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Capítulo IV – Criminologia Radical e a Política do Controle Social

As teorizações de Rusche e Kirchheimer buscavam por sua vez, o


rompimento com a criminologia tradicional entre crime e punição, uma vez que
propõe a relação da punição com o mercado de trabalho, ou seja, vinculam a seara
econômica à “superestrutura de controle da formação social” (SANTOS, p.61).
Nesse sentido, a punição é utilizada pelo sistema de produção e essa, por sua vez,
irá corresponder as suas relações de produção.
A teoria do projeto, de Rusche, afirma que o mercado de trabalho é
fundamental na explicação do sistema penal, definição essa que se expande em
duas hipóteses antagônicas: caso a força de trabalho seja insuficiente para o que o
mercado demanda, a punição tende a forçar o trabalho, com o fito de preservar a
mão-de-obra; caso a força de trabalho seja excedente, a punição assume a
finalidade de exterminar a mão-de-obra.
A criminalidade pode ser verificada nas camas mais inferiores na sociedade,
fato esse que permite formular o “princípio da eficácia”, esse, por sua vez,
pressupõe que que condições de vida do detento serão inferiores às da classe de
trabalhadores. Ou seja, as condições da vida prisional estão atreladas às condições
que a sociedade está configurada.
As mudanças ocorridas no sistema penal, sob a ótica econômica e de
mecanismos superestruturais de controle de Rusche de Kirchheimer, vai representar
um avanço para as teorizações da criminologia radical, que explicam a
generalização da prisão como forma de controle, disciplina no meio produtivo e de
distribuição da sociedade capitalista, com o fito de formar o ser humano em uma
força de trabalho que seja interessante e adequada a sociedade capitalista.
Foucault, em sua obra “Vigiar e punir”, tem o fito de reconstruir o processo
histórico do poder e da pena, utilizando, para isso, a história da prisão que é
organizada da seguinte forma: os sistemas punitivos precisam ser estudados em
suas formas positivas; a função social que rege os mecanismos de punição não
pode ser explicada pelo Direito, e sim relacionadas aos processos de produção
material.
As investigações de Rusche de Kirchheimer tem a conceituação de sistema
punitivo atrelado à produção. Foucault, nesse sentido, é mostrar que o sistema
punitivo emprega de meios econômicos para atingir objetivos específicos,
produzindo assim, o que ele chama de “corpos dóceis e úteis”.
As Determinações Estruturais do Controle Social

Nesse subcapitulo, o professor Santos o inicia fazendo um resgate histórico


dos modos de produção versus sistema penal. O criminólogo, dá o exemplo da Alta
Idade Média, Baixa Idade, sociedade mercantilista e industrial. Na Alta Idade Média,
com a escassez de produção e, consequentemente, aumento da desigualdade, os
crimes patrimoniais, logo, o sistema penal irá se basear em castigos corporais, tendo
em visto que os indivíduos não teriam condições de pagar por multas. Ao passo que
na Baixa Idade Média os crimes eram pessoais e sexuais, inserindo penas de
pagamento de multas.
Com o início da sociedade mercantilista, a mão-de-obra é escassa, tendo em
vista os acontecimentos do século XIV. Em face disso, ocorre o a escassez da mão-
de-obra e, consequentemente, o aumento salarial e a qualidade de vida dos
trabalhadores. Disso, o sistema penal introduz o trabalho forçado e a prisão como
sistema punitivo, ao passo que na sociedade industrial com a inserção das
máquinas, se reduz a mão-de obra, formando um excedente de trabalhadores. Com
isso, a prisão e consolidada e a pena passa a contar com tortura e castigos físicos.
Com o sistema punitivo baseado na prisão, ou seja, na privação de liberdade,
o conceito de “tempo” é atrelado ao valor da mercadoria e o critério desse valor na
medida da pena de prisão. A relação entre tempo e mercadoria está associada com
a privação de liberdade no sentido de redução das riquezas provenientes do
trabalho humano, na medida que desse trabalho é gerado algum valor.
Os acontecimentos do século XIX e XX, entre eles a intervenção do Estado
na economia, queda das taxas de prisão e luta da classe trabalhadora é
característico de um período em que ocorre o fenômeno da “fragmentação do
direito”, que é, por vez, definido em duas características: substituição de leis
genéricas e abstratas por regras mais especificas; o método judicial é introduzido
pela “intuição”, característica que causa certa dependência no judiciário, além de
atrelar o econômico sobre o sistema legal. A substituição da generalidade pela
especificidade abre margem para conquistas de objetivos econômicos e,
consequentemente, uma política fascista.
O excedente na força de trabalho não é uma característica nova na sociedade
capitalista, sendo que, o aumento da produção e a redução dos custos causaram
alteração na “composição orgânica do capital”, esse com relação entre “capital
constante” e capital variável” fazendo com que o capital seja valorizado e, por
consequência, a produção de excedentes de trabalho.

Ideologia do Controle Social

Com o estabelecimento da prisão, inicia-se um projeto de reforma penal nos


modelos prisionais no Ocidente, sendo esses atrelados ao trabalho. O sistema
punitivo medieval com castigos corporais, tinham por finalidade intimidar a
população e produzir medo. Com a mudança social ocorrida na Baixa Idade Média
e, logo depois, a industrialização e, consequentemente, a formação de uma
burguesia, cria-se, então, formas mais humanistas da pena, exigindo respeito à
humanidade do criminoso.
Diante desse cenário de transformações, o suplicio do condenado é reduzido
e os crimes patrimoniais aumentam, mais que isso, a repressão penal é definida
pela status social, com isso se tem: as massas populares são submetidas a penas
mais rigorosas; a burguesia dispondo de privilégios e proteção, fazendo da
criminalidade um investimento.

Os objetivos do Aparelho Penal

O objetiva da prisão é punir, sendo essa punição a privação de liberdade, ou


seja, o tempo “equivalente geral de troca de crime” (SANTOS, p.80) é uma
mercadoria, servindo, assim, como critério para a quantificação da pena. Portanto, a
dívida criminosa é paga com o tempo. Nessa esteira, a coação física é
complementada por técnicas do isolamento, trabalho e modulação da pena.
Entretanto, a crítica acerca desses princípios é que a prisão não reduz a
criminalidade sim gera a reincidência, ou seja, trata-se de uma eficácia invertida.
A explicação desse fenômeno pode ser explicada a partir de dois conceitos:
objetivos ideológicos, que podem ser resumidos como sendo o controle da
criminalidade; objetivos reais, que tende a reproduzir a criminalidade dos grupos
marginalizados socialmente. A argumentação do sistema de justiça penal se baseia
nos objetivos ocultos, justamente por inferir um controle diferenciativo do crime.
Para Foucault, as práticas relacionadas à punição são políticas, tendo em
vista que as leis funcionam como instrumento de dominação

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