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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito

Gustavo Silva Ferreira

PESQUISA JURISPRUDENCIAL: Mandado de Segurança contra Ato do


Poder Judiciário

Belo Horizonte 2023


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Estágio Supervisionado IV - Prática Simulada (Recursos e Ações Constitucionais)

Mandado de Segurança contra Ato do Poder Judiciário

Aluno: Gustavo Silva Ferreira

Professores: Carmem Lúcia Antunes Rocha e Alisson da Silva Costa

Direito fundamental do acesso à Justiça e o mandado de segurança

No momento de elaboração da constituição federal de 1988, o legislador


se preocupou em garantir uma série de direitos fundamentais à todos os
cidadãos. Especificamente no art. 5º, que se encontra no capítulo I, que versa
sobre os direitos e deveres individuas e coletivos. Entre esses direitos destaca-
se o direito de acesso à justiça, que se encontra positivado no inciso XXXV do
referido artigo nos seguintes moldes:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;[...] (BRASIL, 2023).

Esse direito também se encontra posto no atual código de processo civil,


que dispõe em seu art. 3º o mesmo disposto no inciso XXXV do art. 5º da
constituição, pertencendo ao hall de garantias processuais.

Nestes termos, temos o mandado de segurança como um instrumento


jurídico que objetiva proteger direito líquido e certo do impetrante, que tenha sido
violado por ato ilegal ou abusivo de autoridade pública ou de agente de pessoa
jurídica do poder público. Está previsto nos incisos LXIX e sua legitimidade
prevista no inciso LXX do art. 5º da Constituição Federal de 1988 e foi
regulamentado posteriormente pela Lei 12.016/09, presentes da seguinte forma:

[...]LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data",
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente


constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;[...] (BRASIL, 2023)

Assim sendo um dos direitos fundamentais o de acesso à justiça,


garantindo ao cidadão que o poder judiciário prestará serviços a fim de que
sejam solucionadas questões e findem as lides dos cidadãos. Todo cidadão terá
direito à prestação jurisdicional e assim sendo o poder judiciário é investido de
um poder único, possuindo características e efeitos únicos, específicos desse
poder.

O MS aparece então de forma a garantir direitos postos na Constituição


como fundamentais, sendo oponível contra a ação ou omissão do Poder Público,
que deixa de prestar ou realiza cerceamento de direitos do cidadão. Isso se
encontra positivado na Lei 12.019/09, tendo o interessado o prazo de 120 dias
contados do estabelecimento do ato que deu origem ao direito líquido e certo.
Após isso ocorrerá a decisão que poderá ser pelo acolhimento do mandado de
segurança ou denegatória, quando o rejeita.

Características e efeitos específicos dos atos do Poder Judiciário

Ao analisarmos os atos do poder judiciários, constata-se que são dotados


de características e efeitos únicos e que incluem:

• Jurisdicionalidade: previsto no art. 5º, LXI, os atos do Poder Judiciário serão,


por natureza, jurisdicionais, interpretando e aplicando as normas para resolução de casos
concretos solucionando as demandas de maneira justa e definitiva;

• Imparcialidade: esse princípio dispõe que o magistrado deve julgar os casos que
lhe são designados sem realizar qualquer juízo de valor ou moral sobre a causa. Isso
garante que poder judiciário poderá ter confiança em suas decisões, sem ter dúvidas sobre
sua responsabilidade ou interesse;

• Legalidade e Vinculação ao Direito: dispõe que os atos deverão estar limitados


às normas legais e à constituição;
• Inércia e Dependência de Iniciativa das Partes: o poder judiciário não poderá em
regra realizar a prestação jurisdicional, necessitando que as partes o demandem para tal.

• Motivação: deverão ser sempre motivados, não podendo se furtar à motivação


da decisão proferida;

• Publicidade: Deverão em regra ser públicos, possibilitando o acesso das partes


aos trâmites do processo;

Já o efeitos desses atos podem ser listados da seguinte maneira:

• Coisa Julgada: uma vez apreciado em todas as instâncias o ato recebe


estabilidade e caráter imutável, não sendo possível sua reavaliação;

• Força Executiva: ao transitar em julgado as decisões prolatadas


adquirem caráter executivo, sendo oponíveis para garantir a sentença;

• Autoridade e Respeito à Jurisdição: devem ser respeitadas e cumpridas


as decisões judiciais, inclusive pelos demais poderes do Estado;

• Precedentes e Jurisprudência: decisões prolatadas podem adquirira


caráter de jurisprudência, podendo influenciar em casos semelhantes no futuro;

• Garantia de Direitos e Tutela Jurisdicional: esses atos possuem forma a


garantir direitos individuais e coletivos.

Mandado de segurança contra atos de órgãos administrativos com efeitos


de julgamento (CNJ, CNMP E TCU, por exemplo): inclusão ou não na
vedação, fundamentos e questões de limites do objeto; análise
jurisprudencial.

Segundo a constituição, a competência para o julgamento de ações contra


esses órgãos é privativa do Supremo Tribunal Federal, porém já é pacificado que
não é cabível o controle de deliberações negativas desses órgãos com efeitos
de julgamento, uma vez que não podem ser impugnadas por via de mandado de
segurança.

