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Excelentíssima Senhora Juíza de Direito Mariuccia Benicio Soares Miguel.

Processo 5085698-98

O ESTADO DE GOIÁS vem apresentar MANIFESTAÇÃO


PRELIMINAR sobre os pedidos formulados na inicial, fazendo-o nos seguintes termos:

O MPGO pretende a nomeação dos candidatos do concurso regido pelo


Edital n.º 001/2012, de 17 de outubro de 2012, sob o argumento de preterição pelo
advento de concursos posteriores, regidos pelos editais “n.º 002/2022, de 8 de abril de
2022, para o provimento de 1.500 (mil e quinhentas) vagas para o posto de Soldado de 2ª
Classe, e pelo Edital n.º 003/2022 , de mesma data, para o provimento de 100 (cem)
vagas para o posto de Cadete”.

Contudo, como se passará a demonstrar, a pretensão deduzida na inicial


deverá ser rechaçada. Vejamos:

1. Inadequação da via eleita.


ACP proposta para executar decisão de outra ACP

Da leitura da inicial compreende-se que o MPGO quer assegurar aos


candidatos eliminados do já expirado concurso n.º 001/2012 a sua nomeação e posse nos
termos da decisão proferida na ACP 0446485-57.2013.8.09.0051. É isso que se infere
quando se lê o seguinte trecho da inicial (pág. 6):

Em outras palavras, portanto, foi mantida a substância da sentença,


referente, in casu, à imposição de que fossem classificados em cadastro de
reserva TODOS os aprovados nas variadas provas realizadas pelo certame,
e, por consequência, obrigado o Estado de Goiás a convocar e nomear todos
os aprovados – SOLDADOS e CADETES – no concurso regido pelo Edital
n.º 001/2012, inclusive os constantes do novel cadastro de reserva. (grifado)

Ora, se o direito foi assegurado na ACP 0446485-57, bastaria, então,


requerer o cumprimento nos próprios autos, ao invés de propor uma nova ACP. Conclui-
se, assim, pela absoluta falta de interesse/utilidade desta ação.

Nesse sentido é o entendimento do TJGO e o STJ, que, debruçando-se


sobre os desdobramentos referentes ao cumprimento da ACP 0446485-57, concluíram
que a via adequada seria a execução forçada naqueles autos. Confira-se:

Rua 02, esquina com a Av. República do Líbano, Qd. D-02, Lt. 20/26/28, nº 293, Ed. Republic Tower,
Setor Oeste, Goiânia-GO, CEP 74110-130 – Tel. (62) 3252-8500
1
O entendimento jurisprudencial deste Sodalício é firme no sentido de
reconhecer que o mandado de segurança não se presta a tutelar o direito de
nomeação e posse no cargo de Soldado de 2ª classe da Polícia Militar do
Estado de Goiás, porquanto a questão deverá ser versada no
cumprimento de sentença proferida em ação civil pública (autos nº
446485 -57.2013.8.09.0051)1

Ademais, esta Corte orienta -se no sentido de que “o mandado de segurança


não é a via processual adequada para dar cumprimento a obrigação prevista
em termo de ajustamento de conduta ou em acórdão prolatado em ação
civil pública. São ambos espécies de título executivo e, portanto, exigem
a instauração do respectivo processo executório2.

Nas palavras do MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES,


relator do julgado do STJ acima colacionado:

Não é caso, portanto, de impetração de mandado de segurança, mas de


execução forçada, de cumprimento de sentença, de execução individual
de sentença coletiva, mas não de mandado de segurança, que não é
notadamente a via adequada para postular o cumprimento de uma
decisão judicial que ainda sequer transitou em julgado. Com força nisso,
vislumbro a carência de interesse de agir por inadequação da via eleita,
adotando, pois, fundamentação diversa para a denegação da ordem.

O próprio Ministério Público estadual de 2º Grau também se alinha a


esse entendimento, como exemplifica o seguinte pronunciamento, lançado na
movimentação 46 dos autos 5442602-92.2021.8.09.0000, em que os limites do
cumprimento da ACP 0446485-57 foram discutidos:

Eventual existência de vagas, inclusive as decorrentes de desistências e da


pretensa inobservância às proporções contidas na norma editalícia, deve ser
discutida naquele feito, ainda em fase de cumprimento provisório de
sentença, até porque, leitura contrária implicaria em inarredável
desconsideração do que restou ali decidido, notadamente com relação aos
limites orçamentários (gastos com policiais temporários do SIMVE), a
repercutir manifesto risco de preterição a candidatos melhor classificados do
que o impetrante.

