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Manuel Correia

Manuel Correia

LIÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL


CIVIL 1
ACÇÃO DECLARATIVA
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Manuel Correia Domingos

Lições de Direito Processual Civil 1


Acção Declarativa
Volume 1

LUANDA
Janeiro

2021

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra primeiramente à aquele que nas lides académica


chamo de meu mestre, Higino Samuel Hebo Benze, docente da
unidade curricular de Direito Processual Civil na Universidade
Independente de Angola.
Aos meus companheiros da academia, Ana Filipe, Berta
Mazumbua, Domingas Ngola, Emanuel Kissanga, Elsa Rodrigues,
Gilberto Chimbango, Inoc Rangel, Izildo Ferraz, José Casaca,
Mariquinha Epólua, Nádia Alferes e Sérgio Alfredo. Etu mu dieto!
À Dra. Mathilde Valério, pelo apoio na revisão do conteúdo.
A minha família e amigos, obrigado pelo incentivo aos estudos!
Em especial ao meu pai, João Miguel Domingos, e ao meu irmão,
Jursse Correia Domingos, que sempre e sempre incentivaram-me a
estudar. Vocês partiram, mas esta obra também é vossa.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

NOTA DO AUTOR

Depois de ter terminado o ano académico 2017, ano em que


terminei à licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da
Universidade Independente de Angola e precisamente o ano em
que participei das aulas, (na qualidade de monitor) do meu mestre,
Higino Samuel Hebo Benze, em Agosto de 2019, decidi brindar o
meu mestre, isto é; começando a compilar esta pequena obra.
Espero que seja pequena apenas no volume, mas de extrema
importância para os leitores.
O objetivo é fazer compreender com maior facilidade o Direito
Processual Civil 1, porque em conversa com o meu mestre
entendemos que existe alguma letargia por parte de alguns
estudantes pelo seguinte facto: Esta unidade curricular é
eminentemente prática e com pouco caris teórico e filosófico, e
pelo facto de ao longo das aulas fazer-se muitas conjugações de
várias disposições normativas, mas entendemos também que
doutro jeito não seria possível ter um entendimento lógico
daquilo que vem a ser a tramitação do processo declarativo.
Nesta senda, vamos com esta obra de forma escalpelizada
desenvolver as lições no sentido de com algum pragmatismo levar
os estudantes e não só ao conhecimento daquilo que é o ritual
processual na acção declarativa.
Como qualquer obra, entendemos que está sujeita a eventuais
erros, que com as críticas e sugestões prometemos melhorar
noutra ocasião caso O TODO PODEROSO nos conceda à graça
de o fazer.

Luanda, 01 de Outubro de 2020

Manuel Correia

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

PREFÁCIO
A presente obra, dedicada ao Direito Processual Civil 1, configura
uma exposição téorico - prática, enquanto resultado do
aprendizado durante árduos, porém frutíferos anos de academia.

É a primeira publicação do autor, pelo que muito nos orgulha, e


faço votos de que seja um instrumento inspirador e de grande
utilidade para os nossos estudantes, juristas, advogados e outros
profissionais do Direito.

Embora as leis resultem da vontade politico-legislativa de quem


nos termos da Constituição tem competência para as aprovar, é,
contudo, necessário que, como sistema informador das normas
positivas, os princípios extruturantes de um ramo do Direito se
manisfestem nos vários preceitos que o constituem, incluindo no
que ao Direito Processual Civil, respeita.

Importa sublinhar, tal como intra o autor nos lembra, o Direito


Processual Civil enquanto ramo do direito público de caris formal,
serve de orientação na tramitação do processo civil; este que se
consubstancia na sequência lógica e estruturada de actos, que
visam a justa composição de litígios com a finalidade única de
administrar a justiça.

Em síntese, o estudo e domínio deste ramo do Direito é de


sublime importância na medida em que se traduz no instrumento
viabilizador das pretensões das partes.

Por: Higino Benze


(Jurista)

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

ADVERTÊNCIAS

As indicações bibliográficas mais completas das obras referidas no


texto encontram-se no Índice bibliográfico. Nas citações apenas se
identificam sumariamente o autor e a obra em causa.
As disposições normativas, usualmente são apenas citadas, e
consequentemente só se reproduzem quando for necessário
analisar o texto para efeito de interpretação. Pressupõe-se,
portanto, que o leitor consulte a legislação que estiver em causa.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

ÍNDICE
CAPÍTULO I - NOÇÕES GERAIS.......................................10
1-Direito processual Civil como ramo de Direito...............................10
2-Características do Direito Processual civil......................................11
3-Acepções do termo processo...........................................................12
4-Importância teórica e prática do Direito Processual Civil...............14
5-Fontes do Direito Processual Civil..................................................17
6-Interpretação das leis processuais....................................................21
7-Integração das leis processuais........................................................30
8-Aplicação das leis processuais no tempo.........................................32
9-Princípio do direito processual civil................................................33
10-Tipos de acções..............................................................................48
11-Procedimentos cautelares...............................................................56
12-Sobre as competências dos tribunais.............................................63
13-Sobre as alçadas dos tribunais.......................................................78
14-Sobre provas e prazos judiciais......................................................80
CAPITULO II- FORMAS DO PROCESSO.........................85
1-Processo comum e especial.............................................................85
2-Processo de jurisdição contenciosa..................................................87
3-Processo de jurisdição voluntária....................................................88
CAPITULO III- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ........ .91
1-Noção...............................................................................................91
2-Pressupostos processuais positivos..................................................91
3-Pressupostos processuais negativos...............................................100

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CAPITULO IV-FORMALISMO DO PROCESSO


DECLARATIVO...................................................................106
1-Articulados – Noção......................................................................106
2-Petição inicial-conteúdo- Ineptidão da petição inicial...................107
2.1-Impedimentos e suspeições.........................................................111
3-Contestação....................................................................................113
4-Réplica...........................................................................................116
5-Tréplica e Resposta à tréplica........................................................117
6-Articulado superveniente...............................................................118
CAPITULO V-AUDIÊNCIA PREPARATÓRIA...............121
1-Audiência preparatória...................................................................121
2-Despacho saneador........................................................................123
3-Especificação e questionário..........................................................125
CAPITULO VI-INSTRUÇÃO.............................................127
1-Noções gerais.................................................................................127
2-Prova..............................................................................................127
3-Objecto da prova............................................................................128
4-Classificação da prova...................................................................129
5-Direito probatório material vs direito probatório formal...............130
6-Ónus da prova................................................................................131
7-Inversão do ónus da prova.............................................................133
8-Admissibilidade dos meios de prova.............................................133
9-Valor dos diversos meios de prova................................................135
10-Graduação do valor das provas....................................................137
11-Procedimentos probatórios –esquema geral- regime...................140
12-Prova por presunções...................................................................141
13-Prova por documentos.................................................................143
14-Prova por confissão.....................................................................147
15-Prova pericial...............................................................................151
16-Prova testemunhal........................................................................156

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAPITULO VII- DISCUSSÃO E JULGAMENTO...........162


1-Discussão e julgamento.................................................................162
2-Sentença final-Noção-conteúdo.....................................................165
3-Limites da sentença........................................................................167
4-Limites da actividade do juiz.........................................................167
5-Vícios e reforma da sentença.........................................................169
6-Arguição de nulidades da sentença................................................170
7-Uso anormal do processo e sentença adequada.............................172
8-Eficácia da sentença.......................................................................173
9-Caso julgado. Noção. Limites subjetivos (Formal) e objetivos
(material).Natureza jurídica..............................................................175

Bibliografia..............................................................................180

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAPÍTULO I- NOÇÕES GERAIS

1- DIREITO PROCESSUAL CIVIL COMO RAMO DE


DIREITO

O Direito Processual Civil é um ramo do Direito Público,


“embora a divisão do Direito objetivo público e privado remonte ao
Direito romano, até hoje não existe consenso sobre os seus traços
diferenciadores. Vários critérios foram propostos, com base no interesse,
na utilidade, no sujeito, na finalidade da norma na sanção, sem que
todos eles estejam imunes de críticas. Mas toda ciência para ser bem
estudada, precisa de ser dividida, ter as suas partes claramente
descriminada”(Silva 2015, pag 20), constituído por um sistema de
normas e princípios jurídicos que têm como fundamento, ou que têm
como apanágio, a regulamentação dos actos dos intervenientes1 do
processo declarativo. Ou seja, toda tramitação processual deve
necessariamente obedecer os cânones estabelecidos pelo Direito
Processual Civil, para então, a acção possa ter à devida procedência
no sentido de solucionar-se o caso submetido a juízo.

1- 1 É preciso perceber que quando falamos em intervenientes do processo


estamos a referir-nos, aos sujeitos com legitimidade(activa e passiva), isto é,
autor e réu, bem como o tribunal com jurisdição.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Como acabamos de referir o Direito Processual Civil serve de


orientação no âmbito da tramitação do processo civil, que é a
sequência lógica e estruturada de actos, que visam a justa composição
dos litígios com a finalidade única de administrar à justiça.2

2- CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PROCESSUAL


CIVIL

No que tange as características do Direito Processual Civil3


importa salientar quais são os traços caracterizadores do mesmo
por via dos quais perceberemos que estamos diante do DPC.
Assim sendo, de entre as várias características que podemos
verificar no DPC importa salientar as seguintes:

-Ramo do Direito público4


-Adjectivo e formal, serve de mecanismo de
materialização das normas substantivas. Ou seja, é um direito

2 O fim do processo civil como referimos é administração da justiça , porque


deve-se perceber que o Direito não é justiça, mas serve de mecanismo de
realização da justiça.

3 Doravante DPC.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

procedimental e instrumental, porque as suas normas


estabelecem apenas os mecanismos a seguir para que se
concretizem os direitos e obrigações contidas na norma
substantiva.

3 –ACEPÇÕES DO TERMO PROCESSO

Juridicamente o termo processo tem várias acepções, que


podem ser vistas num sentido amplo e num sentido restrito. No
que concerne ao sentido amplo podemos destacar os seguintes:
Processo legislativo, processo judicial, processo administrativo
etc; num sentido restrito refere-se exclusivamente ao processo
judicial que é no caso em concreto o que vamos aqui
escalpelizar, na vertente do processo declarativo. Mas, ainda
assim, importa frisar que a origem do termo processo deriva do
latim procedere, que em português significa “caminhar para”

Feitas essas considerações, podemos partilhar a nossa visão


sobre o conceito de processo civil, sequência lógica e
estruturada de actos que visam a justa composição dos litígios,

4
Vide a propósito, Carlos Alberto Burity da Silva. Teoria geral do Direito Civil
pag 20, 2ª edição

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

com a finalidade única de administrar à justiça, tendo em conta


que o fim último do Direito é a justiça, a paz social, a certeza e a
segurança jurídica.
Do conceito de Processo Civil podemos salientar cinco
elementos:

1º Quanto a estrutura, o processo civil é uma sequência


lógica e estruturada de actos.
2º Quanto ao meio, o que pressupõe dizer que o processo
civil é desencadeado através de um órgão de autoridade pública,
os tribunais.

3º Quanto ao objecto, o processo civil um litígio de


interesse(s) particular(es).
4º Quanto ao fim, o processo civil visa a justa composição
dos litígios.
5º Quanto a finalidade, o processo civil visa atingir o fim
último do Direito, ou seja; a justiça, a paz social, a certeza e a
segurança jurídica.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

4 – IMPORTÂNCIA TEÓRICA E PRÁTICA DO


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

No que tange a importância teórica e prática do DPC


importa tecer as seguintes considerações:
O DPC, é uma unidade curricular com um caris
eminentemente prático, uma abordagem sobre os seus aspectos
teóricos.
A existência da Teoria Geral do Processo vem sendo discutida
pelos processualistas, existindo autores como Rogério Lauria Tucci, que
entendem que a disciplina é inadmissível justamente por não ter
conteúdo geral, pois alguns de seus conceitos básicos, como o de “lide”
não é relevante para o Direito Processual Penal (TUCCI, 2001,p. 49),
bem como não são compatíveis os conceitos de pretensão, efeitos da
revelia, processo cautelar, etc, o que levaria à conclusão que a Teoria
Geral do Processo, como comumente apresentada, seria realmente a
Teoria Geral do Processo Civil. (Guimarães 2007).
Tal ideia, contudo, não é comungada por Castillo (1974, p. 505), que
concede importante relevância à disciplina, mas entende que a Teoria
Geral do Processo não deve ser uma disciplina introdutória nos cursos
de Graduação. Ao contrário, afirma que se trata de disciplina
fundamental dos cursos de Doutorado, ao lado da Teoria Geral do
Direito, Teoria Geral de Contratos e Obrigações, Estudos Superiores de
Direito Público e Estudos Superiores de Direito Penal. Para o citado
autor, a Teoria Geral do Processo não se confunde com a Filosofia ou

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

História do Direito Processual, mas trata-se de disciplina aprofundada, o


autor admita, que “a teoria geral do processo como disciplina autônoma
representa ainda mais uma aspiração do que uma realidade”
(CASTILLO. 1974, p. 513, tradução nossa). (Guimarães 2007).
Ainda segundo o autor, o conteúdo da Teoria Geral do Processo
deveria abranger os seguintes pontos: a) unidade ou diversidade do
Direito Processual; b) a possibilidade de eliminação do processo pelo
aumento dos poderes policiais ou utilização de expedientes de jurisdição
voluntária; c) natureza da jurisdição voluntária; d) fixação do conceito
de direito processual; e) conceitos fundamentais do direito processual:
jurisdição, ação e processo; f) teoria do procedimento e do ato
processual, bem como os princípios fundamentais do processo; g)
orientações metodológicas e didácticas para melhor ensino e estudo do
direito processual; h) fontes do direito processual; i) alguns aspectos da
organização judicial; j) funções e características essenciais da prova; l)
sentença e coisa julgada; m) processo de execução. (Guimarães 2007).
Já para Fernando de la Rua, o conteúdo da teoria geral do
processo pode ser esquematizado a partir de uma visão estática,
dinâmica e cinemática. -A partir da visão estática, a teoria geral do
processo compreenderia “o estudo dos elementos básicos gerais com uma
informação introdutória prévia (....), ação, jurisdição, processo (...) e
sujeitos processuais (RUA, 1991, p. 7, tradução nossa). A partir da visão
dinâmica, o objeto de estudo seria o “campo da atividade processual
como resultado do exercício dos poderes básicos por parte dos seus
sujeitos titulares” (RUA, 1991, p. 7, tradução nossa). Por fim, sob o

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

aspecto cinemático, seu estudo compreende “os ramos particulares do


direito processual” (RUA, 1991, p. 7, tradução nossa). (Guimarães 2007).
Fazallari, por seu turno, entende que o Direito Processual é a linfa
vital do ordenamento e, por tal motivo, a elaboração da teoria geral do
processo é essencialmente necessária (FAZALLARI, 1966, p. 1075).
Como conteúdo de tal disciplina geral, Fazallari assinala os princípios do
contraditório e do devido processo legal, a legitimação processual, a
lealdade e probidade dos participantes e, em especial, as diferenças
específicas entre os distintos ramos do direito processual (1966, p. 1075-
1076). (Guimarães 2007).
Para Cândido Dinamarco, a Teoria Geral do Processo é de “grande
valia na revelação das linhas gerais do direito processual e da
instrumentalidade do processo (DINAMARCO, 2002, p. 58). Com efeito,
para o autor citado, a Teoria Geral do Processo é compreendida como
“uma disciplina altamente teórica, voltada à indagação dos princípios
comuns às várias figuras processuais e a reconstruir, sobre bases sólidas,
o edifício sistemático do direito processual com um todo harmonioso”
(DINAMARCO, 2002, p. 61), (Guimarães 2007).
O conteúdo da Teoria Geral do Processo , segundo Dinamarco,
consiste no estudo da: a) essência dogmática do direito processual nos
seus quatro institutos fundamentais (jurisdição, ação, defesa e processo);
b) direito processual como um todo e cada um dos seus ramos; c)
princípios e garantias que coordenam e tutelam as posições dos sujeitos
no processo. (DINAMARCO, 2002, p. 61/62). Dessa forma, segundo
Dinamarco, a Teoria Geral do Processo assume a função de manipular
conceitos e fenómenos de cada um dos ramos do direito processual, para

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se atingir a essência de cada instituto estudado, a partir dos parâmetros


constitucionais e dos objetivos pré-estabelecidos (DINAMARCO, 2002,
p. 62) (Guimarães 2007).
Feita a apresentação daquilo que é o entendimento de
diversos autores sobre os aspectos teóricos do processo, importa
salientar que, na perspectiva prática, o DPC ajuda compreender
como se desenvolve a tramitação processual, designadamente,
serve de mecanismo, que orienta os intervenientes da lide
quanto a forma como estes devem desenvolver qualquer acção
judicial. - Assim sendo, no capítulo seguinte, propomo-nos
tratar dos aspectos concernentes ao desenvolvimento do
processo civil, sob pena de nos determos a filosofar sobre
questões práticas.

