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II – Distinga:
1 – Assinatura diferida e adesão
São ambas mecanismos tendentes a facilitar a participação dos Estados em convenções multilaterais,
ao permitirem postergar para momento subsequente à negociação e adoção do texto a manifestação de
vontade em ficarem internacionalmente vinculados. Embora a prática internacional venha erodindo as
suas diferenças, estas subsistem ainda, principalmente, quanto à natureza do acto e, como regra,
quanto à oportunidade, para além de, eventualmente, quanto aos Estados a que são facultadas.
Enquanto no mecanismo da assinatura diferida o acto de manifestação de vontade é, como indica a
denominação, a assinatura (a que poderá ter de se seguir a ratificação), oportunizada, como regra, até a
entrada em vigor da convenção; a adesão consiste em um acto de manifestação de vontade de natureza
autónoma e diversa da, e.g., assinatura e ratificação (art. 11.º da CVDT), sendo oportunizada a Estados
não signatários de uma convenção que já se encontra em vigor. Ademais, “[t]radicionalmente, só aos
Estados participantes na negociação, e para quem o texto-projecto fosse considerado satisfatório, era
permitida a assinatura das convenções internacionais”. Atualmente, porém, assinatura diferida pode
ser também facultada “para os que nela não tenham participado”1. Quanto à adesão, quaisquer Estados
terceiros não signatários poderão, como regra, realizá-la.
2 – Sociedade e comunidade internacional
Nada obstante refiram ambas a coletividades, agrupamentos de sujeitos (no caso, internacionais), e
sejam muitas vezes empregadas indistintamente, distinguem-se substancialmente pois “em qualquer
agrupamento se encontram entre os seus membros interesses comuns e interesses divergentes ou, dito
de outra forma, factores de agregação ou aproximação e factores de conflito ou afastamento”. Assim,
“na comunidade os factores de agregação sobrelevam os de conflito ou afastamento, passando
exactamente o contrário na sociedade”2 – termo que, dada a heterogeneidade dos, os desequilíbrios e
tensões entre os seus atores, melhor refletiria o cenário internacional, sendo, porém, possível referir a
uma comunidade internacional quanto à dimensão axiológica fundante e nuclear do sistema jurídico
internacional.
(3 val.)
1
ALMEIDA, Francisco António de Macelo Lucas Ferreira de. Direito Internacional Público. 2ª ed. Coimbra:
Coimbra Editora, 2003, p. 121.
2
Idem, p. 17.
3
Idem, p. 77.
4
Idem, p. 77.
internacional na matéria (CANELAS DE CASTRO). De facto, sempre tem sido entendido que a
circunstância de um regulamento comunitário haver sido adoptado por um órgão incompetente para o
efeito, não contende com a sua força jurídica no espaço integrado na Comunidade; e, decorrentemente,
com a produção dos seus efeitos nas ordens internas dos Estados membros. A cessação da sua
aplicabilidade só ocorrerá mediante uma declaração de nulidade, a cargo do Tribunal de Justiça da
União”5. Depois, há, para além de normas, “actos não normativos, designadamente as decisões da
União Europeia, cujos destinatários são sujeitos individualizados dos Estados membros” que, contudo,
“a jurisprudência comunitária tem-se pronunciado no sentido da admissibilidade do efeito directo de
certas decisões, sem embargo de não se consubstanciarem em verdadeiras normas (gerais e
abstratas)”6. Daí dever-se fazer “uma interpretação extensiva da expressão normas, de sorte a permitir
englobar também os actos (CANELAS DE CASTRO)”7.
É, pois, de afastar meramente literais e restritivas interpretações da CRP face, sobretudo, à natureza –
supranacional – da União e aos fins e valores que estão em causa, a indicarem, para realização da
integração que prossegue e em que se funda a organização, a imprescindibilidade da aplicação e
interpretação uniformes do direito europeu.
