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DESISTÊNCIA DE MANDADO 
SEGURANÇA INDIVIDUAL PARA 
APROVEITAR-SE DE MANDADO DE 
SEGURANÇA COLETIVO 
 
15 de Dezembro de 2020 

Ref:  Possibilidade  de  desistência de Mandado de Segurança individual em qualquer 


momento  processual  antes  do  trânsito  em  julgado  para  aproveitamento  de 
Mandado de Segurança Coletivo. 

A  Constituição  Federal  de  1988  complementou  a  figura  tradicional  do  Mandado  de 
Segurança  e,  através  do  inciso  LXX,  alíneas  ‘a’  e  ‘b’ do artigo 5º da Constituição Federal 
introduziu a figura do Mandado de Segurança na modalidade coletiva. 

Com  o  intuito  regulamentador,  a  Lei  nº  12.016/2009,  em  seus  artigos  21  e  22,  tratam 
especificamente da matéria, veja-se: 

Art.  21.  O  mandado  de  segurança  coletivo  pode  ser  impetrado  por 
partido  político  com  representação  no  Congresso Nacional, na defesa de 
seus  interesses  legítimos  relativos  a  seus  integrantes  ou  à  finalidade 
partidária,  ou  por  organização sindical, entidade de classe ou associação 
legalmente  constituída  e  em  funcionamento  há,  pelo  menos,  1  (um)  ano, 
em  defesa  de  direitos  líquidos  e  certos  da  totalidade,  ou  de  parte,  dos 
seus  membros  ou  associados,  na  forma  dos  seus  estatutos  e desde que 
pertinentes  às  suas  finalidades,  dispensada,  para  tanto,  autorização 
especial.  
Parágrafo  único.  Os  direitos  protegidos  pelo  mandado  de  segurança 
coletivo podem ser:  
 

I  -  coletivos,  assim  entendidos,  para  efeito  desta  Lei,  os transindividuais, 


de  natureza  indivisível,  de  que  seja  titular  grupo  ou categoria de pessoas 
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;  
II  -  individuais  homogêneos,  assim  entendidos,  para  efeito  desta  Lei,  os 
decorrentes  de  origem  comum  e  da  atividade  ou  situação  específica  da 
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.  

Art.  22.  No  mandado  de  segurança  coletivo,  a  sentença  fará  coisa 
julgada  limitadamente  aos  membros  do  grupo  ou  categoria  substituídos 
pelo impetrante.  
§  1​o  O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para 
as  ações  individuais,  mas  os  efeitos  da  coisa  julgada  não 
beneficiarão  o  impetrante  a  título  individual  se  não  requerer  a 
desistência  de  seu  mandado  de  segurança  no  prazo  de  30  (trinta) 
dias  a  contar  da  ciência  comprovada  da  impetração  da  segurança 
coletiva 
 
Conforme  se  infere  pelo  parágrafo  1º  do  art.  22  acima  reproduzido,  tem-se  a 
aplicabilidade da norma de desistência de eventual demanda individual para utilização da 
ação coletiva. 

Neste  contexto,  a  legislação  é  cristalina  em  dispor  acerca  da  metodologia  a  ser 
utilizada,  isto  é,  além  do  Mandado  de  Segurança Coletivo não induzir a litispendência da 
demanda  individual,  ​basta  que  o  pedido  de  desistência  da  ação  individual  seja 
formulado  dentro  do  prazo  de  30  dias  contados  da  ciência  comprovada  do 
Mandado de Segurança Coletivo, para viabilizar seu aproveitamento. 

É  neste  sentido  o  entendimento  uniforme  do  Supremo  Tribunal  Federal  acerca  da 
temática,  o  qual  inclusive  fora  julgado  na  modalidade  de  repercussão  geral  (RE  nº 
255.837/PR): 

RECURSO  EXTRAORDINÁRIO.  ​REPERCUSSÃO  GERAL  ADMITIDA. 


PROCESSO  CIVIL.  MANDADO  DE  SEGURANÇA.  ​PEDIDO  DE 
DESISTÊNCIA  DEDUZIDO  APÓS  A  PROLAÇÃO  DE  SENTENÇA. 
ADMISSIBILIDADE.  
 

