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O jurista russo sustenta que antes de criar suas teorias, a burguesia edificou o
seu Estado na prática, tendo seu início baseado na Europa Ocidental, nas
comunidades urbanas. Os recursos financeiros estatais proporcionaram o
surgimento de empregados e funcionários públicos, assegurando ao caráter
público da autoridade sua base material.
Nesse sentido, o autor verifica que a revolução não pode resultar apenas na
ocupação do aparelho estatal e jurídico com vistas ao oferecimento de novas
diretrizes comunistas. Justamente pela falta de neutralidade das instituições
capitalistas, o Estado e o Direito não podem ser colocados à serviço do
comunismo. Apesar disso, Pachukanis ainda considerava que a extinção do
Direito não se daria de forma instantânea, mas as instituições jurídicas seriam
mantidas e desempenhariam funções disciplinadoras por um tempo na
sociedade de transição.
Para evitar sua prisão ou execução, como vinha ocorrendo com opositores de
Stalin, Pachukanis havia ajustado seus entendimentos às diretrizes do promotor
Andrei Vychinski. Mas Pachukanis insistiu ainda por algum tempo em vários dos
pontos-chave de sua teoria, recaindo em contradições provavelmente
propositais, enquanto o governo de Stalin endurecia cada vez mais a
perseguição contra os dissidentes.
***
Notas bibliográficas:
[1] “Alice no País das Maravilhas” (Alice in Wonderland) de Lewis Carrol
(Charles Lutwidge Dodgson), Inglaterra, 1865.
[2] O Capital – Crítica da Economia Política, Livro I – O Processo de Produção
[como um todo], Londres, 1867; trad. Rubens Enderle, São Paulo, Boitempo,
2013; “Como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, assim,
uma condição de existência do homem, independente de todas as formas
sociais, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem
e natureza e, portanto, da vida humana.” pág. 168., “As mercadorias não podem
ir por si mesmas ao mercado e trocar-se umas pelas outras. Temos, portanto, de
nos voltar para seus guardiões, os possuidores de mercadorias. Elas são coisas
e, por isso, não podem impor resistência ao homem. Se não se mostram
solícitas, ele pode recorrer à violência; em outras palavras, pode tomá-las à
força. Para relacionar essas coisas umas com as outras como mercadorias, seus
guardiões têm de estabelecer relações uns com os outros como pessoas cuja
vontade reside nessas coisas e que agir de modo tal que um só pode se apropriar
da mercadoria alheia e alienar a sua própria mercadoria em concordância com
a vontade do outro, portanto, por meio de um ato de vontade comum a ambos.
Eles têm, portanto, de se reconhecer mutuamente como proprietários privados.
Essa relação jurídica, cuja forma é o contrato, seja ela legalmente desenvolvida
ou não, é uma relação volitiva, na qual se reflete a relação econômica. O
conteúdo dessa relação jurídica ou volitiva é dado pela própria relação
econômica.”, pág. 219.
[3] Marx, Karl, 1818-1883, Crítica do Programa de Gotha / Karl Marx ; seleção,
tradução e notas Rubens Enderle. – São Paulo: Boitempo, 2012.
[4] Lênin, Vladimir, O Estado e a Revolução, junho/setembro, 1917, Petrogrado;
tradutor: Paula Vaz de Almeida, coleção: Arsenal Lenin, Boitempo, São Paulo,
2017.
[5] Evgeni Bronislávovich Pachukanis, Staritsa Rússia, 23 de
fevereiro de 1891 — 1937) foi um jurista soviético, membro do Partido
Bolchevique, ainda hoje considerado o mais proeminente teórico marxista no
campo do direito. Em 1924, Pachukanis publica a primeira edição de sua mais
importante obra, A teoria geral do direito e o marxismo (que teve ainda uma
segunda edição em 1926 e uma terceira em 1927). A partir de 1930, com a
ascensão de Stálin, o pensamento de Pachukanis passa a ser altamente
conflitante com a linha política seguida pelo governo soviético. Pachukanis é
preso em 20 de janeiro e condenado em 4 de setembro de 1937. Declarado
“inimigo do povo”, acaba executado ainda em 1937 (data incerta). A teoria
jurídica soviética passa a ser dominada por Andrei Vichinsky, reprodutor da linha
de Stalin de reforço do Estado no campo do direito. A obra de Pachukanis é
então renegada e proibida.
