pertencem
à maioria nem à oposição governamental, não apóiam nem combatem
governos, não disputam o poder do atual regime… Os deputados
republicanos reservam-se o direito de apreciar os atos e as propostas do
governo e de seus colegas da Câmara e de aceitá-los ou rejeitá-los, como
melhor lhes parecer no desempenho escrupuloso de seu mandato de
representantes da nação. Esta será a nossa norma de conduta. Pág. 114

(128) Anais da Câmara, 1885, III, 25-26. Apesar desses começos promissores, nem Campos Sales
nem Prudente de Morais distinguiram-se na Câmara. Do primeiro, disse o seu colega Afonso
Celso: «Seus discursos, recheados de cifras e referências e relatórios e outros documentos oficiais,
demonstravam aplicação, espírito analítico, seriedade; mas quão compridos, quão monótonos. Em
última análise, anódinos, deles nenhum dano resultou para a Monarquia. Prudente foi escutado
com atenção até ao meio do primeiro discurso. Do meio para o fim houve debandada. Perseverou
limitado número de auditores. Celso, op. cit., p. 100. Pág. 115

Nas eleições anteriores, os republicanos tinham sido eleitos com o auxílio dos conservadores, aos
quais por sua vez, haviam apoiado, agora, porém, os conservadores não tinham motivo para
auxiliar os republicanos, uma vez que na primeira eleição haviam conquistado todas as cadeiras,
com exceção de duas. Pág. 118

O ano de 1888 foi importante para o Partido Republicano da província de São Paulo. No início, o
partido tivera de enfrentar o problema que surgira, quando os vereadores de São Borja (Rio Grande
do Sul), enviaram ao governo da província uma petição solicitando uma convenção constitucional,
para regularizar a questão da sucessão no trono. Pág. 122

Os meses que se seguiram à abolição constituíram um período de grande atividade para o Partido.
Ademais, suas fileiras tinham sido engrossadas com a adesão de um grande número de ex-senhores
de escravos, agora despeitados com a monarquia. O manifesto do Partido, de 1888, marcando a
princesa Isabel como alvo para a futura ação, atraiam aqueles que haviam ficado mal satisfeitos ou
desapontados com a princesa. Sem dúvida, tudo isso explica o crescimento do Partido
Republicano. Pág. 125

No momento da queda da monarquia, a 15 de novembro, apenas São Paulo, entre todas as


províncias brasileiras, possuía uma tradição de republicanismo completo. Desde os inícios do
movimento, em Itu, no ano de 1873 até as eleições para a Câmara dos Deputados, em 1889, os
republicanos haviam progredido de maneira firme, uniforme. Pág. 128

Na questão da escravidão, o Partido servia para tudo e para todos, pois acolhia gente de todos os
matizes. Pág. 128

O Partido Republicano estava sempre pronto para transigir, em outras questões, a fim de promover
a causa da República.
Os chefes republicanos de São Paulo salientavam-se pelo fato de serem essencialmente políticos.
Pág. 128

Durante o período de propaganda republicana, Minas Gerais era talvez a província mais importante
do Brasil, e também a província de tradição republicana e liberal mais antiga e mais nitidamente
definida. Pág. 131

Ao mesmo tempo, vários jornais importantes converteram-se ao republicanismo declarado. Destes,


o mais importante era O Jequitinhonha, semanário de vasta reputação no Brasil, editado em
Diamantina sob a Direção de Joaquim e Antônio Felício dos Santos. Pág.131 e 132
Antes de 1870, algumas pessoas haviam advogado a causa de uma forma republicana de governo,
mas suas atividades se tinham gasto dentro do Partido Liberal. Esse fenômeno explica-se pelo fato
de que não havia, antes de 1870, Partido Republicano, propriamente, e também pelo caráter dos
próprios partidos políticos brasileiros, formados de caudilhos e de seus seguidores que tinham mais
ou menos as mesmas crenças políticas. Pág. 132 e 133

Nesses anos de formação, o Partido tinha, em Minas Gerais, três núcleos importantes: Diamantina,
Juiz de Fora e Campanha Pág. 133

O mais forte princípio da plataforma republicana era talvez o federalismo, que teria dado virtual
independência às províncias. A atitude dos republicanos de Minas Gerais indica tanto a fraqueza
do Partido, em sua província, como também o prestígio que o Partido de São Paulo havia alcançado
nos círculos republicanos brasileiros. Pág. 133

Lúcio de Mendonça representava o novo tipo de republicano: doutrinário, intransigente, inflexível.


Recusava sacrificar a doutrina ao prestígio e poder político, quer para si, quer para o Partido. Pág.
135

Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (15) , filho do Visconde de Ouro Preto — o último
primeiro ministro do império — é hoje raramente mencionado como republicano. É pelo contrário
considerado como o expoente de destaque e defensor do sistema monárquico no Brasil republicano
e o chefe do laicismo católico. Contudo, nos primeiros anos de sua carreira, Afonso Celso foi
republicano e um republicano de brilhante futuro no Partido. Foi deputado republicano pela
província de Minas Gerais, durante vários anos, e também representante destacado do tipo de
republicanismo tão espalhado na sua província. Sem ter sido jamais doutrinário ou crente
apaixonado das teorias liberais do século passado, como tantos republicanos brasileiros, era antes
advogado declarado do que se pode chamar o republicanismo evolucionista, isto é, considerava a
forma republicana de governo e a democracia como sendo a derradeira meta da vida política
brasileira. Mas, ao mesmo tempo, achava que esse objetivo devia ser alcançado vagarosamente,
por meio de uma evolução incessante, da parte da monarquia, nesse sentido. A república não devia
pois ser alcançada por meio de revolução imediata. Afonso Celso considerava o Partido Liberal,
dentre os meios existentes, como sendo o mais eficiente para a consecução da desejada forma de
governo. Pág. 135 e 136

Em muitos distritos eleitorais no Brasil, o apoio de um chefe político equivalia à eleição. Pág. 136

Em junho de 1885, tanto Lúcio de Mendonça como O Colombo despareceram da cena política de
Minas Gerais. Por motivos pessoais, Lúcio de Mendonça deixou São Gonçalo, transferindo-se para
Valença na província do Rio de Janeiro e continuou ali as suas atividades. Quanto a O Colombo,
depois de dez anos de existência, durante os quais se tornara conhecido como o jornal líder da
imprensa republicana no Brasil, cessou a publicação, a 11 de junho desse mesmo ano. Embora de
circulação limitada, era O Colombo um dos mais belos expoentes da imprensa republicana no
Brasil. Jamais atingiu, é certo, a importância de A República ou A Província de São Paulo, mas
por meio dos artigos e da política de Lúcio de Mendonça, ficou conhecido como sendo o órgão
republicano que nunca se desviou das doutrinas do Partido e sempre tergiversou em comprometer-
se, em troca de proveitos políticos imediatos. Graças à severidade de Mendonça e do proprietário,
Manuel de Oliveira Andrade, o Partido Republicano, nessa área de Minas Gerais, tornou-se
geralmente respeitado e alcançou êxito na difusão da causa republicana. Pág. 142 e 143
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, ex-deputado pelo 7º distrito, abalado, conforme declara, pela
decadência dos partidos monarquistas, anunciou que não somente decidira abraçar o
republicanismo, como também que iria dedicar-se à organização do partido, no seu próprio distrito,
onde era chefe influente (38). Pág. 143

(...) as candidaturas não tinham sido lançadas com esperanças de vitória, mas antes para promover
disciplina e ordem no Partido, na província. Pág. 144

Além disso, um dos itens importantes do programa republicano era a separação completa da Igreja
e do Estado. Pág. 146

Felício dos Santos alcançou o segundo lugar, com 5.439 votos, ao passo que o candidato vencedor
teve 5.623. Pela primeira vez, na história do Partido, no Brasil, o nome de um republicano foi
apresentado ao imperador, como possível senador. Contudo, conforme privilégio seu, Dom Pedro
escolheu o terceiro membro da lista tríplice o Dr. Carlos Peixoto de Melo, conservador, que
alcançara 5.198 votos (72). Mesmo assim, os êxitos conseguidos pelo candidato republicano deram
definitivamente ao Partido a posição de uma terceira força na província, em pé de igualdade com
os conservadores e os liberais. Pág. 151

Quando se deu esse acontecimento, o Partido Republicano de Minas Gerais já havia realizado tais
progressos que podia ser considerado quase tão forte quanto os outros dois partidos. Pág. 154

Carlos Ribeiro de Andrada tornou-se prontamente republicano, quando lhe foi negada a cadeira de
deputado para a qual havia sido eleito (84). Pág. 155

De todas as províncias do Brasil, inclusive São Paulo, onde o Partido era o mais antigo e atingira
a maior estabilidade, Minas Gerais era a mais republicana (...). Pág. 155

De fato, de acordo com os resultados eleitorais, Minas Gerais era ainda monarquista, no momento
da queda do império; nesse tempo, os republicanos contavam apenas com trinta por cento do
eleitorado. É sem dúvida difícil julgar a tendência republicana da política de Minas Gerais, nos
últimos anos do império. Pág. 155

(86) Deve-se fazer uma distinção entre os políticos profissionais, tais como Andrade, Penido e
Rabelo, convertidos ao republicanismo, e os políticos influentes, pertencentes às fileiras
monarquistas, que se tornaram republicanos em seguida à abolição da escravidão. Pág. 156

Na província do Espírito Santo não houve Partido republicano, isto é, clubes republicanos, senão
já nos últimos anos do império. Em maio de 1887, em Cachoeiro do Itapemirim, foi fundado o
primeiro Clube Republicano da província, graças aos esforços de Bernardino Horta de Araújo,
Antônio Aguirre e Joaquim Pires de Amorim. Dezessete pessoas estiveram presentes à reunião
inaugural e elegeram Pires Amorim como presidente, Aguirre como secretário, João Loiola como
subsecretário e Henrique Wanderley como tesoureiro (1). Pág. 157

Durante os primeiros meses de 1889, a causa republicana, na província, foi auxiliada pela excursão
de propaganda feita por Niilo Peçanha, que levou os chefes republicanos da vizinha província do
Rio de Janeiro aos centros importantes do Espírito Santo (12). Pág. 159
No Espírito Santo, pois, embora constituindo uma força política em ascensão, o Partido
Republicano, nas vésperas da proclamação da república, não era de certo uma fôrça dominante
nem ameaçadora. Pág. 160

As atividades republicanas na província eram esporádicas e sem grande importância. Pág. 160

De fato, o período de atividades significativas começou apenas com a fundação, a 2 de julho de


1888, do jornal A República Federal, o órgão do Clube Republicano Federal de Salvador. Essa
publicação, semanária, apareceu em vários formatos, durante os meses finais da monarquia e os
seus primeiros editores foram Landulfo Machado, Cosme Moreira, e Carlos Afonso Alves (23).
Pág. 161

