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Resolução de Casos Práticos:

o Condições de validade:
Para a validade de um ato jurídico, é necessário um sujeito capaz, uma vontade
livre e expressa e um objeto que seja lícito em relação ao ordenamento em que o ato
irá produzir os seus efeitos. São essenciais três características para a validade de uma
convenção internacional, a capacidade das partes, a regularidade do consentimento e
a licitude do objeto.
Capacidade das partes: No primeiro ponto, ou seja, capacidade das partes, apenas
sujeitos que fazem parte do Direito Internacional têm capacidades para celebrar
contratos, são esses sujeitos os Estados e as Organizações Internacionais, contudo,
cabe algumas vezes aos movimentos de libertação nacional concluir alguns acordos.
No que diz respeito aos Estados, são poucas as situações onde este está
impedido de concluir um tratado, como num acordo de protetorado e a participação
de entidades descentralizadas. Já no caso das Organizações Internacionais e a sua
capacidade para concluir tratados, pouco se pode acrescentar, esta parte é incapaz
quando a vontade depende dos Estados membros ou quando se adequa o princípio da
especialidade.
Esta incapacidade leva à nulidade do tratado quando existem sujeitos de
Direito Internacional sem capacidade de exercício, ou, no caso das Organizações
Internacionais, o caso dos autores do ato jurídico não serem sujeitos de Direito
Internacional.
Regularidade do consentimento: Esta regularidade parte de dois pressupostos, das
irregularidades formas e das informais. Nas primeiras são referidas as competências e
procedimentos para a conclusão das convenções internacionais, aqui apenas estão em
causa as regras formais. Por outras palavras, estão a ser analisadas em que medida o
incumprimento das normas constitucionais que têm uma grande importância para a
conclusão dos tratados, visto fazerem parte do direito interno de cada Estado, colocam
em causa a validade dos tratados no plano internacional. Estas ratificações não podem
alterar o comprometimento dos Estados, o que está estabelecido no art. 27º da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “Uma Parte não pode invocar as
disposições do seu direito interno para justificar o incumprimento de um tratado”, este
artigo é todavia excecionado com o art.46º da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados: “A circunstância de o consentimento de um Estado em ficar vinculado por
um tratado ter sido manifestado com violação de uma disposição do seu direito
interno relativa à competência para concluir tratados não pode ser invocada por esse
Estado como tendo viciado o seu consentimento, salvo se essa violação tiver sido
manifesta e disser respeito a uma norma de importância fundamental do seu direito
interno.”, com isto concluímos que apesar do consentimento do Estado ter sido
prestado com a violação de uma norma do seu direito interno, não é suficiente para o
Estado se desvincular da convenção nem para que seja alegado vício, a menos que
essa norma seja de extrema importância onde se admite a nulidade relativa do
tratado.
No que toca às irregularidades substanciais, acontecem num momento de
conclusão de tratados onde o consentimento não foi regularmente expresso, ou seja,
ocorreram vícios da vontade ou do consentimento.
O erro, art.48º/1 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “Um
Estado pode invocar um erro num tratado como tendo viciado o seu consentimento
em ficar vinculado pelo tratado se o erro incidiu sobre um facto ou uma situação que
esse Estado supunha existir no momento em que o tratado foi concluído e que
constituía uma base essencial do consentimento desse Estado em ficar vinculado pelo
tratado.”, ou seja, o erro vicia o consentimento do Estado, mas apenas quando é
determinante e desculpável. O erro baseia-se numa representação pouco exata da
realidade, mas, ao ser essencial, significa que incidiu sobre algo que construiu uma
base ao consentimento do Estado que se vinculou, por outras palavras, se não fosse o
erro, provavelmente o Estado nem teria celebrado a convenção. Desculpável porque o
Estado não pode ter contribuído para o erro nem o pode ter previsto, caso contrário o
erro não é desculpável porque não se cumpriu o princípio da boa fé, art.48º/2 da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “O nº1 do presente artigo não se
aplica quando o referido Estado contribuiu para o erro com sua conduta ou quando as
circunstâncias forem tais que ele devia ter-se apercebido da possibilidade de erro.”.