5 – FONTES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Quando se fala em fontes do Direito, quer-se com esta


expressão jurídica referir ao processo ou modo pelo qual, o
Direito é formado e revelado, enquanto conjunto de normas
jurídicas devidamente sistematizadas, conformadoras e
disciplinadoras da realidade social de um Estado.
Tradicionalmente, são apontadas como fontes do Direito, a lei, o

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costume, a jurisprudência, a equidade e a doutrina. Atualmente,


tem sido defendido também que os princípios fundamentais de
Direito constituem fonte do Direito.
Ainda em relação as fontes do Direito, surgem-nos várias
classificações possíveis, nomeadamente: as fontes imediatas e
mediatas, fontes voluntárias e involuntárias.
As fontes imediatas do Direito constituem naqueles factos
que, por si só, são considerados factos geradores do Direito. No
Direito nacional, temos como fonte imediata do Direito as leis,
compreendendo-se, nesta definição, a Constituição, as leis de
revisão constitucional, as leis ordinárias da Assembleia
Nacional, os decretos lei do Executo, etc.
-No âmbito das fontes mediatas do Direito, as quais
contribuem, de forma indirecta, para a construção do Direito,
surgem-nos a jurisprudência (conjunto de decisões relativas a
casos concretos que exprimem a orientação partilhada pelos
tribunais sobre determinada matéria), o costume (como prática
constante, socialmente adoptada, e acompanhada de um
sentimento ou convicção generalizada da sua obrigatoriedade), a
equidade (juízo de ponderação e resolução de um conflito,
proferido por um tribunal, segundo um sentido de justiça e
experiência aplicada ao caso concreto, sem recurso a lei), a

18
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

doutrina (pareceres e opiniões desenvolvidas pelos


jurisconsultos sobre a interpretação e aplicação do Direito), e,
ainda, os princípios fundamentais do direito (princípios
estruturantes de qualquer sistema jurídico e que são imanentes
ao próprio Direito). O valor reconhecido a estas fontes de
Direito varia em função do sistema jurídico em que são
consideradas.
Tomando por referência o caso angolano, a força jurídica
do costume, pode constituir fonte de Direito, na medida em que
não seja contrário à Constituição e não atente contra a dignidade
da pessoa humana, conforme consagra o artigo 7º da Contituição
da República. No que respeite à equidade como fonte (mediata)
de Direito, ela encontra-se prevista entre nós, mas, neste caso,
exige-se que a lei preveja esta situação, ou então, que os
indivíduos nas suas relações jurídicas estabeleçam ou acordem
nessa possibilidade - excluindo-se desta última situação as
chamadas relações indisponíveis, consideradas fora da
disposição das partes por força da lei. Quanto à doutrina,
resultante dos pareceres e opiniões dos jurisconsultos, não
constitui hoje, entre nós, uma verdadeira fonte do Direito, não
possuindo a força vinculante que teve no período do Direito

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Romano. É, no entanto, um poderoso instrumento auxiliar para a


construção do Direito.
Por último, quanto às fontes voluntárias e involuntárias, o
critério de distinção recaí sobre a forma e o processo como se
exteriorizam as regras emanadas dessas fontes. Assim, temos
como fontes voluntárias, as leis, e aquelas que resultem de um
processo formal legislativo, intencional, tendo em vista a
criação de regras de Direito. O costume, enquanto prática social
reiterada e generalizada, assumida convictamente como
obrigatória, não traduz um processo intencional de criação do
Direito, bem pelo contrário, cria involuntariamente Direito.
Feitas as considerações acima no que tange ao sentido
amplo de fontes do Direito, importa agora salientar,
concretamente em sede do DPC que, são fontes de Direito, o
Código de Processo Civil e as demais legilação aplicável no
âmbito da tramitação do processo civil.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

6 – INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS

O Direito escrito é a fonte principal das normas


processuais.
Dispõe o n.º 1 do artigo 9º do Código Civil que, A
interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir
dos textos o pensamento legislativo, tendo, sobretudo, em conta a
unidade do sistema jurídico em que a lei foi elaborada e as condições
específicas do tempo em que é aplicada. O nº 2 do referido artigo faz
menção ao seguinte, Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete
o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei o mínimo de
correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso. O nº 3 do
referido artigo expressa que: Na fixação do sentido e alcance da lei, o
intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais
acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados.
Em função do disposto no artigo 9º do Código Civil, acima
transcrito, impões-nos tecer algumas considerações. Sempre que
estivermos a interpretar uma norma jurídica, importará ter
sempre como ponto de partida o disposto no supra referido
artigo 9º do Código Civil, aliados aos ditames doutrinários.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

O tipo ou metodologia5 de interpretação a ser utilizada.


No que se refere aos tipos ou metodologias de interpretação
temos os seguintes:
- Gramatical
- Lógica
- Histórica
- Sistemática
Outro aspecto a ter em atenção é o resultado ou espécie6
da interpretação. Que, por sua vez, são os seguintes:
- Declarativa
- Restritiva
- Extensiva
- Ab Rogant

5 Importa salientar que quando nos referimos, a metodologia de interpretação


tal equivale dizer, tipo de interpretação.
6 Releva ter presente que quando nos referimos em espécie da interpretação,

equivale isto a dizer, “resultado”.

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS


TIPO OU METODOLOGIA GRAMATICAL
LÓGICA
HOISTÓRICA
SISTEMÁTICA
ESPÉCIE OU RESULTADO DECLARATIVA
RESTRITIVA
EXTENSIVA
AB ROGANTE

Agora impõe-se clarificar em que consiste cada um dos


tipos ou metodologias de interpretação e posteriormente, cada
uma das espécies ou resultados da interpretação.
-INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL7 –reconduz-se à
letra da lei, ou seja; à determinação do sentido das palavras do
objeto da interpretação. “A interpretação literal visa, pois,
descortinar o alcance da exteriorização do facto psíquico e
volitivo da lei, ou seja, da letra da lei, tendendo a apreender
o espírito da lei, pois, para se determinar o que a lei quer, há
de, primeiro, conhecer-se o que a lei diz” (Januário 2014, p,
259).

7
Alguns autores também denominam de, interpretação literal ou exegética

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Muitas vezes as palavras têm múltiplos significados, assim


sendo, compete ao intérprete descortinar o sentido em que os
termos são usados na lei.
- INTERPRETAÇÃO LÓGICA8 - Relativamente a este
tipo de interpretação, caberá atender ao seguinte: feita a análise
do sentido gramatical da letra da lei, urge a necessidade de, o
intérprete considerar os demais elementos no sentido de
determinar o real sentido do texto. Nesta senda, é; com base na
interpretação lógica, que, o interprete deverá penetrar no espírito
da lei, isto é; no pensamento do legislador que determinou a lei.
“Assim sucede, porque as normas legais contêm, muitas
vezes, expressões com significados diversos, consoante são
empregues na linguagem comum, ou na terminologia jurídica.
Assim, por exemplo, a palavra “ausente” juridicamente significa
desaparecimento de uma pessoa, acompanhado de falta de notícias, da
falta de representação legal ou curador e da necessidade de prover
acerca da administração de bens, enquanto que é distinto o seu sentido
comum” (januário 2014, P, 261).
Se o intérprete atendesse, apenas, ao elemento gramatical,
não seria possível, muitas vezes, determinar o alcance da lei em
toda sua plenitude. Trata-se, portanto, de uma razão teleológica,

8
Alguns autores também denominam de, interpretação racional ou teleológica

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

referente à finalidade que o legislador pretendeu atingir, isto é, o


objetivo, “para quê” e “porquê” da lei. Daí que o artigo 9º do
Código civil, na sua primeira parte, consagre: “A interpretação
não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo”; O número 2 do referido preceito
normativo estipula que: “Não pode, porém, ser considerado pelo
intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei o
mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente
expresso”. É por esta razão que sustentamos que deve
necessariamente existir uma correlação entre a interpretação
gramatical e a lógica.
- INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA9 – Relativamente a
este tipo de interpretação atente-se que ela consiste na pesquisa
do processo evolutivo da lei, ou seja; releva conhecer a história
em que se enquadra a lei, bem como os seus precedentes, com
vista a auxiliar no aclaramento da norma. Assim, note-se que os
projetos de leis, as discussões havidas durante a sua elaboração,
a Exposição de Motivos, entre outros, são elementos valiosos de
que se deve valer o intérprete para proceder à interpretação das
normas. Dito de outro modo, a interpretação histórica é aquela
que indaga acerca das condições do meio e do momento da

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

elaboração de determinada norma legal, e, bem assim, das


causas pretéritas da solução dada pelo legislador.

Deste modo, no âmbito dos elementos conexos com a interpretação


histórica, poder-se-á destrinçar:

a) A “História do direito” ou seja, as disposições anteriores à


norma a interpretar, que regularam a mesma matéria.
b) As “Fontes da lei” isto é, os diplomas legais e estudos jurídicos,
em que o legislador se inspirou:,
c) Os trabalhos preparatórios ”maxime os estudos, projectos e
anteprojetos, que serviram de base à lei”;
d) Os “preâmbulos ou relatórios dos decretos lei ou decretos”;
e) A “accasio legis”, ou seja; o conjunto das circunstâncias sociais,
que determinaram o aparecimento da lei. (Januário 2014, p. 264).

-INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA- A ordem jurídica


constitui um sistema de elementos coordenados e homogéneos
entre si, não podendo encerrar contradições.
Ora, a interpretação sistemática tem em consideração que a
lei não é uma realidade isolada; é, na verdade, um conjunto
sistematicamente ordenado. Daí que, a interpretação sistemática
tenha como escopo discernir, o conteúdo da lei, com o

9
Alguns autores também denominam por, interpretação sociológica.

26
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

conhecimento das grandes linhas que caracterizam o Direito em


que se insere, enquadrando-a no sistema e, visando obter
conclusões várias sobre o seu sentido, atendendo, igualmente, às
normas contíguas, e às normas não contíguas. (Januário 2014, p.
265).
Em suma, as leis interpretam-se umas pelas outras, ou seja,
cada norma e conjunto de normas funcionam relativamente às
demais, como elemento sistemático de interpretação.
Legalmente, o legislador consagrou este elemento da
interpretação da lei no âmbito do nº 1 do artigo 9.º do Código
Civil, ao estatuir que a interpretação “(...) deve reconstituir a
partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobre tudo
a unidade do sistema jurídico (...)”.
Diante do exposto, caberá concluir que, com base nos tipos
ou metodologias de interpretação, o intérprete chegará a um
resultado da interpretação, que poderá ser: declarativa, restritiva,
extensiva e/ou ab rogant, que nos propomos analisar
subsequentemente
- INTÉRPRETAÇÃO DECLARATIVA- O intérprete
chega a este resultado quando, fez uma perfeita adequação da
letra com o alcance da lei. - O resultado de uma interpretação
simplesmente declaratória significa que o corpo e o espírito da

27
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

lei têm dimensões equivalentes. Assim sendo, podemos dizer


que a interpretação declarativa é a consequência lógica do
resultado obtido ante a coincidência do texto da lei com o seu
sentido.
- INTÉRPRETAÇÃO RESTRITIVA – o que a este
resultado de interpretação diz respeito importa salientar o
seguinte: Vezes há em que o intérprete, com base nas
metodologias norteadores para uma excelente interpretação,
entende que “o legislador maius dixit quam voluit” (o
legislador disse mais do que aquilo que queria), daí então que
deverá fazer a limitação da norma aparente, por considerar que o
texto, a letra da lei, vai além do seu sentido. “Deste modo, a
interpretação restritiva, conclui que a letra da lei foi além do espírito da
mesma, por expressar uma realidade que extravasa o pensamento
normativo, pelo que caberá restringir o sentido da letra da lei,
acomodando-o ao espírito da lei. Por exemplo, há necessidade de
interpretar restritivamente o conceito de “menor” constante do artigo
123º do Código Civil, e aí ler o citado conceito como “menor não
emancipado” o qual carece de capacidade para exercícios de direitos,
isto porque, em princípio, os menores emancipados adquirem plena
capacidade de direitos (artigo 133º do Código Civil)” (Januário 2014, p.
268).

28
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

- INTÉRPRETAÇÃO EXTENSIVA – No que a este tipo


de resultado diz respeito, ele, acaba por ser no essencial, o
inverso do que acontece na interpretação restritiva, ou seja; se
naquela o intérprete entende que o legislador disse mais do que
aquilo que queria e faz a limitação da norma aparente por
considerar que a letra da lei vai além do seu sentido, nesta
(interpretação extensiva), o intérprete, fazendo recurso aos
métodos interpretativos, conclui que a letra da lei é mais restrita
do que o seu espírito, ou seja, “o legislador minus dixit quam
voluit” (o legislador disse menos do que aquilo que queria).
“Assim, a interpretação extensiva conduz a conclusão de que a letra da
lei se situa aquém do seu espírito. Ora, se o intérprete infere que a letra
da lei é insuficiente para abarcar a totalidade do seu espírito, este deverá
corrigir a desproporção verificada, estendendo a letra da lei, até que ela
se dimensione ajustada mente ao âmbito do espírito legal”.

-INTERPRETAÇÃO AB ROGANT- No que tange à


interpretação AB ROGANT, importa referir, e aqui de forma
muito prática, o seguinte: o processo de interpretação das
normas processuais, deve necessariamente obedecer aos
critérios metodológicos para o efeito, ou seja; como já supra
referenciamos o processo de interpretação deve obedecer aos
critérios metodológicos conducentes a uma boa interpretação da

29
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

norma, no sentido de se chegar a um resultado correspondente


ao critério utilizado, como seja alcançar uma interpretação,
declarativa, restritiva e/ou extensiva. Estes são os resultados de
interpretação mais plausíveis que podem depreender de uma
norma. Quando sejam inobservados os tipos ou metodologias de
interpretação da norma, o intérprete chegará, então, a um
resultado de interpretação que se designa em Direito.
INTERPRETAÇÃO AB ROGANT, ou seja; uma interpretação
que conduz ao absurdo, não correspondente à letra, nem ao
espírito da lei.

7 -INTEGRAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS

Falar de integração da lei, é falar de integração de lacunas


da lei, já que a integração é, precisamente, um processo de
preenchimento de lacunas. Dito de outro modo a integração da
lei consiste na actividade intelectual cuja finalidade é encontrar
a solução jurídica para uma lacuna.
Diz-se que há lacuna da lei quando se constata ausência de
determinada norma jurídica que permita resolver uma situação
da vida social que reclama uma solução jurídica.

30
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Por outras palavras, são situações/aspectos que o legislador


não chegou a contemplar em sede de direito e, por isso, ou a lei
é omissa ou o legislador deixou a critério do julgador.
Assim como acontece nos demais ramos do direito civil,
também no direito processual civil, se podem encontrar lacunas.
Muito embora o Magistrado Judicial (Juiz), no exercício da sua
função jurisdicional reconheça a existência de casos omissos
(lacunas), este não pode deixar de julgar, alegando a
obscuridade da lei, vide artigo 8º do Código Civil.
Em face do exposto, para colmatar as lacunas da lei, o
julgador terá também que recorrer às normas do Código Civil
(Lei Substantiva), que nos dá as formas de colmatação das
lacunas, vide artigo 10º do Código Civil.
Nesta senda, segundo o art.º 10.º do Código Civil, se o caso
for omisso, haverá de se recorrer, em primeiro lugar, à norma
que regula os casos análogos; e, em segundo lugar, na ausência
de casos análogos, às normas que o intérprete criaria, se tivesse
que legislar dentro do espírito do sistema, ou seja, de harmonia
com os princípios que o direito constituído se rege.
Assim como a interpretação das leis processuais, também a
integração das leis processuais obedecem aos critérios de

31
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

integração da lei civil, estabelecidos no artigo 10º do Código


Civil.
De acordo com o artigo citado, existem duas formas de
colmatar as lacunas da lei:
1.º Por analogia;
2.º Mediante a criação de uma norma adequada (ad hoc).