A 15 de junho, logo depois de terminado o congresso provincial, Silva Jardim, o grande


propagandista republicano, visitou a Bahia. A visita de Silva Jardim coincidiu com a do conde
d'Eu. Os dois representantes de sistemas opostos viajaram juntos no Alagoas. A chegada do navio,
Silva Jardim foi recebido por uma delegação composta de Virgílio Damásio, Deocleciano Ramos
e Cosme Moreira. De acordo com as estimativas republicanas, mais de duzentas passoas estavam
a postos, para saudá-lo. Ao mesmo tempo, um número desconhecido de monarquistas esperava
para saudar o genro do imperador e nesse número encontravam-se muitos negros, provavelmente
membros da Guarda Negra. Segundo as notícias republicanas, os monarquistas estavam armados.
Depois de dar vivas à monarquia, voltaram-se para os republicanos, forçando-os a dispersar-se.
Silva Jardim fugiu. Na contenda, registraram-se alguns danos materiais, não houve, porém, mortes
(33). Pág. 163

Os meses finais do império foram menos agitados, na Bahia. O Partido apresentou candidatos às
eleições gerais em agosto, e foi derrotado. O derradeiro ato oficial foi apresentar sete candidatos
às eleições provinciais. A Bahia, a grande província do norte, não era um centro de atividade
republicana, pois os baianos, tradicionalmente conservadores, não haviam abraçado o novo credo
político. Nem mesmo a abolição produzira os desejados efeitos, quanto a fortalecer o Partido
Republicano. Nas vésperas de 15 de novembro, a Bahia contava com três Clubes republicanos,
dois dos quais na capital, inclusive o da Escola de Medicina. É evidente que ao findar o período
imperial, o Partido não tinha força suficiente de modo a sugerir que a província estivesse pronta
para o estabelecimento da forma republicana de governo. Quando sobreveio a derrocada da
monarquia, a Bahia, como tantas outras províncias, foi apanhada de surpresa. Pág. 163 e 164

Na província de Sergipe, o Partido Republicano teve o seu primeiro núcleo na cidade de


Laranjeiras, onde um pequeno grupo de pensadores liberais — Baltazar de Góis, Joviano de
Menezes, Felisbelo Freire e outros, — constituiam uma força potente, na vida intelectual da cidade
(34). Pág. 164

Apesar da sua oposição modesta, o Partido de Sergipe apresentou dois candidatos à eleição para a
Câmara. Um deles era Sílvio Romero, que colaborava em O Republicano, mas não participava da
vida política da província. O outro era Hermenegildo Pereira Guimarães, residente na província de
São Paulo. Pág. 165

A revolução de 15 de novembro encontrou Sergipe totalmente desorganizado para o


estabelecimento de uma república. A principal força do Partido estava concentrada em Laranjeiras,
mas existiam clubes em Estância, Iporanga, Aracaju e Vila Nova (40). O Partido tinha pouca ou
nenhuma influência, e não conseguira formar nenhuma figura republicana eminente, que pudesse
atrair adeptos à causa. Pág. 165
Alagoas encontrava-se entre as várias províncias brasileiras em que o Partido republicano fez
pouco ou nenhum progresso. Pág. 165

Em Maceió, capital da província, o republicanismo contava com algumas simpatias, porém um


verdadeiro partido jamais se estabeleceu ali. Contudo, em 1872, Maceió tinha já um bi-semanário
republicano. A República, dirigido por João Gomes Ribeiro (41). Pág. 166

Felisbelo Freire diz que a atividade republicana em Alagoas não era «intensa» e refere-se a Gomes
Ribeiro como sendo a principal figura republicana da província (43). Pág. 166

Ao contrário da Bahia, Pernambuco tivera tradições republicanas e liberais muito antes de 1870 e
era, de todas as províncias do norte, a mais progressista em vida intelectual. Pág. 166 e 167

personalidades tais como Afonso de Albuquerque Melo, João de Barros Falcão de Albuquerque
Maranhão e Alves de Oliveira. Assim, por ocasião do aparecimento do Manifesto de 1870, era já
bastante vivo o sentimento republicnao em Pernambuco. Logo depois da publicação do Manifesto,
os chefes do Partido, no Rio, alegraram-se notando as simpatias republicanas do jornal O
Americano, editado em Recife, por Tobias Barreto e Minervino Leão (44). Pág. 167

(44) RR., 22 de dezembro de 1870. Tobias Barreto não pode ser chamado de republicano, no
sentido de membro de um partido. Pertencia ao Partido Liberal, muito embora a RR. o chamasse,
bem como a Minervino Leão, de «nossos distintos correligionários…» Conquanto seja certo que
ele pertencia a um grupo que apoiava o Manifesto de 1870, a sua posição é bem definida,
sumariamente por Hermes Lima, Tobias Barreto (A Época e o Homem), São Paulo, 1939, p. 70:
«Não tendo nenhuma preferência pela monarquia e não hesitando em confessá-lo, o desacordo
com a forma não se eregia em obstáculo à carreira política de Tobias, porque ele aceitava a
substância, a estrutura do regime.» e, p.50: «Para ele, a idéia liberal teria de guiar o trabalho de
assimilação do povo brasileiro à democracia…» Pág. 167

A 11 de dezembro de 1888, foi aprovado e publicado um manifesto notável, escrito por Aníbal
Falcão. Nesse manifesto, os republicanos de Pernambuco rompiam com os conceitos expostos no
Manifesto de 1870, até então guia e molde do Partido, em todas as províncias, e advogavam a
adoção do republicanismo ditatorial da escola positivista. Uma tal atitude significava que pelo
menos em questões de doutrina, Pernambuco divorciara-se do resto do Partido (71). Pág. 171

(71) O Manifesto Pernambucano pode ser encontrado em Aníbal Falcão, Fórmula da Civilização
Brasileira. Com um prefácio biográfico de Luís Anibal Falcão. (Rio de Janeiro, 1933), pp. 163-
167. Quanto ao Manifesto em suas relações com o Partido Nacional, ver pp. 195. Pág. 171

(76) Otávio Pinto, «A visita de Silva Jardim a Goiana», Revista do Instituto Arqueológico
Histórico e Geográfico Pernambucano, XL, (1945), 246. Pág. 171

O movimento republicano em Pernambuco foi talvez o mais forte das províncias do norte. Em
vista das tradições liberais e democráticas de Pernambuco, isso não era de surpreender. Pág. 172

Em Recife, Martins Júnior, da Faculdade de Direito, Clovis Bevilaqua, estudioso e teórico,


também da Faculdade, e Anibal Falcão, o adepto apaixonado de Augusto Comte, acentuavam a
luta ideológica dentro do Partido. Porém a natureza do movimento republicano de Pernambuco,
não variava em geral, do resto do movimento republicano no Brasil. Pág. 172 e 173

Contudo, não se pode dizer que o republicanismo em Pernambuco fosse puramente acadêmico.
Era também prático. Isso pode em parte ser explicado pela ausência de um partido forte. Apesar
dos seus inícios extremamente auspiciosos, o movimento de Pernambuco não correspondeu de
modo algum à expectativa dos republicanos. A província mal estava preparada para a revolução
de 15 de novembro. Pág. 173

«Salvo exceções muito raras», no dizer de Tavares Cavalcante, «a Paraíba tornou-se republicana
toda de uma vez, no dia 16 de novembro de 1889.» (83). A história dessas exceções é, com efeito,
a história do Partido Republicano na província da Paraíba. Embora produzisse importantes chefes
republicanos, tais como Maciel Pinheiro, Albino Meira, Aristides Lobo e Coelho Lisboa, estes
exerciam as suas atividades antes no Recife e no Rio do que na sua província natal (84). Pág. 173

Nas eleições gerais de 1889, o único candidato republicano foi o Albino Meira, no primeiro distrito
que alcançou o quarto lugar, com 24 votos, de um total de 918 (87). Evidentemente, na Paraíba, o
Partido Republicano não era uma força política. A falta de uma imprensa, o fracasso de Meira nas
eleições de 1889, a ausência de um grande chefe de Partido, a penúria de atividades de qualquer
espécie, mostram que o Partido não preparava a província para o regime republicano de 1889. Pág.
174

Diferentemente da Paraíba, a província do Rio Grande do Norte manifestou desde cedo simpatias
republicanas. A 30 de novembro de 1871, trinta pessoas anunciaram a sua adesão ao Partido (88).
Contudo, nenhuma atividade substancial emergiu desse ato e somente em 1881 foi alcançado
algum progresso, quando se fundou em Natal o Clube Tiradentes, de breve existência (89). No fim
de 1888, o único clube republicano da província era o Centro Republicano do Rio Grande do
Norte, de Natal. O clube e o Partido deveram sua existência aos esforços de um único homem,
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Pág. 174 e 175

A 1 de dezembro, Pedro Velho e mais dezoito republicanos publicaram um manifesto pedindo a


organização do Partido na província (91). Em resposta a esse apelo, realizou-se, no mês seguinte,
o primeiro congresso do Partido. Pág. 175

Embora o Partido, no Rio Grande do Norte, jamais tivesse constituído um fator de importância na
vida política da província, parece contudo ter feito progressos constantes no último ano e meio de
vida do império, sob a direção de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. É significativo que
aqui, como por toda parte mais, no Brasil, o Partido só alcançou progressos depois da abolição da
escravidão. Além disso, no Rio Grande do Norte, pelo menos, os dirigentes republicanos
exerceram atividades em favor da abolição, e não contra ela. Contudo, a 15 de novembro, o Partido
não tinha força ou tradição suficiente para explicar a derrota da monarquia na província. Pág. 175
e 176

(90) Luís Manuel Fernandes Sobrinho, «Traços biográficos do Senador Pedro Velho de
Albuquerque Maranhão, abolicionista de destaque, Geográfico do Rio Grande do Norte, VI nº 2,
(julho, 1908), 240-241. Pág. 175

As atividades republicanas na província do Ceará começaram em 1872, a 18 de agosto, com a


fundação de um clube Republicano em Saboeiro, tendo como presidente Cícero Cavalcante de
Luna. Trinta e quatro pessoas assinaram as atas iniciais do clube (95). Pág. 176
Embora o Ceará tivesse, em 1873, um pequeno Partido Republicano, este cessou a sua atividade,
nos anos subseqüentes. Pág. 176

(95) RR., 12 de dezembro de 1872. O Almanaque Republicano, p. 122, cita a fundação de um clube
republicano dois anos antes, na mesma data, sob a presidência de Cícero de Azevedo. Pág. 176
O Partido surgiu novamente em 1887, formando-se então um pequeno grupo republicano, sendo
fundado, em Baturité, O Cruzeiro (99). No seguinte mês de março, os republicanos de Fortaleza
organizaram o Congresso Republicano, sob a direção de Alvaro Martins (100). Pág. 176 e 177

A província que estivera na vanguarda do movimento abolicionista, estava, de fato, extremamente


atrasada no movimento republicano. A razão disso, provavelmente, é que no Ceará, a abolição da
escravidão efetuara-se já em 1884, e a 13 de maio de 1888, no momento da abolição total, não
havia ali uma maré enfurecida de ex-senhores de escravos ou de liberais — que tendo resolvido
um problema estivessem agora desejosos de resolver o outro — para engrossar as fileiras
republicanas. Na véspera da revolução, a monarquia continuava a ser a forma de governo desejada
pela vasta maioria do povo do Ceará. Pág. 177

A atividade republicana na província do Piauí foi mais pronunciada do que no Ceará, não atingindo
porém um grau notável. Pág. 177

