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PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE NITERÓI

PROCURADORIA JUDICIAL

PARECER JURÍDICO Nº 01/2024 – DSMC.

AUTOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº: 9900060523/2023


CONSULENTE: SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (SME)

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDORES


PÚBLICOS. LICENÇA ESPECIAL. LICENÇAS
SUCESSIVAS. LICENÇAS PARA
TRATAMENTO DE SAÚDE SUCEDIDA POR
LICENÇA ESPECIAL. INDEFERIMENTO
PELA ADMINISTRAÇÃO. POSSIBILIDADE
RESTRITIVA E CONDICIONADA
1. A presente consulta versa sobre a
possibilidade da Administração Pública indeferir
pedido de servidor para o gozo de licença
especial.
2. Sobre aeventual impedimento legal para
que o servidor público no gozo de licença solicite
liceça de outra espécie sucedendo a licença que
se encontra em pleno gozo.
3. Sobre a possibilidade de servidor público
no gozo de licença para tratamento de saúde com
prorrogações solicite liceça de outra espécie
sucedendo a licença em pleno gozo.

ILUSTRÍSSIMA SR.ª PROCURADORA CHEFE DA PROCURADORIA JUDICIAL, DR.ª


SILVIA LIMA PIRES,

Trata-se, em síntese, de uma consulta do Secretário Municipal de Educação, Sr.


Ubirajara Bento Marques, acerca da possibilidade da Administração Pública, com base
na Lei nº 531/1985, eventualmente indeferir o pedido do servidor para o gozo de licença
especial ao qual faz jus.

Ainda a Pasta Consulente questiona se há algum impedimento legal para que


um (a) servidor (a) que já esteja de licença possa requerer através de processo
administrativo algum outro tipo de licença. Ou seja, se é possível o gozo de licenças
sucessivas. Se sim, quais hipóteses?

Por fim a Secretaria Municipa de Educação indaga esta PPJ Se um (a) servidor (a)
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estiver, por ventura, em licença para tratamento de saúde, inclusive com prorrogações feitas
no decorrer do ano, pode a administração Pública indeferir seu pleito de licença especial já
que está afastado para tratamento de saúde?

Assim, conclusos os presentes autos à Procuradoria Geral do Município de Niterói,


instada a se manifestar sobre a matéria com supedâneo no art. 72, caput, da Lei Orgânica do
Município de Niterói, que lhe atribui a prerrogativa de órgão de assessoramento e de
consultoria jurídica do Município, após detido exame jurídico, passa a se manifestar.

É o brevíssimo relatório. Passo a opinar

1. – DA ANÁLISE JURÍDICA
1.1 – DA DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA CONSULTA

Preambularmente, é preciso salientar que o presente parecer destina-se


tão somente a oferecer uma opinião técnica sobre a possibilidade de indeferimento de
concessão de licença em detrimento do direito do servidor. Consequentemente, a presente
análise não adentra no mérito de qualquer ilegalidade ou incosntitucionalidade.

A presente consulta versa sobre a possibilidade de prorrogação por 1 ano da


contratação temporária de 15 servidores, sendo 04 (quatro) Geólogos, 05 (cinco) Engenheiros Civis,
02 (dois) Geógrafos, 01 (um) Analista Geotécnico e 03 (três) Arquitetos, mediante o Processo
Seletivo Simplificado 001/2023, a fim de se assegurar o contínuo desempenho dos serviços
essenciais da SMDCG até que seja realizado e concluído concurso público para provimento de
cargos efetivos.1

Como se sabe, a contratação temporária constitui contrato administrativo – por


conseguinte, de natureza pública – e bilateral, celebrado entre o servidor temporário, de um lado, e o
Estado, de outro lado. Nos termos do art. 37, IX, da CF/88, os requisitos para a sua celebração são:
(i) a previsão legal de hipótese específica

pelo ente federativo contratante, (ii) a temporalidade determinada da contratação,2 (iii) a necessidade
transitória;3 e (iv) o excepcional interesse público.4
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Nessa toada, a prorrogação de contratação temporária encontra autorização


normativa no art. 9º da Lei Municipal nº 3.378/2018, bem como no item 9.1 do Edital nº
001/2023/SMDCG (fls. 147/165 do arquivo digital deste PA), ipsis litteris:

Lei Municipal nº 3.378/2018:

Art. 9º As contratações de que trata esta lei serão efetuadas por tempo determinado pelo prazo de 01 (um) ano,
admitida uma ou mais prorrogações por igual ou inferior período, até o limite máximo de 03 (três) anos, sendo que
em hipótese alguma tais contratações se darão por prazo indeterminado.