Dessa forma, deve a presente demanda ser extinta pela inadequação da via
eleita.

Apenas na hipótese de não acolhimento desse entendimento, passa-se a


discorrer sobre as demais questões, nos seguintes termos.
1 TJGO, Mandado de Segurança Criminal 5179810 - 57.2019.8.09.0000, Rel. GERSON SANTANA
CINTRA, Órgão Especial, julgado em 16/08/2019, DJe de 16/08/2019
2 AgInt no RMS 52.333/GO, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 03.04.2017
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2. O TJGO limitou as nomeações ao valor despendido com o SIMVE

É equivocado afirmar que a decisão do TJGO na ACP 0446485-57 teria


garantido qualquer direito dos candidatos do concurso de 2012 que não foram nomeados
à época.

Explica-se:

Ao julgar a apelação na ACP, o TJGO reformou a sentença para limitar


seu alcance apenas àqueles candidatos inseridos dentro do limite orçamentário
estabelecido no acórdão, que foi o valor despendido para remuneração do SIMVE.
Vejamos o seguinte trecho da fundamentação da decisão colegiada:

A parte dispositiva restou assim redigida:

ANTE O EXPOSTO, conheço do recurso de apelação cível e DOU-LHE


PARCIAL PROVIMENTO, para reformar em parte a sentença objurgada,
tão somente para determinar que a convocação do quantitativo de aprovados
seja correspondente ao valor atualmente dispendido com o subsídio do
SIMVE. No mais, mantenho a sentença tal como lançada. (grifou-se).

A ementa do acórdão ainda dispôs que “A investidura dos candidatos


aprovados e recomendados deverá se dar em estrita observância da lei de
responsabilidade fiscal e diretrizes orçamentárias”.

Ou seja, a decisão judicial que entendeu pela quebra da cláusula de


barreira e convocação do cadastro de reserva, limitou o cumprimento da decisão judicial
até o alcance do valor despendido com os subsídios do SIMVE - Serviço de Interesse
Militar Voluntário Estadual.

Dito de outra forma, restou consignado no acórdão que seria obrigatória


a convocação de todos os candidatos aprovados no Concurso para Soldados e Cadetes da
Polícia Militar, ainda que integrantes do cadastro de reserva, até o alcance do valor
despendido com os subsídios do SIMVE - Serviço de Interesse Militar Voluntário
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Estadual, cuja lei de criação foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal (acórdão já anexado à inicial).

Portanto, inexiste espaço para se extrair a interpretação de que houve o


reconhecimento do direito a nomeações fora dos limites estabelecidos peremptoriamente
pelo TJGO. Por isso, não há que se falar em preterição de candidatos.

Portanto, a pretensão deduzida na inicial não deve ser acolhida.

3. Exaurimento. O judiciário e o MPGO reconheceram o


cumprimento integral da decisão da ACP 0446485-57. Autos de cumprimento
provisório de sentença n. 0341268.54.2015.8.09.0051. Da desistência do recurso pelo
Estado de Goiás naquela ACP.

Conforme comprovado pelo Estado de Goiás nos autos de cumprimento


provisório de sentença (0341268.54.2015.8.09.0051), referente à ACP 0446485-57, os
candidatos beneficiados pelo acórdão foram nomeados, na qualidade de sub judice, em
13 de novembro de 2015, no Diário Oficial/GO nº 22.204, em observância às
informações prestadas pela Superintendência de Legislação, Atos Oficiais e Assuntos
Técnicos da Secretaria da Casa Civil do Estado de Goiás, no sentido de que o número de
soldados da PM cujo montante a ser gasto para fins de pagamento de remuneração
equivalente ao que era despendido com o SIMVE é de 732 (setecentos e trinta e dois),
sendo 40 (quarenta) Cadetes, 7 (sete) músicos e 685 (seiscentos e oitenta e cinco)
soldados combatentes (documentos anexados ao mencionado cumprimento de sentença).