“É  lícito  ao  impetrante  desistir  da  ação  de  mandado  de  segurança, 
independentemente  de  aquiescência  da  autoridade  apontada  como 
coatora  ou  da  entidade  estatal  interessada  ou,  ainda,  quando  for  o 
caso,  dos  litisconsortes  passivos  necessários”  (MS  26.890-AgR/DF, 
Pleno,  Ministro  Celso  de  Mello,  DJe  de  23.10.2009),  ​“a  qualquer 
momento  antes  do  término  do  julgamento”  (MS  24.584-AgR/DF, 
Pleno,  Ministro  Ricardo  Lewandowski,  DJe  de 20.6.2008), ​“mesmo após 
eventual  sentença  concessiva  do  ‘writ’  constitucional,  (…)  não  se 
aplicando,  em  tal  hipótese,  a  norma  inscrita  no  art.  267,  §  4º,  do 
CPC”  ​(RE  255.837-AgR/PR,  2ª  Turma,  Ministro  Celso  de  Mello,  DJe  de 
27.11.2009).  Jurisprudência  desta  Suprema  Corte  reiterada  em 
repercussão  geral  (Tema  530  -  Desistência  em  mandado  de  segurança, 
sem  aquiescência  da  parte  contrária,  após  prolação  de  sentença  de 
mérito,  ainda  que  favorável  ao  impetrante).  Recurso  extraordinário 
provido. (RE nº 669.367-RJ, Rel. Min. Luiz Fux. J. 02/05/2013). 
 
Assim  previa  o  artigo  267,  §4º,  do  Código  de  Processo  Civil de 1973, que, conforme 
julgado acima, não se aplica aos Mandados de Seguranças: 
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: 
(...) 
§  4  o​   ​Depois  de  decorrido  o  prazo  para  a  resposta,  o  autor  não  poderá, 
sem o consentimento do réu, desistir da ação. 
 
A  tese  em  exposição  é  uniforme  no  ​Supremo  Tribunal  Federal​,  e  os  julgamentos 
atuais seguem o mesmo raciocínio, veja-se: 
Direito  constitucional  e  previdenciário.  Servidor  comissionado.  Vínculo 
com  o  regime  geral  de  previdência.  Emenda  constitucional  nº  20/1998. 
Desistência  de  mandado  de  segurança.  1.  ​O  STF, no julgamento do RE 
669.367,  fixou  tese  em  repercussão  geral  no  sentido  de  que  é  lícito 
ao  impetrante  desistir, a qualquer tempo, de mandado de segurança, 
independentemente  de  anuência  da  parte  contrária.  2.  ​A 
jurisprudência  deste  Tribunal  admite,  no  entanto, o indeferimento do 
pedido  caso  a  desistência  resulte  no  afastamento  de  jurisprudência 
pacífica  desta  Corte  (MS  29.032  ED-AgR).  (...)  (RE  434519  AgR  /  RS  - 
 

RIO  GRANDE  DO  SUL,  AG.REG.  NO  RECURSO  EXTRAORDINÁRIO 


Relator(a):  Min.  MARCO  AURÉLIO,  Redator(a)  do  acórdão:  Min. 
ROBERTO  BARROSO  Julgamento:  03/09/2019,  Publicação:  05/12/2019, 
Órgão julgador: Primeira Turma) 
 
Porém,  caso  o  pedido  de  desistência  seja  realizado  em  processo  cujo  objeto  tem 
entendimento  favorável  dos  tribunais  superiores​,  ou  com  ​entendimento  ainda 
indefinido​,  aplica-se  a possibilidade de ​desistência a qualquer tempo antes do trânsito 
em julgado, conforme se extrai do  

O ​Superior Tribunal de Justiça​ corrobora a possibilidade de desistência. Veja-se: 

Informativo  de  jurisprudência  nº  0533  de  12  de  fevereiro  de  2014: 
DIREITO  PROCESSUAL  CIVIL.  ​DESISTÊNCIA  DE  MANDADO  DE 
SEGURANÇA.  O  impetrante  pode  desistir  de  mandado  de  segurança 
sem  a  anuência  do  impetrado  mesmo  após  a  prolação  da  sentença  de 
mérito.  Esse  entendimento  foi  definido  como plenamente admissível pelo 
STF.  De  fato,  por  ser  o  mandado  de  segurança  uma  garantia  conferida 
pela  CF  ao  particular,  indeferir  o  pedido  de  desistência  para 
supostamente  preservar  interesses  do  Estado  contra  o  próprio 
destinatário  da  garantia  constitucional  configuraria  patente 
desvirtuamento  do  instituto.  ​Essa  a  razão  por  que  não  se  aplica,  ao 
processo  de mandado de segurança, o que dispõe o art. 267, § 4º, do 
CPC  ("Depois  de  decorrido  o  prazo  para  a  resposta,  o  autor  não 
poderá,  sem o consentimento do réu, desistir da ação.")​. Precedentes 
citados  do  STF:  RE  669.367-RJ,  Pleno,  DJe  9/8/2012;  e  RE-AgR 
550.258-PR,  Primeira  Turma,  DJe  26/8/2013.  REsp  1.405.532-SP,  Rel. 
Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013.  
 

