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ASSUNTO: INFORMAÇÕES SOBRE O

ANDAMENTO DO PROCESSO JUDICIAL


QUE VISA A OBTENÇÃO DO DIREITO À
SUSPENSÃO DO PRAZO PARA
UTILIZAÇÃO DO PERÍODO AQUISITIVO
DA LICENÇA CAPACITAÇÃO.

Referida ação esta tramitando no juízo da 4ª Vara da


Fazenda Pública do Distrito Federal, sob o nº 0702867-64.2021.8.07.0018.

O pedido formulado na ação foi para que “ A


Direção Geral da Polícia Civil do Distrito Federal garanta aos servidores, a
suspensão do prazo para requerer a licença capacitação enquanto perdurar a
vigência da portaria nº 25 de 18 de março de 2020”.

Entende-se que ao revogar as licenças capacitação


que já haviam sido deferidas e consequentemente impedir que se aperfeiçoem
os novos pedidos, não se cuidou em garantir o gozo (sujeito à caducidade) aos
servidores. Se a norma determinou a revogação dos pedidos de licenças
deferidos e não iniciados, deveria também prever que tal atitude trouxe como
consequência o risco de os servidores perderem seu direito pelo transcurso do
tempo, acarretando o implemento do novo período aquisitivo e,
consequentemente, decaindo o direito quanto ao anterior.

Embora a concessão da licença para capacitação


profissional seja ato discricionário, se submetendo ao juízo de conveniência e

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oportunidade da Administração, não configurando direito subjetivo do
servidor, entende-se que remanesce a possibilidade de controle desse ato pelo
Judiciário.

O Juízo de primeiro grau sentenciou o processo


julgando improcedente o pedido, ao argumento de que não se pode impor à
administração a suspensão da contagem do prazo por ausência de previsão
legal. Entendeu ainda, que a concessão do benefício esta sujeita ao interesse da
Administração, veja-se:

“A argumentação apresentada pelo ente sindical é relevante, mas não deve prevalecer.

Conforme expôs o DISTRITO FEDERAL em sua defesa, a PCDF justificou a


medida em razão da redução do número de servidores em condições de exercer suas
funções, tendo em vista a elevação dos casos de afastamento por motivos de saúde.
Nesses termos, de fato, a suspensão do deferimento de licenças capacitação teve a
finalidade de preservar o efetivo mínimo necessário a garantir a manutenção dos
serviços, o que se amolda à preservação do interesse público.

O servidor não tem direito adquirido ao gozo da licença capacitação. O deferimento


da licença se sujeita ao interesse da Administração, como já mencionado acima.

Nesses termos, mesmo que cumprido o requisito temporal, isso não gera
automaticamente o direito do servidor ao afastamento. (...)

Diante disso, não se pode impor à Administração a suspensão da contagem do prazo


para o gozo da licença. Primeiro, porque essa suspensão não tem previsão legal, não
podendo a Administração alterar os termos da lei de regência por meio de portaria.
Segundo, porque sendo a concessão do benefício sujeita ao interesse discricionário da
Administração, pode ser indeferido mesmo se preenchido o requisito temporal. Logo,
a perda da oportunidade de gozo da licença em razão do ato impugnado equivale ao
indeferimento do pedido.

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Ademais, o § 6º se limitou a revogar as licenças de capacitação e estudos já concedidas,
de modo a impedir o gozo. Vale dizer, a medida tem o nítido propósito de preservar a
força de trabalho da instituição, evitando o afastamento temporário de servidores.
Não há, contudo, vedação à formulação de qualquer requerimento.

Por outro lado, também não cabe reconhecer violação aos arts. 23 e 24 da LINDB,
ao contrário do alegado pelo SINPOL-DF.

O art. 23 diz respeito a decisão que “estabelecer interpretação ou orientação nova


sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito”. A portaria em questão não se enquadra nesse preceito,
visto que não inovou no ordenamento jurídico, estabelecendo apenas restrição ao
gozo de licença, segundo os termos já delineados previamente na própria Lei
8112/1990.