8–APLICAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS NO TEMPO

As acções demoram, em regra, meses e anos a serem


definitivamente julgadas, sucedendo com relativa frequência
que a Lei Processual vigente à data da prática de certo acto,
inserido na acção é diferente da que vigorava quando a acção
deu entrada em juízo. Referimo-nos, com efeito, à sucessão
das leis processuais no tempo.
Coloca-se, então, a questão: de saber qual a lei aplicável ao
acto, quando ocorra a situação anteriormente descrita?
A solução do problema desta natureza vem a cada passo
formulada nas disposições transitórias da Nova Lei, destinadas a
definir o seu campo temporal de aplicação.
A doutrina geral aceite no Direito Civil é, como se sabe, a
de que a nova lei só rege para o futuro (art.º 12.º código civil),

32
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

não se aplicando aos factos pretéritos (passados). Contudo, esta


regra não é aplicável ao Processo Civil.
Com efeito, outra é a orientação geral que tem prevalecido
na doutrina em relação às normas de Processo.
É doutrina geral neste sector de Direito que, a nova lei
processual deve aplicar-se imediatamente (consagrado no art.º
142.º do Código de Processo Civil), não apenas nas acções que
venham a instaurar-se após a sua entrada em vigor, mas
também, em todos os actos a realizar-se futuramente, mesmo
que tais actos se integrem em acções pendentes.

RAZÕES JUSTIFICÁVEIS:

O Direito Processual pertence ao ramo do direito público,


que se prende com os interesse superiores da colectividade
inerentes ao sistema de justiça pública, acima dos interesses e
litígios dos particulares. O Direito Processual um ramo de
direito adjectivo e não um sector do direito substantivo.

9- PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Os princípios do Direito Processual Civil são


indispensáveis, enquanto norteadores de toda atividade

33
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

processual, servindo de barómetro para aferir, a conformidade


dos actos processuais.
Os princípios de direito processual civil são premissas,
pontos de partida, nos quais o processo civil é sustentado. No
processo civil, podemos encontrar múltiplos princípios próprios,
que são incomuns a outros ramos de direito, sobre os quais
seguidamente nos debruçamos.

- PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO
Este princípio significa que a iniciativa e o impulso
processual dependem das partes, conforme decorre do
dispostono artigo 3.º, primeira parte do código de processo civil,
e n.º 1 do artigo 264.º do Código de Processo Civil. O processo
só existe porque as partes pretendem. Ou seja, o processo só terá
o seu normal andamento caso as partes assim o desejarem,
diferentemente do que acontece no Direito público,
designadamente, a título de exemplo, no Direito Penal, nas
situações de crimes públicos em que, independentemente da
vontade do lesado, o Estado deve dar seguimento à acção, No
Direito civil, reitere-se, todo e qualquer processo só terá o seu
normal seguimento quando as partes tomarem iniciativa e,
concomitantemente, derem o seu devido impulso.

34
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Como temos vindo a referir, a iniciativa e o impulso


processual imcubem às partes. Do mesmo modo, assiste também
às partes apossibilidade legal de decidir pôr fim ao processo.
Em termos mais simples, assim como as partes têm a
disponibilidade de dar início acção, também têm a possibilidade
de pôr termo à acção, pois gozam da faculdade de desistir do
pedido, confessar do pedido ou transigir (acordar).- alínea d) do
artigo. 287.º) e 293.º do Código de Processo Civil.

- PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO

Contrapondo-se ao princípio do dispositivo, também


conhecido por princípio da oficialidade ou oficiosidade, este
princípio exprime a ideia de que compete ao Tribunal toda a
acção necessária ao apuramento da verdade formal, que pode ser
alcançada pela actividade de investigação directa do Juiz. O juiz
Cível é também, portanto, activo/proactivo, de que são exemplo
os factos instrumentais e os factos que têm a ver com o
anormal andamento do processo (n.º 3, artigo 264.º, 265.º,
266.º, 535.º, 612.º, 664.º, todos do Código de Processo Civil).

35
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Complementarmente e quando se vem de referir, entende-


se que, por via de regra, a fundamentação das decisões do Juiz
têm de se limitar aos factos carreados pelas partes, no entanto,
identificam-se algumas excepçõe como sejam, os casos de
factos instrumentais e de factos que dizem respeito ao anormal
andamento do processo. Relativamente a este princípio é
necessário esclarecer que, no que tange a matéria de direito, o
princípio da oficiosidade é a regra: o T ribunal não está sujeito
às alegações das partes no respeitante à indagação, interpretação
e aplicação das regras de direito (artigo 664.º primeira parte do
código de Processo Civil).
No que respeita à matéria de facto, este princípio permite
que o Tribunal conheça oficiosamente apenas de alguns factos
(factos instrumentais- artigo 514.º do Código de Processo Civil
e os que têm que ver com o uso anormal do processo- artigo
665.º do Código de processo Civil).

- PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Segundo este princípio, na descoberta da verdade, na


aplicação da justiça, devem ser, igualmente consideradas, tanto
as razões da acusação, como o ponto de vista da defesa. Este

36
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

princípio confere à parte (contrária) o direito de ser informada


da propositura de uma acção contra si e de ser ouvida antes da
decisão e, ainda, o direito a ser informada dos actos praticados
pela contraparte e a responder aos mesmos. Neste prisma,
depois do autor intentar a acção, o réu tem de ser citado para
contestar, sendo-lhe proporcionada, deste modo, a oportunidade
de se defender, n.º 1, segunda parte do artigo 3.º, 228.º e 517.º
todos do Código de Processo Civil. Este é um princípio
transversal a este ramo de direito.
Por outro lado, na esteira deste princípio, deve-se notificar
a parte contrária, de modo a que esta seja sempre ouvida sobre
as provas (artigo. 517.º do Código de Processo Civil).
É necessário frisar que, este princípio admite algumas
excepções. Com efeito, verificamos que este princípio, é
sacrificado, designadamente no caso das providências
cautelares em que, o Juiz entende que a realização de audiência
contraditória, poderá influir negativamente no andamento
normal do processo, e, assim, de modo a não prejudicar o efeito
útil da acção, dispensa esta fase. (vide artigoº 400.º n.º1, 404.º,
394.º, n.º 2, 415.º, todos do Código de Processo Civil).
Em casos excepcionais, são admitidas as provas produzidas sem
essa audiência contraditória.

37
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

-PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL DAS


PARTES

Também denominado por princípio da igualdade de armas


ou igualdade de meios, ou ainda, oportunidade de tratamento,
este é um princípio fundamental de igualdade dos cidadãos
perante a Constituição e a Lei,plasmado no artigo 22.º e 23.º da
Constituição da República de angol, que estabelece, que todos
são iguais perante à lei sem distinção de qualquer natureza.
Decorre deste princípio que:
O Tribunal deve assegurar, durante todo o processo, um
estatuto de igualdade substancial ás partes, designadamente, no
exercício de faculdades, no uso dos meios de defesa e na
aplicação de cominações ou sanções processuais..
No direito processual civil, este princípio redunda na
necessidade deconferir, tratamento igualitário às partes.

As partes, no decurso do processo, devem ter os meios


processuais e as mesmas oportunidades para a defesa dos seus
interesses.

38
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Porém, o tratamento formalmente igualitário pode ser


causa de grandes injustiças. É preciso que a igualdade seja
substancial.
Tal como revelada na fórmula: “tratar por igual aquele que
é igual e desigual o que é desigual”.

-PRINCÍPIO DA AUTO - RESPONSABILIDADE DAS


PARTES

Segundo este princípio, o processo está na inteira


disposição das partes, o que quer dizer, que as partes conduzem
o processo por seu próprio risco, n.º 3 do artigo 264.º, do
Código de Processo Civil.
Se as partes forem negligentes, no âmbito do processo, no
exercício dos direitos que lhes cabe, o Juiz ainda que tome
conhecimento desta inactividade mesmo sendo prejudicial para
as partes, nada poderá fazer para superá-la. Note-se como
exemplo:

o caso da cominação pela falta de contestação.

- PRINCÍPIO DA PRECLUSÃO

39
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Significa que o processo civil está dotado de fases que


formam compartimentos estanques, devendo os actos
processuais ser praticados num determinado momento/fase.

O tribunal, por aplicação da lei, impõe que certos actos ou


diligências sejam praticados dentro de determinados prazos de
natureza peremptória.
Se o acto ou diligência não for praticado tempestivamente,
ou seja, dentro do prazo, a parte cujo prazo beneficiava perde a
possibilidade de praticar o acto, sujeitando-se às consequências
que a lei prescreve para a sua conduta omissiva. Assim, se o
acto ou diligência for praticado extemporaneamente, o seu
direito preclude-se (perde este direito). A este respeito,
observe-se o disposto nos artigos 484.º e 486.º do código de
Processo Civil.

- PRINCÍPIO DA LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA

O Juiz na apreciação ou valoração da prova produzida não


está sujeito a regras predeterminadas, pois ela, assenta na
prudente “convicção do Tribunal sobre a prova produzida” (n.º 1
do artigo 655.º do Código de Processo Civil), ou seja,

40
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

fundamenta-se em regras da ciência e do raciocínio e em


máximas de experiência.

Deste modo, o juiz aprecia a prova e forma a sua convicção


livremente, de acordo com a sua consciência, experiência de
vida e, tendo em atenção as circunstâncias concretas do caso.
Artigo 341.º a 396.º do Código Civil.
Uma situação que figura excepção a este princípio é a de
que, a lei, ab initio, confere força probatória plena a
determinados meios de prova, como são os casos dos regimes
probatórios dos documentos autênticos e da confissão judicial
escrita previstos nos artigos 371.º e 358.º do Código Civil.
Portanto, nestas situações nos casos em que a parte sobre a
qual recaia o ónus da prova, carregar meios de prova com força
plena, o juiz estará vinculado ao juízo de valor que decorre do
meio de prova em causa. O que torna provado um facto é a
íntima convicção do juiz, formada não de acordo a aplicação de
pré- valores.
Todavia, não quer este princípio dizer que, o juiz deva
actuar de forma arbitrária, subjectiva e voluntarista ou que está-
se perante o livre arbítrio ou subjectivismo puro do julgador. Na
verdade, o juiz é livre, mas não incondicionalmente! Não é o

41
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

juiz livre de apreciar a prova e decidir como entender, devendo


antes a convicção pessoal do juiz formar-se, obrigatoriamente, a
partir da prova produzida no processo. A prova tem, portanto, de
ser motivada, artigo 655.º do Código de Processo Civil.

- PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL

Uma vez que as partes são notificadas com o fim exclusivo de


apresentarem as suas provas, significa este princípio que, uma
vez realizada a diligência de instrução requerida por uma das
partes, o resultado dela passa a integrar o processo, deixando,
nessa perspectiva, de servir apenas a parte que a requereu.
Artigo 342.º do Código Civil, (ónus da prova), e artigo 515.º do
Código de Processo Civil.
Segundo este princípio, a prova vale para o processo,
independentemente da parte que a tenha carreada para o
processo.

42
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

- PRINCÍPIO DA IMEDIAÇÃO

Significa este princípio, que, entre os meios de prova


submetidos à apreciação ou cognição do Tribunal, devem ser
escolhidos os meios mais próximos e directos, isto é, os
imediatos. Assim deverá proceder-se, pois, o contacto directo
entre os julgadores e os meios de prova, contribuem para uma
melhor formação da convicção sobre a verificação ou não dos
factos alegados pelas partes. Vide artigo 654.º do Código de
Processo Civil.

- PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

O princípio do DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO traduz-


se na possibilidade que a ordem jurídica normativa reconhece às
partes de recorrerem das decisões judiciais a um Tribunal
imediatamente superior, devendo este pronunciar-se sobre a
conformidade ou desconformidade de uma decisão produzida
por um Tribunal inferior.

Não obstante existir na Constituição uma exigência


expressa do duplo grau de jurisdição, este princípio decorre, do
sistema, que prevê a existência de tribunais para julgar recursos
contra as decisões judiciais.

43
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

-PRINCÍPIO DA ORALIDADE

Segundo este princípio o julgamento da relação material


controvertida deve ser feito de forma oral, devendo, portanto, a
decisão sobre o objecto do processo ser tomada com base na
discussão oral da causa em audiência de julgamento. Cfr.: n.º 3,
in fine; artigo. 796.º audiência preparatória (artigos 508.º e
509.º) e audiência final (artigos 652.º, n.º 1 653.º, 791.º e n.º
3796.º ) todos do Código de Processo Civil.

-PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO

Em obediência ao princípio da CONCENTRAÇÃO os


actos processuais devem ocorrer concentradamente, sem
grandes intervalos ou soluções de continuidade, quer no que se
refere ao local ou espaço, quer quanto ao tempo.
Assim, o julgamento deve decorrer em princípio num sítio
determinado e apropriado (sala de audiência); por outro lado, a
audiência deve ser contínua, só podendo o Juiz interrompê-la
quando for absolutamente necessário. Artigo 650.º do Código de
Processo Civil.

44
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E DA CONTINUIDADE


DOS ACTOS PROCESSUAIS

No desenrolar da audiência final, caberá observar o


princípio da publicidade e da continuidade, conforme se retira
do artigo 656.º do Código de Processo Civil. Em suma, daqui
resulta que o julgamento é público. Esta publicidade pode ser
entendida no sentido de que os actos processuais,
nomeadamente, as audiências de discussão e julgamento, são
abertas ao público e a elas podem assistir, em princípio,
quaisquer pessoas ou de que delas deve ser dado conhecimento
ao público, através da sua divulgação massiva pelos meios
habituais de comunicação, tais como, imprensas, rádio,
televisão, entre outos. Artigo 168.º 169.º do Código de Processo
Civil.

-PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

A ideia de economia processual remete-nos para a


necessidadede de procurar obter o rendimento máximo de cada
processo e com o mínimo de custos possíveis. Pretende-se,
assim, alcançar a resolução do máximo de litígios com o menor
esforço processual possível, artigos 137.º, 138.º do Código

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Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Civil. Sobre a aplicação concreta deste princípio convidamos à


leitura dos artigos 469.º, 662.º, 663.º do Código Civil.

PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL

O princípio ora em apreço, estabelece que o período que


deve mediar o início e o fim de um processo deve ser o mais
reduzido possível, por ser certo que a excessiva demora dos
processos é susceptível de retirar toda a eficácia prática das
decisões, tornando a justiça platónica. Artigo 29.º da
Constituição da República de Angola.
Exemplo paradigmático do princípio da celeridade são os
procedimentos cautelares, conformr decorre do disposto no
artigo 2.º do Código de Processo Civil; bem como a previsão de
prazos para a interposição de recursos ordinários, (vide artigo
685.º do Código de Processo Civil); prazos para a discussão
escrita no recurso de agravo (vide n.ºs 1 e 2 artigo 743.º, n do
código de processo civil), entre outros.

-PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

Por força deste princípio, todos os intervenientes no


processo, sejam eles princípais ou acidentais, ficam sujeitos ao
dever de cooperar com o Tribunal na administração da justiça,

46
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

devendo mnomeadamente, contribuir para a descoberta da


verdade, que se encontra subjacente ao caso a decidir. (artigos
174º n.º 3 da Constituição da República de Angola, e 535.º,
519.º, n.º 1, 266.º todos do CPC, etc). Note-se que à recusa em
colaborar com a justiça é aplicável o disposto no artigo 304.º do
Código Penal, por se negar a cooperar/colaborar com a justiça.

-PRINCÍPIO DA BOA FÉ PROCESSUAL

Consiste reprimir o exercício abusivo de direito processual,


devendo as partes agir de acordo com os seus deveres de
moralidade e probidade no processo. A proibição da litigância
de má-fe, contida no artigo 456.º do Código de Processo Civil, é
exemplo de regra que concretriza o princípio da boa-fé.