Edital nº 001/2023/SMDCG:

9. DA CONTRATAÇÃO

9.1 Os candidatos aprovados no presente Processo Seletivo Simplificado, obedecida


a classificação final, e conforme publicação do resultado final, deverão comparecer à Secretaria Municipal de Defesa Civil
e Geotecnia, para assinatura do contrato, cujo o período de vigência será de 12 meses prorrogáveis por iguais
períodos,

limitado a 36 meses, conforme disposto no art. 9º da Lei Municipal nº 3378, de 29/11/18.

De acordo, no plano hipotético não há óbice à possibilidade de prorrogação diante


da autorização editalícia e legal. Frisa-se que a ausência de mesma previsão na minuta contratual não
constitui empecilho, posto que o prazo de validade do contrato pode ser estendido por mero termo de
aditamento contratual.

Isso posto, a prorrogação da contratação temporária não pode ser realizada


arbitrariamente. Ao contrário, a natureza jurídica especial e excepcional da contratação temporária à
luz do art. 37, IX, da CF/88 impõe um rigor maior no ônus de motivação tanto da contratação
original quanto da sua prorrogação, sob pena de eventualmente se permitir fraude a concurso
público. Assim, exige-se a subsistência das mesmas causas jurídicas que autorizaram a contratação
temporária originalmente, acrescidas dos requisitos legais necessários para autorizar a sua
prorrogação.

Isso é tornado evidente pela interpretação sistemática e teleológica do art. 3º, §§ 5º


e 6º, do art. 4º, I, II, III e V, e do art. 9º da Lei Municipal nº 3.378/2018, os quais delimitam: (i) a
necessidade de imputação da necessidade de contratação temporária a uma hipótese legal específica,
(ii) a interpretação restritiva dessas hipóteses legais, (iii) o dever de justificação específica e (iv) o
condicionamento do prazo da contratação temporária ao tempo estritamente necessário para o
atendimento da situação excepcional autorizativa.

Art. 3º Para os efeitos desta lei, considera-se como necessidade temporária de excepcional interesse público aquela que,
tendo caráter transitório, não possa ser satisfeita pela Administração com o contingente de servidores efetivos
disponível no momento de sua ocorrência.
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§ 5º As hipóteses autorizativas da contratação temporária arroladas na presente Lei deverão ser interpretadas
restritivamente, não podendo haver desvio de finalidade na aplicação da Lei ou burla à regra do concurso público.
§ 6º As contratações temporárias deverão perdurar pelo tempo estritamente necessário ao atendimento da situação
excepcional autorizativa, cabendo ao órgão ou entidade interessados justificar
a necessidade da contratação, enquadrando a hipótese concreta em um dos permissivos legais constantes do § 1º do
presente artigo.

Art. 4º A contratação de pessoal por tempo determinado deverá ser iniciada com a abertura de processo administrativo, que
conterá, obrigatoriamente:
I - justificativa da necessidade da contratação, com a exposição sucinta dos
motivos determinantes da admissão de pessoal temporário ao serviço público;
II - indicação da específica hipótese legal autorizativa em que se enquadra a
contratação temporária pretendida;
III - demonstração de que a necessidade de contratação temporária não resulta
da falta de planejamento ou de desídia administrativa, mas de circunstância extraordinária e imprevisível, ou previsível
porém inevitável;
V - comprovação pelo órgão ou entidade interessada da inexistência de servidores cedidos, em gozo de licença para
trato de interesse particular, ou com possibilidade de revisão de readaptações, em condições de suprir a necessidade
administrativa a ser satisfeita com a contratação da mão de obra temporária;

Art. 9º As contratações de que trata esta lei serão efetuadas por tempo determinado pelo prazo de 01 (um) ano,
admitida uma ou mais prorrogações por igual ou inferior período, até o limite máximo de 03 (três) anos, sendo que
em hipótese alguma tais contratações se darão por prazo indeterminado.