Apesar do trabalho de Caldas, a atividade republicana foi diminuindo, até os anos finais do
império. No começo de 1889, o clube de Terezina era o único no gênero, em toda a província
(103). No mesmo ano foram fundados, em Terezina, dois novos periódicos republicanos: A
Revolução e A Atualidade (104). Nas eleições gerais de 1889, para a Câmara, os republicanos
apresentaram dois candidatos, Demóstenes Constâncio Avelino, no primeiro distrito, e Joaquim
Nogueira, no terceiro. Avelino alcançou 106 votos ou seja a décima terceira parte da votação total
(105), o que representa um número considerável, considerando-se a situação geral do Partido, que
não era influente na vida da província. Pág. 178

Não havia praticamente, republicanos na província do Maranhão, em 1870. Miguel Vieira Ferreira,
um dos fundadores do Clube Republicano do Rio, escreveu que além de seu irmão, de seu pai e
do pai de Antônio Enes, não existiam, que ele soubesse, outros republicanos na província (106).
Pág. 178

O Clube de Cururupu, fundado em maio de 1887, sob a presidência de Manuel Pires da Fonseca,
marca o renascimento do movimento republicano no Maranhão (110). Pág. 179

As primeiras atividades da província do Pará foram principalmente jornalísticas. Pág. 179

(...) não menciona nessa obra, A Esperança e em outro trabalho, já citado, declara, à página 576,
que O Democrata foi o único periódico republicano do Maranhão, durante os anos de 1870-1878.
A República do Rio publicou além disso uma notícia sobre a adesão de A Esperança à causa, a 16
de fevereiro e um extrato do seu editorial de adesão, a 28 de fevereiro de 1871. Pág. 179

O verdadeiro desenvolvimento do movimento republicano no Pará teve início somente em 1886,


com a fundação, em Belém, a 11 de abril, do Clube Republicano do Pará, sob uma diretoria cujos
membros principais eram José Pais de Carvalho, Gentil de Morais Bitencourt e Justo Leite
Chermont. Pág. 180
Em março, o clube de Belém nomeou José de Nápoles Teles de Meneses e Aristides da Silveira
Lobo como delegados e Antônio Enes e Raimundo Sá Vale como suplentes, ao Congresso
Republicano Nacional (123). Todos quatro residiam no Rio de Janeiro. Pág. 180 e 181

Apesar da derrota de Chermont, o republicanismo no Pará teve mais vitalidade do que o das
províncias vizinhas e tinha melhores esperanças embora não de êxitos imediatos. Pág. 181

A atividade republicana na província do Amazonas era promovida individualmente, e não por um


partido. Já nas eleições gerais de 1878, o Amazonas elegera, para a Câmara dos Deputados, um
republicano declarado, na pessoa de Saldanha Marinho (...). Pág. 182

(...) o Amazonas tinha núcleos republicanos dispersos, não contava com um verdadeiro partido.
Pág. 182 e 183

(...) é possível dizer-se que uma grande minoria trabalhava ativamente pelo estabelecimento da
república. Pág. 183

A revolução de 15 de novembro de 1889, apanhou pois de surpresa tanto os republicanos quanto


os partidos tradicionais. Pág. 183

Os começos do republicanismo no Paraná são hesitantes e esporádicos. Pág. 185

Uma nova manifestação de republicanismo, sobreveio apenas em 1879, quando José Francisco da
Rocha Pombo fundou, em Morretes, o periódico O Povo (4). Pág. 185

A verdadeira atividade republicana não começou senão em 1883, com a publicação do jornal, O
Livre Paraná, sob a direção de Fernando Simas e Guilherme Leite. Pág. 186

A 2 de dezembro, o Partido conquistou o seu primeiro deputado provincial, embora de maneira


indireta. Vicente Machado da Silva Lima, que fora candidato à Assembléia em 1881, como
republicano, foi eleito, em 1887, como monarquista. Pág. 187

Quando o império caiu, em 1889, no Paraná, a despeito da sua proximidade com a província de
São Paulo, era fraco o movimento republicano. Havia poucos clubes e os resultados conseguidos
pelo Partido, nas poucas eleições de que participara, tinham sido desastrosos. A imprensa, com
dois jornais bem estabelecidos, era talvez a mais forte manifestação do espírito do Partido. O
Partido Republicano tinha apenas um chefe local de destaque, na pessoa de Vicente de Machado.
É verdade que a província dera à organização do Rio, o famoso republicano Ubaldino do Amaral,
porém tanto este como Vicente Machado tinham recebido os ensinamentos republicanos fora do
Paraná. Pág. 188

Na província de Santa Catarina, o republicanismo organizado começou em maio de 1885, com a


fundação de um semanário. A Voz do Povo (19) e de um clube republicano em Desterro, capital da
província (20), a atual Florianópolis. No ano seguinte, o padre Manuel de Miranda Cruz, de Tijucas
Grande, iniciou a publicação de outro periódico republicano, O Independente (21). Pág. 188

A organização do Partido, contudo, estava longe de ser disciplinada. O Padre Cruz, presidente do
Clube de Tijucas, absteve-se de trabalhar pela chapa do Partido (...). Pág. 189
Nos meses finais do império, o Partido, em Santa Catarina, contava com vinte e quatro clubes,
dezoito no primeiro distrito e seis no segundo (35).
Embora o Partido Republicano em Santa Catarina tivesse feito progressos satisfatórios, desde os
seus primeiros sinais de vida, em 1885, «… era ainda de pequena projeção, formava-se de clubes
ligados pelo mesmo sentimento e pela mesma ideologia… Compunha-se da mocidade,
principalmente…» (36). Pág. 190

No terceiro distrito, era o partido que se encontrava em terceiro lugar, mas contava apenas com
pouco mais de um décimo do eleitorado. No segundo, era evidente que os republicanos de Santa
Catarina não representavam uma parte substancial da população e o seu Partido podia falar apenas
por uma pequena minoria do eleitorado. Pág. 191

A tradição republicana é muito antiga, no Rio Grande do Sul. Durante os anos de 1835-1845,
quando se travou a «Guerra dos Farrapos», fundou-se na província uma república que estendeu
temporariamente a sua influência até a vizinha província de Santa Catarina. A revolução do Rio
Grande foi afinal vencida, mas as tradições e aspirações republicanas, também relacionadas com
o separatismo, continuaram a existir e sem dúvida alguma, muitas pessoas que haviam tomado
parte na efêmera república viviam ainda em 1870. Pág. 191

(...) Francisco Xavier da Cunha (...) Pág. 191

O período de atividade intensa do Clube só começou, porém, vários anos depois, embora desde
cedo ele se tornasse o mais importante núcleo no seu gênero, em toda a província (39). Em 1880,
sob a direção de Francisco Antônio Borges Lima, Apolinário J. Gomes Pôrto Alegre, Apeles J.
Gomes Porto Alegre, Luís Lesseigneur e Manuel Sérvulo de Almeida. (...). Pág. 192

No ano seguinte, realizou-se, em Porto Alegre, a 23, 25 e 26 de fevereiro, uma série de reuniões,
sob os auspícios do clube local, e o Partido do Rio Grande do Sul organizou-se então numa base
definitiva. Mais de cinqüenta membros assistiram às sessões. Dirigidas por Demétrio Ribeiro,
Ramiro Barcelos, Apolinário Porto Alegre, e outros, formaram-se comissões para decidir a futura
base do Partido, sua conduta em eleições, sua propaganda futura e o estabelecimento de novos
clubes (44). Pág. 192

A 1 de janeiro de 1884, apareceu o primeiro número de A Federação, jornal republicano. Esse


jornal iria tornar-se o mais importante do Rio Grande e um dos mais respeitados em todo o Brasil.
O seu primeiro diretor, foi Venâncio Aires, que se demitiu em junho de 1885; um ano antes de
morrer. Sucedeu-lhe Júlio de Castilhos. Pág. 193

O Partido entrou também nas eleições municipais de julho, desta vez com algum êxito. Em Porto
Alegre, foi eleito um vereador; um em Bagé; um em Jaguarão; cinco em São Francisco de Assis
(e cinco juízes de paz), dois em São Vicente, um em Cachoeira, um em Alegrete, um em Viamão;
um vereador, e mais dois juízes de paz, em Santa Isabel; um vereador em São João de Camaquan,
três em Dores de Camaquan, (e mais quatro juízes), um vereador (e um juiz) em Taquara; um
vereador em Cruz Alta e em São Gabriel. Em várias cidades os vereadores formaram o segundo
escrutínio (56). No pleito eleitoral do fim do ano, os republicanos elegeram Assis Brasil para a
Assembléia Provincial (57). Pág. 194 e 195

A cidade de São Borja, até então de pouca importância nos anais republicanos e nacionais,
alcançou grande notoriedade, em 1888. A 31 de outubro, foi feita a seguinte moção, na Câmara
Municipal, por Aparício Mariense da Silva, o único membro republicano:
«Proponho que esta Câmara represente à Assembléia legislativa
provincial, sobre a indispensável necessidade de dirigir-se à Assembléia
Geral, para que, dado o fato lamentável do falecimento de S. M. o
Imperador, se consulte a nação por meio de um plebiscito, se convém a
sucessão no trono brasileiro de uma senhora (...).» Pág. 195

A proposta fora feita anteriormente na Loja Maçônica de São Borja, Silva a tinha apresentado duas
vezes, a 21 de fevereiro e a 3 de junho de 1887. Pág. 196

A 13 de janeiro, depois de ter sido mudada a palavra «jesuítica» para «religiosa», a moção foi
aprovada pelo Conselho, por quatro votos contra um. Aparício Silva, João Pereira e Fidêncio
Falcão, votaram a favor, ao passo que Júlio Garcia Fróis, o presidente do Conselho, votou contra.
Contudo, estavam presentes apenas alguns vereadores e compreendeu-se que a moção jamais teria
passado, se estivessem reunidos todos os membros do Conselho Municipal. No dia seguinte,
quando as notícias chegaram a Porto Alegre, os membros do Conselho que votaram a favor da
proposta foram suspensos pelo governo da província. Convocou-se portanto um novo Conselho e
a ação de 13 de janeiro foi declarada nula, a 27 do mesmo mês. A 11 de maio de 1889, os quatro
vereadores foram reabilitados das acusações feitas contra eles e readmitidos no Conselho (64).
O incidente teve repercussões imediatas fora de São Borja, sem dúvida devido à demissão
peremptória e ilegal dos vereadores. No Rio Grande do Sul, os Conselhos municipais de São
Francisco de Assis, Dores de Camaquan (65), Santa Isabel (66) e São Luís (67) apoiaram a ação
de São Borja. Em Porto Alegre o vereador republicano, Felicíssimo Manuel de Azevedo, fez
moção semelhante, que foi derrotada em votação, pela maioria monarquista (66). Noutras
províncias, especialmente em São Paulo, os Conselhos seguiram o exemplo de São Borja, iniciada
por um único republicano, teve o apôio amplo do Partido, que considerava a suspensão do
Conselho pelo govêrno da província como um atentado às liberdades civis e também uma
excelente oportunidade para propaganda eficiente. A ação do governo foi evidentemente
contraditória e abusiva. O governo compreendeu em breve que a suspensão de um vereador não
seria seguida pela suspensão de todos os outros. Em conseqüencia a moção de São Borja foi
transformada numa vitória republicana, principalmente devido à precipitação do governo do Rio
Grande do Sul. Pág. 196 e 197

