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MM JUIZO DA... VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE...

LUANA GARCIA, nacionalidade..., solteira, profissão..., portador da cédula de


identidade número..., inscrito no CPF número..., endereço eletrônico...,
residente e domiciliado à rua..., número..., bairro..., UF, por seu advogado
regularmente constituído (procuração em anexo), estabelecido
profissionalmente no endereço à rua..., número..., bairro..., cidade..., estado...,
vem à presença de Vossa Excelência, propor;

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Contra ato praticado pelo DIRETOR GERAL, Senhor..., nacionalidade...,


estado civil..., profissão..., com documento de identificação e endereço pessoal
desconhecido, representante legal da instituição de ensino superior pública
federal, estando esta autoridade coautora vinculada ao CEFET, autarquia
federal, pessoa de direito público, inscrito no CNPJ sob o nº..., com sede ao
endereço; rua..., cep...., bairro,..., município de..., UF..., end. Eletrônico..., pelos
fatos e fundamentos que passa a expor;

I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

Em razão das dificuldades financeiras enfrentadas pela impetrante desde sua


demissão, esta não possui como suportar à custa judiciais sem que afete seu
sustento, raao pela qual deve ser contemplada pela gratuidade de justiça, na
forma da lei nº 1050/1960.

II. DOS FATOS

Em princípio, cumpre ressaltar que a impetrante pertencia ao quadro de


servidores públicos federal da instituição impetrada, exercendo o cargo de
professora.
Em determinado dia, Rafael abreu, aluno da instituição em tela, inconformado
com a nota que lhe fora atribuída na disciplina em que a impetrante lecionava
no curso de graduação do aluno, ele a abordou com um canivete em punho e,
em meio a ameaças, exigiu que ela procedesse a modificação de sua nota.
Nesse instante, a impetrante, com o propósito de repelir a iminente agressão,
conseguiu desarmar e desvencilhar do aluno, que restou por sofrer uma queda
e fraturar um dos braços.

Diante do ocorrido, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD), a


fim de apurar eventual responsabilidade da professora e, ao mesmo tempo, a
impetrante foi denunciada pelo crime de lesão corporal.

Quanto à esfera criminal, a impetrante foi absolvida, vez que fora provado ter
agido em legitima defesa, em decisão que transitou em julgado.

Com relação ao processo administrativo, este prosseguiu, sem a devida citação


da impetrante, pois a comissão nomeada entendeu que a mesma já teria
tomado ciência da instauração do procedimento por meio da imprensa e de
outros servidores. Ao final, a comissão apresentou relatório pugnando pela
condenação da servidora à pena de demissão.

O PAD foi encaminhado a autoridade competente, ora o impetrado, para a


decisão final, que, sob o fundamento de vinculação ao parecer emitido pela
comissão, aplicou a pena de demissão à impetrante, afirmando, ainda, que a
esfera administrativa é autônoma em relação à criminal.

Em 17/02/2021, a servidora foi certificada de sua demissão, por meio de


publicação no diário oficial, ocasião em que foi afastada de suas funções.
Assim sendo, socorre-se a impetrante do manto do poder judiciário, com fito de
obter o necessário.

III. DO MÉRITO
No presente caso, o impetrado e responsável por ato de lesão de direito líquido
e certo junto à impetrante, vez que comprovado, junto à esfera penal, que a
mesma agiu em legitima defesa, resultando em sua sentença absolutória.
Deve-se salientar, ainda, quanto a omissão da tramitação do PAD sem a
devida citação da interessada, bem como a descabida decisão do reitor ao
aplicar a pena de demissão à impetrante, sob a justifica apresentada de que; “a
esfera administrativa é autônoma em relação à criminal”.

IV. DO CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA E DA


LEGITIMIDADE ATIVA

O presente mandado de segurança tem cabimento, nos termos do inciso LXIX


do art. 5º da CRFB, como verdadeiro remédio constitucional para afastar ato de
autoridade, capaz de causar lesão ou ameaça, a direito líquido e certo não
amparado por outra garantia.

“Inciso LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para


proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
poder público”.

