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SUMÁRIO
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
1.2.2. O ESTADO ABSOLUTISTA
O Estado Absolutista passou por duas fases. Na primeira, a fundamentação era divina e
incontestável. Maquiavel, nessa época, escreveu O Príncipe. Havia dualidade de poder entre monarca e
clero.
A segunda fase foi marcada pelo distanciamento da ideia de Estado de bases teológicas. O
absolutismo passava a ser fundamentado em bases filosóficas e contratuais. Vivia-se num período de
revolução paradigmática no campo da filosofia. Instaurava-se uma nova fundamentação ao poder,
apta a substituir os valores medievos. Aceitavam-se novas fundamentações – visão antropocêntrica,
racionalista e humanista na filosofia.
Era a época do renascimento cultural, que acarretou a definitiva secularização do Estado em
relação à Igreja.
Tomas Hobbes, o primeiro contratualista, discorreu a respeito do Estado “Leviatã”. Tratava-
se de discurso dialético envolvendo civilização e barbárie.
“Palco de uma guerra civil do gênero humano, o estado de natureza aparelhava, por
conseguinte, o extermínio e mútuo aniquilamento do todos. Era um estado de sangue,
desconfiança e ferócia contumaz, em que o medo, institucionalizado no instinto de
sobrevivência, não deixava ainda antever o advento da consciência agregativa, suscetível de
instituir um sistema de relações fundado no estabelecimento da ordem e da segurança.
Estado de natureza fadado a perpetrar-se se não houvesse logo, por necessidade já
inelutável, a passagem ao estado de sociedade.” 1
O homem perde liberdade em troca da promessa de conservação. Todas as liberdades são
transferidas ao Estado, “senhor absoluto da vida e dos comportamentos humanos, pelos menos segundo
a tese implícita nessa singular doutrina com que a razão buscou edificar o Estado Moderno”.2
Maquiavel e Hobbes forjaram ideologias que guiaram e legitimaram os arbítrios do regime
absolutista.
1 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 25.
2 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 25.
3 KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. 3 ed. São Paulo: Nova Cultura, 1987, p. 14.
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John Locke, o segundo contratualista, tal como Hobbes, fundava os argumentos na ideia de
delegação, mas não de forma tão ampla, refutando a possibilidade de delegação da própria vida em
prol da segurança e salientando a pré-existência de direitos naturais ao homem e superiores ao
poder do Estado. Em Locke já se sinalizava certa noção de Constituição, pois se resguarda a liberdade
individual, a vida e outros direitos tidos por naturais.
Rousseau, por sua vez, não utilizou o discurso barbárie versus civilização. Os argumentos
foram voltados à ideia de um consenso inicial: “O homem nasceu livre e por toda parte ele está
agrilhoado. Aquele que se crê senhor dos outros não deixa de ser mais escravo que eles. Como se
deu essa mudança? Ignoro-o. O que pode legitimá-la? Creio poder resolver esta questão”.4 Ele
sustentava que a ordem social não advém da natureza, mas funda-se em convenções, uma vez que
“o mais forte nunca é bastante forte para ser sempre o senhor, se não transformar sua força em
direito e a obediência em dever”.5
E adiante: “dizer que um homem se dá gratuitamente é dizer uma coisa absurda e inconcebível;
este ato é ilegítimo e nulo, pelo simples fato de que quem o pratica não está em seu juízo perfeito. Dizer o
mesmo de todo um povo é supor um povo de loucos: a loucura não estabelece o direito”.6
Para Rousseau, antes de buscar compreender o ato pelo qual um povo elege um soberano,
um Estado Leviatã, é preciso examinar o ato pelo qual um povo é um povo e é aí que reside a ideia
de um pacto inicial com vistas a uma comunhão de forças suficiente à fundação da sociedade.
Argumentou que Robinson Crusoé e Adão, enquanto sozinhos em seus respectivos mundos,
não necessitavam de pacto inicial algum. Contudo, a partir o momento em que passaram a coexistir,
o pacto inicial necessitava ser firmado.
Com o pacto inicial Rousseau pressupôs a unanimidade em um tempo remoto qualquer. Se
assim não o fizesse “onde estaria a obrigação de os menos numerosos se submeterem à escolha dos
mais numerosos e de onde vem o direito de cem indivíduos, que querem um senhor, votar por dez
que não o querem?”.7
Rousseau não esteve imune a críticas. Entretanto, concretizou a ideia de Estado como
instrumento hábil à busca de um objetivo comum e limitado no tocante à possibilidade de manejar
direitos individuais.
Estava formado o caldo de ideias iluminista. A burguesia, classe já fortalecida, não mais se
contentava somente com o poder econômico e não mais suportava os abusos absolutistas. Os
burgueses queriam o poder político. Advinha a Revolução Francesa sob o lema da liberdade,
igualdade e fraternidade. O Terceiro Estado8 tomava o poder.
Instituiu-se Assembleia Nacional para a criação de uma Constituição democrática para o país
e, após a invasão popular, em 1789, da velha prisão da Bastilha, símbolo do absolutismo monárquico,
Luís XVI via-se forçado a reconhecer a legitimidade da Assembleia.
Proclamou-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Em 1791 concluíram-se os
trabalhos constituintes. Surgia o Estado Liberal, absenteísta. A burguesia precisava dos princípios do
laissez-faire, de modo a possibilitar o desenvolvimento do capitalismo, base de seu poderio
econômico. O Estado tinha por base a lei codificada. O que não era proibido era permitido.
Protegiam-se direitos de primeira geração (vida, liberdade, segurança).
4ROUSSEAU, Jean-Jaques. O contrato social. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 3. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 09.
5 ROUSSEAU, Jean-Jaques. O contrato social. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 3. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 12.
6 ROUSSEAU, Jean-Jaques. O contrato social. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 3. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 14.
7 ROUSSEAU, Jean-Jaques. O contrato social. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 3. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 19-20.
8 SIEYES, Emmanuel. Qu’est-ce que le Tiers-état?Paris: Éditions du Boucher, 2002.
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inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição – encontra insuperável limitação na garantia
constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da
essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noção de ‘mínimo existencial’, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos
constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir
condições adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a
prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à educação, o
direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à
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De acordo com o artigo 6˚, caput e inciso IV da Constituição Federal, o piso vital mínimo (para
usarmos as palavras de Celso Antônio Pacheco Fiorillo15) deveria proporcionar o gozo de direitos
sociais tais como educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança,
previdência social, proteção à maternidade e à infância, além do direito, aos desamparados, à
assistência social.
Estado Social (ou Estado Democrático de Direito, como prefere Lênio Streck16) só será
possível quando as receitas provenientes de tributos forem arrecadadas e utilizadas de modo a
possibilitar a efetiva implementação dos serviços públicos inerentes aos direitos de segunda geração.
alimentação e o direito à segurança. Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV)." (ARE 639.337-AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, julgamento em 23-8-2011, Segunda Turma, DJE de 15-9-2011.)
15 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 13.
16 STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 4 ed. rev. atual. Porto
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Por outro lado, pode acontecer de uma Constituição ser fruto da prevalência de um
contexto, uma hegemonia política que, por meio de um órgão constituinte, sistematiza os dogmas ou
ideias fundamentais acerca da teoria política e do direito dominantes naquele momento. Como
resultado, cria-se uma constituição escrita de caráter dogmático.
17Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e
individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as
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1.4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1.4.1. A CONSTITUIÇÃO DE 1824 – A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL
Outorgada, a primeira Constituição do Brasil foi concebida para ajudar a manter a unidade
nacional logo após a independência do país.
A constituição que se impunha por vontade do poder do imperador era vital para auxiliar o
novo país a sufocar os movimentos regionais que compreendiam a independência a Portugal como
uma oportunidade para a criação de países independentes naquele espaço comum de língua
portuguesa.
O constitucionalismo, que defendia a tese de uma Constituição centralizadora e
uniformizante do território nacional, se propunha a servir como principal elemento aos interesses
daqueles que não desejavam ver o Brasil dividido em algumas pequenas nações. Assim sendo, foi
marcada pelo centralismo administrativo e político, utilitarismo e absolutismo.
Assim, a Constituição de 1824 estruturou um mecanismo centralizador e também pacificador
dos distúrbios sociais que ameaçaram a existência do território brasileiro como o conhecemos hoje
em dia.
Quando à divisão dos Poderes, um dos pontos que mais chamam atenção refere-se à
existência do Poder Moderador. Além das funções executivas, legislativas e judiciárias, estabeleceu-
se a função moderadora, exercida pelo imperador. Conforme a própria Constituição, “o Poder
Moderador é a chave de toda a organização Política.” Em termos práticos, o poder moderador
permitia ao imperador: nomear senadores, sancionar ou vetar proposições do Legislativo, dissolver a
Câmara dos Deputados, convocando outra, nomear e demitir livremente os Ministros de Estado e
suspender os Magistrados.
A Constituição de 1824, apesar de outorgada, organizada a partir de uma divisão
quatripartite de poderes (executivo, judiciário, legislativo e moderador) trouxe uma das primeiras
manifestações sobre direitos fundamentais no espaço constitucional se comparada a outras
constituições do mundo ocidental.
Nesse sentido se pode considerar o inédito artigo 179, da Constituição de 1824 que sob o
título de “Garantia dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros” buscava estabelecer
algumas diretrizes sobre o tema, mesmo em um país imperial e com um absolutismo ilustrado. Este
artigo 179, extenso e bastante detalhado para a época reconhecia, entre outros direitos, àqueles
ligados à legalidade, à igualdade, à liberdade de pensamento, bem como, à propriedade e à
inviolabilidade de domicílio.
Este artigo 179, mais do representar o tema da presença dos direitos fundamentais em uma
Constituição em nosso país, revela também a influência que aquilo que se denomina de primeira
dimensão de direitos exercia em nosso ordenamento jurídico. Esta primeira dimensão,
marcadamente liberal e tendo no indivíduo o seu principal sujeito buscava a defesa de um universo
calcado nas condições do mercado, da propriedade e da idéia de lei escrita positivada, que buscava a
proteção, fundamentalmente, dos direitos civis dos sujeitos.
Em suma, estas são as principais características da Constituição de 1824:
a) Divisão do território em províncias.
b) Governo monárquico hereditário, constitucional e representativo.
c) Religião oficial católica apostólica romana.
d) Capital do Império: Rio de Janeiro
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e) Divisão harmônica dos quatro poderes (teoria quadripartite de Benjamin Constant (Poder
Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário e Poder Moderador).
f) Eleição indireta e voto censitário para o legislativo.
g) Poder executivo federal exercido por ministros de Estado.
h) O veto era um exercício exclusivo do Poder Moderador, exercido pelo Imperador.
i) Declaração de Direitos no artigo 179 da Constituição.
j) Centralização político-administrativa.
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f) Mendigos
Ao Congresso Nacional se reservou o direito à regulamentação do sistema eleitoral para as
eleições dos cargos políticos federais, bem assim às assembleias estaduais a regulamentação para as
eleições estaduais e municipais.
No campo dos direitos fundamentais, a Constituição de 1891 manteve as proteções às
clássicas liberdades privadas, civis e políticas, ou seja, ela ainda buscava a proteção às expressões de
autonomia do indivíduo e de proteção a sua capacidade de agir enquanto sujeito capaz de firmar a
sua autonomia e vontade, por essa razão, a Constituição de 1891 não restringiu o conceito de
igualdade, ao contrário, inovando, estendendo-o aos estrangeiros. Além disso, pela primeira vez,
houve expressa previsão do remédio constitucional do habeas corpus.
Além disso, ela previu, por exemplo, a gratuidade do casamento, os direitos de reunião e
associação, bem assim o direito à ampla defesa e muitos outros conforme o seu artigo 72, que
apesar de ser extenso como o anterior artigo 179 da Constituição de 1824, não reconheceu direitos
sociais da classe operária que se constituía lentamente a partir de um processo de urbanização
igualmente lento pela sobrevida da tradição agropecuária de nosso país.
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Influenciada pelas constituições européias pós-primeira guerra mundial, fundamentalmente
a Constituição de Weimar, de 1919 e pela Constituição do México, de 1917, a Constituição de 1934
pode avocar para si o fato de que ela inaugurou o que se reconhece como “Estado Social Brasileiro”,
estado amplamente intervencionista na medida em que se colocava como um Estado provedor da
proteção dos direitos sociais de seus concidadãos.
A Constituição de 1934 reconheceu uma série de direitos sociais, como se pode observar em
seu artigo 113 e 121, importantes que foram para lançarem as bases do que mais tarde será o futuro
Ministério do Trabalho e da Consolidação das Leis do trabalho, a CLT, pois reconhece que “a lei
promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos,
tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.”
Contudo, esta constituição teve um curtíssimo prazo de vigência, pois foi logo substituída
pela Constituição do Estado Novo.
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g) O direito de greve foi proibido.
h) Política de nacionalização da economia.
A Constituição criada sob essas condições consequentemente proibiu os partidos políticos, a
imprensa tornou-se alvo de censura e controle através do DIP (departamento de imprensa e
propaganda), órgão do governo Vargas e repressão severa justificada através de uma ampla extensão
do poder do presidente da república.
Entretanto, mesmo nesta Constituição, se pode anotar a presença do artigo 122 que ainda
reconhece alguns direitos individuais, uma vez que a política externa de Vargas, ainda que simpática
aos países do Eixo (Alemanha-Itália-Japão) não buscava um afastamento aberto com os ideais das
nações ainda democráticas.
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a) liberdade
b) solidariedade
c) paz
d) fraternidade
e) felicidade
f) direitos difusos
g) direito ao meio ambiente
h) direito ao patrimônio histórico e cultural
i) defesa dos direitos abstratos
A liberdade de pensamento, não era total no que dizia respeito a diversões públicas e
espetáculos, mas, foram abolidas as penas de morte e prisão perpétua e foram restaurados os
institutos do habeas corpus, mandado de segurança e ação popular, bem como também a
integralidade dos princípios da irretroatividade da lei e da legalidade.
Esta Constituição, marcada pela experiência anterior da Era Vargas chegou a estabelecer que
as liberdades e garantias individuais não podiam vir a ser cerceadas por meio de condições e
estratégias autoritárias, numa clara manifestação de proteção aos princípios democráticos. Neste
sentido, até mesmo quando se tratava da possibilidade do Estado de Sítio a Constituição impedia a
vontade soberana do chefe do executivo e atribuía tal condição excepcional ao Congresso Nacional.
Ela também reconheceu o direito de greve aos trabalhadores, reafirmando,
constitucionalmente o direito do repouso semanal remunerado e a participação obrigatória e direta
nos lucros da empresa. Importa destacar que uma das maiores inovações da Constituição de 1946
veio a ser a instituição, no capítulo dos direitos individuais da norma que determinava que “a lei não
poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”, o que
significava afirmar que a partir da experiência histórica vivida por nosso país esta Constituição, em
particular, instituía ao mesmo tempo um Estado de direito, mas uma limitação da vontade deste em
relação ao direito da inafastabilidade do sujeito em se socorrer do poder judiciário, pois se
reconhecia a condição de harmonia entre os três poderes.
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e) Reconhecimento do Poder Legislativo do presidente da República por decretos-leis.
f) Institucionalização dos atos institucionais.
g) Possibilidade de suspensão dos direitos políticos por um período de 10 anos.
A Constituição de 1967 veio a consolidar uma série de arbitrariedades que se fizeram sentir,
desde 1964, pelos decretos dos Atos Institucionais, os “AI”, instrumentos excepcionais que acabaram
ampliando o poder da junta militar.
Sem poder assumir a condição explícita de um regime efetivamente autoritário, o Brasil
tentava demonstrar a presença de um clima de estabilidade constitucional, uma vez que o Congresso
Nacional fora convocado, por meio do Ato Institucional n° 4, para discutir e votar um novo texto
constitucional, justificando legalmente a condição excepcional e conflituosa entre a antítese dos ‘AIs’
e a Constituição de 1946. Em 1967, o resultado foi a promulgação de uma nova Constituição
essencialmente centralizadora, que requereu para o âmbito federal uma série de competências que
antes pertenciam aos estados-membros e aos municípios, ampliando a força dos militares e da
ditadura.
Sem abandonar a defesa de direitos individuais e direitos sociais dos trabalhadores a
Constituição de 1967, por outro lado, reduziu ao limite a autonomia individual, já que ela permitia
suspender direitos e garantias constitucionais.
Foi editado o Ato Institucional n° 5, o que veio a representar na prática o controle sem limites
do poder executivo e a limitação inquestionável dos direitos fundamentais longamente construídos
pelo nosso sistema constitucional anterior.
A Constituição de 1969, a sétima da história brasileira, a quarta outorgada, nasceu no
processo de golpe militar e de ruptura da ordem que começara em 1964 e que se consolidava 05
anos depois.
Importa lembrar que a emenda constitucional que deu origem à Constituição de 1969 visou
institucionalizar e constitucionalizar o Ato Institucional de n.º 5, que representava na prática um
regime autoritário e repressivo em nosso país. Entre as suas iniciativas podem ser destacadas:
a) Fechamento do Congresso Nacional por 10 meses.
b) Suspensão da garantia do habeas corpus quando ocorresse crime político, contra a
segurança nacional, ordem econômica e social e economia popular.
c) Proibição ao pluripartidarismo (reconhecimento da existência de duas estruturas sociais
que agiam como partidos sem o serem: A Aliança renovadora Nacional (ARENA) e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
d) Eleição indireta para presidente da República.
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A Constituição inovou em inúmeros campos, não somente por destacar em sua primeira
parte normas materiais que exalam a invasão dos princípios fundamentais no texto constitucional.
A técnica que o constituinte originário buscou desenvolver veio a ser a de consagrar os
direitos e garantias individuais e coletivos, bem como a apresentação do procedimento legislativo,
das competências dos entes da República Federativa, como a competência de todos os institutos que
formam os três poderes independentes e harmônicos entre si.
A Constituição de 1988, a constituição cidadã, não apenas restaurou os direitos e garantias
individuais como ampliou a capacidade jurídica dos princípios que informam a defesa do ser humano
em se metamorfosearem enquanto regras jurídicas impositivas, permitindo a Constituição uma força
principiológica que é hoje a base de todo o ordenamento jurídico.
NORMAS CONSTITUCIONAIS
18
BONAVIDES, op. cit., p. 255 e segs.
19 “As regras são normas imediatamente descritivas, primariamente retrospectivas e com pretensão de decidibilidade e abrangência, para
cuja aplicação se exige a avaliação da correspondência, sempre centrada na finalidade que lhes dá suporte ou nos princípios que lhes são
axiologicamente sobrejacentes, entre a construção conceitual da descrição normativa e a construção conceitual dos fatos. [...] Os princípios
são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja
aplicação se demanda uma avaliação da correlação entre o estado das coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida
como necessária à promoção.” (ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 2.ed. São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 70).
20
BONAVIDES, op. cit., p. 289.
21 “Princípio – já averbamos alhures – é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição
fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e
inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.
É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema
jurídico positivo. [...] Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa
não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus
valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.” (BANDEIRA DE MELLO, Celso
Antônio. Curso de direito administrativo. 20.ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 902-903.
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2.2. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
A Constituição Federal, como norma fundamental, é o fundamento de validade de todas as
demais normas existentes no ordenamento jurídico. A Constituição deve ser interpretada através dos
métodos clássicos (gramatical, histórico, teleológico e sistemático), mas obedece a princípios
especiais de interpretação, decorrentes principalmente de sua supremacia. São eles:
- Unidade da constituição: a Constituição deve ser interpretada como um conjunto de
normas, uma unidade normativa. Suas normas encontram-se harmonicamente estabelecidas,
devendo ser afastadas aparentes contradições. Não se interpreta uma norma constitucional
de forma isolada, ela deve ser vista em um contexto normativo.
- Efeito integrador: a Constituição não pode ser vista como instrumento de desagregação
social. Ao contrário, ela deve buscar a integração política e social, reforçando a unidade do
ordenamento jurídico.
- Máxima efetividade (ou interpretação efetiva, ou princípio da eficiência): as normas
constitucionais devem ser interpretadas extraindo-se delas o sentido que lhe atribua maior
efetividade.
- Concordância prática (ou harmonização): decorre da inexistência de hierarquia entre as
normas constitucionais e exige do intérprete a harmonização entre as diversas normas, e em
consequência entre os valores constitucionalmente protegidos. Com isso, evita-se o sacrifício
de um direito em detrimento de outro.
- Força normativa: a Constituição é norma fundamental e como tal produz eficácia jurídica.
Dessa maneira, dentre as interpretações possíveis, deve o intérprete adotar aquela que
atribua maior eficácia às normas constitucionais.
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22 “Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o
sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.”
23 Estas características são apontadas por Luís Roberto Barroso (Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. 5. ed. São Paulo: Sairaiva, 2003, p. 107). Entretanto, o autor ressalta que há diversos outros modos de
apontar as peculiaridades das normas constitucionais e cita como exemplo as obras de J.J. Gomes Canotilho, Jorge Miranda, Celso Ribeiro
Bastos e Raúl Casosa Usera.
24
CF, artigo 5˚, caput.
25 CF, artigo 37, caput.
26 CF, artigo 170, caput.
27 CF, artigo 5˚, inciso XXIII, artigo 170, inciso III, artigo 182, § 2˚ e artigo 186.
28 CF, artigo 1˚, inciso III.
29 CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito Constitucional. 5 ed. Coimbra: Almedina, 1986, p. 216.
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A utilização de normas o mais específicas possível (tipos) é imprescindível no tocante à
previsão das condutas penalmente relevantes, bem como naquelas capazes de viabilizar o
surgimento de um fato gerador tributário. Afinal, o que se espera, tanto do intérprete das normas
penais incriminadoras, quanto daquele responsável pela análise de eventual subsunção de condutas
humanas à hipótese de incidência tributária (para usarmos a expressão de Ataliba30) é somente que
ele aplique a norma abstratamente prevista acaso o fato ocorrido no mundo fenomênico,
empiricamente observável, esteja em perfeita consonância com o tipo. Não há muito espaço
interpretativo.
De forma diametralmente oposta, quando o legislador, seja ele o Constituinte ou o ordinário,
utiliza-se de conceitos jurídicos indeterminados como a dignidade da pessoa humana e a função
social da propriedade (para ficarmos somente no nível constitucional), é imprescindível que o
intérprete construa a norma aplicável a cada caso concreto. É por intermédio desse tipo de norma
que se busca a verdadeira concretização do direito. Os conceitos jurídicos indeterminados são os
alicerces de uma aplicação otimizada, realista e justa do direito, da norma ao caso concreto.
As cláusulas abertas conferem ao intérprete a possibilidade de atribuição da justiça a cada
caso concreto, além de conferir eficácia ao próprio texto legal, senão perene, mais duradoura do que
se estivesse ela circunscrita à casuística abstratamente prevista pelo legislador.
A força normativa31 é intensamente maior e assim permanece por muito mais tempo, pois as
pressões axiológicas, ainda que se alterem, poderão, no máximo, acarretar alguma diferença quando
da construção da norma no decorrer dos tempos. Jamais, entretanto, do próprio texto
constitucional.
Não se pode olvidar que, diante da clara abertura dos princípios, o Legislativo atribui ao
Judiciário o poder-dever de construir a norma em cada caso concreto. Assim, no caso dos princípios,
a jurisprudência detém forte influência, quase nos moldes do sistema de precedentes norte-
americano.
Por outro lado, é inegável que as regras constitucionais detenham forte caráter político.
Segundo Luís Roberto Barroso:
“Uma Corte Constitucional não deve ser cega ou indiferente às conseqüências políticas de
suas decisões, inclusive para impedir resultados injustos ou danosos ao bem comum. Mas
somente pode agir dentro dos limites e possibilidades abertas pelo ordenamento. Contra o
direito o juiz não deve decidir jamais. Em caso de conflito entre o direito e a política, o juiz
está vinculado ao direito” 32.
As decisões do Supremo Tribunal Federal podem ser pintadas com cores políticas. Basta, para
tanto, lembrarmos da possibilidade de aquela corte limitar os efeitos de uma declaração de
inconstitucionalidade, ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou d e
outro momento que venha a ser fixado (Lei 9.868/99, artigo 27 e Lei 9.882/99, artigo 11).33
A declaração de inconstitucionalidade, por atingir o plano de validade da norma, gera efeitos
retroativos (ex tunc). Entretanto, o Supremo Tribunal Federal não pode estar alheio ao impacto que
as decisões lá proferidas possam causar em termos socioeconômicos.
30
ATALIBA, Geraldo, Hipótese de Incidência Tributária. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
31
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991.
32 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 5.
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração
ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
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2.4.1. PARTICULARIDADES
Deve-se dar grande importância à interpretação sistemática da Constituição, pois é somente
mediante uma visão geral da Carta que se consegue respeitar o princípio da unidade da Constituição.
Este postulado preconiza que as normas constitucionais não podem ser analisadas de forma
isolada, como se fossem elementos autônomos, independentes, bastantes em si mesmos.
Os princípios constitucionais são a síntese dos valores mais relevantes da ordem jurídica. Eles
devem funcionar como horizontes interpretativos em qualquer processo de aplicação das regras
constitucionais. Eles indicam o ponto de partida e os caminhos a serem seguidos. Violar um princípio
é muito mais grave do que transgredir uma regra.34
34 ÁVILA, Humberto, Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 4 ed. São Paulo, Malheiros, 2004; DWORKIN,
Ronald, Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
35
O STF, ao analisar a constitucionalidade de disposições legais que autorizariam a requisição e a utilização de informações bancárias, pela
Receita Federal, diretamente às instituições financeiras, para instauração e instrução de processo administrativo fiscal (LC 105/2001,
regulamentada pelo Decreto 3.724/2001), conferiu-lhes interpretação conforme à Constituição, tendo como conflitante com esta qualquer
outra que possa implicar afastamento do sigilo bancário do cidadão, pessoa natural ou jurídica, sem ordem emanada do Judiciário (RE
389808/PR, rel. Min. Marco Aurélio).
36 CF, artigo 5˚, inciso IV.
19
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Para Paulo Bonavides, “A unidade da Constituição na melhor doutrina do constitucionalismo
contemporâneo só se traduz, compreensivelmente, quando tomada em sua imprescritível
bidimensionalidade, que abrange o formal e o axiológico, a saber, a forma e a matéria, razão e
valor”.40
Isto porque, na aplicação do postulado da unidade constitucional, deve-se atentar à grande
importância dos princípios constitucionais, especialmente quando estão eles arrolados dentre os
fundamentos da República Federativa do Brasil.41 Afinal, “O princípio, sobretudo, é o substantivo da
ciência constitucional, a bússola de todas as Cartas Magnas na idade dos direitos fundamentais”.42
Nada obstante, lembre-se que não há hierarquia entre normas constitucionais originárias.
Hermenêutica; por uma repolitização da legitimidade. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 92.
43 LASSALE, Ferdinand. A essência da Constituição. Rio de Janeiro: Líber Júris, 1985.
20
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Assim, a Constituição real, a folha de papel de Lassale, deixaria de ter apenas uma pretensão de
eficácia limitada ao mundo jurídico, passando efetivamente a regular as situações objetivadas quando da
respectiva elaboração ou até mesmo, num futuro distante, as novas situações a ela submetidas.
Tudo dependendo do que Hesse denominou vontade de constituição, necessariamente
inerente não só aos tribunais, mas, também, a todos aqueles que se encontram em situação de
submissão ao texto constitucional.44
Os argumentos que melhor se adaptam à busca de efetividade ao texto constitucional
brasileiro parece ser o de Hesse. Primeiro porque não acarreta a negação da própria Constituição e,
como consequência, do Direito Constitucional.
Segundo porque, partindo do pressuposto de que o texto constitucional é um retrato do
presente com vistas a regular situações futuras, atribui-se maior âmbito de atuação do intérprete de
suas normas.
Terceiro porque, nessa perspectiva, afasta-se o risco de o texto necessitar de profundas
reformas (ou até mesmo de substituição), por não mais retratar a fonte de poder dominante em
determinado momento histórico do país.
Quarto porque o texto constitucional brasileiro é dirigente45 em sua maior parte,
necessitando de conformação à realidade de um país continental, incapaz de atender às inúmeras
situações juridicamente abrangidas mediante simples critérios de subsunção.
Assim, pode-se afirmar que seria mesmo a práxis dos tribunais, aliada à vontade de
constituição de todos aqueles submetidos à norma constitucional, a forma de se buscar adequação
de uma Constituição programática à dinâmica realidade brasileira.
Nesse contexto da força normativa da Constituição, pode-se invocar um método de
interpretação (interpretação evolutiva), uma consequência dele decorrente (a mutação
constitucional)46 e um postulado (proibição de retrocesso)47 de inegável importância constitucional.
44 HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991.
45 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (org.). Canotilho e a Constituição dirigente. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
46 “A INTERPRETAÇÃO JUDICIAL COMO INSTRUMENTO DE MUTAÇÃO INFORMAL DA CONSTITUIÇÃO. - A questão dos processos informais
de mutação constitucional e o papel do Poder Judiciário: a interpretação judicial como instrumento juridicamente idôneo de mudança
informal da Constituição. A legitimidade da adequação, mediante interpretação do Poder Judiciário, da própria Constituição da República,
se e quando imperioso compatibilizá-la, mediante exegese atualizadora, com as novas exigências, necessidades e transformações
resultantes dos processos sociais, econômicos e políticos que caracterizam, em seus múltiplos e complexos aspectos, a sociedade
contemporânea” (HC - 98893, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJE 25/09/2009).
47 “Na realidade, a cláusula que proíbe o retrocesso em matéria social traduz, no processo de sua concretização, verdadeira dimensão
negativa pertinente aos direitos sociais de natureza prestacional (como o direito à saúde), impedindo, em conseqüência, que os níveis de
concretização dessas prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos ou suprimidos, exceto nas hipóteses — de todo inocorrente
na espécie — em que políticas compensatórias venham a ser implementadas pelas instâncias governamentais. Lapidar, sob todos os
aspectos, o magistério de J. J. GOMES CANOTILHO, cuja lição, a propósito do tema, estimula as seguintes reflexões (“Direito Constitucional
e Teoria da Constituição”, 1998, Almedina, p. 320/321, item n. 3): “O princípio da democracia econômica e social aponta para a proibição
de retrocesso social. A idéia aqui expressa também tem sido designada como proibição de ‘contra-revolução social’ ou da ‘evolução
reaccionária’. Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e econômicos (ex.: direito dos trabalhadores, direito à assistência, direito à
educação), uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um
direito subjectivo. A ‘proibição de retrocesso social’ nada pode fazer contra as recessões e crises econômicas (reversibilidade fáctica), mas
o principio em análise limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex.: segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde),
em clara violação do princípio da protecção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito econômico, social e cultural, e do núcleo
essencial da existência mínima inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana” (Voto do Min. Celso de Mello em processo de
suspensão de tutela antecipada - STA - 175 - no qual se discutia a questão do direito à saúde em face do princípio da reserva do possível).
21
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O que se entende por estrutura das Constituições diz respeito à sua formatação e
estruturação orgânica. Nesse sentido o que o constituinte originário busca construir é a melhor
distribuição organizacional do texto constitucional, numa ideia de que a organização permite uma
maior capacidade efetiva da força e do papel da Constituição no sistema como um todo. No que diz
respeito à CF/88, ela se apresenta estruturada da seguinte forma:
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Segundo o STF o ADCT tem uma índole constitucional, pois suas normas possuem grau de
positividade como qualquer outra norma constitucional.
MUDANÇA CONSTITUCIONAL
48LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva. 2014, p. 158.
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Com a nova norma constitucional, o fundamento de validade de todas as regras
infraconstitucionais anteriores torna-se outro, qual seja, o da nova Constituição que, expressa ou
implicitamente, recepciona o ordenamento válido perante a ordem constitucional pretérita.
Preliminarmente, temos de atentar ao fato de que a inconstitucionalidade material
superveniente nada mais é do que a não recepção de norma infraconstitucional anterior e
incompatível com a nova Constituição. Já a inconstitucionalidade formal superveniente ocorreria
quando a nova Constituição, por exemplo, determinasse que alguma matéria somente poderia ser
veiculada mediante a edição de lei complementar.
Contudo, o entendimento é de que não é necessária a edição de uma nova lei complementar
em razão do comando normativo da nova Constituição. Se aquela lei ordinária que encontrava
fundamento de validade da antiga Constituição atendia aos planos de existência e vigência/validade,
não há motivo algum para se exigir a edição de uma nova com base tão-somente em argumentos
formais. O princípio da continuidade da ordem jurídica fala por si mesmo.
Exemplo clássico é o Código Tributário Nacional (Lei Ordinária 5.172/1966, recepcionada na
qualidade de lei complementar ante a norma veiculada pelo artigo 146 da CF.49
Também merece destaque a regra de que a lei ordinária anterior à nova Constituição, uma
vez recepcionada na qualidade de lei complementar, como no caso do CTN, somente poderá ser
alterada por outra lei de igual espécie, ou seja, outra lei complementar.
A recíproca também é verdadeira: uma lei complementar sob a égide de Constituição
anterior e recepcionada como simples lei ordinária pode facilmente ser alterada mediante a edição
de outra lei ordinária.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA
REPÚBLICA
Os princípios constitucionais, longe de ter feição meramente programática, detêm intensa
força normativa e apresentam-se como bases de aplicação/conformação de todo o ordenamento
jurídico e, de acordo com Humberto Ávila, “os princípios não apenas explicitam valores, mas,
indiretamente, estabelecem espécies de premissas de comportamentos”.50
24
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5.1. FORMAÇÃO DA REPÚBLICA
A República Federativa do Brasil é formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal e constitui-se em Estado Democrático de Direito (CF, artigo 1º, caput). Dentre os
fundamentos da República brasileira encontra-se a soberania (CF, artigo 1º, inciso I).
Nossa forma de governo é a republicana. A República é a forma de governo que tem como
principal característica eleição periódica do Chefe de Estado. A forma republicana de governo é um
dos princípios constitucionais sensíveis (CF, artigo 34, inciso VII, “a”).
O Estado Brasileiro é organizado mediante uma aliança de estados chamada Federação.
Numa federação os estados ditos federados compõem um todo soberano. Entretanto, os mesmos
estados federados não detêm soberania: a eles resta atribuída tão somente parte da autonomia
política, como capacidade de auto-organização. Soberano é somente o todo resultante da junção de
todos os estados federados: a República Federativa do Brasil.
Neste ponto é imprescindível reforçar a constatação de que é a República Federativa do
Brasil o ente detentor de soberania. Não a União, pessoa jurídica de direito público interno. No plano
do Direito Internacional é a República Federativa do Brasil quem celebra acordos e assina os
tratados; não a União Federal.
No Direito Internacional a soberania é o fundamento pelo qual os países devem ser tratados
em mesmo nível sejam eles desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos.
5.2. SOBERANIA
O Estado Brasileiro é organizado mediante uma aliança de Estados chamada Federação.
Numa federação os estados ditos federados compõem um todo soberano. Entretanto, os mesmos
Estados federados não detêm soberania: a eles resta atribuída tão somente parte da autonomia
política, como capacidade de auto-organização. Soberano é somente o todo resultante da junção de
todos os estados federados: a República Federativa do Brasil.
Neste ponto é imprescindível reforçar a constatação de que é a República Federativa do
Brasil o ente detentor de soberania na esfera planetária. Não a União, pessoa jurídica de direito
público interno. No plano do Direito Internacional é a República Federativa do Brasil quem celebra
acordos e assina tratados; não a União Federal.
No Direito Internacional a soberania é o fundamento pelo qual os países devem ser tratados
em mesmo nível sejam eles desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Todos devem
ter igual tratamento. Um dos principais compromissos assumidos quando da celebração da Carta da
ONU, constante no Preâmbulo, consiste em assegurar a igualdade de direitos das nações, sejam elas
“grandes ou pequenas”.
Luigi Ferrajoli explica que a soberania pode ser concebida sob os aspectos interno e externo.
Sob o aspecto interno, durante muito tempo, ao menos até o advento do Estado de Direito, já no
Século das Luzes, a soberania significava o poder absoluto de regulamentar as questões
intraterritoriais. Do ponto de vista externo, a soberania seria decorrente da paridade com outros
Estados também soberanos, o que “equivale a uma liberdade selvagem e reproduz, na comunidade
internacional, o estado de natural desgregamento, que internamente a sua própria instituição havia
negado e superado”.51
Isto porque a soberania interna, desde os momentos nos quais, em bases racionais e
secularizadas, idealizava-se o Estado Absolutista enquanto entidade, supostamente, necessária à paz
51 FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno. Trad. Carlo Coccioli e Márcio Lauria Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 5-20.
25
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e à defesa do bem comum, estava ancorada no poder que então se atribuía ao Estado para cumprir
com essas e outras missões.
A grande conquista na transição do medievo para o Estado Moderno foi a soberania estatal.
O Estado passou a ter existência tanto no plano interno quanto no externo, internacional.52
A relação entre Estados soberanos, justamente por pressupor a não subordinação entre
nações ou a não subordinação a uma instituição supranacional com poderes coercitivos, pode ser
comparada ao “estado de natureza” entre os homens na hipótese hobbesiana da ausência do Estado
(no tocante ao plano intraterritorial).
A hipervalorização da soberania externa explica, por exemplo, o porquê de a universalidade
dos direitos humanos, tão veementemente difundida nos tempos atuais, consubstanciar-se, na
realidade, “numa universalidade parcial e de parte: corrompida pelo hábito de reconhecer o Estado
como única fonte de direito e, portanto, pelos mecanismos de exclusão por este desencadeados para
com os não-cidadãos; e, ao mesmo tempo, pela ausência, também para os próprios cidadãos, de
garantias supra-estatais de direito internacional contra as violações impunes de tais direitos,
cometidas pelos próprios Estados”.53
5.3. PRESIDENCIALISMO
O Presidencialismo tem sido colocado na posição de um Sistema de Governo que não atende
aos anseios do povo no que diz respeito ao atendimento da eficiência da máquina administrativa,
ante o alto grau de burocratização que traz em seu bojo e o declínio da função parlamentar.
Além disso, um dos problemas deste regime é a hipervalorização da figura do Presidente que
adquire uma importância exagerada.
No caso brasileiro as críticas se acirram em face, por exemplo, da elevada competência
legislativa atribuída ao Poder Executivo por meio de Medidas Provisórias (CF, artigo 62) e da
possibilidade do exercício de certas prerrogativas soberanas sem prévia audiência do Legislativo (CF,
artigo 84, VIII).
Em duas oportunidades foram convocados plebiscitos para auscultar a vontade do povo
sobre a opção entre Presidencialismo e Parlamentarismo (1963 e 1993). Em ambas as oportunidades,
escolheu-se o Sistema presidencialista.54
Apesar das duas derrotas parlamentaristas, os anseios pela implantação desse Sistema de
Governo continuam por parte dos que o defendem em contraposição ao Presidencialismo.
Porém, o artigo 60 da CF/88, em seu § 4º, inciso III, insere, entre as cláusulas pétreas, o
Princípio da Separação dos Poderes. Não se pode olvidar que, no Sistema Parlamentarista, a
possibilidade de interferência do Legislativo no Executivo – e vice-versa – acarreta importante
alteração nesse princípio. Assim, infere-se que o Sistema de Governo é não é passível de alteração
por vontade do Poder Constituinte Derivado.
52 “O século XVII servira de apogeu à justificação, propagação e consolidação da doutrina da soberania. Esta doutrina extrai-se de uma
imposição causuística do poder – o poder do monarca, gradativamente edificado e ampliado e afirmado no curso das dissensões e
antinomias medievas, como absoluto e supremo, quer do ponto de vista interno, quer do ponto de vista externo. Externamente, fundava-
se a independência do Estado Moderno, favorecido pelos antigos combates do Imperador germânico com o pontífice romano e
internamente erguia-se um centro de autoridade incontrastável na cabeça visível do monarca de direito divino ou de poderes absolutos”.
(BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p 134-135).
53
FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno. Trad. Carlo Coccioli e Márcio Lauria Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 35-36.
54 No tocante à CF/88, por pressões de monarquistas e parlamentaristas, durante as discussões da Assembleia Nacional Constituinte,
inseriu-se no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988 o artigo 2º: "No dia 7 de setembro de 1993 o
eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (República ou Monarquia Constitucional) e o sistema de Governo (parlamentarismo ou
presidencialismo) que devem vigorar no País". Assim, embora com sua data transferida para 21 de abril, foi realizada a consulta popular,
que rejeitou o retorno da Monarquia e, pela segunda vez, rejeitou o Parlamentarismo, mantendo o regime vigente, Presidencialista.
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O Poder constituinte responsável pela promulgação da Constituição de 1988 previu a
possibilidade de se alterar o Sistema de Governo por meio de plebiscito. Ao atribuir essa
competência diretamente ao povo, implicitamente retirou do Poder Constituinte Derivado tal
legitimidade. O povo já se desincumbiu dessa missão ao opinar e ao rejeitar o parlamentarismo.
Agora, nada mais há a fazer, a não ser que o povo, por intermédio de legítimos representantes
novamente reunidos em Assembleia Nacional Constituinte, opte pela mudança.
5.4. FEDERAÇÃO
O Estado Brasileiro é organizado mediante uma aliança de estados chamada Federação.
Numa federação os estados ditos federados compõem um todo soberano. Entretanto, os mesmos
estados federados não detêm soberania: a eles resta atribuída tão somente parte da autonomia
política, como capacidade de auto-organização. Soberano é somente o todo resultante da junção de
todos os estados federados: a República Federativa do Brasil.
55 “Do ponto de vista da distribuição geográfica do poder, até final do século XVIII, não se conheceu senão o Estado Unitário. É dizer, aquele
em que há um único centro irradiador de decisões políticas expressas em lei” (BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência
Política. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 96).
56 “Exsurge a Federação como a associação de Estados (Foedus, foederis) para formação de novo Estado (o federal) com repartição rígida
de atributos da soberania entre eles. Informa-se seu relacionamento pela ‘autonomia recíproca da União e dos Estados, sob a égide da
Constituição Federal’ (Sampaio Dória), caracterizadora dessa igualdade jurídica (Ruy Barbosa), dado que ambas extraem suas competências
da mesma norma (Kelsen). Daí cada qual ser supremo em sua esfera, tal como disposto no pacto federal (Victor Nunes)” (ATALIBA,
Geraldo. República e Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985, p. 10).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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que os Estados federados aparecem por sua vez tomando parte ativa e indispensável na elaboração e
no mecanismo da Constituição Federal”.57
Essa “postura ativa e indispensável” decorre do exercício do poder legislativo em âmbito
federal, por parte de um Estado-membro, a partir da participação nas deliberações parlamentares do
sistema bicameral.
Vários Estados federados (Brasil, Estados Unidos e Argentina, por exemplos) adotam o
bicameralismo, também chamado de legislativo dual: uma câmara composta por representantes do
povo, normalmente eleitos pelo sistema proporcional, e uma câmara composta por representantes
dos Estados, normalmente eleitos pelo princípio majoritário.
57
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10 ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 185.
58 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Atlas, 2000, p. 355.
59 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Atlas, 2000, p. 355.
60 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 265-266.
61 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 266.
62 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 113-114.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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No caso brasileiro, ao lado da independência, propugnou-se a harmonia entre os três
poderes. Evidentemente que não bastaria a mera afirmação feita no artigo 2° da CF para que os
poderes, independentes, fossem exercidos de forma harmônica. Por esta razão foram previstos, de
maneira fluida em grande parte do texto constitucional, diversos dispositivos capazes de balizar todo
o mecanismo de pesos e contrapesos idealizado pela Assembleia Nacional Constituinte.
O Presidente da República é julgado pelo Senado Federal nos crimes de responsabilidade (CF,
artigo 52, inciso I), depois de aprovado o processo pela Câmara dos Deputados (CF, artigo 51, inciso
I), funcionando como Presidente do procedimento o do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 52,
parágrafo único).
O Presidente do Supremo Tribunal Federal, por sua vez e assim como todos os demais
Ministros daquela corte é julgado, nos crimes de responsabilidade, pelo Senado Federal (CF, art. 52,
inciso II).
Os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, o Procurador-Geral da
República, o presidente e os diretores do banco Central somente são nomeados pelo Presidente da
República após prévia aprovação pelo Senado Federal (CF, art. 84, inciso XIV).