-PRINCÍPIO DA ESTABILIDADE DA INSTÂNCIA

Por força do princípio da estabilidade vda instância, a partir


da altura em que a relação processual se completa, o que sucede
no momento em que o réu é citado para a acção, quer os
elementos subjectivos da instância (as partes) quer os elementos
objectivos (pedido e a causa de pedido), devem manter-se os
mesmos até ao final. Artigo.º 268.º e ss. do código de processo
civil. E artigo 273.º do Código de Processo Civil.

47
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Todavia, a lei prevê determinadas situações que, ocorrem


no desenvolvimento da instância e provocam inevitalmente a
modificação quer objectiva, quer subjectiva da instância, como
são os casos previstos nos artigos 269.º, 270.º, 272.º e 273.º do
Código de Processo Civil, designados por incidentes da
instância,de que são exemplos paradigmáticos, o caso da
sucessão mortis causa ou por actos entre vivos na relação
substantiva em litígio, que prova modificação subjectiva; ou
ainda a alteração do pedido e da causa de pedir por acordo das
partes. Estas situações podem ocorrer em qualquer altura do
processo.

10 - TIPOS DE ACÇÕES

No que concerne aos tipos de acções em processo civil


importa antes tecer as seguintes considerações:
Como já supra referimos, o DPC serve de meio ou
mecanismos de materialização do direito substantivo. O que
pressupõe dizer, que o DPC é um direito adjectivo. Assim
sendo; o DPC só e somente entrará em acção caso haja
necessidade de resolução de determinada situação emergente do
direito substantivo civil.

48
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Assim sendo é de extrema importância salientar que nos


termos da Constituição da República de Angola, no seu artigo 2º
com a epígrafe Estado democrático de direito, podemos
depreender que toda e qualquer relação social deve ir ao
encontro do espirito do referido artigo. Mas vezes há em que,
no âmbito das relações sociais ocorrem situações que não vão ao
encontro aos princípios norteadores do Estado democrático de
direito e que são passíveis de serem solucionadas com base ao
DPC. É nesta senda que podemos aqui elencar algumas
situações fictícias para melhor compreensão.
Se A e B celebram um contrato de compra e venda10 de um
automóvel, onde A, é comprador e B, o vendedor. Se A, pagar o
preço do referido automóvel, constitui obrigação de B, em
entregar o referido automóvel. Tal como dispõe o artigo 879º do
11
Código Civil . “A compra e venda tem como efeitos essenciais: a) a
transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito. b) a
obrigação de entregar a coisa. c) a obrigação de pagar o preço”. Mesmo
com esta imposição da lei, vezes há em que existem

10 - Vide noção de compra e venda no artigo 874º do Código Civil.

11 Código Civil, doravante C.C

49
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

incumprimentos por má fé de um dos contraentes, ou por outras


razões.
Outra situação que podemos aqui elencar, é;
Se Rafael celebrar um contrato de Mútuo12 com António,
onde Rafael é mutuante e António mutuário, findo o prazo para
o cumprimento da obrigação, se António não restituir o valor, é
também uma situação que pode ser resolvida com base ao DPC.
Isto porque; partindo do pressuposto constitucional de que
Angola é um Estado de Direito13. Os referidos contraentes
mencionados nos exemplos supra, não devem fazer justiça
privada para verem solucionado o problema decorrente do
incumprimento do contrato.
Afinal já há alguns séculos que a justiça privada ficou para
atrás, face aos conceitos de Estado de direito. Passando assim o
Estado como único ente encarregue de administrar à justiça.
Assim sendo, para que possa dar-se uma solução aos casos
supra referidos deve ser por via de uma acção judicial14, até

12
– vide noção de contrato de mútuo no artigo 1242º do código civil
13 – vide artigo 2º da Constituição da República de Angola 2010

14
– Esta é a regra, porque com o advento das leis, 16/03 de 25 de junho ,lei
sobre arbitragem voluntária e a lei 12/16 de 12 de Agosto, lei da mediação de
conflitos e conciliação, já é possível resolver determinados conflitos em

50
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

porque dispõe o artigo 1º do código de processo civil15. “A


ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos
limites declarados na lei”. Conjugado com o artigo 174º da
constituição da república de Angola16a com a epígrafe função
jurisdicional, no seu número 1 dispõe o seguinte; “os tribunais são
o órgão de soberania com a competência de administrar a justiça em
nome do povo”. Daí que; ao intentar-se uma acção em juízo para
que se possa dirimir determinada situação, a referida acção deve
ser interposta consoante ao fim pretendido. É nesta senda que o
artigo 4º do CPC com a epígrafe, espécies de acções consoante
ao fim no seu número 1 dispõe que: “As acções são declarativas ou
executivas”. Mas como estamos aqui a tratar do processo
declarativo, vamos tratar apenas das acçõs referentes ao
processo declarativo. Daí que para que uma ação tenha
procedência em juízo, um dos requisitos é indicar o fim da
acção. Ou seja; Nesta ordem de ideia, as acções em processo

instituições que não sejam os tribunais ,mas desde que as mesmas estejam
reconhecidas pelo Estado.

15 – Doravante, CPC.

16 – Doravante CRA

51
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

declarativo podem ser: de simples apreciação, de condenação ou


constitutivas. Tal como consagra o nº 2 do artigo 4º do CPC. As
alíneas a), b) e c) deste artigo consagram a finalidade de cada
tipo de acção, assim sendo,

Espécies de acções declarativas – Artigo 4º nº 2 CPC

a) De simples apreciação - Positiva


-Negativa
-Entrega de coisa certa
b) De condenação -Pagamento de quantia
-Prestação de facto

c) Constitutiva Modificação na ordem jurídica


existente

a) As de simples apreciação, obter unicamente a declaração da


existência ou inexistência dum direito ou dum facto;
b) As de condenação, exigir a prestação duma coisa ou dum
facto, pressupondo ou prevendo a violação dum direito;
c) As constitutivas, autorizar uma mudança na ordem jurídica
existente.

52
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Afinal em que situações deverão ser usadas cada espécie


dessas acções?
Para que possamos perceber as situações em que podem ser
usadas essas acções, devemos em primeira instância avaliar a
situação e em função da especificidade da situação determinar o
tipo de acção a intentar. Para melhor entendimento, importa
realçar os seguintes exemplos:
1º - Kuvula Cota, vive há seis anos na residência XPTO
situada na ilha de Luanda, entretanto; Adão Nvula diz ser o
proprietário da mesma. Só que, Kuvula Cota diz ser o
proprietário da referida residência e que possui documentos que
comprovem. Havendo este litigio entre os dois e como nos
termos do artigo 1º do CPC há proibição da justiça privada, este
litigio deve ser submetido ao tribunal como órgão competente

para dirimir tal como dispõe o nº 1 do artigo 174º da CRA.


Entretanto sendo que Kuvula Cota diz que possui documentos
que comprovem a sua titularidade sobre o imóvel, a acção a
intentar ao tribunal, deve ser; uma ação declarativa de simples
apreciação positiva, isto porque o objetivo aqui é que o tribunal
declare a existência do direito de Kuvula Cota sobre o imóvel.
Havendo a declaração da existência do direito sobre o imóvel

53
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

por parte de Kuvula Cota, estaremos diante de uma ação de


simples apreciação positiva. Imaginemos agora que Kuvula
Cota intentou a referida acção com os documentos que diz
provar a sua titularidade sobre o imóvel, e por sua vez Adão
Nvula apresentou ao tribunal outros documentos que afinal
provam que é legitimo proprietário, e em acto continuo o
tribunal declare a titularidade do imóvel a favor de Adão Nvula.
Sendo que a acção foi intentada por Kuvula Cota, aqui
estaremos diante de uma acção declarativa de simples
apreciação negativa. Porque não obstante a acção ter sido
intentada por kuvula Cota o tribunal declarou a inexistência do
direito por parte do mesmo.
2º Imaginemos agora que A e B, partindo do pressuposto
da liberdade contratual, isto nos termos do artigo 405º do C.C,
decidem estabelecer um contrato de compra e venda de uma
veiculo automóvel, onde A, no referido contrato aparece na
qualidade de comprador e B, na qualidade de vendedor.
A, obedecendo, o disposto no artigo 879.º do C.C, pagou o
preço, entretanto B, conhecido como um grande burlador, não
entregou a referida viatura. Para este caso, se A, pretender
intentar uma acção em tribunal contra B, a acção que deverá ser
intentada, é a acção declarativa de condenação para entrega de

54
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

coisa certa, pois o que A pretende com a ação é que B cumpra


com o contrato, isto é; que B faça a entrega da viatura.
3º Imaginemos agora que, A e B celebram um contrato de
mútuo no valor de 600.000kz, no referido contrato A é o
mutuante e B o mutuário. Havendo inadimplemento por parte de
B, isto é; em fazer a devolução do valor à data prevista e A, ao
fazer valer o seu direito por via de uma acção judicial, a acção
que deverá ser intentada contra B, é a declarativa de condenação
para pagamento de quantia. Pois o que pretende-se, é que B faça
a restituição do valor entregue por A.
4º O outro exemplo que podemos aqui elencar é, Se Daniel
celebra um contrato de prestação de serviço com Zeca, no
referido contrato Zeca obriga-se a cuidar pessoalmente do
jardim da casa de Daniel. Entretanto, Zeca furta-se a executar o
referido contrato. Por sua vez, Daniel ao pretender intentar uma
acção contra, a acção deverá ser a declarativa de condenação
para prestação de facto.
Por último importa dar um exemplo para que possamos
então entender em que circunstâncias pode - se intentar uma
acção declarativa constitutiva, de referenciar que a referida
acção visa, a modificação da ordem jurídica existente numa
determinada relação jurídica.

55
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Assim sendo, podemos destacar o seguinte exemplo.


Ana e João, são casados há cinco (5) anos. Entretanto João
pretende pôr fim a esta relação, mas Ana, entretanto não
concorda com a decisão de João. Sendo que o divórcio17
constitui um direito potestativo,18 o que João deverá fazer para
pôr fim a esta relação, intentar uma acção declarativa
constitutiva, solicitando o referido divórcio.

11 - PROCEDIMENTOS CAUTELARES

Feitas as considerações sobre os tipos de acções no âmbito


da acção declarativa, é de estrema importância abordarmos
sobre os procedimentos cautelares.
Atendendo, que são de capital importância nas acções
cíveis. Assim sendo cabe-nos salientar o seguinte:

Os procedimentos cautelares são acções acessórias que


visam acautelar o efeito último da acção principal, fundam-se no

17 – Divórcio, constitui uma das formas de dissolução do casamento .vide artigo


74º alínea c) do código da família
18 – Direito potestativo, é o poder de unilateralmente, intervir na esfera jurídica

alheia, correspondendo a outra parte um dever de sujeição ou conformação.


Constitui uma imposição.

56
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

“periculum in mora”19, ou seja; o processo civil deve obedecer


determinado ritual, para que o tribunal na pessoa do juiz possa
tomar uma decisão conscienciosa. Daí que; são de estrema
importância para o processo civil. “No que concerne aos motivos da
existência dos procedimentos cautelares, dispõe o n.º2 do artigo 2.º, do
CPC, que a todo o direito, corresponde a ação adequada a fazê-lo
reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá-lo
coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o
efeito útil da ação. Infere-se assim do texto da lei que a função do
procedimento cautelar é evitar a perda da utilidade do efeito prático-
jurídico pretendido pelo autor entre o momento em que este recorre aos
tribunais e o momento em que é proferida a decisão que reconhece a
existência do seu direito.
Compreende-se que a formação da decisão definitiva implica o
cumprimento de um determinado rito processual preestabelecido onde
se engloba o respeito pelo princípio do contraditório gerando assim,
como é normal, delongas suscetíveis de causar ao presumido titular do
direito, danos irreparáveis. É precisamente este periculum in mora, que o
procedimento cautelar visa evitar, a fim de não se tornar ineficaz ou
inoperante a decisão final produzida na ação principal.”(Torres 2015 pag
9)
Daí que; este justo receio fundado no “pericullum in mora”
deve ser acautelado por via de uma providência cautelar, que

19 – Perigo pela demora

57
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

mediante o princípio do “fumus boni iuris”20 ponderadas as


circunstâncias o juiz deverá atender.
A matéria sobre os procedimentos cautelares no CPC
angolano está regulada entre os artigos 381.º a 427.º. Como já
supra referimos, os procedimentos cautelares são medidas
jurídicas processuais que visam acautelar o efeito útil da acção
principal, ou seja; servem para acautelar possíveis efeitos
negativos decorrentes da morosidade do ritual processual. O
fundamento genérico dos procedimentos cautelares está
expresso no artigo 399.º do CPC que passámos a citar “Quando
alguém mostre fundado receio de que outrem, antes de a acção ser
proposta ou na pendência dela, cause lesão grave dificilmente reparável
ao seu direito, pode requerer, se ao caso não convier nenhum dos
procedimentos regulados neste capítulo, as providências adequadas á
situação, nomeadamente a autorização para a prática de determinados
actos, a intimação para que o réu se abstenha de certa conduta, ou á
entrega dos bens móveis ou imóveis, que constituem objeto da acção, a
um terceiro, seu fiel depositário.” É de estrema importância e para
melhor compreensão realçar que, os procedimentos cautelares
no que tange ao momento a que se requer podem ser:

20
Fumaça do bom Direito

58
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

-Primários ou principais
-Secundários ou incidentais.

Procedimentos cautelares primários ou principais

No que concerne aos procedimentos cautelares primários


ou principais,21 importa frisar o seguinte:
Dispõe o nº 1 do artigo 384.º do CPC que “o procedimento
cautelar é sempre dependência de uma causa que tenha por fundamento
o direito acautelado e pode ser instaurado como preliminar ou como
incidente da acção” Daí que em termos práticos devemos perceber
que o procedimento cautelar é tido como principal ou preliminar
como dispõe o artigo supra referenciado, quando é requerido
antes da propositura da acção principal. Ou seja; vezes há em
que o detentor de um determinado direito, atendendo o
periculum in mora baseando-se no fundamento genérico dos
procedimentos cautelares constante do artigo 399.º do CPC, isto
é; verificando a possível violação do seu direito e a consequente
difícil reparação, antes mesmo de intentar a acção principal,
requer a providência cautelar no sentido de salvaguardar o
direito para que não seja violado, é neste sentido que afirmamos

21 Alguns autores também denominam como procedimentos cautelares


antecipatórios

59
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

que os procedimentos cautelares são primários, pois antecedem


a acção principal. A título de exemplo e para melhor
esclarecimento importa frisar o seguinte:
Kassova, discute a titularidade de um imóvel que encontra
- se na posse de Tchissola, esta alega que a titularidade do
imóvel a pertence. Partindo do princípio da proibição da justiça
privada, Kassova, seguindo o conselho de seu amigo kwinda,
decide então intentar uma acção contra Tchissola, para reaver o
seu direito. Porém, Kassova receia que até a decisão da acção
que pretende intentar, Tchissola possa alienar o bem em litígio,
por isso, antes mesmo de intentar acção, decide requerer uma
providência cautelar não especificada baseando-se no artigo
399.º do CPC, no sentido do tribunal decretar que Tchissola não
aliene o bem enquanto houver um litígio sobre o mesmo, neste
caso diz-se que o procedimento cautelar requerido por Kassova
é primário, por intentar antes da propositura da acção principal,
pelo que nos termos da alínea a) do nº 1 do artigo 382.º do CPC
Kassova deverá intentar a acção principal dentro de trinta dias
após ter requerido a providência cautelar, sob pena de
caducidade desta.

60
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Procedimentos cautelares secundários ou incidentais22.

As providências cautelares secundárias ou conservatórias


destinam-se a conservar a situação jurídica ou direito que é
objeto da ação até à decisão. Visam acautelar o efeito útil da
ação principal, assegurando a permanência da situação existente
quando se espoletou o litígio ou aquando da verificação de
periculum in mora.

