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TJBA

1ª Instância (Varas e Juizados)

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0515872-10.2018.8.05.0080


em 11/02/2019 09:18:56 por LINA FALCAO XAVIER MOTA
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- LINA FALCAO XAVIER MOTA

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
Comarca de Feira de Santana
Vara de Registros Públicos e Acidentes de
Trabalho
Rua Álvaro Simões, S/N, Fórum Filinto Bastos , 3º andar,
Queimadinha - CEP 44026-970, Fone: (75) 3602-5921, Feira de
Santana-BA - E-mail: fsantanavregpubatr@tjba.jus.br
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SENTENÇA

Processo nº: 0515872-10.2018.8.05.0080


Classe Assunto: Procedimento Comum - Aposentadoria por Invalidez
Autor: SIDINEY DE ALMEIDA GONÇALVES
Réu: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

Vistos, etc.

SIDINEY DE ALMEIDA GONÇALVES, qualificado nos autos, ajuizou a presente


AÇÃO ACIDENTÁRIA contra o INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL,
onde requereu a concessão de benefício acidentário.

O autor informou que padece de doenças ocupacionais e está incapacitado para o


exercício de suas atividades laborativas, razão pela qual ingressou com a presente
demanda.

Com a inicial juntou os documentos.

Posteriormente, vieram-me conclusos os autos.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

Trata-se o presente feito de AÇÃO ACIDENTÁRIA movida por SIDINEY DE


ALMEIDA GONÇALVES contra o INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL.

Inicialmente, defiro a justiça gratuita.

Compulsando os autos, verifica-se que o requerente ingressou com a presente


ação judicial pleiteando a concessão de benefício acidentário antes mesmo de ter
realizado requerimento administrativo perante o INSS.

Infere-se dos documentos juntados às fls. 10/11 que o requerente teve os pedidos
de concessão de benefício acidentário deferidos pelo INSS, em razão da constatação da
incapacidade laborativa.

O último requerimento administrativo apresentado em 27/08/2015 concedeu o


benefício até 05/10/2015, ou seja, há quase quatro anos e o autor não apresentou novo
pedido após este período, logo não se pode considerar que tal supra o requisito do
interesse processual.

O benefício de auxílio-doença tem a natureza transitória e, ao longo do tempo a


patologia do requerente ter sido cessada ou agravada, haja vista que a última perícia
ocorreu no dia 05/10/15, há muito mais de três anos.

Com efeito, a parte autora deveria ter ingressado com o prévio requerimento
administrativo de concessão ou restabelecimento do benefício e, somente depois de
negado o pedido, poderia ingressar com a ação judicial pleiteando a concessão de
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benefício acidentário.

O prévio requerimento administrativo é necessário para comprovar o interesse de


agir da parte autora, que se configura como uma das condições da ação.

O interesse de agir se evidencia quando presente o trinômio necessidade-utilidade-


adequação, ou seja, quando há necessidade da intervenção do Poder Judiciário para
dirimir o conflito estabelecido, quando o processo se afigura útil para esse fim, bem como
quando o aludido instrumento é adequado para propiciar o resultado almejado pela
autora.

No presente caso, infere-se que a exigência de prévio requerimento administrativo


liga-se ao interesse processual sob o aspecto da necessidade.

No julgamento do RE 631.240/MG, ao qual se conferiu Repercussão Geral, o


Plenário do Supremo Tribunal Federal assentou entendimento de que a exigência de
prévio requerimento administrativo para postular benefícios previdenciários “não fere a
garantia de livre acesso ao Judiciário, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição
Federal, pois sem pedido administrativo anterior, não fica caracterizada lesão ou ameaça
de direito”, senão vejamos:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO


REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR.
1. A instituição de condições para o regular exercício do
direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da
Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em
agir, é preciso haver necessidade de ir a juízo.
2. A concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça
ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento
pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É
bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio
requerimento não se confunde com o exaurimento das vias
administrativas.
3. A exigência de prévio requerimento administrativo não
deve prevalecer quando o entendimento da Administração for
notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado.
4. Na hipótese de pretensão de revisão, restabelecimento ou
manutenção de benefício anteriormente concedido,
considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a
prestação mais vantajosa possível, o pedido poderá ser
formulado diretamente em juízo – salvo se depender da
análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento
da Administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta
do INSS já configura o não acolhimento ao menos tácito da
pretensão.
5. Tendo em vista a prolongada oscilação jurisprudencial na
matéria, inclusive no Supremo Tribunal Federal, deve-se
estabelecer uma fórmula de transição para lidar com as ações
em curso, nos termos a seguir expostos.
6. Quanto às ações ajuizadas até a conclusão do presente
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julgamento (03.09.2014), sem que tenha havido prévio


requerimento administrativo nas hipóteses em que exigível,
será observado o seguinte: (i) caso a ação tenha sido
ajuizada no âmbito de Juizado Itinerante, a ausência de
anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção
do feito; (ii) caso o INSS já tenha apresentado contestação
de mérito, está caracterizado o interesse em agir pela
resistência à pretensão; (iii) as demais ações que não se
enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas,
observando-se a sistemática a seguir.
7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar
entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob pena de
extinção do processo. Comprovada a postulação
administrativa, o INSS será intimado a se manifestar acerca
do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a Autarquia
deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e
proferir decisão. Se o pedido for acolhido
administrativamente ou não puder ter o seu mérito analisado
devido a razões imputáveis ao próprio requerente, extingue-
se a ação. Do contrário, estará caracterizado o interesse em
agir e o feito deverá prosseguir.
8. Em todos os casos acima – itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a
análise administrativa quanto a judicial deverão levar em
conta a data do início da ação como data de entrada do
requerimento, para todos os efeitos legais. 9. Recurso
extraordinário a que se dá parcial provimento, reformando-se
o acórdão recorrido para determinar a baixa dos autos ao juiz
de primeiro grau, o qual deverá intimar a autora – que alega
ser trabalhadora rural informal – a dar entrada no pedido
administrativo em 30 dias, sob pena de extinção.
Comprovada a postulação administrativa, o INSS será
intimado para que, em 90 dias, colha as provas necessárias e
profira decisão administrativa, considerando como data de
entrada do requerimento a data do início da ação, para todos
os efeitos legais. O resultado será comunicado ao juiz, que
apreciará a subsistência ou não do interesse em agir. (RE
631240, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 03/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO -
REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO. Dje-220. DIVULG
07-11-2014. PUBLIC 10-11-2014).

Assim, via de regra, o segurado não poderá propor a ação em Juízo sem efetuar a
prévia postulação do benefício ou da revisão deste, na via administrativa, até porque, em
muitos casos, a pretensão é atendida de plano pela autarquia previdenciária, o que evita
o excesso de demandas a colapsar o Poder Judiciário, sobretudo a Justiça Estadual que
não tem o mesmo aparato da Justiça Federal.

Segue o conteúdo do brilhante voto do Ministro Luís Roberto Barroso, in verbis:

24. Segundo o relatório “Justiça em Números – 2013”,


lançado pelo CNJ, o número de processos distribuídos junto
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aos Juizados Especiais Federais, principal instância em que