O  ​Tribunal  Regional  Federal  da  4ª  Região  obviamente  segue  a  mesma  linha  de 
raciocínio:  

ADMINISTRATIVO  E  PROCESSO  CIVIL.  MANDADO  DE  SEGURANÇA. 


DESISTÊNCIA  DA  AÇÃO  INDEPENDENTEMENTE  DA  ANUÊNCIA  DA 
AUTORIDADE  APONTADA  COMO  COATORA.  POSSIBILIDADE.  -  ​O  STF,  sob 
 

a  égide  do  CPC/1973,  editou  o  Tema  530  da  sua  jurisprudência  para 
permitir, a qualquer tempo, a desistência independentemente da anuência 
prévia  da  autoridade  coatora.  (MS  26.890-AgR/DF,  Pleno,  Ministro  Celso  de 
Mello,  DJe  de  23.10.2009)  -  ​O  STJ,  seguindo  a  orientação  da  Suprema 
Corte,  tem  entendido  que  "é  lícito  ao  impetrante  desistir  da  ação  de 
mandado  de  segurança,  independentemente  de  aquiescência  da 
autoridade  apontada  como  coatora  e  a  qualquer  tempo,  mesmo  após 
sentença  de  mérito,  ainda  que  lhe  seja  desfavorável"  (Recurso 
Extraordinário  669.367,  publicado  do  DJe  de  30.10.2014).  (TRF4,  AC 
5047805-31.2018.4.04.7000,  QUARTA  TURMA,  Relator  RICARDO  TEIXEIRA 
DO VALLE PEREIRA, juntado aos autos em 29/11/2019) 
 
Importante  realçar  que  o  Supremo  Tribunal  Federal,  ao  julgar  a  Questão  de  Ordem 
no  Recurso  Extraordinário  nº  693.456/RJ  tratando  especificamente  do  pedido  de 
desistência  das  ações  (de  qualquer  classe,  inclusive  Mandados  de  Seguranças)  que 
foram submetidas à Repercussão Geral, firmou a seguinte tese:  

1.  O  Tribunal,  por  maioria,  resolveu  questão  de  ordem  no  sentido  de  não  se 
admitir  a  desistência  do  mandado  de  segurança,  firmando  a  tese  da 
impossibilidade  de  desistência  de  qualquer  recurso  ou  mesmo  de  ação 
após o reconhecimento de repercussão geral da questão constitucional.  
 
Outra  exceção  se  aplica  quando  pedido  de  desistência  tiver  como  objetivo  ​se 
esquivar  de  entendimento  pacificado  dos  tribunais  superiores​.  Nestes  casos,  a 
desistência  da  ação  não  será  homologada,  conforme  se  extrai  do  no  Ag.R.  no  RE  nº 
434519/RS​, já citado acima, e do julgado abaixo: 

“nas  hipóteses  em  que  demonstrado  o  mero intuito de se recusar observância 


à  Jurisprudência  pacífica  da  Corte,  o  Supremo  Tribunal  tem  afastado  o 
entendimento  firmado  no  RE  669.367  RG,  segundo  o  qual  pode  a  parte 
impetrante  manifestar  desistência  da  ação  mandamental  a  qualquer  tempo, 
mesmo  após  a  sentença,  independentemente  da  concordância  da  parte 
impetrada.  Precedentes.  Pedido  de desistência não homologado”. (AgReg nos 
EmbDecl  nos  EmbDecl  em  MS  29.083  DF  –  Rel.  Min.  Teori  Zavascki  –  Rel. 
 

para acórdão Min. Dias Tofoli – J em ​16/05/2017​ – 2ª T). 


 
Por  fim,  a  Segunda  Turma  do  Supremo  Tribunal  Federal  possui  entendimento  que 
impede  a  desistência  do  Mandado  de  Segurança  quando  houver  razoável  possibilidade 
de  novo  ajuizamento  da  demanda  sob  o  procedimento  comum,  conforme  se  extrai  do 
Emb. Decl. no Ag. Reg. em Mandado De Segurança nº 29.253 Distrito Federal: 

