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Esquema aula tratados

Tratados constituem um dos meios pelos quais os Estados lidam entre si e si relacionam.
Estatuto da CIJ (redigido em 1920) estabelece o rol das fontes; Estabelecer o direito
aplicável; um roteiro onde poder buscar as normas internacionais.

Perspectiva histórica: consistência costumeira do direito dos tratados. Primeiro registro


histórico: tratado entre Ramses II e Hatusil III, dos Hititas entre 1280 e 1272 a.C.
Multiplicação dos regimes republicanos e constitucionalização das monarquias:
intervenção dos Parlamentos no processo de conclusão de tratados.
Ao lado dos Estados, também as OIs são reconhecidas como sujeitos; codificação do
direito dos tratados. Exemplo: Convenção de Viena de 1969 (Comissão de direito
internacional da ONU). Entrou em vigor em 1980. 114 Estados, no Brasil foi aprovada
pelo congresso nacional por meio do DL 486/2009. CV traz normas que codificam
costumes e que são normas de desenvolvimento progressivo, quer dizer que a CV traz
normas que com a prática dos Estados encorajada pela CV se tornam, aos poucos,
normas costumeiras.
Em geral, os tratados são a única maneira pela qual os Estados criam obrigações
jurídicas vinculantes de maneira deliberada e consciente.
Definição: tratado é todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito
internacional público, destinado a produzir efeitos jurídicos. Todas as definições da
doutrina atestam o elemento do acordo de vontade, testemunhando a influência das
doutrinas positivistas e voluntaristas. O que é mais relevante é a forma e o processo de
produção, antes do que o conteúdo. O conteúdo, em geral, é indiferente pelo direito
internacional.

3 tratados relevantes sobre tratados internacionais: CV de 1969 (tratados entre Estados);


Convenção de 1986 (entre OIs e entre OIs e Estados) e Convenção de 1978 sobre
sucessão de Estados em relação aos tratados.
Artigo 2 par. 2 CV 1969 define o tratado como “acordo internacional concluído entre
Estados na forma escrita e regido pelo direito internacional, seja se for contido em um
único instrumento ou em dois ou mais instrumentos relacionados e qualquer for sua
denominação”. Os tratados orais não são contemplados, mas isso não significa que os
mesmos não possam ter efeitos, mas simplesmente que a CV não os contempla.
Denominação: várias expressões. Acordo, compromisso, concordata, acordo de sede,
pacto, convenção, protocolo, carta, ajuste, estatuto, memorando, arranjo, entre outras.
Algumas palavras (concordata, acordo de sede) se referem a tratados específicos, mas
em geral trata-se de acordo de vontades entre sujeitos de direito internacional que
estipulam direitos e obrigações.

Elementos da formalidade, conclusão, atores, efeitos jurídicos (não são tratados os


gentleman’s agreements – veja Carta do atlântico de 1941 e Conferência de Yalta de
1945, pactos entre estadistas sem efeitos jurídicos).

Classificação dos tratados: forma (número, qualidade das partes e extensão do


procedimento adotado): bilateral/multilateral; aberto ou fechado à entrada de novos;
solene/simplificada.
Matéria: natureza das normas (tratado-lei; tratado-contrato); matéria geral/específica
(Carta da ONU e protocolo de Kyoto).

Condição de validade dos tratados:


1) Capacidade das partes contratantes: só sujeitos de DI. Estados, Ois, Estados
federados quando permitido pela constituição e Santa Sé;
2) Habilitação dos agentes signatários: representantes dos Estados para adoção ou
autenticação de texto de tratado ou para expressar consentimento do Estado
demonstram capacidade por meio da apresentação da carta de plenos poderes
(assim chamados plenipotenciários). Artigo 7: exceções de quem não deve
apresentar essa carta.
3) Consentimento mútuo: adoção de texto de tratado deve ser fruto do
consentimento dos Estados. Em caso de tratados multilaterais, negociados em
uma conferência internacional, a adoção se efetua pela maioria dos 2/3 dos
Estados, a menos que pela mesma maioria, não se queira adotar uma regra
diferente. Artigo 11: consentimento do Estado pode manifestar-se por assinatura,
troca dos instrumentos constitutivos do Tratado, ratificação, aceitação,
aprovação e adesão. Vontade livre de vícios.
4) Formalidade: não existem requisitos formais obrigatórios. Tratados podem ser
orais, em um único instrumento ou em mais.
5) Objeto lícito e possível: o consenso de vontade deve visar uma coisa
materialmente possível e permitida pelo direito. Conceito de jus cogens. Artigo
53 e 64 CV.