O controle externo das finanças do Poder Executivo e do Poder Judiciário é realizado pelo
Congresso Nacional, auxiliado pelo Tribunal de Contas da União (CF, artigos 70 e 71).
O Presidente detém o poder de veto a projeto de lei ordinária se o considerar
inconstitucional ou contrário ao interesse público (CF, artigo 66, § 1°). Todavia ao Legislativo restou
atribuída a possibilidade de, por voto secreto da maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional, em sessão conjunta, providenciar à derrubada do veto (CF, artigo 66, § 4°).
Medidas provisórias são passíveis de edição pelo Presidente da República, que deverá
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (CF, artigo 62, caput).
5.6. CIDADANIA
O âmbito de abrangência da cidadania enquanto fundamento da República Federativa do
Brasil não pode estar restrito àquelas pessoas que detenham a chamada capacidade eleitoral ativa,
ou seja, as que estão aptas a exercer o direito de votar.
A redução do significado da cidadania ao campo dos direitos políticos acabaria por excluir os
menores de 16 anos, os indivíduos que estivessem com os direitos políticos suspensos, os brasileiros
naturalizados cujos processos de naturalização houvessem sido declarados nulos e os estrangeiros.
Assim, é o reconhecimento e o respeito à cidadania de toda e qualquer pessoa que atribui ao
próprio Estado Moderno legitimidade. Tanto é assim que a cidadania é um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil. Por isso, o significado de cidadania deve ser o mais abrangente
possível.
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5.8. VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA
A CF enumera, dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil, os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa. Eros Roberto Grau, ao comentar esse dispositivo, menciona que a
correta leitura não seria “valores sociais do trabalho”, de um lado, e “livre iniciativa”, de outro. Para
ele, o dispositivo constitucional enuncia, enquanto fundamentos da República, o valor social do
trabalho e o valor social da livre iniciativa. Como conseqüência, “isso significa que a livre iniciativa
não é tomada, enquanto fundamento da República Federativa do Brasil, como expressão
individualista, mas sim no quanto expressa de socialmente valioso”.63
Adverte, também, que o significado da livre iniciativa de que trata o artigo 1º, inciso IV da CF
não está limitado à liberdade econômica: “Importa deixar bem vincado que a livre iniciativa é
expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho”.64
63 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica da Constituição de 1988 (interpretação e crítica). 8 ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2003,
p. 180.
64 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica da Constituição de 1988 (interpretação e crítica). 8 ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2003,
p. 180.
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mecanismos internacionais para promover o progresso econômico e social de todos os
povos; Resolvemos conjugar os nossos esforços para a consecução desses objetivos”.
Flávia Piovesan lembra que “Na realidade, trata-se da primeira Constituição brasileira a consagrar
um universo de princípios a guiar o Brasil no cenário internacional, fixando valores a orientar a agenda
internacional do Brasil – iniciativa sem paralelo nas experiências constitucionais anteriores”.65
A simetria com a tradição internacional e a Carta da ONU justifica, sem a necessidade de
maiores ilações, os princípios da independência nacional, da igualdade entre os Estados e da não
intervenção. A autodeterminação dos povos é, na verdade, o pressuposto, o pano de fundo, para a
aceitabilidade de todos os princípios, dele logicamente decorrentes.
65PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 37.
66PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 40.
67PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 40.
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68
"O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria Constituição, quer perante a
comunidade internacional. Os atos delituosos de natureza terrorista, considerados os parâmetros consagrados pela vigente CF, não se
subsumem à noção de criminalidade política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao terrorismo como um dos princípios essenciais
que devem reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo, para efeito
de repressão interna, como crime equiparável aos delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a tratamento jurídico impregnado
de máximo rigor, tornando-o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos
crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A CF, presentes tais vetores interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não autoriza que
se outorgue, às práticas delituosas de caráter terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor de crimes políticos ou de
opinião, impedindo, desse modo, que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um inadmissível círculo de proteção que o faça
imune ao poder extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver em consideração a relevantíssima circunstância de que a
Assembléia Nacional Constituinte formulou um claro e inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos delituosos revestidos de
índole terrorista, a estes não reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha impregnada a prática da criminalidade política." (Ext
855, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenário, DJ de 1º-7-2005.)
69 “Raça e racismo. A divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo de conteúdo meramente político-social. Desse
pressuposto origina-se o racismo que, por sua vez, gera a discriminação e o preconceito segregacionista. (...) Adesão do Brasil a tratados e
acordos multilaterais, que energicamente repudiam quaisquer discriminações raciais, aí compreendidas as distinções entre os homens por
restrições ou preferências oriundas de raça, cor, credo, descendência ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa superioridade
de um povo sobre outro, de que são exemplos a xenofobia, ‘negrofobia’, ‘islamafobia’ e o antissemitismo.” (HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min.
Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-2003, Plenário, DJ de 19-3-2004.)
70 “Fundamento do núcleo do pensamento do nacional-socialismo de que os judeus e os arianos formam raças distintas. Os primeiros
seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio: inconciabilidade com os
padrões éticos e morais definidos na Carta Política do Brasil e do mundo contemporâneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o Estado
Democrático. Estigmas que por si só evidenciam crime de racismo. Concepção atentatória dos princípios nos quais se erige e se organiza a
sociedade humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano e de sua pacífica convivência no meio social. Condutas e
evocações aéticas e imorais que implicam repulsiva ação estatal por se revestirem de densa intolerabilidade, de sorte a afrontar o
ordenamento infraconstitucional e constitucional do País”. (HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-
2003, Plenário, DJ de 19-3-2004)
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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inciso LII da CF, que determina que não será concedida a extradição de estrangeiro por crime político
ou de opinião
Concluiu-se que os atos praticados por Battisti estariam configurados como crimes comuns,
pois “não configura crime político, para fim de obstar o acolhimento de pedido de extradição,
homicídio praticado por membro de organização revolucionária clandestina, em plena normalidade
institucional de Estado Democrático de direito, sem nenhum propósito político imediato ou
conotação de reação legítima a regime opressivo” e, sendo assim, o caso “Não caracteriza a hipótese
legal de concessão de refúgio, consistente em fundado receio de perseguição política, o pedido de
extradição para regular execução de sentenças definitivas de condenação por crimes comuns" (Ext
1.085, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 16-12-2009, Plenário, DJE de 16-4-2010).
PODER CONSTITUINTE
Poder constituinte é consiste no poder de elaborar uma constituição, inaugurando uma nova
ordem jurídico-constitucional. O poder constituinte originário traz consigo uma ideia de ruptura em
face da ordem jurídica anterior.
Essa ruptura, entretanto, não ignora os atos legislativos de um ordenamento anterior,
porquanto vai recepcionar os atos normativos antecedentes, desde que compatíveis com a nova
Constituição. Ao contrário, tudo o que se mostrar incompatível com as novas normas constitucionais
será considerado não recepcionado e, em consequência, revogado. Em nosso sistema não se admite
a inconstitucionalidade superveniente, ou seja, a norma anterior é considerada revogada e não
inconstitucional.
Titularidade do poder constituinte originário: a titularidade do poder constituinte é do povo,
que o exerce, em regra, da forma representativa, através de representantes eleitos, que vão reunir-
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
se em uma Assembleia Geral Constituinte. Também há formas de manifestação direta desse poder
constituinte, como o plebiscito e o referendo.
71
Da Emenda à Constituição
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de
seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em
ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de
ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma
sessão legislativa.
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Limitações temporais ocorrem quando se impede a reforma constitucional durante um
período de tempo. A atual Constituição não contém essa espécie de limite, porquanto pode ser
alterada a qualquer momento.
Exemplo disso é o art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que determina
que a revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da
Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão
unicameral.
72Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: […]
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
7.1. INTRODUÇÃO
O controle de constitucionalidade é, sem dúvida, nos países de Constituição rígida, o
mecanismo de combate aos abusos perpetrados pelo Legislativo e pelo Executivo no tocante à
produção legislativo-normativa infraconstitucional.
Contudo, pouco adiantaria o simples reconhecimento de tal supremacia: mostra-se
imprescindível, além de um efetivo mecanismo de controle da constitucionalidade das leis e dos atos
normativos em nível infraconstitucional, a existência de um órgão independente e detentor da
especial atribuição de guarda à Constituição. É o caso do Supremo Tribunal Federal.73
Neste sentido são as palavras de Zeno Veloso: “A distinção ‘Constituição – leis ordinárias’,
com proeminência da primeira, seria vã e ilusória sem um mecanismo que espanque, vigorosamente,
as usurpações, as afrontas e as violações da Lex Fundamentalis”.74
A análise da constitucionalidade de todo o ordenamento infraconstitucional é
desempenhada mediante um juízo de compatibilidade vertical com a Constituição da República.
Assim, toda espécie de lei ou ato normativo deve estar em consonância com as regras dispostas na
Constituição Federal.75
Qualquer regra ou princípio, no âmbito infraconstitucional, que não esteja de acordo com a
CF é considerado inconstitucional e, portanto, inválido.
Isso também vale no tocante às interpretações que possam ser atribuídas a esta àquela
regra, a este ou àquele princípio. Qualquer interpretação que destoe da inspiração constituinte
originária (ou derivada, em alguns casos) deve ser afastada porquanto inconstitucional, ilegítima,
arbitrária.
Nas palavras de Eros Roberto Grau:
“A interpretação de qualquer texto de direito impõe ao intérprete, sempre, em qualquer
circunstância, o caminhar pelo percurso que se projeta a partir dele – do texto – até a
Constituição. Um texto de direito isolado, destacado, desprendido do sistema jurídico, não
expressa significado normativo algum”.76
73 “CF, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar,
originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal”.
74
VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 3 ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 18.
75
“A jurisprudência desta Suprema Corte, não reconhece a possibilidade de controle concentrado de atos que consubstanciam mera
ofensa reflexa à Constituição, tais como o ato regulamentar consubstanciado no Decreto presidencial ora impugnado” (ADPF 93 AgR, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, 20/05/2009). Contudo: “É admissível controle concentrado de constitucionalidade de decreto que, dando
execução a lei inconstitucional, crie cargos públicos remunerados e estabeleça as respectivas denominações, competências, atribuições e
remunerações” (ADI 3232, Rel. Min. Cezar Peluso, 14/08/2008).
76 GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 40.
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O controle difuso de constitucionalidade é exercido por todos os juízes e tribunais do país e
pode ser desempenhado em qualquer espécie de processo.77
É também chamado de controle concreto de constitucionalidade justamente porque se
destina a solucionar as questões postas em juízo que tenham como pressuposto o reconhecimento,
ou não, de alguma inconstitucionalidade.
Daí a constatação de que, nesta espécie de controle, o reconhecimento da
inconstitucionalidade de uma norma não é o pedido principal submetido ao Judiciário, mas, sim, sua
causa de pedir. Foi assim que se manifestou o Ministro Carlos Velloso em março de 2002, como
relator na Reclamação 1.503-DF, cuja essência do voto foi assim divulgada no Informativo STF n˚ 161:
“Iniciado o julgamento de reclamação na qual se alega ter havido a usurpação da
competência originária do STF para o julgamento de ação direta de inconstitucionalidade
(CF, art. 102, I, a), por juiz federal de primeira instância, em razão de ter deferido liminar em
ação civil pública promovida pelo Ministério Público, na qual se pleiteia a nulidade do
enquadramento dos ex-ocupantes do extinto cargo de censor federal nos cargos de perito
criminal e delegado federal de que trata a Lei 9.688/98, levado a efeito mediante Portarias do
Ministro da Justiça, com a declaração incidenter tantum da inconstitucionalidade da Lei
9.688/98. O Min. Carlos Velloso, relator, proferiu voto no sentido de julgar improcedente a
reclamação por entender que o controle difuso de constitucionalidade de lei pode ser
exercido em sede de ação civil pública, no juízo de primeiro grau, quando for necessário para
a decisão da hipótese concreta, e que, na espécie, a declaração de inconstitucionalidade
pleiteada pelo Ministério Público não consubstancia o pedido da ação civil pública, mas sim a
causa de pedir.”
Exemplificando: imaginemos que o cidadão X esteja recolhendo um tributo Y porque a lei
assim o determina; a toda evidência, ele não pode deixar, sem autorização legal ou judicial, de
recolher o tributo, sob pena de arcar com as consequências óbvias e iniludíveis que todos
conhecemos; assim, se o indivíduo entender estar sendo submetido ao pagamento de um tributo
decorrente de lei inconstitucional, ele poderá ajuizar, por exemplo, um mandado de segurança com
o objetivo de ver-se desincumbido da obrigação de pagamento da quantia àquele correspondente; o
pedido será justamente o de concessão de ordem de segurança para que a autoridade coatora (no
caso aquela com atribuição para a cobrança do tributo reputado inconstitucional) se abstenha de
exigir do cidadão X (impetrante) o tributo Y; já a causa de pedir, por sua vez, será a
inconstitucionalidade da lei instituidora do tributo.
Assim, podemos concluir que a declaração da constitucionalidade da legislação
infraconstitucional no controle difuso é efetuado de maneira incidental, pois para que o magistrado
possa conceder ou não a segurança no exemplo hipotético acima – e da mesma forma em todas as
questões concretas submetidas à análise do Poder Judiciário que tenham co mo pressuposto a
verificação de compatibilidade vertical de alguma norma infraconstitucional com a CF – é imperioso
que, antes, analise a alegada inconstitucionalidade apontada como causa de pedir.78
Evidentemente que, como se trata de questões concretas postas em juízo, a eficácia da
decisão somente poderá produzir efeitos no caso concreto, inter partes.
A aferição da constitucionalidade constitui matéria de ordem pública, podendo ser conhecida
de ofício pelo magistrado competente.
Perfeitamente aplicável nesta espécie de controle o Princípio da Reserva de Plenário,
insculpido no artigo 97 da Constituição da República: “somente pelo voto da maioria absoluta de
seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
77 “Todo e qualquer órgão investido do ofício judicante tem competência para proceder ao controle difuso de constitucionalidade” (AI
666523 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, 26/10/2010).
78 “Não usurpa competência do Supremo Tribunal Federal, decisão que, em ação civil pública de natureza condenatória, declara
incidentalmente a inconstitucionalidade de norma jurídica” (Rcl 1897 AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, 18/08/2010).
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inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”. Assim, quando a análise da
compatibilidade da legislação com a Constituição Federal estiver sendo efetuada em órgãos
colegiados, como é o caso de todos os tribunais do país, é imprescindível que haja a manifestação,
para fins de declaração de inconstitucionalidade, do voto favorável de, pelo menos, a maioria
absoluta de todos os membros do respectivo tribunal.
Nada obstante, o STF já decidiu que “Os órgãos fracionários dos Tribunais podem declarar a
inconstitucionalidade de normas se a matéria já tiver sido apreciada pelo Supremo Tribunal Federal,
ainda que incidentalmente” (AI 413118 AgR, Rel Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma,
23/03/2010).
A CF, em seu artigo 52, inciso X, dispõe que compete privativamente ao Senado Federal
suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva
do Supremo Tribunal Federal.
Declarada inconstitucional, por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal, a lei
deverá ter sua execução suspensa por ato do Senado Federal do Senado Federal.
A decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal a que o dispositivo faz alusão é aquela
transitada em julgado no controle difuso (e somente no controle difuso). Como sabemos, a quase
totalidade das questões concretas postas em juízo podem ser analisadas, mediante recurso, nos
tribunais de segunda instância. Além disso, há possibilidade de o STF julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida, por
exemplo, contrariar dispositivo da Constituição (CF, artigo 102, inciso III, alínea “a”). O STF também
detém competência para analisar, em controle difuso de constitucionalidade, questões afetas a sua
competência originária (por exemplo, a discussão em um habeas corpus impetrado por membro do
Congresso nacional - CF, artigo 102, inciso I, alínea “d”) e questões decorrentes de recursos
ordinários (por exemplo, a discussão em um mandado de segurança decidido em única instância
pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão).
Dessa forma, verifica-se que são somente as decisões definitivas proferidas pelo STF em
controle difuso as capazes de acarretar ulterior resolução do Senado Federal com o objetivo de
suspender a execução, no todo ou em parte, da lei declarada inconstitucional.
É de se notar, ainda, que a resolução do Senado federal apenas suspende a execução da
norma. Não se trata, portanto, de revogação.
Não podemos esquecer que, em regra, os efeitos da decisão proferida pelo STF em controle
difuso são gerados apenas inter partes e têm eficácia retroativa, ex tunc.
Daí, o que chama a atenção são as consequências da resolução do Senado suspendendo a
norma declarada inconstitucional pelo STF no controle difuso: a norma é suspensa com eficácia ex
nunc e os efeitos da suspensão passam a ser gerados erga omnes.
Diverge a doutrina a respeito da obrigatoriedade de o Senado Federal suspender a execução
da lei declarada inconstitucional pelo STF. Clèmerson Merlin Clève filia-se àqueles que sustentam ser
atividade discricionária e política do Senado Federal.79 A propósito, o Senado recusou-se a suspender
a eficácia de legislação relativa ao Finsocial, sob o argumento de que poderia haver profundo abalo
econômico no país.
79 CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata de constitucionalidade no direito brasileiro. São Paulo. RT, 1993, p. 95.
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legitimidade ativa para o ajuizamento de ações objetivando o controle abstrato está concentrada
naqueles arrolados no artigo 103 da CF.80
Como, no controle concentrado, não há caso concreto a decidir, mas tão e somente
discussão de lei em tese, ele também é chamado de controle abstrato de constitucionalidade.
A legitimidade ativa está prevista no já transcrito artigo 103 da CF.81 Neste aspecto, cumpre
destacar a construção jurisprudencial do STF a respeito da necessária correlação entre os objetivos
da instituição com legitimidade para acionar o controle concentrado de constitucionalidade e o
assunto por ela discutido via ADIN, ADC, ADO ou ADPF. Trata-se do instituto da pertinência temática,
exigível de algumas as entidades arroladas no artigo 103 da CF.
A jurisprudência do STF tem exigido a demonstração da pertinência temática para confederações
sindicais, associações82 ou entidades de classe de âmbito nacional,83 Mesas das Assembleias Legislativas,
Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal e para Governadores84 de Estado.85
Os demais legitimados detêm a chamada legitimidade ativa universal, ou seja, podem levar
ao STF, via controle concentrado de constitucionalidade, toda a sorte de assuntos que demandem a
verificação da compatibilidade de toda a legislação infraconstitucional com a CF.86 Quanto aos
partidos políticos, embora sejam legitimados universais, somente manterão a legitimidade enquanto
tiverem a respectiva representatividade no Congresso Nacional.87
Em regra, os efeitos da decisão nesta espécie de controle de constitucionalidade são
retroativos, ex tunc. O artigo 27 da Lei nº 9.868/99 e o artigo 11 da Lei nº 9.882/99 admitem a
chamada modulação dos efeitos da decisão, que será analisada adiante.
As decisões tomadas no controle concentrado de constitucionalidade têm características
importantes, que as diferenciam daquelas referentes ao controle difuso. Como a discussão, no
controle concentrado, é abstrata, a eficácia da decisão é erga omnes, acompanhada do efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
80 “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da
República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; V - o Governador de Estado; IV - a Mesa de Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da
República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX -
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
81 "Os legitimados para propor arguição de descumprimento de preceito fundamental se encontram definidos, em numerus clausus, no
art. 103 da Constituição da República, nos termos do disposto no art. 2º, I, da Lei 9.882/1999. Impossibilidade de ampliação do rol
exaustivo inscrito na CF. Idoneidade da decisão de não conhecimento da ADPF" (ADPF 75-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 3-5-2006, Plenário, DJ de 2-6-2006).
82 O Plenário do STF, no julgamento da ADI 3.153-AgR, retomou o entendimento de que as “associações de associações” de âmbito
temática entre as finalidades da agremiação e o objeto da causa” (ADI 3288, Rel. Min. Ayres Britto, 13/10/2010).
84 “Em se tratando de impugnação a diploma normativo a envolver outras Unidades da Federação, o Governador há de demonstrar a
pertinência temática, ou seja, a repercussão do ato considerados os interesses do Estado” (ADI 2747, Rel Min. Marco Aurélio, 16/05/2007).
"Legitimidade – Governador de Estado – Lei do Estado – Ato normativo abrangente – Interesse das demais Unidades da Federação –
Pertinência temática. Em se tratando de impugnação a diploma normativo a envolver outras Unidades da Federação, o Governador há de
demonstrar a pertinência temática, ou seja, a repercussão do ato considerados os interesses do Estado" (ADI 2.747, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 16-5-2007, Plenário, DJ de 17-8-2007) No mesmo sentido: ADI 2.549, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 1º-6-2011, Plenário, DJE de 3-11-2011.
85 “A legitimidade ativa da confederação sindical, entidade de classe de âmbito nacional, Mesas das Assembléias Legislativas e Governadores, para a
ação direta de inconstitucionalidade, vincula-se ao objeto da ação, pelo que deve haver pertinência da norma impugnada com os objetivos do autor
da ação” (ADI 1519 MC, Rel. Min. Carlos Velloso, 06/11/1996).
86
“Os partidos políticos com representação no Congresso Nacional têm legitimidade ativa universal para propor ação direta de
inconstitucionalidade, não incidindo, portanto, a condição da ação relativa à pertinência temática” (ADI 1963 MC, Rel Min. MAURÍCIO
CORRÊA, 18/03/1999).
87 "A perda superveniente da bancada legislativa no Congresso Nacional descaracteriza a legitimidade ativa do partido político para
prosseguir no processo de controle abstrato de constitucionalidade, eis que, para esse efeito, não basta a mera existência jurídica da
agremiação partidária, sobre quem incide o ônus de manter, ao longo da causa, representação parlamentar em qualquer das Câmaras que
integram o Poder Legislativo da União. A extinção anômala do processo de fiscalização normativa abstrata, motivada pela perda
superveniente de bancada parlamentar, não importa em ofensa aos postulados da indisponibilidade do interesse público e da
inafastabilidade da prestação jurisdicional, eis que inexiste, em favor do partido político que perdeu a qualidade para agir, direito de
permanecer no polo ativo da relação processual, não obstante atendesse, quando do ajuizamento da ação direta, ao que determina o art.
103, VIII, da CF" (ADI 2.202-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 27-7-2003, Plenário, DJ de 29-8-2003).
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indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (CF, artigo 102, § 2º e Lei nº 9.882/99, artigo 10, §
3º).
Para assegurar a eficácia contra todos e o efeito vinculante a CF prevê o cabimento de
reclamação, para corrigir decisões que tenham desrespeitado ou distorcido o efeito vinculante
inerente ao controle concentrado de constitucionalidade. Reclamação não é recurso.
O STF é o único tribunal do país a fazer controle concentrado de constitucionalidade quando
o parâmetro de aferição de validade da legislação for a Constituição Federal. Não podemos nos
esquecer, contudo, que os Estados-membros exercem o chamado Poder Constituinte Decorrente e,
com base no artigo 25 da CF, organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
desde que observados os princípios da CF.
Sendo assim, respeitada a simetria com o modelo federal, o Estado-membro pode contar
com controle de constitucionalidade na modalidade concentrada, uma vez atendidos os seguintes
requisitos: previsão na respectiva Constituição Estadual e respeito à simetria com o modelo de
controle concentrado previsto na CF. Nesta hipótese, o parâmetro de aferição da validade da
legislação estadual ou municipal é a Constituição Estadual, funcionando como seu guardião o
Tribunal de Justiça do Estado-membro.88
Há quatro espécies de ações a serem ajuizadas perante o STF no controle concentrado e
abstrato, quais sejam: a) Ação Direta de Inconstitucionalidade; b) Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão; c) Ação Declaratória de Inconstitucionalidade; e d) Arguição de
Descumprimento a Preceito Fundamental.
Abaixo são apresentadas as principais características de cada uma dessas ações, que têm,
contudo, alguns traços procedimentais em comum:
I) legitimidade ativa lastreada, direta ou indiretamente, no artigo 103 da CF;89
II) participação do Procurador Geral da República em todos os processos (CF, artigo 103, § 1º);
III) participação do Advogado Geral da União para a defesa do ato ou do texto taxado de
inconstitucional (CF, artigo 103, § 3º);90
IV) possibilidade de interposição de agravo contra indeferimento da petição inicial;
V) irrecorribilidade da decisão final;
VI) cabimento de reclamação;
VII) eficácia contra todos e efeito vinculante.
88 "É competente o Tribunal de Justiça (e não o Supremo Tribunal), para processar e julgar ação direta contra lei estadual contrastada com
a norma da Constituição local, (...), cabendo, em tese, recurso extraordinário de decisão que vier a ser proferida sobre a questão." (ADI-QO
n° 1.529/MT, Rel. Min. Octávio Gallotti (DJ 28.2.1997).
89
“Descabe confundir a legitimidade para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade com a capacidade postulatória. Quanto ao
governador do Estado, cuja assinatura é dispensável na inicial, tem-na o procurador-geral do Estado” (ADI 2.906, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 1º-6-2011, Plenário, DJE de 29-6-2011).
90 "O munus a que se refere o imperativo constitucional (CF, art. 103, § 3º) deve ser entendido com temperamentos. O Advogado-Geral da
União não está obrigado a defender tese jurídica se sobre ela esta Corte já fixou entendimento pela sua inconstitucionalidade” (ADI 1.616,
Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 24-5-2001, Plenário, DJ de 24-8-2001).
41
DIREITO CONSTITUCIONAL
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91 “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da
República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; V - o Governador de Estado; IV - a Mesa de Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da
República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX -
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
42
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Tanto na ADI quanto na ADC não é admitida a intervenção de terceiros e não se pode
desistir da ação.
A realização de audiências públicas é possível em ambas (ADI e ADC) em caso de
necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato, poderá o relator requisitar
informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a
questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e
autoridade na matéria.
No procedimento da ADI é viável a admissão da manifestação de outros órgãos ou entidades,
considerada a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes. Trata-se da figura do
amicus curiae. O amicus curiae não tem legitimidade para interpor recurso, exceto no tocante à
decisão que indefira sua intervenção.
A concessão de medida cautelar em ADI pressupõe o voto favorável da maioria absoluta dos
Ministros do STF. Os efeitos da medida são ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva
conceder-lhe eficácia retroativa. A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação
anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.
A concessão de medida cautelar em ADC também pressupõe o voto favorável da maioria
absoluta dos Ministros do STF. Contudo, o objeto da medida cautelar, neste caso, envolve
determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam
a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.
A medida cautelar, tanto na ADI quanto na ADC, pode ter os mesmos efeitos da decisão
definitiva de mérito (eficácia contra todos e efeito vinculante). Daí a possibilidade de reclamação
contra decisão que tenha desrespeitado a decisão cautelar proferida pelo STF (desde que a decisão
tenha sido exarada em processo sem trânsito em julgado).
O quorum mínimo para as deliberações, em se tratando de ADI ou de ADC, é de 08 Ministros.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria
absoluta de seus membros, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou
autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se o prazo de 5
dias.
Conforme Lei nº 9.868 de 1999.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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À época em que somente existentes em nosso ordenamento a ADI, a ADO e a ADC, o STF
havia consolidado jurisprudência no sentido de que aquelas ações não se prestavam à verificação,
em abstrato, de leis municipais ou de atos normativos anteriores à Constituição de 1988.93
7.3.2.3.3. SUBSIDIARIEDADE
Uma característica importante da ADPF é a sua subsidiariedade, isso quer dizer que não se
admite arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio
eficaz de sanar a lesividade.
No contexto da subsidiariedade o STF entende que, quando verificado o cabimento de ADI,
em vez de ADPF, quando atendidos os requisitos daquela.
É possível a concessão de liminar, que pode consistir na determinação de que juízes e
tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer
outra medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento de
preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.
A realização de audiências públicas é admitida, podendo o relator ouvir as partes nos
processos que ensejaram a arguição, requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão
de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou ainda, fixar data para declarações, em
audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria.
93 “O objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental há de ser “ato do Poder Público” federal, estadual, distrital ou
municipal, normativo ou não, sendo, também, cabível a medida judicial “quando for relevante o fundamento da controvérsia sobre lei ou
ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição” (ADPF 01).
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O relator também pode autorizar sustentação oral e juntada de memoriais, por
requerimento dos interessados no processo.
7.3.3.1. PROCEDIMENTO
O procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula com efeito
vinculante é o constante da Lei n˚ 11.417/2006, cujo art. 10 autoriza a aplicação subsidiária das
disposições do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Portanto, a ADI, a ADC, a ADO e a ADPF não constituem instrumentos adequados a viabilizar
revisão ou cancelamento de súmula vinculante.94
Não há falar em conversão automática, nem na revogação das súmulas então existentes, às
quais não se agregou o efeito vinculante. Para a revogação é necessária manifestação expressa do
STF; para a eventual conversão em súmula vinculante é necessário que se siga o procedimento da Lei
n˚ 11.417/2006.
A súmula pode ter por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica (CF, art. 103-A, § 1˚).
Importante destacar que caso seja revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de
enunciado de súmula vinculante, o Supremo Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, deverá
proceder à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso (Lei n˚ 11.417/2006, art. 5˚).
Além disso, a proposta de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula
vinculante não autoriza a suspensão dos processos em que se discuta a mesma questão (Lei n˚
11.417/2006, art. 6˚).
94 XI Concurso Público para provimento de cargos de Juiz Federal Substituto da Quinta Região.
46
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Além dessas entidades, o município tem legitimidade para propor edição, a revisão ou o
cancelamento de enunciado de súmula vinculante, desde que o faça de forma incidental no curso de
processo no qual seja parte, o que não autoriza a suspensão do processo (Lei n˚ 11.417/2006, art. 3˚,
§ 1˚).
7.3.2.3. RECLAMAÇÃO
Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que
outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso (CF, art. 103-A, § 3˚).
A Lei n˚ 11.417/2006, em seu art. 7˚, explicitou que o cabimento de reclamação é feito “sem
prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação”. Além disso, condicionou o
cabimento da reclamação contra omissão ou ato da administração pública ao esgotamento das vias
administrativas.
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
A súmula vinculante tem por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre questão idêntica (§ 1º).
Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, cabe reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente,
anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja
proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso (§ 3º).95
Tais julgamentos, antes da reforma, poderiam apenas proporcionar efeitos entre as partes
envolvidas na demanda; com a previsão constitucional de súmulas vinculantes, os resultados de
julgamentos do STF no controle difuso podem apresentar características do controle concentrado:
eficácia erga omnes, vinculação dos demais juízes, tribunais e da própria administração pública, bem
como cabimento de reclamação.
A mencionada emenda constitucional, justamente por buscar conferir maior racionalidade,
celeridade e eficiência aos procedimentos judiciais, trouxe ao sistema brasileiro outra grande
inovação: a repercussão geral de questões constitucionais como requisito de admissibilidade para
todo e qualquer recurso extraordinário (CRFB, Artigo 102, §3º).
95 "Inexiste ofensa à autoridade de Súmula Vinculante quando o ato de que se reclama é anterior à decisão emanada da Corte Suprema"
(Rcl 6.449-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 25-11-2009, Plenário, DJE de 11-12-2009).
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para ambas as situações seriam os mesmos. Não aceita a teoria da transcendência dos motivos
determinantes no controle concentrado, seriam, então, necessárias tantas ADIs quantas fossem as
leis estaduais a respeito da mesma inconstitucionalidade.96
7.6. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO
Havendo alguma interpretação possível que permita afirmar-se a compatibilidade da norma
com a Constituição, em meio a outras que levavam à inconstitucionalidade, deve o intérprete optar
pela compatibilidade, mantendo o preceito em vigor.
Trata-se de processo que se realiza mediante a observância dos seguintes passos: a) escolha
de uma interpretação da norma que a mantenha em harmonia com a Constituição; b) escolha da
interpretação mais coerente com a manutenção do texto legal e a consequente exclusão de outras
interpretações que pudessem acarretar incompatibilidade com a Constituição.
Como se percebe, a interpretação conforme a constituição não é um simples procedimento
de hermenêutica, mas um mecanismo de controle de constitucionalidade pelo qual se declara
ilegítima uma determinada leitura da norma legal. Importante destacar que, diferentemente de
outras técnicas de controle da constitucionalidade, no caso da interpretação conforme o texto legal
permanece íntegro, mas sua aplicação fica restrita. Vejamos alguns exemplos da utilização dessa
técnica pelo STF:
96 “Não questiono a afirmação de que se revela possível, para efeito de reclamação, invocar-se a teoria da transcendência dos motivos
determinantes, em ordem a reconhecer que o alcance da eficácia vinculante pode estender-se, para além da parte dispositiva do acórdão,
também aos próprios fundamentos subjacentes à decisão.” Contudo, o efeito vinculante “tem, por únicos destinatários, os demais órgãos
do Poder Judiciário e todos aqueles estruturados no âmbito da Administração Pública, não se estendendo, em tema de produção
normativa, ao Poder Legislativo” (RCL 5442, Rel. Min. Celso de Mello)
97 Lei nº 11.105/2005. “Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões
humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam
embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na
data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.”
98 “Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de fiança e liberdade provisória e, em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Sistema Judiciário Comum e outro com todos os benefícios da Lei dos Juizados Especiais,
não obstante a prática de crimes da mesma gravidade” (Informativo STF 591).
100 “Estágio intermediário, de caráter transitório, entre a situação de constitucionalidade e o estado de inconstitucionalidade. A questão
das situações constitucionais imperfeitas. Subsistência, no Estado de São Paulo, do art. 68 do CPP, até que seja instituída e regularmente
organizada a Defensoria Pública local” (RE 341717, Rel. Min. Celso de Mello).
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concentrado, decorreram do Voto-vista do Min. Gilmar Mendes, no sentido de que deveria ser
efetuada, na situação daquela ADI, a otimização de princípios, ponderando-se entre segurança e
nulidade de lei inconstitucional. Essa ponderação, segundo o Min. Gilmar Mendes, viabiliza a
utilização de técnicas alternativas de decisão no controle de constitucionalidade, especialmente a da
declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade. O Min. apresentou estudo sobre a
doutrina da declaração prospectiva de inconstitucionalidade e afirmou a superação do dogma
Kelseniano do “legislador negativo”. Assim, o STF decidiu “declarar a inconstitucionalidade sem a
pronúncia de nulidade da lei, mantendo sua vigência pelo prazo de 24 meses”.
No controle difuso, a despeito da inexistência de previsão legal específica, o STF já decidiu
pela possibilidade, em casos extremos, de modulação dos efeitos da decisão.101Foi o que ocorreu no
julgamento do RE 197917, em que se discutia a questão do número correto de vereadores no
Município de Mira Estrela. Declarou-se a inconstitucionalidade do número de cargos de vereador
naquele município que ultrapassou o limite constitucional. Decidiu-se, na ocasião, tendo em vista
toda a problemática do exercício dos mandatos excedentes até então, que a decisão respeitaria “os
mandatos atuais”. Atribui-se, no controle difuso de constitucionalidade, efeitos prospectivos à
declaração de inconstitucionalidade.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
101 “A orientação do Supremo Tribunal Federal admite, em situações extremas, o reconhecimento de efeitos meramente prospectivos à
declaração incidental de inconstitucionalidade” (RE 553223 AgR-ED, Rel Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, 19/08/2008).
102 Ministro Carlos Veloso, ADI nº 2.895-2
103 ADI 3645.
51
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
8.1. INTRODUÇÃO
Trataremos, sob a denominação de Direitos Fundamentais, os que, além de se
caracterizarem filosoficamente como Direitos Humanos, foram reconhecidos e positivados na
Constituição Federal. Destacamos, desde logo, que as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata (CF, artigo 5º § 1º).
52
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Após a exposição dos princípios gerais, a Convenção dispõe sobre os direitos das pessoas
com deficiência e indica quais as políticas públicas assumidas pelos Estados-parte para a
implementação desses direitos.
53
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A segunda (colisão entre direitos fundamentais não restringíveis) mostra-se como a autêntica
colisão, pois não houve previsão constitucional expressa a respeito de possível solução e cabe ao
intérprete a construção da norma a ser aplicada no caso concreto. Primeiro ele deve buscar
harmonização dos direitos fundamentais em colisão, e somente nas hipóteses em que não logre
êxito em tal objetivo, é que pode passar a ponderar os fatos sob análise, otimizando os direitos
fundamentais sem jamais sacrificar totalmente um direito em prol do outro.
Não é demais ressaltar que não há, propriamente, hierarquização em abstrato dos direitos
em conflito, mas sim análise dinâmica e fluida, construída com base nas peculiaridades do caso
concreto.
Diferentemente não poderia ser, pois, como adverte Robert Alexy, o conflito entre princípios
soluciona-se por meio do sopesamento (ou ponderação), no qual se verifica uma relação de
precedência condicionada, isto é, “... um dos princípios tem precedência em face do outro sob
determinadas condições. Sob outras condições a questão da precedência pode ser resolvida de
forma oposta”.104
Nos casos de colisão entre direitos fundamentais dotados de forte abstração, espera-se que
o Judiciário pondere os direitos em jogo, utilizando a ferramenta (ou o “postulado”, como prefere
Ávila105) da proporcionalidade.
A técnica da proporcionalidade permite que, em determinado caso concreto, um direito em
conflito se sobreponha a outro, ainda que de idêntica hierarquia, mantendo-se, na medida do
possível, o núcleo essencial do direito cuja aplicabilidade é afastada. O âmbito de proteção de um
direito cede passo à maior amplitude de outro direito.
104 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Maleiros, 2008, p. 93.
105 ÁVILA, Humberto Bergmann. Teoria dos Princípios. São Paulo: Maleiros, 2005.
106 BOBBIO, Norberto. Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant. Trad. Alfredo Fait. 3 ed. Brasília: UnB, 1995, p. 70.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
"Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto. Não há, no sistema
constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo
porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de
convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos
órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que
respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição". 107
Contudo, tendo em vista que os direitos estão limitados a partir de seus exteriores e somente
o conflito com outro direito é capaz de delimitar seu âmbito de proteção normativa, entendemos
que nada justifica a limitação do direito de qualquer pessoa a não ser torturada e não ser submetida
a tratamentos desumanos ou degradantes.108 Não há direito de igual hierarquia que possa fazer
frente a ele, limitando sua vocação expansiva.
107
(MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ de 12-5-2000)
108 CF, Art. 5º, III: “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
109 SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia dos direitos fundamentais. 4 ed. rev. atual. ampl. Porto Alegra: Livraria do Advogado, 2004, p. 53.
Registre-se que o autor opta por tratar do tema a partir do prisma das “dimensões” de direitos fundamentais.
110
“O Estado Liberal, também chamado por alguns de Estado Constitucional, é o que vai procurar com a maior eficiência até hoje
conhecida o atingimento da liberdade no sentido de não-constrangimento pessoal. É o coroamento de toda luta do indivíduo contra a
tirania do Estado (...) O seu pressuposto fundamental é que o máximo de bem-estar comum é atingido em todos os campos com a menor
presença possível do Estado. É uma concepção basicamente otimista. Não repudia a natureza humana no que ela tem de egoísta e
ambiciosa. Pelo contrário, parte dessa constatação para afirmar que o livre jogo dos diversos egoísmos produzirá o bem-estar coletivo.”
(BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 68).
111 SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia dos direitos fundamentais. 4 ed. rev. atual. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 55.
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
passando de mero espectador a protagonista de inúmeros atos destinados a estabelecer padrões
ideais de existência aos respectivos habitantes.
enquanto direito fundamental de quarta geração, o autor ressalta que está a referir-se à democracia direta.
116 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 525.
117 SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia dos direitos fundamentais. 4 ed. rev. atual. ampl. Porto Alegra: Livraria do Advogado, 2004, p. 59-60.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
O caput do artigo 5º da CF dispõe que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza e garante aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos dispostos nos 78
incisos e 04 parágrafos que lhe seguem.
Numa perspectiva literal é possível argumentar-se que o âmbito de proteção normativa do
artigo 5º não abrangeria os estrangeiros não residentes no país (turistas, por exemplo). Contudo, a
Segunda Turma do STF já decidiu que “a interpretação do art. 5º, caput, da CF não deveria ser literal,
porque, de outra forma, os estrangeiros não residentes estariam alijados da titularidade de todos os
direitos fundamentais”.118
Existem dois fundamentos, decorrentes de interpretação sistemática da CF, que viabilizam
conclusão no sentido de que aos estrangeiros não residentes no país são assegurados os direitos do
art. 5º. Primeiro: os direitos fundamentais, por se consubstanciarem em decorrências do princípio da
dignidade da pessoa humana (CF, artigo 1º, inciso III), devem ser assegurados a todos
independentemente de sua nacionalidade. Segundo: o artigo 3º da CF, ao arrolar, dentre os
objetivos fundamentais de nossa república, o “promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (inciso IV), permite
concluir estar vedada a restrição a garantias, “negando-as àqueles que, por sua origem,
supostamente estariam alijados de defender direitos perante a Justiça do Brasil”.119
118 (HC 94.477, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 6-9-2011, Segunda Turma, Informativo 639). No mesmo sentido: “A condição
jurídica de não nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso País não legitimam a adoção,
contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. Precedentes. Impõe-se, ao Judiciário, o dever de assegurar,
mesmo ao réu estrangeiro sem domicílio no Brasil, os direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente
as prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre as partes perante o juiz natural e à
garantia de imparcialidade do magistrado processante.” (HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009).
119
DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 26-27.
120 MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2008, p. 334.
121 SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos fundamentais e direito privado: algumas considerações em torno da vinculação dos particulares aos
direitos fundamentais. In: INGO WOLFGANG SARLET. (org.). A Constituição Concretizada: construindo pontes com o público e o privado.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 112.
122 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito Constitucional. 5 ed. Coimbra: Almedina, 1991, p. 603.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
eficácia privada é muito abrangente e a temática não trata especificamente de horizontalidade, mas
de certa assimetria nas relações entre particulares.123
A eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares pressupõe duas
importantes premissas: a existência de um direito fundamental que possa ser oponível a um
particular, seja pessoa física ou jurídica (afinal, do rol de direitos fundamentais, infere-se que muitos
são oponíveis apenas ao Estado) e a aferição de situação de desigualdade entre particulares.
No tocante à segunda premissa, resta claro, desde o advento do Estado Social, que o poder
estatal deve ser exercido de maneira pró-ativa, auxiliando os cidadãos a se alçarem a condições mais
dignas de vida e, obviamente, com menor exposição aos efeitos da era liberal. No contexto da pró-
atividade estatal estão inseridas posturas que minimizem as mazelas decorrentes de notórias
desigualdades na esfera privada.
A doutrina subdivide a eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares em
mediata e imediata. A mediata seria exercida nos termos e nos limites impostos pelo legislador
ordinário, enquanto que a imediata teria sua “eficácia irradiando diretamente dos direitos
fundamentais”.124 Interessante notar que, ao adotar-se a corrente da eficácia imediata, acaba-se por
tratar o problema da eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares como
verdadeira colisão de direitos fundamentais e a necessária ponderação no caso concreto.
O STF já teve oportunidade de analisar o tema:
"Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos
fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas
igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim,
os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os
poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos
poderes privados. Os princípios constitucionais como limites à autonomia privada das
associações. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer associação
civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em especial, dos
postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República,
notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de
autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência
dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus
associados. A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode
ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros,
especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não
confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou
de ignorar as restrições postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força
normativa também se impõem, aos particulares, no âmbito de suas relações privadas, em
tema de liberdades fundamentais." (RE 201.819, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma, DJ de 27-10-2006)
“Acolhendo a alegação de ofensa ao princípio da isonomia, a Turma conheceu e deu
provimento a recurso extraordinário interposto por empregado brasileiro da companhia aérea
Air France, ao qual foram negadas vantagens trabalhistas previstas no regulamento da
empresa, sob o argumento de que somente os empregados franceses teriam direito a tais
vantagens. Com o provimento do RE, determinou-se a aplicação do estatuto da empresa ao
recorrente. RE 161.243-DF, rel. Min. Carlos Velloso, 29.10.96” (STF, Informativo 51).