De acordo com Hely Lopes Meirelles, o direito líquido e certo e o que se


apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser
exercido no momento da impetração, ou seja, o direito enfocado para ser
amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e
trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante.

Ao discorrer desta peça exordial, juntamente com os documentos acostados a


esse mandamus, será notabilizado que a impetrante foi cientificada em
17/02/2021 e procedeu ao acionamento do judiciário em 18/03/2021,
perfazendo 42 (quarenta e dois) dias entre o período mencionado, conforme
dispõe o art. 23º da lei nº 12.016/2019:
“Art.23. O direito de requerer mandado de segurança
extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência pelo interessado, do ato impugnado”.

Isto posto, não quanto há que se falar quanto a inadmissibilidade da


impetração do presente mandamus e possível intempestividade deste, vez que
demonstrados os requisitos do instrumento em tela.

V. DA COMPETENCIA DA JUSTIÇA FEDERAL E DA LEGITIMIDADE


PASSIVA

O critério definidor da competência da justiça federal se baseia no ratione


personae, onde é levada em consideração a natureza das pessoas envolvidas
na relação processual.

No presente caso, trata-se de ato coator praticado pelo reitor de instituição de


ensino superior público federal e, portanto, a competência será da Justiça
Federal, consoante jurisprudência originaria do RESP nº 373.904/RS;

PROCESSUAL CIVIL. ENSINO SUPERIOR. MANDADO DE


SEGURAMÇA. UNIVERSIDADE PARTICULAR DIPLOMA. ALUNO
INADIMPLENTE. COMPETENCIA. 1. A primeira seção, no
julgamento do conflito de competência nº 35.972/SP, relator para
acordão o Ministro Teori Albino Zavascki, decidiu que o critério
definidor da competência da justiça federal é ratione personae,
levando-se em consideração a natureza das pessoas envolvidas na
relação processual, sendo irrelevante, para esse efeito e ressalvadas
as exceções mencionadas no texto constitucional, a natureza da
controvérsia sob o ponto de vista do direito material ou do pedido
formulado na demanda. 2. Nos processos em que se discutem
questões no âmbito do ensino superior, são possíveis as seguintes
conclusões; a) mandado de segurança – a competência será federal
quando a impetração voltar-se contra ato de dirigente de universidade
pública federal ou de universidade particular; ao revés, a competência
será estadual quando o mandamus for impetrado contra dirigentes de
universidades públicas estaduais e municipais, componentes do
sistema estadual de ensino; b) ações de conhecimento, cautelares ou
quaisquer outras de rito especial que não o mandado de segurança –
a competência será federal quando a ação indicar no polo passivo a
união federal ou quaisquer de suas autarquias ( art.109, I, da CF);
será de competência estadual, entretanto, quando o ajuizamento
voltar-se contra entidade estadual, municipal ou outra instituição
particular de ensino. 3. Recurso especial provido. (STJ – Resp.
373.904/RS 2001/0153476-5, relator; Ministro Castro Meira, data de
julgamento: 07/12/2004, T2- segunda turma, data de publicação: -->
DJ 09/05/2005 p.325)

Ademais, urge ressaltar o exposto no § 3º do art. 6º da Lei nº 12.016/2009, que


versa acerca da indicação da autoridade coautora:

“ Art. 6º a petição inicial, que deverá preencher os requisitos


estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias
com os documentos que instruem a primeira reproduzidos na
segunda é indicara, além da autoridade coautora, a pessoa jurídica
que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce
atribuições.
§ 3º considera-se autoridade coautora aquela que tenha praticado o
ato ou da qual emane a ordem para a sua pratica. ”

À vista disso, não há que se falar acerca de possível incompetência do âmbito


federal para solução do presente mandamus.

VI. DA SUCESSAO DE ATOS ILEGAIS PRATICADOS


Com relação ao PAD que pugnou pela condenação da servidora à pena de
demissão, este prosseguiu sem a devida citação da impetrante, onde a
comissão responsável apresentou como justificativa que a mesma já teria
tomado ciência da instauração do procedimento por meio da imprensa e de
outros servidores.