As providências cautelares podem ser antecipatórias ou


conservatórias. As providências cautelares conservatórias
destinam-se a conservar a situação jurídica ou direito que é
objeto da ação até à decisão. Visam acautelar o efeito útil da
ação principal, assegurando a permanência da situação existente
quando se despoletou o litígio ou aquando da verificação de
periculum in mora Procedimentos cautelares não
especificados.23

Os procedimentos cautelares sejam primários ou


secundários, eles poderão ser especificados (aqueles que têm um
nome atribuído por lei), a título de exemplo são os previstos nos

22 Também designada por alguns autores por providências cautelares


conservatórias.
23 Também designado por alguns autores por, procedimento cautelar atípico

61
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

artigos381º a 427º do CPC. E não especificados, ou seja, aquelas


que não foram especificamente, previstas na lei, mas que, por
uma ou outra razão, justificam medidas provisórias imediatas,
tal como prevê o artigo 399º do CPC.

CARACTERISTICAS DAS MEDIDAS CAUTELARES

Do ponto de vista procedimental, podemos elencar as


características do Processo Cautelar:

a) Instrumentalidade – é o instrumento utilizado para


garantir a eficácia do processo de conhecimento ou de execução.
O processo é um instrumento de jurisdição;

b) Urgência – a tutela cautelar só deve ser acionada se está


presente uma situação de perigo, ameaçando a pretensão;

c) Sumariedade da cognição – não há uma análise


profunda e detalhada das matérias que podem ser alegadas,
basta ser analisada a existência do fumus boni iuris e o
periculum in mora;

62
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

d) Provisoriedade – tem duração temporal limitada, a


medida cautelar não é definitiva, a sentença da ação principal
substituirá a tutela cautelar;

e) Revogabilidade - podem ser revogadas a qualquer


tempo.

f) Inexistência de coisa julgada material – a medida


cautelar é provisória, e não definitiva, não gerando coisa julgada
material.

g) Fungibilidade – consiste na possibilidade de o juiz


conceder a medida cautelar que lhe pareça mais adequada para
proteger o direito da parte, ainda que não corresponda àquela
medida que foi postulada.

12 – SOBRE AS COMPETÊNCIAS DOS TRIBUNAIS.

No que tange as competências dos tribunais importa tecer


as seguintes considerações: A competência é o poder conferido
por lei a um determinado Tribunal para conhecer de
determinado caso, ou seja; é o poder de exercer a jurisdição nos

63
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

limites estabelecidos por lei. Em outros termos podemos dizer o


seguinte, a competência é a medida ou o âmbito dentro do qual
o juiz deve exercer a sua jurisdição. A Competência nada mais é
do que a limitação do Poder. Imagine se todos os Juízes
pudessem julgar todo tipo de causa e em qualquer lugar do País.
Os juízes e as partes ficariam perdidos e a justiça perderia a sua
confiabilidade.

A competência é, então, o exercício do Poder de julgar de


forma organizada, e essa organização deve sempre ser fixada
por norma jurídica. Não há outro meio para se delinear regras de
competência. Para tanto, o CPC vigente estabeleceu as seguintes
regras de estabelecimento da competência:

A competência pode ser internacional ou interna.


No que tange a competência internacional importa frisar o
seguinte: Num mundo onde é observada a crescente
globalização, o intercâmbio cultural, a grande inserção dos
meios de comunicação e a cada vez mais acentuada existência
de negócios jurídicos internacionais, vê-se a necessidade de a
legislação pátria regular o que deve ser analisado judicialmente
aqui ou no estrangeiro, quando se depara com fatos que dizem

64
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

respeito tanto a um quanto a outro país. Nos termos do artigo 24


65º do CPC, a competência internacional dos tribunais
angolanos depende da verificação de determinados factores, ou
seja; os tribunais angolanos só terão competência
internacional, sempre que verificarem-se as seguintes
circunstâncias:

O número 1 do referido artigo nas suas alíneas consagra o


seguinte;
a) Dever a acção ser proposta em Angola, segundo as regras da
competência territorial;
b) Ter sido praticado em território angolano o facto que serve de
causa de pedir;
c) Ser o réu estrangeiro e o autor um angolano, desde que, em
situação inversa o angolano pudesse ser demandado perante os
tribunais do Estado a que pertence o réu;
d) Não poder o direito tornar-se efectivo senão por meio de acção
proposta em tribunal angolano, desde que entre a acção a propor
e o território angolano exista qualquer elemento ponderoso de
conexão pessoal ou real;
3- Quando para a acção seja competente, segundo a lei angolana,
o tribunal do domicílio do réu, os tribunais angolanos podem
exercer a sua jurisdição desde que o réu resida em Angola a
mais de seis meses ou se encontre ou se encontre

24 Doravante- art.
65
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

acidentalmente em território angolano, contanto que, neste


último caso a obrigação tenha sido contraída com um
angolano.
4- As pessoas colectivas estrangeiras consideram-se domiciliadas
em Angola desde que tenham aqui sucursal, agência, filial ou
delegação.

Nestes termos os tribunais angolanos só e tão somente


terão competência internacional quando verificar-se os
requisitos supra mencionados.

Em relação a competência interna, importa salientar que o


nº 1 do art. 26.º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro, (Lei orgânica
sobre, Organização e Funcionamento dos Tribunais de
jurisdição comum) consagra que; a competência dos tribunais
de jurisdição comum é definida em função da hierarquia, do
território, da matéria e do valor da causa. O art. 62.º do CPC
também consagra o mesmo e na sua última parte faz menção
que em casos excepcionais a qualidade do sujeito também é
determinante para definir a competência do tribunal.

O número 2 do art.26º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro


estabelece que as leis do processo fixam os critérios que
determinam em cada caso o tribunal competente.

66
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

A competência do tribunal é fixada no momento em que a


acção é proposta ou em que é aberta a instrução ou deduzida a
acusação, sendo irrelevante as modificações de facto que
ocorram posteriormente, tal como dispões o nº 1 do art. 27º da
lei 2/15 de 2 de Fevereiro. Todavia o art. 67º do CPC consagra
o seguinte:

1- O Tribunal comum é o cível.


2- A plenitude da jurisdição civil pertence, em primeira
instância ao tribunal de comarca. (aqui conjugado com
o art. 41.º e nº 3 do art 24.º da lei 2/15 de 2 de
fevereiro)

No âmbito da jurisdição comum, tal como consagra o art.


24º número 1 nas suas alíneas a), b) e c) existem os seguintes
tribunais:

a) Tribunal Supremo;
b) Tribunais da Relação;
c) Tribunais de Comarca.

O número 2 do art. Supra mencionado consagra que:

67
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Os Tribunais da Relação são, em regra, os tribunais de segunda


instância.

O número 3 consagra que:


Os Tribunais de Comarca são, em regra, os Tribunais de
primeira instância, podendo ser desdobrados em Salas de
Competências Especializadas ou Pequenas Causas Criminais,
sempre que o volume, a natureza e a complexidade dos
processos o justifiquem.

O art. 30º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro, com a epígrafe “


Regra geral sobre competência” estabelece o seguinte:

“Todas as causas devem ser instauradas nos Tribunais de


Comarca, sem prejuízo do disposto na lei quanto a competência em
primeira instância dos Tribunais Superiores”.

Competência em razão da matéria.


No que tange a competência em razão da matéria importa
salientar o seguinte:

A competência em razão da matéria pressupõe a fixação


legal que determinado tribunal tem para tratar de determinados
assuntos ou matérias.

68
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Nos termos do art. 41º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro, os


Tribunais de Comarca são os competentes para preparar e
julgar todas as causas independentemente da sua natureza ou
valor. Todavia; não obstante a isto, os referidos Tribunais estão
desdobrados em Salas de competência Especializada. Tal como
consagra o artigo 43º da mesma legislação.

Daí que; ao intentar-se uma determinada acção, a mesma


deve ser remetida à sala com competência para julgar a mesma.
Sob pena de a mesma ser incompetente em razão da matéria.

Competência em razão do valor.

Segundo o CPC, no seu art. 305º, com a epígrafe


“Atribuição de valor à causa e sua influência”. Do referido
artigo podemos depreender o seguinte: A toda causa será
atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo
econômico imediatamente aferível”. Portanto, é necessária a
indicação de valor à causa, mesmo que calculado de forma
estimativa. A atribuição ao valor da causa gera diversos reflexos
sobre o processo:

69
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Determinação de competência do juízo segundo as leis de


organização judiciária, como a fixação de competência dos
Foros Regionais;

Definição do rito procedimental, comum (Ordinário,


Sumário e Sumaríssimo);

Recolhimento das taxas judiciárias;

Fixação do valor para fins de aplicação de multas, no caso


de deslealdade ou má-fé processual;

Nos inventários e partilhas o valor da causa influi sobre a


adoção do rito de arrolamento.

O valor da causa constará da petição inicial ou da


reconvenção e será: na acção de cobrança de dívida, a soma
monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora
vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de
propositura da acção;

Pelo exposto, podemos concluir que, indubitavelmente a


fixação do valor à causa é de estrema importância, o valor tem
a sua influencia em relação ao processo.

70
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Como já supra referimos e isto nos termos do nº 2 do art


67º do CPC “A plenitude da jurisdição civil pertence, em primeira
instância ao tribunal de comarca “(aqui conjugado com o art. 41º
e nº 3 do artigo 24º da lei 2/15 de 2 de fevereiro).

Competência em razão do território.

No que concerne a competência em razão do território,


importa tecer as seguintes considerações:

A competência territorial define, a circunscrição territorial


que cada Tribunal tem competência para conhecer sobre
determinada matéria que lhe é submetida.

No âmbito da jurisdição comum, tal como consagra nas


alíneas a) b) e c) do nº 1 do art. 24º da lei 2/15 de 2 de
Fevereiro existem os seguintes Tribunais

a) Tribunal Supremo;
b) Tribunais da Relação;
c) Tribunais de Comarca.

O art. 31º da referida legislação, consagra o seguinte:

71
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

O Tribunal Supremo tem Competência jurisdicional em todo


território nacional, os Tribunais da relação na respectiva região
judicial e os Tribunais de Comarca na área territorial da respectiva
Comarca.

Daí que, deve-se ter em atenção as regras inerentes a


competência territorial, sob pena de intenta-se a acção a um
Tribunal fora da circunscrição territorial a que devesse ser
intentada a acção. O CPC no que tange as regras sobre a
competência consagra o seguinte:

Art. 73º CPC ( Foro da situação dos bens )

1. Devem ser propostas no tribunal da situação dos bens as


acções relativas a Direitos reais sobre imóveis, e bem assim as
acções para arbitramento, as de despejo as de prefeência sobre
imóveis e ainda as de reforço, substituição, redução e
expurgação de hipotecas.

2. As acções de reforço, substituição, redução e expurgação de


hipotecas sobre navios e aeronaves serão, porém, instauradas
na circunscrição da respectiva matrícula; se a hipoteca
abranger móveis matriculados em circunscrições diversas o
autor pode optar por qualquer delas.
3. Quando a acção tiver por objeto uma universalidade de facto,
ou bens móveis e imóveis, ou imóveis situados em

72
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

circunscrições diferentes, será proposta no Tribunal


correspondente a situação dos imóveis de maior valor, devendo
atender-se para esse efeito aos valores da atriz predial; se o
prédio que é objeto da acção estiver situado em mais de uma
circunscrição territorial, pode ela ser proposta em qualquer
das circunscrições.

Art 74º CPC ( Competência para cumprimento da obrigação )

1. A acção destinada a exigir o cumprimento de obrigações


ou a indemnização pelo não cumprimento será proposta no
Tribunal do lugar em que, por lei ou convenção escrita, a
respectiva obrigação devia ser cumprida.
2. Se a acção destinar a efectivar a responsabilidade civil
baseada em facto ilícito ou fundada no risco, o Tribunal
competente é o correspondente ao lugar onde o facto
ocorreu.

Art. 75º CPC (Divórcio)

Para as acções de divórcio é competente o Tribunal do domicílio


ou da residência do autor.

Art.76ºCPC (Acção de honorários )

1. Para acção de honorários de mandatários judiciais ou técnicos


e para a cobrança das quantias adiantadas ao cliente, é

73
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

competente o Tribunal da causa na qual foi prestado o serviço,


devendo aquela ocorrer por apenso a esta.
2. Se a causa tiver sido, porém, no supremo, a acção de
honorários correrá no tribunal da Comarca do domicílio do
devedor.

Art. 77º CPC ( Inventário e habilitação )

1. O Tribunal da abertura do lugar da sucessão é competente


para o inventário e para a habilitação de uma pessoa como
sucessora por morte da outra.
2. Aberta a sucessão fora do País, observar-se-à o seguinte:
a) Tendo o falecido deixado bens em Angola, é competente
para o inventário ou para a habilitação o Tribunal do
lugar da situação dos imóveis, ou da maior parte deles, ou,
na falta de imóveis, o do lugar onde estiver a maior parte
dos móveis.
b) Não tendo o falecido deixado bens em Angola, é
competente para habilitação o Tribunal do domicílio do
habilitando.
3. O Tribunal onde se tenha procedido a inventário por óbito de
um dos cônjuges é o competente para o inventário a que tiver
de proceder-se por óbito do outro, excepto se o casamento foi
contraído segundo o regime da separação; quando se tenha
procedido a inventário por óbito de dois ou mais cônjuges do
autor da herança, a competência é determinada pelo último
desses inventários.

74
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Das regras estabelecidas em torno da competência


territorial, supra mencionadas estabelecidas pelo CPC, as
mesmas estão consagradas até ao art. 85.º, do art. 86.º a 89.º
estão consagradas as regras inerentes as Pessoas Colectivas e
Sociedades.

Competência em razão da hierarquia.

Ao que a competência em razão da hierarquia diz


respeito, importa salientar que; os Tribunais estão
hierarquicamente organizados. E tal como já supra
referenciamos;

A competência do tribunal é fixada no momento em que a


acção é proposta ou em que é aberta a instrução ou deduzida a
acusação, sendo irrelevante as modificações de facto que
ocorram posteriormente, tal como dispões o número 1 do art.
27º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro. Todavia o art. 67.º do CPC
consagra o seguinte:

1- O tribunal comum é o cível.

75
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2- A plenitude da jurisdição civil pertence, em primeira


instância ao tribunal de comarca. (aqui conjugado com
o art. 41.º e nº 3do artigo 24.º da lei 2/15 de 2 de
fevereiro)

No âmbito da jurisdição comum, tal como consagram as


alíneas a) b) e c) do nº 1 do art. 24º da lei 2/15 de 2 de
Fevereiro existem os seguintes Tribunais.

d) Tribunal Supremo;
e) Tribunais da Relação;
f) Tribunais de Comarca.

O número 2 do art. Supra mencionado consagra que:


Os Tribunais da Relação são, em regra, os tribunais de
segunda instância.

O número 3 consagra que:


Os Tribunais de Comarca são, em regra, os Tribunais de
primeira instância, podendo ser desdobrados em Salas de
Competências Especializadas ou Pequenas Causas Criminais,
sempre que o volume, a natureza e a complexidade dos
processos o justifiquem.

76
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

O art. 30.º da lei 2/15 de 2 de Fevereiro, com a epígrafe “


Regra geral sobre competência” estabelece o seguinte:

“Todas as causas devem ser instauradas nos Tribunais de


Comarca, sem prejuízo do disposto na lei quanto a competência em
primeira instância dos Tribunais Superiores”.

Daí que com base ao exposto podemos depreender que, ao


intentar-se determinada acção, deve-se ter em atenção a
hierarquia dos tribunais. Outrossim, no que tange a
interposição de recursos os nºs 2 e 3 do art. 29º da lei 2/15 de 2
de Fevereiro consagram o seguinte:

2 Os Tribunais da Relação conhecem de todos os recursos


interpostos das decisões dos Tribunais de Comarca.
3 O Tribunal supremo conhece dos recursos interpostos das
decisões proferidas pelos Tribunais da Relação de todos os
recursos.

