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Exames de Direito Internacional Publico

Exame de época normal 9/1/2018

I- Dê uma noção sucinta de:


1. Alteração fundamental e circunstâncias:
Alteração fundamental de circunstâncias ou cláusula rebus sic stantibus é uma
das causas de extinção ou suspensão da vigência das convenções internacionais. A
ratio deste instituto é a de evitar sacrifícios ou prejuízos injustos para uma das partes
numa convenção internacional, termos em que se viola o princípio da
proporcionalidade. De acordo com o disposto no art. 62.º CVT, a cláusula rebus sic
stantibus apenas pode ser invocada mediante o preenchimento de dois requisitos: 1)
terá de ser essencial ou fundamental, no sentido de haver sido a base essencial para
o consentimento das partes; 2) a alteração das circunstâncias deverá ter gerado uma
transformação radical da natureza das obrigações assumidas no tratado e,
consequentemente, violará o princípio da proporcionalidade. De qualquer modo, nos
termos do regime jurídico previsto na CVT, a alteração fundamental de circunstâncias
não pode ser invocada em convenções que criem situações objetivas (art. 62.º, n.º 2,
alínea a))
II- Distinga:
1. Veto e duplo veto (no Conselho de Segurança da ONU)
Veto e o duplo veto inserem-se no procedimento de votação do Conselho de
Segurança (CS) das Nações Unidas (ONU). Nos termos do art. 27.º da Carta da ONU, o
CS delibera por maioria qualificada de nove votos, sendo que este órgão é constituído
por quinze membros (5 membros permanentes – EUA, Rússia, Reino Unido, França e
China – e dez não permanentes). No caso de votação de uma questão material no CS
da ONU, a Carta exige que, de entre os 9 votos, 5 sejam dos membros permanentes.
Daí que, neste tipo de votação, qualquer dos membros permanentes do CS possua o
poder de paralisar uma decisão, ou seja, de a vetar. Já no que respeita ao duplo veto,
este ter a ver com a qualificação de uma questão a ser votada no CS. Com efeito, a
qualificação de uma questão como sendo de natureza material ou processual é, em si
mesma, uma questão material, o que leva a que, na realidade, os membros
permanentes do CS possuam um duplo poder de se oporem, ou seja, um duplo veto.

2. Normas de costume e regras de cortesia internacional


O costume é uma das fontes do direito internacional, previsto no art. 38.º do
ETIJ, sendo constituído por dois elementos, a saber: o elemento
fático/material/objetivo/consuetudo (prática reiterada de um comportamento) e o
elemento psicológico (convicção da obrigatoriedade desse comportamento). Trata-
se, portanto, de uma norma jurídica. Diferentemente, nas regras de cortesia
internacional (comitas gentium), não se verifica este segundo elemento – o
psicológico -, pelo que, apesar de serem regras que disciplinam as relações
internacionais, não são normas jurídicas.

III- Comente a seguinte afirmação:


1. «As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa têm um valor
supralegal»
A afirmação é verdadeira. Com efeito, as convenções internacionais recebidas
na ordem jurídica portuguesa, nos termos do n.º 2 do art. 8.º da CRP (isto é, vigorando
automaticamente nesta ordem jurídica - sistema de recepção automática
condicionada-, pois estão apenas sujeitas a publicação no jornal oficial Diário da
República), têm, na hierarquia das normas internas, um valor superior ao das leis.
Apesar de tal não estar estatuído no citado art. 8.º da CRP, a doutrina e a
jurisprudência têm apontado esse valor supralegal das normas convencionais sobre
as normas legais, desde logo porque se tal não se verificasse, e aplicando a regra geral
do direito de que “lei posterior derroga lei anterior”, ao serem emanadas leis
contrárias a convenções internacionais celebradas, as regras convencionais
perderiam a sua validade na ordem jurídica interna, o que, claramente, contrariaria o
espírito do n.º 2 do art. 8.º da CRP, que pretende dar uma grande eficácia às
convenções internacionais celebradas por Portugal, manifestando, dessa forma, uma
clara amizade para com o direito internacional.

IV- Considere a seguinte hipótese:


O Estado A e o Estado B concluíram, em 2016, uma convenção internacional
destinada a prevenir a poluição e a regular a utilização conjunta do rio internacional x,
que atravessa os respetivos territórios.
Entretanto, em 2017, um terramoto de média intensidade provocou sérios danos na
estrutura de uma fábrica de pesticidas e outros químicos, situada no território do Estado
A, junto a uma das margens do rio x, o que originou um forte derrame de substâncias
poluentes nas águas desse curso de água e, consequentemente, o incumprimento, por
parte de A, do tratado de 2016.
Dias mais tarde, eram já percetíveis os danos ambientais produzidos no Estado
vizinho B. Confrontado com um pedido de reparação subsequente, A, invoca, porém,
um estado de necessidade como circunstância exoneratória da sua responsabilidade.
Pretendendo ver declarada a ilicitude do comportamento de A, B decide então
intentar uma ação contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, ciente, no entanto,
que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, A havia
excluído os litígios relativos ao domínio fluvial do âmbito da sua aceitação da
competência do Tribunal.
Quid juris, do ponto de vista da responsabilidade internacional do Estado e do
funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça?

Estamos perante uma convenção internacional bilateral, isto é, um acordo celebrado


entre o Estado A e o Estado B.
A fim de tentar solucionar o caso apresentado há que ter em conta vários
instrumentos normativos internacionais, nomeadamente: a Convenção de Viena sobre
Direito dos Tratados (CVT), o Projeto de Artigos sobre Responsabilidade Internacional do
Estados da Comissão das Nações Unidas (“Draft Articles”) e o Estatuto do Tribunal
Internacional de Justiça (ETIJ).
Importa, desde logo, perceber se o Estado A pode invocar o “estado de necessidade”,
no âmbito da responsabilidade internacional, como causa de exclusão da ilicitude, em
virtude do não cumprimento do tratado celebrado em 2016, uma vez que, segundo a CVT,
um dos princípios que rege as convenções internacionais é o princípio Pacta sunt servanda
(art. 26.º CVT).
Para se verificar responsabilidade internacional de um Estado têm que ser
preenchidos os respetivos pressupostos, a saber: (1) prática de um facto
internacionalmente ilícito (no caso vertente violação de uma obrigação internacional, em
virtude de uma omissão – não cumprimento de uma convenção internacional) – art. 2.º
dos “Draft Articles”; 2) nexo de imputação do facto ao Estado; (3) ocorrência de danos
(materiais ou morais); (4) nexo de causalidade entre o comportamento e os danos.
Houve, efetivamente, a violação de uma obrigação internacional de origem pactícia
(art. 12.º dos “Draft Articles”).
O Estado A invoca o “estado de necessidade” (uma das causas de exclusão da ilicitude
previstas nos “Draft Articles” – art. 25.º). Não parece, contudo, que estejam preenchidos
os requisitos para a invocação desta causa de exclusão da ilicitude, na medida em que,
contrariamente ao disposto nesse preceito, a invocação desse “estado de necessidade”
afecta gravemente o Estado B, em virtude do não cumprimento da convenção celebrada
em 2016. Ou seja, a situação apresentada não preenche os requisitos previstos no art.
25.º para a invocação dessa causa de exclusão da ilicitude. O Estado A deveria ter invocado
uma outra causa de exclusão da ilicitude, prevista nos “Draft Articles” – a “força maior”
(art. 23.º). Com efeito, dispõe essa norma que “A ilicitude de um ato de um Estado em
desacordo com uma obrigação internacional daquele Estado será excluída se o ato se der
em razão de força maior, entendida com a ocorrência de uma força irresistível ou de um
acontecimento imprevisível, além do controle do Estado, tornando materialmente
impossível, nesta circunstância, a realização da obrigação”. Foi o que, nesta particular
situação, se verificou. Relativamente ao funcionamento do Tribunal Internacional de
Justiça, o artigo 34º do ETIJ confere legitimidade ativa e passiva a Estados no exercício da
competência contenciosa do tribunal. Por isso, há legitimidade das partes. É, ainda,
referido no enunciado que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição
obrigatória (art. 36.º ETIJ), o Estado A havia excluído “os litígios relativos ao domínio
fluvial”. Poder-se-á questionar se, efetivamente, o caso configura um litígio relativo ao
domínio fluvial. Não parece que a resposta seja afirmativa. Nesse sentido, o tribunal é
competente para decidir. No entanto, se se entendesse que se tratava de uma situação
em que o tribunal era incompetente estar-se-ia perante um incidente processual, que
poderia ser suscitado ex officio pelo Tribunal. Tratar-se-ia de uma exceção preliminar,
consubstanciada na (in)competência do Tribunal para julgar esta causa.
Exame de época de recurso 31/1/2018

I- Dê uma noção sucinta de:


1- Receção semi-plena:
Trata-se de uma das técnicas de incorporação do Direito Internacional no Direito
Interno. A receção semi-plena corresponde a um sistema misto de incorporação (ou seja,
conjugação de teses monistas e dualistas), que assenta numa distinção entre as normas
internacionais recebidas na ordem interna. Assim, há uma diferenciação consoante o tipo
de norma internacional a receber, sendo que para determinadas matérias a sua vigência
é automática e para outras exige-se a transformação.
II- Distinga:
1- Organização internacional intergovernamental e supranacional
As Organizações Internacionais são sujeitos de DIP, com uma capacidade limitada pelo
princípio da especialidade (em virtude do carácter funcional da sua personalidade
jurídica), embora haja, cada vez mais, a sua proliferação na comunidade internacional. De
entre os tipos de organização internacional podemos distinguir, no que respeita à sua
estrutura jurídica e competências, as organizações intergovernamentais (as mais
clássicas), em que há uma mera coordenação entre as soberanias dos Estados que as
compõem; e as organizações supranacionais, em que os Estados que as compõem alienam
parte das suas competências soberanas (por isso, se dizem organizações de integração,
na medida em que estabelecem vínculos de subordinação). O caso mais desenvolvido é o
da União Europeia (UE), embora, por exemplo, o MERCOSUL também configure uma
organização de tipo supranacional.
Consequentemente, nas organizações supranacionais, a estrutura orgânica é similar à
estadual (órgão legislativo, com poder para emanar normas gerais e abstratas,
obrigatórias para os Estados-membros; órgão/órgãos executivos – na verdade, muitas
vezes o executivo é aqui bicéfalo –; e órgão judicial, com competência obrigatória),
refletindo o facto de possuírem competências soberanas, típicas dos Estados, como já se
afirmou. Esse tipo de competência reflete-se, também, no modo como estas organizações
exercem as suas funções, em regra por maioria, na medida em que o fazem em nome
próprio e não como meros representantes dos Estados, adotando atos que são
obrigatórios para os Estados-membros.

2- Mediação e conciliação
A mediação e a conciliação são meios não jurisdicionais de resolução de conflitos, que
exigem a intervenção de um terceiro (cfr., art. 33.º Carta da ONU). Todavia, enquanto na
mediação (bons ofícios), a intervenção do terceiro é apenas para propor soluções no
sentido de dar seguimento às negociações e encaminhar um conflito para o seu termo, a
conciliação é um meio mais complexo, que requer maior formalidade, podendo afirmar-
se que se trata de um meio quase-jurisdicional. Na conciliação, através da intervenção de
um terceiro, podem distinguir-se duas fases (1ª fase de investigação dos factos relevantes
e 2.ª fase de proposta de solução). De qualquer modo, há sempre lugar à
discricionariedade das partes quanto à aceitação da solução proposta, uma vez que o
terceiro apenas faz recomendações.
III- Comente a seguinte afirmação:
1. «O funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça assenta no princípio da
consensualidade».
O órgão judiciário das Nações Unidas – Tribunal Internacional de Justiça (TIJ)
– possui dois tipos de competência – a consultiva e a contenciosa.
Quando se afirma que o funcionamento do TIJ assenta no princípio da
consensualidade pretende aludir-se à competência contenciosa do Tribunal, que é,
em princípio, facultativa. Daí que a afirmação esteja correta, na medida em que o
princípio da consensualidade assenta na ideia de uma aceitação voluntária das partes
e, no caso do TIJ, os Estados são estão sujeitos à competência deste órgão se assim o
convierem (art. 36., n.º 1 ETIJ). Com efeito, seja por acordo especial, fórum
prorrogatum ou subscrição de uma cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, a
verdade é que se exige sempre o consentimento dos Estados que venham a ser
julgados por este órgão.
No caso de acordo especial, perante um conflito, as Partes acordam recorrer
ao TIJ para que este órgão aprecie e resolva o litígio. Diz-se que há forum prorrogatum
quando em causa está um comportamento do Estado demandado em que este
manifesta uma aceitação tácita da competência do TIJ.
Mas, também, nas situações em que o TIJ detém uma competência quase
obrigatória se verifica a necessidade do consentimento (nestes casos, antecipado) dos
Estados para que o TIJ possa intervir. Referimo-nos à celebração de convenções
bilaterais ou multilaterais, em que as Partes reconhecem como obrigatória a
competência do TIJ em eventuais litígios que venham a ocorrer ou mesmo na,
aparentemente paradoxal, hipótese de subscrição da cláusula facultativa de jurisdição
obrigatória, nos termos do art. 36.º, n.º 2 do ETIJ. Nesta última situação, os Estados,
unilateralmente, através de uma notificação enviada ao Secretário-geral da ONU,
declaram aceitar a jurisdição obrigatória do TIJ em todos os litígios jurídicos.
Assim, pode comprovar-se que, embora as situações em que o TIJ possa ser
chamado a intervir variem, é sempre necessário o consentimento, antecipado ou a
posteriori, das Partes. Daí a ideia da consensualidade.