Execução tratado no espaço: artigo 29 CV (presunção a aplicação do tratado em


todo o território de um Estados). Exceção: cláusula colonial (inaplicabilidade de
tratados a territórios ultramarinos).
Processo de conclusão de um tratado:

Não é o d. internacional que estabelece qual é o órgão de um Estado capacitado a


concluir tratados, mas o direito constitucional de cada Estado. Exemplo: no Reino
Unido, prerrogativa da coroa; no Brasil, prerrogativa do executivo. Artigo 84, ƒ8 CF
brasileira (prerrogativas do presidente da república).
Artigo 46 CV: um Estado não pode reclamar que a violação de uma norma do seu
direito interno que diz respeito à sua competência constitui uma razão para invalidar
seu consentimento ao tratado no direito internacional a menos que a violação não
fosse manifesta ou não dissesse respeito a uma regra de direito interno de manifesta
importância. Manifesta (evidente de forma objetiva a qualquer Estado que se
comporta conforme a prática normal). Conexão com artigo 27 CV (não poder
invocar o direito nacional como fundamento para não executar as obrigações de um
tratado). Artigo 7 CV: pessoa autorizada se possui plenos poderes ou aparece pela
prática estatal que a pessoa representa o Estado e era entendido dispensá-la dos
plenos poderes. Artigo 8 CV: tratado carece de efeito legal se foi feito por uma
pessoa não autorizada a menos que o Estado ratifique sucessivamente essa situação.
Negociação: fase pré-jurídica; troca de carta de plenos poderes; adoção de um texto.
Negociações feitas no território de um dos estados contratantes ou de um Estado
terceiro.
Assinatura: autentica-se o texto adotado. Aponta a intenção de se querer tornar parte
ao tratado, sem geralmente estabelecer consentimento para ser vinculado aos termos
do tratado, a menos que não se preveja diferentemente no tratado. Alguns tratados
entram em vigor pela simples assinatura (acordos executivos) onde se reconhece o
poder de vincular o Estado internacionalmente ao executivo. Geralmente as próprias
constituições preveem quando é possível concluir tratados na forma simplificada.
Algumas questões importantes requerem ratificação que no Brasil acontece após que
o tratado passa nas duas câmaras do parlamento.
Ratificação: ato formal e solene por parte do Chefe de Estado pelo qual se indica seu
consentimento em estar submetido a determinado tratado. Não se trata de mera
formalidade, é um passo fundamental para que o Estado seja vinculado ao tratado
em nível internacional. No caso em que deva haver-se ratificação para o tratado
entrar em vigor, na fase entre assinatura e ratificação, o Estado deve abster-se de
qualquer prática que possa frustrar o objeto ou finalidade do mesmo tratado (artigo
18 CV), expressão da conduta em boa-fé.

Procedimento no Brasil
Negociação; assinatura, ratificação, troca/depósito

Ratificação: MRE (exposição de motivo); Gabinete da presidência (mensagem ao


congresso nacional); exame do tratado pela câmara dos deputados e senado. Antes
de chegar aos plenários, o instrumento passa pelas comissões de constituição e
justiça, de relações exteriores e por comissões especializadas. Decreto legislativo
assinado pelo presidente do Senado e publicado no diário oficial da União.
Uma vez publicado o DL, procede-se à ratificação junto as outras partes
contratantes. Ratificação como processo pelo qual os atos são postos em vigor
internacionalmente. Ato discricionário do presidente. Nos tratados bilaterais, troca
de notas ou de instrumentos de ratificação. Nos tratados multilaterais, depósito de
uma carta de ratificação junto ao país ou órgão multilateral depositário que se
incumbe de notificar o fato aos demais signatários. Entrada em vigor depende em
geral do cumprimento de alguns requisitos, como, o número de certas ratificações.
Promulgação: validade e executoriedade do ato internacional no ordenamento
brasileiro. Promulgação do decreto executivo por decreto do presidente e publicação
no DOU. A partir disso, se há vigência interna do tratado.
Registro nas Nações Unidas: artigo 102 Carta ONU: os atos internacionais
bilaterais, após entrarem em vigor, são encaminhados pela divisão de atos
internacionais à missão do brasil junto à onu para serem registrados junto ao
secretariado da ONU. No caso de atos multilaterais, o registro cabe ao depositário.
Promulgação e publicação no DOU é fase para que o tratado obrigue internamente.
Registro na ONU não é requisito imprescindível mas serve para poder invocar o
tratado perante qualquer órgão da ONU.

Adesão: Estado que não participou das negociações, pode entrar a fazer parte de um
tratado por meio de adesão ou aceitação feita junto à organização ou estado
depositário. Pode aderir por adesão apenas quando o Tratado prevê essa hipótese ou
as partes concordarem.

Estrutura: preâmbulo e parte dispositiva. Preâmbulo: finalidade do tratado e partes


contratantes. Parte dispositiva: artigos. Anexos eventuais

Reservas: (artigo 2.1 e 19-23 CV)

Reserva ato unilateral por meio do qual um Estado expressa no momento do


consentimento de querer excluir ou modificar o efeito jurídico de uma disposição do
tratado. Reservas devem ser feitas por escrito e notificadas aos outros Estados.
Ficam anexas ao tratado. Artigo 19: possibilidade de reservas se o tratado não as
proíbe, se aquela reserva específica não é proibida e se a reserva não é contrária ao
objeto e finalidade do tratado (Referência ao parecer da CIJ de 1951). Não é
necessária a aprovação da reserva se a reserva é permitida pelo tratado. Existem dois
tipos de objeções às reservas: simples e qualificada. Simples (art. 21 CV):
disposições objeto da reserva não se aplicam entre o estado que fez a reserva e o
objetor; qualificada (art. 20 4b): o tratado não entra em vigor.
Reserva tida como aceita se não foi levantada objeção em 12 meses.
Tanto a reserva, quanto aceitação e objeção devem ser feitas por escrito e
comunicadas aos demais Estados (artigo 23). Se uma reserva foi feita no momento
da firma, deve ser confirmada em momento sucessivo (ratificação).
É possível retirar a reserva e a objeção.