Em que pese a divergência doutrinária quanto ao princípio do primado (e seu respetivo alcance),
parece ser efetivamente de afirmar que «O direito da União Europeia vigora na ordem jurídica
portuguesa nos termos definidos por esse direito, ainda que com respeito pelos princípios
fundamentais do Estado de direito democrático», assim assegurando que os princípios estruturantes do
Estado português sejam salvaguardados (inclusive a título de fiscalização de constitucionalidade).
5
Idem, pp. 77-78.
6
Idem, p. 79.
7
Idem, p. 79.
8
Pelo equivalente, na Constituição de B, aos artigos 161.º, alínea i); e 166.º, n.º 5, da CRP
9
Pelo equivalente, na Constituição de B, ao artigo 135.º, alínea b), da CRP
Tal, contudo, não ensejaria a nulidade (relativa) da Convenção. Isto porque, não obstante a violação da
norma interna, a aprovação pelo órgão parlamentar deu-se “através de um acto com forma mais solene
do que o exigido”, ou seja, com excesso de forma, em nada colocando em causa os valores nem a
intencionalidade que alicerçam e justificam as exigências de deliberação e aprovação do tratado pelo
órgão legislativo. Assim, não restariam preenchidos os requisitos do art. 46.º da CVDT (violação
manifesta de uma norma de importância fundamental) para que a imperfeita ratificação pudesse ser
invocada por B como tendo viciado o seu consentimento.
b) - Se também vier a demonstrar-se que, no final as negociações, o representante oficial de B
foi obsequiado pelo seu homólogo, representante de A, com uma valiosa peça de porcelana, poderá tal
facto levar à invalidação do tratado por irregularidades substanciais?
Seria de cogitar a caracterização de corrupção, vício de consentimento disciplinado no art. 50.º da
CVDT passível de ensejar nulidade (relativa) da convenção, na medida em que o representante de B
auferiu significativo proveito pessoal (i.e., recebeu uma valiosa peça de porcelana, que passará a
integrar o seu património individual) nas circunstâncias da celebração do pacto. Faz-se, assim,
necessário analisar – e provar – se o facto de ter sido obsequiado com tal peça desvirtua-se de um
(típico e normal, no âmbito das relações internacionais) ato de cortesia; e, principalmente, se tal
influenciou decisivamente na formação e expressão da vontade, quer dizer, se operou na base essencial
do consentimento, levando a que a manifestação de vontade realizada em nome do Estado tenha sido
desvirtuada pelos interesses/benefício próprios de seu representante (sendo aqui, aliás, de relevo a
informação de que somente ao final das negociações foi o artefacto presenteado).
c) - Caso nenhum dos Estado haja, previamente, subscrito a cláusula facultativa de jurisdição
obrigatória, quais as possibilidades de o Tribunal Internacional de Justiça vir a apreciar o conflito
surgido entre ambos os Estados?
Porquanto ao funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça preside o princípio da
consensualidade, o consentimento dos Estados em litígio é condição essencial para o exercício da
jurisdição. Para além da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, há outras três
formas de aceitar a jurisdição do Tribunal: convenção/cláusula compromissória, ainda antes da
ocorrência do litígio; e, após o surgimento da controvérsia, acordo especial e forum prorogatum.
Na primeira hipótese, caso A e B sejam parte de convenção(ões) que tenha(m) por objeto o
compromisso de, visando a solução pacífica de eventuais futuros litígios, submeterem as suas
controvérsias ao Tribunal; e/ou caso, na própria convenção internacional de cooperação económica
concluída em 2020, tenham estabelecido uma cláusula com tal teor.
Na segunda, e já emergida a controvérsia, mediante a celebração de um acordo especial para submeter
aquele específico conflito ao Tribunal; e, na terceira, pela via de aceitação tácita, caso um destes
Estados proponha junto do Tribunal uma ação em face do outro e este último apresente-se em juízo a
contestá-la, sem que a competência do Tribunal seja desafiada por via de exceção preliminar.
(8 val.)