123 SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos fundamentais e direito privado: algumas considerações em torno da vinculação dos particulares aos
direitos fundamentais. In: INGO WOLFGANG SARLET. (org.). A Constituição Concretizada: construindo pontes com o público e o privado.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 113-114.
124 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito Constitucional. 5 ed. Coimbra: Almedina, 1991, p. 606.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão (CF, artigo 5˚, § 4˚). Esta disposição foi acrescentada ao artigo 5˚ da CF pela
Emenda Constitucional 45/2004. Na época já havia tratado internacional assinado pelo Presidente da
República em Roma no dia 17 de julho de 1998, aprovado pelo Congresso Nacional em 06 de junho
de 2002 (Decreto Legislativo nº 112), ratificado no plano externo em 20 de junho de 2002, bem como
devidamente incorporado ao nosso ordenamento jurídico no dia 25 de setembro de 2002 por
intermédio do Decreto nº 4.388/2002. Trata-se do Estatuto de Roma.
O Estatuto de Roma é uma convenção internacional multilateral que instituiu o Tribunal
Penal Internacional. O seu artigo dispõe que a entrada em vigor internacional depende do depósito
mínimo de 60 instrumentos de ratificação pelos Estados-parte. Isso ocorreu no dia 1º de julho de
2002, após o depósito do sexagésimo instrumento de ratificação junto do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas.
Assim, com a promulgação da EC nº 45, em 30 de dezembro de 2004, o Estatuto de Roma,
que já havia alcançado a vigência internacional perante os Estados-parte que haviam ratificado suas
intenções em aceitar a jurisdição supraestatal do Tribunal Penal Internacional, passou a ter validade
no território brasileiro.
No preâmbulo do Estatuto de Roma foram expostos os motivos para a criação e os objetivos
a serem alcançados com o Tribunal Penal Internacional.
Dentre os motivos: teve-se presente que, “no decurso deste século, milhões de crianças,
homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a
consciência da humanidade”; reconheceu-se que “crimes de uma tal gravidade constituem uma
ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade”; afirmou-se que “os crimes de maior
gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto, não devem ficar impunes e que
a sua repressão deve ser efetivamente assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e
do reforço da cooperação internacional”.
Dentre os objetivos: decidiu-se “por fim à impunidade dos autores desses crimes e a
contribuir assim para a prevenção de tais crimes”, bem como “garantir o respeito duradouro pela
efetivação da justiça internacional”.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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Estatuto busca equacionar a garantia do direito à justiça, o fim da impunidade e a soberania
do Estado, à luz do princípio da complementaridade e do princípio da cooperação”. 125
125 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 223/224.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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celebrados e incorporados ao ordenamento pátrio pertenciam ao mesmo nível hierárquico da
legislação ordinária, independentemente da temática veiculada.
A doutrina vinha criticando a tese da pura e simples recepção de tratados internacionais com
base na regra do artigo 105, inciso III, alínea “b” da CF.126 E o fazia com fundamento nas regras do
artigo 5˚, §§ 1˚ e 2˚, também da CF, segundo os quais as normas definidoras dos direitos e garantias
individuais têm aplicação imediata e os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.
Os §§ 1˚ e 2˚ do artigo 5˚ da CF eram, até 31 de dezembro de 2004, os fundamentos
constitucionais à tese do Bloco de Constitucionalidade127 e, consequentemente, à mencionada
crítica.
O raciocínio está fundamentado na cisão do gênero tratados internacionais em duas
espécies: tratados internacionais de direitos humanos e tratados internacionais comuns. Assim, o
entendimento do STF seria adequado apenas no tocante aos tratados internacionais comuns, pois
eles teriam, seguramente, características infraconstitucionais por não encontrarem fundamento nos
§§ 1˚ e 2˚ do artigo 5˚ da CF
Contudo, os tratados internacionais de direitos humanos, integrantes do chamado Bloco de
Constitucionalidade, teriam fundamento nas regras extensivas dos direitos fundamentais (CF, artigo
5˚, §§ 1˚ e 2˚).
O Constituinte Derivado, com a publicação da EC 45/2004, acrescentou o parágrafo 3˚ ao
artigo 5˚ da CF, segundo o qual “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
Portanto, após a EC n˚ 45, os tratados internacionais que versem sobre direitos humanos,
desde que preenchidos os requisitos do artigo 5˚, § 3˚ da CF, podem alcançar a mesma hierarquia de
uma Emenda à Constituição.
126
"Com efeito, é pacífico na jurisprudência desta Corte que os tratados internacionais ingressam em nosso ordenamento jurídico tão
somente com força de lei ordinária (o que ficou ainda mais evidente em face de o art. 105, III, da Constituição, que capitula, como caso de
recurso especial a ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça como ocorre com relação à lei infraconstitucional, a negativa de vigência de
tratado ou a contrariedade a ele), não se lhes aplicando, quando tendo eles integrado nossa ordem jurídica posteriormente à Constituição
de 1988, o disposto no art. 5º, § 2º, pela singela razão de que não se admite emenda constitucional realizada por meio de ratificação de
tratado" (HC 72.131, voto do Rel. p/ o ac. Min. Moreira Alves, Plenário, julgamento em 23-11-1995, Plenário, DJ de 1º-8-2003).
"Prevalência da Constituição, no Direito brasileiro, sobre quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos
humanos, que impede, no caso, a pretendida aplicação da norma do Pacto de São José. (...) mesmo em relação às convenções
internacionais de proteção de direitos fundamentais, preserva a jurisprudência que a todos equipara hierarquicamente às leis ordinárias"
(RHC 79.785, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 29-3-2000, Plenário, DJ de 22-11-2002).
127 PIOVESAN, Flávia, Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5 ed. São Paulo: Max Limonad, 2002.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Rel. Min. Cezar Peluso, voto do Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJE de 5-6-2009, com
repercussão geral)
Com base nesse precedente, no julgamento do HC 92.566, o STF declarou expressamente
revogada a Súmula 619/STF, que autorizava a decretação da prisão civil do depositário judicial no
próprio processo em que se constituiu o encargo, independentemente do prévio ajuizamento da
ação de depósito.
8.10. O ART. 5º DA CF
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
segurança e à propriedade. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações (CF, artigo 5º,
caput e inciso I).
O direito à igualdade, presente em duas ocasiões no pórtico da declaração dos direitos e
garantias fundamentais, pode ser teoricamente analisado sob duas distintas perspectivas.
Vale dizer: não basta a mera proclamação da igualdade formal (todos são iguais perante a
lei); o que importa é reduzir as desigualdades com o objetivo de atribuir, tanto quanto possível,
igualdade material. Este é o aspecto positivo, ativo, do direito à igualdade.
Sob a perspectiva da igualdade material legitimam-se as políticas de apoio e, especialmente,
de promoção de grupos socialmente fragilizados. Tais políticas denominam-se ações afirmativas.
Note-se que toda e qualquer ação afirmativa demanda o reconhecimento de alguma desigualdade e,
a partir desse reconhecimento, atitudes estatais fundamentadas nas chamadas discriminações
positivas. Existem fortes fundamentos constitucionais que legitimam a discriminação positiva voltada
à diminuição de desigualdades. O artigo 3º arrola os objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil, ou seja, os caminhos a percorrer e os horizontes a alcançar. Dentre os objetivos
fundamentais estão a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (inciso I), a erradicação da
pobreza e da marginalização, bem como a redução das desigualdades sociais e regionais (inciso III) e
a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação (inciso IV). As ações afirmativas são políticas capazes de potencializar as
chances de atingirmos tais objetivos.
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Trata-se do princípio da legalidade, que diz respeito à segurança do indivíduo em matéria
jurídica. Tal princípio visa o combate ao poder arbitrário do Estado, constituindo, assim, necessária
manifestação do Estado de Direito. Dessa forma, somente por meio das espécies normativas
elencadas no art. 59 da CRFB/88, elaboradas conforme o devido processo legislativo são hábeis a
criar obrigações ao indivíduo. O indivíduo é, portanto, livre para fazer ou deixar de fazer qualquer
coisa que não esteja prevista em lei.
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
O referido dispositivo tutela o direito fundamental à vida e à integridade física, repelindo as
práticas incompatíveis com a vida e com a dignidade humana. A tortura constitui crime, e sua
tipificação legal encontra-se na Lei nº 9.455/97. O artigo 1º da referida lei define o crime de tortura,
nos seguintes termos
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
O pensamento, em si, é absolutamente livre. A liberdade de expressão, por sua vez, constitui
fundamento essencial de uma sociedade democrática.
A manifestação do pensamento, embora livre, não pode ser feita de forma abusiva ou
descontrolada. Os excessos porventura ocorridos no exercício indevido do direito à liberdade de
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
expressão são passíveis de apreciação pelo Judiciário. A Constituição Federal assegura, de um lado,
a livre manifestação do pensamento, e, por outro, determina a responsabilização por aquilo que é
manifestado. Assim, veda-se o anonimato, ou seja, as pessoas são obrigadas a assumir a
responsabilidade do que exteriorizam, não podendo esconder-se sob o anonimato.
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
Essa norma pretende a reparabilidade da ordem jurídica lesada, seja através de reparação
econômica, seja através de outros meios, por exemplo, o direito de resposta.
Representa o exercício do direito de defesa por quem foi ofendido com a manifestação do
pensamento de outrem. A pessoa atingida tem o direito de apresentar a sua resposta ou retificação,
oferecendo a sua versão dos fatos, em dimensões iguais à do escrito ou transmissão que deu causa a
esse direito.
A Constituição assegurou, também, a indenização por danos materiais, morais e à imagem,
consagrando ao ofendido a total reparabilidade em virtude dos prejuízos sofridos. Os danos morais e
materiais são cumuláveis, segundo entendimento consagrado na jurisprudência (Súmula nº 37 do
STJ).
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias;
A liberdade de consciência é de foro íntimo, interessando apenas ao indivíduo, e não está
sujeita a qualquer forma de controle pelo Estado. Essa forma de liberdade compreende a liberdade
de crença, que nada mais é que a liberdade de foro íntimo em questões de natureza religiosa.
Assegura-se, assim, a liberdade de professar ou não alguma religião, de acreditar ou não em alguma
divindade.
A Constituição assegura, na forma da lei, a exteriorização da liberdade de crença, qual seja, a
liberdade de culto.
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis
e militares de internação coletiva;
Essa previsão constitucional encerra um direito subjetivo daquele que se encontra internado
em estabelecimento coletivo, cabendo ao Estado a materialização das condições para a prestação
dessa assistência religiosa.
Tendo em vista a total liberdade religiosa assegurada pela Constituição, ninguém que se
encontre nessa situação poderá ser obrigado a utilizar-se da assistência religiosa.
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
A objeção ou escusa de consciência consiste no direito de não prestar serviço militar
obrigatório ou qualquer outra obrigação legal a todos imposta por motivo de crença religiosa,
filosófica ou política. Atualmente, na hipótese de objeção de consciência, exige-se a prestação de
serviço social alternativo.
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
A fim de assegurar a ampla liberdade de manifestação do pensamento, a Constituição
Federal vetou a possibilidade de censura prévia (verificação da compatibilidade entre um
pensamento que se pretende exprimir e as normas legais vigentes) ou licença (exigência de
autorização de agente ou órgão para que um pensamento possa ser exteriorizado).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A liberdade de expressão, em todos os seus aspectos, deve ser exercida com a necessária
responsabilidade que se exige em um Estado Democrático de Direito, de modo que o desvirtuamento
deste para o cometimento de fatos ilícitos possibilita aos prejudicados a indenização por danos
materiais e morais, além do efetivo direito de resposta.
O STF julgou a ADPF 187, que tinha por temática central a legitimidade da criminalização da
chamada “Marcha da Maconha”. À Unanimidade, e, sessão plenária, a Suprema Corte, "Julgou
procedente pedido formulado em ação de descumprimento de preceito fundamental para dar, ao
art. 287 do CP, com efeito vinculante, interpretação conforme a Constituição, de forma a excluir
qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da legalização das drogas, ou de
qualquer substância entorpecente específica, inclusive através de manifestações e eventos
públicos" (Informativo STF 631).128
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
A inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem das pessoas forma a proteção
constitucional à vida privada, salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões
ilícitas externas.
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Via de regra, ninguém pode entrar na casa sem o consentimento do morador, devendo-se
entender como casa o lugar onde uma pessoa vive ou trabalha, não aberto ao público, reservado a
sua intimidade e a sua vida privada.
A própria Constituição estabelece as exceções à inviolabilidade do domicílio. Nesse sentido, é
possível entrar na casa sem o consentimento do morador nas seguintes hipóteses: durante o dia, em
caso de flagrante delito ou desastre, para prestar socorro e, ainda, por determinação judicial;
durante a noite, somente em situações de flagrante delito ou desastre para prestar socorro. A
entrada no domicílio sem o consentimento do morador por determinação judicial somente poderá se
dar durante o dia.
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
O indivíduo precisa ter segurança de que todas as suas comunicações pessoais, tanto as
feitas por cartas como as realizadas por telegramas ou telefonemas, não serão interceptadas por
outras pessoas. Essa inviolabilidade tutela, ao mesmo tempo, a liberdade de manifestação do
pensamento e o direito à intimidade das pessoas.
São consideradas ilícitas as provas produzidas a partir da quebra dos sigilos fiscal, bancário e
telefônico, sem a devida fundamentação. Somente se justifica a mitigação do direito à privacidade
quando razões de interesse público, devidamente fundamentadas por ordem judicial,
demonstrassem a conveniência de sua violação para fins de promover a investigação criminal ou
instrução processual penal.
Contudo, o STF alterou o entendimento de que o acesso direito do fisco a informações
cobertas pelo sigilo bancário seria conflitante com o art. 5º, XII, da CF. A impossibilidade de acesso
128Utilizamos o caso da ADPF 187 para representar, com base na análise de disposição infraconstitucional pré-existente à CF/88, a
revolução paradigmática pela qual passou o Estado brasileiro e como os vetores interpretativos que emanam da CF/88 podem nortear a
postura do intérprete no contexto da liberdade de expressão e da censura. A polêmica em torno da temática da legalização das drogas
serve de pano de fundo à compreensão do alcance da liberdade de expressão em uma sociedade democrática e pluralista.
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direito a dados bancários pelo fisco prevaleceu até 2016 (vide RE 389.808, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 15 dez 2010, Plenário, DJE de 10 mai 2011). A partir do julgamento conjunto das ADIs
2386, 2390, 2397 e 2859, Rel. Ministro Dias Toffoli, a Corte passou a entender de forma diversa.
Segundo o constante do informativo STF 814, a maioria plenária, vencidos os Ministros Marco
Aurélio e Celso de Mello, a partir do pressuposto de que “O que ocorreria não seria propriamente a
quebra de sigilo, mas a ‘transferência de sigilo’ dos bancos ao Fisco", e desde que “comprovada a
instauração de processo administrativo”, entendeu que não se está a tratar propriamente de quebra
de sigilo bancário, mas sim de transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal, ambas
protegidas contra o acesso de terceiros, sem ofensa à CF.
Para o STF, não fere a privacidade a apreensão de computador em diligência de busca e
apreensão: "Proteção constitucional ao sigilo das comunicações de dados – art. 5º, XII, da CF:
ausência de violação, no caso. Impertinência à hipótese da invocação da AP 307 (Pleno, 13-12-1994,
Galvão, DJ 13-10-1995), em que a tese da inviolabilidade absoluta de dados de computador não pode
ser tomada como consagrada pelo Colegiado, dada a interferência, naquele caso, de outra razão
suficiente para a exclusão da prova questionada – o ter sido o microcomputador apreendido sem
ordem judicial e a consequente ofensa da garantia da inviolabilidade do domicílio da empresa – este
segundo fundamento bastante, sim, aceito por votação unânime, à luz do art. 5º, XI, da Lei
Fundamental. Na espécie, ao contrário, não se questiona que a apreensão dos computadores da
empresa do recorrente se fez regularmente, na conformidade e em cumprimento de mandado
judicial. Não há violação do art. 5º, XII, da Constituição, que, conforme se acentuou na sentença, não
se aplica ao caso, pois não houve ‘quebra de sigilo das comunicações de dados (interceptação das
comunicações), mas sim apreensão de base física na qual se encontravam os dados, mediante prévia
e fundamentada decisão judicial’" (RE 418.416, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 10-5-
2006, Plenário, DJ de 19-12-2006).
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;
A liberdade de ação profissional consiste na faculdade de escolha de trabalho que se
pretende exercer. É o direito de cada indivíduo exercer qualquer atividade profissional, de acordo
com as suas preferências e habilidades.
Consagrou-se o direito ao livre exercício de profissão como norma de eficácia contida, pois a
Constituição previu a possibilidade de edição de lei que estabeleça as qualificações necessárias para
o seu exercício. Ressalte-se que a legislação somente poderá estabelecer condicionamentos
capacitários que apresentem nexo lógico com as funções a serem exercidas, jamais qualquer
requisito discriminatório ou abusivo.
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional;
É o direito constitucional de informar, de se informar e o de ser informado. O direito de
receber informações é um direito de liberdade e caracteriza-se essencialmente por estar dirigido a
todos os cidadãos, com a finalidade de fornecimento de subsídios para formação de convicções
relativas a assuntos públicos.
No que se refere ao sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional, a
Constituição apresenta a finalidade de garantir a toda a sociedade a ampla e total divulgação dos
fatos e notícias de interesse público. O sigilo da fonte é indispensável para o êxito de certas
investigações jornalísticas, e surge como corolário lógico da liberdade de informação.
Busca e apreensão em escritório de advocacia: “O sigilo profissional constitucionalmente
determinado não exclui a possibilidade de cumprimento de mandado de busca e apreensão em
escritório de advocacia. O local de trabalho do advogado, desde que este seja investigado, pode
ser alvo de busca e apreensão, observando-se os limites impostos pela autoridade judicial. Tratando-
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se de local onde existem documentos que dizem respeito a outros sujeitos não investigados, é
indispensável a especificação do âmbito de abrangência da medida, que não poderá ser executada
sobre a esfera de direitos de não investigados” (HC 91.610, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
8-6-2010, Segunda Turma, DJE de 22-10-2010).
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
É o direito de ir, vir e permanecer. Apenas em tempo de guerra haverá possibilidades de
maior restrição legal que, visando à segurança nacional e à integridade do território nacional, poderá
prever requisitos menos flexíveis.
O remédio constitucional para tutelar o direito de locomoção é o habeas corpus.
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
É o primeiro direito constitucional de manifestação coletiva. Não deixa de ser direito
individual, pois pertence ao indivíduo, mas é de expressão coletiva porque pressupõe uma
pluralidade de pessoas para que possa ser exercido.
Assim, o direito de reunião é uma manifestação coletiva da liberdade de expressão,
exercitada por meio de uma associação transitória de pessoas e tendo por finalidade o intercâmbio
de ideias, a defesa de interesses, a publicidade de problemas e de determinadas reivindicações.
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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XXII - é garantido o direito de propriedade;
Toda pessoa física ou jurídica tem direito à propriedade, podendo o ordenamento jurídico
estabelecer suas modalidades de aquisição, perda, uso e limites. O direito de propriedade,
constitucionalmente assegurado, garante que dela ninguém poderá ser privado arbitrariamente.
O direito constitucional adota uma concepção ampla de propriedade, a qual engloba
qualquer direito de conteúdo patrimonial, econômico, ou seja, tudo aquilo suscetível de ser
convertido em dinheiro.
São garantias do direito de propriedade: de conservação (ninguém será privado de seus bens
fora das hipóteses previstas na Constituição) e de compensação (caso privado de seus bens, o
proprietário deverá receber a devida indenização).
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
A referência constitucional à função social como elemento estrutural de definição do direito
à propriedade privada e da limitação de seu conteúdo demonstra a substituição de uma concepção
abstrata de âmbito meramente subjetivo de livre domínio e disposição da propriedade por uma
concepção social de propriedade privada, reforçada pela existência de um conjunto de obrigações
para com os interesses da coletividade, visando também à finalidade ou utilidade social que cada
categoria de bens objeto de domínio deve cumprir.
A Constituição, dessa forma, adotou a moderna concepção do direito de propriedade, pois,
ao mesmo tempo em que o consagrou como direito fundamental, deixou de caracterizá-lo como
incondicional e absoluto.
Há diversas consequências, constitucionalmente estabelecidas, nos casos em que, à
propriedade, não se atribui a devida função social. O imóvel urbano que não atinja sua função social
pode ser objeto de edificação compulsória, IPTU progressivo e até desapropriação, sendo que, neste
caso, o pagamento é feito em títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas (CF, artigo 182, § 4º). O imóvel rural que não atinja sua função
social também pode ser objeto de desapropriação, com pagamento de indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a
partir do segundo ano de sua emissão (CF, artigo 184, caput).129
Além da edificação compulsória, do IPTU progressivo (desrespeito à função social da
propriedade urbana) e da desapropriação (desrespeito à função social da propriedade urbana ou da
propriedade rural), a CF/88, em seu artigo 243, prevê o instituto da expropriação, que difere da
desapropriação por não legitimar o proprietário a nenhuma forma de indenização, seja prévia ou
posterior, em dinheiro ou títulos da dívida pública/privada. Trata-se de severa penalidade ao
indivíduo em cuja propriedade imóvel forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a
exploração de trabalho escravo.
Com o mesmo rigor o parágrafo único do artigo 243 da CF trata a questão de todo e qualquer
bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins ou da exploração de trabalho escravo: confisco sem indenização alguma.
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
129 No caso de desapropriação para fins de reforma agrária, prevista no artigo 184, caput, as benfeitorias úteis e necessárias são
indenizadas em dinheiro (§ 1º). Atentar para a regra do artigo 185, segundo o qual são insuscetíveis de desapropriação para fins de
reforma agrária a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra e a propriedade
produtiva.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A transformação que a ideia de um Estado social introduz no conceito de direito à
propriedade privada, ao assinalar uma função social com efeitos delimitadores de seu conteúdo,
determina uma importante revisão do instituto da desapropriação, que se converteu em
instrumento posto à disposição do poder público para o cumprimento de suas finalidades de
ordenação da sociedade com justiça social.
Desapropriação é o ato pelo qual o Estado toma para si ou transfere para terceiros bens de
particulares, mediante o pagamento de justa e prévia indenização. Trata-se de forma originária de
aquisição da propriedade. Enquanto forma mais drástica de intervenção do Estado na economia,
somente é admissível nas hipóteses especialmente previstas na Constituição.
O inciso XXIV da Constituição estabelece as hipóteses de desapropriação, quais sejam:
a) por necessidade pública – a Administração defronta-se com problemas de emergência, sendo
a desapropriação indispensável para a realização de uma atividade essencial do Estado;
b) por utilidade pública – a desapropriação, embora não imprescindível, é conveniente para a
realização de uma atividade estatal.
c) por interesse social – hipótese em que a desapropriação é conveniente para o progresso
social, em razão da justa distribuição da propriedade ou da adequação a sua função social.
A desapropriação será realizada mediante indenização justa (de forma integral), prévia
(pagamento deve ser anterior ao ingresso na titularidade do bem) e em dinheiro (pagamento em
moeda corrente). Pagamentos em títulos públicos somente são admitidos em hipóteses excepcionais
previstas na própria Constituição.
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
Trata-se do direito de requisição. O Poder Público, em hipóteses de iminente perigo público,
está autorizado a utilizar-se de propriedade alheia, sem necessidade de prévia indenização. Porém,
se de algum modo o uso da coisa gerar prejuízo ao proprietário, este tem garantido o direito à
indenização.
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
O referido dispositivo representa a proteção constitucional à pequena propriedade rural.
Pretende-se, dessa forma, alavancar o desenvolvimento rural do País, assentando a família na terra.
Nesse sentido, a pequena propriedade rural não pode ser objeto de penhora para
pagamentos de débito decorrentes de sua atividade produtiva, bem como deverá receber recursos
previstos em lei que financiem o seu desenvolvimento.
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e
voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;
Trata-se da tutela constitucional de propriedade imaterial, qual seja, os direitos autorais.
Protege-se, assim, os direitos sobre a utilização, publicação ou reprodução de obras artísticas.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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Importante ressaltar que o autor da obra é titular de direitos morais, inalienáveis e
irrenunciáveis e patrimoniais, estes transmissíveis e renunciáveis. São direitos morais do autor, em
síntese, o reconhecimento de sua obra e o direito à sua integridade. São direitos patrimoniais a
possibilidade de exploração comercial da sua criação.
O inciso XXXVIII do art. 5º da Constituição tutela os chamados direitos conexos ao direito do
autor. Dessa forma, a Constituição assegura também direitos aos que contribuem para uma maior
divulgação de obras intelectuais. São os artistas, intérpretes, produtores e pessoas que participam da
elaboração de obras coletivas.
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes
de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
O dispositivo em questão representa uma norma constitucional de eficácia limitada que
prevê a edição de legislação ordinária garantindo aos autores de inventos industriais o privilégio
temporário para sua utilização, bem como a proteção às suas criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Atualmente, a propriedade intelectual está
regulamentada pela Lei nº 9.279/96.
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira
em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a
lei pessoal do de cujus;
Trata-se de dispositivo constitucional que consagrou o direito à herança e o direito à sucessão,
ambos decorrentes do direito de propriedade, uma vez que reafirma a propriedade privada mesmo após
a morte do titular dos bens, com a consequente transmissão aos seus herdeiros.
O inciso XXXI protege os herdeiros brasileiros, estabelecendo que na sucessão de bens
estrangeiros situados no País aplica-se a lei que for mais favorável ao cônjuge ou filhos brasileiros da
pessoa falecida.
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
A previsão constitucional de defesa do consumidor denota a preocupação do legislador
constituinte com as modernas relações de consumo, e com a necessidade de proteção do
hipossuficiente economicamente.
No contexto dessa preocupação, sobreveio o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº
8.078/1990), regulamentando as relações de consumo e os mecanismos de proteção e efetividade
dos direitos do consumidor.
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento
de situações de interesse pessoal;
Os incisos XXXIII e XXXIV do art. 5º da Constituição asseguram os chamados direito de
certidão e direito de petição.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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O direito de certidão foi consagrado como direito líquido e certo de qualquer pessoa à
obtenção de certidão para defesa de um direito, desde que demonstrado o seu legítimo interesse. A
esse direito corresponde a obrigatoriedade do Estado, salvo nas hipóteses constitucionais de sigilo,
em fornecer as informações solicitadas.
A alínea “a” do inciso XXXIV estabelece o direito de petição, assegurando a qualquer pessoa
física ou jurídica, nacional ou estrangeira, a possibilidade de formular pedidos para a Administração
Pública em defesa de direitos próprios ou alheios, bem como o de formular reclamações contra atos
ilegais e abusivos cometidos por agentes do Estado.
A finalidade do direito de petição, que é gratuito (independe do pagamento de taxas), é dar-
se notícia de fato ilegal ou abusivo ao Poder Público, para que providencie as medidas adequadas.
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Consagração do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário. Esse princípio garante a
todos o acesso ao Poder Judiciário e decorre do monopólio da atividade jurisdicional pelo Estado.
Decorrência do postulado em questão é a inexistência de obrigatoriedade de esgotamento
da instância administrativa para que a parte possa acessar o Judiciário. A Constituição afastou a
necessidade da chamada jurisdição contenciosa ou instância administrativa de curso forçado. Não se
exige, pois, o exaurimento das vias administrativas para obter-se provimento judicial.
Uma exceção ao amplo acesso ao Judiciário é estabelecida pela própria Constituição, no seu
art. 217, § 1º, e diz respeito à justiça desportiva. O artigo referido exige o prévio acesso às instâncias
da justiça desportiva, nos casos de ações relativas à disciplina e às competições desportivas, sem, no
entanto, condicionar o acesso ao Judiciário ao término do processo administrativo, pois a justiça
desportiva terá o prazo máximo de 60 dias, contados da instauração do processo, para proferir
decisão final (art. 217, § 2º). Outra exceção existente consiste no habeas data que igualmente requer
prévio acesso na esfera administrativa (art. 5.º, LXXII, e Lei nº 9.507/97).
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Tendo em vista a segurança das relações jurídicas enquanto condições que permitem às
pessoas o conhecimento antecipado das consequências jurídicas dos seus atos, a Lei Maior
estabelece que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
Os incisos XXXVII e LIII representam o chamado princípio do juiz natural, estabelecido para
assegurar a imparcialidade do Judiciário e a segurança do povo contra o arbítrio estatal. O referido
princípio constitui uma garantia fundamental na administração da Justiça de um Estado de Direito, e
deve ser interpretado de modo a proibir a criação de juízos ou tribunais de exceção (aqueles criados
após o fato, instituídos especialmente para julgar determinadas pessoas ou determinados crimes) e a
exigir o respeito absoluto às regras de determinação de competência. Assim, ninguém pode ser
processado por uma autoridade especialmente designada para o caso. Pelo contrário, há o direito
fundamental de ser julgado por juízo ou tribunal previamente instituído e competente.
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A Constituição pátria reconhece o Tribunal do Júri como uma prerrogativa democrática do
cidadão, que deverá ser julgado por seus semelhantes, e não por juízo de critério eminentemente
técnico, prevendo, expressamente, quatro preceitos de observância obrigatória à legislação
infraconstitucional que organizará a instituição:
a) plenitude de defesa – corolário lógico do princípio da ampla defesa previsto no inciso LV do
art. 5º;
b) sigilo das votações – preserva a adoção de critérios de íntima convicção por parte dos
jurados;
c) soberania dos veredictos – a decisão dos jurados será mantida, somente podendo ser
modificada por meio de recurso previsto pelo diploma processual penal, sendo que a nova
decisão será dada por novo Tribunal do Júri;
d) competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida – como último preceito, a
Constituição prevê a regra mínima de competência do Tribunal do Júri, não impedindo que o
legislador infraconstitucional lhe atribua outras e diversas competências.
Cabe ressaltar, ainda, que a competência do Tribunal do Júri para julgar os crimes dolosos
contra a vida não é absoluta. A própria Constituição a afasta em hipóteses de prerrogativa de
função.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Consagração constitucional do princípio da reserva legal em matéria penal, o qual limita a
amplitude do exercício do poder punitivo (juspuniendi) do Estado. Os princípios da reserva legal e da
anterioridade no âmbito penal exigem, para a configuração de um crime, [1] a existência de lei formal
devidamente elaborada pelo Poder Legislativo, por meio das regras do processo legislativo
constitucional; [2] que a lei seja anterior ao fato sancionado; e [3] que a lei descreva especificamente
um fato determinado.
De acordo com esses preceitos constitucionais, não se admite a criação de figuras
penais ou cominação de penas por medida provisória e a retroatividade da lei penal mais severa.
Contrario sensu, admite-se a retroatividade da lei penal mais benigna (mais favorável ao réu). Por
essa razão, o artigo 2º do Código Penal estabelece que a lei penal, em regra, não retroagirá, salvo
para beneficiar o réu.
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
Trata-se de garantia constitucional de eficácia limitada, portanto não autoexecutável e
dependente de legislação ordinária, prevista como instrumento à proteção, basicamente, do
princípio da igualdade consagrado no caput do art. 5º.
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
O texto constitucional repugna a prática do racismo, de modo a garantir a igualdade e a
vedação das discriminações. O crime de racismo restou definido por meio da Lei nº 7.716/89,
parcialmente alterada pela Lei nº 9.459/97.
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
O legislador constituinte previu tratamento severo aos condenados pelos crimes de tortura,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e por crimes hediondos.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático;
Ao estabelecer mais um mecanismo protetivo da ordem constitucional e do Estado
Democrático de Direito, o legislador constituinte pretendeu solidificar a ideia de democracia na
República Federativa do Brasil, no intuito de afastar qualquer possibilidade de quebra da
normalidade. No entanto, o sentido imperativo do texto constitucional não exclui a necessidade de
edição de uma lei penal descritiva da conduta criminosa. A norma constitucional não definiu o tipo
penal, mas tão somente estabeleceu um instrumento de defesa da democracia e uma
obrigatoriedade ao Congresso correspondente à edição de lei penal descrevendo a conduta
delituosa.
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
Na ordem constitucional em vigor impera o princípio da pessoalidade da pena, segundo o
qual a pena não passará da pessoa do delinquente, não podendo suas consequências atingir
terceiros. Somente o autor da infração penal deve ser responsabilizado, sendo que a pena não deve
ser estendida a terceiros em geral. Também denominado postulado da intranscendência, impede
que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator
(STF, AC 1.033-AgR-QO).
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
O referido inciso compreende o princípio da individualização da pena e estabelece algumas
modalidades de sanção penal.
O princípio da individualização da pena exige uma estreita correspondência entre a
responsabilização da conduta do agente e a sanção a ser aplicada, de maneira que a pena atinja suas
finalidades de prevenção e repressão. Dessa maneira, a imposição da pena depende do juízo
individualizado da culpabilidade do agente. Em outras palavras, deve haver uma estreita ligação
entre a pena aplicada e o grau de censurabilidade da conduta do agente.
Observe-se que no julgamento do HC 82.959, o Plenário do STF decidiu pela possibilidade de
progressão do regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos, julgando inconstitucional o
art. 2º, § 1º, da Lei nº8.072/90.
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
A Constituição consagrou como garantia individual do sentenciado a impossibilidade de
aplicação de determinadas espécies de penas, quais sejam: a pena de morte, salvo em caso de guerra
declarada; as penas perpétuas e de trabalhos forçados; a pena de banimento (retirada forçada de um
nacional de seu país); e, por fim, as penas cruéis.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A vedação constitucional dessas penas assenta-se na imposição de respeito à dignidade da
pessoa humana (art. 1º, III).
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;
Essas disposições constitucionais representam princípios relativos à execução da pena
privativa de liberdade, demonstrando que o texto constitucional revela uma grande preocupação em
assegurar o respeito aos direitos do preso durante a execução da pena privativa de liberdade.
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
Os incisos LI e LII do artigo 5º compreendem o tratamento constitucional do instituto da
extradição, que é o ato pelo qual um Estado entrega a outro uma pessoa acusada ou condenada
pela prática de uma infração penal para que seja julgada ou para que cumpra pena em outro país.
A extradição pode ser ativa, que é aquela requerida pelo Brasil a outros Estados soberanos,
ou passiva, quando outros Estados requerem-na ao Brasil.
A Constituição, prevendo autênticos direitos fundamentais individuais, assevera que:
a) o brasileiro nato nunca será extraditado;
b) o brasileiro naturalizado somente será extraditado [1] por crime comum, praticado antes
da naturalização ou [2] pela participação comprovada em tráfico ilícito de entorpecentes ou
drogas afins, não importando aqui se a participação se deu antes ou depois da naturalização;
c) via de regra, o estrangeiro poderá ser extraditado, salvo nos casos de crime político ou de
opinião, ocasiões em que é vedada a sua extradição.
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Consagração constitucional do princípio do devido processo legal, o qual configura uma
garantia de proteção da liberdade e da propriedade do indivíduo. Segundo esse princípio, o indivíduo
somente poderá ser privado de sua liberdade ou de seus bens se obedecido um processo legalmente
estabelecido garantidor da possibilidade de defesa.
Busca-se, assim, tutelar o cidadão contra a atuação arbitrária do Estado.
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
O devido processo legal tem como corolários a ampla defesa e o contraditório, que deverão
ser assegurados aos litigantes em processos judiciais (cíveis ou criminais) bem como nos
procedimentos administrativos.
A garantia do contraditório e da ampla defesa significa que não deve ser tomada, pela
autoridade competente, nenhuma decisão sem a apreciação das razões de todas as partes
envolvidas, de forma a garantir a aplicação do princípio da igualdade também no plano processual.
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
A Constituição, estabelecendo uma importante garantia ao cidadão frente à ação
persecutória do Estado, estabeleceu que são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios
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ilícitos, ou seja, aquelas provas colhidas em infringência às normas legais e aos direitos fundamentais
do cidadão. Com efeito, a inadmissibilidade das provas ilícitas deriva da supremacia dos direitos
fundamentais no ordenamento jurídico, tornando impossível a violação de uma liberdade pública
para obtenção de qualquer prova.
Nesse sentido, a prova ilicitamente obtida (p.ex., confissões feitas mediante tortura,
interceptações telefônicas sem autorização judicial) é absolutamente nula, não podendo gerar
qualquer efeito no convencimento do juiz.
Com relação às provas decorrentes da prova ilícita, o Supremo Tribunal Federal tem
entendido que a prova ilícita originária contamina as demais provas dela decorrentes, sendo nulas
tanto as provas produzidas de forma ilícita quanto aquelas surgidas em decorrência da prova ilícita,
ainda que obtidas de forma regular. Trata-se da aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada
(fruits of the poisonous tree).
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
Estabelecendo que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória”, a Constituição consigna o princípio da presunção da inocência,
segundo o qual antes da condenação definitiva em um processo criminal todos os cidadãos devem
ser considerados inocentes.
Dessa forma, há a necessidade de o Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo, que é
constitucionalmente presumido inocente. Essa presunção somente poderá ser afastada com a
existência de um mínimo necessário de provas produzidas por meio de um devido processo legal e
com a garantia da ampla defesa.
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;
O direito fundamental expresso no inciso LVIII do art. 5º consiste na impossibilidade de
identificar-se criminalmente (processo usado para se estabelecer a identidade de pessoas) a pessoa
que já se encontre identificada civilmente.
Porém, a própria Constituição expressa a relatividade dessa norma, possibilitando exceções
previstas em lei ordinária. Atualmente, é a Lei nº 10.054/2000, no seu art. 3º, que prevê de modo
taxativo as hipóteses em que se dará a identificação criminal do civilmente identificado.
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal;
No sistema jurídico brasileiro, por força do artigo 129, inciso I, da Constituição, o processo
penal somente pode ser deflagrado por denúncia ou queixa, sendo a ação penal pública privativa do
Ministério Público.
No entanto, no inciso LIX se estabeleceu a ação penal subsidiária da pública, admitindo a
ação penal privada nos crimes de ação pública se o Ministério Público não oferecer denúncia no
prazo legal.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
O Estado Democrático de Direito exige a publicidade dos atos processuais, sendo que essa
publicidade poderá ser restringida por norma legal nas hipóteses de defesa da intimidade ou do
interesse social.
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;
A regra constitucional geral é aquela que assegura a liberdade do indivíduo. A privação de
liberdade é considerada medida excepcional, somente admitida nas situações previstas pela própria
Carta Magna.
Sendo assim, o indivíduo somente poderá ser preso:
a) em caso de flagrante delito ou,
b) por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente (não mais se
admite o mandado de prisão expedido por autoridade policial).
O texto constitucional, além de prever as duas hipóteses em que se permite a prisão do
indivíduo, elencou diversos requisitos para a validade da prisão: [1] a prisão deve ser comunicada ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; [2] o preso deve ser informado de
seus direitos, inclusive o de permanecer calado (o silêncio do acusado não pode lhe causar nenhum
prejuízo) e o da assistência da família e de advogado; [3] ao preso devem ser identificados os
responsáveis pela sua prisão e pelo seu interrogatório; [4] a prisão ilegal deve ser imediatamente
relaxada; [5] será ilegal a prisão efetuada quando a lei admitir liberdade provisória.
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
A prisão civil é medida privativa de liberdade, sem caráter de pena, com a finalidade de
compelir o devedor a satisfazer uma obrigação. A Constituição veda a prisão civil por dívidas,
admitindo somente nos casos de inadimplemento (voluntário e inescusável) de obrigação alimentícia
e do depositário infiel.
GARANTIAS FUNDAMENTAIS
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa” (Súmula
Vinculante 14).
“Direito à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e
entidades públicas. (...) Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida
pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e
funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de
informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial. Sem
que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas
exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII
do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto
da sociedade. Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados
objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos
mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais agindo ‘nessa
qualidade’ (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja
pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a
divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que
se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada
servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um
Estado republicano. (...) A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa
implicaria, no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública” (SS 3.902-AgR-
segundo, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 9-6-2011, Plenário, DJE de 3-10-2011).
130 “O direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático.
Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado – mesmo daqueles destituídos de
personalidade jurídica –, com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos
tanto de natureza pessoal quanto de significação coletiva” (ADI 1.247-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-8-1995, Plenário, DJ
de 8-9-1995).
131 “O direito à certidão traduz prerrogativa jurídica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo ou de uma
determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o
esclarecimento de situações. A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa
pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública.
O Ministério Público tem legitimidade ativa para a defesa, em juízo, dos direitos e interesses individuais homogêneos, quando impregnados
de relevante natureza social, como sucede com o direito de petição e o direito de obtenção de certidão em repartições públicas.” (RE
472.489-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 29-4-2008, Segunda Turma, DJE de 29-8-2008.) No mesmo sentido: RE 167.118-AgR,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 20-4-2010, Segunda Turma, DJE de 28-5-2010.
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mesmo sentido: ADPF 156, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 18-8-
2011, Plenário, DJE de 28-10-2011.
Deve-se ter em mente também que a atuação do Poder Judiciário deve ser exercida em
tempo razoável, afinal, a tutela efetiva é a tutela dada em tempo adequado. Assim, reconhece o Min.
Ayres Britto que “de nada valeria a CF declarar com tanta pompa e circunstância o direito à razoável
duração do processo (e, no caso, o direito à brevidade e excepcionalidade da internação preventiva),
se a ele não correspondesse o direito estatal de julgar com presteza. Dever que é uma das vertentes
da altissonante regra constitucional de que a ‘lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito’ (inciso XXXV do art. 5º). Dever, enfim, que, do ângulo do indivíduo, é
constitutivo da tradicional garantia de acesso eficaz ao Poder Judiciário (‘universalização da Justiça’,
também se diz).” (HC 94.000, voto do Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 17-6-2008, Primeira
Turma, DJE de 13-3-2009.)
132“Não há confundir negativa de prestação jurisdicional com decisão jurisdicional contrária à pretensão da parte" (AI 135.850-AgR, Rel.
Min. Carlos Velloso, julgamento em 23-4-1991, Segunda Turma, DJ de 24-5-1991). No mesmo sentido: AI 791.441-AgR, Rel. Min. Ellen
Gracie, julgamento em 3-8-2010, Segunda Turma, DJE de 20-8-2010.
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O livre acesso é, contudo, limitado pela capacidade postulatória. Já reconheceu o STF (AO
1.531-AgR, voto da Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 3-6-2009, Plenário, DJE de 1º-7-2009) que
"A CR estabeleceu que o acesso à justiça e o direito de petição são direitos fundamentais (art. 5º,
XXXIV, a, e XXXV), porém estes não garantem a quem não tenha capacidade postulatória litigar em
juízo, ou seja, é vedado o exercício do direito de ação sem a presença de um advogado, considerado
‘indispensável à administração da justiça’ (art. 133 da CF e art. 1º da Lei 8.906/1994), com as
ressalvas legais. (...) Incluem-se, ainda, no rol das exceções, as ações protocoladas nos juizados
especiais cíveis, nas causas de valor até vinte salários mínimos (art. 9º da Lei 9.099/1995) e as ações
trabalhistas (art. 791 da CLT), não fazendo parte dessa situação privilegiada a ação popular.”
Há, contudo, exceções, em que são dispensáveis a necessidade de advogado:
"Ação direta de inconstitucionalidade. Juizados especiais federais. Lei 10.259/2001, art. 10.
Dispensabilidade de advogado nas causas cíveis. Imprescindibilidade da presença de
advogado nas causas criminais. Aplicação subsidiária da Lei 9.099/1995. Interpretação
conforme a Constituição. É constitucional o art. 10 da Lei 10.259/2001, que faculta às partes
a designação de representantes para a causa, advogados ou não, no âmbito dos juizados
especiais federais. No que se refere aos processos de natureza cível, o STF já firmou o
entendimento de que a imprescindibilidade de advogado é relativa, podendo, portanto, ser
afastada pela lei em relação aos juizados especiais. Precedentes. Perante os juizados
especiais federais, em processos de natureza cível, as partes podem comparecer
pessoalmente em juízo ou designar representante, advogado ou não, desde que a causa não
ultrapasse o valor de sessenta salários mínimos (art. 3º da Lei 10.259/2001) e sem prejuízo
da aplicação subsidiária integral dos parágrafos do art. 9º da Lei 9.099/1995. Já quanto aos
processos de natureza criminal, em homenagem ao princípio da ampla defesa, é imperativo
que o réu compareça ao processo devidamente acompanhado de profissional habilitado a
oferecer-lhe defesa técnica de qualidade, ou seja, de advogado devidamente inscrito nos
quadros da OAB ou defensor público. Aplicação subsidiária do art. 68, III, da Lei 9.099/1995.