[6] Teoria geral do direito e marxismo, Eveguiéni B. Pachukanis, Moscou, 1924,
tradução: Paula Vaz de Almeida, revisão técnica Alysson Mascaro e Pedro
Davoglio, Boitempo, São Paulo, 2017.
[7]Mascaro (Catanduva, 1976) é um jurista e filósofo do direito brasileiro. É
doutor e livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade
de São Paulo e Professor na mesma universidade.
[8] Boitempo, 2013.
[9] Op. Cit.
[10] Sobre as Tarefas do Proletariado na Presente Revolução. V. I. Lenine,
Petrogrado, panfleto, 07 abril de 1917.
[11] Op. Cit.
[12] In Oevres. Paris/Moscou, Éditions Sociales, 1962, marco/agosto 1919, p.
101 -114. In Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 5, Lênin, Política, org.
Florestan Fernandes, Ed. Ática, São Paulo, 1978 pág. 162.
[13] “segredo da expressão do valor, a igualdade e equivalência de todos os
trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral, só pode
ser decifrado quando o conceito de igualdade humana já possui a fixidez de um
preconceito popular. Mas isso só é possível numa sociedade em que a forma-
mercadoria [Warenform] é a forma universal do produto do trabalho e, portanto,
também a relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a
relação social dominante.” O Capital – Crítica da Economia Política, Livro I – O
Processo de Produção [como um todo], Londres, 1867; trad. Rubens Enderle,
São Paulo, Boitempo, 2013, pág. 189. E, “Segue-se daí que a forma de valor
simples da mercadoria é simultaneamente a forma-mercadoria simples do
produto do trabalho, e que, portanto, também o desenvolvimento da forma-
mercadoria coincide com o desenvolvimento da forma de valor.” Idem, pág. 192.
Ainda, “A forma-mercadoria simples é, desse modo, o germe da forma-dinheiro.”,
idem, idem, pág. 204.
[14] O Capital – Crítica da Economia Política, Livro I, Londres, 1867; trad.
Rubens Enderle, São Paulo, Boitempo, 2013 “A forma- mercadoria simples é,
desse modo, o germe da forma-dinheiro.”, pág. 204; “o desenvolvimento da troca
de mercadorias, ela se fixa exclusivamente em tipos particulares de mercadorias
ou se cristaliza na forma-dinheiro”, pág. 224.
[15] Marx, Karl, 1818-1883, Crítica do Programa de Gotha / Karl Marx; seleção,
tradução e notas Rubens Enderle. – São Paulo: Boitempo, 2012 “Por exemplo,
a jornada social de trabalho consiste na soma das horas individuais de trabalho.
O tempo individual de trabalho do produtor individual é a parte da jornada social
de trabalho que ele fornece, é sua participação nessa jornada. Ele recebe
da sociedade um certificado de que forneceu um tanto de trabalho (depois da
dedução de seu trabalho para os fundos coletivos) e, com esse certificado, pode
retirar dos estoques sociais de meios de consumo uma quantidade equivalente
a seu trabalho. A mesma quantidade de trabalho que ele deu à sociedade em
uma forma, agora ele a obtém de volta em outra forma.” Pág. 31.
[16] Krausz, Tamás, 1948, Reconstruindo Lênin – uma biografia intelectual
tradução: Baltazar Pereir, Pedro Davoglio, Artur Renzo. 1ª Ed., Boitempo, São
Paulo, 2017.