Em março de 1889, trezes republicanos de destaque reuniram-se em Reserva, a propriedade de


Júlio de Castilhos, a fim de traçar a direção das atividades futuras do Partido. Pág. 197

(...) o «império devia ser atacado antes da implantação do 3º reinado, isto é, quando menos espera
o ataque; o método preferível é voltar contra o Império as suas próprias armas, isto é, fazê-lo atacar
pelo Exército, sob a influência e direção do Partido Republicano» (72). Pág. 198

Ramiro Barcelos, Assis Brasil e Mendonça Lima ficaram em segundo lugar, com 446 (74), 319 e
280 votos, respectivamente (75). Ernesto Alves teve o terceiro lugar, com 298 votos (76). Embora
não se possa dispor dos resultados completos, a votação total republicana — 2.631 votos — foi
maior que a dos conservadores (77). Isso porém não impediu os liberais de vencerem por grande
maioria. No fim do império avaliava-se em dez o número de jornais em circulação, no Rio Grande
do Sul (78). Os republicanos do Rio Grande, como os das outras províncias, empregaram também
os jornais monarquistas para a sua propaganda. Temos disso um exemplo interessante em A Folha
da Tarde, de Porto Alegre, cuja coluna republicana era escrita em alemão, para atrair os imigrantes
de língua alemã (79). Pág. 198
Quando sobreveio a Revolução, os republicanos do Rio Grande do Sul tinham atingido uma
posição que podia sofrer um confronto favorável com a que o Partido alcançara em qualquer das
outras províncias. É verdade que no Rio Grande do Sul, o Partido não era tão grande quanto em
São Paulo ou em Minas mas é certo que a população da província era menor. No fim do Império,
os republicanos do Rio Grande formavam o segundo grupo político da província. E o Partido tinha
chefes eminentes que vieram a destacar-se no âmbito nacional. Venâncio Aires, que começou em
São Paulo a sua carreira política, era altamente respeitado como jornalista. Assis Brasil, talvez o
maior teórico republicano do Brasil, Júlio de Castilhos, que alcançou depois vasta nomeada, editor
de A Federação, que, com A Província de São Paulo, eram o melhor do jornalismo republicano.
As vitórias eleitorais do Partido, no Rio Grande do Sul, não eram tão grandes quanto as de São
Paulo, porém o resultado era bom. Pág. 199

A primeira manifestação concreta de republicanismo surgiu, em Goiás, com o aparecimento de O


Bocayuva, na capital da província, a 6 de março de 1882. Esse jornal era dedicado aos princípios
advogados por Quintino Bocayuva (80). Pág. 199

(80) O Globo, 4 de abril de 1882. Na Biblioteca Nacional encontram-se apenas números esparsos
de O Bocayuva, ano de 1883. Pág. 199

Há pouco mais a dizer sobre o movimento republicano de Goiás. Basta apenas acentuar que foi
talvez o menos importante do Brasil, provavelmente por ficar essa província tão afastada dos
centros republicanos do Rio, São Paulo e Minas e também por ser de pouca importância política
no Império. Pág. 200

O movimento político republicano da província de Mato Grosso não começou senão em 1887 (...).
Pág. 200

O movimento republicano de Mato Grosso começou nos últimos tempos do Império mas ao
encerrar-se a era monarquista, atingira já uma posição bastante respeitável. Embora o Partido não
constituisse uma força política, apresentava contudo indícios promissores de vitalidade crescente,
no momento da derrocada da monarquia. Pág. 201

O Partido Republicano no Brasil brotou do primeiro Clube Republicano no Rio de Janeiro, em


1870. Pág. 203

A doutrina do federalismo, ponto cardeal da plataforma republicana, estimulava a autonomia dos


Partidos da província. Pela maior parte dos anos de propaganda, esses partidos locais decidiram a
sua própria política de acordo com as circunstâncias particulares do momento. Pág. 203

A medida que corria o tempo, foi surgindo o desejo de unificação. Isso se faz sentir em grau
acentuado no Rio de Janeiro, onde os republicanos fizeram vários tentativas para formar um
Partido Nacional. Pág. 203 e 204

Antônio da Silva Jardim, um dos representantes do Rio, no Congresso, entrara na arena das
atividades políticas apenas em 1888, mas tornara-se vertiginosamente o líder reconhecido de um
grupo que desejava rejeitar o republicanismo pacífico para adotar um programa direto e
revolucionário. Durante muitos anos, houvera dificuldades, dentro do Partido, entre os adeptos de
Quintino Bocayuva, o líder dos moderados, e os de Aristides Lobo, o chefe dos radicais. O
radicalismo de Aristides Lobo não era de tão longo alcance quanto o de Silva Jardim; ele se
interessava mais pela pureza de doutrina e de métodos. Pág. 207 e 208
Tanto Lobo como Bocayuva haviam cooperado na direção do Partido, no Rio, e ambos mantinham
relações cordiais com a organização de São Paulo. Em 1888, contudo, a situação mudou. Ocorreu
então um rápido aumento dos membros do Partido. A introdução desses novos elementos,
conservadores, em idéias, porém mais impetuosos do que os líderes amadurecidos, fez surgir a
exigência de um rápido fim da monarquia. Pág.208

A situação complicou-se ainda mais porque Silva Jardim e seus adeptos apoiavam antes o
republicanismo ditatorial de Augusto Comte e a escola positivista do que as idéias liberal-
democráticas do manifesto de 1870. Pág. 208

A situação na capital era tensa, Saldanha Marinho, o Chefe do Partido Nacional, tinha uma posição
indecisa e queixava-se amargamente de que a constituição era inadequada. Pessoalmente, Marinho
era favorável a Jardim e apoiava-o em vários de seus atos, mas recusava comprometer-se (11). Por
outro lado, Saldanha Marinho era amigo extremado de Bocayuva, com o qual trabalhara desde a
fundação do Partido. Silveira Lobo, que parecia viver num estado de contínuo descontentamento,
declarara, anteriormente, que deveria ser incluído no número daqueles que não confiavam nos
princípios evolucionistas, como sendo o único meio para a transformação social e política dos
povos (12). Ainda, no fim do ano, ele e seus adeptos estavam indecisos e vieram depois a enfilerar-
se com o grupo mais conservador. Em São Paulo, segundo Silva Jardim havia também pontos de
vista divergentes. Francisco Glicério, que atuava freqüentemente como mentor do Partido, naquela
província, fora conquistado «à idéia da revolução», ao passo que Campos Sales, igualmente
poderoso e respeitado, acreditava na vitória por meio do processo eleitoral (13). Um golpe ainda
maior na unidade do Partido, foi desfechado em dezembro, quando os republicanos de Pernambuco
declararam as suas crenças positivistas e pediram o estabelecimento de uma ditadura. Anibal
Falcão, o autor da declaração pernambucana, partiu pouco depois para o Rio, onde se tornou adepto
fervoroso de Silva Jardim. Dessa maneira, Pernambuco repudiou inteiramente o movimento
republicano que se originara do manifesto de 1870. Pág. 208 e 209

Visto que os discursos de Silva Jardim eram ordinariamente inflamados e depreciativos, o


Conselho Federal recusou-se a sancionar o comício. Essa recusa não era incomum. Alguns anos
antes, Bocayuva se opusera igualmente às reuniões organizadas por Lopes Trovão. O comício de
Silva Jardim foi atacado e ele próprio quase assassinado. Pág. 210

Por esse tempo Saldanha Marinho, já velho, delegara seus poderes a Bocayuva, o vice-presidente
do Conselho Federal, que assumira agora a direção do Partido. Pág. 210

Embora Bocayuva expressasse seu apreço pelos serviços prestados ao Partido, por Silva Jardim, e
desse também a conhecer o seu desejo de renunciar à autoridade de que gozava, a situação interna
do Partido permaneceu a mesma até o Congresso Republicano de maio de 1889, que desta vez foi
realizado em São Paulo, em vez de o ser no Rio (17). Pág. 210

Saldanha Marinho, então com 73 anos de idade, já não podia cumprir as suas atribuições de chefe
do Partido. Pág. 211

(...) sendo Bocayuva, por conseguinte, investido na chefia do Partido Republicano Nacional. Pág.
211

Bocayuva foi autorizado a escolher um conselho executivo para ajudá-lo na direção do Partido.
Pág. 211
Silveira Marinho, o eminente e venerando chefe da democracia brasileira, a confiança, a estima e
o respeito pelas suas virtudes cívicas e privadas, durante uma larga existência toda ela consagrada
ao serviço da pátria e à defesa da liberdade, lamentando que por sua idade e padecimentos, não
possa o mesmo ilustre cidadão presidir ativamente ao movimento do partido republicano brasileiro.
Pág. 211

« (...) Eu peço licença para recordar que nesta ordem de lutas


políticas, quando um partido ainda representa a minoria no seio de uma
sociedade política, tem ele necessidade de empregar, como bem o ponderou
um ilustre amigo, vários meios, diferentes processos, que não impedem o
emprego de medidas mais eficientes na ocasião oportuna.» Pág. 212 e 213

Silva Jardim entrou na controvérsia a 28 de maio, ao publicar um longo manifesto. Era um


rompimento completo com o Partido conduzido por Bocayuva. Pág. 216

Bocayuva, declarava Jardim, não desejava rejeitar o princípio de evolução, nem tinha capacidade
para dirigir o Partido, o qual precisava basear a sua plataforma em princípios outros que não os
ideais democráticos do Manifesto de 1870. Pág. 216

Pedia concretamente o estabelecimento de uma república ditatorial, baseada numa forte


presidência, instituída a princípio por aclamação e depois pelo sufrágio universal, apoiada por uma
assembléia que devia ter apenas deveres de ordem financeira, e pela opinião pública (25). Pág.
216 e 217

Bocayuva e o conselho executivo do Partido recusaram-se a apoiar os comícios de Silva Jardim


(32). Pág. 220

Desde 1870, no Rio de Janeiro, e 1873, em São Paulo, o Partido estivera nas mãos de um número
relativamente pequeno de homens que com poucas exceções, ao terminar o conflito com Silva
Jardim, mantiveram firmemente os destinos da organização. Tinham, sem dúvida, conquistado sua
posição devido à firmeza de doutrina, durante os anos em que o Partido Republicano era pouco
mais do que uma fragmentação do movimento liberal. Pág. 220

A vitória de Bocayuva, em maio de 1889, e a subseqüente e contínua derrota das forças


comandadas por Silva Jardim e Aníbal Falcão, asseguraram aos brasileiro que o Partido
Republicano, que se propunha conseguir a derrocada do regime existente, estava pelo menos
empenhado em instituir um governo democrático. Pág. 221

A carta ideológica do Partido Republicano brasileiro era o manifesto de 3 de dezembro de 1870.