IV – Considere a seguinte hipótese:


O Estado A e o Estado B concluíram, em 2015, uma convenção internacional na que
estabeleceram os termos e as condições da construção de um túnel, com a extensão de 10
Km, destinado a ligar os respetivos territórios, na zona montanhosa X.
Dois anos após o início dos trabalhos, B pretende que seja anulado o referido
tratado, alegando que, durante as negociações conducentes à sua conclusão, o
representante oficial de A, ocultou do seu homólogo, plenipotenciário de B, um estudo
técnico que desaconselhava a localização escolhida para o aludido túnel, porquanto as
formações rochosas aí detetadas fariam disparar os custos estimados da sua construção, na
parte de que ficara incumbido o Estado B.
Mais aduz B que o tratado foi ratificado pelo seu Chefe de Estado, após haver sido
aprovado pelo órgão parlamentar nacional sem que tenham sido cumpridos todos os
requisitos formais constitucionalmente previstos.
A, por seu turno, sustenta não assistir qualquer razão a B e que, de qualquer forma,
já expirou o prazo para arguir a invalidade da convenção concluída em 2015.
Quid juris, do ponto de vista da validade das convenções internacionais?
As convenções internacionais possuem três requisitos de validade, a saber:
capacidade das partes, regularidade do consentimento e licitude do objeto. No que
respeita à capacidade das partes, não parece levantarem-se quaisquer problemas, uma vez
que estamos perante dois Estados – e como tal sujeitos de DIP – tendo, ao que se presume,
havido representação adequada (cfr., art. 7.º CVT). Relativamente ao objeto, também parece
que não se levantam problemas, uma vez que é lícito um acordo entredois Estados para a
construção de um túnel.
O mesmo já não pode ser afirmado no que toca à regularidade do consentimento,
uma vez que, do enunciado, resultam dois vícios, um de natureza material e outro de cariz
formal.
Relativamente a este último, diga-se que, como regra, nos termos do art. 27.º da CVT,
“Uma Parte não pode invocar as disposições do seu direito interno para justificar o
incumprimento de um tratado”. Esta regra pode ser excecionada se “essa violação tiver sido
manifesta e disser respeito a uma norma de importância fundamental do seu direito interno”
(art. 46.º CVT). Ou seja, à partida uma irregularidade formal de direito interno não pode ser
invocada no plano internacional. Ora, no enunciado afirma-se que “o tratado foi ratificado
pelo seu Chefe de Estado, após haver sido aprovado pelo órgão parlamentar nacional sem que
tenham sido cumpridos todos os requisitos formais constitucionalmente previstos”. Assim,
parece não haver lugar à possibilidade de aplicação do disposto no art. 46.º da CVT. Caso
diverso seria se se afirmasse que o tratado havia sido ratificado sem ter havido o acto de
aprovação, caso em que se verifica o que no direito internacional se designa por “ratificação
imperfeita”.
Quanto ao vício de natureza material – vício do consentimento – a situação
apresentada parece indiciar a existência de dolo (art. 49.º CVT). Com efeito, diz-se que
“durante as negociações…o representante oficial de A, ocultou do seu homólogo…um estudo
técnico que desaconselhava a localização escolhida para o aludido túnel, porquanto as
formações rochosas aí detetadas fariam disparar os custos estimados da sua construção, na
parte de que ficara incumbido o Estado B”, isto é, a ocultação do citado estudo assentou numa
atitude fraudulenta de A que, assim, conseguiu a celebração do tratado com claras vantagens
económicas para o seu Estado, em detrimento de B, ou seja, com a clara intenção de enganar
a contraparte. O dolo gera a nulidade relativa da Convenção Internacional.
Nestes termos, só a parte vítima pode invocar o vício (o que no caso se verifica); sendo
possível a sanação (expressa ou tácita) deste vício (art. 45.º CVT) e a divisibilidade extintiva
das disposições do tratado (art. 44.º/2 a 4 CVT).
No que respeita ao prazo, não assiste razão a A, uma vez que, contrariamente ao
regime geral da anulabilidade (ao qual se poderia equivaler a nulidade relativa), não há
qualquer prazo de caducidade para as partes arguirem a invalidade. De resto, o regime
previsto na CVT não é claro, nem totalmente equivalente ao regime geral das invalidades de
direito interno.
De qualquer modo, deve salientar-se que, neste caso em concreto, não é exequível a
divisibilidade extintiva das disposições do tratado, uma vez que não se verificam os requisitos
do art. 44.º/3 da CVT, e que, havendo já decorrido dois anos desde a celebração do tratado, o
Estado B (desde que tenha tido conhecimento do dolo logo em 2015) perderia o direito de
arguir a respetiva invalidade, em virtude da sanação tácita.

Exame de época normal 9/1/2017

I- Dê uma noção sucinta de:


1. Receção automática condicionada:

No âmbito das técnicas de incorporação do DI na ordem jurídica interna,


apresenta-se, como uma possível solução positiva, a receção automática condicionada,
segundo a qual, à luz de uma conceção monista moderada, as normas de DI passam a
vigorar internamente enquanto tais, embora a sua vigência esteja condicionada ao
cumprimento de algumas formalidades impostas pelo direito interno, como a prévia
aprovação/ratificação por órgãos do Estado e/ou publicação oficial (art.º 8/2 CRP).

II- Distinga:
1. Conciliação e arbitragem:

Conciliação e arbitragem são meios pacíficos, com a intervenção de terceiros, para


solução de controvérsias no plano internacional que dependem de prévio compromisso
entre as partes envolvidas.
Diferenciam-se no sentido de que a conciliação apresenta-se como um meio quase
jurisdicional de solução de conflitos, em que a comissão de conciliação, para alem da
analise e assentamento dos factos, apresenta uma proposta de solução (interpretação e
aplicação do direito em concreto) que, porém, não é vinculativa nem obrigatória às partes,
as quais, assim, conservam a liberdade de auto composição do conflito, ao passo que na
arbitragem, como um meio de natureza jurisdicional, a proposta de solução jurídica do
conflito é vinculativa, obrigatória e definitiva, cujo cumprimento, portanto, afigura-se
cogente às partes em conflito.

2. Erro e dolo enquanto vícios dos tratados:

Erro e dolo são vícios substantivos de consentimento que ensejam a nulidade


relativa das CI, configurando-se ambos quando factos ou situações que o estado supunha
existir no momento em que o tratado foi concluído e que constituíam uma base essencial
do seu consentimento não se refletem na realidade. O erro, conforme o art.º 48/2 da CVDT,
não se aplica quando o referido Estado contribuiu para o erro com a sua conduta ou
quando as circunstancias forem tais que ele devia ter-se apercebido da possibilidade do
erro, enquanto no dolo, ao revés, a representação incorreta da realidade derivada da
conduta fraudulenta de um outro Estado que participou na negociação (art.º 49 CVDT).
Ainda, distinguem-se os vícios no que concerne à divisibilidade extintiva, sendo ela, quando
preenchidos os requisitos arrolados no art.º 44 da CVDT, obrigatória no erro e facultativa
no dolo, em razão da ausência e da presença, respetivamente, de má-fé.
III- Comente a seguinte afirmação:
1- “No CS da ONU o veto por vezes é um duplo veto”.

Consoante o art.º 27 da CNU, o poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma


decisão unânime dos membros permanentes do CS das NU na votação de uma proposição
envolvendo questões de natureza material. O sistema duplo veto apresenta-se porque a
própria qualificação da natureza da questão a ser discutida – se processual ou material – é
considerada uma questão material e, assim, sujeita a veto dos membros permanentes. Assim,
o poder de veto exerce-se, em primeiro plano, no âmbito da votação acerca da qualificação
da questão e, vindo a ser-lhe atribuída natureza material, apresenta-se nova oportunidade de
exercício do poder de veto (ou duplo veto), já agora no âmbito da votação acerca da a ser
dada à questão de cunho material, sendo de referir que basta um voto negativo de qualquer
dos membros permanentes – e não necessariamente do mesmo – na etapa de qualificação e
na votação da matéria de cunho material e que, por norma costumeira, as abstenções não
configuram voto negativo (veto).

IV- Considere a seguinte hipótese:

O Estado A e o Estado B concluíram, em 2015, uma convenção internacional


destinada a prevenir a poluição e a regular a utilização conjunta do rio internacional x, que
atravessa os respetivos territórios.
Entretanto, em 2016, forças rebeldes que atuam no Estado A e que pretendem
derrubar as autoridades oficiais de governo para ascender ao poder, bombardearam uma
fábrica de pesticidas e outros químicos, situada junto a uma das margens do rio x, o que
originou um forte derrame de substâncias poluentes nas águas desse curso de água e,
consequentemente, o incumprimento, por parte de A, do tratado de 2015.
Dias mais tarde, eram já percetíveis os danos ambientais produzidos no Estado
vizinho B. Confrontado com um pedido de reparação subsequente, A, sustenta, porém, que
não lhe pode ser assacada qualquer responsabilidade pela atuação de grupos rebeldes, que
escapam ao seu controlo, pelo que a situação ocorrida deverá ser levada à conta de força
maior ou caso fortuito (“an act of God”).
Pretendendo ver declarada a ilicitude do comportamento de A, B decide então
intentar uma ação contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, ciente, no entanto, que,
aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, A havia excluído os
litígios relativos a tratados internacionais do âmbito da sua aceitação da competência do
Tribunal.
Quid juris, do ponto de vista da responsabilidade internacional do Estado e do
funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça?

A responsabilidade internacional do estado emerge da conjugação de dois


pressupostos essenciais (ato ilícito e nexo de imputação – art.º 2 do Draft da CDI da ONU sobre
Responsabilidade Internacional dos Estados – DRIE por atos ilícitos), acrescidos, para efeitos
de reparação, dos pressupostos da ocorrência de danos e do nexo de casualidade – os quais,
na resposta, devem ser analisados individualmente à luz do caso enunciado para perquirição
da existência, ou não, da responsabilidade do Estado A.
Relativamente ao primeiro requisito, de facto, o incumprimento, por A, da convenção
internacional resta patente e não é sequer disputado.
No que concerne ao nexo de imputação, para alem da eventual análise da incidência
dos artigos 8º e 10º do DRIE, o incumprimento é imputável ao Estado A (uma vez que a
obrigação era devida por A e este deixou de cumpri-la, respondendo por omissão). Os danos
encontram-se igualmente configurados, colocando-se o problema quanto ao nexo de
casualidade.
Em defesa, A alega que não lhe pode ser assacada qualquer responsabilidade pela
atuação de grupos rebeldes, que escapam ao seu controlo, pelo que a situação ocorrida
devera ser levada à conta de força maior ou caso fortuito. O que, procedente, seria causa de
rompimento do nexo de causalidade entre os danos sofridos e a conduta do Estado A.
Assim sendo, deverão ser analisados argumentativamente à luz do caso concreto os
requisitos no art.º 23 do DRIE para configuração de fortuito ou força maior.
Apresentando-se argumentos robustos em prol da viabilidade da defesa à luz do art.º
23 do DRIE, A não poderá ser responsável civilmente no plano internacional; na hipótese de
entender-se que os requisitos do art.º 23 não estão preenchidos no caso concreto, haverá
nexo de casualidade e, portanto, a há responsabilidade internacional do Estado A.
Relativamente ao funcionamento do TIJ, consoante o artigo 36 do ETIJ, é valida a
exclusão realizada pelo Estado A dos litígios relativos a tratados internacionais do âmbito da
sua aceitação da competência do tribunal (arts. 19 e ss. CVDT).
Contudo, o caso submetido ao TIJ não estaria abarcado pela exclusão realizada por A,
uma vez que versa não sobre tratados internacionais propriamente ditos, mas sobre
responsabilidade internacional do Estado.
Embora a CI celebrada entre A e B seja a fonte obrigatória alegadamente incumprida
por A, a causa de pedir imediata ou próxima é a responsabilidade do Estado – e não a
existência, validade, eficácia e interpretação da convenção.
Portanto, o litígio em questão não se enquadra na exclusão material realizada por A
aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, segundo a qual
reconhece como obrigatória ipso facto e sem acordo especial a jurisdição do TIJ.

