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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0145.10.023627-5/001

<CABBCCABADDACABAADDABDAACADCABBABCCA
ADDADAAAD>

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – DESCONSTITUIÇÃO


PERSONALIDADE JURÍDICA – PRÉVIA CITAÇÃO DOS SÓCIOS -
DESNECESSIDADE.
- A desconsideração da personalidade jurídica das empresas
somente poderá ser concedida quando estiverem presentes os
requisitos legais, quais sejam, o requerimento da parte ou do
Ministério Público e ainda a comprovação do desvio de finalidade ou
a confusão patrimonial.
- É incabível falar-se em necessidade de citação dos sócios no caso
de deferimento da desconsideração da personalidade jurídica da
empresa em fase de cumprimento de sentença, tendo em vista que,
no momento em que é desconsiderada a personalidade e
determinada a intimação dos sócios, estes passam a integrar a lide,
podendo apresentar todos os meios necessários à sua defesa.
- Recurso não provido. Decisão mantida.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CV Nº 1.0145.10.023627-5/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - AGRAVANTE(S):


MARILDA MELLO BOTELHO DA SILVA - AGRAVADO(A)(S): ISMAEL ZAQUINI DE SOUZA E OUTRO(A)(S),
CRISTIANA FERREIRA DA MOTTA SOUZA - INTERESSADO: MOISÉS MARTINS DE OLIVEIRA, AUTOMÓVEIS
BRASIL

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª CÂMARA CÍVEL


do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO.

DESA. MARIÂNGELA MEYER


RELATORA.

Fl. 1/10
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Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0145.10.023627-5/001

DESA. MARIÂNGELA MEYER (RELATORA)

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto


por MARILDA MELLO BOTELHO DA SILVA contra decisão de fls.
07-TJ proferida pelo MM. Juiz da 6ª Vara Cível da Comarca de Juiz
de Fora que, nos autos do Cumprimento de Sentença manejado por
ISMAEL ZAQUINI DE SOUZA E OUTRO, indeferiu o pedido de
decretação de nulidade dos atos processuais posteriores à decisão
que determinou a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa ré, por entender dispensável a citação dos sócios neste
caso, bastando a defesa apresentada a posteriori.

Alega a agravante que o juiz deferiu pedido


formulado pelos agravados no sentido de desconsiderar a
personalidade jurídica dos sócios da empresa que figura no pólo
passivo do cumprimento de sentença, na qual a agravante é sócia.

Aduz que referida decisão determinou a


intimação dos representantes legais do então executado para
pagamento do débito, e não a sua citação, contrariando o art. 472
do CPC e a jurisprudência dominante.

Assevera ainda que TJMG é maciço quanto à


necessidade de citação dos sócios da empresa que teve sua
personalidade jurídica desconsiderada.

Pugna, ao final, seja dado provimento ao


recurso, reformando-se a decisão agravada, para decretar a
nulidade de todos os atos realizados a partir da decisão que deferiu
a desconsideração da personalidade jurídica em questão,
restabelecendo-se o prazo legal para resposta.

Foi deferida a antecipação de tutela requerida


em decisão fundamentada às fls. 31/32-TJ.

Fl. 2/10
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Prestadas informações pelo juiz a quo, fl.


37/38-TJ.

Contraminuta às fls.40/53-TJ.

Relatados, examino e ao final, decido.

Já examinados e reconhecidos os
pressupostos de admissibilidade, passo à análise do mérito do
recurso.
Pretende o recorrente seja reformada a
decisão do juiz a quo que, em sede de cumprimento de sentença,
indeferiu seu pedido para declarar a nulidade dos atos processuais
posteriores à decisão que determinou a desconsideração da
personalidade jurídica da empresa devedora, tendo em vista que
entende a agravante ser indispensável a citação dos sócios, não
bastando a defesa apresentada posteriormente.

A meu ver, não merece acolhida a


argumentação da agravante pelos motivos a seguir expostos.

