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ESTADO DO MARANHÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO
2º PROCURADORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

Apelação Cível nº. 0802315-15.2021.8.10.0054


Apelante: MARCONE RODRIGUES DE SOUSA
Apelado: MUNICÍPIO DE PRESIDENTE DUTRA-MA
Relator: Des. Lourival de Jesus Serejo Sousa
Procuradora de Justiça: Iracy Martins Figueiredo Aguiar

SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO

Trata-se de Apelação Cível interposta por MARCONE RODRIGUES DE


SOUSA, em face da sentença proferida pelo Juízo de Direito da 1ª Vara da Comarca de
Presidente Dutra/MA que, nos autos Ação Ordinária com Tutela Provisória c/c Obrigação de
Fazer c/c Danos Morais nº 0802315-15.2021.8.10.0054, proposta contra MUNICÍPIO DE
PRESIDENTE DUTRA-MA, julgou improcedentes os pedidos contidos na inicial, tendo em
vista a ausência de previsão na Lei Municipal nº 452/2010 da licença remunerada para cursar
Pós-Graduação Stricto Sensu.

Irresignado, o Apelante recorre ao ID 27004202, alegando, em síntese, que a Lei


Municipal nº 452/2010 prevê que os servidores públicos municipais fazem jus a licenças para
capacitação, de modo que, mesmo ausente a previsão legal para Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu, a lacuna pode ser preenchida se aplicada a regra prevista no Estatuto dos
Servidores Públicos do Estado do Maranhão, no art. 153, inciso I, alínea “c”, da Lei 6.107/94.

Nesses termos, requer seja dado provimento ao recurso para reformar a sentença e
julgar totalmente procedente seu pedido de concessão de licença remunerada para cursar
Mestrado na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Sem contrarrazões do Apelado, conforme Certidão de ID 27004206.

“2023: O Ministério Público na proteção dos direitos das comunidades quilombolas e da segurança alimentar”.
Endereço: Av. Prof. Carlos Cunha, nº 3261, Calhau, CEP: 65076-820, São Luís – Maranhão.
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Após, os autos foram encaminhados a esta Procuradoria-Geral de Justiça para


emissão de parecer (ID 27193755).

É o Relatório.
Segue parecer.

Preenchidos todos os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade


recursal, impõe-se o conhecimento desta apelação.

A questão que cinge os autos diz respeito à possibilidade de servidor público


municipal obter licença remunerada em tempo integral para realização de curso de mestrado.
Compulsando o feito, observa-se que a irresignação merece guarida.
Em suma, o Apelante é professor da rede municipal de ensino – Presidente
Dutra/MA, tendo sido aprovado em processo seletivo para cursar Mestrado na Universidade
Federal do Piauí - UFPI, estando matriculado desde fevereiro de 2021, razão pela qual
requereu a concessão de licença remunerada. No entanto, teve seu pedido negado sob o
argumento de que não há previsão de licença remunerada para participação em Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu na Lei Municipal nº 452/2010.
Sobre a questão, estabelece a Lei Estadual nº 6.110/1994 que, respeitada a
conveniência do Sistema Oficial, o professor ou especialista em Educação Básica poderá
afastar-se, por autorização, para frequentar cursos de capacitação e qualificação que se
relacionem com atividade de Magistério, com direito à remuneração (art.72, I e § 1º).
Tal previsão caracteriza os princípios do aperfeiçoamento profissional continuado
e a progressão funcional baseada na titulação ou habilitação a que se refere o art. 67 da Lei nº
9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
Assim, é discricionário o ato administrativo de afastamento de servidor para
cursar pós-graduação lato sensu ou stricto sensu.
Nesses termos, é questionável a intromissão do Poder Judiciário nos atos da
Administração, ao argumento de que não é possível a interferência quanto ao mérito do ato

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administrativo. Em razão disso, algumas decisões acolhem a tese de que a interferência no


mérito do ato administrativo pelo Poder Judiciário caracteriza violação do princípio
constitucional da separação e independência dos poderes (CF, art. 2º).
Logo, o Poder Judiciário pode avaliar e contestar aspectos da legalidade,
motivação, objeto e legitimidade, verificando se a Administração está agindo com total
conformidade com os princípios constitucionais, mas não pode ultrapassar os limites da
discricionariedade.
Sobre a questão, este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão já
decidiu:

LICENÇA PARA QUALIFICAÇÃO. ATO DISCRICIONÁRIO. PODER


JUDICIÁRIO. MÉRITO ADMINISTRATIVO. 1. A concessão de licença
para qualificação se submete à conveniência e oportunidade da
Administração Pública municipal. 2. É defeso ao Poder Judiciário apreciar o
mérito do ato administrativo, cabendo-lhe unicamente examinar a sua
legalidade. 3. Apelo conhecido e improvido. Unanimidade (AC 0024272012.
Des. Paulo Sérgio Velten Pereira. Dje 19.02.2014).

MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. LICENÇA PARA


QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL. DOUTORADO. ODONTÓLOGA DO
TJMA. RECUSA DE AUTORIZAÇÃO PARA AFASTAMENTO PELO
SUPERIOR HIERÁRQUICO. AUSÊNCIA DE SUBSTITUTO. ATO
DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SUJEITO AOS
CRITÉRIOS DE OPORTUNIDADE E CONVENIÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE DE INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO NO
MÉRITO ADMINISTRATIVO. INOCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO CARACTERIZADO. SEGURANÇA
DENEGADA À UNANIMIDADE. I - A concessão de licença para
capacitação profissional insere-se na categoria de atos administrativos
discricionários, ainda mais quando o impetrante se encontra em estágio
probatório. II - Não pode o Poder Judiciário imiscuir-se na análise dos
aspectos de conveniência e oportunidade dessa modalidade de ato
administrativo, devendo adstringir-se na análise da sua legalidade, sob pena
de malferir o princípio da independência entre os poderes. III - Ademais, a
Impetrante não fora liberada pela sua superiora, sob o fundamento de
inexistência de substituto para a função desempenhada pela servidora. IV-
Ordem Denegada de acordo com o parecer ministerial. (MS 0118782013.
Desª. Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa. Dje 17.09.2013).

In casu, sopesando-se as informações contidas nos autos até aqui, têm-se que não
assiste razão ao Apelante, tendo em vista que seu pleito fora negado administrativamente,

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mediante o uso do Poder Discricionário da Administração Pública.


Portanto, não há que se falar em dever do Apelado em conceder a licença ao
Apelante, uma vez que se trata de ato administrativo caracterizado pela discricionariedade.
Ademais, a Decisão que indeferiu o pedido do autor foi devidamente motivada,
estando resguardada na forma da legislação em vigor, não havendo que se falar em ilegalidade
desse ato administrativo.
Ante o exposto, esta Procuradoria de Justiça Cível manifesta-se pelo
CONHECIMENTO e DESPROVIMENTO da presente apelação, para manter
integralmente a sentença impugnada.

São Luís, 30 de agosto de 2023.

IRACY MARTINS FIGUEIREDO AGUIAR


Procuradora de Justiça

“2023: O Ministério Público na proteção dos direitos das comunidades quilombolas e da segurança alimentar”.
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