O dolo, estipulado no art.49º da Convenção de Viena sobre o Direito dos


Tratados: “Se um Estado tiver sido induzido a concluir um tratado pela conduta
fraudulenta de um outro Estado que participou na negociação, pode invocar o dolo
como tendo viciado o seu consentimento em ficar vinculado pelo tratado.” Posto isto,
chegasse à conclusão de que o dolo é um erro provocado pela contraparte que tentou
induzir em erro a outra parte. Conclui-se que o existe dolo quando existe uma intenção
de enganar e prejudicar a outra parte e assim como o erro provoca a nulidade relativa
da convenção.

A corrupção, prevista no art.50º da Convenção de Viena sobre o Direito dos


Tratados: “Se a manifestação do consentimento de um Estado em ficar vinculado por
um tratado tiver sido obtida por meio da corrupção do seu representante, efetuada
direta ou indiretamente por outro Estado que participou na negociação, aquele Estado
pode invocar essa corrupção como tendo viciado o seu consentimento em ficar
vinculado pelo tratado.”. Nesta irregularidade assume-se que durante a conclusão de
um tratado, o representante de um Estado usa de artimanhas para conduzir a
contraparte a levar a convenção num determinado sentido. São apenas considerados
atos de corrupção os que têm uma influência que é decisiva no consentimento do
representante. Neste caso existe a nulidade relativa do tratado.

O vício da coação, que apresenta duas formas, é abordado no art.51º da


Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “A manifestação do consentimento
de um Estado em ficar vinculado por um tratado obtida por coacção exercida sobre o
seu representante, por meio de atos ou de ameaças dirigidos contra ele, é desprovida
de qualquer efeito jurídico.” e no art.52º da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados: “É nulo todo o tratado cuja conclusão tenha sido obtida pela ameaça ou pelo
emprego da forca, em violação dos princípios de direito internacional consignados na
Carta das Nações Unidas.”. No art.51º falamos de uma coação onde o Estado é visto
como um indivíduo onde estão em causa atos de violência ou também ameaça. No
art.52º as ameaças dirigem-se diretamente ao Estado. A consequência jurídica é a
nulidade absoluta.
Licitude do objeto: É necessário que o objeto da convenção seja lícito e não atente
contra os princípios fundamentais presentes na base do sistema jurídico internacional.
Como é evidente, as normas de ius cogens são inquestionáveis e portanto tem-se no
art.53º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “É nulo todo o tratado
que, no momento da sua conclusão, seja incompatível com uma norma imperativa de
direito internacional geral. Para os efeitos da presente Convenção, uma norma
imperativa de direito internacional geral é uma norma aceite e reconhecida pela
comunidade internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogação não é
permitida e que só́ pode ser modificada por uma nova norma de direito internacional
geral com a mesma natureza.” e ainda art.64º da Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados: “Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito internacional, geral,
qualquer tratado existente que seja incompatível com essa norma torna-se nulo e
cessa a sua vigência.” conclui-se então que a ilicitude do objeto origina a nulidade
absoluta.