Exame de recurso 26/1/2017

I- De a noção de:
1. Organização internacional

As organizações internacionais passaram, no modelo moderno, a ser reconhecidas


como sujeitos de DIP, consubstanciando-se em “associações voluntárias de estados, criadas
por tratado, dotadas de uma estrutura orgânica permanente e possuidoras de uma
personalidade jurídica internacional distinta da dos Estados membros”, que se voltam a
prosseguir objetivos comuns a seus membros a partir de estruturas orgânicas próprias, cujas
competências e poderes associados encontram-se estatutariamente previstos e podem
caracterizá-las como de cooperação ou de integração.
2. Promessa

A promessa, como ato jurídico unilateral (declaração unilateral de vontade de


realizar ou deixar de realizar determinados comportamentos), é passível de criar
direitos e obrigações internacionais, assomando como fonte autónoma do DIP quando
satisfeitos os requisitos da publicidade e seriedade da declaração, voltada à produção
de efeitos jurídicos, tal como jurisprudencialmente reconhecido pelo TIJ (casos dos
testes nucleares no Pacifico Sul).

II- Distinga:
1. Cláusula arbitral e compromisso arbitral

O princípio da vedação do uso à força no plano internacional impõe que sejam


pacificamente resolvidos os conflitos internacionais, assomando a arbitragem como um
dos meios (art.º 33 CNU) – no caso jurisdicional com intervenção de terceiros – disponível
aos sujeitos de DIP para tal efeito. A formação de tribunais ad hoc depende da declaração
de vontade de todos os sujeitos envolvidos na controvérsia (jurisdição facultativa),
apresentando-se a cláusula arbitral e o compromisso arbitral. Diferenciam-se no sentido
de que a cláusula arbitral consubstancia declaração de vontade prévia à existência de
qualquer conflito, integrando materialmente convenções internacionais para prever que
quaisquer controvérsias passiveis de assomarem serão resolvidas por arbitragem. O
compromisso arbitral, ao revés, é firmado após o surgimento do conflito, quando as
partes em conflito decidem submeter a celeuma a um tribunal arbitral e, para tanto,
firmam um acordo (compromisso arbitral) estabelecendo a concordância quanto à
solução arbitral e seus parâmetros.

III- Comente a seguinte afirmação:

«As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa têm um valor


supralegal».

A CRP absorve, à luz do seu art.º 8, uma posição monista com primado do DI com
mitigações relacionadas e dependentes da natureza jurídica da norma de DI, que acabam por
estabelecer um diferente regime jurídico de incorporação e relacionamento hierárquico entre
o direito interno e o direito internacional.
Relativamente ao DI geral, a que se refere o nº 1 do art.º 8 da CRP, a receção é
automática e, mediante interpretação conjugada com o art.º 16, nº2 da CRP, a alocação
hierárquica relativamente ao direito interno é a supraconstitucional. Logo, CI – vg., a DUDH –
que positivem normas de cunho universal/geral de DIP terão não só supralegal, como
supraconstitucional.
No que concerne ao DI Particular, nos termos do art.º 8, nº 2 da CRP, a regra é a da
receção automática condicionada a prévia aprovação, ratificação e publicação e,
hierarquicamente, consoante o posicionamento doutrinário maioritário, da receção com valor
supralegal, mas infraconstitucional (a partir de uma leitura sistemática e conjugada com os
arts. 277º, 278º e 119º CRP).
Embora tais conclusões não sejam pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina
quanto ao valor supralegal do DI convencional, a exemplo de Gomes Canotilho e Vital Moreira,
que colocam na mesma ordem hierárquica as CI e o direito interno ordinário –, uma
interpretação sistemática da CRP parece encaminhar forçosamente a tal solução.
A uma porque tais normas, por mandamento constitucional do art.º 8, nº2, devem
vigorar no plano interno enquanto vincularem internacionalmente o Estado Português,
afigurando-se, como consequência logica, a sua necessária prevalência frente às leis
ordinárias posteriores que, eventualmente, as contrariem, o que só se pode assegurar
mediante a atribuição de valor supralegal; a duas porque, sob uma perspetiva material, a
ponderação de valores em conflito parece pender para tal conclusão, sobretudo à luz de uma
evidente abertura do sistema jurídico português ao DIP (art. 7º e 16º CRP); e, por fim, porque
a prática internacional tem se firmado neste sentido, sendo, ainda, esta posição – a do valor
supralegal das CI – aquela consagrada pelo TC português.

IV- Considere a seguinte hipótese:

Os Estados A e B celebraram, em 2014, uma convenção internacional, através da


qual o Estado A se comprometia a reduzir em 40% os impostos e taxas de importação de
produtos lácteos, proteínas bovinas e avícolas provenientes do Estado B, devendo este, em
contrapartida, reduzir em 20% os impostos e taxas de importação de produtos informáticos
e eletrónicos exportados por nacionais do Estado A.
Entretanto, em 2015, o Estado A teve conhecimento de uma Convenção
Internacional celebrada entre B e C, mediante a qual B se comprometia, relativamente aos
mesmos produtos informáticos e eletrónicos, a reduzir em 40% os seus impostos e taxas de
importação.
Inconformado, A decide então suspender unilateralmente o cumprimento da
convenção internacional celebrada com B, alegando que o representante de B,
dolosamente, omitiu, aquando das respetivas negociações, a existência da referida
convenção mais vantajosa, celebrada entre B e C.
Em face disso, a empresa XPTO Informática S.A., nacional do Estado A e exportadora
de produtos informáticos para o Estado B, intenta uma ação no Tribunal Internacional de
Justiça para ver reconhecida a responsabilidade internacional do Estado B e,
consequentemente, ser reembolsada pela diferença de 20% de todos tributos de
importação por si pagos a B.
Quid juris, do ponto de vista da validade e efeitos das convenções internacionais, da
responsabilidade internacional do Estado e do funcionamento do Tribunal Internacional de
Justiça?

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, em seu artigo 49º, consagra, como
vício material de consentimento a ensejar a nulidade relativa das CI, o dolo, quando um Estado
tenha sido induzido a concluir um tratado por conduta fraudulenta de um outro Estado que
participou na negociação.
Para tanto, deve estar demonstrada, no caso concreto, a intenção ou consciência de
estar a induzir prejudicialmente a outra parte na formação da base essencial do seu
convencimento e, assim, uma conduta, comissiva ou omissiva, fraudulenta (destinada a
enganar/convencer/dissuadir, culminando numa representação inexata da realidade por
parte do representante do Estado vitima).
No caso enunciado, o Estado A alega que o representante de B, dolosamente, omitiu,
aquando das negociações, a existência de uma convenção mais vantajosa celebrada entre B e
C. Sucede que em sua vertente omissiva, a configuração de dolo depende da existência do
dever jurídico de informar aquilo que, afinal, foi ocultado no curso das negociações, bem como
da analise das circunstancias do caso para identificar-se, por diligencia normal, o Estado vítima
sabia ou deveria saber a informação ocultada.
Diante disso, não está configurado o dolo no caso concreto, uma vez que os Estados,
normalmente, podem celebrar convenções internacionais com outros Estados e possuem
ampla margem de discricionariedade para conferir maiores ou menores vantagens a uma ou
outra contraparte, não se lhes impondo um dever de conceder tratamento idêntico entre os
Estados (Estado A e C, neste caso), tampouco e em consequência, um dever jurídico de
informar aos Estados com os quais negoceia a existência e termos de todas as convenções
internacionais que tenha celebrado com os demais Estados.
Ademais, o Estado A, ao negociar uma convenção sobre matéria de comércio
internacional com B, deveria e tinha plenas condições de, no âmbito da diligência normal,
informar-se sobre os demais tratados celebrados por B.
Logo, o vicio não se encontra configurado, embora seja possível argumentar, no limite,
que, na hipótese de ter o Estado A questionado diretamente a existência de outros tratados
mais vantajosos para ponderar a necessidade ou não de incluir na convenção uma clausula de
nação mais favorecida e ter recebido resposta negativa pelo representante de B, poderia
colocar-se a nulidade relativa da convenção.
Independentemente disso, com base no princípio da relatividade dos efeitos dos
tratados (art.º 34 da CVDT) e não mencionando o enunciado a existência, na convenção
celebrada entre A e B, de cláusula de nação mais favorecida – pelo contrário, a conduta de A
indica a inexistência desta cláusula -, os termos da convenção celebrada entre B e C não
podem ser aplicadas a A (e, assim, à empresa XPTO).
Por conseguinte, não há fundamentos para configuração da responsabilidade
internacional de B, que pressupõe a ocorrência de um ato ilícito imputável ao Estado cujos
efeitos diretos e imediatos sejam danos a outrem, porquanto não foi praticado qualquer ato
ilícito por B tampouco existem direitos a A ou a empresa XPTO de valer-se dos termos da
convenção de que o Estado C é parte.
Relativamente ao funcionamento do TIJ, o art.º 34 do ETIJ confere legitimação ativa e
passiva somente a Estados no exercício da competência contenciosa do tribunal, resultando
em que uma empresa não possua legitimidade para propor uma ação contenciosa no TIJ, razão
pela qual, ex officio ou mediante uma exceção preliminar rationae personae suscitada por B,
a ilegitimidade ativa de XPTO Informática S.A. deve ser reconhecida no caso concreto para
extinguir a ação, absolvendo o réu da instância.
Exame época normal 11/1/2016

I- De uma noção sucinta de:


1- Organização internacional supranacional

Como toda a organização internacional, as organizações internacionais supranacionais


são sujeitos de DIP caracterizadas como “associações voluntárias de Estados, criadas por
tratado, dotadas de uma estrutura orgânica permanente e possuidoras de uma
personalidade jurídica internacional distinta da dos Estados membros”, que se voltam a
prosseguir objetivos comuns a seus membros a partir de estruturas orgânicas próprias,
cujas competências e poderes associados encontram-se estatutariamente previstos.
Especificamente, como organizações de integração – em contraste às organizações de
cooperação –, a exemplo da União Europeia e do Mercosul, envolvem uma limitação da
soberania de seus Estados membros, mediante uma verticalização hierárquica daquelas
relativamente a estes, com a assunção, por parte da organização, de poderes tipicamente
soberanos como os poderes normativos, de solução de conflitos e de natureza executiva
a que se sujeitam, em maior ou menor grau vinculativo, os Estados membros e
peculiaridades ao nível da representação e procedimentos deliberativos.

II- Distinga:
1- Veto de duplo veto
2- Conciliação e arbitragem

Já respondido anteriormente

III- Comente a seguinte afirmação:


1- «As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa têm um
valor supralegal».

A CRP absorve, à luz de seu art. 8º, uma posição monista com primado do Direito
Internacional com mitigações relacionadas a e dependentes da natureza jurídica da norma
de Direito Internacional, que acabam por estabelecer um diferente regime jurídico de
incorporação e relacionamento hierárquico entre o Direito interno e o Direito
Internacional.
Relativamente ao Direito Internacional geral, a que se refere o nº 1 do art. 8º da CRP,
a receção é automática e, mediante interpretação conjugada com o art. 16º, nº 2 da CRP,
a alocação hierárquica relativamente ao Direito interno é a supraconstitucional. Logo,
convenções internacionais – v.g., a Declaração Universal dos Direitos do Homem – que
positivem normas de cunho universal/geral de Direito Internacional Público terão não só
valor supralegal como supraconstitucional.
No que concerne ao Direito Internacional particular, nos termos do art. 8º, nº 2, da
CRP, a regra é da receção automática condicionada a prévia ratificação e publicação e,
hierarquicamente, consoante o posicionamento doutrinário maioritário, da receção com
valor supralegal, mas infraconstitucional (a partir de uma leitura sistemática e conjugada
com os arts. 277º, 278º e 119º CRP).
Embora tais conclusões não sejam pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina
quanto ao valor supralegal do Direito internacional convencional, a exemplo de Gomes
Canotilho e Vital Moreira, que colocam na mesma ordem hierárquica as convenções
internacionais e o direito interno ordinário –, uma interpretação sistemática da CRP
parece encaminhar forçosamente a tal solução.
A uma porque tais normas, por mandamento constitucional do art. 8º, nº 2, devem
vigorar no plano interno enquanto vincularem internacionalmente o Estado português,
afigurando-se, como consequência lógica, a sua necessária prevalência frente às leis
ordinárias posteriores que, eventualmente, as contrariem, o que só se pode assegurar
mediante a atribuição de valor supralegal; a duas porque, sob uma perspetiva material, a
ponderação de valores em conflito parece pender para tal conclusão, sobretudo à luz de
uma evidente abertura do sistema jurídico português ao DIP (art. 7º e 16º CRP); e, por
fim, porque a prática internacional tem se firmado neste sentido, sendo, ainda, esta
posição – a do valor supralegal das convenções internacionais – aquela consagrada pelo
Tribunal Constitucional português.

