Você está na página 1de 4

EXMO (A) SR (A) DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE

MINAS GERAIS.
Eg. Tribunal de Justiça,
Colenda Câmara,
(Nome do impetrante e qualificação), vem, à presença de Vossas Excelências, por seu
advogado (DOC 01), impetrar o presente
MANDADO DE SEGURANÇA
com fundamento no art. 5º LXIX, da CR/88 e art. 1º da Lei 12.016/09, contra ato da MM.
Juíza de Direito da () Vara de Criminal da Comarca (), ora apontada como Autoridade
Coatora, que negou vista dos autos n. Ao seu defensor constituído, no qual consta como
investigado, apesar do constante na súmula vinculante n. 14 do STF.
1. BREVE HISTÓRICO
O Impetrante foi preso temporariamente no dia () em cumprimento de Mandado de Prisão
Temporária expedido pela MM Juíza da () Vara Criminal desta cidade em razão dos autos n.
() (DOC 02).
Após diversas tentativas infrutíferas na secretaria de vista dos autos, apesar de ter a
procuração em mãos (uma via juntada aos autos, e uma em anexo a este writ – DOC 01), a
defesa protocolou pedido de vista fora de secretaria no dia 07/03/2014 (DOC 03).
Após novas diligências no balcão da secretar ia foi entregue à Defesa uma cópia da decisão
(DOC 04), proferida no dia (), que NEGA vista dos autos à defesa argumentando se tratar de
uma ação cautelar tramitando sob segredo de justiça.
Porém, a decisão contraria diretamente a Súmula Vinculante n. 14 do STF, que determina
ser direito do defensor do investigado ter acesso a todas as provas documentadas em
procedimento investigatório, seja ele sigiloso ou não.
Assim, a decisão é manifestadamente ilegal, e fere o direito líquido e certo do Impetrante de
ter vista dos autos do procedimento cautelar, onde este figura como investigado.
2. DO CABIMENTO DO PRESENTE WRIT
Na lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA, o mandado de segurança é “um remédio constitucional,
com natureza de ação civil, posto à disposição de titulares de direito líquido e certo lesado ou
ameaçado de lesão por ato ou omissão de autor idade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público”.
Com efeito, o mandamus é utilizado para assegurar direito líquido e certo dos titulares em
face de atos praticados pelo Poder Público. A práxis jurídica revela que grande parte dos
atos sujeitos a controle pela via do mandado de segurança é proveniente do Poder
Executivo.
Contudo, é pacífico o entendimento na doutrina e na jurisprudência acerca do cabimento
do mandado de segurança para controle de atos judiciais. Neste sentido, a nova Lei do
Mandado de Segurança (Lei 12.016/2009), consagrando posição já consolidada pelos
tribunais, determina que:
Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente
de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.
Sendo assim, do dispositivo legal depreende-se ser cabível mandado de segurança em face
de i) decisão judicial da qual não caiba recurso com efeito suspensivo e i i ) decisão judicial
não transitada em julgado.
Ora, a decisão atacada é interlocutória. Dessa forma, pelo Princípio da Irrecorribilidade das
Decisões Interlocutórias, somente estar ia sujeita a recurso se este estivesse expressamente
previsto na legislação pertinente.
Não é o caso da decisão que nega vista dos autos à defesa. O Código de Processo Penal não
prevê em nenhum de seus artigos qualquer recurso para decisões que possuem esse objeto,
menos ainda com efeito suspensivo.
Portanto, perfeitamente cabível é o mandado de segurança no caso em questão.
Por derradeiro, destaca-se que qualquer ato que não comporte recurso poderá ser
impugnado por via do Mandado de Segurança, seja na esfera civil ou criminal. Nas palavras
de MIRABETE: "Tendo o mandado de segurança fundamento constitucional, tanto pode ser
impetrado contra ato da autoridade civil como criminal desde que implique violação de
direito líquido e certo" .
3. DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO DE VISTA DOS AUTOS – SÚMULA
14 DO STF – MANIFESTA ILEGALIDADE
Diz a súmula vinculante n. 14 do STF:
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa.
Como se percebe, o STF, em sua súmula, garante ao defensor direito AMPLO de acesso a
tudo que já se encontra documentado em investigação realizada contra seu cliente.
No caso em questão, o Impetrante se encontra sob investigação nos
autos n. (), tendo, inclusive, sido PRESO em razão de tal investigação.
Porém, a MM Juíza nega vista aos defensores do Impetrante alegando ser ação cautelar sob
segredo de justiça.
Ora, como está expresso na súmula supracitada, é direito do investigado que seu defensor
tenha acesso a quaisquer autos, não importando serem ações cautelares conclusas ou
inconclusas, sob segredo de justiça ou não.
Mais ainda, o Estatuto da OAB (Lei 8.906/1994) garante ao advogado a vista de processos
judiciais ou administrativos, não fazendo distinção de qualquer natureza: “Art. 5º, XV: ter
vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na
repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais. ”
Portanto, a decisão da MM. Juíza vai de encontro à Súmula Vinculante n. 14 do STF, e à
legislação pertinente, sendo manifestamente i legal.
Houve violação do direito líquido e certo do Impetrante de vista dos autos no qual é
investigado, devendo tal ilegalidade ser imediatamente reparada através deste remédio
heroico.
A jurisprudência deste Tribunal Mineiro é unânime neste sentido:
EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE
SEGURANÇA CRIMINAL - AUTOS DE INQUÉRITO
POLICIAL - ACESSO NEGADO AO RÉU - VIOLAÇÃO A
DIREITO LÍQUIDO E CERTO - CARACTERIZAÇÃO -
CONFIRMAÇÃO DA ORDEM CONCEDIDA.
- Conforme Súmula Vinculante nº 14, do STF, "é direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa".
- Havendo violação a direito líquido e certo e estando a decisão concessiva da segurança
devidamente fundamentada, ela há de ser confirmada por este sodalício. (Reexame
Necessário-Cr 1.0183.11.016567-1/001, Relator (a): Des. (a) Júlio Cezar Guttierrez, 4ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 03/04/2013, publicação da sumula em 18/04/2013).
MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL – DECISÃO QUE INDEFERIU A EXTRAÇÃO DE CÓPIA
REPROGRÁFICA DOS AUTOS - CERCEAMENTO DE DEFESA - OFENSA AO PRINCÍPIO DA
AMPLA DEFESA - SEGURANÇA CONCEDIDA.
1. Súmula 14 do STF: "É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa"".
2. Segurança Concedida.
(Mandado de Segurança - Cr 1.0000.11.0275898/000, Relator (a): Des. (a) Marcílio
Eustáquio Santos, 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 06/10/2011, publicação da
sumula em 08/11/2011).
3. DA CONCESSÃO DA LIMINAR
A possibilidade iminente do Impetrante ser preso novamente em razão de investigação
que lhe é negado acesso ao conteúdo justifica a concessão da ordem o quanto antes.
Além do mais, o fumus boni iuris está presente visto ser decisão contrária à Súmula
Vinculante do STF e a legislação pertinente.
Portanto, a concessão da ordem sana frontal violação do Estado Democrático de Direito, e
de inúmeros princípios do Direito Penal, como Ampla Defesa, Contraditório, Presunção de
Inocência, entre outros.
III. DOS PEDIDOS
Ante o exposto requer -se:
a) A concessão da LIMINAR alegada;
b) Após, espera-se a concessão definitiva da segurança, com a concessão de vista dos autos
à defesa fora de secretaria.
P. Juntada e Deferimento.
Lugar, data.

Você também pode gostar