Ocorre que, concordante com a legislação especifica acerca de processos


administrativos no âmbito da administração pública federal, é imprescindível
que a intimação assegure a certeza da ciência do interessado, o que não
sucedeu. É o que garante o § 3º do art. 26 da lei nº 9.784/99:
“ Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo
administrativo determinara a intimação do interessado para ciência de
decisão ou a efetivação de diligencias.
§ 3º a intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via
postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que
assegure a certeza da ciência do interessado. ”

Quanto a justificativa apresentada pelo reitor, ora impetrado, quando da


consumação do ato coator ao aplicar a pena de demissão à impetrante, mister
salientar que, de fato, há a existência de autonomia entre as instancias,
figurando, no caso em comento, a penal e a administrativa.

Entretanto, deve-se destacar que há exceções em determinadas conjunturas,


em que haverá sim a vinculação entre as instancias, de modo que não poderá
haver condenação na esfera administrativa quando houver absolvição na
esfera penal, sendo esta a inteligência do art. 126 da lei nº 8.112/1990:

“ Art.126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada


no caso de absolvição criminal que a existência do fato ou sua
autoria. ”

Utilizando-nos de uma analogia reversa, na jurisprudência abaixo elencada, MS


nº 7296/DF, é possível verificar a denegação do mandado de segurança
quando observada a correta tramitação do processo administrativo disciplinar.
Como anteriormente demonstrado, o mesmo cenário não pode ser constatado
junto ao PAD enfrentado pela impetrante, vez que detectado a presença de
vicio durante o curso da demanda administrativa, sendo, nesta ocasião, a
ausência da devida citação e a não consideração da sentença absolutória na
esfera penal.

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7.296 – DF (2000/0135242-3)


RELATOR: MINISTRO PAULO MEDINA. IMPETRANTE: CARLOS
ROBERTO RAMOS DE OLIVEIRA. ADVOGADO: GILBERTO
AMADO DA SILVA. IMPETRADO: MINISTRO DE ESTADO DA
JUSTIÇA. EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR
PUBLICO.PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
DEMISSAO. CONTRADITORIO E AMPLA DEFESA.
INDEPENDENCIA DA INSTANCIA CRIMINAL. MERITO
ADMINISTRATIVO. Não há vícios formais que justifiquem a
concessão da segurança, uma vez observados os princípios do
contraditório e da ampla defesa no processo administrativo disciplinar.
A esfera administrativa, a teor do art. 126 da lei nº 8.112/90,
independe da penal, exceto nas hipóteses de absolvição criminal que
negue a existência do fato ou sua autoria não identificada. Não cabe
mandado de segurança para discutir o mérito da decisão
administrativa em processo administrativo disciplinar. Segurança
negada.
(STJ – MS: 7296 DF 2000/ 0135242-3, Relator: ministro PAULO
MEDINA, data de julgamento: 12/05/2004, § 3 – TERCEIRA SEÇAO,
data de publicação: DJ 14.06.2004 p.1156) ”

O direito líquido e certo não amparado da impetrante é evidente, a qual pugna


por sua reintegração através da anulação do ato demissionário realizado pelo
impetrado.

VII. DA TUTELA DE URGENCIA ANTECIPADA


Consoante com todo o exposto anteriormente, encontram-se presentes os
requisitos para concessão do pedido em caráter de urgência, com proposito de
alcançar a reintegração imediata da servidora pública federal, ora impetrante,
junto a Universidade Federal, bem como o recebimento dos vencimentos
pretéritos desde 17/02/2021, sendo a data do ato impugnado.

Neste contexto, nos deparamos com o periculum in mora e o fumus buni iuris.
Com relação ao periculum in mora, é sabido que este se refere ao perigo da
demora, conforme preceitua o art. 300 do CPC:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo. ”

Nesta oportunidade, há de se destacar que o perigo da demora repousa na alta


possibilidade da impetrante vir a sofrer consequências gravíssimas diante da
sucessão de atos ilícitos praticados, que corroboraram para sua demissão
descabida, devendo ser elencados:

Ocupação de seu antigo cargo por outro servidor federal, restando na


impossibilidade de sua reintegração;

Acumulo de prejuízos de ordem financeira, haja vista não ter conseguido se


realocar no mercado de trabalho neste interim e ao não estar gerando renda
para sua subsistência.