No caso aqui posto, o magistrado de primeiro


grau entendeu por bem deferir o pedido autoral de desconsideração
da personalidade jurídica da empresa ré em sede de cumprimento
de sentença, após verificar que esta vinha oferecendo obstáculos ao
ressarcimento dos prejuízos causados aos autores/agravados.

Ao determinar o cumprimento de tal medida, o


juízo primevo ordenou que fossem intimados os representantes do
devedor/executado para efetuar o pagamento da quantia devida,
sob pena de incidência da multa prevista no art. 475-J, do CPC.

Alegando que seria necessária a citação dos


sócios neste caso, requereu a recorrente a reforma da decisão para
decretação de nulidade dos atos posteriores à decisão que deferiu a
desconsideração requerida e determinou a intimação dos sócios
para pagamento.

Fl. 3/10
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Cumpre esclarecer, inicialmente, que a


desconsideração da personalidade jurídica se constitui em medida
excepcional que só deve ser concedida quando se mostrarem
presentes os requisitos dispostos no artigo 50 do Código Civil, uma
vez que a personalidade jurídica visa exatamente garantir o
patrimônio dos sócios contra a possível insolvência das suas
empresas, desde que a dificuldade financeira não seja resultado de
atos fraudulentos praticados pelos sócios-administradores.

Por outro lado, o legislador ao permitir a


desconstituição da personalidade jurídica das empresas, pretendeu
assegurar o direito dos credores lesados intencionalmente pelos
sócios ou administradores destas pessoas jurídicas.

Vejamos a exegese do supracitado dispositivo


legal:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade


jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode
o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.”

Infere-se, portanto, da leitura do referido artigo


que a desconsideração da personalidade jurídica das empresas
somente poderá ser concedida quando estiverem presentes os
requisitos legais, quais sejam, o requerimento da parte ou do
Ministério Público e ainda a comprovação do desvio de finalidade ou
a confusão patrimonial.

Pois bem.

Fl. 4/10
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Em detida análise dos autos, constatei que o


magistrado, ao proferir a decisão que determinou referida
desconsideração, entendeu que presentes os requisitos necessários
ao deferimento da medida, razão pela qual determinou a intimação
dos sócios para pagamento do débito.

Em que pese a argumentação trazida pela


recorrente, tenho que correta a decisão neste ponto, não havendo
que se falar em necessidade de prévia citação dos sócios em caso
de desconsideração da personalidade jurídica da empresa
devedora.

Ora, é certo que a desconsideração aqui


discutida se trata de uma medida incidental tomada no curso do
processo, em fase de cumprimento de sentença, no qual
inevitavelmente a empresa devedora já foi citada na pessoa de seus
sócios e que restaram infrutíferas as tentativas de satisfação do
crédito em favor do credor.

Diante da excepcionalidade da medida em


questão, é certo que, antes de determiná-la, o magistrado assegura
que sejam tomadas outras medidas prévias para tentativa de
recebimento dos valores, sendo factível também que, no curso da
instrução processual, seja assegurado o direito ao contraditório e da
ampla defesa da empresa devedora, que pode alegar tudo quanto
possível na tentativa de desconstituição do débito em seu desfavor.

Desse modo, tenho que é incabível falar-se em


necessidade de citação dos sócios no caso de deferimento da
desconsideração da personalidade jurídica da empresa em fase de
cumprimento de sentença, tendo em vista que, no momento em que
é desconsiderada a personalidade e determinada a intimação dos
sócios, estes passam a integrar a lide, podendo apresentar todos os
meios necessários à sua defesa.

E nem se argumente que tal medida


configuraria cerceamento e defesa e lesão ao contraditório, na
medida em que, nestes casos, o contraditório é diferido, uma vez

Fl. 5/10
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que os sócios podem trazer ao feito sua defesa em momento


oportuno.