No dia 10 de junho de 2016 foi informado e comprovado pelo Estado


de Goiás que 142 (cento e quarenta e dois) dos candidatos convocados não
compareceram, assim, o ente público convocou os 151 (cento e cinquenta e um)
próximos candidatos. Após, 21 (vinte e um) convocados não atenderam ao chamamento e
houve nova convocação (evento n. 17, ação judicial n. 0341268.54.2015).

Em decisão proferida em 03 de agosto de 2016, o douto Magistrado,


Dr. Ricardo Prata, concluiu que o valor gasto com as nomeações efetivadas pelo Estado
não foram correspondentes ao valor despendido com o subsídio do SIMVE,
determinando que o ente estatal convocasse Policiais Militares até o mínimo de R$
858.081,90 (oitocentos e cinquenta e oito mil e oitenta e um Reais e noventa Centavos),
valor referente ao período da diferença exposto entre maio 2015 e maio 2016. O Estado
de Goiás interpôs recurso, mas a decisão foi mantida (evento n. 40).

Em 28 de dezembro de 2016 foi publicado Decreto no Diário Oficial n.


22.475, nomeando mais candidatos do cadastro de reserva, a fim de alcançar o valor
mencionado na decisão da execução provisória, como remanescente para atingir o total

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gasto com o SIMVE e, assim, cumprir integralmente o decidido no bojo da Ação Civil
Pública, o que foi informado pelo Estado de Goiás (evento n. 70).

Já em junho de 2017, foi apresentada interlocutória pelo Estado de


Goiás, instruída de documentação no sentido de que “foram convocados 53 (cinquenta e
três) candidatos (nomeados no DOEGO n° 22.552 de 20/04/2017, em anexo) para suprir
faltas da convocação publicada em DOEGO n. 22.475 de 28/12/2016. Foi informado
ainda que desses 53 (cinquenta e três) faltaram 9 (nove) e que foi solicitado a convocação
dos mesmos junto a SEGPLAN” (evento n. 83).

No evento n. 101, da execução provisória, o representante do Ministério


Público Estadual entendeu que a obrigação havia sido cumprida na íntegra e requereu a
extinção do feito. Ato subsequente, no evento n. 104, a M.M. juíza condutora do feito,
entendeu que o ente público cumpriu as determinações da sentença, satisfazendo a
obrigação e extinguiu o feito, com o trânsito em julgado em 08 de agosto de 2018
(documentos em anexo).

Dessa forma, o Estado de Goiás efetivou e comprovou em juízo as


nomeações, nos termos do decidido na Ação Civil Pública de protocolo n. 201304464851
(0446485.57.2013.8.09.0051), qual seja, até o alcance do valor despendido com os
subsídios do SIMVE - Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual, nenhum direito
podendo mais ser reclamado com fundamento em referida ACP.

Reconhecido o cumprimento da decisão judicial e extinta a obrigação


de fazer, o Estado de Goiás, requereu desistência da pretensão recursal, com o objetivo
único de tornar definitiva a permanência dos mais de 700 policiais que, desde 2015, por
força de decisão judicial provisória, já vinham desempenhando suas funções, uma vez
que os recursos excepcionais tinham grandes chances de serem providos, em razão da
jurisprudência dos Tribunais Superiores e, tal fato, levaria ao desfazimento de diversos
vínculos precários estabelecidos com o Comando da Polícia Militar do Estado de Goiás.
20.

Veja, portanto, que o objetivo da desistência do recurso não foi a


possível convocação de mais candidatos aprovados no cadastro de reserva do certame,
visto que a decisão judicial já havia sido cumprida na íntegra e a Administração Pública
não está apta a extravasar os limites da decisão judicial, uma vez que o prazo de validade
do certame já havia expirado.

Demonstrado o exaurimento da decisão judicial proferida na ACP


0446485-57, passa-se aos próximos tópicos.

4. Impossibilidade de rediscussão quanto aos não contemplados pelo


limite estabelecido pelo TJGO. Eficácia preclusiva da coisa julgada.
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O pedido inicial consiste, como visto, em romper o limite das
convocações estabelecido na decisão final da ACP 0446485.57, sob o argumento de
preterição referente aos candidatos não nomeados à época. Essa pretensão, porém,
esbarra na coisa julgada, a qual, como visto, delimitou seu alcance apenas aos candidatos
inseridos dentro do limite orçamentário estabelecido no acórdão. Assim, incide na
espécie os termos do arts. 502, 503 e 505 do CPC, verbis:

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna


imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas


à mesma lide, salvo:

Não se pode olvidar, outrossim, a eficácia preclusiva da coisa julgada


(art. 508 do CPC/2015), por força da qual, após o trânsito em julgado, consideram- se
deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao
acolhimento quanto à rejeição do pedido:

Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão


deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia
opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.