Nulidades dos tratados: A convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados prevê
nulidades relativas e absolutas. As nulidades relativas invocam o vício, apresentam
divisibilidade extintiva das disposições dos tratados e permite a sanação. Quando ao
direito de invocam o vício, este apenas pode ser feito pelo Estado cujo consentimento
vinculado se debruçou na violação de um direito interno relacionado com as
conclusões dos tratados. No segundo ponto, têm-se no art.44º/2 da Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados que “Uma causa de nulidade ou de cessação da
vigência de um tratado, de retirada de uma das Partes ou de suspensão da aplicação
de um tratado, reconhecida nos termos da presente Convenção, só pode ser invocada
em relação ao tratado no seu todo, salvo nas condições previstas nos números
seguintes ou no artigo 60º”, ou seja, vigora aqui o princípio da divisibilidade onde
qualquer cauda de nulidade quando invocada, determina a nulidade de todo o tratado.
Contudo, no art.44º da Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, nº3
admitem-se algumas cláusulas que podem ser anuladas, ou seja, ocorre divisibilidade
extintiva, onde a convenção continua a valer na parte que não foi afetada, são apenas
anuladas a cláusulas onde incidiu o vício. Para isto é necessário que as cláusulas sejam
separadas do restante tratado, essas mesmas clausulas não podem representar
normas essenciais para a outra parte e o que resta do tratado tem de ser justo. Esta
divisibilidade é obrigatória no erro e facultativa no dolo e na corrupção, (art.44º/3/4
Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados). Falando agora na possibilidade de
sanação, prevista no art.45º da Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados,
impõe-se que o Estado perca o direito de alegar qualquer nulidade depois de ter
tomado conhecimento dos factos e ainda assim aceitar e considerar o tratado válido
(sanação expressa) ou se deva formular-se nova conclusão (sanação tácita).

Nas nulidades absolutas e no que toca ao direito de invocar o vício, aqui qualquer
parte da convenção pode invocar a causa de nulidade, mas apenas essas. No que toca
ao problema da divisibilidade têm-se no art.44º/2 da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados que “Uma causa de nulidade ou de cessação da vigência de um
tratado, de retirada de uma das Partes ou de suspensão da aplicação de um tratado,
reconhecida nos termos da presente Convenção, só pode ser invocada em relação ao
tratado no seu todo, salvo nas condições previstas nos números seguintes ou no artigo
60º”, ou seja, vigora aqui o princípio da divisibilidade onde qualquer cauda de nulidade
quando invocada, determina a nulidade de todo o tratado.

o Responsabilidade internacional:

Prática de um ato internacionalmente ilícito: constitui a base essencial para a


responsabilidade internacional subjetiva, isso acontece quando o Estado viole, quer
seja por meio de uma ação ou por omissão, uma obrigação nacional a que estava
vinculado.

Nexo de imputação: o comportamento ilícito deve ser atribuído ao Estado por ter sido
adotado por pessoas ou órgãos que o representam e estão sob a sua autoridade
efetiva. Da atuação dos órgãos legislativos pode resultar a responsabilidade
internacional assim como nos casos de omissão ou a violação da obrigação
internacional costumeira.

Ocorrência de danos: é essencial que o Estado violador do Direito Internacional cause


danos, caso contrário, a responsabilidade internacional será apenas teórica, pois esse
Estado não terá o dever de reparar nada.

Nexo de causalidade: um Estado incorrerá em responsabilidade internacional quando


for estabelecido o nexo de causalidade entre comportamentos e danos. O Estado
vítima tem o dever de exigir a reparação dos danos e o Estado autor do ato ilícito
dever de proceder à reparação.

Graus de ilicitude: O Estado autor pode ainda ser sujeito a sanções. Como é óbvio, uma
violação de uma norma internacional importante corresponde a um ato ilícito mais
grave com mais consequências jurídicas. No caso dos crimes internacionais, e estando
em causa um interesse geral a todos os Estados, qualquer um poderia exigir a
reparação dos danos causados. No caso dos delitos internacionais, só o Estado vítima
poderia exigir a reparação.