[17] Em março de 1921, o governo de Vladmir Lênin anunciou a Nova Política
Econômica, também conhecida pela sigla NEP. Em suma, esse novo plano
recuava com as ações centralizadoras do comunismo de guerra e permitia que
algumas práticas do sistema capitalista ainda fossem empregadas. Dessa forma,
pretendia-se dar “um passo para trás, para depois dar dois à frente”. Ou seja,
reaquecer a economia através do capitalismo e, logo em seguida, ampliar o
conjunto de ações socialistas.
[18] A Nova Política Econômica (NEP) – Capitalismo de Estado, transição e
socialismo, org. ,tradução e introdução Antônio Roberto Bertelli, Global Editora,
Coleção Bases, v. 52. São Paulo 1987.
[19] orelha: Alysson Leandro Mascaro, prefácio: Antonio Negri, textos: Carlos
Rivera-Lugo, Dragan Milovanovic, Jean-Marie Vincent, John Hazard, Karl
Korsch, posfácio: China Miéville, Umberto Cerroni; colaborador: Pedro Davoglio,
autor: Evguiéni B. Pachukanis, tradutor: Paula Vaz de Almeida, Boitempo, São
Paulo, 2017.
[20] Evgeni Pachukanis, TGDM e Ensaios Escolhidos, Trad.: Lucas Simone
Coord. Marcus Orione, São Paulo, Sundermann, 2017.
[21] http://petdireito.ufsc.br/wp-content/uploads/2013/06/PACHUKANIS-
Evgene.-Teoria-geral-do-Direito-e-marxismo.pdf
[22] LOISEAU, Léon. Directions pour une approche marxiste du droit: la theorie
generale du droit d’e.b.pachukanis. Actuel Marx en Ligne nº 16, 2002. Disponível
em: http://actuelmarx.u- paris10.fr/alp0016.htm, in Joelton Nascimento,
LavraPalavra, https://18.118.106.12/2017/03/29/com-pachukanis-para-alem-de-
pachukanis-direito-dialetica-da-forma-valor-e-critica-do-trabalho/.
[23] Joelton Nascimento, in: https://18.118.106.12/2017/03/29/com-pachukanis-
para-alem-de-pachukanis-direito-dialetica-da-forma-valor-e-critica-do-trabalho/.
[24] Vyshinsky nasceu em Odessa em uma família católica polonesa, que mais
tarde se mudou para Baku, tornou-se um menchevique em 1903 e participou
ativamente da Revolução Russa de 1905, permaneceu um menchevique ativo,
deu muitos discursos apaixonados e incendiários e se envolveu no governo da
cidade. Em 1917, como um funcionário menor, ele assinou uma ordem para
prender Vladimir Lênin , acordo com a decisão do Governo Provisório Russo ,
mas a Revolução de Outubro rapidamente interveio, e os escritórios que
ordenaram a prisão foram dissolvidos. Em 1917, ele se aproximou de Stalin, que
se tornou um importante líder bolchevique. Consequentemente, ele se juntou à
equipe do Comitê do Homem da Alimentação, responsável pelos suprimentos de
alimentos de Moscou, e com a ajuda de Stalin, Alexei Rykov e Lev Kamenev, ele
começou a aumentar de influência e prestígio. Em 1920, somente após a derrota
dos brancos sob Denikin, e o fim da Guerra Civil Russa, ele se juntou
aos bolcheviques. Em 1935, tornou-se procurador-geral da URSS , o cérebro
legal do Grande Expurgo de Stalin . Embora ele atuasse como juiz, ele
incentivou os investigadores a obterem confissões do acusado. Em alguns
casos, ele preparou as acusações antes da conclusão da “investigação”. Na
sua Teoria das Demandas Judiciais na Justiça Soviética (Prêmio Stalin em
1947), estabeleceu uma base teórica para o sistema judicial soviético, com base
nos princípios “marxistas-leninistas”, leia-se stalinistas dando-lhe uma forte
tendênciatotalitária. Vyshinsky recomendou que os investigadores e os juízes
considerassem “a perspectiva social mais ampla”. Como resultado, uma