Assim, se a contratação temporária exige a apresentação de motivação com a


imputação do seu motivo a uma hipótese específica legalmente prevista, cuja interpretação é
restritiva, e se a sua duração só é permitida pelo tempo estritamente necessário ao atendimento da
situação excepcional que a ensejou, conclui-se que a prorrogação da contratação também exigirá,
paralelamente, motivação nos mesmos termos.

No presente caso, o Edital do Processo Seletivo Simplificado nº 001/2023/SMDCG


foi subsumido à hipótese do art. 3º, § 1º, inc. VII, alínea “c”, da Lei Municipal nº 3.378/2018, isto é,
para “assegurar a adequada prestação de serviço público essencial e o respeito à continuidade do
serviço público, nos casos em que não for possível aguardar a realização de novo concurso para o
provimento de cargos ou empregos públicos, sob pena de redução ou paralisação imediata do
serviço, com risco de dano grave e irreparável à vida, à saúde e à segurança das pessoas, ao
patrimônio público municipal e ao meio ambiente natural” (sem grifos no original).5

Vale notar que tal hipótese também encontra respaldo e requisitos adicionais
(necessidade de instauração concomitante de processo administrativo para realização de
concurso público e/ou elaboração de projeto de lei para criação de cargos de provimento
efetivo) no art. 1º, §§ 1º, 6º, 7º e 8º, da Lei Municipal nº 3.378/2018, como indicado pela SMDCG na
sua consulta na peça nº 01 deste processo administrativo, in verbis:

Art. 1º Para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, os órgãos da Administração Municipal
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Direta e as entidades da Administração Indireta poderão efetuar contratação de pessoal por tempo determinado, por meio
de processo seletivo simplificado, consoante o disposto no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal e no artigo 89,
inciso III, "a" da Lei Orgânica do Município de Niterói, nas condições e prazos previstos nesta Lei.

§ 1º Para fins da contratação a que se refere o caput, entende-se como de excepcional interesse público a situação
que demande urgência no recrutamento de mão de obra para assegurar a prestação regular ou a continuidade de
serviço público essencial e que não possa ser atendida com o quadro de pessoal permanente de

que dispõe a Administração Pública Municipal, ou aquela que, por sua transitoriedade e/ou excepcionalidade, não
justifique a admissão de pessoal em caráter permanente.

§ 6º No caso de contratação temporária de servidores para suprir carência não ocasional de profissionais para o
desempenho de serviços públicos essenciais e contínuos, fica o órgão ou entidade contratante, caso haja vaga,
obrigado a instaurar processo administrativo para lançamento do edital do concurso público para substituição da
mão de obra temporária.

§ 7º Na hipótese do parágrafo anterior, caso inexista vaga, fica o órgão ou entidade contratante obrigado a instaurar
processo administrativo para elaboração de projeto de lei para criação das vagas suficientes para a substituição da
mão de obra temporária.

§ 8º Na hipótese dos §§ 6º e 7º, os contratos temporários de trabalho deverão ser celebrados ou prorrogados pelo
prazo estritamente necessário à conclusão do concurso público e ainda com cláusula assecuratória do direito
antecipado de rescisão, para o caso de vir a ser ultimado o concurso público respectivo antes do fim do prazo
previsto para a duração do contrato.

Dessa forma, para que a prorrogação in casu seja lícita, é necessário, em suma, que
a SMDCG demonstre que (i) ainda é necessária a contratação de servidores temporários para assegurar a
adequada e contínua prestação de serviço público essencial, que (ii) ainda não é possível satisfazer
essa necessidade mediante o quadro de pessoal permanente da Administração Pública Municipal e que
(iii) ainda não é possível aguardar a realização de novo concurso público.

De acordo, a natureza jurídica do serviço público, caracterizado como de caráter


essencial – a justificar o excepcional interesse público –, está suficientemente provada pelo art. 3º da
Lei Nacional nº 12.608/20126 e pela sujeição do Município de

Niterói a riscos geológicos, consoante o mapeamento de riscos indicado pela SMDCG e o histórico
da cidade com deslizamentos.