Formas de reparação: Restitutio in integrum- permite a total reparação dos efeitos


resultantes do ato ilícito, é a consequência normal, efetivamente quando o dano
causado é reversível e também quando o prejuízo causado ao Estado autor do ato
ilícito desproporcional comparando às vantagens do Estado vítima, assim como
quando não é de todo comprometida a independência política e económica.
Indemnização- pagamento de uma quantia pecuniária ao Estado vítima. (art.36º/2 CDI)

Exclusão de ilicitude: Consentimento- exclui-se a ilicitude quando o Estado vítima dê o


seu consentimento para que o comportamento seja adotado, este consentimento tem
de ser válido à face das normas de Direito Internacional, ou seja, não pode ser
expresso com vícios. Tem de ser tácito ou implícito e não pode suscitar dúvidas, tem
também de ser imputável ao Estado e ser dentro dos limites substanciais e temporais.
Legitima defesa- (art.51º Carta das Nações Unidas) o uso da força em condição de
legítima defesa por parte de um Estado não pode ser considerado um ato ilícito. Este
uso da força é um uso defensivo, até o Conselho de Segurança intervenha.
Contramedidas- quando um Estado infrinja uma obrigação internacional, não é ilícito
se representar uma medida de resposta que é admitida pelo Direito Internacional a um
facto ilícito de um momento passado por outro Estado. Não pode envolver o uso da
força. Força maior e caso fortuito- situação onde o Estado tem de desrespeitar uma
obrigação internacional por acontecer uma força irresistível ou de um acontecimento
exterior imprevisto, onde o Estado não consegue atuar de outra maneira. O Estado
não pode mesmo escapar dos efeitos nem pode ter contribuído. Perigo extremo- aqui,
um Estado usa um comportamento contrário a uma obrigação internacional com o
objetivo de se salvar ou salvar pessoas que estão sob a sua custódia. Aqui existe
sempre uma opção, mas iria significar a morte de alguém, o que não acontece no caso
da força maior e caso fortuito. Estado de necessidade- um Estado é ameaçado por um
perigo e tem de adotar um comportamento que acaba por violar uma obrigação
internacional. Aqui verifica-se uma ameaça à própria existência do Estado.

o Tribunal Internacional de Justiça

O TIJ está aberto apenas aos Estados que dele fazem parte e discute direitos de
pessoas físicas. A competência do TIJ é facultativa, os Estados só se submetem à
jurisdição do TIJ se concordarem com isso (princípio da consensualidade).

Os Estados podem recorrer ao TIJ perante um conflito em concreto, através de um


acordo especial ou forum prorogatum. O primeiro é um acordo onde as partes
envolvidas no litígio internacional aceitam recorrer ao TIJ para que este aprecie e
julgue o conflito. Por outro lado, o segundo é uma forma tácita para aceitar a
competência jurisdicional do TIJ para resolver o conflito. Ocorre quando um Estado
interpõe uma ação que é contenciosa no TIJ e o outro Estado, voluntariamente,
comparece ao TIJ para apresentar uma contestação, assim vemos que o segundo
Estado tacitamente aceitou a sua competência para julgar a causa.

Os Estados podem recorrer ao TIJ anterior e independente de qualquer conflito


através de um consentimento convencional ou por via unilateral. Neste caso a
jurisdição é quase obrigatória. O consentimento convencional pressupõe a conclusão
de convenções bilaterais ou ainda multilaterais que dizem respeito ao problema geral
da solução pacífica de controvérsias internacionais onde as partes concordam em
submeter ao TIJ conflitos que entre elas ocorram no futuro. O consentimento por via
unilateral pressupõe a celebração de um tratado onde os signatários estipulam no TIJ a
responsabilidade por resolver conflitos de interpretação e aplicação que possam
surgir.

Cláusula facultativa de jurisdição obrigatória- o reconhecimento da jurisdição do


Tribunal Internacional de Justiça dá-se pela jurisdição da cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória. Os Estados no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça
ficam vinculados a todas as cláusulas menos às do art.36º/2 do Estatuto do Tribunal
Internacional de Justiça, que é facultativa. Para. Que as partes fiquem vinculadas a tal
cláusula, devem declarar através de um ato jurídico unilateral a aceitação da jurisdição
obrigatória do Tribunal Internacional de Justiça. Esta cláusula só funciona se é
subscrita, daí ser facultativa. São necessários dois consentimentos unilaterais para o TIJ
poder julgar conflitos entre dois Estados.

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