O entendimento do colendo tribunal superior federal é de que se poderá


questionar essas deliberações nas respectivas instâncias apropriadas, não se
falando em inafastabilidade da jurisdição. Nesta toada destaco o agravo
regimental em mandado de segurança 38.221, em que segue o voto da Ministra
Rosa Weber:

[...] Ainda que, por concessão argumentativa, se reputasse viável a


impetração de mandado de segurança contra deliberação negativa do
Conselho Nacional de Justiça, observo que a Primeira Turma desta
Casa, em acórdão da lavra do Ministro Luís Roberto Barroso, prolatado
no MS nº 33.539, assentou que, como regra geral, o controle dos atos
do CNJ pelo Supremo Tribunal Federal somente se justifica nas
hipóteses de (i) inobservância do devido processo legal; (ii)
exorbitância das competências do Conselho; e (iii) injuridicidade ou
manifesta irrazoabilidade do ato impugnado. [...] (BRASIL, 2022, p.11)
5 (grifos meus).

Ato judicial e mandado de segurança: possibilidade e restrição em face do


princípio constitucional do acesso ao poder judiciário

Sendo o Mandado de Segurança uma ação constitucional, que garante o


acesso à justiça à qualquer pessoa a tutela judicial para resguardar seus direitos.
Geralmente é requerido em casos em que se necessita urgência o seu rito é
especial para garantir sua celeridade.

Desse modo ele pode ser impetrado nos seguintes casos contra o poder
judiciário: ato evidentemente ilegal, quando a decisão é claramente ilegal ou
arbitrária; negativa de direito líquido e certo, nos casos em que houver a recusa
ou omissão que deveria ser reconhecido pela decisão judicial; incompetência
absoluta, quando o juízo extrapola sua competência; não cumprimento das
garantias processuais, situação na qual o juízo negar alguma garantia
processual como o contraditório ou a ampla defesa; decisão contrária a
jurisprudência; decisões judicias, não cabendo contra aquelas transitadas em
julgado, apenas se demonstrada teratologia.

Mandado de segurança contra ato judicial contrário a decisão do Supremo


Tribunal: cabimento ou não, limites, requisitos, se for o caso.

O entendimento do STF é de que não é cabível MS contra ato judicial


emanado pelo próprio plenário, ressalvadas é claro as hipóteses de teratologia,
ilegalidade ou abuso de forma.

Temos para corroborar a isso diversas decisões proferidas em mandado


de segurança como no caso do MS 36.422:
Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRAÇÃO CONTRA ATO
DE MINISTRO RELATOR DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
DESCABIMENTO. NÃO CONHECIMENTO. 1. A jurisprudência desta
Suprema Corte é uníssona no sentido de afirmar incabível mandado
de segurança contra ato judicial por ela própria emanado, inclusive
aqueles proferidos por seus Ministros, salvo nas hipóteses de
teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante, o que não se verifica no
caso dos autos e, de todo modo, está em debate em ADPF. 2. Não
conhecimento do mandado de segurança. (MS 36422, Relator(a):
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 22-06-2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe172 DIVULG 07-07-2020 PUBLIC 08-07-2020)

Mandado de segurança preventivo contra ato do Poder Judiciário

Essa modalidade de mandado de segurança pode ser utilizada para evitar


ameaças iminentes e comprovadas de lesão à direitos líquidos e certos do
impetrante, dessa forma quando demonstrado o risco poderá ser impetrado
quando demonstrado tal risco futuro. Assim sendo, a jurisprudência vem se
mostrando adepta à impetração preventiva do mandado de segurança, inclusive
no próprio supremo tribunal para remediar situações em que representem riscos
futuros. Porém vale-se destacar a súmula 2671 do Supremo Tribunal Federal,
que aduz: “não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de
recurso ou correição”. Para corroborar com esse ponto temos a decisão do TJ-
RS:

MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA ATO JUDICIAL


PRATICADO POR JUIZ - DECISÃO JUDICIAL DE QUE CABE
RECURSO. INICIAL INDEFERIDA. Não cabe a impetração de
mandado de segurança contra ato judicial (decisão judicial)
passível de recurso ou correção, nos exatos termos da Súmula
267 do STF. Ainda que da decisão não caiba agravo de instrumento,
por não se enquadrar nenhuma das hipóteses do art. 1.015 do CPC,
que apresenta rol taxativo, tal não significa dizer que não seja
recorrível. É que o mesmo diploma processual afasta a configuração
de preclusão quanto às questões decididas na fase de conhecimento
e que não comportem recurso, desde que arguidas como preliminar em
razões de apelação ou em contrarrazões (art. 1.009, § 1º, do CPC).
Portanto, a decisão que fixou a multa pelo não comparecimento à
audiência de conciliação é suscetível de recurso com efeito
suspensivo, bastando que a autarquia apresente, em sede de apelação
ou de contrarrazões de apelação, os mesmos argumentos ora
ventilados. INICIAL INDEFERIDA. MANDADO DE SEGURANÇA
JULGADO EXTINTO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. ( Mandado de
Segurança Nº 70075005934, Segunda Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em
30/08/2017). (TJ-RS - MS: XXXXX RS, Relator: Ricardo Torres

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7 BRASIL. Súmula nº 267 do STF. Data de Aprovação: 13/12/1963. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula267/false
Hermann, Data de Julgamento: 30/08/2017, Segunda Câmara Cível,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 31/08/2017)
Referências

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Brasília: Presidência da República, [2023]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

BRASIL. Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009. Disciplina o mandado de


segurança individual e coletivo e dá outras providências. Brasília: Presidência
da República, [2018]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm

BRASIL. Súmula nº 267 do STF. Data de Aprovação: 13/12/1963. Disponível


em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula267/false

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