No que se refere ao fumus boni iuris, a fumaça do bom direito, esta caracteriza-
se por toda a fundamentação realizada nesta peça, juntamente com as provas
documentais, que garantem o próprio direito da impetrante a ser reintegrada de
pronto a seu antigo cargo, bem como a receber seus devidos vencimentos,
ante a demissão ilegal.

Seguindo o raciocínio retro, a mesma matéria fora tratada no REsp nº


1199257/PE, que não só reconheceu o direito da reintegração de servidor
público, como também reconheceu o direito ao recebimento dos vencimentos
desde a data da demissão ilegal;

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANAÇA.REINTERGRAÇAO DE SERVIDOR
PUBLICO.VENCIMENTOS RETROATIVOS A PARTIR DA DATA DA
DEMISSAO ILEGAL. 1. É pacifico o entendimento desta corte no
sentido de que, em se tratando de mandado de segurança
objetivando reintegração de servidor público demitido ilegalmente,
são devidos os vencimentos e eventuais vantagens financeiras ao
impetrante, desde a data do ato impugnado.
“ (STJ – Resp. 1199257 / PE 2010/0109811-4, Relator Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, data de julgamento: 15/02/2011). ”

Considera-se, ainda, o disposto no inciso III, art. 7º da lei nº 12.016/2009, que


versa acerca da suspensão do ato, pelo próprio magistrado, que deu motivo ao
pedido:
“ Art. 7º ao despachar a inicial, o juiz ordenara:
III – que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver
fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia
da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir da
impetrante caução, fiança ou deposito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica. ”

Destarte, requer o deferimento da liminar, no sentido de proceder a


reintegração imediata da impetrante ao seu antigo cargo junto a Universidade
Federal, bem como seja determinado o deposito dos vencimentos retroativos, a
contar de 17/02/2021, ora data da demissão ilegal.

VIII. DOS PEDIDOS


Ante toda exposição realizada, requer à vossa excelência:
a) Que seja concedida a gratuidade de justiça, na forma da lei nº
1.050/1960, vez que a impetrante se encontra desempregada, não
possuindo condições de arcar com as custas sem prejuízo de seu
próprio sustento;
b) Que seja deferida a liminar requerida, na forma da lei nº 12.016/2009,
vez que presentes os requisitos legais para sua concessão, no sentido
de promover a reintegração imediata da impetrante ao seu antigo cargo
junto a Universidade Federal, bem como seja determinado, no prazo de
5 (cinco) dias, o pagamento dos pagamentos retroativos, a contar da
data de 17/02/2021, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00
(quinhentos reais), em caso de descumprimento, limitada a R$
10.000,00 (dez mil reais), valores estes que deverão ser revertidos em
favor da impetrante;
c) Que seja determinada a intimação da autoridade coatora no endereço
referente à autarquia a qual é vinculada, entregando-lhe a segunda via
da exordial acompanhada de todos os documentos acostados, para
cumprimento da medida liminar e prestação de informações que julgar
pertinentes no prazo que determina a lei, nos termos do inciso I, art.7º
da lei nº 12.016/2009;
d) Que seja determinado que se de ciência do fato ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica em comento, enviando-lhe
cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito,
nos termos do inciso II, art. 7º da lei 12.016/2009;
e) Que o impetrado seja condenado ao pagamento das despesas
processuais, na forma da lei.

IX. DAS FUTURAS PUBLICAÇOES


Requer que todas as publicações e notificações referentes a este mandamus
sejam realizadas em nome de Drº..., OAB nº... no endereço eletrônico (e-mail),
consoante procuração acostada, sob pena de nulidade, na forma do art. 272 do
CPC.

X. DO VALOR DA CAUSA
Concordante com a doutrinadora Helly Lopes Meirells, o valor da causa em
mandado de segurança “ deverá corresponder ao do ato impugnado, quando
for suscetível de qualificação, e, nos demais casos, será dado por estimativa do
impetrante”.
Diante disso, dar-se-á causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Nestes termos, Pede deferimento.

Local, data

Advogado...
OAB/UF...

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