77
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

13- SOBRE A ALÇADA DOS TRIBUNAIS

No que tange a alçada dos tribunais, importa salientar o


seguinte: Quando referimo-nos a alçada dos tribunais,
queremos com isso indicar o valor segundo o qual poder-se-á
indicar a forma de processo comum aplicável. Nos termos do
artigo 461º do CPC (de 1961 e ainda vigente) com a epígrafe
“Formas do Processo comum” estabelece o seguinte:

O processo Comum é, Ordinário, Sumário e Sumaríssimo

Porém o artigo 462.º do mesmo diploma, estabelece os


modos de aferição para a aplicação das formas de processo
comum, sendo da seguinte forma:

Artigo 462º CPC – Domínio de aplicação do processo ordinário,


sumário e sumaríssimo

1- Se o valor causa exceder a alçada da relação 25, empregar-se-á o


processo ordinário, se a não exceder, empregar-se-á o processo
sumário excepto se não ultrapassar metade do valor fixado

25 - A alçada do tribunal de Relação e nos termos do artigo 462º do CPC,


entendia-se aí Tribunal supremo, é de 16.000 UCF o que correspondia a
1.408.000 Akz ) nos termos do artigo 2º da lei 9/ 2005, de 17 de Agosto (
Sobre actualização de custas judiciais e das alçadas dos tribunais, atendendo
que 1 UCF corresponde a 88 Kz)

78
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

para alçada do tribunal de comarca e a acção se destinar ao


cumprimento de obrigação pecuniárias, á indemnização por
dano e à entrega de coisas móveis, porque nestes casos o
processo adequado é o sumaríssimo.
2- No processo sumaríssimo a indemnização é sempre computada
em quantia certa.

79
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

14 - SOBRE PROVAS E PRAZOS JUDICIAIS.

No que tange as provas no direito processual, corresponde


a todo elemento que contribui para a formação da convicção do
juiz a respeito da existência de determinado facto
controvertido, tido como relevante para a solução do litígio.

A prova tem a finalidade de demonstrar a veracidade ou


não dos fatos tal como dispõe o artigo 341.º do C.C. Tem como
objeto, portanto, factos. Esses devem ser relevantes,
pertinentes, precisos e contravertidos, ou seja, devem poder
influenciar na decisão, guardar relação com o conflito, serem
determinados e não haver concordância entre as partes quanto
a eles.

Importa salientar que as provas podem ser de várias


índoles e/ou espécies, todavia iremos de forma mais
escalpelizada nos debruçamos sobre elas (as espécies de
provas) a partir do capitulo IV quando começarmos a tecer
considerações inerentes ao formalismo do processo

80
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

declarativo26, mais concretamente no capitulo VI que


compreende a terceira fase do formalismo do processo
declarativo, isto é; fase da instrução do processo, pois
compreende a elaboração e produção de provas.

Já em relação aos prazos judicias importa salientar que os


intervenientes processuais devem ter em especial atenção os
prazos, pois os mesmos pressupõem a pratica de determinado
acto dentro de um horizonte temporal, sob pena de recair sobre
quem devesse praticar tal acto consequências desfavoráveis.

Nos termos do nº 1 do artigo 143.º do CPC, são suspensas


as práticas dos actos judiciais nos domingos em dias feriados
nem durante as férias. A mesma disposição legal, exceptua as
citações, notificações 27, arrematações e os actos que se
destinam a evitar danos irreparáveis. O nº 2 o referido artigo
consagra que; quando for feriado o dia destinados a sessões ou actos
judiciais a praticar em dia designado por lei, terão eles lugar no
primeiro dia útil que se seguir.

26 Importa salientar que o Formalismo do processo declarativo comporta cinco

81
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

É de salientar também que em relação aos prazos eles são


marcados por lei, a titulo de exemplo vide artigo 486.º do CPC
em relação ao prazo para contestar, ou fixados por despacho do
juiz, nos termos do nº 3 do artigo 264.º do CPC , o juiz tem poder
de realizar ou ordenar oficiosamente as diligências que considere
necessária para o apuramento da verdade quanto aos factos de que lhe
é lícito conhecer. E para tal deverá fixar determinada data. Por
esta razão que o nº 1 do artigo 144.º do CPC com a epígrafe
Designação e natureza do prazo, estabelece o supra
mencionado.

No que concerne as suas modalidades, os prazos podem


ser dilatório e/ou peremptório, tal como dispõe o nº 1 do artigo
145.º do CPC. Os números 2 e 3 do referido artigo estabelecem
a diferença entre o prazo dilatório e o peremptório, que
passamos a citar, nº2 o prazo dilatório difere para certo momento a
possibilidade de realização de um acto ou início da contagem de um

outro prazo, o nº 3 dispõe o seguinte : o decurso do prazo


peremptório extingue o direito de praticar o acto. Daí a razão de
ter-se em atenção a observância dos prazos e como já supra

fases, articulados, audiência preparatória, instrução, discussão e julgamento e


por último a sentença.

82
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

referenciamos a não observância rigorosa dos prazos poderá


levar ao sujeito de devesse praticar determinado acto,
consequências desfavorável.

Não obstante o já supra referenciado, existem


circunstâncias em que determinado sujeito devesse praticar
determinado acto dentro de um horizonte temporal e não o faz
por razões alheias a sua vontade, ou seja; pelo facto de
eventualmente acontecer determinado evento que impossibilite
que se pratique determinado acto. Daí que o legislador previu
esta situação e devidamente, garantiu que o acto possa vir a ser
praticado, tal como dispõe o nº 1 do artigo 146.º do CPC que
passamos a citar: Considera-se justo impedimento o evento
normalmente imprevisível, estranho a vontade da parte, que
impossibilite de praticar o acto, por si ou por mandatário. Todavia,
para que se pratique determinado acto fora do prazo previsto
alegando justo impedimento, há necessidade de apresentação
de prova por parte de quem alegar o justo impedimento, tal
como dispõe o nº 2 do artigo 146.º que estabelece o seguinte: a
parte que alegar o justo impedimento oferecerá logo a respectiva
prova, o juiz, ouvida a parte contrária, admitirá o requerente a

27 Vide diferença entre citação e notificação no artigo 228.º do CPC

83
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

praticar o acto fora do prazo, se julgar verificado o impedimento e


reconhecer que a parte se apresentou a requerer logo que ele cessou.
Outrossim, importa salientar que, não obstante a isso, existem
situações em que os prazos são improrrogáveis, por serem
marcados por lei, por isso só de forma excepcional prevista por
lei que deverá se praticar determinado acto fora do prazo
marcado por lei, tal como consagra o artigo 147.º do CPC que
dispõe o seguinte: o prazo judicial marcado por lei é improrrogável,
salvo os casos nela previstos.

É de extrema importância salientar que existe uma regra


muito importante em relação aos prazos, que todo operador do
direito deve sempre ter em atenção. Referimo-nos aqui do
preceituado no artigo 153º do CPC com a epígrafe regra geral
sobre os prazos que passamos a citar:

Artigo 153º CPC

Na falta de disposição especial, é de cinco dias o prazo para as partes


requererem qualquer acto ou diligência, arguirem nulidades,
deduzirem incidentes ou exercerem qualquer outro poder processual; e
também é de cinco dias o prazo a parte responder ao que responder ao
que for deduzido pela parte contrária.

84
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP II–FORMAS DO PROCESSO.

1-Processo comum e especial.

No que tange as formas de processo28 em DPC, elas podem


ser comum ou especais, tal como dispõe o nº 1 do artigo 460 do
CPC, dispõe o nº 2 do mesmo artigo que, o processo especial
aplica-se aos casos expressamente designados na lei, o
processo comum é aplicável a que não corresponda processo
especial. os processos especiais estão regulados a partir do
artigo 944.º ao 963.º do CPC, e são processo relativos a
29
interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, surdez-
mudez ou cegueira. Assim sendo podemos rapidamente
depreender que; toda e qualquer situação que não esteja prevista
no âmbito dos artigos 944.º ao artigo 963.º, não correspondem a
forma de processo especial.

28 - É preciso não confundir formas de processo com tipos de acção, pois os


tipos de acção em DPC nos termos do nº 1 do CPC, as acções são
declarativas ou executivas, já a forma de processo elas podem ser comuns
ou especiais tal como dispõe o nº 1 do CPC
29 - vide quem são as pessoas sujeitas a interdição no artigo 138.º a 151.º do

C.C e as sujeitas a inabilitação no artigo 152.º a 156.º do C.C

85
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Em relação ao processo comum, este pode ser comum


ordinário, sumário e sumaríssimo. Tal como consagra o artigo
461.º do CPC. Porém para determinar a espécie de processo
comum, deve-se ter em atenção o disposto no artigo 462.º do
CPC, pois as regras constantes no referido artigo ajudará a
determinar a espécie do processo comum.
Todavia importa salientar também que no âmbito da forma
do processo, os mesmos são também e atendendo aqui se há ou
não litígio designados por processos de jurisdição contenciosa e
processos de jurisdição voluntária.
Antes de procedermos à distinção entre Jurisdição Contenciosa
e Jurisdição Voluntária, é conveniente abordarmos em que consiste
o processo civil.

Segundo o autor António Fialho30, o processo civil pressupõe


um conflito de interesses privados, em que as partes podem requerer
a sua resolução ao juiz, sendo que este, através da sentença, realiza a
tutela dos direitos subjetivos ou a composição do litígio em
conformidade com a lei substantiva, aplicável ao caso. Deste modo,
concluímos que a jurisdição consiste na atividade exercida pelos
juízes destinada à revelação e aplicação do direito num caso

86
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

concreto, solucionando os conflitos que lhe são presentes para


apreciação ou julgamento, com o intuito de determinar quais os
direitos de cada um dos litigantes.

2-Processos de jurisdição contenciosa.

O Estado mediante a Jurisdição proíbe a autotutela dos


interesses individuais conflitantes, impedindo que seja feita a
Justiça através das próprias mãos. Com isso, o Estado busca a
paz jurídica, dirimindo os litígios via a força de suas decisões,
pressupondo interesse de dar segurança a ordem jurídica, a
Jurisdição contenciosa "é a Jurisdição própria ou verdadeira".
Nessa atividade, o juiz compõe os litígios entre as partes. Tem
como características a ação, a lide, o processo e o contraditório
ou sua possibilidade. Presume-se que haja um litígio que origina
um processo que produza a coisa julgada.

Em suma, a Jurisdição contenciosa "tem por objetivo a


composição e solução de um litígio." Esse objetivo é alcançado
mediante à aplicação da lei, onde "o juiz outorga a um ou a

30 Em conteúdo e limites do princípio inquisitório na jurisdição voluntária,

87
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

outro dos litigantes o bem da vida disputado, e os efeitos da


sentença adquirem definitivamente, imutabilidade em frente às
partes e seus sucessores (autoridade da coisa julgada material)".

3-Processo de jurisdição voluntária.

A jurisdição voluntária constitui uma das formas de


exercício da atividade jurisdicional, na qual o órgão que a
exerce, fazendo uso da iniciativa probatória que considere
necessária e com recurso a critérios de conveniência e de
oportunidade, tutela interesses privados, com vista à
constituição, formação, eficácia, validade ou extinção de uma
relação ou situação jurídica ou, em determinados casos e perante
circunstâncias supervenientes que o justifiquem, a alterar essa
relação ou situação jurídica. Em face do acabado de mencionar,
para melhor percepção importa fazer menção dos números 1 e 2
art.1409.º do CPC. Esta iniciativa probatória do tribunal não tem
como limites de cognição os factos essenciais, mas a
instrumentalidade do procedimento, a admissibilidade das

petrony, 2017, p.15

88
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

provas, a decisão em tempo razoável, a imparcialidade do


tribunal e a natureza injuntiva de certas normas de tramitação
dos procedimentos de jurisdição voluntária.
"Os poderes instrutórios outorgados ao juiz no processo de
jurisdição voluntária podem, à semelhança do que ocorre na
jurisdição contenciosa, estar ao serviço da descoberta da
verdade formal, mas também podem ser apenas um meio para
obtenção de uma maior eficiência processual. Colocando-o ao
serviço do princípio da eficiência processual, em especial do
princípio da celeridade processual. Pois aqui, o juiz não está
estritamente “ligado” a critérios de legalidade, devendo procurar
adoptaras soluções convenientes e oportunas, tal como consagra
o artigo 1410.º do CPC.

89
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Jurisdição Voluntária Jurisdição contenciosa


Caráter
administrativo. Caráter jurisdicional.
Finalidade: Criação de Finalidade: Atuação do Direito;
situações jurídicas novas. pacificação social.
Existe a substituição da vontade
Existe uma espécie de das partes que, se não
negócio jurídico com a cumprida, pode ser aplicada
participação do Juiz. coercitivamente.
A jurisdição atua a partir de
Não há conflito de uma lide, há conflito de
interesses, não há lide. interesses.
Há interessados. Há partes.
Não existe ação. Presença da ação.
Não há coisa julgada. Há coisa julgada.
Procedimento. Processo.

90
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP III-PRESSUPOSTOS PROCESSUAL.

1- Noção.

Pressupostos processuais são os requisitos que um processo


precisa atender para ser considerado válido e existente. Ou seja;
pressupostos processuais, são as condições necessárias para a
validade de um processo, condições sem as quais o Tribunal (o
Juiz) obsta de conhecer o mérito da causa.
Para uma melhor estruturação e compreensão os
pressupostos processuais são divididos em pressupostos
processuais positivos e pressupostos processuais negativos.

2- Pressupostos processuais positivos.

Como já supra referenciamos, os pressupostos processuais


são as condições de validade do processo, ou seja; para que uma
acção submetida em juízo possa correr os seus tramites normais,
deve-se ter em conta determinados requisitos. Com base a
esquematização entre pressupostos processuais positivos e
negativos, importa salientar que os pressupostos processuais
positivos são os elementos que devam constar do processo para
que o mesmo seja válido, ou seja; a não verificação desses

91
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

elementos no processo levará ao juiz a abster-se de conhecer o


mérito da causa. feitas estas considerações , passaremos a nos
debruçar sobre eles.

a) Personalidade judiciária.

Dispõe o nº 1 do artigo 66.º do C.C que, a personalidade


adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. o nº 1 do
artigo 5.º do CPC, dispõe que, a personalidade judiciária consiste na
susceptibilidade de ser parte. Com o exposto, podemos facilmente
depreender que só poderá fazer parte de um processo quem
tenha personalidade judiciária e esta deriva da personalidade
jurídica. E em muitas situações quando levanta-se a questão da
personalidade jurídica em processo civil no âmbito das pessoas
singulares levanta-se a questão da defesa dos direitos que a lei
atribui ao nascituros, porém, consagra o nº 2 do artigo 66.º do
C.C que; os direitos que a lei consagra aos nascituros depende do seu
nascimento . Daí que não se poderá intentar uma acção com
fundamento a defesa de um direito atribuído a um nascituro,
pois para que tal direito possa ser discutido em juízo depende do
nascimento do mesmo, sob pena de o tribunal não conhecer do

92
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

mérito da causa por verificar a existência de personalidade


jurídica.
No que tange as pessoas colectivas, não se poderá intentar
uma acção contra uma pessoa colectiva, se esta não tiver
personalidade jurídica, pois estas adquirem a personalidade
jurídica pelo reconhecimento, tal como consagra o artigo 158.º
do C.C conjugado com o artigo 8.º do CPC. Sob pena do
tribunal não conhecer do mérito da causa pela inexistência de
personalidade jurídica.

b) Capacidade judiciária.

A capacidade judiciária é também um dos pressupostos


processuais positivo, ela deriva da capacidade jurídica, que nos
termos do artigo 67.º do C.C, dispõe que; as pessoas podem ser
sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposições
legais em contrário: Nisto consiste a sua capacidade jurídica,
aqui importa referenciar que a capacidade jurídica pode
consubstanciar-se na capacidade de gozo ou na capacidade de

93
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

exercício de um direito.31 Mas em sede do processo declarativo


importa salientar que; a capacidade judiciária tem por base e por
medida a capacidade de exercício de direito, tal como dispõe o
nº 2 do artigo 9.º do CPC. Dai que para que determinado sujeito
possa estar por si só em juízo, deve ter capacidade de exercício,
pois esta nos termos do nº 1 do artigo 9.º do CPC, consiste na
susceptibilidade de estar, por si, em juízo. Nisto consiste a
capacidade judiciária e esta é adquirida com a maioridade, que
nos termos da Constituição da República de Angola adquire-se
aos 18 anos de idade, tal como consagrado no seu artigo 24.º
Como o acima exposto, podemos concluir que; a não
verificação deste pressuposto (capacidade judiciária) levará com
que o tribunal (o juiz) não conheça do mérito da causa pela não
verificação de capacidade judiciária que a par dos outros
pressupostos processuais positivos, devia constar do processo.