Pág. 223

«Como homens livres e essencialmente subordinados aos interesses


da nossa pátria, não é nossa intenção convulsionar a sociedade em que
vivemos. Nosso intuito é esclarecê-la.
Em um regime de compressão e de violência, conspirar seria o nosso
direito. Mas no regime das ficções e da corrupção em que vivemos, discutir
é o nosso dever.
As armas da discussão, os instrumentos pacíficos da liberdade, a
revolução moral, os amplos meios do direito, postos ao serviço de uma
convicção sincera, bastam, no nosso entender, para a vitória da nossa causa,
que é a causa do progresso e da grandeza da nossa pátria.» (1). Pág. 223

As prerrogativas do trono, a sua inviolabilidade, a sua ausência de responsabilidade, e a autoridade


e direitos nela investidos pelo Poder moderador, eram atacados. Sob a Constituição de 1824 não
existia, asseverava-se, verdadeira representação nacional. Para estear as acusações, o Manifesto
fazia uso de queixas contra o regime, proferidas por eminentes homens de Estado monarquistas,
tais como Eusébio de Queiroz, Firmino Silva, Nabuco de Araújo, João Mendes de Almeida e
Antônio Carlos de Andrada e Silva. Pág. 224

O manifesto, em si, não era especialmente digno de nota. Distinguia-se dos documentos liberais
anteriores apenas pela sua oposição à instituição monárquica. A sua importância real, jaz apenas
no fato de ter sido a primeira declaração pública de um partido que veio finalmente a triunfar. Pág.
227

(13) Alberto Sales, Catecismo Republicano (São Paulo, 1885), p. 41. Esse trabalho teve a
aprovação republicana oficial. Foi impresso por meio de uma subscrição levantada pela Comissão
Permanente do Partido Republicano de São Paulo. O catecismo é um resumo, na forma de
perguntas e respostas, da Política Republicana, de A. Sales (Rio de Janeiro, 1882) citada daqui em
diante como Política. Pág. 228

«As idéias republicanas pregam a igualdade, mas é preciso que esta


palavra seja tomada em sua verdadeira acepção, que não tenha tal amplitude
que se transforme num absurdo.
A igualdade absoluta entre os homens não pode subsistir…
A única igualdade que pode existir é a social, isto é, que todos
tenham igual direito de desenvolver todas as forças de que foram dotados
pela criação!... (14).

Escrevendo sobre o mesmo assunto, João Francisco de Assis Brasil, o chefe republicano e
propagandista do Rio Grande do Sul, declarava:

«A igualdade não é como pensam muitos e como gritam nossos


adversários, o nivelamento de todos, a negação das faculdades e aptidões de
cada um… A igualdade é o reconhecimento do direito que tem cada um a
desenvolver-se, a aperfeiçoar-se, a atingir a altura que os seus méritos lhe
destinam. É também, por conseqüencia a negação fundamental de todos os
privilégios, ou direitos inatos: de casta, de família, etc. etc.» (15). Pág. 228
e 229

Dos ramos ou poderes do governo especificados na Constituição brasileira de 1824, o executivo,


o legislativo e o moderador (16), os republicanos se opunham fervorosamente ao último. Pág. 229

Embora, sob a Constituição, os ramos do poder fossem teoricamente separados, ao poder


moderador era concedido invadir a jurisdição dos outros três. Isso, os republicanos condenavam
vigorosamente. Pág. 229

Uma excelente exposição da espécie de governo que os republicanos tinham em mente, encontra-
se nas «Bases para a Constituição do Estado de São Paulo, que a Comissão permanente do Partido
Republicano de São Paulo distribuiu» em novembro de 1873 (20). Designam-se, aí, três poderes:
o legislativo, o executivo e o judiciário. Pág. 230

Américo Brasiliense, nesse tempo o mais influente dos republicanos paulistas (...). Pág. 233

Contudo, a propaganda republicana era principalmente dirigida contra a instituição monárquica


(...). Pág. 233

Tornou-se em geral evidente que o futuro governo seria, com algumas exceções, nos moldes do
governo dos Estados Unidos, por outras palavras, o Partido Republicano Brasileiro estava
interessado pelo gênero de democracia adotado pelos Estados Unidos. Pág. 233 e 234

O ato adicional de 1834, que deu às Assembléias provinciais uma certa medida de poder
legislativo, foi o primeiro golpe sério desfechado na centralização política, no Brasil, mas não
destruiu o caráter centralista da Constituição de 1824, pois a maioria das províncias continuava
sob a autoridade do governo imperial, que não abrira mão do privilégio de nomear os presidentes
provinciais. Essas nomeações eram muitas vezes recompensa a servidores devotados dos Partidos.
Muitos dos presidentes não eram naturais das províncias que eram chamados a governar, e nem
sempre estavam a par das necessidades locais. Os membros da Câmara dos Deputados serviam
como presidentes de províncias apenas pela duração das férias parlamentares. Além disso, o fato
de que as eleições provinciais e gerais não eram realizadas concomitantemente, significava que as
assembléias podiam ser — e eram muitas vezes — de partidos diferentes. Sob um tal sistema, as
administrações provinciais eram quase sempre caóticas e sem continuidade. Pág. 234

O federalismo, que era havia muito uma questão, na vida política brasileira, fora durante algum
tempo advogado pelo Partido Liberal. Tornava-se agora o mais importante item da plataforma
republicana, de fato o principal ponto de discussão do Partido. Pág. 234

«Para nós, dizia esse órgão, «a república não estará fundada senão
quando cada província for um verdadeiro Estado senhor de seus destinos,
podendo dispor de todos os seus recursos sem dependência de tutela da
capital. Para nós a república é — federação. Sem federação no Brasil não
há república» (35). Pág. 234

«Tudo parece morto, as câmaras municipais sem meios, os colégios


sem meninos, os habitantes do lugar sem a iniciativa individual que faz
milagres, sem o desejo de instruir, porque não conhecem a utilidade da
instrução, sem recursos para o fazerem ainda que o quisessem — eis o
estado desesperado do nosso país. Estradas, vias férreas, canalização e
navegação fluvial, instrução pública, tudo depende do governo geral ou de
um presidente que é estranho a maior parte das vezes às províncias, e que
permanece apenas quatro meses na sua administração.
Este estado de constante anarquia, em que vivem as províncias,
anarquia das baionetas, anarquia da intervenção armada das eleições, deve
cessar com a monarquia que é a causa direta e única de tantas desordens. A
monarquia entre nós tem sido a anarquia armada e disciplinada. As
províncias anarquizadas por esta forma não têm podido defender os seus
recursos. Mude-se a monarquia para a república federativa, as províncias
terão presidentes eleitos por elas, saídos do seu seio e conhecendo portanto
suas necessidades; esses presidentes eleitos por quatro anos mais ou menos
terão de imprimir uma marcha uniforme aos negócios das províncias; as
comunas ou as câmaras municipais atingirão entre nós o grau a que tem
atingido nos Estados Unidos» (36). Pág. 235

O sistema norte-americano, julgavam, limitando-se a restrições sobre direitos de importação e


exportação, «… mais se adapta à índole e às tendências do Partido republicano brasileiro» (37).
Pág. 235

Em 1888 e 1889, muitos republicanos eram favoráveis ao abandono da política de evolução, mas
Bocayuva, o líder da facção «evolucionista», foi contudo eleito chefe do Partido, o que era portanto
uma garantia de que a evolução continuaria a ser parte integrante da plataforma do Partido
Republicano. Pág. 238

Finalmente, o melhor exame geral do positivismo no Brasil, é da autoria de João Camilo de


Oliveira Torres, O Positivismo no Brasil (Petrópolis, 1934). Pág. 240

Jardim foi um dos fundadores da ortodoxia (33) do grupo positivista de São Paulo (54). Rompeu
depois com o positivismo ortodoxo porém suas razões eram pessoais e não religiosas (55).
«Não renego… nenhuma das teorias de Augusto Comte.
Simplesmente não sou um teórico, e sim um prático pois vi que era
preciso entrar na política; reservo-me o direito de aplicar a doutrina à
situação atual do nosso país, realizando-a quanto posso pessoalmente.
Não tenho preocupações filosóficas nem religiosas» (56). Pág. 242

(52) Alguns monarquistas aceitavam o positivismo para apoiar a monarquia. O seu argumento era
que o Brasil não atingira ainda o necessário estágio de desenvolvimento para o abandono da forma
de governo monarquista. Pág. 242

A sua organização, a Igreja e Apostolado Positivista do Brasil, fundada por Miguel Lemos e
Raimundo Teixeira Mendes, tornou-se o mais importante centro positivista religioso do mundo.
Tanto Miguel Lemos como Teixeira Mendes estiveram associados ao Partido Republicano, antes
de sua conversão ao positivismo religioso. Ver cap. II. pp. Pág. 242

Jornalista e orador brilhante, Silva Jardim iniciou o periodo mais dramático da propaganda
republicana. Em 1888 e 1889, fez excursões por quase todo o país para promover a causa
republicana, mas concentrou seus esforços nas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais. Contudo, o republicanismo pelo qual propugnava, não estava em harmonia com a linha
adotada pelo Partido. Pág. 243

Dizia ele que era favorável a «... uma presidência poderosa instituída pela vontade popular a
princípio por aclamação (...) Pág. 243

(60) Ibid. Os três elementos principais da concepção positivista encontram-se aqui: presidência
poderosa, termo mais ameno para exprimir ditadura, assembléia tendo apenas deveres financeiros
e fiscalização pela opinião pública. Pág. 243

Sílvio Romero, que apoiara desde cedo o positivismo em Pernambuco (64) também rejeitara o
republicanismo positivista «uma coisa… puramente doutrinária… que um grupo de fanáticos
pretende impor ao nosso país do alto da sua pretensa ciência, só excedida pela sua incomensurável
presunção» (65). Pág. 245
(...) tanto Comte como os positivistas ortodoxos brasileiros se recusassem a apoiar qualquer
participação numa revolução (74). Pág. 248

(...) e o próprio Silva Jardim escreveu que havia encontrado no Rio pelo menos cinqüenta pessoas
que partilhavam de suas idéias (78). Provavelmente ele era apoiado por uma grande percentagem
do Partido Republicano, particularmente os membros mais jovens e mais recentes, porém a maioria
dos líderes não participavam de seu entusiasmo. Na luta entre as duas idéias, venceu o
evolucionismo (79). Pág. 249

Um partido republicano precisa atacar não somente o regime como também o monarca e sua
família. No Brasil, a propaganda dirigida contra Dom Pedro II, sua filha, a princesa Isabel e seu
marido, o Conde d’Eu, é significativa, para definir a índole do Partido Republicano. Mais
significativa ainda é a sua atitude na «Questão Religiosa», na «Abolição» e na «Questão Militar»,
as três grandes crises político-sociais dos últimos anos do império, das quais, os republicanos
tiraram proveito, de uma maneira ou de outra. Pág. 251

A maioria dos estrangeiros que conheciam o Brasil lhe eram favoráveis (...) Pág. 251

«Como sabe muito bem, não é possível imaginar-se aqui nenhum


esforço no sentido de uma mudança na forma de governo, enquanto viver o
imperador, devido ao respeito e admiração geral em que ele é tido, tanto
pelos brasileiros, como pelos estrangeiros” (...)» Pág. 251

«O nosso rei, o nosso bom pai Abraham, o patriarcha desta tribo de


idiotas, que se chama povo brasileiro, esse bom homem que não pratica o
incesto, que é burguês até no trato democrata por instinto de erudição,
filósofo de costumes ginossofistas, tem entretanto, constitucionalmente e
por direito divino um piquete de cavalaria…” (7)» Pág. 252