IV- Considere a seguinte hipótese:


A – Estado desenvolvido – e B – Estado em vias de desenvolvimento – concluíram,
em 2012, uma convenção internacional destinada a regular o fornecimento a este
último de tecnologia avançada na área da informática.
1 - Subitamente, em 2014, B deixou de assegurar as contrapartidas financeiras a que
se havia comprometido, alegando, para justificar esse incumprimento, uma situação
económica particularmente difícil. Em resposta, A decidiu então não respeitar os termos
de um “acordo de cavalheiros”, concluído entre representantes de ambos os Estados,
em 2013, acerca da delimitação das respetivas zonas económicas exclusivas.
2 - Entretanto, em 2015, B intentou contra A, no Tribunal Internacional de Justiça,
uma ação contenciosa, sustentando que, durante as negociações conducentes à
conclusão do referido tratado de 2012, o seu delegado oficial foi vítima de uma tentativa
de corrupção por parte do seu homólogo, representante de A.
3 - Logo no início do processo, porém, A alegou que, aquando da subscrição da
cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, havia excluído os conflitos relativos à
interpretação de convenções internacionais do âmbito da sua declaração de aceitação
da jurisdição do TIJ.
Aprecie a situação acima descrita do ponto de vista da responsabilidade
internacional (1), da validade das convenções internacionais (2) e do funcionamento do
Tribunal Internacional de Justiça

Consoante o princípio da pacta sunt servanda, positivado no art. 26º da Convenção de


Viena sobre o Direito dos Tratados – CVDT, as convenções internacionais válidas e eficazes
são vinculativas e obrigatórias às partes, que, assim, têm o dever de executar e dar
cumprimento aos seus termos.
Diante disso, o incumprimento de uma obrigação convencionalmente estipulada ao
nível internacional – in casu, a obrigação de o Estado B realizar contrapartidas financeiras
em sinalagma ao fornecimento de tecnologia avançada na área da informática pelo Estado
A – afigura-se, como regra, ilícito internacional.
Assim sendo, e considerando que a responsabilidade internacional do Estado emerge
da conjugação de dois pressupostos essenciais (ato ilícito e nexo de imputação – art. 2º
do Draft da CDI da ONU sobre Responsabilidade Internacional dos Estados por atos ilícitos)
que se encontram presentes no caso concreto, porque o ilícito (incumprimento de uma
obrigação convencionalmente estipulada ao nível internacional) é imputável diretamente
a órgãos representativos do Estado B, afigurando-se, ainda, presente na hipótese
colocada um dano ao Estado A (cessação da receção de contrapartidas financeiras)
derivado da conduta, em tese, ilícita de B, estaria configurada a responsabilidade
internacional no caso concreto.
Não obstante, o regime jurídico da execução das convenções internacionais prevê
exceções ou mitigações ao princípio da pacta sunt servanda, justificando/legitimando
incumprimentos de obrigações em determinados casos. Um deles, passível de,
argumentativamente, a ser aplicado ao caso concreto, é o da impossibilidade
superveniente de cumprimento por alteração fundamental das circunstâncias,
regulamentado pelo art. 62º da CVDT.
Além disso, no sistema de responsabilidade internacional, poder-se-ia argumentar a
ocorrência de estado de necessidade a afastar a culpabilidade do Estado B no caso
concreto (art. 25 do Draft da CDI), desde que preenchidas as respetivas condições.
Em ambos os casos, o ônus argumentativo e probatório recairia sobre o Estado B.
De qualquer modo, caso fosse possível prevalecer o argumento de B de que a
convenção é inválida, cujo mérito se avaliará no ponto (2), não estaria obrigado a dar
continuidade ao cumprimento da convenção, desvanecendo-se, portanto, nesta hipótese,
a sua responsabilidade internacional.
Relativamente à conduta do Estado A de, em resposta, não respeitar a delimitação das
respetivas zonas económicas exclusivas, é preciso ter em conta que tal delimitação
derivava de um “acordo de cavalheiros” – portanto, sem natureza vinculativa.
Sendo assim, não configuraria ilícito para efeitos de responsabilidade internacional, já
que nenhuma obrigação vinculativa de Direito Internacional foi violada (arts. 12 e 13 do
Draft da CDI). Ausente a configuração de ato ilícito, não há fundamentos à aplicação do
sistema de responsabilidade.
Do ponto de vista da validade das convenções internacionais, o art. 50º da CVDT
consagra como vício de consentimento a corrupção.
No entanto, no caso concreto, a alegação do Estado B é de que houve a mera tentativa
de corrupção de seu representante pelo Estado A, o que não é bastante para colocar em
causa a validade da convenção, já que o art. 50º aplica-se somente quando há
consumação do ato de corrupção, com o cumprimento de todas as condicionantes ali
prescritas.
Considerando que, no enunciado da questão, não há elementos para verificar a
consumação do ato de corrupção, tampouco a existência de outros vícios que coloquem
em causa a validade da convenção, não é possível afirmar que o diploma é inválido.
O exercício da jurisdição em um caso concreto pelo Tribunal Internacional de Justiça
depende, como regra, de acordo especial expresso e formal das partes, forum
prorrogatum, cláusula compromissória ou, nos termos do art. 36º do Estatuto do TIJ,
declaração unilateral dos Estados de que “reconhecem como obrigatória ipso facto e sem
acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a
jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas (…)”.
In casu, extrai-se do enunciado que o Estado A assinou cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória do Tribunal, o que o colocaria, automaticamente, sujeito à jurisdição
do Tribunal na hipótese de o Estado B também ser signatário de cláusula desta espécie –
o que parece ser o caso, já que B intentou diretamente ação contenciosa contra A no TIJ.
O Estado A, porém, argumenta que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória, havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções
internacionais do âmbito da sua declaração de aceitação da jurisdição do TIJ.
Sucede que o conflito colocado por B no TIJ refere à validade de uma convenção
internacional, não à sua interpretação, desaplicando-se, assim, a exclusão (reserva
material) operada por A relativamente à cláusula de jurisdição obrigatória.
Logo, a cláusula de jurisdição obrigatória vincula A no que concerne a matérias de
validade de convenções internacionais, submetendo-o forçosamente à apreciação e
julgamento do TIJ no caso concreto.

Exame de época de recurso 27/1/2016

I- Dê uma noção sucinta de:


1- Princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas

Perfilhados como fonte (supletiva) do Direito Internacional Público (art. 38º, nº 1, al.
c do ETIJ), os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas são objeto
de divergências doutrinárias entre três principais correntes, a saber, a que os equipara
aos princípios fundamentais do Direito Internacional, a que remete para os princípios
gerais de direito interno e, por fim, a que admite que podem ser compostos tanto por
uns quanto por outros. Tendo em conta a autonomia com que devem ser
compreendidos relativamente às demais fontes consagradas no art. 38º do ETIJ, os
princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas são aqueles
consagrados amplamente pelas ordens jurídicas nacionais passíveis de transposição para
o plano internacional, como os princípios da boa-fé, segurança jurídica e igualdade das
partes.

II- Distinga:
1- Transformação e receção automática condicionada

No âmbito das técnicas de incorporação do Direito Internacional na ordem jurídica


interna, apresentam-se, como duas das soluções positivas, a receção automática
condicionada e a transformação.
Na primeira, à luz de uma conceção monista, as normas de Direito internacional
passam a vigorar internamente enquanto tais, embora a sua vigência esteja
condicionada ao cumprimento de algumas formalidades impostas pelo direito interno
(e.g. art. 8º/2 CRP). Na segunda, de matriz teórica dualista, a norma internacional é
transformada em norma de direito interno, passando, assim, a vigorar na ordem interna
já não mais com natureza de norma internacional.

2- Legitima defesa e represália

Legítima defesa e represália são mecanismos de autotutela dos Estados no plano


internacional em resposta a uma ilicitude da qual tenham sido vítimas. Consagrada no
art. 51º da Carta das Nações Unidas (CNU), a legítima defesa configura-se como uma
causa excludente da ilicitude aquando do emprego da força pelos Estados em resposta a
um ataque armado que tenham sofrido até que o Conselho de Segurança da ONU
intervenha. A represália, por sua vez, como contramedida, é igualmente uma causa
excludente da ilicitude (desde que preenchidos os parâmetros de excecionalidade,
temporalidade e proporcionalidade – art. 22 c/c 49 a 53 do Projeto de Artigos da CDI da
ONU sobre Responsabilidade Internacional dos Estados por Atos Ilícitos), mas,
diferentemente da legítima defesa, não depende da configuração de um prévio ataque
armado nem se opera pelo uso da força.

III- Comente a seguinte afirmação:


«No Conselho de Segurança da ONU o veto é, por vezes, um duplo veto».
Consoante o art. 27º da CNU, o poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma
decisão unânime dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações
Unidas na votação de uma proposição envolvendo questão de natureza material. O
sistema de duplo veto apresenta-se porque a própria qualificação da natureza da
questão a ser discutida – se processual ou material – é considerada uma questão
material e, assim, sujeita a veto dos membros permanentes. Assim, o poder de veto
exerce-se, em primeiro plano, no âmbito da votação acerca da qualificação da questão
e, vindo a ser-lhe atribuída natureza material, apresenta-se nova oportunidade de
exercício do poder de veto (ou duplo veto), já agora no âmbito da votação acerca da
solução a ser dada à questão de cunho material, sendo de referir que basta um voto
negativo de qualquer dos membros permanentes – e não necessariamente do mesmo –
na etapa de qualificação e na votação da matéria de cunho material e que, por norma
costumeira, as abstenções não configuram voto negativo (veto).

IV- Considere a seguinte hipótese:


O Estado A concluiu com B uma convenção internacional destinada a evitar a Dupla
Tributação Internacional de impostos sobre o rendimento.
No primeiro ano após a sua entrada em vigor, a empresa X solicitou ao Estado A o
abatimento proporcional do imposto sobre royalties já pago ao Estado B.
A, porém, alegou que, aquando da negociação da referida convenção, o seu
representante oficial não se dera conta de que o “imposto sobre royalties”, existente
no ordenamento jurídico de B, era um imposto sobre o rendimento e, que, por esse
facto, jamais pretendera incluir os respetivos créditos na compensação para evitar a
dupla tributação.
Em face do exposto, responda, fundamentadamente:
1 - Poderá o Estado A desvincular-se das obrigações assumidas na convenção
celebrada com B?
Considerando que o representante oficial de A não sabia que o imposto sobre royalties
era um imposto sobre o rendimento e jamais pretendera incluir os respetivos créditos no
âmbito da compensação acordada na Convenção, configura-se erro (representação
inexata da realidade que constituiu base essencial do consentimento do Estado A e que,
diante das circunstâncias e natureza da matéria, é desculpável), nos termos e condições
prescritas no art. 48º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT), o qual,
como vício de consentimento, opera no plano da validade da Convenção, afastando,
assim, ainda que em parte, a vinculação jurídica obrigatória positivada no art. 26º da
CVDT.

2 - Poderá, de qualquer modo, continuar válida e eficaz a parte geral da convenção,


referente aos princípios e boas práticas internacionais sobre tributação e combate à
fraude e evasão fiscais?
O erro enseja nulidade relativa da Convenção, permitindo, assim, a sua divisibilidade
extintiva. Diversamente do que ocorre na presença dos demais vícios que integram o rol
das nulidades relativas, esta divisibilidade, no erro, em que não se configura má-fé, é
obrigatória – e não facultativa – quando preenchidos os requisitos arrolados no art. 44º
da CVDT, tal como no caso enunciado, em que a parte geral da Convenção, ao se limitar a
regular princípios e boas práticas internacionais sobre tributação e combate à fraude e
evasão fiscais, é separável do resto do tratado, não constituiu base essencial do
consentimento nem seria de execução injusta.