Efeitos de tratados sobre terceiros Estados (artigo 34-38 CV):


Princípio geral: efeitos entre as Partes.
Exceções: quando as normas estabelecidas por tratado entram a fazer parte do
direito costumeiro; artigo 35 obrigação pode surgir para terceiro se as partes
entenderem ou se o terceiro estado aceita; artigo 36 criação de um direito para
terceiro, se a partes assim consentirem e se o terceiro aceita de forma implícita.
Consentimento de terceiro é presumido; criação de situações objetivas: tratados
sobre limites têm efeitos de exortação ao reconhecimento (os outros Estados
modificam a cartografia da região).
Tratado que provoca prejuízos a terceiro estado: estado tem direito a protestar e
procurar reparação; prejuízo de meros interesses, recurso em via diplomática; se
tratado tiver consequências favoráveis, estado não tem direito de exigir a execução.

Interpretação (artigo 31-33 CV)

Regra geral: interpretação em boa-fé, segundo o sentido comum atribuível aos


termos do tratado em seu contexto e à luz do objeto e finalidade. Contexto
compreende preâmbulos, anexos, qualquer acordo relativo ao tratado feito no
momento da conclusão do tratado, qualquer acordo sucessivo acerca da
interpretação e a prática.
Meios complementares: trabalhos preparatórios e circunstâncias de conclusão de
tratado, utilizáveis para confirmar o resultado resultante da aplicação dos métodos
anteriores ou quando da intepretação assim feita, o significado permanece obscuro e
ambíguo ou quando leva a um resultado evidentemente absurdo e não razoável.
Artigo 26: tratado é vinculantes sobre as partes e deve ser executado de boa-fé.
Expressão do princípio do pacta sunt servanda. A não execução comporta
responsabilidade do Estado.

Conflito entre tratados (artigo 30 CV)


Em caso de tratados bilaterais, se os Estados concluírem um tratado sucessivo
incompatível com o anterior, o tratado mais recente prevalece sobre o antigo.
Quando o tratado anterior não tenha sido terminado ou sua aplicação suspensa, o
tratado anterior se aplica só na medida da sua compatibilidade com o posterior.
Questão de interpretação.
Em caso de multilaterais, quando as partes de um tratado anterior não são as
mesmas de um posterior:
- nas relações entre as mesmas partes, o tratado anterior se aplica conforme
compatibilidade com o posterior;
- nas relações entre partes a ambos tratados e parte a um tratado só, rege a situação o
tratado do qual os estados são partes.

Nulidade (artigos 46-50; 51-53)

Relativa e absoluta: relativa é levantada pelo Estado interessado; absoluta comporta


que o tratado é nulo ab inicio.
Artigo 46: desrespeito do direito nacional; artigo 47 os agentes agiram fora das
instruções; artigo 48 erro, que deve ser de fato e não de direito, sem ter acontecido
graças a contribuição da parte; 49 dolo e 50 corrupção;
Artigo 51: coerção de um representante estatal, 52 coerção do Estado e 53 violação
de normas de ius cogens.
Artigo 52: coerção do Estado decorrente de ameaça ou uso da força. Antes não era
ilícito pois a guerra não era considerada ilícito internacional. Violação de normas de
ius cogens (normas peremptórias de direito internacional) artigo 53 e 64 normas
supervenientes.

Extinção de tratados (artigos 54-59 CV)

Por vontade das partes e por circunstâncias não previstas;

1) execução integral do tratado: quando se alcança o objeto.


2) expiração de prazo convencionado.
3) acordo mútuo entre as partes.
4) condição resolutória que se verifica
5) denúncia ou retirada
6) impossibilidade da execução (destruição ou desaparição permanente do objeto
indispensável à execução)
7) violação substancial do tratado
8) guerra sobrevinda entre as partes
9) cláusula rebus sic stantibus: superveniência de fatos não previstos. Alteração
fundamental de circunstâncias essenciais ao consentimento e que altera radicalmente
o alcance das obrigações.
10) tratados supervenientes.

Artigo 65 CV: Estado quando quer denunciar, suspender ou alega ter sofrido um
vício deve notificar às demais partes. 3 meses para as partes objetarem. Se uma das
partes levantar objeção: solução conforme artigo 33 da Carta da ONU (meios
pacíficos de solução de controvérsias); se nos 12 meses sucessivos não se alcança
solução, se se trata de nulidade por norma de ius cogens ou norma superveniente,
recurso a CIJ ou arbitragem. Outros casos instauração de um procedimento
conciliatório com a ajuda do secretário da ONU.

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