Concomitantemente, a necessidade de servidores temporários para o desempenho


das suas funções foi adequadamente exposta pela SMDCG que atestou: “não possuir em seu quadro de
servidores os profissionais elencados na Minuta do Edital de processo seletivo, conforme também
evidenciado através da consulta à Secretaria Municipal de Administração, realizada por meio do
processo administrativo nº 740/000544/2019” (peça nº 01 - fl. 03 do arquivo digital deste PA). Em
complemento, ela esclareceu que:
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“é fato não haver servidores capacitados para realização das atividades operacionais da SMDCG. Considerando o papel
fundamental da secretaria no município, realizando vistorias e avaliações estruturais e geológicas, em uma cidade que
possui histórico de desastres, e que apesar dos investimentos realizados, principalmente na atual gestão, permanece com
áreas de risco em toda a extensão territorial da cidade, seria extremamente prejudicial às atividades da SMDCG, e
principalmente aos munícipes a ocorrência de impossibilidade da secretaria em realizar as atividades que lhe são inerentes
por falta de corpo técnico capacitado” (peça nº 01 - fl. 05 do arquivo digital deste PA).

No que diz respeito à contínua inexistência de quadro de pessoal permanente da


Administração Pública Municipal Direta para desempenhar as funções, consta nos autos manifestação
da SMA certificando, de um lado, a inexistência dos cargos de Geólogo, Analista Geotécnico e
Hidrólogo no Município de Niterói, e que, por outro lado, há previsão para os cargos de Geógrafo (Lei
nº 2.576/08), Arquiteto (Leis nº 340/82, nº 1.071/92 e 1.072/92) e Engenheiro (Lei nº 340/82 e
1.072/92).

Tal certificado é acrescido das informações prestadas pela SMDCG de que não há
previsão dessas profissões no seu quadro de pessoal permanente (peça nº 01 - fl. 03 do arquivo
digital deste PA), motivo pelo qual sequer é possível realizar o concurso público para o seu
provimento (peça nº 01 – fls. 8-10 do arquivo digital deste PA). Portanto, por consectário lógico,
conclui-se que inexistem servidores efetivos aptos a

exercerem as funções ora realizadas pelos servidores temporários, segundo as informações


prestadas.

Inobstante, é prudente, a fim de melhor instruir processualmente este PA, que os


autos tramitem para a SMA certificar que inexistem servidores ocupantes dos cargos de Geógrafo,
Arquiteto e Engenheiro lotados na SMDCG ou, de todo modo, á disposição da pasta, conforme
exigência prevista no art. 1º, § 3º da Lei Municipal nº 3.378/2018.7 Acaso existam, basta que a
SMDCG ateste não serem eles suficientes para o desempenho de suas funções. Acaso não existam,
ter-se-á perfeitamente atendida a demonstração deste requisito, consoante o art. 1º, § 1º, o art. 3º,
caput, e o art. 4º, V, da Lei Municipal nº 3.378/2018.

Finalmente, quanto à demonstração da impossibilidade de se aguardar a realização


de concurso público, ter-se-ia atendida tal requisito pela indicação da SMDCG do andamento de
concurso público para provimento de cargos efetivos no processo administrativo nº 740000462/2019,
acrescido do esclarecimento de que: "

Inobstante, é prudente, a fim de melhor instruir processualmente este PA, oficiar a


SMA para que certifique inexistir servidores ocupantes dos cargos de Geógrafo, Arquiteto e
Engenheiro lotados na ou cedidos para a SMDCG. Acaso existam, basta que a SMDCG ateste não
serem eles suficientes para o desempenho de suas funções. Acaso não existam, ter-se-á perfeitamente
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atendida a demonstração deste requisito, consoante o art. 1º, § 1º, o art. 3º, caput, e o art. 4º, V, da
Lei Municipal nº 3.838/2018.

Finalmente, quanto à demonstração da impossibilidade de se aguardar a realização


de concurso público, ter-se-ia atendida tal requisito pela indicação da

SMDCG do andamento de concurso público para provimento de cargos efetivos no processo


administrativo nº 740000462/2019, acrescido do esclarecimento de que:

“caso não ocorra a prorrogação do Processo Seletivo Simplificado, tal ação resultará em um limbo entre o encerramento
do vínculo dos servidores oriundos mencionado processo seletivo, e a realização do concurso, nomeação e posse dos
aprovados, o que impedirá a SMDCG de realizar sua atividade principal durante este período, ou seja, avaliação
estrutural e geológica em toda a extensão do município devido a falta de equipe capacitada, prejudicando de forma
imensurável todos os munícipes, devido a inevitável paralisação imediata do serviço” (peça nº 01 – fl. 9 do arquivo digital
deste PA).