3 - Poderá a empresa X intentar uma ação contenciosa no Tribunal Internacional de


Justiça contra o Estado A, visando o reconhecimento do alegado direito ao crédito do
imposto sobre royalties pago a B?
Não. Embora leituras contemporâneas do Direito Internacional Público passem já a
admitir (em determinados tipos de relação e matérias) as empresas transnacionais como
um dos sujeitos de direito internacional público, o art. 34º do ETIJ é inequívoco ao
estipular que “Só os Estados poderão ser partes em causas perante o Tribunal”,
atribuindo-se, portanto, exclusivamente aos Estados, legitimação ativa e passiva nas
ações contenciosas julgadas pelo Tribunal.

Exame de época normal 12/1/2015

I- Dê uma noção sucinta de:


1- Reconhecimento

O reconhecimento é dos vários tipos de atos jurídicos unilaterais por parte do Estado.
Assim sendo, o reconhecimento é um ato através do qual um Estado comprova a
existência de determinados factos, situações ou atos jurídicos, aceitando que lhe sejam
oponíveis, em virtude de os julgar conformes com o DI. Pode, v.g., estar em causa o
surgimento de um novo Estado na comunidade internacional, a apreciação do grau de
efetividade de um governo (reconhecimento de insurretos e beligerantes), a
representatividade de um movimento de libertação nacional, a nacionalidade concedida
a um individuo, a oponibilidade de normas costumeiras das OI a Estados não membros.

2- Plataforma continental

A plataforma continental é uma zona em que o Estado exerce, a partir das 12 milhas
marítimas (no inicio da sua fundação, com a Convenção de Genebra de 1958), poderes de
mera jurisdição, podendo, nomeadamente, proceder à exploração e extração dos
aludidos recursos, mas aos fundos marinhos se cingindo, porquanto as águas
suprajacentes à plataforma continental não fazem já, evidentemente, parte desta. A
convenção de Montego Bay (art. 76º) fixou a plataforma continental em 200 milhas,
contadas desde a linha de base, não deixando, porém, de consagrar um regime assaz
flexível: aos Estados cujo prolongamento subaquático do território terrestre fique aquém
dessas duzentas milhas, permite-se a atividade de exploração e extração até aquele limite;
pelo contrário, aqueles que disponham de uma plataforma continental muito extensa, a
convenção reconhece idênticos direito de exploração e extração mesmo para alem das
duzentas milhas, até, no entanto, um limite máximo de 350.

II- Distinga:
1- Veto de duplo veto (no CS da ONU)

Veto e o duplo veto inserem-se no procedimento de votação do Conselho de


Segurança (CS) das Nações Unidas (ONU). Nos termos do art. 27.º da Carta da ONU, o CS
delibera por maioria qualificada de nove votos, sendo que este órgão é constituído por
quinze membros (5 membros permanentes – EUA, Rússia, Reino Unido, França e China –
e dez não permanentes). No caso de votação de uma questão material no CS da ONU, a
Carta exige que, de entre os 9 votos, 5 sejam dos membros permanentes. Daí que, neste
tipo de votação, qualquer dos membros permanentes do CS possua o poder de paralisar
uma decisão, ou seja, de a vetar. Já no que respeita ao duplo veto, este ter a ver com a
qualificação de uma questão a ser votada no CS. Com efeito, a qualificação de uma
questão como sendo de natureza material ou processual é, em si mesma, uma questão
material, o que leva a que, na realidade, os membros permanentes do CS possuam um
duplo poder de se oporem, ou seja, um duplo veto.

III- Comente a seguinte afirmação:


«As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa têm um
valor supralegal»

A CRP absorve, à luz de seu art. 8º, uma posição monista com primado do Direito
Internacional com mitigações relacionadas a e dependentes da natureza jurídica da norma
de Direito Internacional, que acabam por estabelecer um diferente regime jurídico de
incorporação e relacionamento hierárquico entre o Direito interno e o Direito
Internacional.
Relativamente ao Direito Internacional geral, a que se refere o nº 1 do art. 8º da CRP,
a receção é automática e, mediante interpretação conjugada com o art. 16º, nº 2 da CRP,
a alocação hierárquica relativamente ao Direito interno é a supraconstitucional. Logo,
convenções internacionais – v.g., a Declaração Universal dos Direitos do Homem – que
positivem normas de cunho universal/geral de Direito Internacional Público terão não só
valor supralegal como supraconstitucional.
No que concerne ao Direito Internacional particular, nos termos do art. 8º, nº 2, da
CRP, a regra é da receção automática condicionada a prévia ratificação e publicação e,
hierarquicamente, consoante o posicionamento doutrinário maioritário, da receção com
valor supralegal, mas infraconstitucional (a partir de uma leitura sistemática e conjugada
com os arts. 277º, 278º e 119º CRP).
Embora tais conclusões não sejam pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina
quanto ao valor supralegal do Direito internacional convencional, a exemplo de Gomes
Canotilho e Vital Moreira, que colocam na mesma ordem hierárquica as convenções
internacionais e o direito interno ordinário –, uma interpretação sistemática da CRP
parece encaminhar forçosamente a tal solução.
A uma porque tais normas, por mandamento constitucional do art. 8º, nº 2, devem
vigorar no plano interno enquanto vincularem internacionalmente o Estado português,
afigurando-se, como consequência lógica, a sua necessária prevalência frente às leis
ordinárias posteriores que, eventualmente, as contrariem, o que só se pode assegurar
mediante a atribuição de valor supralegal; a duas porque, sob uma perspetiva material, a
ponderação de valores em conflito parece pender para tal conclusão, sobretudo à luz de
uma evidente abertura do sistema jurídico português ao DIP (art. 7º e 16º CRP); e, por
fim, porque a prática internacional tem se firmado neste sentido, sendo, ainda, esta
posição – a do valor supralegal das convenções internacionais – aquela consagrada pelo
Tribunal Constitucional português.

IV- Considere a seguinte hipótese:


A e B são dois Estados vizinhos, que, em 2010, concluíram um tratado internacional
prevendo a realização de um empreendimento conjunto. Tratava-se, em concreto, da
construção de um sistema de represas no rio internacional X, com vista ao
aproveitamento energético das respetivas águas.
1- Em 2012, sem que nada o fizesse prever, B suspendeu os trabalhos a cuja execução
se comprometera, justificando essa atitude com uma situação económica
particularmente difícil e com a previsão de danos ambientais irreversíveis no seu
território caso o projeto inicial fosse avante nos termos previstos na aludida convenção
de 2010.
2- Mais aduziu B que, de qualquer forma, durante as negociações o seu
representante oficial fora objeto de uma tentativa de corrupção por parte do delegado
governamental de A.
3-Considerando que o comportamento de B constituía uma clara violação do direito
internacional convencional, A intentou, em 2013, uma ação contenciosa no Tribunal
Internacional de Justiça, sendo que, durante a fase da instrução, solicitou ao Tribunal a
imposição a B do dever de preservação dos meios de prova.
Pronuncie-se sobre a situação acima descrita do ponto de vista da responsabilidade
internacional (1), da validade das convenções internacionais (2) e do funcionamento do
Tribunal Internacional de Justiça (3).

A responsabilidade internacional do estado emerge da conjugação de dois


pressupostos essenciais (ato ilícito e nexo de imputação – art.º 2 do Draft da CDI da ONU
sobre Responsabilidade Internacional dos Estados – DRIE por atos ilícitos), acrescidos,
para efeitos de reparação, dos pressupostos da ocorrência de danos e do nexo de
casualidade – os quais, na resposta, devem ser analisados individualmente à luz do caso
enunciado para perquirição da existência, ou não, da responsabilidade do Estado B.
Relativamente ao primeiro requisito, de facto, o incumprimento, por B, da convenção
internacional resta patente e não é sequer disputado.
No que concerne ao nexo de imputação, para alem da eventual análise da incidência
dos artigos 8º e 10º do DRIE, o incumprimento é imputável ao Estado B (uma vez que a
obrigação era devida por B e este deixou de cumpri-la, respondendo por omissão). Os
danos encontram-se igualmente configurados, colocando-se o problema quanto ao nexo
de casualidade.
Importa, desde logo, perceber se o Estado B pode invocar o “estado de necessidade”
no âmbito da responsabilidade internacional, como causa de exclusão da ilicitude, em
virtude do não cumprimento do tratado celebrado em 2010, uma vez que, segundo a CVT,
um dos princípios que rege as convenções internacionais é o princípio da pacta sunt
servenda (art.º 26 da CVT).
O Estado B invoca o “estado de necessidade (uma das causas de exclusão da ilicitude
previstas nos “Draft Articles” – art.º 25). Não parece, contudo, que estejam preenchidos
os requisitos para a invocação desta causa de exclusão da ilicitude, na medida em que,
contrariamente ao disposto nesse preceito, a invocação desse “estado de necessidade”
afecta gravemente o Estado B, em virtude do não cumprimento da convenção celebrada
em 2010. Ou seja, a situação apresentada não preenche os requisitos previstos no art.
25.º para a invocação dessa causa de exclusão da ilicitude.
Do ponto de vista da validade das convenções internacionais, o art. 50º da CVDT
consagra como vício de consentimento a corrupção.
No entanto, no caso concreto, a alegação do Estado B é de que houve a mera tentativa
de corrupção de seu representante pelo Estado A, o que não é bastante para colocar em
causa a validade da convenção, já que o art. 50º aplica-se somente quando há
consumação do ato de corrupção, com o cumprimento de todas as condicionantes ali
prescritas.
Considerando que, no enunciado da questão, não há elementos para verificar a
consumação do ato de corrupção, tampouco a existência de outros vícios que coloquem
em causa a validade da convenção, não é possível afirmar que o diploma é inválido.
O exercício da jurisdição em um caso concreto pelo Tribunal Internacional de Justiça
depende, como regra, de acordo especial expresso e formal das partes, forum
prorrogatum, cláusula compromissória ou, nos termos do art. 36º do Estatuto do TIJ,
declaração unilateral dos Estados de que “reconhecem como obrigatória ipso facto e sem
acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a
jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas (…)”.
In casu, extrai-se do enunciado que o Estado A assinou cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória do Tribunal, o que o colocaria, automaticamente, sujeito à jurisdição
do Tribunal na hipótese de o Estado B também ser signatário de cláusula desta espécie –
o que parece ser o caso, já que B intentou diretamente ação contenciosa contra A no TIJ.
O Estado A, porém, argumenta que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória, havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções
internacionais do âmbito da sua declaração de aceitação da jurisdição do TIJ.
Sucede que o conflito colocado por B no TIJ refere à validade de uma convenção
internacional, não à sua interpretação, desaplicando-se, assim, a exclusão (reserva
material) operada por A relativamente à cláusula de jurisdição obrigatória.
Logo, a cláusula de jurisdição obrigatória vincula A no que concerne a matérias de
validade de convenções internacionais, submetendo-o forçosamente à apreciação e
julgamento do TIJ no caso concreto.

Definições possíveis de sair para o exame de aos passados:


1- Defina zona ou área.
São fundos marinhos e subsolos para além dos limites da jurisdição nacional. Solo e
subsolo do alto mar. O regime jurídico é diferente. Foi criada uma organização
internacional, que se encarrega de superintender na exploração e distribuição dos
recursos da zona, de acordo com o princípio da desigualdade compensatória. Aqui tem
uma internacionalização positiva, pois a autoridade garante igualdade material na
exploração.
2- Defina duplo veto.
A ONU é composta por 10 membros não permanentes e 5 membros permanentes.
Quando há dúvida sobre natureza da matéria em causa, tem que qualifica-la, através de
uma votação. Este ato de qualificação, é em si considerado um ato de natureza material,
logo pode haver direito de veto por um dos membros permanentes (primeiro veto). Num
momento subsequente, se a matéria for qualificada como material, um dos membros
permanentes pode vetar novamente, desta vez para impedir a adoção da decisão
(segundo veto). Se não fosse o primeiro veto, os 10 membros qualificariam a matéria
sempre como procedimental, para não haver possibilidade de veto por algum dos
membros permanentes.

3- Distinga força maior e perigo extremo.