O  pedido  de  desistência,  formulado  ​após  o  julgamento  do  agravo 


regimental  e  da  oposição  dos  embargos  declaratórios​,  não  traduz 
disposição  da  parte  impetrante  de  se  conformar  com  o  entendimento 
pacificado  pelo  Tribunal.  Pelo  contrário,  há  indisfarçável  intenção  de  propor 
nova  demanda  nas  instâncias  ordinárias  (valendo-se  do  que  decidiu  o  STF  na 
AO  1706  AgR,  Pleno,  Rel.  Min.  Celso  de  Mello,  j.  18/12/2013,  DJe  de 
18/2/2014,  conferindo  ao  juízo  de primeiro grau a competência para processar 
e  julgar  ações  ordinárias referentes à matéria). Esse propósito, como afirmado, 
faz  pouco  caso  da  seriedade  e  da  autoridade  das  decisões  desta  Suprema 
Corte  sobre  a  matéria  questionada  (EDAgReg  no  MS  29253.  J.  em 
26/10/2016​); 
 
Neste  contexto,  excepcionados  os  três  casos  acima,  opinamos  ser  ​possível  desistir 
da  ação  mandamental  individual,  a  qualquer  momento  processual  que  antecede  o 
trânsito  em  julgado,  sem  anuência  da  autoridade  impetrada,  nos  termos  do 
entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal. 

A POSSIBILIDADE DE DESISTÊNCIA PARCIAL 

Como  visto,  não  há  dúvidas  quanto  à  possibilidade  de  desistir  da  ação 
mandamental  individual,  a  qualquer  tempo  pretérito  ao  trânsito  em  julgado,  consoante 
julgamento do STF no RE nº 669.367. 

Seguindo  a  mesma  linha  de  raciocínio,  por  decorrência,  também  é  possível desistir 


 

parcialmente da ação mandamental, acaso a demanda abranja mais de um pedido. 

Referida  possibilidade  é  consagrada  pelo  próprio  STJ,  como  intuito  de  reduzir  o 
objeto do litígio em debate, veja-se: 

PROCESSUAL  CIVIL.  TRIBUTÁRIO.  MANDADO  DE  SEGURANÇA. 


DESISTÊNCIA  PARCIAL.  HOMOLOGAÇÃO.  AGRAVO  INTERNO  NO 
RECURSO  ESPECIAL.  CÓDIGO  DE  PROCESSO  CIVIL  DE  2015. 
APLICABILIDADE.  ARGUMENTOS  INSUFICIENTES  PARA  DESCONSTITUIR  A 
DECISÃO  ATACADA.  RECURSO  ESPECIAL  PARCIALMENTE  PROVIDO. 
PRELIMINAR  DE  INCIDÊNCIA  DA  SÚMULA  N.  7/STJ.  PRECLUSÃO 
CONSUMATIVA.  CONTRIBUIÇÃO  PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA. 
ADICIONAL DE QUEBRA DE CAIXA. NÃO INCIDÊNCIA.  
I  -  Homologo  o  pedido  de desistência apresentado pela Impetrante, nesta 
oportunidade,  porquanto  formulado  posteriormente  à  inclusão  em  pauta 
do Agravo Interno interposto pela Fazenda Nacional.  
II  -  Na  ação  mandamental,  é  lícito  ao  Impetrante  desistir  da  ação  de 
mandado  de  segurança,  independentemente  de  aquiescência  da 
autoridade  apontada  como  coatora  e  a  qualquer  tempo,  mesmo  após 
sentença  de  mérito,  ainda  que  desfavorável,  matéria  com  repercussão 
geral  reconhecida  perante  o  Supremo  Tribunal  Federal,  no  Recurso 
Extraordinário  n.  669.367,  da  Relatoria  do  Ministro  Luiz  Fux,  em 
02.05.2013.  
III  -  Observadas  as  formalidades  legais,  com  outorga  de  poderes 
específicos,  conforme  instrumentos de procuração constantes dos autos, 
deve  ser  homologada  a  desistência  de  parte  da  ação  mandamental, 
relativamente  à  incidência  da  contribuição  previdenciária  sobre  os 
auxílios  doença  e  acidente  de  trabalho,  bem  como  sobre  o  terço 
constitucional  de  férias  e  o  aviso  prévio  indenizado  e  seus  reflexos, 
extinguindo-se  o  processo  sem  resolução  de  mérito,  nos  termos  do  art. 
485, VIII, do Código de Processo Civil de 2015.  
(...) 
(AgInt  no  RESP  1475948  –Rel.  Min.  Regina  Helena  Costa  –  1ª  T  –  J.  em 
02/08/2016 – DJe de 17/08/2016) 
 

Portanto,  opinamos  ser  possível  ​a  desistência  parcial  da  ação  mandamental 
 

individual​,  acaso  a  demanda  abranja  mais  de  um  pedido,  com  o  intuito  de  aproveitar 
Mandado  de  Segurança  Coletivo  especificamente  quanto  ao  pedido  objeto  de 
desistência. 

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