Por fim, a preclusão (art. 507 do CPC/2015) impede às partes de


discutirem as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão.

No caso em apreço, conforme já demonstrado, o TJGO limitou o direito


reconhecido na sentença aos candidatos inseridos dentro do limite orçamentário do
SIMVE. E essa questão foi objeto de execução provisória (0341268.54.2015.8.09.0051),
também já transitada em julgado, na qual todos as partes concluíram pelo cumprimento
integral da decisão.

Sendo assim, a eficácia preclusiva da coisa julgada bem como a


preclusão impedem que a parte autora requeira, em nova ação judicial, a modificação dos
limites estabelecidos pelo TJGO ao julgar a ACP 0446485.57.

Este é mais um motivo para a rejeição dos pedidos formulados na


inicial

5. A pretensão da inicial já foi reiteradamente rejeitada pelo TJGO

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Cumpre esclarecer que inúmeros Mandados de Segurança foram
impetrados por candidatos do mencionado concurso, alocados no cadastro de reserva, e
que não foram abarcados pelo limite dos valores do SIMVE, tendo o Estado de Goiás
obtido êxito total no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Com efeito, nos referidos
processos foi denegada a segurança ou extinto, sem resolução do mérito, por
ilegitimidade passiva ou inadequação da via eleita. Vejamos alguns julgados:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS. CANDIDATO APROVADO
FORA DO NÚMERO DE VAGAS BEM COMO FORA DO CADASTRO
DE RESERVA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
SEGURANÇA DENEGADA. 1. Somente a aprovação do candidato
dentro do número de vagas previsto no edital configura direito subjetivo
à nomeação. 2. No caso concreto, verificou-se que a posição alcançada
pelo impetrante (1.750ª) encontrava-se fora do cadastro de reserva, não
figurando nem mesmo dentro do quantitativo excedente dos candidatos
incluídos por força do julgamento de ação civil pública (processo nº
201304464851). 3. Inexistindo prova pré-constituída do direito do
impetrante quanto à futura nomeação e posse, não há que se reconhecer
violação a direito líquido e certo a ser amparada no bojo do presente
mandamus. SEGURANÇA DENEGADA. (MANDADO DE SEGURANÇA
Nº 11989- 21.2016.8.09.0000 (201690119896) – Des. Jeová Sardinha de
Morais – 17/05/16 – 6ª Câmara Cível).

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CARGO DE SOLDADO 2ª


CLASSE DA PMGO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AUSÊNCIA DE
PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. 1 - Uma vez reconhecida a ilegalidade do ato
convocatório pela sistemática do Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual (SIMVE), através de ação civil pública, onde o Estado de Goiás foi
compelido a nomear todos os candidatos considerados aptos por
concursopúblico para o Cargo de Soldado de 2ª Classe, caberia à impetrante,
ao invés deimpetrar mandado de segurança, postular o cumprimento
individual (mesmo que provisório) da sentença coletiva, por melhor se
adequar às particularidades do caso concreto, notadamente ante a
necessidade de se demonstrar que a receita investida na manutenção dos
contratos temporários sob a égide do SIMVE permitirá a convocação da
autora, assegurando a sua nomeação. Ausência de direito líquido e certo
reconhecida. AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA EXTINTA, ANTE
A INADEQUAÇÃO DA VIA. (Mandado de Segurança n. 400578-
81.2014.8.09.0000. Corte Especial).

Neste sentido, vê-se o entendimento perfilhado pelo Excelentíssimo


Relator Des. Itamar de Lima (Mandado de Segurança nº 201690003316), em seu voto:

Desta forma, restou demonstrado nos autos que a classificação obtida pelo
impetrante é incompatível com as vagas previstas no edital, inclusive para o
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cadastro de reserva. Mesmo que a administração tenha gerado a expectativa
de figurarem na lista final de aprovados aqueles que participaram de todas
as fases do certame, constando todos no referido cadastro de reserva, não há
provas préconstituídas de que o impetrante encontra-se inserido na
determinação contida na apelação cível nº 446485-7.2013.8.09.0051
(201394464851), de que sua pontuação encontra-se dentro das vagas
estabelecida no limite orçamentário, motivo pelo qual não há falar em
direito líquido e certo a amparar a pretensão mandamental.