«Sábio?... (sic) senhores! O imperador possui o privilégio de falar


sem ser interrogado; deste modo, qualquer de nós passa por um gênio!
(Aplausos).
Artista? Mas subirá D. Pedro à posteridade pelos sonetos de bordo?
(risos) pela quadra ao fiel povo ituano? pela tradução da bandeira
estrelada?...
Político? Que fale o único e triste reconhecimento na América, da
usurpação bonapartista de Maximiliano, no México; que fale o ódio
procurado entre o Brasil e os nossos irmãos da Prata; que fale sua adesão ao
aniquilamento da pátria paraguaia. Reformador? Mas onde uma instituição
útil por ele criada… Instituição? Criou o Colégio de D. Pedro II, uma escola
inútil, que não corresponde a necessidade alguma…(12)» Pág. 254

Em geral, os ataques pessoais a Dom Pedro, concentravam-se nas suas ocupações literárias e
científicas, que eram consideradas inconseqüentes, e, nos últimos anos, em sua saúde. Pág. 255 e
Pág. 256
Se um órgão como A Revolução, do Rio de Janeiro, tinha a ousadia de dizer que: “Por um título
de conselheiro, por um baronato, entrega-se a esposa aos instintos libidinosos de um rei!” (19), os
outros respeitavam a reputação do monarca. Se, em geral, os republicanos respeitavam o imperador
(20) respeitavam ainda mais a imperatriz. Pág. 256

A propaganda do Partido Republicano contra a herdeira presuntiva, Isabel, e seu marido o Conde
D’Eu, foi, pelo contrário, cheia de rancor, mas somente nos últimos anos do império, quando se
compreendeu que Dom Pedro não viveria mais muito tempo. A 1 de Janeiro de 1880, Lúcio de
Mendonça declarava em O Colombo, da cidade de Campanha, em Minas Gerais, que quando a
Princesa Isabel se tornasse imperatriz, o clericalismo seria também entronizado (22). Segundo
Lúcio de Mendonça, em 1882, o Conde D’Eu era conhecido como, “um sujeito de pouca etiqueta
e pouquíssimas letras”... um ganhador burguês… que… professava a mais absoluta indiferença
pelas coisas públicas desta terra… (23). O infamante órgão A Revolução, do Rio de Janeiro, dizia:
“Uma princesa atira-se nos braços de um internúncio apostólico e vai pelas ruas ostentar a sua
desonestidade como qualquer meretriz vulgar” (24). Em 1883, Lopes Trovão atacava a princesa
por sua grande devoção religiosa e o Conde D’Eu, alegando a sua cupidez. Negava que o conde
tivesse demonstrado qualquer valor como militar, durante a guerra do Paraguai (25). É certo
também que em 1885, O País, editado por Quintino Bocayuva, declarava que o Conde d’Eu
defendera a honra do Brasil, no Paraguai, mas foi essa, talvez, a única ocasião em que um jornal
de tendência republicana falou de modo favorável sobre o Conde d’Eu, até ser implantada a
república, em 1889 (26). Pág. 256 e Pág 257

(24) A Revolução, 12 de setembro de 1882. Pág 257

“Desde que o fanatismo é o rei, os vassalos hão… de… ser fanáticos.


Vamos para a preponderância da aliança informe de trono e altar.
Governará Roma por sua dileta filha nesta terra infeliz, e após… o
santo ofício e a fogueira, de que tanto necessitam ainda os ultramontanos;
para apartarem da sociedade a inteligência, a luz e a dignidade, inimigos
irreconciliáveis do obscurantismo clerical” (28). Pág. 258

“Dizem-na possuída do fanatismo religioso, e eu não acredito em


tal… Sendo o fanatismo uma cegueira, uma superexcitação das crenças,
supõe uma certa elevação, uma certa energia, de que julgo fraco e incapaz
o sangue da Condessa d’Eu.
Ela, realmente, pouco cuida dos grandes, sagrados interesses da
Religião, sempre muito respeitáveis; sua devoção é toda de sacristia (risos)
que não de igreja, pertence ao clericalismo, não ao sacerdócio: a esse
catolicismo falso, convencional, bonito, perfumado, que se veste bem, bem
corteja, sabe sorrir, elegante, carola, corruptor e corrupto…” (31) Pág. 258
e Pág. 259

A 13 de maio de 1888, (...). Apoiando assim ativamente a medida, Isabel alcançou ao mesmo
tempo grande popularidade e impopularidade. Pág. 259

Quando em 1888, o Papa Leão XIII, concedeu a Isabel a Rosa de ouro, por sua atuação em favor
da abolição, esse prêmio, no dizer de O País, simbolizava a aliança do Vaticano com o fanatismo
notório da princesa e seria empregado pelos monarquistas, para exaltar a ação de Isabel e suplantar
assim a realização anterior do Visconde do Rio Branco (37). Pág. 260

(37) O País de setembro de 1888. Pág. 260

Chamava o Conde d’Eu de monarquista de direito divino, um clerical, aristocrata usuário,


avarento, e proprietário de bairros de casas miseráveis e imundas que causavam a febre amarela
no Rio. Se Isabel viesse a ser imperatriz, o Brasil seria vítima de males tais como a exploração
mercantil, a usura, a guerra civil e talvez estrangeira, e a tirania de um caudilho” (43). Pág. 261

A violência de A República era quase igualada pela de outros jornais. A Província de São Paulo
declarava que quando a tolerância calculista e o corruptora de Dom Pedro, desaparecesse do país,
seria substituída pela perseguição franca e violenta do Conde d’Eu (44) (...) Pág. 261

O imperador era geralmente poupado, não assim a princesa e seu marido, os quais eram
ridicularizados por causa do seu catolicismo, da sua pretensa avareza e supostos ideais
reacionários. Pág. 261

O Conde d’Eu era particularmente visado, por ser estrangeiro e também porque devido à surdez,
nunca conseguira pronunciar bem o português. Pág. 261

Em 1872, Dom Vital Gonçalves de Oliveira, o Bispo de Olinda, interditara uma confraria local,
devido a afiliações maçônicas. A confraria fez um apelo à coroa, pedindo proteção contra a ação
de Dom Vital, cuja ilegalidade afirmava. Declarou-se também que ao condenar a Maçonaria, o
bispo baseara o seu ato em encíclicas e pronunciamentos da Santa Sé que nunca haviam recebido
o necessário exequatur do governo, para ser promulgado no Brasil. Neste ínterim, o bispo do Pará,
Dom Antônio de Macedo Costa, passou a agir também contra os maçons da sua diocese. Pág. 262

(48) Para uma análise de questão religiosa, ver Mary Crescentra Thornton, The Church and
Freemasoniy in Brazil 1872-1875. A Study in Regalism (Washington, D’.C., 1948). Pág. 262

Prevenia-se Dom Pedro de que os bispos estavam encorajando uma invasão clerical e a conquista
do Brasil. Os bispos não limitavam à maçonaria os seus ataques; recusavam-se também a enterrar
os suicidas, livres pensadores e outros (56). Tais bispos eram de fato “sacerdotes de Baal e não de
Cristo verdadeiro” (57). Pág. 264

(56) Ibid., 19 de janeiro de 1873. Chamou-se especial atenção para o caso do General José Inácio
de Abreu Lima, o célebre socialista. Participara da revolta pernambucana de 1817, e foi auxiliar
de Bolivar na guerra dè independência das colônias espanholas da América do Sul. Depois, residiu
por algum tempo nos Estados Unidos, e voltou afinal ao Brasil, sob o pseudônimo de Cristão velho,
advogou a causa do catolicismo liberal e empenhou-se numa célebre controvérsia com o Padre
Joaquim Pinto de Campos. Quando morreu, em 1869, o Bispo Francisco Cardoso Aires recusou-
se a enterrá-lo em terreno sagrado. Foi enterrado no cemiterio protestante. Pág. 264

A medida que a contenda prosseguia, tornou-se aparente que questão era, essencialmente, entre a
Igreja e o Estado, e não entre a Maçonaria e a Igreja. Pág. 265
Essa mudança de tom foi também ditada pela necessidade política de aplacar os membros católicos
do Partido Republicano que declaravam abertamente o seu apoio aos bispos, e ainda, pelo receio
de que tal oposição afastasse do Partido outros católicos. Pág. 265

Há entre nós muitos sectários sinceros do catolicismo romano que aceitam decididamente aquele
princípio e todos os legítimos efeitos. Pág. 265

Contudo, os editores de A República, entraram também em divergência com Saldanha Marinho,


que era favorável à deportação dos bispos que na sua opinião, eram estrangeiros, devido à sua
obediência espiritual ao Papa. Pág. 266

Publicaram também uma série de artigos em favor do bispo, cujo autor era Pedro Antônio Ferreira
Viana, um dos componentes das fileiras republicanas. Pág. 266

Dom Vital observava a seguir, não ia ser julgado por atos despóticos tais como recusar-se a casar
ou enterrar aqueles que não pertenciam à Igreja, ou negar aos maçons o direito de fazer parte de
confrarias, mas por não haver obtido do governo o exequatur para a promulgação no Brasil, das
encíclicas do Papa (62). Pág. 266

A República declara que não era inimiga do Bispo de Olinda; se o Vaticano se pronunciasse em
favor da separação da Igreja e do Estado, os republicanos não sentiriam mais nenhum hostilidade
para com a igreja (64). Pág. 267

(...) haver sido criado em São Paulo um partido ultramontano. Pág. 268

É claro que a Questão Religiosa de 1872-1875 encontrou a maioria dos republicanos em oposição
à Igreja, mas fizeram-se algumas tentativas para atrair católicos ao Partido. Em 1878-1879, Afonso
Celso Júnior, tentou numa série de conferências, atrair o interesse dos estudantes católicos da
Faculdade de Direito de São Paulo. Pág. 269

Na verdade os republicanos, ridicularizavam o catolicismo a ponto de fazer circular uma paródia


do Símbolo dos apóstolos.
“Creio na soberania do Povo, Toda Poderosa. Criadora dos deveres
e direitos do Homem e na República, sua filha única nossa redentora, a qual
foi concebida por obra e graça da Liberdade, nasceu da Revolução Francesa,
padeceu sob o jugo de todos os reis, foi crucificada, morta e sepultada,
desceu às monarquias para libertar os republicanos que esperavam sua santa
vinda; pouco depois ressurgiu das Revoluções, subiu ao Pensamento, está
sentada à mão direita da Soberania do Povo, Toda Poderosa, donde há de
vir julgar todos reis vivos, entre os quais está Pedro II, e todos os reis
mortos, inclusive Pedro I, creio na Liberdade, na República Universal, na
Comunicação das Idéias, na Condenação dos Reis, na Ressureição dos
mártires, na Paz Universal. Amém” (71). Pág. 269 e Pág. 270

É significativo que parte da oposição à princesa imperial fosse baseada na sua religião. Não houve
propagandista republicano que deixasse de mostrar o perigo que havia em ter uma mulher religiosa,
como chefe de Estado. Pág. 271
Os positivistas quer religiosos, quer meramente adeptos da filosofia comteana, consideravam a
Igreja católica como uma instituição obsoleta: já não havia razão para que permanecesse religião
de Estado. Mas a sua atitude para com a Igreja era ainda de respeito e não se caracterizava pelo
fanatismo de que usavam os liberais e maçons, dentro das fileiras republicanas. Pág. 272