litiga o Instituto, é de cerca de um milhão e duzentos mil por
ano. A atual taxa de congestionamento dos Juizados – isto é,
o percentual de processos não julgados no mesmo ano do
ajuizamento – está em 43,5%, uma das menores do
Judiciário. E segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA, o tempo médio de tramitação
nos Juizados Especiais Federais é de 1 ano, 8 meses e 15
dias (ano-base: 2010).
25. Como se percebe, o Judiciário simplesmente não tem – e
nem deveria ter – a estrutura necessária para atuar
paralelamente ao INSS, como instância originária de
recepção e processamento de pedidos de concessão de
benefícios. Pretender transferir aos juízes e tribunais a
enorme demanda absorvida pela Previdência implicaria o
total colapso do sistema judiciário. Nota-se ainda que a
instância administrativa, mesmo com todas as suas falhas e
carências, é gratuita, fornece respostas em média muito mais
rápidas e é integrada por servidores especializados.
26. A pretendida subversão da função jurisdicional, por meio
da submissão direta de casos sem prévia análise
administrativa, acarreta grande prejuízo ao Poder Público e
aos segurados coletivamente considerados. Isto porque a
abertura desse “atalho” à via judicial gera uma tendência de
aumento da demanda sobre os órgãos judiciais competentes
para apreciar esta espécie de pretensão, sobrecarregando-os
ainda mais, em prejuízo de todos os que aguardam a tutela
jurisdicional. Por outro lado, os órgãos da Previdência,
estruturados para receber demandas originárias, teriam sua
atuação esvaziada pela judicialização.
27. Vistas as regras gerais para demandas de concessão de
benefícios, analisa-se se a mesma lógica se aplica a outros
tipos de ações. (RE 631240, Relator(a): Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/09/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO.
Dje-220. DIVULG. 07-11-2014. PUBLIC. 10-11-2014).

O STJ também adota o entendimento consolidado pelo STF, conforme se vê a


seguir:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO.NECESSIDADE.
CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE
SUPERIOR AO QUE DECIDIDO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL NO JULGAMENTO DO RE 631.240/MG, JULGADO
SOB A SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. 1. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE
631.240/MG, sob rito do artigo 543-B do CPC, decidiu que a
concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento administrativo, evidenciando situações de
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ressalva e fórmula de transição a ser aplicada nas ações já


ajuizadas até a conclusão do aludido julgamento
(03/9/2014). 2. Recurso especial do INSS parcialmente
provido a fim de que o Juízo de origem aplique as regras de
modulação estipuladas no RE 631.240/MG. Julgamento
submetido ao rito do artigo 543-C do CPC. (STJ - REsp
1369834 SP 2013/0064636-6, Relator Ministro BENEDITO
GONÇALVES, S1-PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 02/12/2014,
Julgamento: 24 de Setembro de 2014).

Ressalte-se que a exigência de prévia postulação administrativa não se confunde


com a necessidade do prévio exaurimento da via administrativa, haja vista que não se faz
necessário esgotar a via administrativa, ou seja, não é preciso propor todos os recursos
cabíveis no processo administrativo para caracterizar a resistência à pretensão. O
requisito do prévio requerimento é definido com a simples postulação administrativa do
benefício perante a primeira instância e sua negativa.

Com efeito, caso o INSS negue o benefício, estará caracterizada a resistência à


pretensão, fazendo surgir a necessidade de prestação jurisdicional. Esta negativa pode
ser expressa ou tácita. Será expressa se o INSS realmente negar total ou parcialmente o
benefício, comunicando a rejeição ao segurado. Será tácita quando o INSS demorar
demasiadamente para responder ao pedido do segurado.

Ora, se a concessão de um direito depende de requerimento, como afirmar a


existência de lesão ou ameaça a tal direito se a parte sequer se deu ao trabalho de
comparecer ao INSS para formular o pedido administrativamente. Denota-se que seria
improvável que a autarquia previdenciária pudesse conceder benefício ao segurado de
ofício, sem que houvesse o requerimento administrativo direcionado ao órgão estatal.

Ademais, com o prévio requerimento administrativo não há apenas um benefício


de ordem geral para toda sociedade, diante da economia com a movimentação da
máquina do Poder Judiciário mas, sobretudo, evitam-se também gastos do Poder Público
com honorários advocatícios, juros e correção monetária.

Pelo exposto, ante a falta de interesse processual, JULGO EXTINTO o processo


sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 485, VI do CPC.

Isento de custas, tendo em vista o deferimento da justiça gratuita.

P. R. I. Após o trânsito em julgado da presente sentença, arquivem-se os autos,


observadas as cautelas legais.

Feira de Santana(BA), 05 de fevereiro de 2019.

Lina Falcão Xavier Mota


Juíza de Direito

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