Como se percebe, a pretensão deduzida na inicial é contrária ao


entendimento uníssono do TJGO, impondo-se, assim, a sua rejeição.

6. Concurso expirou em 17 de novembro de 2015. Fato


reiteradamente reconhecido pelo MPGO e pelo TJGO. Comportamento
contraditório.

Caso se entenda pela inocorrência de algum dos impeditivos acima


apresentados, o que é aqui ventilado apenas por amor ao debate, a pretensão deduzida na
inicial não comporta acolhimento. Vejamos:

Conforme publicação no D.O. n. 21.905 de 27 de agosto de 2014, a


vigência do certame foi até o dia 17 de novembro de 2015.

O mero ajuizamento da ação civil pública não obsta a expiração do


prazo de validade do certame, exceto se houvesse pedido nesse sentido na inicial e
decisão judicial expressa suspendendo o prazo de validade do certame, o que não
ocorreu.

Conforme já decidido por este TJGO, “o simples juizamento do


mandamus em apreço, não suspende o transcurso do prazo de vigência do concurso . Para
tanto, seria necessário pedido especifico e deferimento deste, situação que não se amolda
ao processo em exame.”(TJGO, MS 0245438-65.20). A ementa desse julgado restou
assim redigida:

O mero ajuizamento do mandado de segurança não suspende


o prazo de validade do concurso.

A jurisprudência deste TJGO, ao analisar as inúmeras ações sobre o


tema, é uníssona em afirmar que o certame expirou em 2015. Vejamos:

No caso concreto, expirada a validade do certame em 17 de novembro de


2015, deve ser reconhecida a decadência do direito à impetração do
mandado de segurança protocolizado em 25 de agosto de 2021, com base no
artigo 487, inciso II, do Código de Processo Civil. (TJ-GO

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54426029220218090000, Relator: DESEMBARGADOR ALAN
SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO, Órgão Especial, Data de
Publicação: 28/07/2022)

No caso concreto, o prazo de validade encerrou-se em 17 de novembro


de 2015, sendo que as discussões de direito no bojo da Ação Civil Pública n.
0446485-57 findaram-se em 23 de outubro de 2020 e o presente writ foi
protocolizado em 23 de agosto de 2021.(TJGO - Mandado de Segurança
Cível nº 5439815-90.2021.8.09.0000 - Relator: Des. Walter Carlos Lemes -
Órgão Especial - Julgado em: 07/03/2022 - DJe de 07/03/2022)

O próprio MINISTÉRIO PÚBLICO, em parecer lançado nos autos do


mandado de segurança n. 5595967.69.2021.8.09.0000, também reafirma a expiração do
prazo de validade do certame ainda em 2015:

No caso concreto, a prazo de validade encerrou -se em 17 de novembro


de 2015, sendo que as discussões de direito no bojo da Ação Civil Pública n.
0446485 -57 findaram -se em 23 de outubro de 2020.

Dessa forma, expirado o prazo de validade do concurso em 17 de


novembro de 2015, a pretensão deduzida na inicial deve ser rejeitada.

7. Do equívoco quanto ao trânsito em julgado da ACP 0446485.57. A


ACP 0446485-57 transitou em julgado em 23/10/2020, e não em 07/02/2023. A
desistência da ação não se confunde com a desistência do recurso. Do
posicionamento do TJGO e do MPGO sobre o trânsito em julgado da ACP
0446485.57. Entendimento do STJ.

Ainda que se entenda pela inocorrente suspensão do prazo de validade


do certame pelo ajuizamento da ACP 0446485.57, o qual voltaria a correr somente após
seu trânsito em julgado, a conclusão quanto à sua expiração não se alteraria.

Vejamos.

O MPGO disse na inicial que o ajuizamento da ACP 0446485-


57.2013.8.09.0051 teria suspendido o prazo de validade do concurso, o qual voltou a
correr após o respectivo trânsito em julgado, que teria ocorrido em 07/02/2023, dia em
que findou-se o prazo de recurso contra a homologação da desistência recursal requerida
pelo Estado.