Em reforço dessa justificativa, a Secretaria observou argutamente que as eleições


municipais de 2024 podem atrapalhar o cronograma do referido concurso público em razão do
impedimento previsto no art. 73, V, da Lei Nacional nº 9.504/97 para nomeação de servidores públicos.
Todavia, não foi juntado aos autos o processo administrativo nº 740000462/2019.

De fato, nos presentes autos, localiza-se apenas a resposta da SMDCG à CGM no


processo administrativo nº 740000851/2022, de 02/01/2023, informando que o processo do concurso
público se encontrava em fase de elaboração de Projeto de Lei para criação dos cargos públicos
efetivos, aguardando seu posterior encaminhamento ao Chefe do Executivo, seguido da aprovação
pelo Legislativo e realização do concurso público (peça nº 02 – fls. 134/136 do arquivo digital deste
PA).

Consequentemente, um ano após essa informação, não foi demonstrado o progresso


no andamento do concurso, nem em que estágio se encontra o processo para realização do concurso
público, conforme exige a lei niteroiense. De acordo com o art. 1º, § 6º da Lei Municipal nº
3.838/2018, o órgão contratante da mão de obra temporária fica obrigado a instaurar processo
administrativo para lançamento do edital do concurso público para substituição dos
profissionais temporariamente contratados para suprir carência não ocasional de profissionais
para o desempenho de serviços públicos essenciais e contínuos. A exigência emana não apenas do
art. 1º, § 6º da Lei Municipal nº 3.838/2018, mas também do art. 37, II, da CF/88.

É evidente que a exigência não se satisfaz meramente com a abertura do processo


administrativo, sob pena de reduzi-lo a uma “formalidade sem substância”.8 Do contrário, permitir-
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se-ia ao Administrador prorrogar indefinidamente a contratação temporária, desde que apenas


indicasse a existência de um processo para realização de concurso público. Isso teria pouca
relevância se ele estivesse ou não se empenhando em dar andamento efetivo à sua execução.
Portanto, é imperativo que sejam adicionados novos elementos que demonstrem o progresso do
concurso, para observância do art. 1º,
§ 6º da Lei Municipal nº 3.838/2018.

Essa não é a teleologia do art. 1º, §§ 6º, 7º e 8º, do art. 3º, §§ 5º e 6º, do art. 4º, III e
V, ou do art. 9º da Lei Municipal nº 3.378/2018. Com efeito, na prorrogação de contratação
temporária fundamentada no art. 3º, § 1º, VII, alínea “c”, do mesmo diploma legal, o Administrador
deve demonstrar não só a existência de processo administrativo para realização de concurso público
para provimento de cargos, mas também deve comprovar o progresso desse certame – ou justificar
devidamente a sua falta
- no período original da contratação temporária.

Isso porque tais “contratações temporárias deverão perdurar pelo tempo


estritamente necessário ao atendimento da situação excepcional autorizativa”, de acordo com o art.
3º, § 6º, da Lei Municipal nº 3.378/2018. Por conseguinte, se não houve nenhum progresso na realização
do concurso público e não há nenhuma justificativa idônea, configura-se a vedada desídia
administrativa, na forma do art. 4º, III, da Lei Municipal nº 3.378/2018.

Portanto, para que seja autorizada a prorrogação administrativa, é necessário que a


SMDCG junte o processo administrativo nº 740000462/2019 e ateste o progresso no processo
administrativo para realização do concurso público desde que foi realizada a contratação temporária
do Processo Seletivo Simplificado nº 001/2023/SMDCG. Além disso, recomenda-se que a SMDCG
elabore um cronograma da

realização do certame público, a fim de que se possibilite o controle da prorrogação “pelo prazo
estritamente necessário à conclusão do concurso público”, conforme estipula o art. 1º, § 8º, da Lei
Municipal nº 3.378/2018, e também para eliminar eventuais suspeitas quanto à idoneidade da
contratação temporária.

Ademais, na eventual hipótese de o referido processo administrativo permanecer


paralisado na etapa de elaboração de projeto de Lei no âmbito do Poder Executivo, será
imprescindível que a SMDCG justifique a paralisação e demonstre ação processual imediata para o
seu andamento. É fundamental enfatizar que a inércia do Poder Executivo em deflagrar projeto de lei de
sua iniciativa não pode ser invocada pela própria Administração Pública simplesmente como
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“circunstância previsível, porém inevitável”, capaz de justificar a contratação temporária de mão de


obra para necessidade permanente de serviço público essencial. Portanto, caso não tenha sido feito,
sugere-se que a SMDCG requeira o trâmite do referido processo com urgência, para evitar a
inviabilização da contratação temporária e a prestação do serviço público.