Força maior são situações em que um Estado fica materialmente impossibilitado de
cumprir uma obrigação internacional por causa de uma força irresistível ou um
acontecimento exterior completamente imprevisto. O perigo extremo consiste em casos
em que um agente ou órgão estadual adota um comportamento que viola o Direito
Internacional pois essa é a única maneira que encontra de salvar a sua vida ou a vida das
pessoas que estão sob sua responsabilidade. Em ambos os casos há uma exclusão de
ilicitude no âmbito internacional, porem na força maior, essa exclusão de ilicitude se dá
quando o acontecimento for irresistível, imprevisto e o Estado não tenha contribuído para
o ocorrido, já no perigo extremo a ilicitude será excluída quando o valor do interesse
protegido for maior que o valor sacrificado. Em ambos o Estado adota um comportamento
que viola o direito internacional, porem na força maior o Estado não tem escolha.

4- Distinga receção automática condicionada e transformação.


No âmbito das técnicas de incorporação do Direito Internacional na ordem jurídica
interna, apresentam-se, como duas das soluções positivas, a recepção automática
condicionada e a transformação. As normas jurídicas de direito internacional inserem-se
diretamente na ordem interna, produzindo efeitos. Porem a CRP pode impor uma leve
restrição a plena vigência interna das normas internacionais, constituindo a recepção
automática condicionada. Por outro lado, a transformação consiste em uma norma de DIP
só produzir efeito na ordem interna caso um legislador a converta em norma interna
através de um ato de sua competência. A recepção automática condicionada provem de
uma concepção monista enquanto a transformação de uma concepção dualista. A
primeira produz efeitos automaticamente, enquanto a segunda precisa de uma
conversão. Porem ambas são técnicas de incorporação do direito internacional no direito
interno.

5- Comente: ‘’o reconhecimento do Estado tem uma natureza constitutiva ou


atributiva’’.
O reconhecimento é um ato unilateral através do qual, um Estado, verificando a
existência de determinada situação ou ato jurídico, admite, que tal situação ou ato jurídico
lhe seja oponível. Para alguns autores esse reconhecimento tem natureza atributiva, ou
seja, a existência de um Estado novo na comunidade internacional pressupõe a aceitação
dos Estados preexistentes, exprimida através de um ato de reconhecimento. É o
reconhecimento que atribui ao Estado a qualidade de sujeito de DI. Já outros autores,
falam da natureza declarativa, ou seja, o surgimento de um Estado novo resulta do
reconhecimento deste Estado pela Comunidade Internacional.

6- Defina costume selvagem.


O costume pressupõe a conjugação de dois elementos, o elemento material (consiste
em determinados comportamentos adotados pelos sujeitos de DIP de forma constante e
uniforme, ao longo de um determinado período de tempo) e o elemento subjetivo
(consiste na convicção do caráter jurídico, ou seja, de que adotar esses comportamentos
é uma obrigação – sem este elemento estamos perante um habito). No costume selvagem
o processo de formação é inverso, isto é, os elementos aparecem contrapostos.
Primeiramente surge o elemento subjetivo e, posteriormente o elemento material. Tem
o mesmo valor que o costume tradicional.

7- Defina zona econômica exclusiva.


É a vasta faixa marítima, a contar desde a linha de base até uma extensão de 200
milhas, onde Estados ribeirinhos exercem poderes de jurisdição, tendo em vista princípio
da desigualdade compensatória. Tem que se descontar as 12 milhas que consiste em o
mar territorial (art. 62º CMB).

8- Distinga nulidades absolutas e relativas das convenções internacionais.


Nas nulidades relativas estão em causa vícios menos graves e estão em jogo os
interesses dos particulares dos Estados participantes. O que origina as nulidades relativas
são a ratificações imperfeitas, o erro, o dolo e a corrupção. Apenas o Estado vitima tem o
direito de invocar a nulidade. Há casos em que se pode anular apenas as cláusulas que
sofrem de nulidade, é uma exceção do princípio da indivisibilidade. É possível haver
sanação, ou seja, o tratado ser aceito apenas do vício.
Já nas nulidades absolutas estão em causa vícios mais graves, são os casos em que
estão em jogo interesses gerais da comunidade internacional. O que origina as nulidades
absolutas são a incapacidade das partes, a coação e a ilicitude do objeto. Qualquer uma
das partes da convenção pode invocar a nulidade absoluta. Além disso, nesta não há
possibilidade de sanação. A declaração de nulidade gera eficácia retroativa, ou seja, tudo
vai se passar como se o tratado nunca tivesse existido, com exceção dos atos exercidos
com boa-fé.

9- Distinga inquérito e conciliação.


O inquérito consiste em levar o conflito ao conhecimento de um órgão internacional.
Esse órgão internacional, irá analisar os fatos que antecederam o litígio desse conflito, e
ira elaborar um relatório que depois é entregue as partes. Trata-se de um procedimento
facultativo e o relatório não tem o valor de uma sentença arbitral, não tem valor
vinculativo, mas pode ser útil para classificar o que aconteceu.
Já na conciliação irão ser feitas propostas que são opcionais as partes, essas decidem
se adotam ou não. Implica na criação de um órgão que terá duas tarefas: primeira,
verificar os fatos que estão por detrás do surgimento do conflito e depois produzir a
proposta de solução para as partes.
Ambos são métodos político-diplomático para resolver conflitos, em ambos é
designado uma comissão, porem no inquérito é uma comissão de inquérito e na
conciliação é uma comissão de conciliação. Ambos verificam os fatos que estão por detrás
do conflito.

10- Comente: ‘’as convenções internacionais recebidas na ordem jurídica portuguesa


tem valor supralegal, mas infraconstitucional’’.
A convenção internacional celebrada pelo estado português, em relação a legislação
ordinária, só se cumpre se a convenção tiver um valor maior que a lei interna, ou seja,
valor supralegal. Esta convenção vai prevalecer quer sobre as leis anteriores, quer sobre
as posteriores. Se a CI fosse inferior a lei, seria imediatamente revogada por leis internas
conflitantes, e se não houvesse uma lei na hora da entrada em vigor da CI, mas surgisse
uma lei depois, está derrubaria a CI. O mesmo aconteceria se estas tivessem iguais valores.
Porém, a CI tem valor infraconstitucional, ou seja, esta tem que estar em harmonia com a
CRP sobre pena de invalidez da CI por inconstitucionalidade. A CI vai vigorar enquanto
vincular o estado português no âmbito internacional.

11- Defina exceção preliminar.


É um expediente processual através do qual um Estado demandado contesta a
competência ou a jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça para julgar um
determinado caso. Quem decide essa questão é o próprio TJI. Temos 4 tipos de exceções
preliminares, a ratione materiae, ratione personae, ratione temporis e inadmissibilidade
do pedido por falta de interesse em agir.
12- Defina cláusula da nação mais favorecida.
Há um tratado inicial entre dois ou mais Estados, nele as partes inserem uma cláusula
nos termos da qual, se um deles vier a celebrar, no futuro, com outro estado, uma
convenção mais vantajosa, versando sobre a mesma matéria, tais disposições mais
favoráveis irão se aplicar ao tratado inicial. Deste modo, Estados vão se beneficiar de
tratados que não celebraram. O consentimento do Estado é dado por antecipação.

13- Distinga perigo extremo e estado de necessidade.


O perigo extremo refere-se a casos em que um agente ou órgão estadual adota um
comportamento que viola o DI pois essa é a única maneira que encontra de salvar a sua
vida ou das pessoas sob sua responsabilidade. Deve haver uma ponderação, só exclui a
ilicitude deste, quando o valor do interesse protegido for superior do que o valor
sacrificado. Já o Estado de necessidade, está em jogo a existência do próprio Estado, há
uma ameaça que paira sobre a estabilidade política ou subsistência econômica.
Diferentemente do que acontece no perigo extremo, em que está em causa um agente
do Estado ou pessoas a sua guarda. No estado de necessidade o interesse ameaçado deve
ser essencial e a violação do direito internacional deve ter constituído o único meio
utilizável de conjurar o perigo. Em ambos, existe, teoricamente, a possibilidade de cumprir
ou não a obrigação internacional.

14- Diferencie organização internacional intergovernamental e supranacional.


Organização intergovernamental é o tipo mais frequente de organização internacional.
Geram entre as organizações e os Estados relações horizontais de mera coordenação de
soberanias nacionais.
Visam promover a cooperação entre Estados membros. Dos órgãos destas
organizações fazem parte representantes dos Estados membros que participam na vida
da organização, subordinados às orientações e diretrizes dos seus governos. Eles acabam
por estar na organização a defender os interesses dos seus Estados e estes prevalecem
sobre os interesses da organização.
Estas relações têm consequências no plano das decisões. A regra das deliberações é a
da unanimidade. Assim equivale a um direito de veto de cada Estado membro e isso
permite que eles defendam sempre os seus interesses. Além disso, destas organizações
internacionais são emanadas normas que por via de regra se dirigem aos Estados
membros e só indiretamente aos indivíduos. Estas normas não são dotadas de
aplicabilidade direta. Estas organizações não têm poder de impor decisões aos seus
membros, lançando mão por isso de meras recomendações.
Organizações supranacionais como toda organização internacional, as organizações
internacionais supranacionais são sujeitos de Direito Internacional Público caracterizadas
como “associações voluntárias de Estados, criadas por tratado, dotadas de uma estrutura
orgânica permanente e possuidoras de uma personalidade jurídica internacional distinta
da dos Estados membros”, que se voltam a prosseguir objetivos comuns a seus membros
a partir de estruturas orgânicas próprias, cujas competências e poderes associados
encontram-se estatutariamente previstos. Consiste em uma limitação de soberania para
os Estados. São organizações em que as relações entre elas e os Estados são verticais e de
subordinação. Dos seus órgãos fazem parte indivíduos que estão ali a representar os
interesses das organizações internacionais. Geralmente, nestas organizações, a regra da
votação é a da maioria e não a da unanimidade. Estas organizações estão habilitadas a
aprovar atos que são obrigatórios para os Estados membros e são ainda dotados de
aplicabilidade direta, dirigindo-se diretamente ao indivíduo. APRESENTAR EXEMPLO DE
AMBAS.

15- Defina técnica da transformação.


A técnica da transformação é uma técnica de incorporação do direito internacional na
ordem interna, em que há oposição do Estado em relação a vigência do Direito
Internacional na ordem interna, daí que a Constituição exija que o legislador ordinário
reproduza a norma internacional através de um ato normativo da sua competência,
designando-se este procedimento por técnica da transformação.
Esta teoria reflete uma conceção dualista, e não vigora em Portugal.

16- Defina reconhecimento constitutivo.

17- Distinga princípios gerais do direito e princípios fundamentais de direito


internacional.

18- Distinga alto-mar de zona ou área.


Alto mar é a faixa marítima que se situa após as duzentas milhas. Vigora um regime
de liberdade de navegação, pesca, sobrevoo, colocação de cabos submarinos, construção
de ilhar artificiais e investigação científica. Porém, com esse regime de liberdade total, os
estados mais desenvolvidos saem mais beneficiados. É um regime de internacionalização
negativa pois é uma igualdade meramente formal. Zona ou área são os fundos marinhos
e os subsolos para além dos limites da jurisdição nacional. Aplica-se um regime jurídico
diferente. Foi criada uma organização internacional “autoridade de exploração e
distribuição para os fundos marinhos” que se encarrega de superintender na exploração
e distribuição dos recursos da zona, mas de acordo com o princípio da desigualdade
compensatória, isto é, favorecer os estados mais desfavorecidos. O regime aqui aplicado
é de internacionalização positiva, pois a autoridade garante igualdade material na
exploração. Ambos estão fora dos poderes de jurisdição dos Estados e se tem uma
liberdade de exploração, porem no auto mar há uma igualdade de exploração,
meramente formal, enquanto na zona ou área, devido a criação de uma autoridade, existe
uma igualdade entre os países.

19- Comente: ‘’ No Conselho de Segurança da ONU, não há veto sem duplo veto’’.
O poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma decisão unânime dos membros
permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas na votação de uma
proposição envolvendo questão de natureza material. O sistema de duplo veto apresenta-
se porque a própria qualificação da natureza da questão a ser discutida – se é processual
ou material – é considerada uma questão material e, assim, sujeita a veto dos membros
permanentes. Logo, o poder de veto exerce-se, em primeiro plano, no âmbito da votação
acerca da qualificação da questão e, vindo a ser-lhe atribuída natureza material,
apresenta-se nova oportunidade de exercício do poder de veto (ou duplo veto), já agora
no âmbito da votação acerca da solução a ser dada à questão de cunho material (arts. 23
a 27 CNU). Assim, pode-se dizer que só existira veto, se existir duplo veto, já que se a
natureza da questão for processual os membros permanentes não tem o direito de veto
e se na definição da natureza, ela for definida como processual, significa que os membros
permanentes não utilizaram o poder de veto.

20- Defina princípio da efetividade.