Contudo, equivocou-se.

O trânsito em julgado da ACP ocorreu em 23/10/2020, que foi a data do


protocolo do pedido de desistência recursal do Estado (mov. 16).
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De fato, é assente no STJ que a desistência da pretensão recursal - que
não se confunde com a desistência da ação, dependente de homologação nos termos do par.
único do art. 200 do CPC - opera efeitos imediatos, e independe de homologação. Aliás,
quando há a homologação, como no caso, seus efeitos retroagem à data do protocolo da
desistência. Confira-se:

Formulada a desistência do recurso, o ato de disposição produz efeitos de


imediato, independentemente de aquiescência da parte adversa e, de regra,
também independentemente de homologação judicial. A decisão que
reconhece a desistência ao recurso produz efeito ex tunc limitado à data do
requerimento de desistência, e não à data de interposição do recurso que é
objeto da desistência” (REsp 1819613/RJ, julgado em 15/09/2020, DJe
18/09/2020).

Assim, uma vez que o pedido de desistência dos recursos formulado


pelo Estado de Goiás (mov. 16) foi protocolado nos autos em 23/10/2020, esta é a data
em que ocorreu o trânsito em julgado, o qual não dependia de homologação judicial, e
muito menos de certificação pela escrivania.

Sequer existe divergência no TJGO quanto à data em que operou-se o


trânsito em julgado da ACP 0446485.57. Veja-se:

Nesse sentido, o TJGO já reconheceu que No caso em exame, o prazo de


validade encerrou-se em 17 de novembro de 2015, sendo que as discussões
de direito no bojo da Ação Civil Pública n. 0446485-57 findaram-se em 23
de outubro de 2020 ((TJ-GO 54425907820218090000, Relator:
DESEMBARGADOR ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO,
Órgão Especial, Data de Publicação: 27/01/2023)

Nesses comenos, importa ressaltar que não prospera o argumento de que o


certame encontra-se válido por força do trâmite da ação civil pública
n. 0446485.57, posto que esta última obteve o trânsito em julgado
formal desde outubro de 2020, ante a desistência por parte do Estado
dos recursos interpostos perante os Tribunais Superiores (TJ-GO
54769616820218090000, Relator: DESEMBARGADOR ALAN
SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO, Órgão Especial, Data de
Publicação: 27/01/2023)

No caso concreto, a prazo de validade se encerrou em 17 de novembro de


2015, sendo que as discussões de direito no bojo da Ação Civil Pública n.
0446485-57, findaram-se em 23 /10/2020 (TJ-GO
55959676920218090000, Relator: DESEMBARGADOR ANDERSON
MÁXIMO DE HOLANDA, Órgão Especial, Data de Publicação:
12/08/2022)

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O MPGO de segundo grau também já teve oportunidade de se
manifestar no sentido de considerar o mês de outubro de 2020 como o do trânsito em
julgado da ACP 0446485.57. Confira-se o seguinte trecho do parecer ministerial lançado
nos autos do mandado de segurança n. 5442602.92:

Todavia, malgrado o dito processo ainda não esteja revestido pela coisa
julgada material, é possível visualizar o trânsito em julgado formal desde
outubro de 2020 (movimento n. 16 dos autos n. 0446485-57), quando o
Estado de Goiás formalizou a desistência dos Recursos Especial e
Extraordinário outrora aviados para combater o decidido pelo Poder
Judiciário goiano.
Em vista da desistência recursal aviada, os debates a respeito da matéria de
direito ali tratada foram encerrados, permanecendo apenas tratativas de
cunho conciliatório.

É equivocada, portanto, a afirmação do MPGO de que os editais


impugnados na inicial foram publicados enquanto ainda estava sub judice a Ação Civil
Pública n.º 446485-57.2013.8.09.0051 (pág. 32).

Assim, decorrido mais de 2 anos entre o trânsito em julgado da ACP


0446485-57 e a presente ação, impõe-se o reconhecimento da expiração do prazo de
validade do concurso regido pelo Edital n.º 001/2012, razão pela qual não merecem
acolhimento os pedidos formulados na exordial.