31- vide noção de capacidade de gozo e capacidade de exercício nas páginas 258
e 259, em Teoria Geral do Direito Civil de Carlos Alberto B. Burity da Silva 2ª
edição 2015.

94
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

c) Legitimidade das partes.

Em relação ao pressuposto da legitimidade, importa


salientar que, é necessário que o autor tenha o direito material
pretendido, em regra, para poder buscá-lo no judiciário. O
autor deve ter uma relação com a pretensão proposta em juízo.
Tal facto não se confunde com a legitimidade ad processum
(para o processo) que é capacidade de está em Juízo.

Caso não esteja preenchido este pressuposto o processo


será nulo, tenha como exemplo o processo cuja tenha como
parte absolutamente incapaz sem a devida representação.
Assim sendo legitimidade Ad Processum é pressuposto
processual, sua ausência gera nulidade do processo, enquanto,
legitimidade Ad Causam é condição da ação sua falta acarreta
a extinção do processo sem resolução de mérito, por carência
da acção.

A legitimidade para a causa (Ad causam), poderá ser de


dois tipos, vejamos:
1. Legitimidade Ordinária: quando a parte
defende ou buscam seu próprio direito, ou seja, é
titular do direito.

95
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2. Legitimidade Extraordinária: é chamada de


Substituição Processual, ocorre quando a lei
autoriza terceiro atuar em nome próprio sobre
direito de outrem em juízo. É o caso de uma
associação defendendo interesse de
consumidores.
 Características da Legitimidade Extraordinária:
 O legitimado extraordinário, não poderá dispor do
direito em disputa, tendo em vista que não pertencem a
ele.

 A legitimação extraordinária decorre exclusivamente da


lei, não havendo previsão legal, não é possível que
terceiro seja legitimado.
Porém, apesar do acima referenciado, importa também
salientar que; a legitimidade pode ser activa ou passiva.
Partes legítimas são as pessoas titulares da relação jurídica
material objeto da demanda. Assim, pode ser o autor quem
atribui a si o direito que pleiteia. Pode ser parte ré aquele a
quem o autor atribui o dever de satisfazer sua pretensão. A
legitimidade – que é uma das condições da ação não se
confunde com o próprio mérito. Ela se restringe a uma análise

96
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

superficial acerca da pessoa que o autor da ação aponta como


devedor da satisfação de sua pretensão e de quem aponta como
titular do direito correspondente à providência judicial que pede,
sendo analisada em tese:

Dessa forma, uma parte é chamada autora porque se


apresenta ao Estado-juiz como detentora do direito que alega,
tendo legitimidade ativa para propor a ação – ou seja, iniciar um
processo – contra o réu, que por ser aquele que, supostamente,
satisfará a pretensão indicada pelo autor, tem legitimidade
passiva para tanto e dessa forma figura no processo como aquele
de quem o autor exige o cumprimento da obrigação a ele
demandada.

Dispõe o artigo 26.º do CPC que:

1. O autor é parte legitima quando tem interesse directo em


demandar; o réu é parte legitima quando tem interesse directo
em contradizer.
2. O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da
procedência da acção; o interesse em contradizer; pelo prejuízo
que dessa procedência advenha.

97
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

3. Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados


titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os
sujeitos da relação material controvertida.

Para terminar a abordagem em relação ao pressuposto da


legitimidade, face ao acima referenciado, importa frisar que a
par dos outros pressupostos processuais positivos, a não
verificação deste, levará também ao não conhecimento do
mérito da causa.

d) Interesse processual.

O interesse de agir é o binômio de necessidade mais


adequação, vejamos:

 Necessidade ou Utilidade da Acção: a prestação


jurisdicional deve ser um meio necessário para a solução
da lide, ou seja, o processo deve ser o mecanismo
necessário e útil para a parte ter seu conflito resolvido.
 Adequação da Acção: O instrumento usado pelo autor
deve ser o adequado. Não cabe o autor impor uma
habeas data para ser solto de uma prisão ilegal, se o
instrumento cabível é habeas corpus, por exemplo.

98
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

É preciso a demonstração de que sem o exercício da


jurisdição, por meio do processo, a pretensão não pode ser
satisfeita.

e) Patrocínio judiciário.

O patrocínio judiciário constitui um elemento fundamental


na concretização do direito a uma tutela jurisdicional efetiva.
Isto porque, deriva da CRA no seu artigo 29.ºcom a epígrafe
acesso ao direito e a tutela jurisdicional efectiva, a CRA no
seu artigo 2.º com a epígrafe Estado Democrático de Direito,
assegura que Angola é um Estado democrático de Direito, assim
sendo; todo e qualquer cidadão deve ter o acesso ao direito e à
justiça, mas dispõe o CPC no seu artigo 33.º se a parte não
constituir Advogado, sendo obrigatório a constituição, o
Tribunal, oficiosamente ou a requerimento da parte
contrária, fá-la-á notificar pra o constituir dentro de prazo
certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância, de não
ter segmento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa. Sendo
o patrocínio judiciário um pressuposto que deve constar do
processo na acção declarativa, vezes há em que uma das parte
não dispõe de meios económicos e/ou financeiros para constituir
um Advogado, e como supra referenciamos poderá advir as

99
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

consequências previstas no artigo 33.º do CPC, sendo Angola


um estado de Direito, o Estado criou mecanismos para que
todos, independentemente de que tenham ou não meios
económicos e/ou financeiros devem ter acesso a justiça. Daí que
o artigo 29.º da Constituição da República de Angola vem
assegurar isso, que aqui devemos conjugar com o Decreto lei
15/95 de 10 de Novembro sobre a Assistência Judiciária. O seu
artigo 1.º com a epígrafe objeto, consagra o seguinte: A
Assistência Judiciária destina-se a providenciar para que a Justiça não
seja denegada a ninguém por insuficiências de meios económicos .

Estando assim assegurada a garantia do pressuposto inerente ao


patrocínio judiciário para todos.

1.2- Pressupostos processuais negativos.

Além dos pressupostos processuais positivos, que devem


estar presentes em cada caso concreto, sob pena de invalidade da
relação jurídica processual, há também os chamados
pressupostos processuais negativos de validade, que se situam
fora da relação jurídica processual que se esteja analisando.
Diferentemente dos pressupostos positivos, que estão vinculados
aos sujeitos do processo, os pressupostos negativos caracterizam-
100
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

se por sua objetividade. A presença desses pressupostos impede


a resolução do mérito — tanto quanto a ausência dos anteriores
também a impede.

Com o acima exposto podemos de forma muito prática


depreender que os pressupostos processuais negativos são
elementos que não devem constar do processo, sob pena de o
tribunal (Juiz) não conhecer do mérito da causa, sendo o mesmo
verificado no processo.

a) Caso julgado.

O coso julgada consiste no fenômeno de natureza


processual pelo qual se torna firme e imutável o comando
sentencial que deve guardar relação de simetria com o pedido
que se tenha formulado na petição inicial. Assim, se A pediu a
condenação de B ao pagamento de indenização por perdas e
danos e obteve sentença de procedência desse pedido, no
momento do trânsito em julgado (quando já não cabem mais
recursos), tal como dispõe o artigo 677.º do CPC, o dispositivo
da sentença em que o juiz afirma julgar procedente o pedido não

101
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

mais pode ser revisto dentro do processo. Trata-se também de


pressuposto processual negativo, pois impede a ré-propositura de
nova acção a respeito da mesma causa de pedir, com o mesmo
pedido, entre as mesmas partes.

Assim dispõe o nº 1 do artigo 49.º do CPC, Repete-se a causa


quando se propõe uma acção idêntica a outra quanto aos sujeitos, o
pedido e a causa de pedir. Neste contesto o tribunal (o Juiz) não
deve conhecer do mérito da causa porque já fez caso julgado, tal
como referenciado no parágrafo anterior, sendo assim um
pressuposto que não deve constar do processo para que se possa
conhecer do mérito da causa.

b) Prescrição.

A prescrição é mais um, dos pressupostos processuais


negativos, aqueles que não devem constar do processo, a
prescrição constitui a extinção do exercício de um direito dentro
de um lapso de tempo, pelo seu não exercício. Ou seja;
Prescrição é a perda de uma pretensão de exigir de alguém um
determinado comportamento; é a perda do direito à pretensão

102
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

em razão do decurso do tempo, entrado o direito em


decadência32. O C.C estabelece os prazos de prescrição.

c) Litispendência.

A citação válida (nº 1 primeira parte do art. 497.º


CPC) “induz a litispendência”, ou seja, determina a existência,
desde aquele exato momento, de processo pendente em juízo. A
partir de tal momento, a mesma ação (entre as mesmas partes e
com pedido e causa de pedir coincidentes) já não pode ser
novamente proposta.

Sob esse aspecto, como pressuposto processual negativo, a


litispendência significa a existência de dois ou mais processos
concomitantemente, com as mesmas partes, o mesmo pedido e
idêntica causa de pedir. O fundamento desse pressuposto

32
- Decadência é a perda de um direito que não foi exercido pelo seu titular no
prazo previsto em lei; é a perda do direito em si, em razão do decurso do
tempo.

103
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

processual negativo está nos princípios da economia processual,


da razoabilidade e da segurança jurídica. E por uma questão de
lógica, estando já um processo em juízo nos moldes acima
referenciado, não é viável que haja um outro processo nos
mesmos termos. E agora sim podemos novamente salientar que
estaria a desrespeitar-se gravemente os princípios da economia
processual, da razoabilidade e da segurança e certeza jurídica.

d) Incompetência.
Antes de nos debruçarmos sobre o pressuposto processual
negativo, incompetência, importa salientar o que é a
competência.
Competência é o conjunto de limites dentro dos quais cada
órgão do judiciário pode exercer legitimamente a função
jurisdicional.
A competência é estabelecida em lei e determina os limites
do poder de julgar. Em suma, é a limitação do exercício da
jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos
jurisdicional. Ou, seja; competência é o limite dentro do qual
juízes e tribunais exercem jurisdição.

104
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Não existindo competência nos termos acima referenciado,


surge a figura da incompetência, pressuposto processual
negativo, que poderá levar com que o Tribunal conheça do
mérito da causa. Dissemos poderá, isto porque; a incompetência
do Tribunal pode ser absoluta ou relativa. Tal como dispõe os
artigos 101.º e 102.º ambos do CPC. Há verificação de
incompetência, absoluta, quando existir violação das regras de
competência33 em razão da matéria, em razão da hierarquia e
das regras sobre competência internacional, tal como consagra o
artigo 101.º do CPC, A incompetência absoluta deve ser alegada
de oficio pelo juiz e pode ser alegada pelas partes em qualquer
tempo e grau de jurisdição, conforme o artigo 102.º do CPC.

Por seu turno, haverá verificação de incompetência


relativa quando houver violação das regras de competências
em razão do valor e do território, tal como dispõe o artigo
108.º do CPC. Dispõe o nº 1 do artigo 109.º que: a
incompetência relativa só pode ser arguida pelo réu e o prazo de
arguição é o fixado para contestação, oposição ou resposta ou, quando
não haja lugar a estas, para outro meio de defesa que lhe seja lícito
deduzir.

105
33 Vide as regras em matéria de competência no artigo 61.º e seguintes do CPC
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP IV- FORMALISMO DO PROCESSO


DECLARATIVO.
Feitas as considerações em torno do capítulo I ao III, ou
seja, após a abordagem inerente as noções gerais, as formas de
processo e os pressupostos processuais, eis o momento de nos
debruçarmos em torno daquilo que é então a tramitação do
processo declarativo. Pois é a partir do IV capítulo que
abordaremos como se desenvolve toda tramitação do processo
declarativo. Importa também salientar que o formalismo do
processo declarativo comporta cinco (5) fases, nomeadamente:
Articulados, audiência preparatória, instrução, audiência
discussão e julgamento, terminando com a sentença.
No quarto capítulo vamos tecer considerações inerentes aos
articulados, no quinto capítulo vamos nos debruçar em torno da
audiência preparatória, no sexto capítulo nos vamos debruçar
em torno da fase de instrução, por último no sétimo capítulo
vamos nos debruçar sobre a audiência de discussão e julgamento
culminando com à última fase que compreende a sentença(
decisão).

106
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

1- Articulados- Noção.

O formalismo e/ou tramitação do processo declarativo


começa com os articulados, dispõe o nº 1 do artigo 151.º do
CPC que: os articulados são as peças em que as partes
expõem os fundamentos da acção e da defesa e formulam os
pedidos correspondentes. O nº 2 do mesmo artigo dispõe que:
Quer nas acçõe, quer nos seus incidentes, quer nos
procedimentos cautelares, é obrigatório à dedução por
articulados os factos susceptíveis de serem levados à
especificação ou ao questionário. Com o expostos podemos
então passar já de seguida a nos debruçarmos sobre cada
articulado possível34 e/ou existente na tramitação do processo
declarativo.

2-Petição inicial. Importância. Conteúdo. Ineptidão da


Petição inicial.

A acção começa sempre com a petição inicial, sem a


petição inicial, não há o exercício do direito de ação. A petição

34
-Dissemos aqui possível, isto porque nem sempre é necessário que se faça
recurso à todas as peças processuais, ou seja Petição inicial, Contestação,
Réplica, Tréplica, Resposta à tréplica ou Articulado superveniente, para que se
profira a decisão.

107
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

inicial consiste no instrumento previsto na legislação processual


de natureza formal, solene e escrita, através do qual o direito de
acção é exercido, provocando o poder judiciário para a obtenção
do processo, tornando-se esse instrumento o primeiro acto do
procedimento.
No que a sua importância diz respeito, importa salientar
que, como já supra referenciamos, sendo a petição inicial o
instrumento processual de natureza formal, solene e escrita,
através do qual o direito de acção é exercido, consegue-se no
imediato depreender qual a sua importância. Noutros termos
estaríamos a dizer que em regra não se poderá intentar
determinada acção sem a petição inicial.
No que ao seu conteúdo diz respeito, dispõe o CPC no seu
artigo 467.º com a epígrafe requisitos da petição inicial, o
seguinte:
1. Na petição com que se propõe a acção, deve o autor:
a) Designar o tribunal onde a acção é proposta e identificar as
partes;
b) Indicar a forma do processo;
c) Expor os factos e as razões de direito que servem de
fundamento à acção;
d) Formular o pedido;
e) Declarar o valor da causa.

108
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

No que a ineptidão da petição diz respeito, Importa


salientar que a petição inicial deve necessariamente conter os
elementos acima referenciados sob pena de a mesma ser
considerada inepta, dispõe o artigo 193.º do CPC que:
1. É nulo todo processo quando for considerada inepta a petição
inicial.
2. Diz-se inepta a petição:
a) Quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da
causa de pedir;
b)Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir;
c)Quando se cumulem pedidos substancialmente incompatíveis.

Não tendo a petição inicial os requisitos constantes nos


números 1 e 2 do artigo 467.º do CPC a mesma será, como já
referimos, tida como inepta e consequentemente sobre ela, será
proferido pelo juiz o despacho de indeferimento nos termos da
alínea a) nº 1 do artigo 474.º do CPC, que para além dos
requisitos acima referenciados para que a petição inicial não seja
considerada inepta, este artigo elenca outras circunstâncias que
poderão culminar com a ineptidão da petição inicial.
Não ocorrendo nenhum dos factos elencados no artigo
474.º do CPC, mas, havendo determinada irregularidade ou a

109
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

petição inicial não se fizer acompanhada de determinado


documento, o juiz ordenará o aperfeiçoamento da mesma nos
termos do artigo 477.º do CPC. É de salientar também que o nº
2 no artigo 467.º dispõe que: a petição não é recebida se não
satisfizer as exigências das leis fiscais.
Estando a petição em conformidade, isto é não havendo
razões para que a mesma seja indeferida ou aperfeiçoada,
ordenar-se–a o despacho de citação ao réu, tal como consagra o
nº 1 do artigo 478.º do CPC.
Importa também salientar que nos termos do nº 1 do artigo
267.º, a instância inicia-se pela proposição da acção e esta
considera-se proposta, intentada ou pendente logo que seja
recebida na secretaria a respectiva petição inicial.
Como já supra referenciado no paragrafo antecedente,
estando a petição inicial em conformidade, o juiz deverá proferir
o despacho de citação para que o réu possa contestar. O réu é
citado nos termos do artigo 480.º do CPC que dispõe o seguinte:
O réu é citado para contestar, sendo advertido no acto da citação de que
a falta de contestação importa a confissão dos factos articulados pelo
autor.