Por fim, embora não conste nos autos consulta específica quanto ao atendimento
das disposições de direito financeiro para a prorrogação contratual, uma vez que consta declaração de
adequação orçamentária na peça nº 4 deste processo administrativo, é oportuno indicar que o seu teor
não parece ser suficiente para atender ao requisito do art. 4º, VI, da Lei Municipal nº 3.378/2018,
relativamente à exigência de indicação de dotação orçamentária específica para suportar as despesas
da contratação temporária. Primeiramente, identificou-se nos autos apenas a existência de declaração
de previsão da despesa da contratação temporária no Projeto de Lei Orçamentária Anual para o exercício
de 2023 (peça nº 02 – fl. 235 do arquivo digital deste processo administrativo), de modo que não se
comprovou previsão de despesa para o exercício de 2024. Em segundo lugar, a declaração de
adequação orçamentária fornecida pela SMDCG na peça nº 04 parece referir-se a despesa não
relacionada à contratação temporária.

Nesse sentido, caso haja dúvida sobre a observância de questão atinente ao Direito
Financeiro, então o presente processo administrativo deverá ser encaminhado

à Procuradoria Tributária (PPT), conforme o art. 13, I, do Decreto nº 13.830/2020, caso haja dúvidas
quanto ao atendimento das normas financeiras para viabilizar as despesas com a prorrogação da
contratação temporária.

2 – CONCLUSÃO

Ante o exposto, a Procuradoria Geral do Município de Niterói, com supedâneo no


art. 72 da Lei Orgânica do Município de Niterói, dotada da prerrogativa de órgão de representação
judicial e de consultoria jurídica e assessoramento do Município, opina pela possibilidade
condicionada de prorrogação da contratação temporária, desde que a SMDCG atenda aos
seguintes requisitos:
1) Seja confirmada (i) a quantidade de contratações temporárias com as respectivas funções, tendo em
vista o aparente erro material na sua justificativa para a contratação (peça nº 01), e, sucessivamente,
(ii) seja vinculada para cada hipótese de contratação o respectivo dispositivo legal exigido no art. 3º,
inc. VII, alínea “c”, da Lei Municipal nº 3.378/2018, tal como foi feito na contratação temporária
original.
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2) Seja certificado pela SMA, nos próprios autos, que inexistem servidores ocupantes dos cargos
de Geógrafo, Arquiteto e Engenheiro lotados na SMDCG ou, de todo modo, à disposição da pasta,
conforme exigência prevista no art. 1º, § 3º da Lei Municipal nº 3.378/2018.9
2.1. Acaso existam ocupantes providos em tais cargos, a SMDCG deve atestar que não são suficientes
para o desempenho de suas funções.

2.2. Acaso não existam, a exigência legal de demonstração deste requisito estará de plano atendida, per
se, consoante o art. 1º, § 1º, o art. 3º, caput, e o art. 4º, V, da Lei Municipal nº 3.378/2018.
3) Seja juntado o processo administrativo nº 740000462/2019 com a devida justificativa para que seja
comprovado o avanço no atual estágio progresso de realização do concurso público para provimento
efetivo das funções objeto de contratação temporária, em conformidade com o art. 1º, § 6º da Lei
Municipal nº 3.838/2018 c/c o art. 37, II, da CF/88, que exige do órgão contratante da mão de
obra temporária o dever jurídico de instaurar processo administrativo para lançamento do edital
do concurso público para substituição dos profissionais temporariamente contratados para
suprir carência não ocasional de profissionais para o desempenho de serviços públicos
essenciais e contínuos;

In fine, caso exista dúvida em matéria de Direito Financeiro, recomenda-se que seja
objetivamente delimitada e que, ato contínuo, seja encaminhada para a PPT, nos termos do art.
13, I, do Decreto nº 13.830/2020

É o parecer, que submeto à consideração superior.

Niterói, 17 de janeiro de 2024.

RAPHAEL DIÓGENES SERAFIM VIEIRA PROCURADOR P-2 DO MUNICÍPIO DE NITERÓI OAB/RJ


175.832 - MATRÍCULA 1.239.947-

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