A Igreja, por sua vez, a despeito da perseguição aos seus bispos e das restrições do realismo, via
que pouco teria a ganhar, apoiando o Partido Republicano, tal como era constituído em 1870-1889,
mas via claramente que tudo tinha a esperar da futura imperatriz, que era muito devota. Era
inevitável pois que retribuisse a hostilidade dos republicanos. Ao passo que vários padres tinham
representado papéis proeminentes nos dois partidos monarquistas, embora tivessem realmente
tomado parte em revoluções republicanas passadas, apenas dois sacerdotes, o Padre João Manoel
de Carvalho, do Rio Grande do Norte, Deputado no último parlamento, e o Padre Miranda Cruz,
de Santa Catarina, estavam relacionados com o Partido e exerciam atividades republicanas (80).
Pág. 272

Ao mesmo tempo que nascia o Partido Republicano, intensificava-se no Brasil a agitação em favor
da abolição da escravidão. Pág. 272

No seu primeiro manifesto, o Partido Republicano, não se referiu à questão da escravidão, porém
desde cedo A República tratou do problema e concluia responsabilizando a monarquia pelo câncer
que era a escravidão (82). A 18 de maio de 1871, os republicanos do Rio de Janeiro anunciaram
que, embora fossem abolicionistas, não apoiariam a proposta de lei Rio Branco, conhecida também
por lei do Ventre Livre, que declararia livres todas as crianças nascidas de possuidores de escravos,
estipulando, contudo, que os senhores deviam mantê-los durante a sua menoridade (83). A 27 de
maio, o Partido apresentou, no Rio, a sua própria solução ao problema. Havia, pensavam os
jornalistas republicanos, três meios pelos quais poder-se-ia eliminar a escravidão: permitir às
várias províncias que emancipassem seus escravos, de acordo com suas necessidades econômicas;
decretar a emancipação geral, com indenização aos proprietários, ou decretar a emancipação
gradual, por um período de dez ou quinze anos, sem nenhuma indenização. A solução Rio Branco,
opinavam, viria apenas tornar pior a situação. Pág. 273

(81) Quanto às atividades de Dom Pedro em favor da abolição, ver Heitor Lira, História de Dom
Pedro II, 1825-1891. (São Paulo, 1939). Pág. 273

(82) RR., 8 de dezembro de 1870. Pág. 273

“(...) Nós os republicanos e ipso facto abolicionistas, o que não


podemos aceitar é o funesto presente dos danos, que, sob a falsa aparência
de alta filantropia, acabam de atirar no seio da sociedade brasileira o facho
da conflagração” Pág. 274

Em 1873, no seu primeiro congresso de partido, os republicanos reafirmaram a posição anterior,


quanto ao problema da escravidão, Afirmando novamente que a questão não dizia respeito somente
a eles, mas também à nação em conjunto, e aos partidos monarquistas, especialmente, os
republicanos sugeriram um programa de dois pontos, para a emancipação. As províncias deviam
emancipar os escravos de acordo com os seus interesses particulares, e dever-se-ia dar indenização
aos proprietários. Pág. 277

(…) Luís Gama e Américo e Bernardino de Campos, eram abolicionistas ardentes. Pág. 278
A maioria dos republicanos sufocavam as suas tendências republicanas, em troca de vantagens
políticas, decorrentes de uma aliança com os fazendeiros republicanos de Campinas. Tal não se
dava, porém, com Luiz Gama, mulato, e ex-escravo. Somente ele, dentre os republicanos,
protestou apaixonadamente contra a ação do Congresso, em 1873, e recusou-se a assinar atas. (90).
Pág. 278

(90) Lúcio de Mendonça fala de modo comovente, sobre o ardente protesto de Gama e das reações
que provocou, em “Luiz Gama, uma página escrita há cinqüenta anos”, Revista do Instituto
Histórico Geográfico de São Paulo, XXVII, (1930), 435-444. Essa página fora escrita em 1880,
em São Gonçalo de Sapucaí, Minas Gerais e publicada a primeira vez em São Paulo, 1881. Embora
Luis Gama permanecesse republicano, deu os seus principais esforços ao movimento de
emancipação e atacou freqüentemente a direção do Partido, devido a sua atitude. Sud Mennucci,
O precursor do abolicionismo do Brasil (Luis Gama) São Paulo, 1938, pp. 160-161. Pág. 278

Temos um bom exemplo dessa animosidade, no congresso republicano do Rio, em setembro de


1881, quando Quintino Bocayuva louvou abolicionistas republicanos, tais como José do
Patrocínio, embora censurando-os ao mesmo tempo por serem mais abolicionistas do que
republicanos. Pág. 280

Uma voz: — É exato, disseram até que fariam aliança com a monarquia.
O Sr. J. do Patrocínio: — Se o Partido Republicano quer fazer aliança com os senhores de escravos,
nós outros havemos de fazê-la e até com o imperador”. O Globo, 11 de setembro de 1881. Pág.
280

Ali, Manuel Ferraz de Campos Sales e Prudente de Morais, dois republicanos, foram eleitos para
a Câmara dos Deputados com o apoio dos conservadores, isto é, os adeptos da escravidão. Pág.
281

Aristides da Silveira Lobo advertia o Partido contra qualquer aliança com os abolicionistas.
dizendo:
"Não serei eu quem repudie uma causa tão grande quanto infeliz,
mas uma idéia como a republicana, que aspira a realização de todos os
problemas da vida de um povo, não tem o direito de empenhar-se em uma
luta de desespero sem levar em mente que vai nisso a sorte inteira do seu
programa.
A bandeira do Partido não pode flutuar sobre os míseros destroços
de uma idéia vencida… (104) Pág. 282

Com algumas exceções, os republicanos do Rio, haviam abraçado à causa da abolição. Apenas por
conveniência, tinham deixado de adotar a doutrina extrema dos abolicionistas. Em São Paulo, o
Partido esteve sob a influência dos senhores de escravos Estes, sabiam, sem dúvida, que a
escravidão estava condenada a desaparecer, mas desejavam adiar o mais possível o grande choque
que, segundo julgavam, a abolição iria causar à economia do país. Contudo, mesmo em São Paulo,
compreendia-se de maneira cada vez mais evidente, que o sistema teria de desaparecer num futuro
próximo. Em 1887, o Congresso Republicano decidiu que, a partir de 14 de julho de 1889, nenhum
republicano poderia possuir escravos, porém ao mesmo tempo reafirmou-se a política dos anos
anteriores (106). Pág. 282 e 283

A Província de São Paulo declarou que a escravidão, estava condenada, e que o Partido
Republicano era abolicionista. Contudo, os republicanos concederiam a liberdade aos escravos,
mediante a cláusula de um curto período de serviços, para tornar mais fácil a transição do trabalho
escravo ao trabalho livre (107). Pág. 283

(107) O Partido Republicano paulista não é escravocrata: um ou outro pode ainda ser retardatário,
mas a agremiação política, a coletividade como tal, atuando sob a sociedade, está com os
abolicionistas, porque entende que o tempo da escravidão está findo e tanto assim que os
republicanos concedem liberdade aos escravos com prazo curto de prestação de serviços e
restritamente precisos para se prepararem, a fim de entrar no regime novo do trabalho livre" ibid.,
5 de outubro de 1887. Pág. 283

Em conjunto, o Partido Republicano pouco sofreu em conseqüencia da sua atitude indecisa acerca
da escravidão. Houve, é certo algumas deserções — José do Patrocínio rompeu abertamente com
o Partido, e devotou-se à defesa da princesa Isabel — mas vieram milhares de novos membros, da
classe de ex-senhores de escravos. Pág. 285

"Questão Militar" Pág. 286

Desde a fundação do Partido Republicano, em 1870, em parte como resultado da derrota do


ministério de Zacarias, era de esperar que o Partido se tivesse oposto aos militares. Acresce que os
republicanos tinham em elevado apreço as repúblicas americana e francesa, ambas essencialmente
civis. Contudo, o Partido não poderia derrubar a monarquia senão com o auxílio do Exército. Tal
era o dilema que os republicanos tinham de enfrentar. Pág. 286

(114) Foram várias as crises resultantes da infração desse e de outros regulamentos, e da falta de
disciplina. Em 1873, o coronel Frias Vilar recusou-se a prestar homenagem a um retrato do
imperador, ou a apresentar armas, ao passar pelo palácio do presidente da província. Quando foi
disciplinado, os oficiais do Exército fizeram ouvir altos protestos. Em 1884, o tenente coronel Sena
Madureira, comandante da Escola de Tiro do Rio Grande do Sul, recebeu oficialmente Francisco
do Nascimento, o herói do movimento abolicionista do Ceará. Foi censurado por esta manifestação
de sentimentos políticos e atacado no Senado, por Francisco Sá. Madureira defendeu-se
publicamente em A Federação, o jornal republicano de Porto Alegre. Deixou o Exército, mas foi
vigorosamente defendido pelo General Deodoro da Fonseca e o visconde de Pelotas, senador pelo
Rio Grande do Sul. Em 1886, o coronel Cunha Matos, objeto de ataques na Câmara, defendeu-se
pela imprensa, sem que os seus artigos aprovados fossem pelo Ministro da Guerra Preso por um
dia, foi calorosamente apoiado por seus colegas de armas. Em fevereiro de 1887, sob a presidência
de Deodoro da Fonseca, mais de duzentos oficiais reuniram-se e pediram ao governo que se
abstivesse de punir os oficiais pelo fato de expressarem suas opiniões políticas e por se defenderem
contra ataques públicos. Como resultado da pressão do Exército, caiu o primeiro ministro, Barão
de Cotegipe. No mesmo ano, fundou-se o Clube Militar, sob a direção de Deodoro da Fonseca,
Sena Madureira e Benjamim Constant Botelho de Magalhães. Em outubro, conduzido por esses
oficiais, o Exército recusou-se perseguir e capturar escravos fugidos. Para fazer justiça aos oficiais
do Exército, é preciso admitir que muitas vezes na Câmara, eles eram sujeitos a ataques injuriosos
da parte dos deputados, que tinham imunidade parlamentar. Pág. 286

A partir de 1887, a chefia do partido começou a considerar o Exército como meio de estabelecer a
república. Campos Sales achava que os republicanos deviam aproveitar-se da questão militar
(126). Pág. 288
Saldanha Marinho chegou mesmo a pedir aos republicanos da província do Rio, que apoiassem a
candidatura de Deodoro — talvez o oficial de maior popularidade, em todo o Exército — (...) Pág.
288 e 289

O Exército era particularmente receptivo à propaganda republicana, graças, em grande medida, às


atividades do tenente coronel Benjamim Constant Botelho de Magalhães, que entrara no Exército
em 1851. Mais tarde, tendo servido na guerra do Paraguai, tornou-se membro da faculdade da
escola militar. Em 1889, era professor. Durante as crises militares de 1886-1887, nas quais figurara
o tenente coronel Sena Madureira, Benjamim Constant defendeu ativamente os militares. Pág. 292

Jardim interessava-se apenas por uma revolução que fosse apoiada pela maioria da população, não
aceitaria uma revolução conduzida por uma minoria e pelo Exército. Bocayuva era mais realista.
Sabia que sem o Exército, não haveria possibilidade de êxito. Mas até outubro de 1889, parece não
ter havido ligação séria entre o Partido Republicano e os militaristas. Pág. 292