A precariedade dos limites jurídicos no que concerne ao recurso à força nas relações
internacionais fez com que desde a paz de Vestefália até ao séc. XIX, os estados tivessem
plena liberdade de fazer guerra. As consequências disto eram que os princípios
internacionais não ofereciam aos sujeitos de Direito Internacional uma proteção
consistente. Pelo contrário, tratava-se de uma proteção provisória e incerta, na medida
em que esses princípios eram respeitados desde que esse acatamento não colidisse com
os seus próprios interesses. Princípio da efetividade diz que só as situações efetivas, ou
seja, só as situações que se encontrassem já consolidadas produziriam efeitos jurídicos.

21- Defina plataforma continental.


A plataforma continental é o solo marítimo junto a costa, que tem uma extensa
planície rica em recursos vegetais e animais, que vai até as 200 milhas (art. 76º e 77º CMB).
Não abrange a água, apenas solo e subsolo. Consiste uma área na qual os Estados exercem
poderes de jurisdição e não de soberania.

22- Distinga veto e duplo veto.


A ONU é composta por 15 membros, sendo 10 deles membros não permanentes e 5
deles membros permanentes. O poder de veto deriva da obrigatoriedade de uma decisão
unânime dos membros permanentes do Conselho de Segurança na votação de uma
proposição envolvendo questão de natureza material. O sistema de duplo veto apresenta-
se porque a própria qualificação da natureza da questão a ser discutida – se processual ou
material – é considerada uma questão material e, assim, sujeita a veto dos membros
permanentes. Assim, o poder de veto exerce-se, em primeiro plano, no âmbito da votação
acerca da qualificação da questão e, vindo a ser-lhe atribuída natureza material,
apresenta-se nova oportunidade de exercício do poder de veto (ou duplo veto), já agora
no âmbito da votação acerca da solução a ser dada à questão de cunho material. Caso não
existisse a possibilidade do veto na qualificação da matéria, os 10 membros não
permanentes decidiriam todas as matérias como processuais, fazendo com que os
membros permanentes não tivessem a possibilidade de exercer seu poder de veto.

23- Comente: ‘’Salvaguardados os princípios estruturantes do Estado de direito


democrático, as normas emanadas das instituições da União Europeia, aplicam-se na
ordem interna portuguesa nos termos definidos pelo direito da União’’.

24- Defina costume internacional.


O costume internacional é formado pela conjugação de dois elementos, o elemento
material (consiste em determinados comportamentos adotados pelos sujeitos de DIP de
forma constante e uniforme, ao longo de um determinado período de tempo) e o
elemento subjetivo (consiste na convicção do caráter jurídico, ou seja, de que adotar esses
comportamentos é uma obrigação – sem este elemento estamos perante um habito). Este
ainda integra o costume selvagem, os costumes locais, regionais e gerais.
25- Defina competência pessoal do Estado.
A competência pessoal de um Estado é uma das vertentes das competências internas
juntamente com a competência territorial. Esta primeira reconduz-se às competências de
atribuição da nacionalidade, quer seja a pessoas, que seja a navios, aviões, satélites e
demais engenhos espaciais. As competências pessoais exercem-se sobre os seus
nacionais, mas também sobre os estrangeiros.

26- Distinga receção semiplena e transformação.


Ambas são técnicas de incorporação das normas de direito internacional na ordem
interna. Porém, a receção semiplena assenta numa distinção das normas internacionais
de acordo com seu conteúdo. As normas de DIP geral e comum serão de receção
automática (pressuposto monista), já as de ordem particular poderão ser sujeitas a
transformação (pressuposto dualista). É uma técnica considerada mista, já que há uma
conjuração entre as teses dualista e monista. Já a transformação, é uma técnica que
reflete apenas a conceção dualista, e que diz que uma norma de DIP, seja ela geral ou
particular, só irá produzir efeitos na ordem interna caso um legislador a converta em
norma interna através de um ato da sua competência.

27- Comente: ‘’Os Estados só se submetem a jurisdição do Tribunal Internacional de


Justiça se nisso convierem’’.
O TIJ tem duas competências, a primeira é a consultiva, ou seja, pareces consultivos
que lhe podem ser pedidos por outros organismos. São apenas opiniões emitidas pelo
tribunal sobre um determinado assunto. A outra é a contenciosa, ou seja, tem o poder de
proferir sentenças ou acórdãos. Julga apenas conflitos entre Estados. As sentenças ou
acórdãos tem caráter obrigatório para os Estados, porém não é, no entanto, obrigatório a
partida. Os Estados só ficam vinculados a obrigatoriedade se para isso houver seu
consentimento (princípio da consensualidade). Esse consentimento pode ser gerado antes
ou depois do conflito. Quando gerado depois existem duas possibilidades, o acordo
especial, que é um acordo entre as partes participantes do conflito, no qual, decidem
aprova-lo diante do TIJ, ou o fórum prorogatum, onde não há um acordo, um Estado
intenta uma ação contra o outro. É uma hipótese de aceitação tácita por parte do Estado
litígio. Existe um comportamento do estado demandado que leva o TIJ a supor que esse
Estado aceitou tacitamente a competência. Depois de aceita tacitamente o Estado não
pode voltar atrás. Quando gerado antes do conflito existem 3 possibilidades, a celebração
de uma CI bilateral ou multilateral, a CI estipula os assuntos pelos quais o TIJ será
responsável, e todas as partes tem de declarar, a clausula compromissória de sujeição,
caso dois ou mais Estados insiram uma clausula afirmando que o TIJ será responsável por
conflitos e a clausula facultativa de jurisdição obrigatória, que só ficam abrigados se
quiserem subscreverem, através de um ato unilateral. A subscrição da cláusula é
facultativa, mas uma vez subscrito, a jurisdição do TIJ é obrigatória.

28- Defina receção semiplena do direito internacional.


A receção semiplena, é uma técnica de incorporação das normas de direito
internacional na ordem interna. Esta assenta numa distinção das normas internacionais
de acordo com seu conteúdo. As normas de DIP geral e comum serão de recepção
automática (pressuposto monista), já as de ordem particular poderão ser sujeitas a
transformação (pressuposto dualista). É uma técnica considerada mista, já que há uma
conjuração entre as teses dualista e monista.

29- Defina organização internacional supranacional.


Como toda organização internacional, as organizações internacionais supranacionais
são sujeitos de Direito Internacional Público caracterizadas como “associações voluntárias
de Estados, criadas por tratado, dotadas de uma estrutura orgânica permanente e
possuidoras de uma personalidade jurídica internacional distinta da dos Estados
membros”, que se voltam a prosseguir objetivos comuns a seus membros a partir de
estruturas orgânicas próprias, cujas competências e poderes associados encontram-se
estatutariamente previstos. Consiste em uma limitação de soberania para os Estados. São
organizações em que as relações entre elas e os Estados são verticais e de subordinação.
Dos seus órgãos fazem parte indivíduos que estão ali a representar os interesses das
organizações internacionais. Geralmente, nestas organizações, a regra da votação é a da
maioria e não a da unanimidade. Estas organizações estão habilitadas a aprovar atos que
são obrigatórios para os Estados membros e são ainda dotados de aplicabilidade direta,
dirigindo-se diretamente ao indivíduo.

30- Distinga legitima defesa e contramedida.


A legítima defesa constitui uma exceção ao uso da força nas relações internacionais.
É a possibilidade de um estado se defender de um ataque prévio utilizando a força. Porém,
para assim proceder é necessário, que seja um direito transitório, ou seja, só pode ser
exercido até que o conselho de segurança intervenha, deve comunicas as medidas que
tomou no exercício deste direito, além de que o Estado que atua em legítima defesa deve
agir de acordo com o princípio da proporcionalidade e seus subprincípios. Já a
contramedida, é uma medida de resposta, a um fato internacionalmente ilícito praticado,
num momento anterior, por outro Estado. A contramedida é uma reação
descentralizadas, levadas pelos estados vítimas ou terceiros. São adotadas
unilateralmente pelos Estados, que decide sua intensidade e forma de execução, corre o
ressico de haver abuso e arbitrariedade. Estas porem ser retorção, que medidas poucos
amigáveis, porem licitas. Ou represálias, que são atos hostis, porem ilícitos. Essa ilicitude
desaparece, porque a represália é motivada por um ato ilícito, prévio, por parte de outro
Estado. Ambas são modo de exclusão da ilicitude de um ato e são uma resposta a um ato
praticado no momento anterior. Porém, a legítima defesa tem que comunicar as medidas
adotadas e agir de acordo com os princípios da proporcionalidade. Já a contramedida o
Estado decide a intensidade e forma de execução das medidas adotadas.

31- Defina estatuto do objetor persistente.


É uma exceção a vinculação de um determinado Estado a um costume, pois a regra
geral diz que um costume internacional vincula todos os Estados. Acontece quando um
Estado, de modo FIRME, PESISTENTE E INEQUIVOCO, se opõe a formação de um costume
que está a surgir e pretende ainda que os seus efeitos não se lhe apliquem, ou seja, opõe
desde o início da formação do costume. No plano internacional admite-se que um Estado
recuse a aplicação destas normas, mas é preciso que este Estado tenha recusado ainda
durante o processo de formação da norma. Neste caso, o Estado adquiriu o estatuto de
objetor persistente e não fica vinculado ao costume, porem se a norma for de Ius Cogens,
ou seja, imperativa, não admite que o Estado furte sua aplicação.

32- Defina conciliação.


A conciliação é um método político-diplomático para a solução de problemas, com
intervenção de terceiros. O seu desencadeamento pressupõe sempre um prévio
compromisso convencional, não lhe subjazendo qualquer obrigação costumeira. É um
método quase jurisdicional, pois o procedimento é cindido em duas partes distintas e
baseado no princípio do contraditório.
A primeira fase serve para tratar da questão de fato (serve para ser produzida a prova.
Têm que ser consignados os factos para se produzir a prova) e a segunda fase para tratar
da questão de direito (cada parte litigante apresenta os seus argumentos).
Diferentemente do inquérito que consiste em levar o conflito ao conhecimento de um
órgão internacional colegial, designado por comissão de inquérito. Esse órgão colegial vai
apreciar os factos que estão na base desse conflito e, uma vez feita essa averiguação,
elabora um relatório que depois é entregue às partes. Trata-se de um procedimento
facultativo no seu alcance. Tal relatório não tem o valor de uma sentença arbitral,
podendo, os destinatários, dar-lhe o seguimento que entenderem.

33- Distinga mar territorial e zona contígua.


O mar territorial consiste numa área de poderes de soberania, e é uma faixa marítima
adjacente a costa do Estado, que se estende desde a linha normal de mare baixa até uma
distância fixa em 12 milhas. Neste espaço que compreende aguas, o leito e o subsolo, o
Estado exerce uma soberania quase total, apenas comprimida pelo direito de passagem
inofensiva. Já a zona contígua, consiste numa área em que os poderes não são de
soberania e sim de jurisdição, e esta é a extensão que vai desde a linha normal de mare
baixa até as 24 milhas. O estado não exerce poderes de soberania, apenas fiscaliza de
modo a prevenir ou reprimir a infração de leis e regulamentos dos Estados costeiros em
matéria aduaneira, fiscal, sanitária e de imigrações. Ambas compõem o território
marítimo de um Estado.

34- Distinga legitima defesa e represália.


A legítima defesa constitui uma exceção ao uso da força nas relações internacionais.
É a possibilidade de um estado se defender de um ataque prévio utilizando a força. Porém,
para assim proceder é necessário, que seja um direito transitório, ou seja, só pode ser
exercido até que o conselho de segurança intervenha, deve comunicas as medidas que
tomou no exercício deste direito, além de que o Estado que atua em legítima defesa deve
agir de acordo com o princípio da proporcionalidade e seus subprincípios. Já a represália,
é um ato que compõe a contramedida. Este primeiro constitui atos hostil, porem ilícitos.
Mas essa ilicitude desaparece porque a represália é motivada por um ato ilícito, prévio,
por parte de outro Estado. Tanto a legitima defesa e a represália são causa de exclusão da
ilicitude internacional de um ato, porem na represália este ato é adotado unilateralmente
pelos Estados, que decidem a sua intensidade e forma de execução, já não legitima defesa,
tem que se respeitar o princípio da proporcionalidade e as medidas adotadas tem que ser
comunicadas.
35- Comente: ‘’ O direito comunitário (originário e derivado) insere-se na ordem
interna nos termos definidos pelo direito da União’’.
O art. 8º/3 da CRP foi acrescentado na revisão constitucional de 1982 para
adaptar a CRP à futura adesão de Portugal às comunidades Europeias e a um Direito
com características supranacionais. Pela leitura deste artigo, facilmente se conclui que
não é exigida nenhuma formalidade para que os atos de Direito Comunitário derivado
vigorem na ordem jurídica interna. Estamos na presença de um sistema de
incorporação automática, com a particularidade de se afirmar que aqueles gizam de
um regime de aplicabilidade direta. Porém, este número impõe duas condições: que
as normas emanem ou provenham de órgãos competentes dessas organizações;
contudo, esta condição não encontra paralelo no Direito Comunitário originário, nem
na jurisprudência comunitária, nem na prática internacional na matéria, e também
que se encontre estabelecido nos respetivos tratados constitutivos o mencionado
regime de aplicabilidade direta.
A personalidade jurídica comunitária assenta na característica de o direito
comunitário derivado ser dotado de aplicabilidade direta, não precisando de
transposição ou mediação pelos órgãos estaduais para valer na Ordem jurídica
interna. Além disso, ele não se dirige aos Estados, mas diretamente aos indivíduos.
(INCOMPLETO).