Já o art. 24 trata da revisão da validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma


administrativa cuja produção já se houver completado, sendo que a portaria em
questão se limitou a suspender a concessão das licenças, com o que não se configurou
revisão de norma anterior, até porque o prazo qüinqüenal é definido em lei, norma
hierarquicamente superior.

Em vista disso, impõe-se a rejeição do pedido.”

Apresentado Recurso de Apelação contra a


sentença proferida, houve reforma da mesma, para julgar procedente o pedido
inicial. Os Desembargadores nas razões de decidir pontuaram que:

“(...)

Se foram canceladas as licenças para capacitação ainda não fruídas pelos servidores, como
determinado por meio da Portaria questionada, a decorrência lógica que pode ser inferida é que os

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eventuais novos requerimentos de fruição da referida licença ficarão forçosa mente sem efeito prático,
pois serão também, diante da aplicação da mesma regra, indeferidos.

Aliás, se os períodos de licença não são acumuláveis, de acordo com a regra prevista no parágrafo
único do art. 87 da Lei nº 8.112/1990, e se os servidores da Polícia Civil do Distrito Federal
ficam impedidos de requerer a respectiva fruição, tendo em vista que serão necessariamente
indeferidas, em que pese a peculiaridade do poder discricionário de concedê-las “no interesse da
administração”, parece razoável e proporcional que os respectivos prazos para o exercício dessa
prerrogativa funcional permaneçam suspensos.

Interpretação diversa teria como resultado prático que os servidores ficariam impedidos de requerer
licença para capacitação, por tempo indeterminado, correndo o risco de perderem a possibilidade de
formalizar seus requerimentos em relação aos períodos anteriores ainda não fruídos, em virtude da
impossibilidade de cumulação de períodos.”

Assim, a Segunda Turma Cível do Tribunal de


Justiça do Distrito Federal e Territórios, de provimento ao Recurso para
“determinar a suspensão do curso do prazo para que os servidores da Polícia Civil do
Distrito Federal possam requerer licença para capacitação enquanto perdurarem os efeitos da
portaria nº 25 de 18 de março de 2020.”

Após a publicação da referida decisão, o Distrito


Federal apresentou Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça -
STJ, tendo o SINPOL já apresentado suas contrarrazões.

O Recurso foi recebido pela presidência do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e encaminhado ao Superior Tribunal
de Justiça, estando pendente de distribuição ao Ministro relator para
julgamento.

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O feito fora recebido junto Superior Tribunal de
Justiça sob o nº 2.015.712, e a presidência da corte não conheceu do
Recurso Especial interposto pelo Distrito Federal. Da referida decisão,
foi apresentado embargos de declaração e a Ministra presidente
oportunizou que o Distrito Federal adequasse a peça como Agravo
interno.

O Distrito Federal retificou sua peça para


agravo interno e o SINPOL apresentou resposta ao recurso. Após
houve a redistribuição do processo ao Ministro Relator, Sérgio Kukina.

O Ministro reconsiderou a decisão da


presidência e determinou a reapreciação do Recurso Especial
apresentado pelo Distrito Federal.

Em decisão monocrática, o Ministro Relator


decidiu pelo não conhecimento do Recurso Especial interposto pelo
Distrito Federal, mantendo a decisão proferida pela 2ª Turma Cível do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal em favor dos servidores.

Da referida decisão, ainda cabe recurso por


parte do Distrito Federal.

É o esclarecimento.
Brasília, 29/03/2023.

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Alex Luciano Valadares de Almeida Alexandre Amaral de Lima Leal
OAB/MG 99.065 OAB/DF 21.362

Jônatas da Costa Coelho Rafael Dario de Azevedo Nogueira


OAB/DF 21.503 OAB/DF 29.621

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