(140) O esforço louvável e evidente de Ouro Prêto, para proteger o seu governo e a monarquia.
durante os anos de enfraquecimento da influência militar, foi efetivamente usado para propaganda
militar. Pág. 292

(141) Ernesto Sena. Deodoro, Subsídios para a história — Notas de um repórter (Rio de Janeiro,
1913), pp 31-32. Pág. 292

Essa proeminência porém, não era devida à sua insubordinação nem ao seu apoio aos oficiais, mas
antes à sua posição como professor. Foi a sua popularidade entre os estudantes a sua maneira hábil
de doutriná-los sobre os ideais do republicanismo que fizeram dele a grande figura da revolução
de 15 de novembro de 1889. Pág. 292 e 293

Benjamim Constant familiarizara-se também muito cedo com a filosofia de Augusto Comte (142),
cujas idéias religiosas abraçara. Como professor da Escola Militar, difundiu entre os estudantes,
um grande entusiasmo pela doutrina de Comte (143). Tendo aceito Comte, os estudantes aceitavam
também a república, embora não necessariamente a mesma república advogada pela maioria dos
republicanos. No fim de 1889, por intermédio de Constant e de seus discípulos entusiastas, as
teorias de Comte se haviam difundido pela Escola Militar e influenciaram o Exército inteiro. Em
1889, o republicanismo se tornara a filosofia dominante entre os elementos mais jovens do
Exército, e foram eles que, tendo sempre Benjamim Constant como líder, prepararam o caminho
para o 15 de novembro. Pág. 293

Constant abordou então o General Deodoro da Fonseca, que se sabia ser hostil ao ministério de
Ouro Preto, e poderia ser convencido da necessidade de derrubar o governo. Mas uma revolução
que não tinha por alvo o governo propriamente, porém a monarquia de Dom Pedro II, com o qual
ele se encontrava em termos de amizade e do qual recebera muitos favores, era coisa muito
diferente. Benjamim Constant tentou persuadir Deodoro a conduzir uma revolta republicana, e
embora o general parecesse concordar, permanecer, na sua mente, uma indecisa lealdade ao
imperador (145). Pág. 293 e 294

Nesse ínterim, o Partido Republicano não permanecera ocioso. Aristides Lobo estivera em
contacto com Benjamim Constant, desde os fins de novembro e empregara como intermediários
Serzedelo Correa e Solon Ribeiro, ambos republicanos e oficiais do Exército. A 6 de novembro,
Lobo entrou em contacto com Campos Sales, nesse tempo da Comissão Permanente do Partido de
São Paulo. Campos Sales, por sua vez, comunicou-se com Francisco Glicério, então em Campinas,
e Prudente de Morais, em Piracicaba (146). Glicério foi enviado ao Rio, ao passo que Campos
Sales e Prudente de Morais permaneceram em São Paulo, secretamente, a fim de preparar a
próxima revolução (147). Glicério chegou ao Rio a 8 de novembro (148). São Paulo era sempre
mantido a par desses acontecimentos. Campos Sales recebeu cartas de Bocayuva e Lobo,
assegurando-lhe que prosseguiam as negociações. Elaborou-se um código telegráfico, para
informar os paulistas do resultado das conversações com os militares. A 12 de novembro, Campos
Sales recebeu um telegrama de Glicério, que dizia: "Banco aceita transação Mande notícias penhor
agrícola". "Exército resolvido a fazer revolução. Mande notícia do 10.º de Cavalaria" (149). Pág.
294

A revolução que devia irromper no Rio foi marcada para 17 ou 18 de novembro. No dia 14, os
republicanos espalharam no Rio o rumor de que Deodoro, Benjamim Constant e Solon Ribeiro
iam ser presos e que dois regimentos, então estacionados na cidade, seriam transferidos para o
interior. Ao meio-dia, os regimentos revoltaram-se, sem conhecimento prévio dos conspiradores.
De manhã cedo, toda a brigada estava em armas e a revolução prosseguia. Na manhã de 15 de
novembro, os conspiradores reuniram-se e marcharam para o Quartel General, onde se mantinham
Ouro Preto e o gabinete, com uma força de defesa. O primeiro ministro estava indeciso quanto a
atacar. Por volta de 9 horas e 30 minutos, os dois lados do Exército confraternizavam e Ouro Preto
e seus auxiliares foram presos. As tropas marcharam então para o Arsenal da Marinha onde
receberam a adesão das forças ali estacionadas. Neste ponto, Deodoro, que estava doente, retirou-
se para sua residência e as tropas voltaram aos quartéis. As três horas da tarde, Anibal Falcão,
Pardal Mallet e José do Patrocínio — o último aderira então ao Partido, proclamaram a república,
no Conselho Municipal da cidade, empregando, para esse fim, uma bandeira fornecida pelo Clube
Republicano Lopes Trovão. O primeiro ato oficial do novo governo teve lugar nessa tarde. Pág.
294 e 295

O Exército realizou a revolução e tê-la-ia evidentemente realizado, sem a participação dos chefes
republicanos. A presença de Quintino Bocayuva, no ato, mesmo que não fosse importante, era
dignificativa, pois que apunha o selo da aprovação republicana no que, de outra maneira, teria sido
apenas um coup d'état militar. Pág. 295

Apenas Bocayuva, Lobo e Glicério estavam entre as cabeças no Rio Pág. 296

A grande facção republicana dirigida por Silva Jardim não estava representada na conspiração e
ele próprio foi o único a representar um papel aliás pouco importante, como orador, depois da
rendição do governo de Ouro Preto. Bocayuva foi o único chefe que participou diretamente do
levante militar. Conforme admitiu ironicamente anos mais tarde. "Eu próprio fui o único Chefe,
por algumas horas, no dia 15 de novembro de 1889. Nesse momento, o cargo e a preeminência
não eram apetecíveis. Tratava-se de expor a cabeça, e morrer por morrer, antes eu que era o mais
tolo, senão o mais velho. Mas do dia 16 em diante, já fui considerado uma espécie de Britannicus,
cuja eliminação favorecia o advento de novas capacidades". Pág. 296

Porém a participação de Bocayuva não significa que o Partido, como tal, tivesse também
participado. A revolução de 15 de novembro de 1889 permanece pois, quase exclusivamente uma
revolta militar. Pág. 296

A presença de Quintino Bocayuva, de Aristides Lobo e dos chefes de São Paulo deu apenas uns
toques de republicanismo no que não foi, na realidade, mais do que um coup d'état militar,
conduzido por forças alheias ao republicanismo pregado desde 3 de dezembro de 1870. Pág. 297
Não resta dúvida, contudo, de que o Partido Republicano, particularmente os elementos
conduzidos por Aristides Lobo, representaram papel essencial na conspiração. Pág. 297

As relações de Deodoro da Fonseca com as idéias monarquistas, e as suas simpatias por elas, são
sobejamente conhecidas. A sua boa vontade em colocar-se à frente de um Exército rebelado, era
coisa muito diversa do desejo de conduzir uma conspiração verdadeiramente revolucionária. Pág.
297 e 298

A fim de fundar a república, o Partido Republicano teria de convencer a direção militar, no caso,
Deodoro. Uma vez convencido este — a sua hesitação devia ter causado momentos de ansiedade
ao Partido — já não havia obstáculo ao bom êxito da conspiração. Pág. 298

À despeito da subseqüente lisonja que o rodeou, Floriano Peixoto parece ter sido um mero
oportunista. A sua adesão ao complot veio aumentar as possibilidades de sucesso. Pág. 298

A conversão de Deodoro teria estabelecido o Partido Republicano como fator definido, decisivo,
na Revolução de 1889 se essa conversão tivesse sido devida unicamente aos seus esforços. Porém
a honra que lhe cabe por isso deve ser partilhada com Benjamim Constant. Republicano convicto,
Benjamim Constant era o segundo em popularidade, no meio dos oficiais. Representando um tipo
de republicanismo já em voga no Exército, estava habilitado a influenciar a decisão de Deodoro,
de modo muito diverso do de Lobo ou Bocayuva. Se o Exército era republicano e desejava
cooperar, era isso devido a Constant e não ao Partido. Sua influência, como oficial e companheiro
de armas nas dificuldades sobrevindas entre os militares e a coroa, não podia deixar de ser um
fator importante neste caso. A adulação de que foi alvo e o fato de se lhe haver atribuído
inteiramente a honra da fundação da república, tornam extremamente difícil estabelecer o ponto
em que se exerceu a sua influência individual, mas o título de "Fundador da República", que lhe
foi conferido, parece justificado, quando se considera o seu papel na conspiração, o seu modo
eficiente de doutrinar o Exército e a sua participação de fato, no golpe. Não é improvável que o
papel de Benjamim Constant fosse na verdade o mais importante e que os chefes do Partido
Republicano serviram meramente para dar o tom oficial a uma questão que poderia perfeitamente
ter sido decidida sem o seu concurso. Pág. 298 e 299

Mas se o Partido pouco contribuiu para a conspiração, e a revolução de 15 de novembro, onde está
a sua contribuição para a República instituída em 1889? Pág. 299

O povo brasileiro deu a isso a resposta, a 16 de novembro daquele ano, ao aceitar sem protestos o
novo regime. Pág. 299

Ficou já demonstrado que a idéia de república recebeu um impulso considerável graças às


atividades do Partido. De uma mancheia de entusiastas que eram em 1870, os republicanos
passaram a constituir, em 1889, uma porção substancial do eleitorado nas populosas províncias do
Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde, se não constituíram maioria,
tornaram-se contudo, em conjunto, uma força influente. Nas outras províncias alcançaram-se
progressos semelhantes. Por outro lado, é certo que o Partido era de uma fraqueza deplorável em
certos pontos do país, especialmente no Brasil Central, no Marítimo, e nas províncias do Norte e
do Oeste, com exceção de Pernambuco e Sergipe. Pág. 299

Embora os resultados eleitorais forneçam provas suficientes de que o Partido Republicano


conquistara uma parte substancial do povo brasileiro, é difícil senão impossível, determinar a que
ponto o elemento monarquista da população foi afetado pela propaganda republicana. Deve-se
admitir contudo que no Rio e em São Paulo, com uma direção eficiente e uma imprensa brilhante,
a onda de republicanismo penetrou nos círculos monárquicos, exercendo uma influência que estava
fora de proporção com a extensão de suas fileiras. Pág. 300

Os conflitos do império com os senhores de escravos e o Exército tornam ainda mais difícil fazer
um estudo apropriado da influência do Partido Republicano. E é preciso também levar em conta o
outro grande "fator", as relações da monarquia com a igreja, para fazer qualquer avaliação sobre o
sentimento republicano no Brasil. Pág. 300

Não se deve contudo subestimar o valor da propaganda republicana, pois que a cólera dos senhores
de escravos poderia ter sido expressada de modo diferente. Pág. 300

A prova mais significativa do valor da propaganda republicana encontra-se indubitavelmente nos


acontecimentos de 15 e 16 de novembro. A passividade absoluta com que a maioria dos brasileiros
presenciou o desaparecimento de um regime no qual haviam prosperado e progredido, causa
espanto aos observadores políticos. Pág. 300

A doutrinação do povo, pelo Partido Republicano, constituiu, pois, a maior contribuição deste
último para a revolução. Pág. 301

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