Interpretação conforme, para excluir do âmbito de incidência do art. 10 da Lei 10.259/2001 os
feitos de competência dos juizados especiais criminais da Justiça Federal" (ADI 3.168, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 8-6-2006, Plenário, DJ de 3-8-2007).
Por fim, deve ser destacado que, conforme entendimento do STF, não caracteriza violação à
inafastabilidade da jurisdição o arquivamento de execução fiscal por insignificância, a arbitragem e
a execução extrajudicial:
“Execução fiscal – Insignificância da dívida ativa em cobrança – Ausência do interesse de
agir – Extinção do processo (...). O STF firmou orientação no sentido de que as decisões,
que, em sede de execução fiscal, julgam extinto o respectivo processo, por ausência do
interesse de agir, revelada pela insignificância ou pela pequena expressão econômica do
valor da dívida ativa em cobrança, não transgridem os postulados da igualdade (...) e da
inafastabilidade do controle jurisdicional (...)” (AI 679.874-AgR, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 4-12-2007, Segunda Turma, DJE de 1º-2-2008). Em sentido contrário: RE
591.033, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 17-11-2010, Plenário, DJE de 25-2-2011,
com repercussão geral.
"Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996): constitucionalidade, em tese, do juízo arbitral; discussão
incidental da constitucionalidade de vários dos tópicos da nova lei, especialmente acerca da
compatibilidade, ou não, entre a execução judicial específica para a solução de futuros
conflitos da cláusula compromissória e a garantia constitucional da universalidade da
jurisdição do Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV). Constitucionalidade declarada pelo
Plenário, considerando o Tribunal, por maioria de votos, que a manifestação de vontade da
parte na cláusula compromissória, quando da celebração do contrato, e a permissão legal
dada ao juiz para que substitua a vontade da parte recalcitrante em firmar o compromisso
não ofendem o art. 5º, XXXV, da CF" (SE 5.206-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 12-12-2001, Plenário, DJ de 30-4-2004).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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"Execução extrajudicial. Recepção, pela Constituição de 1988, do DL 70/1966. Esta Corte, em
vários precedentes (assim, a título exemplificativo, nos RE 148.872, RE 223.075 e RE 240.361),
tem-se orientado no sentido de que o DL 70/1966 é compatível com a atual Constituição, não se
chocando, inclusive, com o disposto nos incisos XXXV, LIV e LV do art. 5º desta, razão por que foi
por ela recebido" (RE 287.453, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 18-09-2001, Primeira
Turma, DJ de 26-10-2001). No mesmo sentido: AI 663.578-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento
em 4-8-2009, Segunda Turma, DJE de 28-8-2009.
133“A coisa julgada a que se refere o art. 5º, XXXVI, da Carta Magna é, como conceitua o § 3º do art. 6º da Lei de Introdução do Código Civil,
a decisão judicial de que já não caiba recurso, e não a denominada coisa julgada administrativa” (RE 144.996, Rel. Min. Moreira Alves,
julgamento em 29-4-1997, Primeira Turma, DJ de 12-9-1997).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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vigência. Prejuízos ocorridos em exercícios anteriores não afetam fato gerador nenhum" (RE 344.994,
Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 25-3-2009, Plenário, DJE de 28-8-2009).
Há, contudo, direito adquirido com relação à direitos já incorporados ao patrimônio, ainda
que tais direitos venham a ser revogados por lei infraconstitucional posterior. “O STF fixou
entendimento no sentido de que a lei nova não pode revogar vantagem pessoal já incorporada ao
patrimônio do servidor sob pena de ofensa ao direito adquirido” (AI 762.863-AgR, Rel. Min. Eros
Grau, julgamento em 20-10-2009, Segunda Turma, DJE de 13-11-2009).
Como não há direito adquirido em face do regime jurídico, entende o STF que as condições
para a concessão de aposentadoria devem ser observadas com base no momento de sua
formalização. “Art. 2º e expressão '8º' do art. 10, ambos da EC 41/2003. Aposentadoria. Tempus
regit actum. Regime jurídico. Direito adquirido: não ocorrência. A aposentadoria é direito
constitucional que se adquire e se introduz no patrimônio jurídico do interessado no momento de
sua formalização pela entidade competente. Em questões previdenciárias, aplicam-se as normas
vigentes ao tempo da reunião dos requisitos de passagem para a inatividade. Somente os servidores
públicos que preenchiam os requisitos estabelecidos na EC 20/1998, durante a vigência das normas
por ela fixadas, poderiam reclamar a aplicação das normas nela contida, com fundamento no art. 3º
da EC 41/2003. Os servidores públicos, que não tinham completado os requisitos para a
aposentadoria quando do advento das novas normas constitucionais, passaram a ser regidos pelo
regime previdenciário estatuído na EC 41/2003, posteriormente alterada pela EC 47/2005. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente" (ADI 3.104, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 26-9-2007, Plenário, DJ de 9-11-2007).
Tem-se admitido a relativização da coisa julgada em alguns, principalmente em razão do
avanço científico. Um bom exemplo disso é a possibilidade de vivisão de ação declaratória de
paternidade em razão da realização de exame de DNA: “(...) o Plenário, por maioria, proveu recurso
extraordinário em que discutida a possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de
investigação de paternidade (...). Decretou-se a extinção do processo original sem julgamento do
mérito e permitiu-se o trâmite da atual ação de investigação de paternidade” (RE 363.889, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgamento em 2-6-2011, Plenário, Informativo 629, com repercussão geral) “(...) Na
situação dos autos, a genitora do autor não possuía, à época, condições financeiras para custear
exame de DNA. Reconheceu-se a repercussão geral da questão discutida, haja vista o conflito entre o
princípio da segurança jurídica, consubstanciado na coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI), de um lado; e a
dignidade humana, concretizada no direito à assistência jurídica gratuita (CF, art. 5º, LXXIV) e no
dever de paternidade responsável (CF, art. 226, § 7º), de outro. (...) O Min. Dias Toffoli, Relator,
proveu o recurso para decretar a extinção do processo original sem julgamento do mérito e permitir
o trâmite da atual ação de investigação de paternidade. Inicialmente, discorreu sobre o retrospecto
histórico que culminara na norma contida no art. 226, § 7º, da CF (...), dispositivo que teria
consagrado a igualdade entre as diversas categorias de filhos, outrora existentes, de modo a vedar
qualquer designação discriminatória que fizesse menção à sua origem. A seguir, destacou a
paternidade responsável como elemento a pautar a tomada de decisões em matérias envolvendo
relações familiares. Nesse sentido, salientou o caráter personalíssimo, indisponível e imprescritível
do reconhecimento do estado de filiação, considerada a preeminência do direito geral da
personalidade. Aduziu existir um paralelo entre esse direito e o direito fundamental à informação
genética, garantido por meio do exame de DNA. No ponto, asseverou haver precedentes da Corte no
sentido de caber ao Estado providenciar aos necessitados acesso a esse meio de prova, em ações de
investigação de paternidade. Reputou necessária a superação da coisa julgada em casos tais, cuja
decisão (...) se dera por insuficiência de provas. Entendeu que, a rigor, a demanda deveria ter sido
extinta nos termos do art. 267, IV, do CPC (...), porque se teria mostrado impossível a formação de
um juízo de certeza sobre o fato. Aduziu, assim, que se deveria possibilitar a repropositura da ação,
de modo a concluir-se sobre a suposta relação de paternidade discutida. Afirmou que o princípio da
segurança jurídica não seria, portanto, absoluto, e que não poderia prevalecer em detrimento da
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dignidade da pessoa humana, sob o prisma do acesso à informação genética e da personalidade do
indivíduo. Assinalou não se poder mais tolerar a prevalência, em relações de vínculo paterno-filial, do
fictício critério da verdade legal, calcado em presunção absoluta, tampouco a negativa de respostas
acerca da origem biológica do ser humano, uma vez constatada a evolução nos meios de prova
voltados para esse fim” (RE 363.889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento 7-4-2011, Plenário,
Informativo 622, com repercussão geral).
Também é admitido, em casos criminais, o desarquivamento por novas provas. “A decisão
que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada
por juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não
afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o
desarquivamento do inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste STF” (HC 95.211, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgamento em 10-3-2009, Primeira Turma, DJE de 22-8-2011).
A coisa julgada pode, ainda, ser afetada pela declaração de inconstitucionalidade da lei que
embase a argumentação da sentença. Assim, um título judicial lastreado em lei que venha ser
declarada inconstitucional pode ser desconstituído. Contudo, a desconstituição não ocorre
automaticamente, para isso é necessária a propositura de ação rescisória. “A sentença de mérito
transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de específica ação
autônoma de impugnação (ação rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial
previsto em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa
soberanamente julgada, insuscetível de ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre
fundamento em legislação que, em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo
STF, quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de
constitucionalidade. A decisão do STF que haja declarado inconstitucional determinado diploma
legislativo em que se apoie o título judicial, ainda que impregnada de eficácia ex tunc, como sucede
com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização concentrada (RTJ 87/758 – RTJ 164/506-509 –
RTJ 201/765), detém-se ante a autoridade da coisa julgada, que traduz, nesse contexto, limite
insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos que emanam, in abstracto, da
Suprema Corte” (RE 594.350, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 25-5-
2010, DJE de 11-6-2010).
São admissíveis no sistema jurídico brasileiro a aplicação de leis interpretativas, inclusive em
caráter retroativo, contudo, devem ser observados alguns requisitos, expressamente previstos pela
Constituição, em ordem a inibir a ação do poder público eventualmente configuradora de restrição
gravosa ao status libertatis da pessoa (CF, art. 5º, XL), ao status subjectionais do contribuinte em
matéria tributária (CF, art. 150, III, a) e (c) a ‘segurança’ jurídica no domínio das relações sociais (CF,
art. 5º, XXXVI). Ou seja, para a prescrição de atos normativos com efeitos retroativos, não podem
ocorrer nenhuma das situações referidas.
Sobre esse tema, já reconheceu o STF:
“Quando do advento da LC 118/2005, estava consolidada a orientação da Primeira Seção do
STJ no sentido de que, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo
para repetição ou compensação de indébito era de dez anos contados do seu fato gerador,
tendo em conta a aplicação combinada dos arts. 150, § 4º; 156, VII; e 168, I, do CTN. A LC
118/2005, embora tenha se autoproclamado interpretativa, implicou inovação normativa,
tendo reduzido o prazo de dez anos contados do fato gerador para cinco anos contados do
pagamento indevido. (...) A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou
compensação de indébito tributário estipulado por lei nova, fulminando, de imediato,
pretensões deduzidas tempestivamente à luz do prazo então aplicável, bem como a
aplicação imediata às pretensões pendentes de ajuizamento quando da publicação da lei,
sem resguardo de nenhuma regra de transição, implicam ofensa ao princípio da segurança
jurídica em seus conteúdos de proteção da confiança e de garantia do acesso à Justiça. (...)
Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005, considerando-
se válida a aplicação do novo prazo de cinco anos tão somente às ações ajuizadas após o
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9-6-2005” (RE 566.621, Rel. Min.
Ellen Gracie, julgamento em 4-8-2011, Plenário, DJE de 11-10-2011, com repercussão
geral).
No tema dos concursos, o fundamento do ato jurídico perfeito, é usado para justificar a
necessidade do poder público em respeitar as determinações impostas pelos editais publicados:
“Dentro do prazo de validade do concurso, a administração poderá escolher o momento no qual se
realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, a qual, de acordo com o
edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma, um dever imposto ao
Poder Público. Uma vez publicado o edital do concurso com número específico de vagas, o ato da
administração que declara os candidatos aprovados no certame cria um dever de nomeação para a
própria administração e, portanto, um direito à nomeação titularizado pelo candidato aprovado
dentro desse número de vagas. (...) O dever de boa-fé da administração pública exige o respeito
incondicional às regras do edital, inclusive quanto à previsão das vagas do concurso público. Isso
igualmente decorre de um necessário e incondicional respeito à segurança jurídica como princípio do
Estado de Direito. Tem-se, aqui, o princípio da segurança jurídica como princípio de proteção à
confiança. Quando a administração torna público um edital de concurso, convocando todos os
cidadãos a participarem de seleção para o preenchimento de determinadas vagas no serviço público,
ela impreterivelmente gera uma expectativa quanto ao seu comportamento segundo as regras
previstas nesse edital. Aqueles cidadãos que decidem se inscrever e participar do certame público
depositam sua confiança no Estado administrador, que deve atuar de forma responsável quanto às
normas do edital e observar o princípio da segurança jurídica como guia de comportamento. Isso
quer dizer, em outros termos, que o comportamento da administração pública no decorrer do
concurso público deve se pautar pela boa-fé, tanto no sentido objetivo quanto no aspecto subjetivo
de respeito à confiança nela depositada por todos os cidadãos” (RE 598.099, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgamento em 10-8-2011, Plenário, DJE de 3-10-2011, com repercussão geral).
134 "A definição constitucional das hipóteses de prerrogativa de foro ratione muneris representa elemento vinculante da atividade de
persecução criminal exercida pelo Poder Público. (...) O postulado do juiz natural, por encerrar uma expressiva garantia de ordem
constitucional, limita, de modo subordinante, os poderes do Estado – que fica, assim, impossibilitado de instituir juízos ad hoc ou de criar
tribunais de exceção –, ao mesmo tempo em que assegura ao acusado o direito ao processo perante autoridade competente
abstratamente designada na forma da lei anterior, vedados, em consequência, os juízos ex post facto" (AI 177.313-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 23-4-1996, Primeira Turma, DJ de 17-5-1996).
135 “(...) o postulado do juiz natural deriva de cláusula constitucional tipicamente bifronte, pois, dirigindo-se a dois destinatários distintos,
ora representa um direito do réu ou do indiciado/sindicado (eficácia positiva da garantia constitucional), ora traduz uma imposição ao
Estado (eficácia negativa dessa mesma garantia constitucional). O princípio da naturalidade do juízo, portanto, encerrando uma garantia
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"Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração
por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados" (Súmula 704).
Postulado do juiz natural não é ferido pela convocação de Juízes de 1º grau de jurisdição para
substituir Desembargadores: "Princípio do juiz natural. Relator substituído por Juiz convocado sem
observância de nova distribuição. Precedentes da Corte. O princípio do juiz natural não apenas veda
a instituição de tribunais e juízos de exceção, como também impõe que as causas sejam processadas
e julgadas pelo órgão jurisdicional previamente determinado a partir de critérios constitucionais de
repartição taxativa de competência, excluída qualquer alternativa à discricionariedade. A convocação
de Juízes de 1º grau de jurisdição para substituir Desembargadores não malfere o princípio
constitucional do juiz natural, autorizado no âmbito da Justiça Federal pela Lei 9.788/1999. O fato de
o processo ter sido relatado por um Juiz convocado para auxiliar o Tribunal no julgamento dos feitos
e não pelo Desembargador Federal a quem originariamente distribuído tampouco afronta o princípio
do juiz natural. Nos órgãos colegiados, a distribuição dos feitos entre relatores constitui, em favor do
jurisdicionado, imperativo de impessoalidade que, na hipótese vertente, foi alcançada com o
primeiro sorteio. Demais disso, não se vislumbra, no ato de designação do Juiz convocado, nenhum
traço de discricionariedade capaz de comprometer a imparcialidade da decisão que veio a ser
exarada pelo órgão colegiado competente" (HC 86.889, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em
20-11-2007, Primeira Turma, DJE de 15-2-2008). No mesmo sentido: RE 597.133, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 17-11-2010, Plenário, DJE de 6-4-2011, com repercussão geral.
Também não viola o princípio do juiz natural a redistribuição do processo para vara
especializada. Nesse sentido, já decidiu o STF:
"Provimento 275 do CJF da 3ª Região. Ilegalidade. Ofensa ao princípio do juiz natural.
Inocorrência. Premissa equivocada quanto à imputação feita aos pacientes. O provimento
apontado como inconstitucional especializou vara federal já criada, nos exatos limites da
atribuição que a Carta Magna confere aos Tribunais. A remessa para vara especializada
fundada em conexão não viola o princípio do juiz natural" (HC 91.253, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 16-10-2007, Primeira Turma, DJ de 14-11-2007). No mesmo
sentido: HC 96.104 Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-6-2010, Primeira
Turma, DJE de 6-8-2010.
"(...) Inquérito supervisionado pelo Juiz Federal da Subseção Judiciária de Foz do Iguaçu,
que deferiu medidas cautelares. Especialização, por Resolução do Tribunal Regional da
4ª Região, da Segunda Vara Federal de Curitiba/PR para o julgamento de crimes financeiros.
Remessa dos autos ao Juízo competente. Ofensa ao princípio do juiz natural (art. 5º, XXXVII
e LIII, da CF) e à reserva de lei. Inocorrência. Especializar varas e atribuir competência por
natureza de feitos não é matéria alcançada pela reserva da lei em sentido estrito, porém
apenas pelo princípio da legalidade afirmado no art. 5º, II, da CF, ou seja, pela reserva da
norma. (...) A legalidade da Resolução 20, do Presidente do TRF da 4ª Região, é evidente.
Não há delegação de competência legislativa na hipótese e, pois, inconstitucionalidade (...)”
(HC 85.060, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 23-9-2008, Primeira Turma, DJE de 13-2-
2009).
“Tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro proveniente do tráfico. Competência
da Justiça Federal. Especialização de vara por resolução. Constitucionalidade: ausência de
ofensa do princípio do juiz natural (...) Especialização de Vara Federal por resolução
emanada do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Constitucionalidade afirmada pelo
constitucional, limita, de um lado, os poderes do Estado (impossibilitado, assim, de instituir juízos ad hoc ou de criar tribunais de exceção) e
assegura, ao acusado (ou ao sindicado/indiciado), de outro, o direito ao processo (judicial ou administrativo) perante autoridade
competente, abstratamente designada na forma de lei anterior (vedados, em consequência, os juízos ex post facto). (...) Vê-se (...) que a
cláusula do juiz natural, projetando-se para além de sua dimensão estritamente judicial, também compõe a garantia do due process, no
âmbito da administração pública, de tal modo que a observância do princípio da naturalidade do juízo representa, no plano da atividade
disciplinar do Estado, condição inafastável para a legítima imposição, a qualquer agente público, notadamente aos magistrados, de sanções
de caráter administrativo” (MS 28.712-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 6-5-2010, DJE de 11-5-2010).
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Pleno desta Corte. Ausência de ofensa ao princípio do juiz natural” (HC 94.188, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 26-8-2008, Primeira Turma, DJE de 17-10-2008).
"A remessa para vara especializada fundada em conexão não viola o princípio do juiz
natural" (HC 91.253, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-10-2007, Primeira
Turma, DJ de 14-11-2007).
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Aplicação de sanção por analogia: “Não pode o julgador, por analogia, estabelecer sanção
sem previsão legal, ainda que para beneficiar o réu, ao argumento de que o legislador deveria ter
disciplinado a situação de outra forma. Em face do que dispõe o § 4º do art. 155 do CP, não se
mostra possível aplicar a majorante do crime de roubo ao furto qualificado” (HC 92.626, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 25-3-2008, Primeira Turma, DJE de 2-5-2008).
9.7. IRRETORATIVIDADE DA LEI PENAL
A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (CF, artigo 5º, inciso XL). Trata-se do
princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa.136 Anote-se que a retroatividade da lei mais
benéfica alcança até mesmo as questões já julgadas.137
Sobre esta matéria, destacam as seguintes súmulas e jurisprudências:
“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência” (STF, Súmula 711).
“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a
aplicação de lei mais benigna” (STF, Súmula 611).
Alteração do CPP e tempus regit actum: “A Lei 12.403/2011, na parte em que alterou o
quantum da pena máxima para concessão de fiança, é nitidamente processual e por isso se aplica o
princípio do tempus regit actum, não o da retroatividade da lei penal mais benéfica” (ARE 644.850-
ED, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18-10-2011, Segunda Turma, DJE de 4-11-2011).
Tráfico de entorpecentes. Comercialização de ‘lança-perfume’. Abolitio criminis: “(...) A
edição, por autoridade competente e de acordo com as disposições regimentais, da Resolução
ANVISA 104, de 7/12/2000, retirou o cloreto de etila da lista de substâncias psicotrópicas de uso
proscrito durante a sua vigência, tornando atípicos o uso e tráfico da substância até a nova edição da
Resolução, e extinguindo a punibilidade dos fatos ocorridos antes da primeira portaria, nos termos
do art. 5º, XL, da CF” (HC 94.397, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 9-3-2010, Segunda Turma,
DJE de 23-4-2010).
Cumprimento de pena. Crimes hediondos: “A fixação do regime inicial fechado de
cumprimento de pena para os crimes hediondos decorre de expressa previsão legal. A Lei
11.464/2007, no que tange à alteração promovida na redação do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990,
deve ter aplicação retroativa por ser considerada mais benéfica ao sentenciado”(HC 97.984, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 17-11-2009, Primeira Turma, DJE de 18-12-2009).
Tráfico de drogas. Conversão de pena: “Advento da nova lei de drogas (Lei 11.343/2006),
cujo art. 44 veda, expressamente, quanto aos delitos nele referidos, a conversão, em penas
restritivas de direito, da pena privativa de liberdade. Inaplicabilidade, contudo, desse novo diploma
legislativo (lex gravio) a crimes cometidos em momento anterior, quando ainda vigente a
Lei 6.368/1976 (lex mitior)” (HC 95.662, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-4-2009, Segunda
Turma, DJE de 26-6-2009.) No mesmo sentido: HC 103.093, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
14-9-2010, Segunda Turma, DJE de 1º-10-2010.
Crime continuado e advento de lei mais severa: “Direito intertemporal: ultra-atividade da lei
penal quando, após o início do crime continuado, sobrevém lei mais severa. Crime continuado (CP,
art. 71, caput): delitos praticados entre março de 1991 e dezembro de 1992, de forma que estas 22
(vinte e duas) condutas devem ser consideradas, por ficção do legislador, como um único crime,
136
"A cláusula constitucional inscrita no art. 5º, XL, da Carta Política – que consagra o princípio da irretroatividade da lex gravior – incide,
no âmbito de sua aplicabilidade, unicamente, sobre as normas de direito penal material, que, no plano da tipificação, ou no da definição
das penas aplicáveis, ou no da disciplinação do seu modo de execução, ou, ainda, no do reconhecimento das causas extintivas da
punibilidade, agravem a situação jurídico-penal do indiciado, do réu ou do condenado" (AI 177.313-AgR-ED, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 18-6-1996, Primeira Turma, DJ de 13-9-1996).
137 “Não retroatividade da lei mais benigna para alcançar pena já cumprida” (RE 395.269-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 10-
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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iniciado, portanto, na vigência de lex mitior (art. 2º, II, da Lei 8.137, de 27-12-1990) e findo na
vigência de lex gravior (art. 95, d e § 1º, da Lei 8.212, de 24-7-1991). Conflito de leis no tempo que se
resolve mediante opção por uma de duas expectativas possíveis: retroatividade da lex gravior ou
ultra-atividade da lex mitior, vez que não se pode cogitar da aplicação de duas penas diferentes, uma
para cada período em que um mesmo e único crime foi praticado. Orientação jurisprudencial do
Tribunal no sentido da aplicação da lex gravior. Ressalva do ponto de vista do Relator, segundo o
qual, para o caso de crime praticado em continuidade delitiva, em cujo lapso temporal sobreveio lei
mais severa, deveria ser aplicada a lei anterior – lex mitior – reconhecendo-se a sua ultra-atividade
por uma singela razão: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (Constituição, art. 5º,
XL)” (HC 76.978, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 29-9-1998, Segunda Turma, DJ de 19-2-
1999).
138
"Abrindo o debate, deixo expresso que a Constituição de 1988 consagra o devido processo legal nos seus dois aspectos, substantivo e
processual, nos incisos LIV e LV do art. 5º, respectivamente. (...) Due process of law, com conteúdo substantivo – substantive due process –
constitui limite ao Legislativo, no sentido de que as leis devem ser elaboradas com justiça, devem ser dotadas de razoabilidade
(reasonableness) e de racionalidade (rationality), devem guardar, segundo W. Holmes, um real e substancial nexo com o objetivo que se
quer atingir. Paralelamente, due process of law, com caráter processual – procedural due process – garante às pessoas um procedimento
judicial justo, com direito de defesa" (ADI 1.511-MC, voto do Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 16-10-1996, Plenário, DJ de 6-6-
2003).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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“Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração
por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados” (STF, Súmula 704).
“É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de
tributos” (STF, Súmula 323).
“É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de
tributo” (STF, Súmula 70).
Devido processo legal no âmbito administrativo: "O entendimento desta Corte é no sentido
de que o princípio do devido processo legal, de acordo com o texto constitucional, também se aplica
aos procedimentos administrativos" (AI 592.340-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em
20-11-2007, Primeira Turma, DJ de 14-12-2007).
Devido processo legal e ordem de perguntas em audiência: “A magistrada que não observa o
procedimento legal referente à oitiva das testemunhas durante a audiência de instrução e
julgamento, fazendo suas perguntas em primeiro lugar para, somente depois, permitir que as partes
inquiram as testemunhas, incorre em vício sujeito à sanção de nulidade relativa, que deve ser
arguido oportunamente, ou seja, na fase das alegações finais, o que não ocorreu” (HC 103.525, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgamento em 3-8-2010, Primeira Turma, DJE de 27-8-2010).
Devido processo legal substancial. Tipicidade Penal. Proporcionalidade: “Receptação simples
(dolo direto) e receptação qualificada (dolo indireto eventual). Cominação de pena mais leve para o
crime mais grave (CP, art. 180, caput) e pena mais severa para o crime menos grave (CP, art. 180, §
1º). (...) O exame da adequação de determinado ato estatal ao princípio da proporcionalidade,
exatamente por viabilizar o controle de sua razoabilidade, com fundamento no art. 5º, LIV, da Carta
Política, inclui-se, por isso mesmo, no âmbito da própria fiscalização de constitucionalidade das
prescrições normativas emanadas do Poder Público. Esse entendimento é prestigiado pela
jurisprudência do STF, que, por mais de uma vez, já advertiu que o Legislativo não pode atuar de
maneira imoderada, nem formular regras legais cujo conteúdo revele deliberação absolutamente
divorciada dos padrões de razoabilidade. Entendo, por isso mesmo, que a tese exposta nesta
impetração revela-se juridicamente plausível, especialmente se se considerar a jurisprudência
constitucional do STF, que já assentou, a propósito do tema, a orientação de que transgride o
postulado do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), analisado em sua dimensão material
(substantive due process of law), a regra legal que veicula, em seu conteúdo, prescrição normativa
qualificada pela nota da irrazoabilidade” (HC 102.094-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão
monocrática, julgamento em 1º-7-2010, DJE de 2-8-2010).
Sobre o direito de apelar em liberdade:
"Violação aos princípios da igualdade e da ampla defesa. (...) O recolhimento do condenado
à prisão não pode ser exigido como requisito para o conhecimento do recurso de apelação,
sob pena de violação aos direitos de ampla defesa e à igualdade entre as partes no
processo. Não recepção do art. 594 do CPP da Constituição de 1988" (RHC 83.810, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 5-3-2009, Plenário, DJE de 23-10-2009).
“Art. 595 do CPP. Apelação julgada deserta em razão do não recolhimento do réu à prisão.
Violação aos direitos e garantias individuais e aos princípios do Direito. (...) O não
recolhimento do réu à prisão não pode ser motivo para a deserção do recurso de apelação
por ele imposto. O art. 595 do CPP instituiu pressuposto recursal draconiano, que viola o
devido processo legal, a ampla defesa, a proporcionalidade e a igualdade de tratamento
entre as partes no processo. (...)” (HC 84.469, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em
15-4-2008, Segunda Turma, DJE de 9-5-2008).
“Lei do crime organizado (art. 7º). Vedação legal apriorística de liberdade provisória. Convenção
de Parlermo (art. 11). Inadmissibilidade de sua invocação. (...) Cláusulas inscritas nos textos de
tratados internacionais que imponham a compulsória adoção, por autoridades judiciárias
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nacionais, de medidas de privação cautelar da liberdade individual, ou que vedem, em caráter
imperativo, a concessão de liberdade provisória, não podem prevalecer em nosso sistema de
direito positivo, sob pena de ofensa à presunção de inocência, dentre outros princípios
constitucionais que informam e compõem o estatuto jurídico daqueles que sofrem persecução
penal instaurada pelo Estado. A vedação apriorística de concessão de liberdade provisória é
repelida pela jurisprudência do STF, que a considera incompatível com a presunção de inocência
e com a garantia do due process, dentre outros princípios consagrados na Constituição da
República, independentemente da gravidade objetiva do delito. Precedente: ADI 3.112/DF. A
interdição legal in abstracto, vedatória da concessão de liberdade provisória, incide na mesma
censura que o Plenário do STF estendeu ao art. 21 do Estatuto do Desarmamento (ADI
3.112/DF), considerados os postulados da presunção de inocência, do due process of law, da
dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade, analisado este na perspectiva da proibição
do excesso. O legislador não pode substituir-se ao juiz na aferição da existência de situação de
real necessidade capaz de viabilizar a utilização, em cada situação ocorrente, do instrumento de
tutela cautelar penal. Cabe, unicamente, ao Poder Judiciário, aferir a existência, ou não, em cada
caso, da necessidade concreta de se decretar a prisão cautelar” (HC 94.404, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 18-11-2008, Segunda Turma, DJE de 18-6-2010).
“Tráfico de entorpecentes. (...) Prisão em flagrante. Óbice ao apelo em liberdade.
Inconstitucionalidade: necessidade de adequação do preceito veiculado pelo art. 44 da Lei
11.343/2006 e do art. 5º, XLII, aos arts. 1º, III, e 5º, LIV e LVII, da constituição do Brasil. (...)
Apelação em liberdade negada sob o fundamento de que o art. 44 da Lei 11.343/2006 veda
a liberdade provisória ao preso em flagrante por tráfico de entorpecentes. Entendimento
respaldado na inafiançabilidade desse crime, estabelecida no art. 5º, XLIII, da Constituição
do Brasil. Afronta escancarada aos princípios da presunção de inocência, do devido
processo legal e da dignidade da pessoa humana. Inexistência de antinomias na
Constituição. Necessidade de adequação, a esses princípios, da norma infraconstitucional e
da veiculada no art. 5º, XLIII, da Constituição do Brasil. A regra estabelecida na
Constituição, bem assim na legislação infraconstitucional, é a liberdade. A prisão faz exceção
a essa regra, de modo que, a admitir-se que o art. 5º, XLIII, estabelece, além das restrições
nele contidas, vedação à liberdade provisória, o conflito entre normas estaria instalado. A
inafiançabilidade não pode e não deve – considerados os princípios da presunção de
inocência, da dignidade da pessoa humana, da ampla defesa e do devido processo legal –
constituir causa impeditiva da liberdade provisória. Não se nega a acentuada nocividade da
conduta do traficante de entorpecentes. Nocividade aferível pelos malefícios provocados no
que concerne à saúde pública, exposta a sociedade a danos concretos e a riscos iminentes.
Não obstante, a regra consagrada no ordenamento jurídico brasileiro é a liberdade; a prisão,
a exceção. A regra cede a ela em situações marcadas pela demonstração cabal da
necessidade da segregação ante tempus. Impõe-se porém ao Juiz, nesse caso o dever de
explicitar as razões pelas quais alguém deva ser preso cautelarmente, assim permanecendo"
(HC 101.505, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 15-12-2009, Segunda Turma, DJE de 12-
2-2010). Em sentido contrário: HC 108.652, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em
9-8-2011, Primeira Turma, DJE de 8-9-2011.
Notificação prévia nos casos de crimes praticados por agentes públicos (CPP, artigo 514).
Necessidade: "Necessidade de notificação prévia (CPP, art. 514). É da jurisprudência do Supremo
Tribunal (v.g. HC 73.099, Primeira Turma, 3-10-1995, Moreira, DJ de 17-5-1996) que o procedimento
previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP se reserva aos casos em que a denúncia veicula tão
somente crimes funcionais típicos (CP, arts. 312 a 326). (...) Ao julgar o HC 85.779, Gilmar,
Informativo STF 457, o Plenário do Supremo Tribunal, abandonando entendimento anterior da
jurisprudência, assentou, como obter dictum, que o fato de a denúncia se ter respaldado em
elementos de informação colhidos no inquérito policial, não dispensa a obrigatoriedade da
notificação prévia (CPP, art. 514) do acusado" (HC 89.686, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento
em 12-6-2007, Primeira Turma, DJ de 17-8-2007). No mesmo sentido: HC 95.969, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 12-5-2009, Primeira Turma, DJE de 12-6-2009; HC 96.058, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 17-3-2009, Segunda Turma, DJE de 14-8-2009.
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Notificação prévia nos casos de crimes praticados por agentes públicos (CPP, artigo 514).
Nulidade relativa: “A ausência da notificação prévia de que trata o art. 514 do CPP constitui vício que
gera nulidade relativa e deve ser arguida oportunamente, sob pena de preclusão. Precedentes. O
princípio do pas de nullité sans grief exige a demonstração de prejuízo concreto à parte que suscita o
vício, independentemente da sanção prevista para o ato, pois não se declara nulidade processual por
mera presunção. Precedentes. A jurisprudência deste STF assentou o entendimento de que o art. 514
do CPP tem por objetivo ‘dar ao réu-funcionário a possibilidade de evitar a instauração de processo
temerário, com base em acusação que já a defesa prévia ao recebimento da denúncia poderia, de
logo, demonstrar de todo infundada. Obviamente, após a sentença condenatória, não se há de
cogitar de consequência de perda dessa oportunidade de todo superada com a afirmação, no mérito,
da procedência da denúncia’ (HC 72.198, DJ de 26-5-1995)” (HC 97.033, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 12-5-2009, Primeira Turma, DJE de 12-6-2009).
Notificação prévia nos casos de crimes praticados por agentes públicos (CPP, artigo 514).
Nulidade absoluta: “Delito de concussão (...). Funcionário público. Oferecimento de denúncia. Falta
de notificação do acusado para resposta escrita. Art. 514 do CPP. Prejuízo. Nulidade. Ocorrência. (...)
O prejuízo pela supressão da chance de oferecimento de resposta preliminar ao recebimento da
denúncia é indissociável da abertura em si do processo penal. Processo que, no caso, resultou em
condenação, já confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no patamar de 3
(três) anos de reclusão. Na concreta situação dos autos, a ausência de oportunidade para o
oferecimento da resposta preliminar na ocasião legalmente assinalada revela-se incompatível com a
pureza do princípio constitucional da plenitude de defesa e do contraditório, mormente em matéria
penal. Noutros termos, a falta da defesa preliminar à decisão judicial quanto ao recebimento da
denúncia, em processo tão vincado pela garantia constitucional da ampla defesa e do contraditório,
como efetivamente é o processo penal, caracteriza vício insanável. A ampla defesa é transformada
em curta defesa, ainda que por um momento, e já não há como desconhecer o automático prejuízo
para a parte processual acusada, pois o fato é que a garantia da prévia defesa é instituída como
possibilidade concreta de a pessoa levar o julgador a não receber a denúncia ministerial pública.
Logo, sem a oportunidade de se contrapor ao Ministério Público quanto à necessidade de
instauração do processo penal – objetivo da denúncia do Ministério Público –, a pessoa acusada
deixa de usufruir da garantia da plenitude de defesa para escapar à pecha de réu em processo penal.
O que traduz, por modo automático, prejuízo processual irreparável, pois nunca se pode saber que
efeitos produziria na subjetividade do magistrado processante a contradita do acusado quanto ao
juízo do recebimento da denúncia” (HC 95.712, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 20-4-2010,
Primeira Turma, DJE de 21-5-2010).
Prescrição em perspectiva (ou virtual): "Esta Suprema Corte, em diversos precedentes, já
afastou a aplicação da prescrição em perspectiva da pretensão punitiva estatal por falta de previsão
legal” (Inq 2.728, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 19-2-2009, Plenário, DJE de 27-3-2009).
No mesmo sentido: HC 97.599, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 9-3-2010, Primeira Turma, DJE
de 16-4-2010.
Ausência de alegações finais em processo penal. Necessidade de nomeação de defensor
dativo: “Processo. Defesa. Alegações finais. Não apresentação pelo patrono constituído. Intimação
prévia regular. Nomeação de defensor dativo ou público para suprir a falta. Medida não
providenciada pelo juízo. Julgamento subsequente da causa. Condenação do réu. Inadmissibilidade.
Cerceamento de defesa caracterizado. Violação do devido processo legal. Nulidade processual
absoluta. Pronúncia. (...) Padece de nulidade absoluta o processo penal em que, devidamente
intimado, o advogado constituído do réu deixa de apresentar alegações finais, sem que o juízo, antes
de proferir sentença condenatória, lhe haja designado defensor dativo ou público para suprir a falta”
(HC 92.680, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 11-3-2008, Primeira Turma, DJE de 25-4-
2008). No mesmo sentido: HC 95.667, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-6-2010,
Primeira Turma, DJE de 1º-7-2010.
89
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Interrogatório por videoconferência: "Ação penal. Ato processual. Interrogatório. Realização
mediante videoconferência. Inadmissibilidade. Forma singular não prevista no ordenamento jurídico.
Ofensa a cláusulas do justo processo da lei (due process of law). Limitação ao exercício da ampla
defesa, compreendidas a autodefesa e a defesa técnica. Insulto às regras ordinárias do local de
realização dos atos processuais penais e às garantias constitucionais da igualdade e da publicidade.
(...) Enquanto modalidade de ato processual não prevista no ordenamento jurídico vigente, é
absolutamente nulo o interrogatório penal realizado mediante videoconferência, sobretudo quando
tal forma é determinada sem motivação alguma, nem citação do réu" (HC 88.914, Rel. Min. Cezar
Peluso, julgamento em 14-8-2007, Segunda Turma, DJ de 5-10-2007).139
Interceptação telefônica. Transcrição integral das escutas. Desnecessidade: "Habeas corpus.
Medida cautelar. Processual penal. Pedido de liminar para garantir à defesa do paciente o acesso à
transcrição integral das escutas telefônicas realizadas no inquérito. Alegação de ofensa ao princípio
do devido processo legal (art. 5º, LV, da CF): inocorrência: liminar indeferida. É desnecessária a
juntada do conteúdo integral das degravações das escutas telefônicas realizadas nos autos do
inquérito no qual são investigados os ora pacientes, pois bastam que se tenham degravados os
excertos necessários ao embasamento da denúncia oferecida, não configurando, essa restrição,
ofensa ao princípio do devido processo legal (art. 5º, LV, da CF). Liminar indeferida” (HC 91.207-MC,
Rel. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 11-6-2007, Plenário, DJ de 21-9-2007). No mesmo
sentido: Inq 2.774, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28-4-2011, Plenário, DJE de 6-9-2011.
Crime societário. Denúncia. Necessidade de individualização das condutas: "Crimes contra o
Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492, de 1986). Crime societário. Alegada inépcia da denúncia, por
ausência de indicação da conduta individualizada dos acusados. Mudança de orientação
jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia ser apta a denúncia que não
individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indicação de que os acusados fossem de
algum modo responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual foram supostamente
praticados os delitos. (...) Necessidade de individualização das respectivas condutas dos indiciados.
Observância dos princípios do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), da ampla defesa, contraditório
(CF, art. 5º, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III)" (HC 86.879, Rel. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, julgamento em 21-2-2006, Segunda Turma, DJ de 16-6-2006).
Denúncia anônima. Instauração de Inquérito Policial: "(...) (a) os escritos anônimos não podem
justificar, só por si, desde que isoladamente considerados, a imediata instauração da persecutio criminis,
eis que peças apócrifas não podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais
documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constituírem, eles próprios, o corpo de
delito (como sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão mediante sequestro, ou como ocorre
com cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra, ou que corporifiquem o delito de ameaça
ou que materializem o crimen falsi, p. ex.); (b) nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por
delação anônima (‘disque-denúncia’, p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente,
em averiguação sumária, ‘com prudência e discrição’, a possível ocorrência de eventual situação de
ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados,
em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-
se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas; e (c) o
Ministério Público, de outro lado, independentemente da prévia instauração de inquérito policial,
também pode formar a sua opinio delicti com apoio em outros elementos de convicção que evidenciem a
materialidade do fato delituoso e a existência de indícios suficientes de sua autoria, desde que os dados
informativos que dão suporte à acusação penal não tenham, como único fundamento causal,
documentos ou escritos anônimos" (Inq 1.957, Rel. Min. Carlos Velloso, voto do Min. Celso de Mello,
139Esta decisão foi tomada antes da alteração do Código de Processo Penal pela Lei nº 11.9000/2009. Com a alteração do CPP, o artigo 185,
2º passou a admitir a videoconferência: “Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real”.
90
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julgamento em 11-5-2005, Plenário, DJ de 11-11-2005). No mesmo sentido: HC 106.664-MC, Rel. Min.
Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 19-5-2011, DJE de 23-5-2011; HC 99.490, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgamento em 23-11-2010, Segunda Turma, DJE de 1º-2-2011; HC 95.244, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgamento em 23-3-2010, Primeira Turma, DJE de 30-4-2010.
O Supremo Tribunal Federal, quando do recente julgamento do Habeas Corpus 126292/SP,
Relator Ministro Teori Zavascki, alterou entendimento consolidado no tocante à impossibilidade de
execução provisória da pena privativa de liberdade na pendência de recursos especial ou
extraordinário. A partir do julgamento do referido HC 126292/SP, a Corte, por maioria, vencidos os
Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente), passou a
admitir o cumprimento de pena privativa de liberdade após a condenação em segundo grau de
jurisdição, mesmo na pendência de recursos especial ou extraordinário. Segundo o noticiado no
Informativo STF 814: “A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em
julgamento de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência. (…) Para o sentenciante de primeiro grau, ficaria
superada a presunção de inocência por um juízo de culpa — pressuposto inafastável para
condenação —, embora não definitivo, já que sujeito, se houver recurso, à revisão por tribunal de
hierarquia imediatamente superior. Nesse juízo de apelação, de ordinário, ficaria definitivamente
exaurido o exame sobre os fatos e provas da causa, com a fixação, se fosse o caso, da
responsabilidade penal do acusado. Então, ali que se concretizaria, em seu sentido genuíno, o duplo
grau de jurisdição, destinado ao reexame de decisão judicial em sua inteireza, mediante ampla
devolutividade da matéria deduzida na ação penal, tivesse ela sido apreciada ou não pelo juízo “a
quo”. Ao réu ficaria assegurado o direito de acesso, em liberdade, a esse juízo de segundo grau,
respeitadas as prisões cautelares porventura decretadas. Desse modo, ressalvada a estreita via da
revisão criminal, seria, portanto, no âmbito das instâncias ordinárias que se exauriria a possibilidade
de exame de fatos e provas e, sob esse aspecto, a própria fixação da responsabilidade criminal do
acusado. Portanto, os recursos de natureza extraordinária não configurariam desdobramentos do
duplo grau de jurisdição, porquanto não seriam recursos de ampla devolutividade, já que não se
prestariam ao debate da matéria fática e probatória”.
9.9. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (CF, artigo 5º,
inciso LV).
Nesse sentido:
“É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação
judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário” (Súmula Vinculante
28).
“É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para
admissibilidade de recurso administrativo” (Súmula Vinculante 21).
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa” (Súmula
Vinculante 14).
“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição” (Súmula Vinculante 5).
“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a
ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo
que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão” (Súmula Vinculante 3).
91
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“É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único
defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro” (STF, Súmula 708).
“Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função
de um dos denunciados” (STF, Súmula 704).
“No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão proferida em
processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo” (STF, Súmula 701).
“No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o réu” (STF, Súmula 523).