Nesse sentido já se manifestou o colendo


Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
E MATERIAIS. OBSERVÂNCIA. CITAÇÃO
DOS SÓCIOS EM PREJUÍZO DE QUEM FOI
DECRETADA A DESCONSIDERAÇÃO.
DESNECESSIDADE. AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO GARANTIDOS COM A
INTIMAÇÃO DA CONSTRIÇÃO.
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. VIA ADEQUADA PARA A
DISCUSSÃO ACERCA DO CABIMENTO DA
DISREGARD. RELAÇÃO DE CONSUMO.
ESPAÇO PRÓPRIO PARA A INCIDÊNCIA DA
TEORIA MENOR DA DESCONSIDERAÇÃO.
ART. 28, § 5º, CDC. PRECEDENTES.
1. A desconsideração da personalidade jurídica
é instrumento afeito a situações limítrofes, nas
quais a má-fé, o abuso da personalidade
jurídica ou confusão patrimonial estão
revelados, circunstâncias que reclamam, a
toda evidência, providência expedita por parte
do Judiciário. Com efeito, exigir o amplo e
prévio contraditório em ação de conhecimento
própria para tal mister, no mais das vezes,
redundaria em esvaziamento do instituto nobre.
2. A superação da pessoa jurídica afirma-se
como um incidente processual e não como um
processo incidente, razão pela qual pode ser
deferida nos próprios autos, dispensando-se
também a citação dos sócios, em desfavor de
quem foi superada a pessoa jurídica, bastando
a defesa apresentada a posteriori, mediante

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embargos, impugnação ao cumprimento de


sentença ou exceção de pré-executividade.
3. Assim, não prospera a tese segundo a qual
não seria cabível, em sede de impugnação ao
cumprimento de sentença, a discussão acerca
da validade da desconsideração da
personalidade jurídica. Em realidade, se no
caso concreto e no campo do direito material
fosse descabida a aplicação da Disregard
Doctrine, estar-se-ia diante de ilegitimidade
passiva para responder pelo débito,
insurgência apreciável na via da impugnação,
consoante art. 475-L, inciso IV. Ainda que
assim não fosse, poder-se-ia cogitar de
oposição de exceção de pré-executividade, a
qual, segundo entendimento de doutrina
autorizada, não só foi mantida, como ganhou
mais relevo a partir da Lei n. 11.232/2005.
4. Portanto, não se havendo falar em prejuízo à
ampla defesa e ao contraditório, em razão da
ausência de citação ou de intimação para o
pagamento da dívida (art. 475-J do CPC), e
sob pena de tornar-se infrutuosa a
desconsideração da personalidade jurídica,
afigura-se bastante - quando, no âmbito do
direito material, forem detectados os
pressupostos autorizadores da medida - a
intimação superveniente da penhora dos bens
dos ex-sócios, providência que, em concreto,
foi realizada.
5. No caso, percebe-se que a fundamentação
para a desconsideração da pessoa jurídica
está ancorada em "abuso da personalidade" e
na "ausência de bens passíveis de penhora",
remetendo o voto condutor às provas e aos
documentos carreados aos autos. Nessa
circunstância, o entendimento a que chegou o
Tribunal a quo, além de ostentar
fundamentação consentânea com a

Fl. 7/10
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Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0145.10.023627-5/001

jurisprudência da Casa, não pode ser revisto


por força da Súmula 7/STJ.
6. Não fosse por isso, cuidando-se de vínculo
de índole consumerista, admite-se, a título de
exceção, a utilização da chamada "teoria
menor" da desconsideração da personalidade
jurídica, a qual se contenta com o estado de
insolvência do fornecedor somado à má
administração da empresa, ou, ainda, com o
fato de a personalidade jurídica representar um
"obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores", mercê da parte
final do caput do art. 28, e seu § 5º, do Código
de Defesa do Consumidor.
7. A investigação acerca da natureza da verba
bloqueada nas contas do recorrente encontra
óbice na Súmula 7/STJ.
8. Recurso especial não provido.
(REsp 1096604/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
02/08/2012, DJe 16/10/2012)