8. Ausência de preterição

Foi suficientemente demonstrado acima que o prazo de validade do


concurso de 2012 encontra-se expirado, seja pelo advento de seu termo final, previsto no
D.O. n. 21.905 de 27 de agosto de 2014, 17 de novembro de 2015, seja porque
transcorridos mais de 2 anos entre o trânsito em julgado da ACP 446485-57 - 23/10/2020
- e o ajuizamento da presente ação.

Convém repetir, no ponto, que tanto a ocorrência da expiração de


validade do certame de 2012, como a data do trânsito em julgado da ACP 446485-57,
são incontroversos no TJGO e nos pareceres do MPGO de segundo grau, conforme visto
nos tópicos anteriores.

Consequentemente, não há que se falar em preterição.

A preterição, como se sabe, surge quando alguém com direito à


nomeação é passado para trás, seja porque alguém com classificação pior foi chamado,
seja porque aberto concurso durante o prazo de validade e nesse último concurso
candidatos são chamados quando ainda há aprovados no primeiro.
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Nenhuma dessas hipóteses se verifica no caso.

Ninguém com direito à nomeação foi preterido por candidatos de


pior classificação; tampouco aberto novo concurso durante o prazo de validade do
primeiro. Ademais, não há direito a nomeação porque o comando judicial já foi
integralmente cumprido, e a prestação jurisdicional completamente exaurida, nada mais
havendo a se reivindicar, como visto no item 3 acima.

Assim, inocorrente a preterição, a pretensão formulada na inicial não


merece guarida.

9. Impossibilidade de concessão de liminar que esgote, no todo ou


em parte, o objeto da ação, ou que acarrete inclusão em folha. Ausência da fumaça
do bom direito e do perigo na demora.

Por fim, muito embora seja possível medida liminar contra a Fazenda
Pública, sua concessão sofre determinadas limitações legais, dentre as quais a de ser
inadmissível o provimento de urgência quando a medida esgotar, no todo ou em parte, o
objeto da ação, nos termos da Lei nº 8.437 /92, art. 1º , § 3º, verbis:

Art. 1º Não será cabível medida liminar contra atos do Poder Público, no
procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou
preventiva, toda vez que providência semelhante não puder ser concedida
em ações de mandado de segurança, em virtude de vedação legal.
§ 3º Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer
parte, o objeto da ação.

Sabe-se que referido dispositivo, ao estabelecer que “não será cabível


medida liminar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da ação”, está se referindo,
embora sem apuro técnico de linguagem, às liminares satisfativas irreversíveis, ou seja,
àquelas cuja execução produz resultado prático que inviabiliza o retorno ao status quo
ante, em caso de sua revogação, situação que se amolda à espécie na medida em que a
nomeação em concurso, e a suspensão de outro, impactam irreversivelmente tanto o
cidadão nomeado, como o prejudicado pela nomeação, e também a Administração e a
sociedade destinatária do serviços.

Além desse dispositivo, o artigo 2º-B da Lei 9.494/97 veda a concessão


de liminares das quais possa resultar inclusão em folha de pagamento, o que ocorreria
caso as nomeações pretendidas pelo MPGO venham a ocorrer em sede de antecipação da
tutela. Vejamos o teor do referido dispositivo:

Art. 2o-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão
em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento
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ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações, somente
poderá ser executada após seu trânsito em julgado.

A ausência da fumaça do bom direito, demonstrada acima, também


inviabiliza o deferimento do pedido de antecipação dos efeitos da tutela.

Por outro lado, a suspensão dos concursos em andamento irá postergar


indefinitivamente a contratação dos novos aprovados, colocando o serviço público numa
indesejável e prolongada indefinição jurídica, com reflexos diretos na prestação dos
serviços.

Não há que se falar, igualmente, em perigo na demora, uma vez que o


concurso objeto da inicial foi realizado em 2012, de forma que, transcorridos mais de 10
anos de sua realização, não se vislumbra qual a urgência para o deferimento da cautela.

Portanto, a liminar deve ser indeferida.

10. Pedidos

Ante o exposto, requer-se a extinção da ação, ou, ao menos, o


indeferimento da antecipação dos efeitos da tutela, ante a ausência da probabilidade do
direito.

N.T.P.D..
Goiânia-GO, data do protocolo.

Procurador do Estado
Assinado digitalmente

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