Quanto à amplitude do contraditório e da ampla defesa, já reconheceu o STF: “(...) Afirmou-
se que, a partir da CF/1988, foi erigido à condição de garantia constitucional do cidadão, quer se
encontre na posição de litigante, em processo judicial, quer seja mero interessado, o direito ao
contraditório e à ampla defesa. Asseverou-se que, a partir de então, qualquer ato da administração
pública capaz de repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão deveria ser precedido de
procedimento em que se assegurasse, ao interessado, o efetivo exercício dessas garantias” (RE
594.296, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 21-9-2011, Plenário, Informativo 641, com
repercussão geral).
O contraditório não é, contudo, necessário em inquéritos administrativos: “Descabe ter-se
como necessário o contraditório em inquérito administrativo. O instrumento consubstancia simples
sindicância visando a, se for o caso, instaurar processo administrativo no qual observado o direito de
defesa” (RE 304.857, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 24-11-2009, Primeira Turma, DJE de 5-
2-2010).
Deve-se levar em conta também que não é qualquer vício que causa a nulidade do
processo, é necessário que seja demonstrada o prejuízo do réu: “Não há, no processo penal,
nulidade ainda que absoluta, quando do vício alegado não haja decorrido prejuízo algum ao réu” (HC
82.899, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 2-6-2009, Segunda Turma, DJE de 26-6-2009) No
mesmo sentido: HC 104.767, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14-6-2011, Primeira Turma, DJE de
17-8-2011.
Demissão de servidor público. Processo administrativo. Necessidade: “A jurisprudência
desta Corte tem-se fixado no sentido de que a ausência de processo administrativo ou a
inobservância aos princípios do contraditório e da ampla defesa tornam nulo o ato de demissão de
servidor público, seja ele civil ou militar, estável ou não” (RE 513.585-AgR, Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 17-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008) No mesmo sentido: RE 594.040-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-4-2010, Primeira Turma, DJE de 23-4-2010.
Interrogatório policial. Prova pericial. Quesitos pela defesa. Desnecessidade: “A
determinação de elaboração de laudo pericial na fase do inquérito, sem prévio oferecimento de
quesitos pela defesa, não ofende o princípio da ampla defesa. Posterior juntada e oportunidade de
manifestação da defesa e oferecimento de quesitos” (AI 658.050-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
julgamento em 12-4-2011, Segunda Turma, DJE de 29-4-2011).
Indeferimento de diligências e liberdade do magistrado para apreciação das provas:
"Contraditório e ampla defesa: não ofende o art. 5º, LV, da Constituição acórdão que mantém o
indeferimento de diligência probatória tida por desnecessária. O mencionado dispositivo
constitucional também não impede que o julgador aprecie com total liberdade e valorize como bem
entender as alegações e as provas que lhe são submetidas. Precedentes" (AI 623.228-AgR, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 14-8-2007, Primeira Turma, DJ de 14-9-2007). No mesmo
sentido: RE 660.254-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 6-4-2010, Primeira Turma, DJE de 14-
5-2010; RE 531.906-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em de 10-6-09, Segunda Turma, DJE de 26-
6-09.
92
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Oitiva de testemunhas. Presença do acusado: “Pacífica a jurisprudência deste STF de ser
relativa a nulidade decorrente do não comparecimento do acusado ao interrogatório das
testemunhas (cf. HC 75.225), inexistindo, por outro lado, indícios de prejuízo à defesa” (HC 84.442,
Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 30-11-2004, Primeira Turma, DJ de 25-2-2005). No mesmo
sentido: HC 95.654, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28-9-2010, Segunda Turma, DJE de 15-
10-2010.
Precatória. Oitiva de testemunhas. Presença do réu: "Não é nula a audiência de oitiva de
testemunha realizada por carta precatória sem a presença do réu, se este, devidamente intimado da
expedição, não requer o comparecimento" (RE 602.543-QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento
em 19-11-2009, Plenário, DJE de 26-2-2010, com repercussão geral).
Audiência. Deslocamento de réu preso. Conveniência da administração? “O acusado,
embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade
absoluta, os atos processuais, notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do
processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes, para esse
efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade ou inconveniência de proceder à
remoção de acusados presos a outros pontos do Estado ou do País, eis que razões de mera
conveniência administrativa não têm – nem podem ter – precedência sobre as inafastáveis
exigências de cumprimento e respeito ao que determina a Constituição (...)” (HC 86.634, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 18-12-2006, Segunda Turma, DJ de 23-2-2007). No mesmo sentido:
HC 94.216, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12-5-2009, Primeira Turma, DJE de 19-6-2009.
Em sentido contrário: RE 602.543-QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 19-11-2009,
Plenário, DJE 26-2-2010, com repercussão geral.
Ausência de defesa prévia. Advogado regularmente intimado: "A ausência de defesa prévia
pelo defensor constituído – que foi pessoalmente notificado a oferecê-la – não constitui, só por si,
causa ensejadora de qualquer nulidade processual. Respeita-se o princípio constitucional do direito
de defesa quando se enseja ao réu, permanentemente assistido por defensor técnico, seu exercício
em plenitude, sem a ocorrência de quaisquer restrições ou obstáculos, criados pelo Estado, que
possam afetar a cláusula inscrita na carta política, assecuratória do contraditório e de todos os
meios e consequências derivados do postulado do due process of law" (HC 67.923, Rel. Min. Celso
de Mello, julgamento em 5-6-1990, Primeira Turma, DJ de 10-8-1990) No mesmo sentido: RHC
105.242, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 19-10-2010, Segunda Turma, DJE de 24-11-2010.
Contraditório e ampla defesa: Inaplicabilidade ao Inquérito Policial: "Inaplicabilidade da
garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, que não é processo,
porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na esfera administrativa; existência, não
obstante, de direitos fundamentais do indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de fazer-se
assistir por advogado, o de não se incriminar e o de manter-se em silêncio" (HC 82.354, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 10-8-2004, Primeira Turma, DJ de 24-9-2004). Vide: RE 481.955-
AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 10-5-2011, Primeira Turma, DJE de 26-5-2011.
Nomeação de defensor dativo para mais de um réu. Colisão entre as teses defensivas.
Necessidade de demonstração de prejuízo: “A colidência de teses defensivas é apenas invocável,
como causa nullitatis, nas hipóteses em que, comprovado o efetivo prejuízo aos direitos dos réus, a
defesa destes vem a ser confiada a um só defensor dativo (...)” (HC 70.600, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 19-4-1994, Primeira Turma, DJE de 21-8-2009).
Interrogatório após a sentença: “O interrogatório judicial, qualquer que seja a natureza
jurídica que lhe reconheça – meio de prova, meio de defesa ou meio de prova e de defesa – constitui
ato necessário do processo penal condenatório, impondo-se a sua realização, quando possível,
mesmo depois da sentença de condenação, desde que não se tenha consumado, ainda, o trânsito
93
DIREITO CONSTITUCIONAL
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em julgado (...)” (HC 68.131, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18-9-1990, Primeira Turma,
DJE de 8-3-1991).
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
democráticas (CF, art. 1º), qualquer prova cuja obtenção, pelo Poder Público, derive de transgressão a
cláusulas de ordem constitucional, repelindo, por isso mesmo, quaisquer elementos probatórios que
resultem de violação do direito material (ou, até mesmo, do direito processual), não prevalecendo, em
consequência, no ordenamento normativo brasileiro, em matéria de atividade probatória, a fórmula
autoritária do male captum, bene retentum. Doutrina. Precedentes. (...) A questão da doutrina dos
frutos da árvore envenenada (Fruits of the poisonous tree): A questão da ilicitude por derivação.
Ninguém pode ser investigado, denunciado ou condenado com base, unicamente, em provas ilícitas,
quer se trate de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por derivação. Qualquer novo dado
probatório, ainda que produzido, de modo válido, em momento subsequente, não pode apoiar-se, não
pode ter fundamento causal nem derivar de prova comprometida pela mácula da ilicitude originária. (...)
A doutrina da ilicitude por derivação (teoria dos ‘frutos da árvore envenenada’) repudia, por
constitucionalmente inadmissíveis, os meios probatórios, que, não obstante produzidos, validamente,
em momento ulterior, acham-se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssimo) da ilicitude originária, que
a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal. (...) Se, no entanto, o órgão da
persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de
uma fonte autônoma de prova – que não guarde qualquer relação de dependência nem decorra da
prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vinculação causal –, tais dados probatórios revelar-
se-ão plenamente admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. A questão
da fonte autônoma de prova (an independent source) e a sua desvinculação causal da prova ilicitamente
obtida. Doutrina. Precedentes do STF (RHC 90.376/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.) – Jurisprudência
Comparada (A experiência da Suprema Corte americana): casos ‘Silverthorne Lumber co. v. United States
(1920); Segura v. United States (1984); Nix v. Willams (1984); Murray v. United States (1988)’, v.g.” (HC
93.050, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008).
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por tribunal de hierarquia imediatamente superior. Nesse juízo de apelação, de ordinário, ficaria
definitivamente exaurido o exame sobre os fatos e provas da causa, com a fixação, se fosse o caso,
da responsabilidade penal do acusado. Então, ali que se concretizaria, em seu sentido genuíno, o
duplo grau de jurisdição, destinado ao reexame de decisão judicial em sua inteireza, mediante ampla
devolutividade da matéria deduzida na ação penal, tivesse ela sido apreciada ou não pelo juízo “a
quo”. Ao réu ficaria assegurado o direito de acesso, em liberdade, a esse juízo de segundo grau,
respeitadas as prisões cautelares porventura decretadas. Desse modo, ressalvada a estreita via da
revisão criminal, seria, portanto, no âmbito das instâncias ordinárias que se exauriria a possibilidade
de exame de fatos e provas e, sob esse aspecto, a própria fixação da responsabilidade criminal do
acusado. Portanto, os recursos de natureza extraordinária não configurariam desdobramentos do
duplo grau de jurisdição, porquanto não seriam recursos de ampla devolutividade, já que não se
prestariam ao debate da matéria fática e probatória. Noutras palavras, com o julgamento
implementado pelo tribunal de apelação, ocorreria uma espécie de preclusão da matéria
envolvendo os fatos da causa. Os recursos ainda cabíveis para instâncias extraordinárias do STJ e do
STF — recurso especial e extraordinário — teriam âmbito de cognição estrito à matéria de direito.
Nessas circunstâncias, tendo havido, em segundo grau, juízo de incriminação do acusado, fundado
em fatos e provas insuscetíveis de reexame pela instância extraordinária, pareceria inteiramente
justificável a relativização e até mesmo a própria inversão, para a situação concreta, do princípio da
presunção de inocência até então observado. Faria sentido, portanto, negar efeito suspensivo aos
recursos extraordinários, como o fazem o art. 637 do CPP e o art. 27, § 2º, da Lei 8.038/1990. (…) A
Corte destacou, outrossim, que, com relação à previsão constitucional da presunção de não
culpabilidade, ter-se-ia de considerá-la a sinalização de um instituto jurídico, ou o desenho de
garantia institucional, sendo possível o estabelecimento de determinados limites. Assim, a execução
da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não comprometeria o núcleo essencial
do pressuposto da não culpabilidade, na medida em que o acusado tivesse sido tratado como
inocente no curso de todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e as garantias a ele
inerentes, bem como respeitadas as regras probatórias e o modelo acusatório atual”.
Prisão preventiva. Requisitos na fundamentação: “A prisão preventiva em situações que
vigorosamente não a justifiquem equivale à antecipação da pena, sanção a ser no futuro
eventualmente imposta, a quem a mereça, mediante sentença transitada em julgado. A afronta ao
princípio da presunção de não culpabilidade, contemplado no plano constitucional (art. 5º, LVII, da
Constituição do Brasil), é, desde essa perspectiva, evidente. Antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória, a regra é a liberdade; a prisão, a exceção. Aquela cede a esta em casos
excepcionais. É necessária a demonstração de situações efetivas que justifiquem o sacrifício da
liberdade individual em prol da viabilidade do processo” (HC 95.009, Rel. Min. Eros Grau, julgamento
em 6-11-2008, Plenário, DJE de 19-12-2008). No mesmo sentido: HC 96.577, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 10-2-2009, Segunda Turma, DJE de 19-3-2010. Vide: HC 97.028, Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 16-12-2008, Segunda Turma, DJE de 14-8-2009.
Concurso Público. Desclassificação de candidato que responde a inquérito ou ação penal sem
trânsito em julgado: “Viola o princípio constitucional da presunção da inocência, previsto no art. 5º,
LVII, da CF, a exclusão de candidato de concurso público que responde a inquérito ou ação penal sem
trânsito em julgado da sentença condenatória” (RE 559.135-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 20-5-2008, Primeira Turma, DJE de 13-6-2008) No mesmo sentido: RE 634.224, Rel.
Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 14-3-2011, DJE de 21-3-2011.
Prisão preventiva. Presunção de periculosidade. Inadmissibilidade: "Prisão preventiva.
Decreto fundado na periculosidade presumida do acusado. Inadmissibilidade. Razão que não autoriza
a prisão cautelar. Ofensa à presunção constitucional de inocência. Constrangimento ilegal
caracterizado. Aplicação do art. 5º, LVII, da CF. Precedentes. É ilegal o decreto de prisão preventiva
que se funda na periculosidade presumida do réu" (HC 90.471, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento
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em 7-8-2007, Primeira Turma, DJ de 14-9-2007). No mesmo sentido: HC 88.721, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 28-4-2009, Primeira Turma, DJE de 29-5-2009.
Maus antecedentes. Inquérito ou ação penal em andamento. Não configuração: "A existência
de inquérito e de ações penais em andamento contra o Apelante não é suficiente, no caso concreto,
para configurar os maus antecedentes, tendo em vista que sequer é possível saber por quais crimes
ele está respondendo" (AO 1.046, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 23-4-2007, Plenário, DJ
de 22-6-2007).
Ação penal. Ônus da prova: "Nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete ao
réu demonstrar a sua inocência. Cabe ao Ministério Público comprovar, de forma inequívoca, a
culpabilidade do acusado. Já não mais prevalece, em nosso sistema de direito positivo, a regra, que,
em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado Novo), criou, para o réu, com a
falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria
inocência (Decreto-Lei 88, de 20-12-1937, art. 20, 5). (...)" (HC 73.338, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 13-8-1996, Primeira Turma DJ de 19-12-1996).
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CNJ que coordenasse mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de execução
penal, em curso no País, que envolvessem a aplicação de pena privativa de liberdade,
visando a adequá-los às medidas pleiteadas nas alíneas “e” e “f”; e h) à União que liberasse
as verbas do Fundo Penitenciário Nacional – Funpen, abstendo-se de realizar novos
contingenciamentos”.
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9.12.2. COMUNICAÇÃO DA PRISÃO
A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente
ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (CF, artigo 5º, inciso LXII).
Uma das questões mais interessantes e atuais, diretamente relacionada com o dispositivo
constitucional sob análise e com o dispositivo comentado no item 12.5 infra (relaxamento da prisão
ilegal) envolve a chamada Audiência de Custódia, inaugurada em solo brasileiro a partir de pioneiro
projeto-piloto capitaneado pelo Conselho Nacional de Justiça na gestão do Presidente Ricardo
Lewandowski que, inclusive, proporcionou ambiente seguro para a edição da Resolução CNJ 213, de
15 de dezembro de 2015, que “Dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade
judicial no prazo de 24 horas”.
O referido projeto-piloto foi levado a cabo no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
através do Provimento Conjunto 3/2015, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo Supremo
Tribunal Federal instado a se manifestar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.240/SP, Relator
Ministro Luiz Fux, proposta pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL.
Segundo o constante do Informativo STF 795:
“A Corte afirmou que o art. 7º, item 5, da Convenção Americana de Direitos Humanos, ao
dispor que “toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz”, teria sustado os efeitos de toda a legislação ordinária conflitante com esse
preceito convencional. Isso em decorrência do caráter supralegal que os tratados sobre
direitos humanos possuiriam no ordenamento jurídico brasileiro, como ficara assentado pelo
STF, no julgamento do RE 349.703/RS (DJe de 5.6.2009). Ademais, a apresentação do
preso ao juiz no referido prazo estaria intimamente ligada à ideia da garantia fundamental de
liberdade, qual seja, o “habeas corpus”. A essência desse remédio constitucional, portanto,
estaria justamente no contato direto do juiz com o preso, para que o julgador pudesse, assim,
saber do próprio detido a razão pela qual fora preso e em que condições se encontra
encarcerado. Não seria por acaso, destarte, que o CPP consagraria regra de pouco uso na
prática forense, mas ainda assim fundamental, no seu art. 656, segundo o qual “recebida a
petição de ‘habeas corpus’, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará
que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar”. Então, não teria
havido por parte da norma em comento nenhuma extrapolação daquilo que já constaria da
referida convenção internacional — ordem supralegal —, e do próprio CPP, numa
interpretação teleológica dos seus dispositivos. (…) O Provimento Conjunto 3/2015 não
inovaria na ordem jurídica, mas apenas explicitaria conteúdo normativo já existente em
diversas normas do CPP — recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei federal
de conteúdo processual — e da Convenção Americana sobre Direitos do Homem —
reconhecida pela jurisprudência do STF como norma de “status” jurídico supralegal.
Outrossim, inexistiria violação ao princípio da separação dos poderes (CF, art. 2º). De fato,
não seria o ato normativo emanado do tribunal de justiça que criaria obrigações para os
delegados de polícia, mas sim a citada convenção e o CPP, os quais, por força dos artigos 3º
e 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, teriam efeito imediato e geral,
ninguém se escusando de cumpri-los”.
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Inquérito sigiloso. Acesso aos autos pela defesa: "Acesso dos acusados a procedimento
investigativo sigiloso. Possibilidade sob pena de ofensa aos princípios do contraditório, da ampla
defesa. Prerrogativa profissional dos advogados. Art. 7, XIV, da lei 8.906/1994 (...). O acesso aos
autos de ações penais ou inquéritos policiais, ainda que classificados como sigilosos, por meio de
seus defensores, configura direito dos investigados. A oponibilidade do sigilo ao defensor constituído
tornaria sem efeito a garantia do indiciado, abrigada no art. 5º, LXIII, da CF, que lhe assegura a
assistência técnica do advogado. Ademais, o art. 7º, XIV, do Estatuto da OAB estabelece que o
advogado tem, dentre outros, o direito de ‘examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos’. Caracterizada, no caso, a flagrante
ilegalidade, que autoriza a superação da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal” (HC 94.387, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 18-11-2008, Primeira Turma, DJE de 6-2-2009).
Falsa identidade e autodefesa: “O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, LXIII, da
CF/1988) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento
de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do
CP)” (RE 640.139-RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 22-9-2011, Plenário, DJE de 14-10-2011,
com repercussão geral).
100
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
140
“A existência de relações familiares, a comprovação de vínculo conjugal e/ou a convivência more uxorio do extraditando com pessoa de
nacionalidade brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não impedindo, em consequência, a
efetivação da extradição. (...) Não obsta a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de
nacionalidade brasileira, ainda que, com esta, possua filho brasileiro. A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da
República, pois, em tema de cooperação internacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou
familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradição” (Ext 1.201, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 17-2-2011, Plenário, DJE de 15-3-2011).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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assumir a qualificação de crime político ou de opinião ou as circunstâncias subjacentes à ação do
Estado requerente demonstrarem a configuração de inaceitável extradição política disfarçada" (Ext
524, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 31-10-1989, Plenário, DJ de 8-3-1991).
Caso Cesare Battisti: "Não configura crime político, para fim de obstar o acolhimento de
pedido de extradição, homicídio praticado por membro de organização revolucionária clandestina,
em plena normalidade institucional de Estado Democrático de Direito, sem nenhum propósito
político imediato ou conotação de reação legítima a regime opressivo. (...) Não caracteriza a hipótese
legal de concessão de refúgio, consistente em fundado receio de perseguição política, o pedido de
extradição para regular execução de sentenças definitivas de condenação por crimes comuns,
proferidas com observância do devido processo legal, quando não há prova de nenhum fato capaz de
justificar receio atual de desrespeito às garantias constitucionais do condenado" (Ext 1.085, Rel. Min.
Cezar Peluso, julgamento em 16-12-2009, Plenário, DJE de 16-4-2010).
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
141
“A ação de habeas corpus não se revela cabível, quando inexistente situação de dano efetivo ou de risco potencial ao jus manendi,
ambulandi, eundi ultro citroque do paciente. Esse entendimento decorre da circunstância histórica de a Reforma Constitucional de 1926 –
que importou na cessação da doutrina brasileira do habeas corpus – haver restaurado a função clássica desse extraordinário remédio
processual, destinando-o, quanto à sua finalidade, à específica tutela jurisdicional da imediata liberdade de locomoção física das pessoas”
(HC 102.041, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-4-2010, Segunda Turma, DJE de 20-8-2010). No mesmo sentido: HC 103.642, Rel.
Min. Ellen Gracie, julgamento em 1º-3-2011, Segunda Turma, DJE de 25-3-2011.
102
DIREITO CONSTITUCIONAL
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10.1.1. LEGITIMIDADE
O paciente, no habeas corpus, é sempre a pessoa física. Pessoa jurídica não, a despeito de
possuir legitimidade ativa, ou seja, ser detentora da possibilidade de impetrar habeas corpus em
favor de pessoa física. Estrangeiros podem ser pacientes ou impetrantes, em defesa de próprio
direito, de habeas corpus.142
Ainda no tocante à legitimidade ativa, além do próprio paciente e da pessoa jurídica em favor
dele, é possível a impetração pelo Ministério Público.143 Não há possibilidade de impetração apócrifa,
ou seja, despida de assinatura por parte do impetrante, embora seja plenamente viável a impetração
por pessoa sem habilitação junto à Ordem dos Advogados do Brasil.144
A autoridade judiciária competente para a análise da impetração não está adstrita ao pedido
ou à causa de pedir, donde se conclui que, em sede de habeas corpus, não há falar em sentenças ou
decisões com características ultra ou extra petita.145
Quanto à legitimidade passiva, esta pode ser preenchida tanto por autoridade pública (como
um Delegado de Polícia Federal, por exemplo), quanto por particular (internações em hospitais e
clínicas de custódia psiquiátrica). Note-se que a autoridade pública comete tanto ilegalidade quanto
abuso de poder, enquanto o particular somente pode cometer ilegalidade.
10.1.2. PROCEDIMENTO
O rito sumaríssimo do habeas corpus não admite dilação probatória.146 Assim, se, por
exemplo, buscar-se a anulação de sentença sob o argumento de que a decisão seria contrária à prova
dos autos, o meio correto seria a revisão criminal ou a apelação e não o remédio constitucional.
Habeas corpus não é recurso. É ação constitucional isenta do pagamento de custas. É
possível a concessão de liminar em habeas corpus. O impetrante pode desistir da anterior
impetração de habeas corpus, que é sempre gratuita (CF, artigo 5º, inciso LXXVII). Além disso, no
habeas corpus não há falar em prescrição ou em decadência.147
142
"O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do habeas
corpus, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao
integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. A condição
jurídica de não nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso País não legitimam a adoção,
contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. Precedentes. (HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento
em 16-9-2008, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009.) No mesmo sentido: HC 94.404, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18-11-2008,
Segunda Turma, DJE de 18-6-2010. Vide: HC 102.041-ED, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15-2-2011, Segunda Turma, Informativo
616.
143 "Habeas corpus. Legitimidade ad causam do Ministério Público. Ação que pretende o reconhecimento da incompetência absoluta do
juízo processante. O pedido de reconhecimento de incompetência absoluta do Juízo processante afeta diretamente a defesa de um direito
individual indisponível do paciente: o de ser julgado por um juiz competente, nos exatos termos do que dispõe o inciso LIII do art. 5º da CF.
O Ministério Público, órgão de defesa de toda a Ordem Jurídica, é parte legítima para impetrar habeas corpus que vise ao reconhecimento
da incompetência absoluta do juiz processante de ação penal" (HC 90.305, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 20-3-2007, Primeira
Turma, DJ de 25-5-2007).
144 "O CPP, em consonância com o texto constitucional de 1988, prestigia o caráter popular do habeas corpus, ao admitir a impetração por
qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem. Assim, não é de se exigir habilitação legal para impetração originária do writ ou para
interposição do respectivo recurso ordinário. Precedente (HC 73.455)" (HC 86.307, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 17-11-
2005, Primeira Turma, DJ de 26-5-2006).
145 "Na apreciação de habeas corpus, o órgão investido do ofício judicante não está vinculado à causa de pedir e ao pedido formulados.
Exsurgindo das peças dos autos a convicção sobre a existência de ato ilegal não veiculado pelo impetrante, cumpre-lhe afastá-lo, ainda que
isto implique concessão de ordem em sentido diverso do pleiteado. (...)" (HC 69.421, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 30-6-
1992, Segunda Turma, DJ de 28-8-1992).
146 “O habeas corpus é garantia constitucional que pressupõe, para o seu adequado manejo, uma ilegalidade ou um abuso de poder tão
flagrante que se revele de plano (inciso LXVIII do art. 5º da Magna Carta de 1988). Tal qual o mandado de segurança, a ação constitucional
de habeas corpus é via processual de verdadeiro atalho. Isso no pressuposto do seu adequado ajuizamento, a se dar quando a petição
inicial já vem aparelhada com material probatório que se revele, ao menos num primeiro exame, induvidoso quanto à sua faticidade
mesma e como fundamento jurídico da pretensão” (HC 96.787, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 31-5-2011, Segunda Turma, DJE de
21-11-2011).
147 “Habeas corpus. Alcance. O habeas corpus não sofre qualquer peia, sendo-lhe estranhos os institutos da prescrição, da decadência e da
preclusão ante o fator tempo” (HC 91.570, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 19-8-2008, Primeira Turma, DJE de 24-10-2008).
103
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Situação corriqueira no âmbito dos tribunais, em que as decisões finais nos habeas corpus
são tomadas em por intermédio de deliberações colegiadas, é o empate no julgamento. Nesse casos
o empate é considerado como sendo decisão favorável ao paciente.148
São duas as espécies de habeas corpus: liberatório (ou repressivo) e preventivo (salvo-
conduto). Esta segunda espécie afigura-se presente quando alguém se achar na iminência de sofrer
violência ou coação na sua liberdade de locomoção. A Jurisprudência, especialmente do STF, tem
atribuído enorme abrangência às hipóteses de cabimento do habeas corpus na modalidade
preventiva.149
O STF chegou a admitir a assistência no procedimento do habeas corpus. No leading case a
Suprema Corte admitiu a intervenção do credor fiduciário autor de ação civil de depósito, inclusive
para fazer sustentação oral.
Segue abaixo seleção de jurisprudência do STF a respeito do habeas corpus.
"Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um
ano" (Súmula 723).
"Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade" (Súmula 695).
“Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de
patente ou de função pública" (Súmula 694).
“Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a
processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada"
(Súmula 693).
“Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de extradição, se fundado em
fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele provocado a
respeito" (Súmula 692).
“É nulo julgamento de recurso criminal na segunda instância sem prévia intimação ou
publicação da pauta, salvo em habeas corpus” (Súmula 431).
“Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das
custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção" (Súmula 395).
Habeas corpus. Não cabimento: "A ação de habeas corpus constitui remédio processual
inadequado, quando ajuizada com objetivo (a) de promover a análise da prova penal, (b) de efetuar o
reexame do conjunto probatório regularmente produzido, (c) de provocar a reapreciação da matéria
de fato e (d) de proceder à revalorização dos elementos instrutórios coligidos no processo penal de
conhecimento" (HC 69.780, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-12-1992, Primeira Turma, DJ
de 17-6-2005). No mesmo sentido: HC 94.817, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3-8-2010,
Segunda Turma, DJE de 3-9-2010.
148 “O empate na votação de habeas corpus, ausente um dos integrantes do Colegiado, deságua na imediata proclamação do resultado
mais favorável ao paciente” (HC 94.701, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5-8-2008, Primeira Turma, DJE de 24-10-2008).
149 “É cabível habeas corpus para apreciar toda e qualquer medida que possa, em tese, acarretar constrangimento à liberdade de
locomoção ou, ainda, agravar as restrições a esse direito. Esse o entendimento da Segunda Turma ao deferir habeas corpus para assegurar
a detento em estabelecimento prisional o direito de receber visitas de seus filhos e enteados. (...) De início, rememorou-se que a
jurisprudência hodierna da Corte estabelece sérias ressalvas ao cabimento do writ, no sentido de que supõe violação, de forma mais direta,
ao menos em exame superficial, à liberdade de ir e vir dos cidadãos. Afirmou-se que essa orientação, entretanto, não inviabilizaria, por
completo, o processo de ampliação progressiva que essa garantia pudesse vir a desempenhar no sistema jurídico brasileiro, sobretudo para
conferir força normativa mais robusta à Constituição. A respeito, ponderou-se que o Supremo tem alargado o campo de abrangência dessa
ação constitucional, como no caso de impetrações contra instauração de inquérito criminal para tomada de depoimento, indiciamento de
determinada pessoa, recebimento de denúncia, sentença de pronúncia no âmbito do processo do Júri e decisão condenatória, entre
outras. Enfatizou-se que a Constituição teria o princípio da humanidade como norte e asseguraria aos presidiários o respeito à integridade
física e moral [CF, art. 5º: ‘XLIX (...)’]. (...) Aludiu-se que a visitação seria desdobramento do direito de ir e vir, na medida em que seu
empece agravaria a situação do apenado” (HC 107.701, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13-9-2011, Segunda Turma, Informativo
640).
104
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Habeas corpus. Tipicidade penal objetiva. Discussão. Possibilidade: "É possível a concessão
de habeas corpus para a extinção de ação penal sempre que se constatar ou imputação de fato
atípico, ou inexistência de qualquer elemento que demonstre a autoria do delito, ou extinção da
punibilidade. (...) Nas palavras de Reale Júnior, tipicidade é a ‘congruência entre a ação concreta e o
paradigma legal ou a configuração típica do injusto’. Não preenchidos esses requisitos, inexiste justa
causa para a instauração da persecução penal pelo Parquet" (HC 102.422, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgamento em 10-6-2010, Plenário, DJE de 14-9-2011).
Habeas corpus. Tipicidade penal subjetiva. Discussão. Impossibilidade: “A via estreita do
habeas corpus não é adequada à discussão relativa ao dolo do paciente, seja no tocante ao crime
falimentar ou à gestão temerária, aferição esta adequada às instâncias inferiores, no momento
oportuno e com o apoio de todo o conjunto fático-probatório” (HC 93.917, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 2-6-2009, Segunda Turma, DJE de 1º-7-2009).
Habeas corpus. Atipicidade penal. Insignificância. Crime de Descaminho: “Habeas corpus.
Descaminho. Montante dos impostos não pagos. Dispensa legal de cobrança em autos de execução
fiscal. Lei 10.522/2002, art. 20. Irrelevância administrativa da conduta. Inobservância aos princípios
que regem o Direito Penal. Ausência de justa causa. Ordem concedida. De acordo com o art. 20 da
Lei 10.522/2002, na redação dada pela Lei 11.033/2004, os autos das execuções fiscais de débitos
inferiores a dez mil reais serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do
Procurador da Fazenda Nacional, em ato administrativo vinculado, regido pelo princípio da
legalidade. O montante de impostos supostamente devido pelo paciente é inferior ao mínimo
legalmente estabelecido para a execução fiscal, não constando da denúncia a referência a outros
débitos em seu desfavor, em possível continuidade delitiva. Ausência, na hipótese, de justa causa
para a ação penal, pois uma conduta administrativamente irrelevante não pode ter relevância
criminal. Princípios da subsidiariedade, da fragmentariedade, da necessidade e da intervenção
mínima que regem o Direito Penal. Inexistência de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado” (HC
92.438, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 19-8-2008, Segunda Turma, DJE de 19-12-2008).
Em sentido contrário:HC 100.986, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 31-5-2011, Primeira
Turma, DJE de 1º-8-2011.
Habeas corpus. Atipicidade penal. Insignificância. Crime de Moeda Falsa: “Moeda falsa. Art.
289, § 1º, do CP. Dez notas de pequeno valor. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Desvalor
da ação e do resultado. Impossibilidade de quantificação econômica da fé pública efetivamente
lesionada. Desnecessidade de dano efetivo ao bem supraindividual. Ordem denegada. A aplicação do
princípio da insignificância de modo a tornar a conduta atípica depende de que esta seja a tal ponto
despicienda que não seja razoável a imposição da sanção. Mostra-se, todavia, cabível, na espécie, a
aplicação do disposto no art. 289, § 1º, do CP, pois a fé pública a que o Título X da Parte Especial do
CP se refere foi vulnerada. Em relação à credibilidade da moeda e do sistema financeiro, o tipo exige
apenas que estes bens sejam colocados em risco, para a imposição da reprimenda. Os limites da
culpabilidade e a proporcionalidade na aplicação da pena foram observados pelo julgador
monocrático, que substituiu a privação da liberdade pela restrição de direitos, em grau mínimo” (HC
93.251, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 5-8-2008, Primeira Turma, DJE 22-8-2008).
Habeas corpus. Discussão sobre prisão preventiva. Superveniência de sentença condenatória:
“Esta Suprema Corte possui precedentes no sentido de que ‘a superveniência da sentença
condenatória prejudica o habeas corpus quando esse tenha por objeto o decreto de prisão
preventiva, dado que passa a sentença a constituir novo título para a prisão. ’ O prosseguimento do
feito após a superveniência da sentença condenatória implicaria em inadmissível supressão de
instância, uma vez que o novo título prisional não foi submetido à análise das instâncias inferiores”
(HC 97.649-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 15-9-2009, Segunda Turma, DJE de 9-10-
2009).
105
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Excepcionalidade da medida: “O trancamento
da ação penal, em habeas corpus, constitui medida excepcional que só deve ser aplicada quando
indiscutível a ausência de justa causa ou quando há flagrante ilegalidade demonstrada em inequívoca
prova pré-constituída” (RHC 95.958, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 18-8-
2009, Primeira Turma, DJE 4-9-2009).
Habeas corpus. Substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: “Habeas
corpus. Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. (...) A via de habeas
corpus é incompatível com o exame dos requisitos de ordem subjetiva do art. 44, III, do CP, sob pena
do revolvimento de matéria fático-probatória, sem prejuízo de a matéria ser submetida ao juízo das
execuções criminais” (HC 94.936, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 31-3-2009,
Primeira Turma, DJE de 24-4-2009).
Habeas corpus. Análise da pena-base fixada em sentença criminal (CP, artigo 59).
Impossibilidade: “O habeas corpus não é a via adequada para a análise da pena-base quando sua
exasperação tiver apoio nas circunstâncias judiciais constantes do art. 59 do CP” (HC 95.056, Rel.
Min. Menezes Direito, julgamento em 3-2-2009, Primeira Turma, DJE de 13-3-2009).
Habeas corpus. Impetração sucessiva: “É pacífica a jurisprudência deste STF no sentido da
inadmissibilidade de impetração sucessiva de habeas corpus, sem o julgamento definitivo do writ
anteriormente impetrado. Tal jurisprudência comporta relativização, quando de logo avulta que o
cerceio à liberdade de locomoção dos pacientes decorre de ilegalidade ou de abuso de poder (inciso
LXVIII do art. 5º da CF/88)” (HC 94.000, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 17-6-2008, Primeira
Turma, DJE de 13-3-2009).
Habeas corpus. Nulidade absoluta no processo. Sentença transitada em julgado: “Habeas
corpus. Sentença condenatória. Nulidade processual absoluta. Coisa julgada. Irrelevância.
Conhecimento e concessão. Prevalência da tutela constitucional do direito individual da liberdade.
Precedentes. O habeas corpus constitui remédio hábil para arguição e pronúncia de nulidade do
processo, ainda que já tenha transitado em julgado a sentença penal condenatória. (HC 93.942, Rel.
Min. Cezar Peluso, julgamento em 6-5-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008.)
Habeas corpus. Trancamento de inquérito policial ou de ação penal: "O trancamento de
inquéritos e ações penais em curso – o que não se vislumbra na hipótese dos autos – só é admissível
quando verificadas a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a ausência de elementos
indiciários demonstrativos de autoria e prova da materialidade" (HC 89.398, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 20-9-2007, Plenário, DJ de 26-10-2007).
Habeas corpus. Trancamento de ação penal por falta de justa causa. Superveniência de
condenação: “A superveniência de sentença penal condenatória torna prejudicada a impetração que
visava ao trancamento da ação penal, por falta de justa (precedentes)" (HC 88.292, Rel. Min. Eros
Grau, julgamento em 13-6-2006, Segunda Turma, DJE de 4-8-2006). No mesmo sentido: HC 97.725,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 9-3-2010, Primeira Turma, DJE de 26-3-2010.
Habeas corpus. Trancamento de sindicância administrativa. Impossibilidade: "Agravo
regimental no recurso ordinário em habeas corpus. Sindicância administrativa. Trancamento. Via
processual imprópria. (...) Ampliar o raio de incidência do writ para trancar sindicância administrativa
significa desbordar da destinação constitucional desse precioso instrumento de proteção do direito
de ir e vir" (RHC 85.105-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 28-6-2005, Primeira Turma, DJ de
16-9-2005).
Habeas corpus. Condenação à pena pecuniária. Cabimento: "Habeas corpus: cabimento
quanto à condenação à pena de prestação pecuniária, dado que esta, diversamente da pena de
multa, se descumprida injustificadamente, converte-se em pena privativa de liberdade (CP, art. 44, §
4º)" (HC 86.619, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 27-9-2005, Primeira Turma, DJ de 14-
10-2005).
106
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
150 A Lei nº 12.016/2009 dispõe não caber mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de
empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público (1º, § 2º).
151
“(...)A própria Lei 12.016, no intuito de se amoldar ao entendimento desta Corte, estipulou, no seu art. 6º, §3º, que não apenas a
autoridade que edita o ato mas também aquela que ordena a sua execução deverão figurar no polo passivo do writ (...)” (MS 27.851, voto
do Rel. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 27-9-2011, Primeira Turma, DJE de 23-11-2011). “Mesmo após a edição da Lei 12.016/2009,
Lei do Mandado de Segurança, aquele que, na condição de superior hierárquico, não pratica ou ordena concreta e especificamente a
execução ou inexecução de um ato não poderá figurar como autoridade coatora. Caso contrário, o presidente da República seria
autoridade coatora em todos os mandados de segurança impetrados contra ações ou omissões danosas verificadas no âmbito federal”
(RMS 26.211, voto do Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 27-9-2011, Primeira Turma, DJE de 11-10-2011).
152 "Mandado de segurança. Recurso administrativo. Inércia da autoridade coatora. Ausência de justificativa razoável. (...) A inércia da
autoridade coatora em apreciar recurso administrativo regularmente apresentado, sem justificativa razoável, configura omissão
impugnável pela via do mandado de segurança. Ordem parcialmente concedida, para que seja fixado o prazo de 30 dias para a apreciação
do recurso administrativo" (MS 24.167, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 5-10-2006, Plenário, DJ de 2-2-2007).
107
DIREITO CONSTITUCIONAL
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A autoridade ocupa o polo passivo do mandado de segurança, Segundo o artigo 6º da Lei nº
12.016/2009 na petição inicial deve estar indicada, além da autoridade impetrada, a pessoa jurídica
que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.
O mandado de segurança pode ser impetrado tanto de forma repressiva como preventiva,
quando houver lesão ou ameaça de lesão.
E o interesse de agir, quando se configura? Neste aspecto, além de direito líquido e certo, há
imperiosa necessidade de demonstração, por parte do impetrante, de que há efetiva lesão ou
ameaça de lesão ao alegado direito líquido e certo. Portanto, é lógico que um mero projeto de lei em
tramitação numa das Casas Legislativas, por exemplo, ainda não tem o condão de acarretar a
mencionada lesão ou possibilidade de lesão, a não ser que seja o caso de algum dos parlamentares
que tenha direito seu, enquanto parlamentar, desrespeitado durante esse procedimento de
tramitação do projeto de lei.153
O direito líquido e certo. A liquidez e a certeza relacionam-se a fatos, que devem ser
comprovados de plano por ocasião da impetração. É que, no procedimento especial do mandado de
segurança, não existe a fase de instrução e, portanto, não se admite a chamada dilação probatória.154
A inicial é ajuizada, o juiz concede ou não a liminar, a autoridade apontada como coatora é notificada
para prestar informações em dez dias, o Ministério Público emite parecer em cinco dias e o processo
é encaminhado para sentença.
Não raras vezes o impetrante relata que não teve acesso prévio aos documentos
indispensáveis ao ajuizamento da inicial. A Lei nº 12.016/2009 trata de duas possibilidades: quando é
a própria autoridade que está de posse dos documentos ela deverá providenciar a apresentação no
prazo que lhe é concedido para a prestação das informações (6º, § 2º); quando se tratar de
documentos sob os cuidados de autoridade alheia à demanda, o juiz deve ordenar, a exibição desse
documento em 10 dias (artigo 6º, § 1º).
Além da certeza quanto aos fatos, o direito líquido e certo somente se verifica quando tratar-
se de direito subjetivo próprio do impetrante. Esta afirmação deve ser compreendida com as
conformações decorrentes da regra veiculada pelo artigo 5º, inciso XXI da CF, pois este dispositivo
permite que “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”.
153
"O parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de
aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. Legitimidade ativa do
parlamentar, apenas. Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Min. Moreira Alves (leading case), RTJ 99/1031; MS 21.642/DF, Min. Celso de
Mello, RDA 191/200; MS 21.303-AgR/DF, Min. Octavio Gallotti, RTJ 139/783; MS 24.356/DF, Min. Carlos Velloso, DJ 12-9-2003" (MS 24.642,
Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 18-2-2004, Plenário, DJ de 18-6-2004).
154
“O mandado de segurança não abre margem a dilação probatória. Os fatos articulados na inicial devem vir demonstrados mediante os
documentos próprios, viabilizando-se requisição quando se encontrarem em setor público” (RMS 26.744, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 13-10-2009, Primeira Turma, DJE de 13-11-2009).
155 "Ao estrangeiro, residente no exterior, também é assegurado o direito de impetrar mandado de segurança, como decorre da
interpretação sistemática dos arts. 153, caput, da Emenda Constitucional de 1969 e do 5º, LXIX, da Constituição atual. Recurso
extraordinário não conhecido" (RE 215.267, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 24-4-2001, Primeira Turma, DJ de 25-5-2001).
108
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Não cabe mandado de segurança quanto se tratar de: a) ato do qual caiba recurso
administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; b) decisão judicial da qual
caiba recurso com efeito suspensivo; c) de decisão judicial transitada em julgado (Lei nº 12.016/2009,
artigo 5º).
10.2.3. DECADÊNCIA
Decadência: o direito de requerer mandado de segurança extinguir-se depois de decorridos
120 dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado (Lei nº 12.016/2009, artigo 23). O
decurso do prazo decadencial para o mandado de segurança não obsta que a parte interessada,
acaso respeitados os pressupostos processuais e as condições da ação, demande a questão nas vias
ordinárias.156
10.2.4. PROCEDIMENTO
Ao despachar a inicial, o juiz deve ordenar que se dê ciência do feito ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos,
para que, querendo, ingresse no feito (Lei nº 12.016/2009, artigo 7º).
A concessão de liminar é cabível quando houver fundamento relevante e do ato impugnado
puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do
impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa
jurídica (Lei nº 12.016/2009, artigo 7º, inciso III). Deferida a medida liminar, o processo tem
prioridade para julgamento. Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistem
até a prolação da sentença (Lei nº 12.016/2009, artigo 7º, § 3º).
Vedações à concessão de liminar: quando tiver por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza (Lei nº 12.016/2009, artigo 7º, § 2º).
A autoridade impetrada não recebe citação, mas uma notificação para prestar informações
no prazo de 10 dias. Não há previsão legal para que a autoridade impetrada apresente contestação.
A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não
impede que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos
patrimoniais (Lei nº 12.016/2009, artigo 19). Além disso, o pedido de mandado de segurança pode
ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o
mérito (Lei nº 12.016/2009, artigo 6º, § 6º).
Nos casos de concessão da segurança a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição (Lei nº 12.016/2009, artigo 14º, § 1º), embora seja admitida, em regra, a execução
provisória da segurança (§ 3º).