Também este Tribunal de Justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO -


LEGITIMIDADE PASSIVA - SUJEITOS
PREVISTOS EM LEI - RESPONSABILIDADE
PATRIMONIAL DE TERCEIRO - HIPÓTESE
EXCEPCIONAL - NECESSIDADE DE CABAL
COMPROVAÇÃO DE SUBSUNÇÃO A
HIPÓTESE LEGAL - DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA - COGNIÇAO
INCIDENTAL NA EXECUÇÃO - DISPENSA DE
CITAÇÃO DOS SÓCIOS - DEFESA DE SEU
PATRIMÔNIO PELO MEIO LEGAL -
CONTRADITÓRIO DIFERIDO -
CERCEAMENTO D DEFESA - AUSÊNCIA -
EXCEÇÃO - CHEQUE - PRAZO
PRESCRICIONAL - TERMO A QUO - FIM DO

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PRAZO DE APRESENTAÇÃO DO TÍTULO -


CHEQUE PÓS-DATADO - INATIDÃO PARA
ALTERAR O PRAZO PRESCRICIONAL. 1 -
Podem figurar no polo passivo da execução
apenas os sujeitos taxativamente arrolados no
art. 568 do CPC. 2 - Apenas nas hipóteses
expressa e excepcionalmente previstas em lei
pode o patrimônio de terceiro responder à
execução. 3 - A desconsideração da
personalidade jurídica consiste em questão
que pode ser objeto de cognição
incidentalmente no processo de execução, com
a dispensa da prévia citação dos sócios, sendo
garantido a estes a defesa de seus bens pelo
meio legal através do contraditório diferido.
4 - O prazo prescricional para a propositura de
ação de execução visando o recebimento de
crédito representado em cheque é de seis
meses, contados do término do prazo de
apresentação do título, iniciado este na data de
emissão da cártula, independentemente da
convenção no título de data diversa para seu
pagamento. (Agravo de Instrumento Cv
1.0105.05.170453-1/002, Rel. Des.(a) Pedro
Bernardes, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
13/11/2012, publicação da súmula em
26/11/2012)

EMENTA: DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. PRÉVIA
CITAÇÃO DOS SÓCIOS - DESNECESSIDADE
- AUSÊNCIA DE PROVA DO DESVIO DE
FINALIDADE DA PESSOA JURÍDICA.
A desconsideração da personalidade jurídica,
desde que preenchidos os requisitos
necessários, pode ser feita nos autos da
execução sem que haja prévia citação dos
sócios. A mudança de endereço da empresa

Fl. 9/10
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Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0145.10.023627-5/001

executada associada à inexistência de bens


capazes de satisfazer o crédito pleiteado pelo
exeqüente, por si só, não constituem motivos
suficientes para a desconsideração da sua
personalidade jurídica. A simples insolvência
da pessoa jurídica não basta para que seja
desconsiderada a sua personalidade, não
sendo o instituto da disregard doctrine
substituto do pedido de falência ou
recuperação judicial da sociedade empresária.
Recurso provido em parte. (Agravo de
Instrumento Cv 1.0024.06.048376-5/001, Rel.
Des.(a) Cabral da Silva, 10ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 13/11/2012, publicação da
súmula em 23/11/2012)

Assim, em face da desnecessidade de prévia


citação dos sócios quando da desconsideração da personalidade
jurídica, não haverá que se falar em necessidade de nulidade dos
atos posteriores à decisão que deferiu referida desconsideração e
determinou a intimação dos sócios para pagamento.

Ante ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao


recurso, mantendo a decisão hostilizada por seus próprios
fundamentos.

Custas recursais pela recorrente.

DES. PAULO ROBERTO PEREIRA DA SILVA - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. ÁLVARES CABRAL DA SILVA - De acordo com o(a)


Relator(a).

SÚMULA: "RECURSO NÃO PROVIDO"

Fl. 10/10

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