verdadeira comissão de um crime não era necessária para a condenação: as
pessoas poderiam ter sido condenadas por serem percebidas como burguesas
(“responsabilidade da classe”) ou simplesmente se isso fosse considerado
benéfico para o Partido Comunista, por exemplo na papel “educacional” do
sistema judicial (assim, a importância dos ensaios de ensaio, mesmo com
acusações completamente falsas. Muitas das regras introduzidas foram
mutuamente exclusivas: por exemplo, Vyshinsky geralmente advertiu contra o
tratamento da auto-acusação como prova formal devido a possíveis
manipulações, mas, ao mesmo tempo, advertiu contra “tratar esta regra na
abstração a partir de características específicas de cada caso” em “casos de
conspiração, organizações criminosas e especialmente casos de grupos anti-
soviéticos e contra-revolucionários”. Ele também usou seus próprios discursos
dos julgamentos dos Processos de Moscou como um exemplo de como as
declarações dos arguidos poderiam ser usadas como evidência primária em tais
casos, pois a acusação “não pode esperar que os conspiradores documentem
suas atividades criminosas”. Talvez com base nesta prática, em que, Stalin
pessoalmente, deu orientação sobre o uso de confissões e o uso da pena de
morte. Vyshinsky é citado pelo princípio de que “confissão do acusado é a rainha
da evidência “. Nada mais oposto a Pachukanis.
[25] Kashiura Jr ,Celso Naoto., Pachukanis e os 90 anos de Teoria geral do
direito e marxismo, in: Verinotio –revista on-line de filosofa e ciências humanas
– Espaço de interlocução em ciências humanas, n. 19, Ano X, abr./2014 –
Publicação semestral – ISSN 1981-061X, in:
https://pt.scribd.com/document/268993900/Pachukanis-e-os-90-Anos-de-
Teoria-Geral-do-Direito-e-Marxismo.
[26] José Paulo Netto é um reconhecido e combativo intelectual marxista. Na
melhor tradição do marxismo clássico, José Paulo Netto busca compatibilizar
sua produção teórica com um intenso engajamento na luta das ideias de seu
tempo. É professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem vínculos com
outras instituições de ensino do país e exterior. Fora dos meios acadêmicos, tem
atuação destacada junto à Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), centro
de estudos e debates vinculado ao MST. Incansável divulgador do marxismo
crítico no Brasil é também responsável por traduções de textos de autores
clássicos; entre eles, Marx, Engels, Lênin e Lukács.
[27] In: https://www.youtube.com/watch?v=5_Wz9yGztBw, em 09/11/17.
[28] In: https://www.youtube.com/watch?v=Ow98koUUaEI, em 09/11/17.
[29] Enquanto em 1921 Lênin defendeu a depuração do partido, aconselhando
que se depurasse conscienciosamente o Partido “… dos malandros, dos
elementos burocratizados, dos indivíduos pouco honrados, dos comunistas
vacilantes e dos mencheviques que, embora tivessem rebocado sua “fachada”,
em espírito continuavam sendo mencheviques” (Lenin, t. XXVII, pág. 13 ed.
russa), como consequência desta depuração, foram expulsas do Partido, em
conjunto, 170.000 pessoas, ou seja cerca de 25% do total de filiados;
em maio de 1924, com Lênin já morto, celebrou-se o XIII Congresso do Partido.
Assistiram a ele 748 delegados com direito de palavra e voto, representando
735.881 filiados. O enorme aumento do número de filiados ao Partido, em
comparação com o do Congresso anterior, tem sua explicação nos 250.000
ingressos aproximadamente, da “promoção leninista”, organizada por Stalin e os
“seus”.