156 “Com o decurso, ‘in albis’, do prazo decadencial de 120 dias, a que se refere o art. 23 da Lei 12.016/2009, extingue-se, de pleno direito,
a prerrogativa de impetrar mandado de segurança. (...) O termo inicial do prazo decadencial de 120 dias começa a fluir, para efeito de
impetração do mandado de segurança, a partir da data em que o ato do Poder Público, formalmente divulgado no Diário Oficial, revela-se
apto a gerar efeitos lesivos na esfera jurídica do interessado. (...) O ato estatal eivado de ilegalidade ou de abuso de poder não se convalida
nem adquire consistência jurídica pelo simples decurso, ‘in albis’, do prazo decadencial a que se refere o art. 23 da Lei 12.016/2009. A
extinção do direito de impetrar mandado de segurança, resultante da consumação do prazo decadencial, embora impeça a utilização
processual desse instrumento constitucional, não importa em correspondente perda do direito material, ameaçado ou violado, de que seja
titular a parte interessada, que, sempre, poderá – respeitados os demais prazos estipulados em lei – questionar, em juízo, a validade
jurídica dos atos emanados do Poder Público que lhe sejam lesivos” (MS 29.108-ED, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 11-5-2011,
Plenário, DJE de 22-6-2011).
109
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O procedimento do mandado de segurança não gera efeitos patrimoniais pretéritos.157Assim,
não se pode cogitar em almejar eventual restituição de valores indevidamente pagos. É por isso que,
em matéria tributária, por exemplo, não se admite a pretensão da repetição do indébito via
mandado de segurança.
10.2.5. JURISPRUDÊNCIA
Segue abaixo seleção de jurisprudência do STF a respeito do mandado de segurança
individual.
"É constitucional lei que fixa prazo de decadência para impetração de mandado de
segurança" (Súmula 632).
"Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança"
(Súmula 625).
“Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”
(Súmula 512).
“Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o
mandado de segurança ou a medida judicial” (Súmula 510).
“Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de
segurança” (Súmula 430).
“Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria”
(Súmula 271).
“Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento da Lei 3.780, de 12-7-
1960, que envolva exame de prova ou de situação funcional complexa” (Súmula 270).
“O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança” (Súmula 269).
“Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado” (Súmula
268).
“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição”
(Súmula 267)
“Não cabe mandado de segurança contra lei em tese” (Súmula 266)
“O mandado de segurança não substitui a ação popular” (Súmula 101).
Mandado de segurança. Polo passivo. Correção: “Mostra-se válido o redirecionamento
subjetivo do mandado de segurança quando a inicial é aditada dentro do prazo de 120 dias da prática
do ato impugnado” (MS 26.391, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 13-4-2011, Plenário, DJE de
6-6-2011). Em sentido contrário: “O mandado de segurança há de ser tomado conforme os
parâmetros subjetivos e objetivos retratados na inicial, não cabendo redirecionamento” (MS 25.563-
AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9-12-2010, Plenário, DJE de 10-2-2011).
Mandado de segurança contra ato jurisdicional: “É inadmissível a impetração de mandado de
segurança para desconstituir ato revestido de conteúdo jurisdicional” (RMS 27.241, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgamento em 22-6-2010, Primeira Turma, DJE de 13-8-2010).
Mandado de segurança e tempus regit actum: "Mandado de segurança. Lei superveniente.
Não aplicação. Em mandado de segurança não se aplica preceito de lei superveniente à impetração.
O ato impugnado tem como parâmetro obrigatório a legislação em vigor ao tempo de sua expedição.
157“O art. 14, § 4º, da Lei 12.016/2009 dispõe que o pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença
concessiva de mandado de segurança somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do
ajuizamento da inicial do writ. Dessa forma, restabelecidos os proventos da embargante, pois considerado ilegal o ato da Corte de Contas,
o termo inicial para o pagamento é o ajuizamento do mandado de segurança” (MS 26.053-ED, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 14-4-2011, Plenário, DJE de 23-5-2011).
110
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Agravo regimental a que se nega provimento" (RE 457.508-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em
14-8-2007, Segunda Turma, DJ de 21-9-2007).
Mandado de segurança. Desistência: “Não pode o impetrante, sem assentimento da parte
contrária, desistir de processo de mandado de segurança, quando já tenha sobrevindo sentença de
mérito a ele desfavorável" (AI 221.462-AgR-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 7-8-2007,
Primeira Turma, DJ de 24-8-2007).
Mandado de segurança e decreto de efeitos concretos. Cabimento: "Se o decreto é,
materialmente, ato administrativo, assim de efeitos concretos, cabe contra ele mandado de
segurança. Todavia, se o decreto tem efeito normativo, genérico, por isso mesmo sem operatividade
imediata, necessitando, para a sua individualização, da expedição de ato administrativo, contra ele
não cabe mandado de segurança. (Súmula 266)" (MS 21.274, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em
10-2-1994, Plenário, DJ de 8-4-1994) No mesmo sentido: AI 271.528-AgR, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, julgamento em 14-11-2006, Primeira Turma, DJ de 7-12-2006.
158
“O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
sistema representativo e a defender os direitos humanos fundamentais, definidos na Constituição Federal” (Lei n˚ 9.096/95 , artigo 1˚).
159 “O inciso LXX do art. 5º da CF encerra o instituto da substituição processual, distanciando-se da hipótese do inciso XXI, no que surge no
âmbito da representação. As entidades e pessoas jurídicas nele mencionadas atuam, em nome próprio, na defesa de interesses que se
irradiam, encontrando-se no patrimônio de pessoas diversas. Descabe a exigência de demonstração do credenciamento” (RMS 21.514, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgamento em 27-4-1993, Segunda Turma, DJ de 18-6-1993).
111
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necessidade de autorização expressa por parte daqueles que terão os direitos buscados pelas vias
deste remédio constitucional. O artigo 21 da Lei nº 12.016/2009 dispensa, expressamente, a
necessidade de autorização.160
É perfeitamente possível a utilização do mandado de segurança, pelas entidades detentoras
da legitimação extraordinária, para a defesa de interesse da totalidade ou de apenas uma parte de
seus membros ou associados (artigo 21 da Lei nº 12.016/2009).
Há dispositivo legal que exige a indicação do nome e endereço dos associados(artigo 2º-A,
parágrafo único, da Lei nº 9.494/97, incluído pela MP 2.180-35).161 O STF já havia decidido no sentido
da não aplicabilidade dessa disposição ao mandado de segurança coletivo.162 A Lei nº 12.016/2009
regulamentou integralmente tanto o mandado de segurança individual quanto o mandado de
segurança coletivo. Trata-se de instrumento legislativo posterior e especial em relação à Lei nº
9.494/97 que não contempla a exigência da indicação do nome e endereço dos associados, de modo
que, atualmente, não há falar em tal requisito.
A Primeira Turma do STF, salientando que a exigência visa restringir a eficácia da sentença ao
âmbito territorial de competência do órgão que a prolata — conforme caput do referido artigo 2º: “A
sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo... abrangerá apenas os substituídos que tenham,
na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator” —
, entendeu que tal exigência não se aplica com relação aos órgãos da justiça que, como o Superior
Tribunal de Justiça, têm jurisdição nacional, porquanto abrangem todos os substituídos onde quer
que tenham domicílio no território nacional (RMS 23.566-DF, rel. Min. Moreira Alves, 19-2-2002).
10.3.1. ABRANGÊNCIA
Quanto à abrangência do mandado de segurança coletivo, a Lei nº 12.016/2009, os direitos
protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: a) coletivos, assim entendidos, para
efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; e b) individuais
homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da
atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
impetrante.163
No mandado de segurança coletivo, a sentença faz coisa julgada limitadamente aos membros
do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante (Lei nº 12.016/2009, artigo 22, caput).
O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os
efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a
desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 dias a contar da ciência comprovada da
impetração da segurança coletiva (Lei nº 12.016/2009, artigo 22, § 1º).
No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência do
representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72
horas (Lei nº 12.016/2009, artigo 22, § 2º).
160 “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes”
(STF, Súmula 629).
161
“Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição
inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.”.
162 “Não aplicação, ao mandado de segurança coletivo, da exigência inscrita no art. 2º-A da Lei 9.494/1997, de instrução da petição inicial
com a relação nominal dos associados da impetrante e da indicação dos seus respectivos endereços” (RMS 23.769, Rel. Min. Ellen Gracie,
julgamento em 3-4-2002, Plenário, DJ de 30-4-2004).
163 Note-se que não há previsão para o cabimento de mandado de segurança coletivo para a defesa de interesses difusos.
112
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À exceção destas características, que identificam o mandado de segurança coletivo, aplicam-
se, no que couber, as características do mandado de segurança individual.164
10.3.2. JURISPRUDÊNCIA
Segue abaixo seleção de súmulas do STF a respeito do mandado de segurança coletivo.
"A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria" (Súmula 630).
“A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes” (Súmula 629).
10.4.1. PRESSUPOSTOS
São pressupostos à impetração do mandado de injunção: a) a existência de um direito
previsto por norma constitucional despida de aplicabilidade imediata;165 e b) a falta de norma
regulamentadora que viabilize o exercício do direito previsto na Constituição (é justamente o caso de
omissão, seja por parte do Legislativo ou do Executivo, de medidas hábeis a tornar efetivo um direito
constitucionalmente previsto).
Identifica-se, a partir da análise de implementação desses pressupostos, o sujeito ativo do
mandado de injunção: quem não puder usufruir de um direito constitucionalmente assegurado por
norma despida de aplicabilidade imediata, no contexto das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
à soberania e à cidadania, pela falta de norma que regulamente o dispositivo constitucional. A
capacidade postulatória, contudo, não deixa de ser exigível.
O mandado de injunção serve como instrumento de controle concreto de
inconstitucionalidade por omissão. Por isso devemos nos atentar à distinção entre o mandado de
injunção e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, cuja competência para julgamento é
exclusiva do Supremo Tribunal Federal, em controle abstrato.
10.4.2. LEGITIMIDADE
A ADIn por omissão pode ser impetrada pelos legitimados do artigo 103 da CF e a decisão
proferida gera efeitos erga omnes. Já o mandado de injunção, individual ou coletivo, deve ser
164“Os princípios básicos que regem o mandado de segurança individual informam e condicionam, no plano jurídico-processual, a utilização
do writ mandamental coletivo. Atos em tese acham-se pré-excluídos do âmbito de atuação e incidência do mandado de segurança,
aplicando-se, em consequência, às ações mandamentais de caráter coletivo, a Súmula 266/STF" (MS 21.615, Rel. p/ o ac. Min. Celso de
Mello, julgamento em 10-2-1994, Plenário, DJ de 13-3-1998).
165 "Os agravantes objetivam a regulamentação da atividade de jogos de bingo, mas não indicam o dispositivo constitucional que
expressamente enuncie esse suposto direito. Para o cabimento do mandado de injunção, é imprescindível a existência de um direito
previsto na Constituição que não esteja sendo exercido por ausência de norma regulamentadora. O mandado de injunção não é remédio
destinado a fazer suprir lacuna ou ausência de regulamentação de direito previsto em norma infraconstitucional, e muito menos de
legislação que se refere a eventuais prerrogativas a serem estabelecidas discricionariamente pela União. No presente caso, não existe
norma constitucional que confira o direito que, segundo os impetrantes, estaria à espera de regulamentação. Como ressaltou o
Procurador-Geral da República, a União não está obrigada a legislar sobre a matéria, porque não existe, na CF, qualquer preceito
consubstanciador de determinação constitucional para se que legisle, especificamente, sobre exploração de jogos de bingo" (MI 766-AgR,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 21-10-2009, Plenário, DJE de 13-11-2009).
113
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impetrado por aqueles que, no caso concreto, são titulares do direito lesado pela omissão legislativa
ou administrativa. A decisão, neste caso, produz efeitos apenas inter partes.
10.4.3. PROCEDIMENTO
A competência para o julgamento do mandado de injunção, diferentemente da relativa à
análise de Adin por omissão, que é exclusiva do STF, é firmada em razão da natureza do cargo do
qual deveriam emanar os atos que por ventura estão sendo omitidos. A CF previu casos de
competência do STF (artigo 102, inciso I, alínea “q”) e do STJ (artigo 105, inciso I, alínea “h”). Nada
impede, porém, que, com base no princípio da simetria haja previsão, nas Constituições Estaduais, de
órgãos com competência para o processamento e julgamento de mandados de injunção em face de
omissões relativas a regras nelas previstas e despidas de aplicação imediata.
Quanto ao sujeito passivo o STF já pacificou o entendimento de que deve figurar como
impetrado somente aquele órgão detentor da legitimidade para a edição da norma
regulamentadora.166
Há possibilidade de impetração de mandado de injunção coletivo.167 Uma das primeiras
decisões neste sentido foi proferida no julgamento do MI n˚ 361, em que o STF admitiu como
legitimado ativo um sindicato de pequenas e médias empresas.
Nesse MI o STF deve de apresentar entendimento daquele a respeito da limitação de juros
em 12% ao ano, então constantes no hoje revogado artigo 192, § 3˚ da CF. De acordo com Luis
Roberto Barroso, “em decisão dividida, de cunho muito mais político do que técnico, considerou não
ser auto-aplicável a regra inscrita no § 3˚ do art. 192 da Constituição...”.168 Na ocasião do julgamento
o STF apenas fixou a mora do Congresso.169
Uma questão que é muito debatida na doutrina relaciona-se aos efeitos a serem produzidos
por uma decisão em mandado de injunção. As mais diversas linhas argumentativas podem ser assim
resumidas:
a) Corrente não concretista: o órgão prolator da decisão deveria tão somente dar ciência à
autoridade impetrada a respeito da omissão verificada;
b) Corrente concretista individual intermediária: o órgão prolator da decisão deveria fixar um
prazo razoável para que a autoridade impetrada providenciasse a edição da norma
regulamentadora;
c) Corrente concretista individual direta: o órgão prolator da decisão deveria simplesmente
resolver o caso concreto posto a sua apreciação independentemente da edição da norma
regulamentadora;
166 “(...) o mandado de injunção há de dirigir-se contra o poder, o órgão, a entidade ou a autoridade que tem o dever de regulamentar a
norma constitucional, não se legitimando ad causam, passivamente, em princípio, quem não estiver obrigado a editar a regulamentação
respectiva” (MI 352-QO, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 4-9-1991, Plenário, DJ de 12-12-1997) No mesmo sentido: MI 1.231-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-11-2011, Plenário, DJE de 1º-12-2011.
167 “Entidades sindicais dispõem de legitimidade ativa para a impetração do mandado de injunção coletivo, que constitui instrumento de
atuação processual destinado a viabilizar, em favor dos integrantes das categorias que essas instituições representam, o exercício de
liberdades, prerrogativas e direitos assegurados pelo ordenamento constitucional” (MI 472, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 6-9-
2005, Plenário, DJ de 2-3-2001).
168 BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e Integração da Constituição. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 270.
169
“Esta Corte, ao julgar a ADI 4, entendeu, por maioria de votos, que o disposto no § 3º do art. 192 da CF não era autoaplicável, razão por
que necessita de regulamentação. Passados mais de doze anos da promulgação da Constituição, sem que o Congresso Nacional haja
regulamentado o referido dispositivo constitucional, e sendo certo que a simples tramitação de projetos nesse sentido não é capaz de elidir
a mora legislativa, não há dúvida de que esta, no caso, ocorre. Mandado de injunção deferido em parte, para que se comunique ao Poder
Legislativo a mora em que se encontra, a fim de que adote as providências necessárias para suprir a omissão, deixando-se de fixar prazo
para o suprimento dessa omissão constitucional em face da orientação firmada por esta Corte (MI 361)” (MI 584, Rel. Min. Moreira Alves,
julgamento em 29-11-2001, Plenário, DJ de 22-2-2002).
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d) Corrente concretista geral: o órgão prolator da decisão deveria resolver a questão
exercendo o poder regulamentar e suprindo a norma no caso concreto.
Todas as correntes acima resumidas têm como ponto de partida a preocupação com a
possibilidade de haver interferência indevida de um Poder noutro.
Corrente não concretista. Inicialmente o STF firmou o entendimento de que os efeitos da
decisão consistiriam apenas em dar ciência da omissão ao órgão responsável pela necessária edição
da norma regulamentadora.170
Luís Roberto Barroso, defensor da tese da aplicação da decisão diretamente pelo Judiciário
no caso concreto, independentemente da edição da norma regulamentadora, cita alguns trechos de
descontentamento manifestado por José Carlos Barbosa Moreira:
“Conceber o mandado de injunção como simples meio de apurar a inexistência da ‘norma
regulamentadora’ e comunicá-la ao órgão competente para a edição (o qual, diga-se entre
parênteses, presumivelmente conhece mais do que ninguém suas próprias omissões...) é
reduzir a inovação a um sino sem badalo. Afinal, para dar ciência de algo a quem quer que
seja, servia – e bastava – a boa e velha notificação”.171
Este posicionamento perdurou durante longo período. No MI 534-4 e no MI 586-5 afirmou-se
que: “O Supremo Tribunal Federal não pode obrigar o legislativo a legislar, mas apontar a mora e
recomendar que a supra. Também não pode assegurar ao impetrante o exercício do direito de greve,
porquanto esse exercício está a depender de Lei Complementar que lhe estabeleça os termos e
limites”.
Corrente concretista individual intermediária. Em nova visão o STF passou a adotar o
posicionamento de que caberia sim ao Judiciário estabelecer prazo para que a autoridade
providenciasse a edição da norma e, caso subsistisse a omissão, surgiria ao impetrante o direito de
pleitear em juízo indenização por perdas e danos. E, mais: no caso de eventual condenação, por
exemplo, da União em perdas e danos, posterior edição da norma regulamentadora não teria o
condão de prejudicar os efeitos da coisa julgada no tocante à indenização. O leading case deste novo
entendimento foi o MI n˚ 283-5172 e tinha como fundamento o artigo 8˚, § 3˚ do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.173
A mudança de orientação da Suprema Corte consolidou-se no julgamento do MI n˚ 232-1,174
em que se discutia o alcance das disposições do artigo 195, § 7˚ da CF.175 O Supremo fixou prazo para
170 “O mandado de injunção nem autoriza o Judiciário a suprir a omissão legislativa ou regulamentar, editando o ato normativo omitido,
nem, menos ainda, lhe permite ordenar, de imediato, ato concreto de satisfação do direito reclamado: mas, no pedido, posto que de
atendimento impossível, para que o Tribunal o faça, se contém o pedido de atendimento possível para a declaração de
inconstitucionalidade da omissão normativa, com ciência ao órgão competente para que a supra” (MI 168, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 21-3-1990, Plenário, DJ de 20-4-1990).
171 BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e Integração da Constituição. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 263.
172 “Reconhecido o estado de mora inconstitucional do Congresso Nacional – único destinatário do comando para satisfazer, no caso, a
prestação legislativa reclamada – e considerando que, embora previamente cientificado no MI 283, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, absteve-
se de adimplir a obrigação que lhe foi constitucionalmente imposta, torna-se prescindível nova comunicação à instituição parlamentar,
assegurando-se aos impetrantes, desde logo, a possibilidade de ajuizarem, imediatamente, nos termos do direito comum ou ordinário, a
ação de reparação de natureza econômica instituída em seu favor pelo preceito transitório” (MI 284, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello,
julgamento em 22-11-1991, Plenário, DJ de 26-6-1992).
173 “Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica, em decorrência das Portarias Reservadas
do Ministério da Aeronáutica nº S-50-GM5, de 19 de junho de 1964, e nº S-285-GM5 será concedida reparação de natureza econômica, na
forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo de doze meses a contar da promulgação da
Constituição.”
174
“Ocorrência, no caso, em face do disposto no art. 59 do ADCT, de mora, por parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito
constitucional. Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para declarar-se o estado de mora em que se encontra
o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as providências legislativas que se impõem para o cumprimento da
obrigação de legislar decorrente do art. 195, § 7º, da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem que essa obrigação se cumpra,
passar o requerente a gozar da imunidade requerida” (MI 232, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 2-8-1991, Plenário, DJ de 27-3-
1992).
115
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a edição da norma e, caso persistisse a omissão, o impetrante passaria a gozar automaticamente da
imunidade de que trata o mencionado dispositivo constitucional. O STF atribuiu ao mandado de
injunção, nesses casos, o efeito de transformar uma norma constitucional de eficácia limitada
(porque dependente da edição de uma norma regulamentar) em norma constitucional de eficácia
plena. Importante destacar que, no tocante a eventual fixação de multa pelo descumprimento do
prazo estabelecido, o STF firmou entendimento de que tal fixação seria incabível.176
Corrente concretista individual direta. A implementação do direito do autor ocorre
diretamente pelo Judiciário, sem comunicação ao Poder competente para legislar. Segundo o
Ministro Marco Aurélio: “sob a minha ótica, o mandado de injunção tem, no tocante ao provimento
judicial, efeitos concretos, beneficiando apenas a parte envolvida, a impetrante” (MI 431-5).
Em 2007 foi julgado MI 721, no qual o impetrante, servidor público, pretendia fosse suprida a
lacuna legislativa em face da omissão na regulamentação do artigo 40, § 4º da CF, para que lhe fosse
garantido o direito à aposentadoria especial. O artigo 40 § 4º da CF determina a adoção, via leis
complementares, de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
servidores públicos que sejam portadores de algum tipo de deficiência, que exerçam atividades de
risco ou cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
Neste julgado a jurisprudência do STF evoluiu ao conceder o direito ao impetrante
diretamente. Prestigiou-se o conteúdo mandamental e não meramente declaratório do MI.
Em voto-vista o Ministro Eros Grau, corroborando os argumentos lançados pelo Ministro
Marco Aurélio, indagou: “presta-se, esta Corte, quando se trata de apreciação de mandados de
injunção, a emitir decisões desnutridas de eficácia?” Acompanhando esta linha de pensamento
manifestou-se o Ministro Carlos Britto: “sendo assim, não faz sentido proferir uma decisão judicial
também de eficácia limitada. É uma contradição nos termos. A decisão judicial há de ser
plenoperante, marcada pela sua carga de concretude, ou seja, tem de ser mandamental, como é da
natureza da ação constitucional agora sob julgamento”.
Sob estes argumentos, em 30/08/2007, por unanimidade, foi conferido pelo pleno do STF o
direito ao impetrante à aposentadoria especial, nos termos fixados no art. 57 da Lei 8.213/91, que
dispõe sobre os planos de beneficio da Previdência Social.177
Interessante notar que, neste MI, o STF resolveu o caso concreto mediante a aplicação, à
situação do impetrante, de dispositivo legal que havia regulamentado a aposentadoria especial para
o Regime Geral da Previdência Social, do qual os servidores públicos efetivos - como era o caso do
impetrante - estão excluídos. Corrente concretista geral. O STF criaria a norma para o caso in
concreto, solucionando o caso e impondo efeitos erga omnes à decisão. Em março de 2007 assim se
manifestou o Ministro Sepúlveda Pertence, Relator do MI 695, ao julgar omissão da regulamentação
do aviso prévio (art. 7º, XXI da CF/88): “seria talvez a oportunidade de reexaminar a posição do
175 “São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei.”
176
"O mandado de injunção é ação constitutiva; não é ação condenatória, não se presta a condenar o Congresso ao cumprimento de
obrigação de fazer. Não cabe a cominação de pena pecuniária pela continuidade da omissão legislativa" (MI 689, Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 7-6-2006, Plenário, DJ de 18-8-2006).
177 “Mandado de injunção. Natureza. Conforme disposto no inciso LXXI do art. 5º da CF, conceder-se-á mandado de injunção quando
necessário ao exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Há ação mandamental e não simplesmente declaratória de omissão. A carga de declaração não é objeto da impetração, mas premissa da
ordem a ser formalizada. Mandado de injunção. Decisão. Balizas. Tratando-se de processo subjetivo, a decisão possui eficácia considerada
a relação jurídica nele revelada. Aposentadoria. Trabalho em condições especiais. Prejuízo à saúde do servidor. Inexistência de lei
complementar. Art. 40, § 4º, da CF. Inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-se a adoção, via
pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral – art. 57, § 1º, da Lei 8.213/1991” (MI 721, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 30-8-2007, Plenário, DJ de 30-11-2007).
116
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Supremo quanto à natureza e eficácia do mandado de injunção, nos moldes do que se desenhou no
MI 670, se não fora o pedido”.178
Contudo, por ocasião do julgamento simultâneo do MI 670, do MI 708 e do MI 712, O STF, ao
analisar a ausência de legislação específica que regulamentasse o direito constitucional de greve de
servidores públicos, julgou procedentes pretensões coletivas impetradas, respectivamente, pelo
Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no Estado do Espírito Santo - SINDIPOL, pelo Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa - SINTEM, e pelo Sindicato dos
Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará - SINJEP e determinou a aplicação das Leis
7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretação do direito
constitucional de greve dos servidores públicos civis,179 atribuindo, com isso, efeitos erga omnes à
decisão:
"Mandado de injunção. Garantia fundamental (CF, art. 5º, inciso LXXI). Direito de greve dos
servidores públicos civis (CF, art. 37, inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência do STF.
Definição dos parâmetros de competência constitucional para apreciação no âmbito da
Justiça Federal e da Justiça estadual até a edição da legislação específica pertinente, nos
termos do art. 37, VII, da CF. Em observância aos ditames da segurança jurídica e à
evolução jurisprudencial na interpretação da omissão legislativa sobre o direito de greve dos
servidores públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso
Nacional legisle sobre a matéria. Mandado de injunção deferido para determinar a aplicação
das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989. Sinais de evolução da garantia fundamental do mandado
de injunção na jurisprudência do STF. (...) Em razão da evolução jurisprudencial sobre o
tema da interpretação da omissão legislativa do direito de greve dos servidores públicos civis
e em respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se o prazo de 60 (sessenta) dias para
que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. Mandado de injunção conhecido e, no
mérito, deferido para, nos termos acima especificados, determinar a aplicação das Leis
7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretação do
direito de greve dos servidores públicos civis" ( MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 25-10-2007, Plenário, DJE de 31-10-2008). No mesmo sentido: MI 670, Rel. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, e MI 712, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 25-10-2007, Plenário, DJE de
31-10-2008.
178
Note-se o pedido: “Requer, assim, dessa Augusta Corte, que seja comunicado o Órgão competente para a imediata regulamentação da
Norma Constitucional, garantido-se dessa forma o direito do Impetrante, que pela evidente omissão do Poder responsável, pela
elaboração da lei o Autor se encontra totalmente prejudicado”.
179 CF, artigo 37, inciso VII. “O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica”.
180 "A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou
equivocados. O habeas data não se revela meio idôneo para se obter vista de processo administrativo." (HD 90-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie,
julgamento em 18-2-2010, Plenário, DJE de 19-3-2010).
117
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O habeas data difere da garantia à informação do inciso XXXIII, porquanto não está restrito
às hipóteses de sigilo imprescindível à segurança nacional. A justificativa para a ausência de restrição:
o interesse tutelado pelo habeas data é sempre relativo à pessoa do impetrante.181
Para que se tenha acesso ao Judiciário, via habeas data, é imprescindível que tenha havido
recusa à pretensão por parte da autoridade administrativa.182 Este entendimento está, inclusive,
sumulado pelo STJ (Súmula 02).
181 “O habeas data não se presta para solicitar informações relativas a terceiros, pois, nos termos do inciso LXXII do art. 5º da CF, sua
impetração deve ter por objetivo ‘assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante’” (HD 87-AgR, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgamento em 25-11-2009, Plenário, DJE de 5-2-2010).
182 “O habeas data configura remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, que se destina a garantir, em favor da pessoa
interessada, o exercício de pretensão jurídica discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros; (b) direito de
retificação dos registros; e (c) direito de complementação dos registros. Trata-se de relevante instrumento de ativação da jurisdição
constitucional das liberdades, a qual representa, no plano institucional, a mais expressiva reação jurídica do Estado às situações que lesem,
efetiva ou potencialmente, os direitos fundamentais da pessoa, quaisquer que sejam as dimensões em que estes se projetem. O acesso ao
habeas data pressupõe, entre outras condições de admissibilidade, a existência do interesse de agir. Ausente o interesse legitimador da
ação, torna-se inviável o exercício desse remédio constitucional. A prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados
pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. Sem que
se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da ação constitucional do habeas data” (RHD 22, Rel. p/ o ac. Min. Celso de
Mello, julgamento em 19-9-1991, Plenário, DJ de 1º-9-1995). No mesmo sentido: HD 87-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 25-
11-2009, Plenário, DJE de 5-2-2010.
183
“Legitimidade dos cidadãos para a propositura de ação popular na defesa de interesses difusos (art. 5º, LXXIII, CF/1988), na qual o autor
não visa à proteção de direito próprio, mas de toda a comunidade (...)” (MS 25.743-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 4-10-2011,
Primeira Turma, DJE de 20-10-2011).
184 Teoricamente também é possível afirmar a possibilidade de o português equiparado, que tem disciplina constitucional específica (CF,
artigo 12, § 1º) atribuindo-lhe direitos inerentes ao brasileiro, ocupar o polo ativo de ação popular.
185 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2 Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 265.
118
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
caput, da CF.186 Depois argumenta que em duas outras oportunidades o Constituinte usou o termo
cidadão: no artigo 58, § 2˚, inciso V187 e no artigo 64 do ADTC.188
Pois bem. Se “cidadão” fosse somente aquele em gozo dos direitos políticos uma pessoa que
tivesse com tais direitos políticos suspensos (um condenado por improbidade administrativa, por
exemplo – artigo 37, § 4˚ e artigo 15, inciso V, ambos da CF) jamais poderia ser chamada para depor
numa Comissão Parlamentar de Inquérito. E, mais: a um menor de 16 anos não seria jamais
assegurado o direito a receber de forma gratuita um exemplar da Constituição da República.
É claro que a legitimidade ao ajuizamento de ação popular, segundo Fiorillo, estaria limitada
às questões envolvendo direitos difusos.189 Discute-se se bastaria a imoralidade para justificar o
ajuizamento, a despeito de não ficar comprovada eventual ilegalidade. A resposta só pode ser
afirmativa, afinal de contas a moralidade é um dos princípios da Administração Pública, insculpido no
artigo 37, caput, da CF.
Seria cabível ação popular preventiva? Sim, pois o moderno processo civil, fundado nos
aspectos negativos (o processo não é um fim em si mesmo, mas um meio à tutela de bens jurídicos) e
positivos (do processo deve ser extraída a máxima eficácia à tutela de bens jurídicos) da jurisdição,
não pode permanecer mais alheio a pressões axiológicas externas.190 Vale dizer: é muito mais eficaz
um processo capaz de evitar danos e ilícitos do que aquele voltado exclusivamente à tutela
ressarcitória de danos, muitas vezes despida de efeitos práticos.191
10.6.1. OBJETO
A anulação do ato lesivo, condenação dos responsáveis ao ressarcimento ao erário. É claro
que em se tratando de tutela preventiva (e aqui não podemos esquecer da inibitória, que prescinde
da comprovação de possíveis danos, contentando-se com a demonstração de possíveis ilícitos) não
há falar em anulação de ato lesivo ou condenação de alguém a ressarcir os danos.
10.6.2. LEGITIMIDADE
Qualquer cidadão ou o Ministério Público.192 O Ministério Público, contudo, não tem
legitimidade par ao ajuizamento de ação popular. É possível também a habilitação de qualquer
cidadão na qualidade de litisconsorte ou assistente do autor da ação popular (Lei nº 4.717/65, artigo
6º, § 5º).
186 “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
187 “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições
previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...) § 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência,
cabe: (...) V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão.”
188 “Art. 64. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta ou
indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, promoverão edição popular do texto integral da Constituição, que
será posta à disposição das escolas e dos cartórios, dos sindicatos, dos quartéis, das igrejas e de outras instituições representativas da
comunidade, gratuitamente, de modo que cada cidadão brasileiro possa receber do Estado um exemplar da Constituição do Brasil.”
189 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2 Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 265.
190 “A instrumentalidade do processo é vista pelo aspecto negativo e pelo positivo. O negativo corresponde à negação do processo como
valor em si mesmo e repúdio aos exageros processualísticos”. “O aspecto positivo é caracterizado pela preocupação em extrair do
processo, como instrumento, o máximo de proveito quanto à obtenção dos resultados propostos” (DINAMARCO, Cândido Rangel. A
instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 1987, p. 390).
191 "(...) Mas não é preciso esperar que os atos lesivos ocorram e produzam todos os seus efeitos, para que, só então, ela seja proposta. No
caso presente, a ação popular, como proposta, tem índole preventiva e repressiva ou corretiva, ao mesmo tempo. Com ela se pretende a
sustação dos pagamentos futuros (caráter preventivo) e a restituição das quantias que tiverem sido pagas, nos últimos cinco anos, em face
do prazo prescricional previsto no art. 21 da Lei da Ação Popular (caráter repressivo)" (AO 506-QO, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento
em 6-5-1998, Plenário, DJ de 4-12-1998).
192 Lei nº 4.717/65, artigo 6º, § 4º: “O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a
responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado
ou dos seus autores”.
119
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Vale lembrar que o Ministério Público deve acompanhar a ação, cabendo-lhe apressar a
produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-
lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores (Lei nº
4.717/65, artigo 6º, § 4º).
Prevenção: de acordo com o artigo 5º, § 3º, da Lei nº 4.717/65 "a propositura da ação
prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações, que forem posteriormente intentadas contra as
mesmas partes e sob os mesmos fundamentos."
A partir da literalidade desse dispositivo legal pode-se chegar às seguintes conclusões: a) é
viável a propositura de mais de uma ação popular contra as mesmas partes; b) é viável a propositura
de mais de uma ação popular contra as mesmas partes, ainda que sejam utilizados os mesmos
fundamentos.
A razão é simples: a Lei nº 4.717/65 está em plena consonância com o que dispõe o artigo 5º,
LXXIII da CF, segundo o qual "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural."
Ora, se a cada cidadão brasileiro restou constitucionalmente outorgada a prerrogativa de
valer-se da ação popular para a defesa de interesses coletivos (moralidade pública, patrimônio
público ou patrimônio de entidade de que o Estado participe) e de interesses difusos (meio ambiente
e patrimônio histórico e popular), não haveria coerência sistemática acaso a proposição de uma
demanda por cidadão ou grupo de cidadãos obstasse a proposição de demandas posteriores por
parte de outros cidadãos.
Partindo-se das premissas acima aventadas (autorização legal para a veiculação de mais de
uma ação popular contras as mesmas partes e com base nos mesmos fundamentos, bem como a
legitimidade ativa de qualquer cidadão), percebe-se que a análise conjunta do art. 5º, LXXIII da CF e
do art. 5º, § 3º da Lei nº 4.717/65, acarreta uma inegável conclusão: não há falar em litispendência
entre ação popular posteriormente ajuizada por cidadão ou grupo de cidadãos que não integraram o
polo ativo de ação popular anteriormente ajuizada contra partes idênticas e com base em idênticos
fundamentos.
Também há fortes motivos de ordem lógica: a) não seria condizente com um mecanismo de
exercício direto de democracia, constitucional, literal e expressamente voltado a qualquer cidadão,
um sistema jurisdicional acessível apenas àqueles que primeiro ajuizassem sua demanda; b)
aceitando-se somente uma (a primeira) demanda, correr-se-ia o sério risco de estar-se chancelando
o ajuizamento de ação popular com aparência cidadã, mas mal instruída e maliciosamente voltada a
servir como obstáculo intransponível a legítimas demandas posteriores.
O fato de o § 3º do art. 5º da Lei nº 4.717/65 expressamente mencionar a prevenção do juízo
ao qual foi distribuída a primeira demanda para todas as ações posteriores é de extrema valia, em
decorrência da conexão.
A competência territorial para o processo e julgamento de ação popular é fixada a partir da
origem do ato impugnado (art. 5º da Lei nº 4.717/65). Afastadas estão as hipóteses de fixação da
competência em razão de foro por prerrogativa de função.193
193"(...) Tratando-se de ação popular, o STF – com as únicas ressalvas da incidência da alínea n do art. 102, I, da Constituição ou de a lide
substantivar conflito entre a União e Estado-membro –, jamais admitiu a própria competência originária: ao contrário, a incompetência do
Tribunal para processar e julgar a ação popular tem sido invariavelmente reafirmada, ainda quando se irrogue a responsabilidade pelo ato
questionado a dignitário individual – a exemplo do Presidente da República – ou a membro ou membros de órgão colegiado de qualquer
dos poderes do Estado cujos atos, na esfera cível – como sucede no mandado de segurança – ou na esfera penal – como ocorre na ação
penal originária ou no habeas corpus – estejam sujeitos diretamente à sua jurisdição. Essa não é a hipótese dos integrantes do CNJ ou do
Conselho Nacional do Ministério Público: o que a Constituição, com a EC 45/2004, inseriu na competência originária do Supremo Tribunal
foram as ações contra os respectivos colegiado, e não, aquelas em que se questione a responsabilidade pessoal de um ou mais dos
conselheiros, como seria de dar-se na ação popular" (Pet 3.674-QO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 4-10-2006, Plenário, DJ
de 19-12-2006). No mesmo sentido: Rcl 2.769-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 23-9-2009, Plenário, DJE de 16-10-2009.
120
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Assim, a regra é a fixação da competência para processo e julgamento da ação popular no
primeiro grau de jurisdição, respeitadas, obviamente, as questões referentes às delimitações de
competência absoluta, por exemplo, entre a Justiça Estadual e a Justiça Federal.194
1.6.4. JURISPRUDÊNCIA
Segue abaixo seleção de jurisprudência do STF a respeito do mandado de segurança coletivo.
“Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular” (Súmula 365).
“O mandado de segurança não substitui a ação popular” (Súmula 101).
Ação Popular. Capacidade Postulatória. Necessidade: "A Constituição da República
estabeleceu que o acesso à justiça e o direito de petição são direitos fundamentais (art. 5º, XXXIV, a,
e XXXV), porém estes não garantem a quem não tenha capacidade postulatória litigar em juízo, ou
seja, é vedado o exercício do direito de ação sem a presença de um advogado, considerado
‘indispensável à administração da justiça’ (art. 133 da Constituição da República e art. 1º da Lei
8.906/1994), com as ressalvas legais. (...) Incluem-se, ainda, no rol das exceções, as ações
protocoladas nos juizados especiais cíveis, nas causas de valor até vinte salários mínimos (art. 9º da
Lei 9.099/1995) e as ações trabalhistas (art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho), não fazendo
parte dessa situação privilegiada a ação popular” (AO 1.531-AgR, voto da Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 3-6-2009, Plenário, DJE de 1º-7-2009).
Ação popular e atos de conteúdo jurisdicional. Não cabimento: "(...) Os atos de conteúdo
jurisdicional – precisamente por não se revestirem de caráter administrativo – estão excluídos do
âmbito de incidência da ação popular, notadamente porque se acham sujeitos a um sistema
específico de impugnação, quer por via recursal, quer mediante utilização de ação rescisória. (...)
Tratando-se de ato de índole jurisdicional, cumpre considerar que este, ou ainda não se tornou
definitivo – podendo, em tal situação, ser contestado mediante utilização dos recursos previstos na
legislação processual –, ou, então, já transitou em julgado, hipótese em que, havendo decisão sobre
o mérito da causa, expor-se-á à possibilidade de rescisão" (Pet 2.018-AgR, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 22-8-2000, Segunda Turma, DJ de 16-2-2001). No mesmo sentido: Rcl 2.769-AgR, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgamento em 23-9-2009, Plenário, DJE de 16-10-2009.
194 "A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do
juízo competente de primeiro grau. Precedentes. Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais da
metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base na
letra n do inciso I, segunda parte, do art. 102 da CF" (AO 859-QO, Rel. p/ o ac. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 11-10-2001, Plenário,
DJ de 1º-8-2003).
121
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NACIONALIDADE
122
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Na segunda parte, o filho de pai brasileiro ou mãe brasileira, que não estejam a serviço do
Brasil, e vier a residir no Brasil e optar, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira. É a denominada nacionalidade potestativa, porquanto decorre da exclusiva
vontade (opção) do filho.
124
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IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado de Defesa.
Os quatro primeiros cargos privativos de brasileiro nato (art. 12, § 3º, I-IV) dizem respeito à
linha sucessória do Presidente. Os três últimos (art. 12, § 3º, V-VII), à segurança nacional, em virtude
de suas posições estratégicas nos negócios do Estado.
Outras distinções entre brasileiros natos e naturalizados foram estabelecidas no corpo
constitucional. Por exemplo, o art. 5º, LI, que determina que nenhum brasileiro será extraditado,
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
Ou seja, o brasileiro nato em hipótese alguma será extraditado; já o naturalizado poderá ser,
caso tenha praticado crime comum antes da naturalização, ou se tiver comprovadamente
envolvimento com o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
Alem desse, deve-se citar o art. 89 e o art. 222. O primeiro reconhece que o Conselho da
República é o órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam, entre outras
pessoas com cargos privativos para brasileiros natos, seis cidadãos brasileiros natos, com mais de
trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada
a recondução.
Já o segundo limita a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons
e imagens, a qual é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos, ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
125
DIREITO CONSTITUCIONAL
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DIREITOS POLÍTICOS
De acordo com o artigo 14 da CF, a soberania popular é exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante plebiscito,
referendo e iniciativa popular.
12.1.1. SUFRÁGIO
O direito de sufrágio é a essência do direito político, expressando-se pela capacidade de eleger
e de ser eleito. Dessa forma, o direito de sufrágio se apresenta em duas grandes dimensões: o direito
de votar e o direito de ser votado.
As palavras sufrágio e voto têm sido, ao longo do tempo, utilizadas como sinônimas, quando,
na verdade, não o são. A própria redação do artigo 14 da CF, ao dizer que o sufrágio é universal e o
voto é direto, secreto e tem valor igual, confere-lhes significados diferentes.
Sufrágio é direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, de ser
eleito e de participar da organização e da atividade do poder estatal.
126
DIREITO CONSTITUCIONAL
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No Brasil, por imposição da própria CF, o sufrágio é universal. Vale dizer: o direito de votar e
ser votado é concedido a todos os nacionais, independentemente de fixação de condições de
nascimento, econômicas, culturais ou outras características especiais.
A existência, no direito brasileiro, de requisitos de forma, como necessidade de alistamento
eleitoral e de fundo, como nacionalidade e idade mínima, não retiram a universalidade do sufrágio.
Na democracia, o povo, com mais ou com menos requinte, governa-se a si mesmo e decide o
seu destino. Faz-se representar, sendo o voto o instrumento da representação. O voto é, o
instrumento da democracia formal, procedimental.
O povo é a fonte de todo o poder, mas não é o poder. O povo vota em representantes, que são
seus delegados e que agem em seu nome. Nas democracias o povo é a única fonte de poder, que o
transmite, em eleições periódicas, aos seus representantes.
O voto é direito público subjetivo, sem, contudo, deixar de ser uma função política e social de
soberania popular na democracia representativa, mesmo porque, no Brasil, ele é obrigatório para
maiores de 18 e menores de 70 anos de idade.
Por disposição do artigo 7º da Lei n˚ 6.091/74, o eleitor que deixar de votar e não se justificar
perante o Juiz Eleitoral até sessenta dias após a realização da eleição incorre na multa de três a dez
por cento sobre o salário mínimo da região, imposta pelo Juiz Eleitoral e cobrada na forma prevista
no artigo 367 da Lei n˚ 4.737, de 15 de julho de 1965.
Pelo artigo 16 daquela mesma lei, o eleitor que deixar de votar por se encontrar ausente de
seu domicílio eleitoral deverá justificar a falta, no prazo de 60 (sessenta) dias, por meio de
requerimento dirigido ao Juiz Eleitoral de sua Zona de inscrição, que mandará anotar o fato na
respectiva folha individual de votação. Estando no Exterior no dia em que se realizarem eleições, o
eleitor terá o prazo de 30 (trinta) dias, a contar de sua volta ao País, para a justificação.
No Brasil, entre 1891 e 1930 e de 1946 a 1964, a prática foi a da eleição direta, ou seja, a
eleição de representantes pelo voto direto de cada eleitor. Depois de 1964, com o regime autoritário
estabelecido, adotou-se a eleição indireta: somente por meio do voto dos membros do Poder
Legislativo eram eleitos o Presidente da República o Vice-Presidente da República, os Governadores
de Estados Federados e os respectivos Vice-Governadores.