36- Defina reserva de modificação.

37- Distinga conciliação e arbitragem.


Conciliação e arbitragem são meios pacíficos, com intervenção de terceiros,
para solução de controvérsias no plano internacional que dependem de prévio
compromisso entre as partes envolvidas no conflito (art. 33 CNU). Diferenciam-se no
sentido de que a conciliação apresenta-se como um meio quase jurisdicional de
solução de conflitos, em que a comissão de conciliação, para além da análise e
assentamento dos fatos, apresenta uma proposta de solução (interpretação e
aplicação do Direito ao caso concreto) que, porém, não é vinculativa nem obrigatória
às partes, as quais, assim, conservam a liberdade de autocomposição do conflito; ao
passo que na arbitragem, como um meio de natureza jurisdicional, a proposta de
solução jurídica do conflito é vinculativa, obrigatória e definitiva, cujo cumprimento,
portanto, afigura-se cogente às partes em conflito, as quais, em consequência, deixam
de conservar, uma vez instaurado o procedimento arbitral, a liberdade de comporem
negocial e voluntariamente o conflito.

38- Comente: ‘’ As convenções internacionais recebidas na ordem jurídica


portuguesa têm um valor supralegal’’.
A CRP absorve à luz de seu art. 8º, uma posição monista com primado do
Direito Internacional com mitigações relacionadas a e dependentes da natureza
jurídica da norma de Direito Internacional, que acabam por estabelecer um diferente
regime jurídico de incorporação e relacionamento hierárquico entre o Direito interno
e o Direito Internacional.
Relativamente ao Direito Internacional geral, a que se refere o nº 1 do art. 8º
da CRP, a receção é automática e, mediante interpretação conjugada com o art. 16º,
nº 2 da CRP, a alocação hierárquica relativamente ao Direito interno é a
supraconstitucional. Logo, convenções internacionais que positivem normas de cunho
universal/geral de Direito Internacional Público terão não só valor supralegal como
supraconstitucional. No que concerne ao Direito Internacional particular, nos termos
do art. 8º, nº 2, da CRP, a regra é da receção automática condicionada a prévia
ratificação e publicação e, hierarquicamente, consoante o posicionamento
doutrinário maioritário, da receção com valor supralegal, mas infraconstitucional (a
partir de uma leitura sistemática e conjugada com os arts. 277º, 278º e 119º CRP).
Embora tais conclusões não sejam pacíficas – havendo vozes dissonantes na doutrina
quanto ao valor supralegal do Direito internacional convencional, a exemplo de
Gomes Canotilho e Vital Moreira, que colocam na mesma ordem hierárquica as
convenções internacionais e o direito interno ordinário –, uma interpretação
sistemática da CRP parece encaminhar forçosamente a tal solução. A uma porque tais
normas, por mandamento constitucional do art. 8º, nº 2, devem vigorar no plano
interno enquanto vincularem internacionalmente o Estado português, afigurando-se,
como consequência lógica, a sua necessária prevalência frente às leis ordinárias
posteriores que, eventualmente, as contrariem, o que só se pode assegurar mediante
a atribuição de valor supralegal; a duas porque, sob uma perspetiva material, a
ponderação de valores em conflito parece pender para tal conclusão, sobretudo à luz
de uma evidente abertura do sistema jurídico português ao DIP (art. 7º e 16º CRP); e,
por fim, porque a prática internacional tem se firmado neste sentido, sendo, ainda,
esta posição – a do valor supralegal das convenções internacionais – aquela
consagrada pelo Tribunal Constitucional português.

39- Defina princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas.


Perfilhados como fonte (supletiva) do Direito Internacional Público (art. 38º, nº 1, al.
c do ETIJ), os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas são
objeto de divergências doutrinárias entre três principais correntes, a saber, a que os
equipara aos princípios fundamentais do Direito Internacional, a que remete para os
princípios gerais de direito interno e, por fim, a que admite que podem ser compostos
tanto por uns quanto por outros. Tendo em conta a autonomia com que devem ser
compreendidos relativamente às demais fontes consagradas no art. 38º do ETIJ, os
princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas são aqueles
consagrados amplamente pelas ordens jurídicas nacionais passíveis de transposição
para o plano internacional, como os princípios da boa-fé, segurança jurídica e
igualdade das partes.

40- Defina poderes de jurisdição.


Identificação do conceito de poderes de jurisdição e breve distinção do
conceito de soberania Identificação dos locais onde o Estado exerce poderes de
jurisdição. Descrição dos diferentes poderes do Estado conforme o local em que são
exercidos. Os poderes de jurisdição são poderes limitados, que derivam do direito
internacional. São poderes atribuídos, quando se fala em zona. Diferentemente dos
poderes de soberania que são inerentes aos Estados e praticamente ilimitados. Os
Estados irão exercer os poderes de jurisdição sobre a zona contígua, plataforma
continental e ZEE. Na zona contígua o Estado apenas fiscaliza de modo a prevenir ou
reprimir infração de leis e regulamentos dos Estados costeiros em matéria aduaneira,
fiscal, sanitária e emigrações. Na ZEE, os Estados exercem poderes de jurisdição tendo
em vista o princípio da desigualdade compensatória e na plataforma continental o
exercício de poderes do estado está regulado no art.77º CMB.

41- Distinga abstenção e voto negativo.


A abstenção é ausência de voto afirmativo por parte de um estado membro
equivalia a um direito de veto. A verdade é que se formou um costume contra legem
e a simples abstenção não paralisa a decisão, mas só um voto negativo produzirá esse
resultado. (INCOMPLETO).

42- Distinga erro e dolo.


Tanto o erro quanto o dolo constituem irregulares substanciais de vícios da
vontade ou do consentimento. O erro, por sua vez, apenais vicia o consentimento do
Estado quando for essencial e desculpável. A verificação dessas duas condições é
cumulativa. Deve mostrar que se não fosse esse erro, o Estado teria tido uma
orientação diferente ou nem tinha acordado a Convenção Internacional. Por outro
lado, se o Estado, contribuiu para a ocorrência do erro, este já não é desculpável. Já o
dolo, é uma conduta assumida por uma parte, intencionando enganar um Estado.
Ambas provocam a nulidade relativa.

43- Comente: ‘’ A CRP positiva uma solução monista moderada com primado do
Direito Internacional ‘’.

Existem 2 teses que dissertam sobre a relação entre o Direito Internacional e


o Direito Interno. A tese dualista, defende uma separação total entre a ordem jurídica
internacional e a ordem jurídica interna, são vistas como realidades distintas. Logo,
uma norma de DIP só pode vigorar no plano interno desde que seja convertido em
direito interno, não há aplicabilidade direta. Essa separação radical entre as ordens é
fundamentada em uma tríplice diferença, quanto a origem do direito positivo, quando
aos sujeitos das relações jurídicas e quanto à natureza de ambos os ordenamentos. Já
a tese monista, existe uma unidade do mundo jurídico. Aceitam que as normas
internacionais produzam efeitos na ordem jurídica interna de forma direta. Porém,
acaba por negar a existência do direito Internacional como disciplina autônoma. Numa
versão mais radical, defende-se que as normas internacionais situam um plano
superior as internas. Para os mais moderados, a perdem jurídica internacional delimita
o campo de atuação da ordem jurídica interna, dispondo está de uma margem de
manobra. Em Portugal, adota-se a posição monista mais moderada, pois cada vez é
maior o número de normas de direito internacional que são validas no plano interno
independentemente da vontade dos Estados e a globalização tem vindo reduzir o
leque das matérias que fazer parte do domínio reservado dos Estados. (Falar do art.
8º?).
44- Comente: ‘’Sendo omisso o art. 8.º da Constituição quanto à recepção do
direito consuetudinário particular (regional) na ordem jurídica portuguesa, seria,
não obstante, absurdo concluir que esse direito não vigora em Portugal nos casos
em que vincula internacionalmente o Estado português’’.

Descrição do conceito de costume e distinção entre o costume geral e o


costume regional. Descrição das técnicas de incorporação do direito internacional na
ordem jurídica dos Estados. Realização de análise dos aspetos essenciais do art. 8.ºda
Constituição da República Portuguesa. Descrição das diferentes posições teóricas
relativas ao problema da inserção dos costumes bilaterais na ordem jurídica
portuguesa (Silva Cunha, Moura Ramos e Azevedo Soares). Tomada de posição
relativamente ao problema descrito.

45- Distinga receção automática e receção semiplena.


Ambas são técnicas de incorporação de normas de direito internacional na
ordem interna. A receção automática, diz que as normas de DIP inserem-se
diretamente na ordem interna, sem quaisquer restrições. Esta revela uma conceção
monista do direito, ou seja, uma unidade do mundo jurídico, onde aceita-se que as
normas internacionais produzam efeitos na ordem jurídica interna de forma direta. Já
a receção semiplena assenta numa distinção das normas internacionais de acordo
com seu conteúdo. As normas de direito internacional comum ou geral serão de
receção automática (pressuposto monista – unidade do mundo jurídico). Mas as de
ordem particular poderão ser sujeitas a uma transformação (pressuposto dualista –
separação total entre a ordem jurídica internacional e a ordem jurídica interna, são
vistas como realidades distintas). Esta última é considerada uma técnica mista já que
há uma conjuração entre as conceções monista e dualista.

46- Defina sucintamente promessa.


A promessa, como ato jurídico unilateral (declaração unilateral de vontade de
realizar ou deixar de realizar determinados comportamentos), é passível de criar
direitos e obrigações internacionais, assomando como fonte autônoma do Direito
Internacional Público quando satisfeitos os requisitos da publicidade e seriedade da
declaração, voltada à produção de efeitos jurídicos, tal como jurisprudencialmente
reconhecido pelo Tribunal Internacional de Justiça (casos dos testes nucleares no
Pacífico Sul).

47- Defina organização internacional.


As organizações internacionais passaram, no modelo moderno, a ser
reconhecidas como sujeitos de Direito Internacional Público, consubstanciando-se em
“associações voluntárias de Estados, criadas por tratado, dotadas de uma estrutura
orgânica permanente e possuidoras de uma personalidade jurídica internacional
distinta da dos Estados membros”, que se voltam a prosseguir objetivos comuns a
seus membros a partir de estruturas orgânicas próprias, cujas competências e poderes
associados encontram-se estatutariamente previstos e podem caracterizá-las como
de cooperação ou de integração.
48- Distinga cláusula arbitral de compromisso arbitral.
O princípio da vedação do uso da força no plano internacional impõe sejam
pacificamente resolvidos os conflitos internacionais, assomando a arbitragem como
um dos meios (art. 33 CNU) – no caso jurisdicional com intervenção de terceiros –
disponíveis aos sujeitos de DIP para tal efeito. A formação de tribunais arbitrais ad hoc
depende da declaração de vontade de todos os sujeitos envolvidos na controvérsia
(jurisdição facultativa), apresentando-se a cláusula arbitral e o compromisso arbitral
como mecanismos para expressar a vontade de vincular-se à solução arbitral.
Diferenciam-se no sentido de que a cláusula arbitral consubstancia declaração de
vontade prévia à existência de qualquer conflito, integrando materialmente
convenções internacionais para prever que quaisquer controvérsias passíveis de
assomarem serão resolvidas por arbitragem. O compromisso arbitral, ao revés, é
firmado após o surgimento de um conflito, quando as partes em conflito decidem
submeter a celeuma a um tribunal arbitral e, para tanto, firmam um acordo
(compromisso arbitral) estabelecendo a concordância quanto à solução arbitral e os
seus parâmetros.

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