Foi com o advento da Emenda constitucional nº 15/1980 que se restabeleceu a eleição direta
para Governadores e Vice-Governadores. Mais tarde, com a promulgação da Emenda Constitucional
nº 25, já em 1985, restou novamente implantada a eleição direta para Presidente e Vice-Presidente
da República.
A eleição direta, assim como a indireta, convive bem em qualquer regime democrático, desde
que, à toda evidência, assegure-se a liberdade do voto sem intimidação ou coação, sem a edição de
um regime de exceção, que é a mutilação do Estado de Direito.
O artigo 14, ora em comento, contém a expressão “voto direto e secreto”. Com isso, não
houve recepção de parte do artigo 2.º do Código Eleitoral que, por ter sido editado em 1965, em
pleno regime autoritário, permitia a eleição indireta.
127
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Essa disposição constitucional é repetida pelo artigo 1º da Lei n˚ 9.709/98, que é a lei
reguladora destas três dimensões do exercício da soberania popular no Brasil.
Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de
acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.
Qualquer assunto, desde que relevante e de interesse nacional, pode ser levado à consulta
direta do povo, quer anteriormente ao ato, mediante plebiscito, quer posteriormente, por meio de
referendo. Com respeito ao plebiscito, ele é obrigatório para decidir a respeito dos assuntos
previstos nos §§ 3º e 4˚ do artigo 18 da CF.195
Não nos esqueçamos, também, da regra do artigo 2˚ do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.196
195 CF, Art. 18. “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população
diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão
de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
apresentados e publicados na forma da lei.”
196 Art. 2˚. “No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o
128
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Tendo em vista tratar-se de projeto de lei elaborado por pessoas do povo, o artigo 13, § 2º da
Lei n˚ 9.709/98 veda a rejeição de projeto de lei de iniciativa popular por vício de forma, cabendo à
Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais
impropriedades de técnica legislativa ou de redação.
Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar
obrigatório, os conscritos (CF, artigo 14, § 2º).
Aqui uma observação é muito importante: os estrangeiros não detêm capacidade eleitoral
ativa, motivo pelo qual não podem votar nas eleições brasileiras. Assim, a primeira conclusão é a de
que somente os brasileiros natos e naturalizados podem eleger os representantes no Brasil (CF,
artigo 14, § 2˚). Contudo, conforme mencionado no capítulo em que tratamos da nacionalidade,
existe ainda o caso do português equiparado, ao qual, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro naturalizado (civis e, inclusive, políticos).
Portanto, cabe-nos ressaltar que o português equiparado, enquanto houver reciprocidade por parte
de Portugal com relação aos brasileiros lá residentes, tem capacidade eleitoral ativa.
O artigo 14, § 3º, ao dispor sobre as condições de elegibilidade, trata da chamada capacidade
eleitoral passiva, ou seja, da possibilidade de ser votado.
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A incapacidade civil absoluta: não acarreta perda, mas suspensão de direitos políticos.
Por fim a improbidade administrativa, nos termos do artigo 37, § 4º: a CF prevê a suspensão
dos direitos políticos.
197 Art. 5º. “VIII - Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
198 Art. 37. “§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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O Código Eleitoral é expresso quanto à determinação do domicílio eleitoral. Este é importante
não somente para o efeito da inscrição, a fim de se obter o título eleitoral, mas ainda como condição
de elegibilidade.
Código Eleitoral, em seu artigo 42, parágrafo único, dispõe que, para o efeito da inscrição, é
domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente e, verificando-se ter o alistado
mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas.
Percebe-se, assim, que o Código Eleitoral não fez coincidir o domicílio eleitoral com o domicílio
civil. Justifica-se: o domicílio eleitoral prescinde da análise do ânimo de fixação em determinado
lugar de forma definitiva.
O eleitor só pode estar filiado a um único partido político. Se desejar filiar-se a outro, não
necessita fazer comunicação prévia, mas após a segunda filiação no dia imediato à ocorrência, deve
fazer comunicação ao partido e ao Juiz de sua respectiva Zona Eleitoral, para cancelar sua filiação; se
não o fizer nesse prazo, fica configurada dupla filiação, sendo ambas consideradas nulas.
Partido político não pode ser coagido a admitir o ingresso de pretenso membro, afinal, aos
partidos políticos é constitucionalmente assegurada autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina
partidárias (CF, artigo 17, § 1º).
Assim, desde que a negativa seja feita com base em previsões estatutárias, não há falar em
ilegalidade nas hipóteses em que o partido rejeita o ingresso de alguém à agremiação.
12.2.3. INELEGIBILIDADES
Obviamente, quem não pode se alistar como eleitor (e, a partir do alistamento, exercer
capacidade eleitoral ativa) não pode se candidatar (capacidade eleitoral passiva). Esta é a razão de o
§ 4º do artigo 14 da CF mencionar que são inelegíveis os inalistáveis.
131
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Somente podem ser eleitos os alistáveis, isto é, os que possuem capacidade eleitoral ativa.
Dessa forma os conscritos (durante o período de serviço militar obrigatório) e os estrangeiros
também não podem se alistar como candidatos.
São inelegibilidades absolutas as relacionadas aos inalistáveis, aos estrangeiros, aos que
estejam privados de seus direitos políticos em face de declaração de perda e aos que não possuam
filiação partidária.
Convém ressaltar que as inelegibilidades previstas na CF não são as únicas, pois o próprio
constituinte propugnou que lei complementar “estabelecerá outros casos e os prazos de cessação, a
fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada
a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta e
indireta” (artigo 14, § 9º).
Editou-se, então, a Lei Complementar n˚ 64/90, que arrolou vários outros casos de
inelegibilidades absolutas. Adveio, então, a chamada Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº
135/2010), que alterou profundamente as disposições da LC 64/90, em especial no tocante às
inelegibilidades absolutas. Nos termos das atuais disposições, previstas na LC nº 135/2010, dentre as
várias hipóteses de inelegibilidades absolutas destacam-se as seguintes:
- Dos que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o
cumprimento da pena, por crimes: contra a economia popular, a fé pública, a administração pública
e o patrimônio público; contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e
os previstos na lei que regula a falência; contra o meio ambiente e a saúde pública; eleitorais, para
os quais a lei comine pena privativa de liberdade; de abuso de autoridade, nos casos em que houver
condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública; de lavagem ou
ocultação de bens, direitos e valores; de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura,
terrorismo e hediondos; de redução à condição análoga à de escravo; contra a vida e a dignidade
sexual; e praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando (LC 135/2010, art. 1º, I, “e”).199
A alínea “e” do artigo 1º, inciso I da LC 64/90 foi o dispositivo que sofreu as maiores e mais
importantes alterações com o advento da Lei da Ficha Limpa (LC 35/2010). Com efeito, a redação
original previa a inelegibilidade por apenas 03 anos após o cumprimento da pena e as hipóteses de
199Estas inelegibilidades não se aplicam aos crimes culposos e àqueles definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes
de ação penal privada (LC 64/90, artigo 1º, § 4º).
132
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
subsunção eram bem mais escassas (crime contra a economia popular, a fé pública, a administração
pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, tráfico de entorpecentes e crimes eleitorais).
A condenação por qualquer crime acarreta a suspensão dos direitos políticos e a consequente
inelegibilidade (artigo 15, inciso III da CF). Porém, essa inelegibilidade, em se tratando de crimes não
listados pelo artigo 1º, inciso I, “e” da LC nº 64/90, durará apenas enquanto durarem os efeitos da
condenação.
- Dos que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas
por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por
decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder
Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da
decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do artigo 71 da CF,201 a todos os ordenadores de
despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição (redação da LC nº
135/2010).
Este dispositivo teve a mesma alteração da alínea “e”, acima comentada, no tocante à
possibilidade de declarar-se inelegível o candidato em face de sentença transitada em julgado ou
proferida por órgão judicial colegiado. Ressalte-se que a previsão em comento destinação aos casos
de abuso do poder econômico ou político.
200 Citem-se, como exemplos: o julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça (CF, artigo 29, inciso X); o julgamento pelo STF, por
crimes comuns, do Presidente da República, do Vice-Presidente, dos membros do Congresso Nacional, de seus próprios Ministros e do
Procurador-Geral da República (CF, artigo 102, inciso I, “b”); o julgamento dos Juízes Federais perante o TRF respectivo (CF, artigo 108, I,
“a”); etc.
201 Art. 71. “O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete: II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a
perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público.”
133
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
- Dos que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa
que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito
em julgado até o transcurso do prazo de 08 anos após o cumprimento da pena (incluído pela LC nº
135/2010).
Este dispositivo teve a mesma alteração da alínea “e”, acima comentada, no tocante à
possibilidade de declarar-se inelegível o candidato em face de sentença transitada em julgado ou
proferida por órgão judicial colegiado. Ressalte-se que a previsão em comento destinação aos casos
de ato doloso de improbidade administrativa que acarrete lesão ao patrimônio público e
enriquecimento ilícito.
12.2.3.2. INELEGIBILIDADES RELATIVAS
Inelegibilidades relativas constituem-se em impedimentos temporários ao direito da pessoa
de se candidatar a um cargo eletivo. O relativamente inelegível está subordinado a determinadas
restrições constitucionais ou legais, sendo-lhe vedado o direito de concorrer a pleito eletivo,
enquanto durarem os efeitos das restrições.
As inelegibilidades relativas compreendem três modalidades.
A primeira diz respeito ao exercício de certas funções. É a inelegibilidade funcional. A segunda
concerne ao parentesco (inelegibilidade por parentesco); e a terceira abrange certos requisitos que
a lei inclui como indispensáveis para que o cidadão possa concorrer a pleito eletivo, como a
obrigatoriedade de domicílio eleitoral no Estado ou no Município, a filiação partidária e a
compatibilidade de idade.
134
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Além desta previsão constitucional, a LC nº 64/90 (artigo 1º, inciso II) prevê outros casos em
que se exige a desincompatibilização, com prazos variáveis de acordo com o cargo que o postulante
esteja exercendo. Todos esses casos geram, por conseguinte, inelegibilidades relativas funcionais
que podem ser afastadas pela desincompatibilização.
São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos
ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou
Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição (CF, artigo 14, §
7º).
O § 7˚ do artigo 14 dispõe a respeito das inelegibilidades relativas (ou reflexas) por motivo de
parentesco.
Ao exemplo das anteriores, previu-se a inelegibilidade por motivo de parentesco, visando
impedir a formação de oligarquias vinculadas ao parentesco, ao sangue e à afinidade.
A restrição atinge os parentes dos chefes do Poder Executivo e de todos aqueles que os
substituíram, desde que essa substituição tenha se processado nos seis meses anteriores ao pleito.
Não há aplicação dessa regra ao Legislativo.
A inelegibilidade é só para o cargo da jurisdição do titular do cargo. Assim, nada impede que o
parente do prefeito seja candidato em outro município, os do governador em outro Estado ou
mesmo para Presidente da República. Porém os do Presidente não poderão se candidatar a nenhum
cargo, já que a jurisdição atinge a todo o território nacional.
Quanto à inelegibilidade por motivo de idade, conforme mencionado linhas acima, a idade
mínima depende do cargo almejado pelo pretenso candidato (35 anos para Presidente e Vice-
Presidente da República e Senador; 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do
Distrito Federal; 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz; 18 anos para Vereador) e deve ser verificada tendo-se por referência a data da
posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o
pedido de registro. (Lei n˚ 9.504/97, artigo 11, § 2º, redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015).
Por outro lado, a Lei nº 9.096/95 – Lei dos Partidos Políticos –, dispõe202 que na segunda
semana dos meses de abril e outubro de cada ano o partido, por seus órgãos de direção municipal,
regional ou nacional, deve remeter aos Juízes Eleitorais a relação dos nomes de todos os seus
filiados, da qual constará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das Seções em que
estão inscritos (essa disposição consta também no artigo 103 da Lei nº 9.504/97).
A Lei dos Partidos Políticos, embora faculte ao partido político o estabelecimento, em seu
estatuto, de prazos de filiação partidária superiores aos nela previstos no tocante à candidatura a
cargos eletivos, proíbe a alteração dos prazos estatutários no ano da eleição.
135
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
12.2.3.3. A LEI DA FICHA LIMPA
A Lei da Ficha Limpa originou-se da iniciativa popular203. O Projeto de Lei Popular nº 519/2009
contou com a simpatia e a aprovação de mais de 2 milhões de eleitores que aderiram à Campanha da
Ficha Limpa e, juntos, atingiram os requisitos constitucionalmente estabelecidos204 para o envio, à
Câmara dos Deputados. Depois de aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente
da República, o projeto converteu-se na Lei Complementar nº 135/2010.
Vários dispositivos foram alterados e outros tantos foram incluídos dentre as hipóteses de
inelegibilidades absolutas. Era chegada a hora de elevar os padrões de moralidade em grande parte
do contexto eleitoral brasileiro. Na comparação das redações (original e atual) percebe-se,
claramente, o objetivo moralizador da LC 135/2010.
Basta que nos atentemos às atuais previsões de inelegibilidades em razão: de atos dolosos de
improbidade administrativa; da prática de uma extensa lista de crimes; de abuso do poder
econômico ou político; de corrupção eleitoral, captação ilícita de sufrágio, captação ou gastos ilícitos
de recursos de campanha; da prática de conduta vedada aos agentes públicos em campanhas
eleitorais; da renúncia a mandato em razão do oferecimento de representação ou petição capaz de
autorizar a abertura de processo eleitoral; da exclusão do exercício da profissão, em decorrência de
infração ético-profissional; do desfazimento de vínculo conjugal ou de união estável para evitar
caracterização de inelegibilidade; de demissão do serviço; de, enquanto pessoa física ou dirigente de
pessoa jurídica, fazer doações eleitorais tidas por ilegais nos contextos eleitorais, de aposentadorias
compulsórias ou perda de cargos.
O Plenário do STF, ao julgar o RE 633703, decidiu, por apertada maioria (06 contra 05 votos)205,
que a LC 135, que havia entrado em vigor no dia 07/06/2010, não era aplicável às eleições daquele
ano em razão do disposto no artigo 16 da CF: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor
na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência”.
Conforme mencionado no Informativo nº 620 do STF: “No mérito, prevaleceu o voto do Min.
Gilmar Mendes, relator. Após fazer breve retrospecto histórico sobre o princípio da anterioridade
eleitoral na jurisprudência do STF, reafirmou que tal postulado constituiria uma garantia
fundamental do cidadão-eleitor, do cidadão-candidato e dos partidos políticos e, qualificada como
cláusula pétrea, seria oponível, inclusive, em relação ao exercício do poder constituinte derivado. (...)
ressaltou que o princípio da anterioridade eleitoral funcionaria como garantia constitucional do
devido processo legal eleitoral. Registrou, ainda, que esse mesmo princípio também teria um viés de
proteção das minorias, uma vez que a inclusão de novas causas de inelegibilidades diversas das
originalmente previstas na legislação, além de afetar a segurança jurídica e a isonomia inerentes ao
devido processo eleitoral, influenciaria a possibilidade de que as minorias partidárias exercessem
suas estratégias de articulação política em conformidade com as balizas inicialmente instituídas. No
ponto, assinalou que o art. 16 da CF seria uma barreira objetiva contra abusos e desvios da maioria e,
nesse contexto, destacou o papel da jurisdição constitucional que, em situações como a presente,
203
“A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular” (CF, artigo 14).
204 “A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada
um deles” (CF, artigo 61, § 2º).
205 Vencidos os Ministros Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Ellen Gracie.
136
DIREITO CONSTITUCIONAL
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estaria em estado de tensão com a democracia, haja vista a expectativa da “opinião pública” quanto
ao pronunciamento do Supremo sobre a incidência imediata da “Lei da Ficha Limpa”, como solução
para todas as mazelas da vida política. Ponderou que a missão desta Corte seria aplicar a
Constituição, mesmo que contra a opinião majoritária”.
Estão sob a análise do STF duas ações declaratórias de constitucionalidade e uma ação direta
de inconstitucionalidade, todas tendo por objeto a LC nº 135/2010. A ADC 29 e a ADC 30 foram
ajuizadas, respectivamente, pelo Partido Popular Socialista e pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil. Em ambas o que se pretende a é integral chancela em prol da
constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa. A ADIn 4578 foi proposta pela Confederação Nacional das
Profissões Liberais com o objetivo de se obter a declaração da inconstitucionalidade do artigo 1º,
inciso I, “m” da LC 135/2010206. Após o voto do Min. Luiz Fux (Relator), os autos passaram ao Min.
Joaquim Barbosa, que deles pediu vista. O Min. Luiz Fux abordou a LC nº 135/2010 sob os aspectos
da irretroatividade, da presunção constitucional de inocência, da proporcionalidade e da proibição
de excesso (Informativo nº 647 do STF):
Presunção de inocência. “De igual modo, repeliu a alegação de que a norma em comento
ofenderia a presunção constitucional de inocência. Destacou que o exame desse princípio não
deveria ser feito sob enfoque penal e processual penal, mas sim no âmbito eleitoral, em que poderia
ser relativizado. Dessa maneira, propôs a superação de precedentes sobre a matéria, para que se
reconhecesse a legitimidade da previsão legal de inelegibilidades decorrentes de condenações não
definitivas. Ao frisar que o legislador fora cuidadoso ao definir os requisitos de inelegibilidade, para
que fossem evitadas perseguições políticas, e que a sociedade civil cobraria ética no manejo da coisa
pública, sinalizou descompasso entre a jurisprudência e a opinião popular sobre o tema “ficha
limpa”. Nesse contexto, considerou que se conceber o art. 5º, LVII, da CF como impeditivo à
imposição de inelegibilidade a indivíduos condenados criminalmente por decisões não transitadas
em julgado esvaziaria o art. 14, § 9º, da CF, a frustrar o propósito do constituinte reformador de
exigir idoneidade moral para o exercício de mandato eletivo. Afastou eventual invocação ao princípio
da vedação do retrocesso, uma vez que inexistiria pressuposto indispensável à sua aplicação, qual
seja, sedimentação na consciência jurídica geral a demonstrar que a presunção de inocência
estender-se-ia para além da esfera criminal. Ademais, não haveria que se falar em arbitrariedade na
restrição legislativa”.
206São inelegíveis, para qualquer cargo, “os que forem excluídos do exercício da profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional
competente, em decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso
pelo Poder Judiciário”.
137
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Proporcionalidade. “Vislumbrou, também, proporcionalidade nas hipóteses legais de
inelegibilidade. Reconheceu tanto a adequação da norma (à consecução dos fins consagrados nos
princípios relacionados no art. 14, § 9º, da CF) quanto a necessidade ou a exigibilidade (pois impostos
requisitos qualificados de inelegibilidade a ser declarada por órgão colegiado, não obstante a
desnecessidade de decisão judicial com trânsito em julgado). No que concerne ao sub-princípio da
proporcionalidade em sentido estrito, consignou que o sacrifício exigido à liberdade individual de se
candidatar a cargo público eletivo não superaria os benefícios socialmente desejados em termos de
moralidade e de probidade para o exercício de cargos públicos. Aludiu que deveriam ser sopesados
moralidade e democracia, de um lado, e direitos políticos passivos, de outro. Evidenciou não haver
lesão ao núcleo essencial dos direitos políticos, haja vista que apenas o direito passivo seria
restringido, porquanto o cidadão permaneceria em pleno gozo dos seus direitos ativos de
participação política. Reiterou tratar-se de mera validação de ponderação efetuada pelo próprio
legislador que, ante a indeterminação jurídica da expressão “vida pregressa”, densificaria seu
conceito. Nesse aspecto, correto concluir-se por interpretação da Constituição conforme a lei, de
modo a prestigiar a solução legislativa para o preenchimento da conceituação de vida pregressa do
candidato”.
Proibição de excesso. “Por fim, relativamente à alínea k do mesmo diploma, observou que a
renúncia caracterizaria abuso de direito e que o Direito Eleitoral também deveria instituir norma que
o impedisse. Ressurtiu que, no preceito em tela, haveria afronta ao sub-princípio da proibição de
excesso, porque não se exigiria a instauração de processo de perda ou de cassação de mandato,
porém mera representação. Motivo pelo qual assentou a inconstitucionalidade da expressão “o
oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar”, de modo a que fossem inelegíveis o
Presidente da República, o governador de Estado e do Distrito Federal, o prefeito, os membros do
Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais,
que renunciassem a seus mandatos desde a abertura de processo por infringência a dispositivo da
Constituição Federal, da Constituição estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da lei orgânica
do município, para as eleições que se realizassem durante o período remanescente do mandato para
o qual fossem eleitos e nos 8 anos subseqüentes ao término da legislatura”.
138
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
PARTIDOS POLÍTICOS
139
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Os partidos políticos adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil. Sendo pessoa
jurídica de direito privado, essa personalidade é adquirida após o registro de seus estatutos, nos
moldes das demais pessoas jurídicas.
O requerimento do registro de partido político deve ser dirigido ao Cartório competente do
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal. No requerimento devem estar indicados os
nomes e as funções dos dirigentes provisórios, bem como o endereço da sede do partido na Capital
Federal. Se todas essas exigências estiverem satisfeitas, o Oficial do Registro Civil efetua o registro no
livro correspondente.
Adquirida a personalidade jurídica, na forma da lei civil (CF, artigo 17, § 2º), os dirigentes
nacionais do partido devem promover o registro do estatuto do partido junto ao Tribunal Superior
Eleitoral (CF, artigo 17, § 2º). Assim como o registro inicial, todas as alterações programáticas ou
estatutárias, depois de registradas no Ofício Civil competente, devem ser encaminhadas, para o
mesmo fim, ao Tribunal Superior Eleitoral.
140
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
O partido político pode receber doações de pessoas físicas e jurídicas para constituição de
seus fundos. Essas doações podem ser feitas diretamente aos órgãos de direção nacional, estadual e
municipal, estando tais órgãos obrigados a remeter, à Justiça Eleitoral e aos órgãos hierarquicamente
superiores do partido, o demonstrativo de seu recebimento e respectiva destinação, juntamente
com o balanço contábil.
Os partidos não estão proibidos de receber doações, mas são obrigados a lançá-las em suas
contabilidades. Entretanto, não podem receber subvenções, doações, contribuições ou quaisquer
outros tipos de interferências advindas de:
a) entidades ou governos estrangeiros;
b) autoridade ou órgãos públicos (ressalvado o Fundo Partidário);
c) autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de
economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram
órgãos ou entidades governamentais;
d) entidade de classe ou sindical.
Os depósitos e movimentações dos recursos oriundos do Fundo Partidário devem ser feitos
em estabelecimentos bancários controlados pelo Poder Público Federal, pelo Poder Público Estadual
ou, inexistindo estes, no banco escolhido pelo órgão diretivo do partido. Em caso de cancelamento
ou caducidade do órgão de direção nacional do partido, reverterá ao Fundo Partidário a quota que a
este caberia (artigo 42 da Lei nº 9.096/95).
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
141
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei
estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta
prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos
de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei (CF, art. 18, § 4º).
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (CF, art. 19): a)
estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter
com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a
colaboração de interesse público; b) recusar fé aos documentos públicos; c) criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.
14.2. DA UNIÃO
14.2.1. BENS DA UNIÃO
São bens da União (CF, art. 20):
a) os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
b) as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
c) os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
d) as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as
referidas no art. 26, II;
e) os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
f) o mar territorial;
g) os terrenos de marinha e seus acrescidos;
h) os potenciais de energia hidráulica;
i) os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
j) as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
k) as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Nem todas as terras devolutas pertencem à União, mas apenas aquelas indispensáveis à
defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental, definidas em lei. O art. 26 dispõe que são bens dos Estados as terras
devolutas não compreendidas entre as da União.
Note-se que pertence à União a propriedade das terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios, pois a estes a CF, no art. 231, § 2º assegurou a posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
A referência feita ao art. 26, II é relativa às áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
estiverem no domínio dos Estados-membros (excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou
terceiros).
142
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como
a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou
gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos
minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração (CF, art. 20, § 1º).
Ressalte-se que quando o dispositivo constitucional abrange a administração direta a
referência é feita apenas no tocante à administração direta da União.
A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,
designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e
sua ocupação e utilização serão reguladas em lei (CF, art. 20, § 2º).
A faixa de fronteira não precisa corresponder sempre a 150 metros, mas deve ser modulada
em espaços de até 150 metros.
14.2.2 COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA DA UNIÃO
A competência da União, no quanto comporta às atribuições dispostas no art. 21 da CF,
concerne à competência administrativa. A competência administrativa da União não oferece maiores
dificuldades além do conhecimento das hipóteses previstas no art. 21 da CF, cuja leitura atenta é, de
todo, recomendada.
143
DIREITO CONSTITUCIONAL
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Municípios com mais de duzentos mil eleitores; e c) posse do Prefeito e do Vice-Prefeito deve
ocorrer no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao da eleição (CF, art. 29, incisos I a III).
Aos vereadores aplicam-se as proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança,
similares, no que couber, ao disposto na CF para os membros do Congresso Nacional e na
Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa (CF, art. 29, IX).
A simetria é aplicada com temperamentos no tocante à imunidade dos vereadores, na
medida em que a inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do Município (CF, art. 29, VIII). Os prefeitos também gozam de foro por
prerrogativa de função, devendo ser julgados perante o respectivo Tribunal de Justiça (CF, art. 29, X).
Admite-se a iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da
cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado (CF,
art. 29, XIII).
14.4.4. FISCALIZAÇÃO
A fiscalização do Município é exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle
externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei (CF,
art. 31). O controle externo da Câmara Municipal É exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas
dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde
houver (§ 1º). O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve
anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara
Municipal (§ 2º). As contas dos Municípios devem ficar, durante sessenta dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei (§ 3º). É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de
Contas Municipais (§ 4º).
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras do art. 77, e dos
Deputados Distritais coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de
igual duração (CF, art. 32, § 2º).
14.6. DA INTERVENÇÃO
A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para (CF, art. 34):
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da
dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de
entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana,
sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do
mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde.
O inciso IV trata dos chamados Princípios Constitucionais Sensíveis.
O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em
Território Federal, exceto quando (CF, art. 35):
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida
fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de
princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem
ou de decisão judicial.
A intervenção, tanto da União nos Estados e no Distrito Federal, quanto a estadual nos
municípios justifica-se, em linhas gerais, por se tratar, assim como o Estado de Defesa e o Estado de
Sítio, de um dos instrumentos de estabilização constitucional.
14.6.1. REQUISITOS
Além do preenchimento das hipóteses de cabimento, acima apresentadas, a decretação da
intervenção depende (CF, art. 36):
a) para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação: de
solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição
do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
146
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
b) no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;
c) de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da
República, no caso de desrespeito aos princípios constitucionais sensíveis, e no caso de
recusa à execução de lei federal.
14.6.2. PROCEDIMENTO
O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução
e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas (CF, art. 36, § 1º).
Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á
convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas (CF, art. 36, § 2º).
Está dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa nas
seguintes hipóteses: a) intervenção para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
b) intervenção para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis; c) intervenção
para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a
execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Nestes casos o decreto limitar-se-á a suspender a
execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade (CF, art.
36, § 3º).
Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes
voltarão, salvo impedimento legal (CF, art. 36, § 4º).
No tema separação dos poderes, cumpre enfatizar alguns aspectos. Nos termos do art. 2º da
Constituição Federal, “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário”. Contemporaneamente, não vinga mais a ideia de separação de poderes
como em sua concepção originária. Não são mais três esferas estanques e impenetráveis umas em
relação às outras, mas sim três esferas interpenetradas. Há, portanto, divisão das funções.
Esses poderes são independentes entre si e vige entre eles o princípio da indelegabilidade de
atribuições (ou funções). Essa é a regra.
A exceção se dá em duas hipóteses:
1ª) exercício atípico de função;
2ª) quando houver expressa delegação do constituinte originário para tanto (p. ex., leis
delegadas, art. 68 da CF).
O chamado exercício atípico das funções estatais consiste na circunstância em que um órgão
desempenha função que constitucionalmente não corresponda àquela que tipicamente lhe é
conferida.
147
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Desse modo, na linha do Direito Constitucional contemporâneo, é importante se
compreender a teoria da “Tripartição de Poderes” como sendo separação de funções estatais
destinadas à realização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3º).
Essa estrutura de separação de funções estatais tem como objetivo também o
estabelecimento de controles recíprocos, denominado de sistema de freios e contrapesos (checks
and balances). Ao passo em que se assegura autonomia e independência aos três “Poderes” (Órgãos)
e, simultaneamente, estabelece condições de fiscalização e controle de um sobre os outros, a
Constituição Federal atribuiu à Instituição do Ministério Público o dever de zelar pelo equilíbrio entre
os “Poderes”, fiscalizando-os pelo respeito aos direitos fundamentais.
Assim, a previsão dos direitos fundamentais e a estrutura de separação de funções estatais,
consideradas a partir de sua autonomia e independência, bem como de seu sistema de freios e
contrapesos, podem ser consideradas como premissas básicas à realização do Estado Democrático de
Direito. Feita essa análise inicial, passa-se à análise intrínseca dos “Poderes” do Estado.
PODER LEGISLATIVO
Poder Legislativo da União é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe de duas casas
legislativas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.207 É o sistema bicameral, adotado tão somente
em relação ao Poder Legislativo da União: nos Estados Federados e nos Municípios há o sistema
unicameral (Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais).
Notemos que os Deputados Federais são representantes do povo eleitos, em cada Estado,
em cada Território e no Distrito Federal, pelo sistema proporcional (de acordo com o número de
votos obtido pelo respectivo partido).208 E, mais: os Territórios, acaso existentes, também elegem
Deputados Federais. Já os Senadores são representantes dos Estados e do Distrito Federal209 eleitos
pelo princípio majoritário.
Nos termos do Art. 45, § 1º da CF, o número total de Deputados, bem como a representação por
Estado e pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma
daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. O § 2º, por sua vez,
estipula que cada Território elege quatro Deputados. Há críticas doutrinárias no tocante à distribuição
equitativa da representação eleitoral com base nestas disposições constitucionais.
Cada Estado e o Distrito Federal elegem três Senadores, com mandato de oito anos, sendo
que a representação de cada Estado e do Distrito Federal é renovada de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços (CF, Art. 46). Além disso, cada Senador elege-se com dois
suplentes (CF, Art. 46).
Uma legislatura corresponde ao mandato dos Deputados Federais (quatro anos).210 Cada
Legislatura é dividida em quatro sessões legislativas ordinárias (um ano) que, por sua vez, são
divididas em dois períodos legislativos (seis meses). As sessões legislativas (períodos de um ano) são
divididas também em sessões ordinárias, extraordinárias e preparatórias. As preparatórias são
convocadas, por exemplo, para a posse dos membros do próprio Legislativo; as ordinárias
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
correspondem ao dia-a-dia dos Deputados Federais; as convocações para sessões extraordinárias
podem ocorrer nos casos de grave comoção interna (Estado de Defesa e Estado de Sítio, por
exemplo).
Há casos de previsão de sessões conjuntas (Deputados Federais e Senadores): inauguração
da sessão legislativa; elaboração do regimento comum e regular a criação de serviços comuns às
duas Casas; tomada do compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
conhecimento e deliberação a respeito do veto presidencial relativo ao processo legislativo ordinário
(CF, Art. 57, § 3º).
16.1. ATRIBUIÇÕES
16.1.1. DO CONGRESSO NACIONAL
Cabe ao Congresso Nacional dispor sobre todas as matérias de competência da União. O Art.
48 da CF arrola as atribuições do Congresso Nacional que dependem de sanção do Presidente da
República. O Art. 49 trata da competência exclusiva do Congresso Nacional (que não depende de
sanção presidencial).
149
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
16.1.1.2. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA
Quando a competência é exclusiva, significa que só o Congresso Nacional pode dispor sobre a
matéria e do processo legislativo. Ninguém mais participa. Em razão disso, inexiste a sanção
presidencial e a manifestação do Congresso Nacional é feita por meio de decreto legislativo.
É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
a) resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
b) autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;
c) autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a
ausência exceder a quinze dias;
d) aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou
suspender qualquer uma dessas medidas;
d) sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou
dos limites de delegação legislativa;
e) mudar temporariamente sua sede;
f) fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que
dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
g) fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de
Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
h) julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os
relatórios sobre a execução dos planos de governo;
i) fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder
Executivo, incluídos os da administração indireta;
j) zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos
outros Poderes;
k) apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;
l) escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;
m) aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;
n) autorizar referendo e convocar plebiscito;
o) autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a
pesquisa e lavra de riquezas minerais;
p) aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a
dois mil e quinhentos hectares.
16.1.2. DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
O Art. 51 da CF menciona que compete privativamente à Câmara dos Deputados:
a) autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente
e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;
b) proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao
Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;
150
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
c) elaborar seu regimento interno;
d) dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção
dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da
respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias;
e) eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.211
Os assuntos arrolados no Art. 51, por serem da competência privativa da Câmara dos
Deputados, não dependem de sanção presidencial
Anote-se que, no tocante à admissão de processo em face do Presidente, do Vice-Presidente
da República ou dos Ministros de Estado, podem surgir duas situações: processo por crimes de
responsabilidade (cuja competência para julgamento é do Senado Federal, nos termos do Art. 52, I)
ou processo em face de infrações penais comuns (cuja competência para julgamento é do Supremo
Tribunal Federal, nos termos do Art. 102, I, “b”).
211O Conselho da República é composto pelas pessoas enumeradas no artigo 89 da CF. Integram-no, nos termos do inciso VII, seis cidadãos
brasileiros natos, com mais de 35 anos, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, sendo vedada recondução.
151
DIREITO CONSTITUCIONAL
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j) suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal;
k) aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-
Geral da República antes do término de seu mandato;
l) elaborar seu regimento interno;
m) dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção
dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da
respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias;
n) eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.212
o) avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua estrutura
e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e
do Distrito Federal e dos Municípios.
Os assuntos arrolados no Art. 52, por serem da competência privativa da Câmara dos
Deputados, não dependem de sanção presidencial
Nos casos de julgamentos por crimes de responsabilidade (itens “a” e “b”, acima), funcionará
como Presidente do julgamento o do Supremo Tribunal Federal.
A condenação por crimes de responsabilidade em relação às autoridades mencionadas nos
itens “a” e “b” deve ser proferida por dois terços dos votos do Senado Federal e limita-se à perda do
cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais
sanções judiciais cabíveis.
212 O Conselho da República é composto pelas pessoas enumeradas no artigo 89 da CF. Integram-no, nos termos do inciso VII, seis cidadãos
brasileiros natos, com mais de 35 anos, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, sendo vedada recondução.
213 Contudo, o STF já decidiu pela possibilidade de ampliação do objeto de investigação de CPI no curso dos trabalhos. (Inq 2.245, Rel. Min.
152
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A presença de advogado, em defesa dos interesses de quem estiver sendo investigado ou
simplesmente prestando depoimento na qualidade de testemunha, é tema recorrente na
jurisprudência. Segundo o Ministro Celso de Mello: “(...) as CPIs, no desempenho de seus poderes de
investigação, estão sujeitas às mesmas normas e limitações que incidem sobre os magistrados,
quando no exercício de igual prerrogativa. Vale dizer: as CPIs somente podem exercer as atribuições
investigatórias que lhes são inerentes, desde que o façam nos mesmos termos e segundo as mesmas
exigências que a Constituição e as leis da República impõem aos juízes, especialmente no que
concerne ao necessário respeito às prerrogativas que o ordenamento positivo do Estado confere aos
advogados” (MS 30.906-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 5-10-
2011, DJE de 10-10-2011).
Princípio da Reserva de Jurisdição: quando os poderes de instrução de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CF, art. 48, § 3º) colidem com regras da própria CF que, além de tratarem
de direitos fundamentais, condicionam a limitação a direito fundamental à análise judicial, diz-se que
se está diante do Princípio Constitucional da Reserva de Jurisdição. Assim, somente a autoridade
judiciária detém poder nas hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), interceptação telefônica
(CF, art. 5º, XII) e decretação da prisão – ressalvada, neste último caso, a situação de prisão em
flagrante (CF, art. 5º, LXI). Nada obstante, esse princípio não é aplicável à quebra do sigilo “pois, em
tal matéria, e por efeito de expressa autorização dada pela própria Constituição da República (CF, art.
58, § 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em ato
necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas" (MS
23.652, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 22-11-2000, Plenário, DJ de 16-2-2001). No mesmo
sentido: HC 100.341, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 4-11-2010, Plenário, DJE de 2-12-
2010.
Quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal: a decretação da quebra de sigilo, desde que
devidamente fundamentada, pode ser determinada por CPI.215 Contudo, "A fundamentação exigida
das Comissões Parlamentares de Inquérito quanto à quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e
telemático não ganha contornos exaustivos equiparáveis à dos atos dos órgãos investidos do ofício
judicante. Requer-se que constem da deliberação as razões pelas quais veio a ser determinada a
medida" (MS 24.749, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 29-9-2004, Plenário, DJ de 5-11-2004).
Interessante notar que, quando o sigilo for decretado por autoridade judicial (segredo de
justiça), não se deve admitir a quebra ao alvedrio da Comissão Parlamentar de Inquérito (MS 27.483-
MC-REF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 14-8-2008, Plenário, DJE de 10-10-2008). Mas, a
utilização de documentos oriundos de inquérito sigiloso já foi admitida pelo STF (HC 100.341, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 4-11-2010, Plenário, DJE de 2-12-2010).
A decretação de indisponibilidade de bens, por não estar revestida do caráter de
investigação, mas pura e simplesmente de medida com índole cautelar, está fora do alcance das
atribuições das CPIs.216
Direito de permanecer em silêncio: "O privilégio contra a autoincriminação – que é
plenamente invocável perante as Comissões Parlamentares de Inquérito – traduz direito público
subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu,
deva prestar depoimento perante órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder
Judiciário. O exercício do direito de permanecer em silêncio não autoriza os órgãos estatais a
dispensarem qualquer tratamento que implique restrição à esfera jurídica daquele que regularmente
invocou essa prerrogativa fundamental. Precedentes. O direito ao silêncio – enquanto poder jurídico
reconhecido a qualquer pessoa relativamente a perguntas cujas respostas possam incriminá-la (nemo
tenetur se detegere) – impede, quando concretamente exercido, que aquele que o invocou venha,
215 (MS 23.466, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 4-5-2000, Plenário, DJ de 6-4-2001).
216 (MS 23.480, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 4-5-2000, Plenário, DJ de 15-9-2000).
153
DIREITO CONSTITUCIONAL
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por tal específica razão, a ser preso, ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou pelas autoridades do
Estado" (HC 79.812, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 8-11-2000, Plenário, DJ de 16-2-2001).
HC 100.200, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 8-4-2010, Plenário, DJE de 27-8-2010.
Neste aspecto, o STF já teve a oportunidade de analisar situação na qual o requerente
pretendia obter o reconhecimento de seu direito a, na qualidade de indiciado, ser dispensado do
compromisso legal inerente às testemunhas. Decidiu-se que, em tais casos, a dispensa do
compromisso é imperiosa, sob pena de ofensa ao direito ao silencio e ao privilégio contra a
autoincriminação (HC 100.200, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 8-4-2010, Plenário, DJEde
27-8-2010.)
217
“A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa.” (STF: Súmula 245).
218
“Inquérito criminal. Suplente de senador. Retorno do titular. Competência. Supremo Tribunal Federal. A prerrogativa de foro conferida
aos membros do Congresso Nacional, vinculada à liberdade máxima necessária ao bom desempenho do ofício legislativo, estende-se ao
suplente respectivo apenas durante o período em que este permanecer no efetivo exercício da atividade parlamentar. Assim, o retorno do
deputado ou do senador titular às funções normais implica a perda, pelo suplente, do direito de ser investigado, processado e julgado no
STF”. (Inq 2.421-AgR, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 14-2-2008, Plenário, DJE de 4-4-2008.) No mesmo sentido: AP 511, Rel.
Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 25-11-2009, DJE de 3-12-2009.
154
DIREITO CONSTITUCIONAL
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16.2.1.1.2. IMUNIDADES FORMAIS
Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão (CF, Art. 53, § 2º).
Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação (CF, Art. 53, § 3º). Antes do advento da Emenda Constitucional 35/2001 a regra
era de que os deputados federais somente poderiam ser processados criminalmente após licença da
respectiva Casa legislativa.
O pedido de sustação é apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e
cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. A sustação do processo suspende a prescrição,
enquanto durar o mandato (CF, Art. 53, §§ 4º e 5º)
Deputados e Senadores não são obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou
prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles
receberam informações (CF, Art. 53, § 7º).
A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que
em tempo de guerra, depende de prévia licença da Casa respectiva (CF, Art. 53, § 8º).
16.2.3. VEDAÇÕES
Os Deputados e Senadores não podem, desde a edição do diploma, firmar ou manter
contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas
uniformes; aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis ad nutum, em tais entidades.
Os Deputados e Senadores não podem, desde a posse, ser proprietários, controladores ou
diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, ou nela exercer função remunerada; ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad
nutum, nas entidades acima referidas; patrocinar causa em que seja interessada qualquer das
entidades acima referidas; ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.
155
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
d) que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
e) quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
f) que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
16.2.4.2. EXCEÇÃO
Não perde o mandato o Deputado ou Senador investido no cargo de Ministro de Estado,
Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de
Capital ou chefe de missão diplomática temporária (CF, art. 56, I). Nesta hipótese o Deputado ou o
Senador pode optar pela remuneração do mandato (CF, art. 56, § 3º). Todavia, as prerrogativas
inerentes aos congressistas não o acompanham na nova atividade.
Também não perde o mandato o Deputado ou Senador licenciado pela respectiva Casa por
motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso,
o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
156
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Deve prestar contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária (CF, artigo 70,
Parágrafo único).219
PROCESSO LEGISLATIVO
17.1.2. DIRETO
O próprio povo, além da legitimidade que lhe é conferida em qualquer regime democrático,
discute, vota e aprova as normas às quais pretende se submeter. É a expressão mais pura da
democracia, do governo do povo, pelo povo e para o povo.
219 "Advogado de empresa estatal que, chamado a opinar, oferece parecer sugerindo contratação direta, sem licitação, mediante
interpretação da lei das licitações. Pretensão do Tribunal de Contas da União em responsabilizar o advogado solidariamente com o
administrador que decidiu pela contratação direta: impossibilidade, dado que o parecer não é ato administrativo, sendo, quando muito,
ato de administração consultiva, que visa a informar, elucidar, sugerir providências administrativas a serem estabelecidas nos atos de
administração ativa. Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 13. ed., p. 377. O advogado somente
será civilmente responsável pelos danos causados a seus clientes ou a terceiros, se decorrentes de erro grave, inescusável, ou de ato ou
omissão praticado com culpa, em sentido largo: Código Civil, art. 159; Lei 8.906/1994, art. 32" (MS 24.073, Rel. Min. Carlos Velloso,
julgamento em 6-11-2002, Plenário, DJ de 31-10-2003). No mesmo sentido: "É lícito concluir que é abusiva a responsabilização do
parecerista à luz de uma alargada relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha resultado dano ao erário.
Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias, não cabe a
responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer de natureza meramente opinativa" (MS 24.631, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 9-8-2007, Plenário, DJ de 1º-2-2008).
157
DIREITO CONSTITUCIONAL
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17.1.3. SEMI-DIRETO
Sistema legislativo bastante complexo e de difícil aplicação. Nesta espécie uma norma
discutida e editada pelo Legislativo (representantes eleitos pelo povo) somente encontraria suporte
de validade depois de aprovada pela população mediante referendo.
17.1.4. INDIRETO
Também conhecido por processo legislativo representativo é o adotado como regra no
Brasil. Como sabemos, neste sistema aqueles eleitos pelo povo mediante voto secreto, direto,
universal e periódico detêm, justamente por terem sido eleitos, a possibilidade de representar a
vontade popular na elaboração das leis. Tudo o que será exposto adiante é relacionado com esta
espécie de processo legislativo.
17.2. PROCESSO ORDINÁRIO
A edição de leis ordinárias é – ou, ao menos, deveria ser – o mecanismo mais utilizado para a
produção normativa e a consequente inovação na ordem jurídica brasileira. O processo ordinário
refere-se às regras de discussão, edição, promulgação e publicação de leis ordinárias.
As outras espécies normativas (emendas à Constituição, leis complementares, leis
delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções) serão analisadas com as
respectivas peculiaridades, ora com pouca diferenciação a partir do procedimento ordinário (leis
complementares), ora dele bastante distantes (medidas provisórias).
158
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Com certa frequência ouvimos que determinada Comissão da Câmara ou do Senado aprovou
ou rejeitou algum projeto. Correto, mas o que é uma Comissão? Nada mais é do que um grupo de
Deputados Federais ou de Senadores especificamente destinado a analisar a constitucionalidade
(Comissões de Constituição e Justiça), a oportunidade e a conveniência (Comissões Temáticas) na
possível aprovação de projetos de lei.220
Na constituição das Mesas e de cada Comissão, deve ser assegurada, tanto quanto possível, a
representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva
Casa (CF, artigo 58, § 1º). Durante o recesso, deve haver uma Comissão representativa do Congresso
Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições
definidas no regimento comum, cuja composição tem de reproduzir, quanto possível, a
proporcionalidade da representação partidária (CF, artigo 58, § 4º).
As comissões analisam e aprovam (ou rejeitam) um projeto de lei antes de ele ser submetido
ao plenário; aprovado o projeto é submetido à votação no plenário; rejeitado, das duas uma, ou ele é
devolvido à Casa em que eventualmente tenha sido aprovado, ou é simplesmente arquivado.
Pensemos na seguinte hipótese: um projeto de lei é aprovado pela Comissão de Constituição
e Justiça e por determinada Comissão Temática da Câmara dos Deputados; é submetido à votação no
Plenário naquela Casa numa oportunidade em que presente maioria absoluta dos Deputados
Federais; depois de obter maioria simples dos votos é encaminhado ao Senado, que, neste caso, é a
Casa revisora; as respectivas comissões do Senado também aprovam o projeto que, em votação
plenária, acaba sendo rejeitado pelo Senado.
Aplica-se com certa facilidade a regra do artigo 65 da CF: “O projeto de lei aprovado por uma
casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou
promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar”. Trata-se de caso de simples
arquivamento.
Mas, e se a Casa revisora aprovar o referido projeto de lei? De acordo com o artigo acima
transcrito, ele é encaminhado ao Presidente da República para sanção ou veto, com as
peculiaridades que adiante estudaremos.
Há, ainda, a possibilidade de a Casa revisora emendar o projeto hipotético acima
mencionado. A propósito, vale lembrar das espécies de emendas aos projetos de lei:
a) supressivas (exclui-se parte do texto do projeto enviado pela Casa iniciadora);
b) aditivas (acrescenta-se algo ao projeto já aprovado na Casa iniciadora);
c) aglutinativas (providencia-se à fusão de partes do texto originalmente aprovado na Casa
iniciadora);
d) modificativas (acarretam alterações superficiais sem acarretar grandes mudanças no texto
enviado);
e) substitutivas;
f) de simples revisão (relacionadas a eventuais incorreções ortográficas).
Se houver emenda por parte da Casa revisora há necessidade de o projeto ser devolvido à
Casa iniciadora para novos debates, afinal de contas o texto final a ser convertido em lei quando da
sanção do Presidente da República deve, obrigatoriamente, ser analisado por ambas as Casas. É o
que diz o artigo 65, Parágrafo único da CF: “Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora”.
220CF, Art. 58: “O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições
previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação”.
159
DIREITO CONSTITUCIONAL
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O STF, ao interpretar a regra do artigo 65, parágrafo único, admite a possibilidade de a Casa
revisora efetuar emendas de mera redação ao teor da proposta da Casa de origem, sem necessidade
de retorno à origem.221
221 “O retorno do projeto emendado à Casa iniciadora não decorre do fato de ter sido simplesmente emendado. Só retornará se, e
somente se, a emenda tenha produzido modificação de sentido na proposição jurídica. Ou seja, se a emenda produzir proposição jurídica
diversa da proposição emendada. Tal ocorrerá quando a modificação produzir alterações em qualquer um dos âmbitos de aplicação do
texto emendado: material, pessoal, temporal ou espacial” (ADC nº 3, rel. Min. Nelson Jobim); “Proposta de emenda que, votada e
aprovada na Câmara dos Deputados, sofreu alteração no Senado Federal, tendo sido promulgada sem que tivesse retornado à Casa
iniciadora para nova votação quanto à parte objeto de modificação. Inexistência de ofensa ao art. 60, § 2º da Constituição Federal no
tocante à supressão, no Senado Federal, da expressão “observado o disposto no § 6º do art. 195 da Constituição Federal”, que constava do
texto aprovado pela Câmara dos Deputados em 2 (dois) turnos de votação, tendo em vista que essa alteração não importou em mudança
substancial do sentido do texto” (ADIn 2666, 3.10.02, Ellen Gracie).
160
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação, à Câmara dos Deputados, de
projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo
menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles
(CF, artigo 61 § 2º).’
No âmbito do processo legislativo estadual, o artigo 27, § 4º da CF dispõe que “a lei disporá
sobre a iniciativa popular”.
Nas esferas municipais, segundo o artigo 29, XIII, um dos preceitos a serem observados
quando da elaboração das Leis Orgânicas Municipais refere-se à iniciativa popular de projetos de lei
de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo
menos, cinco por cento do eleitorado.
161
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
artigo 66, § 4˚). Lembre-se de que, até o advento da Emenda Constitucional 76, de 28 de novembro
de 2013, a rejeição ao veto operava-se pelo voto secreto.
Assim, caso a maioria absoluta dos Deputados Federais e Senadores vote no sentido da
rejeição do veto (ou, em outras palavras, na não manutenção do veto), o projeto é novamente
encaminhado ao Presidente da República. Só que, desta vez o Chefe do Executivo dispõe de 48 horas
para promulgar a lei; caso não a promulgue o Presidente ou o Vice-Presidente do Senado o fará (CF,
Art. 66, § 7˚).
Por fim, ao menos com relação ao mecanismo de veto e sanção, o artigo 67 da CF: “A matéria
constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do
Congresso Nacional”.
Uma última observação importante: nos casos em que a iniciativa de projetos de lei é
privativa da chefia do Executivo, o Supremo Tribunal Federal entende que, se houver vício na
iniciativa, a posterior sanção presidencial não tem o condão de convalidar a inconstitucionalidade
formal já verificada no começo do procedimento legislativo.222
222 “O desrespeito à prerrogativa de iniciar o processo legislativo, mediante usurpação do poder sujeito à cláusula de reserva, traduz vício
jurídico de gravidade inquestionável, cuja ocorrência reflete típica hipótese de inconstitucionalidade formal, apta a infirmar, de modo
irremissível, a própria integridade do ato legislativo assim editado, que não se convalida, juridicamente, nem mesmo com a sanção
manifestada pelo Chefe do Poder Executivo. A matéria versada nos diplomas legislativos questionados em sede recursal extraordinária
subsume-se, claramente, ao conceito de regime jurídico dos servidores públicos” (AI 348800-SP, Rel. Min. Celso de Mello).
162
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
223 Sobre este aspecto, já apresentamos, quando da análise das espécies de Constituição, entendimento doutrinário no sentido de que a
CF/88 deveria ser classificada como super-rígida.
224 Hesse, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 1991.
225 BACHOF, Otto. Normas constitucionais inconstitucionais? Trad. José Manuel M. Cardoso da Costa. Coimbra: Almedina, 1994.
163
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Constituinte Originário. Bonavides foi mais longe: para ele essa ideia não passaria de um devaneio
jusnaturalista de Otto Bachof que, caso aceito, configurar-se-ia em golpe de estado jurisdicional.226
Esta breve menção à teoria das normas constitucionais inconstitucionais – ou seja, a
discussão teórica a respeito de o próprio Constituinte Originário incorrer em inconstitucionalidade227
– justifica-se como forma de deixar fora do alcance de eventuais dúvidas a submissão das emendas
ao controle de constitucionalidade.
O Poder Constituinte Derivado tem de se submeter às normas veiculadas pelo artigo 60 da
CF.
Com efeito, naquele dispositivo são encontradas vedações explícitas e implícitas à
possibilidade de reforma do texto constitucional. Dentre as expressa temos: a) legitimidade
específica e limitada no tocante ao envio de propostas de emenda;228 b) limite circunstancial
consistente na impossibilidade de emendas na vigência de Intervenção Federal, de Estado de Defesa
e de Estado de Sítio; e c) limitações materiais relativas à impossibilidade sequer de deliberação a
respeito de propostas tendentes a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto,
universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais.
Note-se também que o § 5º do artigo 60 retrata outra hipótese de limitação circunstancial.
Ainda em relação às limitações explícitas, há um antecedente histórico previsto na
Constituição de 1824. Tratava-se de limitação temporal, consistente na impossibilidade de alteração
daquele texto constitucional durante certo intervalo de tempo.
A doutrina preconiza a existência de uma vedação implícita ao Poder Constituinte
Reformador, salientando “ser implicitamente irreformável a norma constitucional que prevê as
limitações expressas (CF, artigo 60), pois, se diferente fosse, a proibição expressa poderia
desaparecer, para, só posteriormente, desaparecer, por exemplo, as cláusulas pétreas”.229
226
VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3 ed. Belo Horizonte, Del Rey, 2003, p. 209-220.
227 Para maiores informações, consultar o Capítulo em que se aborda com mais profundidade o Poder Constituinte.
228 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal; II - do Presidente da República III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
229 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 1015.
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230 Art. 14, § 9º: “Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta”.
231 Art. 146: “Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de
legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados
nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e
decadência tributários; c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. d) definição de
tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou
simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se
refere o art. 239”.
232 Art. 146-A: “Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da
concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo”.
233 Art. 153: “Compete à União instituir impostos sobre: VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar”.
234 Art. 163: “Lei complementar disporá sobre: I - finanças públicas; II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações
e demais entidades controladas pelo Poder Público; III - concessão de garantias pelas entidades públicas; IV - emissão e resgate de títulos
da dívida pública; V - fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e
entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito
da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional”.
235 Art. 192: “O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram”.
236 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 397.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
sistema parlamentar, o Gabinete governa sempre sujeito à responsabilização política. Segundo
Michel Temer:
“A Constituição italiana foi o modelo inspirador do constituinte brasileiro. Ocorre,
entretanto, que entre as ‘medidas provisórias’ da Itália e as do Brasil há grande diferença. Lá o
sistema de governo é parlamentar e a Constituição prescreve que o ‘Governo’ (no caso, o Gabinete,
por meio do Primeiro-Ministro) editará a ‘medida provisória’ sob ‘sua responsabilidade’. O que é
‘responsabilidade’ no sistema parlamentar? É aquela de natureza ‘política’. Portanto, o que ocorre se
a medida provisória não for aprovada pelo Parlamento italiano? O gabinete (Governo) cai”.237
É o que basta para perceber-se a ampla liberdade que detém o Chefe do Executivo brasileiro
para a edição de medidas provisórias.
237 TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 8 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991.
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Entretanto, não foi essa a linha de raciocínio adotada pelo Supremo Tribunal Federal quando
passou a admitir a pura e simples reedição de medidas provisórias.
O mecanismo da reedição passou a ser admitido da seguinte forma: o Chefe do Executivo de
plantão editava uma medida provisória que, diante da mora do Legislativo por vários fatores que não
merecem ser mencionados, não seria apreciada no prazo de trinta dias; então o Presidente da
República, no vigésimo nono dia de vigência da primeira medida provisória, editava outra com igual
redação, mas com a peculiaridade de ser batizada com um número a mais (Por exemplo: Medida
Provisória 1000/2000 e Media Provisória 1000-1/2000); e assim por diante, ad infinitum. Há
inúmeros exemplos, tendo-se chegado a ponto de existirem medidas provisórias reeditadas mais de
trinta vezes como foi o caso da Medida Provisória 2.180-35, de 24 de agosto de 2001. O efeito lógico
decorrente da admissão da reedição de medidas provisórias foi notória burla à Constituição. Neste
aspecto Luciano Amaro foi bastante claro:
“Ademais, o prazo-limite de vigência das disposições provisórias é de trinta dias (art. 62,
parágrafo único) e não múltiplos de trinta. Caso a Constituição admitisse a vigência
provisória da medida por três, quatro, seis meses, um ano, ela teria dito que a medida
vigoraria até que o Congresso a apreciasse...”. 238
E Paulo Bonavides:
“Por elas, e com elas, o País trilha a via do absolutismo, visto que, desvirtuadas e apartadas
da respectiva finalidade constitucional, têm sido para os liberticidas o meio mais simples,
mais fácil, mais cômodo e mais rápido de instalar, sem reação social e sem estorvo, um
regime de exceção; o que aliás já se observa em face da ordem jurídica espedaçada”.239
Com relação às matérias que poderiam receber tratamento por intermédio de medidas
provisórias, em que pese ausência de vedação explícita no art. 62, a doutrina encontrou um certo
consenso que acarretou, inclusive, a alteração do texto constitucional por ocasião da Emenda n˚
32/2001.
238AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 168.
239 BONAVIDES, Paulo. Do país constitucional ao país neocolonial: a derrubada da Constituição e a recolonização pelo golpe de Estado
institucional. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 106.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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As matérias hoje expressamente impassíveis de ser veiculadas por meio de medidas
provisórias já assim eram consideradas por grande parte da doutrina antes da promulgação da
Emenda Constitucional n˚ 32/2001.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
De plano pode-se perceber que em matéria tributária o Presidente da República pode editar
medidas provisórias. Notemos, entretanto, que a redação do texto se refere única e exclusivamente
a impostos, e, não, ao gênero tributos.
Questão interessante é decorrente de medida provisória que implique a instituição ou
majoração de imposto que não seja nenhum daqueles arrolados nos artigos 153, incisos I, II, IV, V e
artigo 154, inciso II ( II, IE, IPI, IOF e impostos extraordinários, respectivamente): na majoração da
alíquota do IPTU, por exemplo e de acordo com o § 2˚ ora sob análise, a medida provisória que tratar
da matéria somente produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida
em lei até o último dia daquele em que foi editada.
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde
a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos
termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
A vigência das medidas provisórias hoje é de sessenta dias e não mais trinta, conforme
constava no texto original.
Anote-se: cabe ao Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo, regular as relações
decorrentes de medidas provisórias que eventualmente percam a eficácia por não terem sido
convertidas em lei ou sejam expressamente rejeitadas.
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória,
suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das
medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos
constitucionais.
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no
prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas
duas Casas do Congresso Nacional.
Extremamente salutar a alteração no tocante à expressa impossibilidade de reedição da
medida provisória não apreciada pelo Congresso.
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e
sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de
cada uma das Casas do Congresso Nacional.
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha
sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a
rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e
decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
168
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Antigamente as medidas provisórias deveriam perder a eficácia desde a edição se não
fossem convertidas em lei no prazo de trinta dias. Isso evidentemente abrangia as situações de
expressa rejeição, pelo Congresso Nacional, de medidas provisórias. Cabia, então, ao Congresso
Nacional regular as relações jurídicas delas decorrentes.
Acontece que, seja por mora do Congresso ou até mesmo por impossibilidade empírica de o
Legislativo editar decretos legislativos com o objetivo regular todas as relações jurídicas decorrentes
de incontáveis medidas provisórias editadas pelo Chefe do Executivo, o que se verificada era o
império da segurança jurídica.
Mesmo que uma medida provisória seja rejeitada ou que perca a eficácia desde a edição, não
se pode negar que, ao menos nos dias em que ela gerou efeitos depois de editada, foram criadas,
extintas ou modificadas diversas relações jurídicas. Isto porque medida provisória editada tem
efeitos de lei desde a publicação.
Então, uma coisa, singela, é o discurso perderão a eficácia desde a edição e outra, bem diferente,
relaciona-se com as relações jurídicas ocorridas enquanto a medida provisória esteve em vigor.
Desse modo, tínhamos situações de insegurança uma vez que não se sabia ao certo que regra
deveria ser aplicada às situações ocorridas logo depois da edição de uma medida provisória
expressamente rejeitada ou não convertida em lei no prazo de trinta dias. Daí a necessidade de o
Congresso Nacional regular as situações jurídicas dela decorrentes. E se não houvesse – como
efetivamente não houve na maioria dos casos – a edição do decreto legislativo capaz de regular as
tais relações jurídicas?
Atualmente a questão parece estar resolvida. Hoje não editado o decreto legislativo a que se
refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações
jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservam-se por ela
regidas.
Por outro lado é inegável que, como consequência desta novel previsão, as medidas
provisórias rejeitadas ou que tenham perdido a eficácia, ao permanecerem regendo as relações
jurídicas aperfeiçoadas no período de vigência, em nada se diferenciam dos antigos decretos-lei.
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória,
esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.
Outro dispositivo com vistas a atribuir maior segurança jurídica, por intermédio do qual o
Constituinte Derivado cuidou de salientar a eficácia da redação original de medida provisória que
eventualmente tenha o texto alterado quando da respectiva análise perante o Legislativo. Segundo o
disposto no art. 2º da Emenda Constitucional 32, “As medidas provisórias editadas em data anterior
à da publicação desta emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue
explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional”.
240CF, Art. 68: Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. § 1º -
Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos.
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17.4.6. RESOLUÇÕES
As resoluções são editadas tanto pelo Congresso Nacional quanto por qualquer das
respectivas casas. A Câmara dos Deputados e Senado Federal regulam, via resoluções, as respectivas
competências privativas, nos termos dos artigos 51 e 52 da CF.
PODER EXECUTIVO
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos
cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 80).
Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa
dias depois de aberta a última vaga. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo
Congresso Nacional, na forma da lei (CF, art. 81).241 Em qualquer dos casos, os eleitos deverão
completar o período de seus antecessores (§ 2º).
O mandato do Presidente da República é de quatro anos e terá início em primeiro de janeiro
do ano seguinte ao da sua eleição (CF, art. 82). O Presidente e o Vice-Presidente da República não
poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob
pena de perda do cargo (CF, art. 83).
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XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral
da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional
ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura
da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
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poderiam ser instituídas ex novo, pois, se o fossem, os poderes nelas previstos, quando exercidos,
gerariam para os assujeitados obrigações de fazer ou deixar de fazer em virtude de regulamento e
não de lei”.242
Outros chegaram a uma antípoda conclusão, ao admitirem que, independentemente de lei, o
Presidente da República possa, com base no novo art. 84, VI, dispor via decreto sobre organização e
funcionamento da administração federal, quando isso não implicar aumento de despesa nem criação
ou extinção de órgãos públicos, e sobre a extinção de funções ou cargos públicos vagos. Partem da
premissa de que, nestes casos, o fundamento de validade do decreto não é a lei e sim a própria
Constituição Federal.243
A premissa é falsa porque o dispositivo constitucional que daria suporte de validade ao
decreto é decorrente de emenda à Constituição que, neste aspecto, não encontra validade
sistemático-constitucional.
Não é válida porque objetivou, por via indireta (a alteração do art. 84, VI), reduzir o alcance
de cláusula pétre a: o art. 5°, II da CF. Este é o motivo pelo qual não se tem receio ao reafirmar que
não há espaço para decreto autônomo, ainda que com base no alterado art. 84, VI.
242 MELLO, Celso Antônio bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 17. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 94-95.
243 CHIMENTI, Ricardo Cunha; CAPEZ, Ricardo Cunha; et al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 188.
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responsabilidade (art. 22, inc. I, da Constituição da República). 2. Constitucionalidade das
normas estaduais que, por simetria, exigem a autorização prévia da assembleia legislativa
como condição de procedibilidade para instauração de ação contra governador (art. 51, inc. I,
da Constituição da República). 3. Ação julgada parcialmente procedente para declarar
inconstitucional o inc. XXI do art. 56 (“processar e julgar o governador e o vice-governador do
estado nos crimes de responsabilidade e os secretários de estado nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles”); e da segunda parte do art. 93 da Constituição do Estado do
Espírito Santo (“ou perante a assembleia legislativa, nos crimes de responsabilidade”). (ADI
4792, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-076 DIVULG 23-04-2015 PUBLIC 24-04-2015)
18.1.2.1. PROCESSAMENTO
Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade (CF, art. 86).
O Presidente ficará suspenso de suas funções: a) nas infrações penais comuns, se recebida a
denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal; b) nos crimes de responsabilidade, após
a instauração do processo pelo Senado Federal (§ 1º).
Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o
afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo (§ 2º).
Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da
República não estará sujeito a prisão (§ 3º).
O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por
atos estranhos ao exercício de suas funções (§ 4º).
Este último dispositivo trata da chamada imunidade penal temporária do Presidente da
República.
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
18.3.1. COMPOSIÇÃO
Participam do Conselho da República: Vice-Presidente da República; Presidente da Câmara
dos Deputados; Presidente do Senado Federal; líderes da maioria e da minoria na Câmara dos
Deputados; líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; Ministro da Justiça; seis cidadãos
brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da
República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com
mandato de três anos, vedada a recondução.
O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do
Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério (CF, art. 90, §
1º).
18.3.2. COMPETÊNCIA
Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: a) intervenção federal, estado de
defesa e estado de sítio; b) as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas
(CF, art. 90).
18.4.1. COMPOSIÇÃO
Participam do Conselho de Defesa Nacional, como membros natos (CF, art. 91): Vice-
Presidente da República; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do Senado Federal;
Ministro da Justiça; Ministros militares; Ministro de Estado da Defesa; Ministro das Relações
Exteriores; Ministro do Planejamento; Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.244
18.4.2. COMPETÊNCIA
Compete ao Conselho de Defesa Nacional (CF, art. 91, § 1º): a) opinar nas hipóteses de
declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição; b) opinar sobre a
decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; c) propor os critérios e
condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a
exploração dos recursos naturais de qualquer tipo; d) estudar, propor e acompanhar o
desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do
Estado democrático.
244
Interessante notar que o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal e
Ministro da Justiça participam tanto do Conselho da República quanto do Conselho de Defesa Nacional.
175
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
PODER JUDICIÁRIO
176
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
aposentadoria do magistrado por interesse público dependia do voto de dois terços do respectivo
tribunal e não havia a possibilidade, hoje existente, no tocante ao Conselho Nacional de Justiça.
19.1.2.1. GARANTIAS
As garantias atribuídas aos magistrados visam a imparcialidade dos veredictos. Os juízes
gozam de algumas garantias. A vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos
de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz
estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado. A vitaliciedade é a
impossibilidade de o magistrado ser exonerado do cargo. A regra só é válida para os juízes de
primeiro grau. Assim, são vitalícios desde o momento da posse: Ministros dos Tribunais Superiores,
Desembargadores dos Tribunais Regionais e Desembargadores dos Tribunais de Justiça.
Além disso, o magistrado possui a garantia da inamovibilidade, salvo por motivo de interesse
público, na forma do art. 93, VIII.246Isso quer dizer que o magistrado não pode ser removido, a não
ser que assim deseje ou haja relevante interesse público. Perceba-se que não se trata de uma regra
absoluta.
Ainda, possuem garantia de irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X
e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I, todos da CF. Quanto ao princípio da irredutibilidade, o STF
já decidiu que esta é uma garantia nominal e não real, quer dizer, o vencimento dos juízes não está
imune às condições inflacionárias que sem alterar o valor nominal dos vencimentos pode corroer a
sua real capacidade econômica.
19.1.2.2. VEDAÇÕES
Assim como as garantias, as vedações impostas aos magistrados têm como principal objetivo
proteger a própria jurisdição. Aos juízes é vedado (CF, art. 95, parágrafo único):
a) exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
b) receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
246CF, art. 93, VIII - “O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por
voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.”
177
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação (CF, art. 93, IX).
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
de seus integrantes para nomeação”. O chefe do executivo não é obrigado a fazer a escolha acaso a
lista não esteja completa com três indicações.
Interessante notar que somente os tribunais de segundo grau devem ser formados por
integrantes decorrentes do quinto constitucional. Para o STF e o STJ, por exemplo, não há exigência
alguma de que parte dos ministros seja composta de egressos do Ministério Público ou da advocacia.
179
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo
com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários
para fins de consolidação da proposta orçamentária anual (§ 4º).
Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas
ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares
ou especiais (§ 5º).
19.2.1. COMPETÊNCIA
Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição. A
competência do STF (CF, art. 102) pode ser originária ou recursal. A competência recursal divide-se
em ordinária e extraordinária.
180
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
suspensão do processo já instaurado perante o STF mediante o voto da maioria dos membros da
Casa à qual pertença o parlamentar.
Compete ao STF processar e julgar, originariamente, nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal
de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente.
Trata de outras autoridades com foro por prerrogativa de função perante o STF. Atente-se ao
fato de que, nesta hipótese, o STF é competente tanto na esfera criminal quanto em relação a crimes
de responsabilidade. No entanto, quando os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica praticam crimes de responsabilidade conexos com os do Presidente da
República, a competência é do Senado, pois vale a regra do art. 52, I da CF.
Compete ao STF processar e julgar, originariamente, o "habeas-corpus", sendo paciente
qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data"
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal.
Compete processar e julgar, originariamente, o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo
internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território.
Questão frequente em concursos, pois geralmente há confusão com a competência dos
Juízes Federais de primeira instância (CF, art. 109, II). Os Juízes Federais são competentes para julgar
as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no país. As regras são parecidas, mas não devem ser confundidas.
Compete ao STF processar e julgar, originariamente, as causas e os conflitos entre a União e
os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta.
Trata-se de questões concernentes ao pacto federativo. Note-se que as entidades da
administração indireta (autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas
públicas) fazem parte da regra.
Compete, também, ao STF processar e julgar, originariamente, a extradição solicitada por
Estado estrangeiro. Esta hipótese de competência originária foi revogada pela EC 45/2004. Antes da
revogação, cabia ao STF a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão do "exequatur" às
cartas rogatórias. Agora a competência é do STJ, como se verá adiante.
Ainda, compete ao STF:
• Processar e julgar, originariamente, o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior
ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos
diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma
jurisdição em uma única instância.
• Processar e julgar, originariamente, a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados.
• Processar e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação de sua competência e
garantia da autoridade de suas decisões.
• Processar e julgar, originariamente, a execução de sentença nas causas de sua competência
originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais.
• Processar e julgar, originariamente, a ação em que todos os membros da magistratura sejam
direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal
de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados.
181
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
• Processar e julgar, originariamente, os conflitos de competência entre o Superior Tribunal
de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro
tribunal.
• Processar e julgar, originariamente, o pedido de medida cautelar das ações diretas de
inconstitucionalidade.
• Processar e julgar, originariamente, o mandado de injunção, quando a elaboração da
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional,
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas,
do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal.
• Processar e julgar, originariamente, as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra
o Conselho Nacional do Ministério Público.
182
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
ações declaratórias de constitucionalidade, às arguições de descumprimento a preceito fundamental
e às súmulas vinculantes serão todas analisadas em capítulo específico em razão de sua importância
e abrangência.
19.3.1. COMPOSIÇÃO
O CNJ é presidido pelo Presidente do STF e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-
Presidente do STF (CF, art. 103-B, § 1º). Tanto um quanto outro exercem as atribuições
independentemente de nomeação por parte do Presidente da República e de sabatina perante o
Senado Federal.
Dentre os quinze membros do CNJ, à exceção do Presidente do STF (que é membro nato
desde o advento da EC 61/2009) e do Vice-Presidente do STF (que, desde o advento da EC 61/2009,
preside o CNJ nas ausências e impedimentos do Presidente do STF), todos os demais têm seus nomes
indicados à Presidência da República, que os nomeia depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal (CF, art. 103-B, § 2º).
São membros do CNJ:
a) o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
b) um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;
c) um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;
d) um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
e) um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
f) um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
g) um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
h) um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
i) um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
j) um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;
k) um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República
dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;
l) dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
183
DIREITO CONSTITUCIONAL
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m) dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara
dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
Caso as indicações não sejam, em temo e modo oportunos, realizadas, caberá a escolha ao
Supremo Tribunal Federal (CF, art. 103-B, § 3º). Junto ao Conselho oficiam o Procurador-Geral da
República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CF, art. 103-B, §
6º).
19.3.2. COMPETÊNCIA
Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e
do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe
forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura (CF, art. 103-B, § 4º):
a) zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura,
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
providências;
b) zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário,
podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de
Contas da União;
c) receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,
inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços
notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem
prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar processos
disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;
d) representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de
abuso de autoridade;
e) rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros
de tribunais julgados há menos de um ano;
f) elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por
unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
g) elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a
situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar
mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso
Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
184
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
19.4.1. COMPETÊNCIA
A competência do STJ (CF, art. 105) pode ser originária ou recursal. A competência recursal
divide-se em ordinária e especial.
185
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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da
Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal.
• A homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.
Esta ultima alínea foi acrescentada pela EC 45/2004. Antes a competência para homologação
de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias era do STF.
19.4.1.2. COMPETÊNCIA RECURSAL ORDINÁRIA
Compete ao STJ processar e julgar, em recurso ordinário:
• Os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
for denegatória.
• Os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão.
• As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
As causas referidas nesta hipótese são aquelas julgadas em primeira instância pelos Juízes
Federais (CF, art. 109, II). Mais uma vez o lembrete: não confundir com as causas de competência
originária do STF (CF, art. 102, I, alínea “f”).
Importante alteração na alínea “b”. Antes da EC 45/2004 cabia ao STJ, em recurso especial,
julgar as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida julgasse válida lei
ou ato de governo local contestado em face de lei federal. Acontece que a competência para o
controle da legalidade de lei de governo local contestado em face de lei federal agora é do STF.
186
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
19.5.1. COMPETÊNCIA
A competência dos TRFs (CF, art. 108) pode ser originária ou recursal.
187
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
O art. 108, § 3º da CF autoriza que os Tribunais Regionais Federais funcionem de forma
descentralizada, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado
à justiça em todas as fases do processo.
188
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
questão que gerou controvérsia é se agora seria da competência da Justiça do Trabalho a relação de
trabalho entre Poder Público e seus servidores. Em razão da ADin nº 3.395-6/DF, a situação
encontra-se sob a tutela liminar concedida pelo então Presidente do STF, ex-Ministro Nelson Jobim, a
qual foi posteriormente referendada pelo Plenário daquela Corte, de modo que restou suspensa, ad
referendum, toda e qualquer interpretação dada ao inc. “i” do art. 114 da CF, na redação dada pela
EC 45/04, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a "[...] apreciação [...] de causas que
[...] sejam instauradas entre o poder público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de
ordem [...]"250
189
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
i) Aos juízes federais compete processar e julgar os mandados de segurança e os "habeas-
data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais
federais.
j) Aos juízes federais compete processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios ou
aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.
k) Aos juízes federais compete processar e julgar os crimes de ingresso ou permanência
irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização.
l) Aos juízes federais compete processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas.
MINISTÉRIO PÚBLICO
20.2. ABRANGÊNCIA
190
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Tendo em vista os princípios institucionais da unidade e indivisibilidade (CF, art. 127) o
Ministério Público é único, não está repartido em órgãos e abrange (CF, art. 128):
a) o Ministério Público da União, que compreende o Ministério Público Federal, o Ministério
Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios;
b) os Ministérios Públicos dos Estados.
191
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar
mencionada no artigo anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua
finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades
públicas.
20.4. GARANTIAS
Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros as seguintes garantias (CF, art. 128, § 5º):
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença
judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão
colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus
membros, assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos
arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I;
20.5. VEDAÇÕES
Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros as seguintes vedações (CF, art. 128, § 5º):
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas
processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,
entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.
192
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
De acordo com o art. 128 § 6º da CF, aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto
no art. 95, parágrafo único, V, também da CF. Assim, pode-se afirmar que também é vedado aos
membros do Ministério Público o exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
193
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a
situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a
mensagem prevista no art. 84, XI.
No caso do Ministério Público do Distrito Federal, que é organizado e mantido pela União,
sendo o seu Procurador-Geral nomeado pelo Presidente da República, a possibilidade de sua
destituição, antes do término do mandato, se dará por deliberação da maioria absoluta do Senado
Federal (e não Câmara Legislativa do DF), mediante representação do Presidente da República
(conforme o disposto na CF/88, art. 128, § 4º e LC – 75/93, art. 156, § 2º).
Importante destacar o entendimento do STF:
"Ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação das expressões ‘nos seguintes casos: a)
por proposta do Colégio de Procuradores, conforme lei complementar; b) por proposta
subscrita por 1/3 dos membros da Assembleia Legislativa’ contidas no art. 14, XIII, da
Constituição do Estado de Pernambuco, com a redação dada pela EC 20, de 15-12-2000.
Pedido de liminar. Basta, para se ter como relevante a fundamentação jurídica desta
arguição de inconstitucionalidade, a circunstância formal de que o § 4º do art. 128 da Carta
Magna em sua parte final remete à lei complementar a disciplina da forma pela qual se dará
a destituição dos procuradores-gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios, tendo-
se firmado a jurisprudência desta Corte no sentido de que, quando a Constituição exige lei
complementar para disciplinar determinada matéria, essa disciplina só pode ser feita por
essa modalidade normativa." (ADI 2.436-MC, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 30-5-
2001, Plenário, DJ de 9-5-2003.) No mesmo sentido: ADI 2.622-MC, Rel. Min. Sydney
Sanches, julgamento em 8-8-2002, Plenário, DJ de 21-2-2003
ADVOCACIA PÚBLICA
194
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
21.3. PROCURADORIAS DOS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL
Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o
ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria
jurídica das respectivas unidades federadas (CF, art. 132).
Aos procuradores dos Estados e do Distrito Federal é assegurada estabilidade após três anos
de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório
circunstanciado das corregedorias (CF, art. 132, parágrafo único).
DA DEFESA DO ESTADO
E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Segundo José Afonso da Silva, a “defesa do Estado é defesa do território contra a invasão
estrangeira (arts. 34, II, e 137, II), é defesa da soberania nacional (art. 91), é defesa da Pátria (art.
142), não mais a defesa deste ou daquele regime político ou de uma particular ideologia ou de um
grupo detentor do poder” 252.
252
SILVA, op. cit., p. 726.
195
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Algumas situações de anormalidade (tais como processos violentos de mudanças ou
perturbação da ordem constitucional, mas também os casos de guerra externa) podem acabar
ensejando a utilização daquilo que a doutrina convencionou denominar de sistema constitucional
das crises, compreendendo esse o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. Esse sistema possui como
princípios informadores a necessidade e temporariedade.
O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser
prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este
comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao
preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e
mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo
quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de
vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que
decidirá por maioria absoluta.
253
Ibidem, p. 729.
196
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo
de cinco dias.
O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento,
devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.
Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.
197
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de
parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva
Mesa.
DA SEGURANÇA PÚBLICA
254
LENZA, op. cit., 473.
198
DIREITO CONSTITUCIONAL
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim
como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
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ORDEM ECONÔMICA
E FINANCEIRA
O caput do art. 170 da Constituição Federal dispõe que a ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os princípios da soberania nacional;
propriedade privada; função social da propriedade; livre concorrência; defesa do consumidor; defesa
do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; redução das desigualdades
regionais e sociais; busca do pleno emprego; tratamento favorecido para as empresas de pequeno
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
255
Direito Constitucional, 23. ed, São Paulo: Atlas, p. 798.
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Por lei, estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento; apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Deve, contudo, lei dispor
sobre o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter
especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão; os direitos dos usuários; a política tarifária; e a obrigação de
manter serviço adequado.
Quanto à propriedade privada, importante destacar que as jazidas, em lavra ou não, e
demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do
solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere
o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União,
no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua
sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando
essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no
valor que dispuser a lei. A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as
autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou
parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente.
Ainda, não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial de
energia renovável de capacidade reduzida.
Há, ainda, questões de suma importância nacional, para as quais a CF reconheceu como
monopólio da União. São elas:
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades
previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de
petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto,
seus derivados e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos
cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de
permissão.
Deve-se destacar que a União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a
realização das atividades previstas nos quatro primeiros itens acima, observadas as condições
estabelecidas em lei. Esta lei a que se refere disporá sobre a garantia do fornecimento dos derivados
de petróleo em todo o território nacional; as condições de contratação; e a estrutura e atribuições do
órgão regulador do monopólio da União. Serão também regulados por lei o transporte e a utilização
de materiais radioativos no território nacional. A lei que instituir contribuição de intervenção no
domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus
derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos:
I - a alíquota da contribuição poderá ser diferenciada por produto ou uso; e reduzida e
restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150, III, b.
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II - os recursos arrecadados serão destinados:
a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e
seus derivados e derivados de petróleo;
b) ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do
gás;
c) ao financiamento de programas de infraestrutura de transportes.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a
incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e
creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei. A exemplo disso, o Simples
Nacional. O atendimento de requisição de documento ou informação de natureza comercial, feita
por autoridade administrativa ou judiciária estrangeira, a pessoa física ou jurídica residente ou
domiciliada no País dependerá de autorização do Poder competente.
ÓRGÃOS ENTIDADES
OPERADORES
NORMATIVOS SUPERVISORAS
Comissão de Valores
Mobiliários (CVM)
Bolsas de Valores
256
Op. cit., p. 804.
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Resseguradores
Sociedades Seguradoras
Superintendência
Conselho Nacional de
Nacional de Previdência
Previdência Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Complementar
Complementar (CNPC)
(PREVIC)
TRIBUNAL DE CONTAS
O Tribunal de Contas faz parte de uma larga tradição em nosso país. Com o artigo 89, da
Constituição de 1891, ele veio a pertencer ao espaço constitucional. Sua condição de agente
fiscalizador externo tem sido fundamental para a institucionalização da responsabilidade dos órgãos
públicos comem relação ao erário público.
Em essência, busca orientar o Poder Legislativo quanto à função de controle externo, através
de atos de fiscalização, mas não se subordina a ele, sendo, assim, independente.
O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal,
quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional. Os Ministros do Tribunal de
Contas da União têm as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens
dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça (CF, Art. 73).
Ressalte-se que, nos termos do art. 74, § 2º da CF, qualquer cidadão, partido político,
associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou
ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.
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25.1. COMPETÊNCIA
Compete ao Tribunal de Contas da União (CF, Art. 71):
a) apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante
parecer prévio;
b) julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;257
c) apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como
a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;
d) realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas na alínea “b”;
e) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União
participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
f) fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio,
acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município;
g) prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas,
ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
realizadas;
h) aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas,
as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional
ao dano causado ao erário;
i) assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
j) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara
dos Deputados e ao Senado Federal;
l) representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.
257OPlenário do STF, no julgamento do MS 25.092, firmou o entendimento de que as sociedades de economia mista e as empresas públicas
estão sujeitas à fiscalização do TCU.
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atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao
Senado Federal.
Quebra de sigilo bancário de dados: impossibilidade, pois "A Lei Complementar 105, de 10-
1-2001, não conferiu ao Tribunal de Contas da União poderes para determinar a quebra do sigilo
bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil. O legislador conferiu esses poderes ao
Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem como às comissões
parlamentares de inquérito” (MS 22.801, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 17-12-2007,
Plenário, DJE de 14-3-2008).
Contraditório e ampla defesa: “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União
asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.” (Súmula Vinculante 3).
Título executivo: As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa têm
eficácia de título executivo (CF, Art. 71, § 3º).
ORDEM SOCIAL
A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a
justiça sociais. Direitos sociais são direitos de conteúdo econômico-social que visam a melhorar as
condições de vida e de trabalho para todos. Caracterizam-se por determinarem, ao contrário das
liberdades individuais, uma prestação positiva do Estado.
Assim, os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são
prestações positivas proporcionadas pelo Estado, direta ou indiretamente, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos. São, pois, direitos que tendem a realizar um
reequilíbrio de modo a buscar a igualdade em situações sociais desiguais. Como bem assevera
Alexandre de Moraes, “direitos sociais são direitos fundamentais do homem, que se caracterizam
como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito,
tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização
da igualdade social, e são consagrados como fundamentos do Estado democrático, pelo art. 1º, IV, da
Constituição Federal.” 258
258
MORAES, op. cit., 177.
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No que se refere ao direito fundamental à educação, importante consignar que compete
privativamente à União Federal legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional (art. 22,
XXIV). Também vale ressaltar que o acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo,
podendo ser exigido do Estado por qualquer cidadão (art. 208, § 1º).
Direitos sociais relativos à cultura
Os direitos culturais também são informados pelo princípio da universalidade, ou seja, são
direitos garantidos a todos. Assim sendo, o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
Portanto, o Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. A lei disporá sobre
a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos
nacionais. Além disso, estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao
desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II produção, promoção e difusão de bens culturais;
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;
IV democratização do acesso aos bens de cultura;
V valorização da diversidade étnica e regional.
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Os Estados e o Distrito Federal poderão vincular parcela de sua receita orçamentária a
entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
Como já dito, o Estado brasileiro possui participação em diversos setores de importância.
Dessa forma, ele estimulará a articulação entre entes, tanto públicos quanto privados, nas diversas
esferas de governo.
O Estado promoverá e incentivará a atuação no exterior das instituições públicas de ciência,
tecnologia e inovação, com vistas à execução das atividades previstas no caput.
Como a pesquisa tecnológica é voltada para a solução de problemas nacionais, o mercado
interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento
cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País.
O Estado estimulará a formação e o fortalecimento da inovação nas empresas, bem como
nos demais entes, públicos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e polos
tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação, a atuação dos inventores
independentes e a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 85, de 2015)
Poderão também, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios firmar instrumentos
de cooperação com órgãos e entidades públicos e com entidades privadas, inclusive para o
compartilhamento de recursos humanos especializados e capacidade instalada, para a execução de
projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação, mediante
contrapartida financeira ou não financeira assumida pelo ente beneficiário, na forma da lei.
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sujeita a estas restrições, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios
decorrentes de seu uso.
Dada a sua vital importância para a cultura, e informação, em geral, da população, os meios
de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
Em razão disso, a publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de
autoridade.
26.4.1. PRINCÍPIOS
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes
princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive
sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais
estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
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ÍNDIOS
De acordo com o art. 231 da CF, são reconhecidos aos índios: sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, além dos direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens.
A responsabilidade da União Federal não reside apenas na demarcação das terras indígenas,
mas também na proteção a todos os bens indígenas. Uma das questões mais interessantes dos
últimos anos foi a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima. O STF,
no julgamento da Pet. 3.388, decidiu, em Sessão Plenária, pela demarcação da área de 1,7 milhão de
hectares da reserva, a ser ocupada apenas por grupos indígenas.
Segundo o art. 231, § 1º da CF, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são aquelas
por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Interessante notar que as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União
(CF, Art. 20, XI). Ou seja: A União tem a propriedade desses bens, enquanto que aos índios restaram
garantidos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam (CF, Art. 231, caput),
dentre os quais a posse permanente (CF, Art. 231, § 2º).
A Própria CF contempla exceção à exclusividade do usufruto das riquezas do solo, dos rios e
dos lagos existentes nas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Afinal, segundo o art. 231, §
3º da CF, o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a
lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do
Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.
As terras de tradicionalmente ocupadas pelos índios são inalienáveis e indisponíveis, e os
direitos sobre elas, imprescritíveis (CF, art. 231, § 4º). Inalienabilidade e indisponibilidade referem-se
às terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. A imprescritibilidade refere-se aos direitos sobre
tais terras.
Sob a perspectiva da igualdade material legitimam-se as políticas de apoio e, especialmente,
de promoção de grupos socialmente fragilizados. Tais políticas denominam-se ações afirmativas.
Existem fortes fundamentos constitucionais que legitimam a discriminação positiva voltada à
diminuição de desigualdades. O artigo 3º arrola os objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil, ou seja, os caminhos a percorrer e os horizontes a alcançar.
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