110
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2.1 – Impedimentos e suspeições.

No que aos impedimentos e suspeições dizem respeito,


importa salientar que são institutos jurídicos que têm como
apanágio a salvaguarda da figura da imparcialidade no processo.
Porquanto após o processo ser distribuído ao juiz poderá o
mesmo deparar-se com uma dessas situações.
Existido impedimentos todos os actos praticado no
processo por parte do juiz será considerado nulo.
O impedimento é caracterizado a partir de elementos objetivos,
trazendo casos mais graves e questões de ordem pública, tais
como elencados no artigo 122.º do CPC.
Tendo se verificado alguma situação de impedimento, a lei
impõe ao juiz, e por dever de ofício, declarar-se impedido, tal
como dispõe a primeira parte do nº 1 do artigo123.º do CPC.
Caso o juiz não declare o seu impedimento, as partes poderão
requerer a declaração de impedimento, nos termos da segunda
parte do nº 1 do artigo 123.º do CPC.

No que tange as suspeições, importa frisar o seguinte:


Suspeição é o acto pelo qual o juiz, por sua condição pessoal
(parentesco, por exemplo) ou posicionamento na lide tem a sua

111
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

imparcialidade questionada, prejudicando a sua função de


julgamento e exercício da jurisdição e, consequentemente,
ameaçando os pressupostos processuais.

Dessa maneira, a suspeição do juiz poderá invalidar


determinados actos por ele praticados na lide, justamente pela
possibilidade de que obtenha alguma vantagem (para si ou
outrem), ainda que indiretamente.

Conforme o artigo 126.º CPC, o juiz por si só poderá


declarar a sua suspeição.

Porém em relação as partes, só poderão arguir a suspeição


do juiz com base os fundamentos descrito no artigo 127.º do
CPC, e sempre tendo em observância o prazo previsto no artigo
128.º também do CPC.

112
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

3. Contestação.

Após a propositura da acção em juízo e como já


referenciado, o réu é citado para contestar, importa salientar que
a contestação é uma das peças de resposta do réu, onde ele pode
se defender daquilo que lhe foi imputado, trata-se do meio pelo
qual o réu contrapõe-se aos pedidos formulados na petição
inicial, devendo concentrar todas as manifestações de resistência
à pretensão do autor. O receber uma citação (popularmente
conhecida como intimação), o réu deverá apresentar uma defesa,
chamada de contestação ou resposta do réu. Nos termos do
artigo 480.º do CPC, O réu é citado para contestar, sendo advertido
no acto da citação de que a falta de contestação importa a confissão dos
factos articulados pelo autor35. Porém o CPC estabelece prazo para
apresentação da contestação, nos termos do n 1 do artigo 486 o
prazo para contestar e de 20 dias. Os números 2 e 3 do mesmo
artigo, estabelecem as excepções que possam dilatar o prazo. Se
o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-
se-ão verdadeiras as alegações de facto formuladas pelo autor.

35 - Isto porque em Direito Civil, vigora o princípio da verdade formal.


Diferente ao Direito Penal que vigora o princípio da verdade material, em que o
Tribunal deve necessariamente efectuar diligências para descoberta da verdade
material.

113
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Porém tendo o réu contestado, o mesmo poderá o fazer quer por


excepção ou por impugnação, tal como dispõe o nº 1 do artigo
487.º do CPC. O réu defender-se-á por impugnação, quando
contradiz os factos articulados na petição ou quando afirma que
estes factos não podem produzir o efeito jurídico pretendido
pelo autor. E defender-se-á por exceção, quando alega factos
que obstam à apreciação do mérito da acção ou que, servindo de
causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado
pelo autor, determinam a improcedência total ou parcial do
pedido, tal como consagra o nº 2 do artigo 487.º do CPC.
Todavia dispõe o nº1 do artigo 490.º do CPC que: O réu deve
tomar posição definida perante cada factos articulados na petição;
consideram-se admitidos por acordo os factos que não forem
impugnados especificadamente, salvo se estiverem em manifesta
oposição com a defesa considerada no seu conjunto, ou se não for
admissível confissão sobre eles, ou se só puderem ser provados por
documento escrito. Outrossim é de extrema importância salientar
que ao réu não é Admitido a contestação por negação, isto nos
termos do nº 3 do artigo 490.º do CPC, ou seja; contestando, o
réu deverá ter em observância o disposto no artigo 488.º do CPC
com a epígrafe, elementos da contestação. Isto porque a

114
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

observância dos elementos inerentes a contestação levará com


que a mesma seja devidamente percebida.
Outra situação que pode ser verificada na contestação é o
pedido reconvencional36, no procedimento comum o réu pode,
simultaneamente com a contestação, formular uma pretensão
contra o autor da ação. Ou seja; a reconvenção ocorre quando o
réu processa o autor, no prazo de defesa.

Exemplo: O autor A inicia uma ação de cobrança contra B,


mas B acredita que ele é quem possui o direito de cobrar A,
então em face da ação de cobrança de A, pela reconvenção, B
diz: "Eu não lhe devo, é você quem me deve".

Dispõe o nº 1 do artigo 501.º do CPC, a reconvenção deve ser


deduzida discriminadamente na contestação, expondo-se os fundamentos

36- Reconvenção é um instituto de direito processual, ramo jurídico do


Direito Público, pelo qual o réu formula uma pretensão contra o autor de
uma ação.
 Reconvinte é o réu da ação originária, que passa a ser autor na
reconvenção, na qual ocupa o polo ativo.
 Reconvindo é o autor da ação originária, que passa a ser réu na
reconvenção, na qual ocupa o polo passivo.

115
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

e concluindo-se pelo pedido nos termos das alíneas c) e d) do nº 1 do


artigo 467.º

4.Réplica.

A Réplica é a resposta do autor contraposta à contestação


do réu, ou seja, o autor oferece a petição inicial, o juiz cita o
réu que toma conhecimento e oferece a contestação contra o
autor, o autor oferece contra contestação a defesa via réplica. É
na réplica que o autor analisa a intensidade da controvérsia
ofertada pelo réu na sua resposta (contestação), tal como
consagra o nº1 do artigo 503.º do CPC.

Prazo da manifestação

Assim, no que tange ao prazo para que o autor possa fazer


a apresentação da réplica, dispõe o CPC que:

1. À contestação pode o autor responder na réplica; a réplica


serve também para o autor deduzir toda defesa quanto à
matéria da reconvenção, mas a esta não pode ele opor nova
reconvenção.

116
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2. Nas açções de simples apreciação negativa, a réplica serve para


o autor impugnar os factos constitutivos que o réu tenha
alegado e para alegar os fa ctos impeditivos ou extintivos do
direito invocado pelo réu.

3. A réplica será apresentada dentro de oito dias, a contar


daquele em que for ou se considerar notificada a apresentação
da contestação; o prazo será, porém, de vinte dias, se tiver
havido reconvenção ou se a acção for de simples apreciação.

5.Tréplica. Resposta à tréplica.

A tréplica e a resposta à tréplica, a par dos outros


articulados; acabam por constituir-se como mais um meio de
apresentação de sustentação e/ou dos argumentos apresentados
nos articulados anteriores apresentado pelas partes.
Dispõe o CPC no seu artigo 503.º com a epígrafe
Oferecimento da tréplica que:
1- À replica pode o réu responder por meio de tréplica.
2- A tréplica será apresentada dentro de oito dias depois de findo o
prazo para oferecimento da réplica.

117
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

No que tange à resposta à tréplica importa salientar que,


dispõe o CPC no seu artigo 504.º com a epígrafe Resposta à
tréplica que:

Tendo o réu deduzido algum pedido contra o autor ou tratando-se


de acção de simples apreciação negativa, o autor pode responder, dentro
de oito dias, à tréplica do réu, na parte relativa à matéria da
reconvenção ou dos factos impeditivos ou extintivos do direito invocado
pelo réu.

Importa também salientar que caso houver a apresentação


de todos os articulados supra mencionados, isto porque nem
sempre há necessidade de apresentação de todos articulados
supra mencionados, deve-se ter em atenção que é aplicável a
todos os articulados o disposto no artigo 490.º do CPC, tal como
dispõe o nº 1 do artigo 505.º do CPC.

6.Articulados supervenientes.

Os articulados supervenientes acabam por constituir-se


como uma peça que tanto pode ser apresentada pelo autor ou
pelo réu.
O articulado superveniente, tendo por desiderato permitir
que a sentença venha a corresponder à situação existente no
118
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

momento do encerramento da discussão, serve tão só para


carrear para os autos os factos essenciais. Desde que
tempestivamente apresentado, o articulado superveniente só
poderá ser liminarmente rejeitado pelo Juiz caso a factualidade
nova nele vertida, e obviamente tendo sempre em consideração
as várias soluções plausíveis da questão de direito,
manifestamente nenhum interesse têm para a boa decisão da
causa.

No âmbito do articulado superveniente, e desde que


respeitados os imperativos legais, em nada obsta à alteração
simultânea do pedido e da causa de pedir, apenas sendo de
exigir que o objecto da acção mantenha ainda assim algum nexo
com o pedido inicial e com a originária causa de pedir.
No que tange a esse articulado, dispõe o CPC no seu artigo
506.º que:

1-Os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que


forem supervenientes podem ser deduzidos em articulado posterior ou
em novo articulado, pela parte a quem aproveitem, até ao encerramento
da discussão.

119
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2- Dizem-se supervenientes todos os factos ocorridos posteriormente ao


termo dos prazos marcados nos artigos precedentes como os factos
anteriores de que a parte só tenha conhecimento depois de findarem
esses prazos, devendo neste caso produzir-se prova da superveniência.

3- O novo articulado será oferecido nos dez dias posteriores à data em


que os factos ocorreram ou em que a parte teve conhecimento deles. O
juiz rejeitá-lo-á se for apresentado fora do tempo ou quando for
manifesto que os factos não interessam à boa decisão da causa; se o não
rejeita, notifica-se quanto a esta o disposto no artigo anterior. As provas
são oferecidas com o articulado e com a resposta.

4- Os factos articulados que interessem à decisão da causa são incluídos


na especificação e questionário, se ainda não estiverem elaborados; no
caso contrário, ser-lhe-ão aditados, sem admissibilidade de reclamação
contra o aditamento, mas cabendo, do despacho que o ordenar, agravo
que subirá com o recurso da decisão final.

120
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP V-AUDIÊNCIA PREPARATÓRIA.

1- Audiência preparatória.

Findo a fase dos articulados, procede uma nova fase, isto é;


a fase da audiência preparatória, que no essencial o Juiz deverá
marcar esta audiência no prazo de dez dias. Nela, o Juiz terá
como finalidade procurar conciliar as partes a chegarem a um
acordo, se houver, a ação encerra-se com a sentença de
homologação do acordo. Alguns doutrinadores criticam a
existência desta audiência tão somente para fins conciliatórios,
uma vez que o processo pressupõe litígio, ou seja, pretensão do
autor resistida pelo réu. Porém, é argumento sobremaneira
favorável a esta e outras audiências de conciliação no curso do
processo. A intenção do legislador foi a de se evitar o litígio.
Outrossim, importa salientar que teve-se aqui em consideração
a função pedagógica dos Tribunais bem com o princípio da
celeridade e economia processual.

Sobre esta matéria dispõe o CPC que;

Artigo 508.º Casos de Audiência preparatória.

121
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

1-Findo os articulados, se ao juiz se afigurar possível conhecer, sem


necessidade de mais provas, do pedido ou de algum dos pedidos
principais, ou do pedido reconvencional, designará para dentro de dez
dias uma audiência de discussão.

2-Quando a causa admita transação 37 e as partes residam na comarca,


serão notificadas para, sob pena de multa comparecerem pessoalmente
ou se fazerem representar por Advogado com poderes especiais para
transigir.

3-O juiz pode também marcar audiência para discutir qualquer


exceção.
4-O despacho que marque a audiência há de declarar o seu fim, mas
não constitui caso julgado sobre a possibilidade de conhecimento
imediato do pedido.

Artigo 509.º Ordem dos actos na audiência


1-Aberta a audiência o juiz procurará conciliar as partes, tendo em
vista uma solução de equidade.
2-Se não conseguir a conciliação, dá a palavra ao advogado do autor,
em seguida, ao do réu, quando se trate de discutir o pedido, ou
primeiro ao advogado do réu e depois ao do autor, quando se trate de
discutir excepções ou a acção seja de simples apreciação negativa, o

37
-Vide conceito de transação no artigo 1248 do Código Civil.

122
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

juiz dirigirá a discussão de modos que as questões sejam tratadas pela


ordem por que devem ser resolvidas, podendo cada um dos advogados
usar da palavra duas vezes.
3-A falta de alguma ou de ambas as partes que tenham sido
convocadas não é motivo de adiamento, mesmo que se não tenham feito
representar por advogados com poderes para transigir.
4-A tentativa de conciliação pode ter lugar em qualquer outro estado
do processo, desde que o tribunal a julgue oportuna, mas as partes não
podem ser convocadas, exclusivamente para esse fim, mais que uma
vezes.

2- Despacho saneador.

Despacho Saneador é a expressão usada para


o despacho do juiz que saneia o processo, caso não ocorra o
julgamento antecipado ou a extinção do processo. É nesse
momento que o juiz decide sobre as provas a serem produzidas e
marca a audiência de conciliação e julgamento. Sanear é
limpar, enxugar eventuais vícios processuais que possam vir a
obstruir ou até mesmo impedir o julgamento do mérito;
organizar o processo, mutatis mutandis, é delimitar as questões
fáticas e jurídicas, decidindo como recairá a atividade probatória
e balizar como será a distribuição do ônus da prova.
Ponto processual é qualquer afirmação feita por uma das partes,

123
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

num processo judicial. Já o ponto controvertido, conhecido


também como questão controvertida, é qualquer afirmação
impugnada, ou seja, é toda ação feita pelo autor e impugnada
pelo réu e vice-versa.
Em relação ao Despacho Saneador, dispõe o CPC que:

Artigo 510.º Despacho Saneador.


1-Realizada a audiência ou logo que findem os articulados, se a ela não
houver lugar, é proferido dentro de quinze dias despacho saneador, para
os seguintes fins:
. Conhecer pela ordem designada no artigo288,º das excepções que
podem conduzir à absolvição da instância, assim como das nulidades,
ainda que não tenham por efeito anular todo processo;

. Decidir se procede alguma exceção peremptória;

. Conhecer diretamente do pedido, se a questão de mérito for


unicamente de direito e puder já ser decidida com a necessária
segurança, ou se, sendo a questão de direito e de facto, ou só de facto, o
processo contiver todos os elementos para uma decisão conscienciosa.

2-A questão a que se refere a alínea a) do nº anterior só podem deixar de


ser resolvidas no despacho se o estado do processo impossibilitar o juiz
de se pronunciar sobre elas, devendo neste caso justificar a sua
abstenção.

124
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

3-As questões a que se refere a alínea b) do nº 1 devem ser decididas


sempre que o processo forneça os elementos indispensáveis, nos termos
declarados na alínea c).

4-Quando julgue procedente alguma exceção peremptória ou quando


conheça diretamente do pedido, o despacho fica tendo, para todos
efeitos, o valor de uma sentença e como tal é designado.

3- Especificação e Questionário.

Finda a audiência preparatória, é logo passada à fase do


despacho saneador para os fins a que se destinem e devidamente
referenciado no ponto anterior. Não tendo havido um despacho
que ponha fim ao processo38, urge a necessidade de organização
da especificação e do questionário.
Na especificação, constará todos os fatos já provados na
fase de apresentação dos articulados39 e no questionário hão de
constar os quesitos40 para que em sede de instrução, isto é, a
fase que sucede após a audiência preparatória, estes factos sejam
tidos como provados ou não provados.

38 -Designado por saneador sentença


39- Vide noção de articulados no artigo 151º do CPC
40 - Quesitos são factos por se provar, ou seja; são perguntas levadas ao

questionário para que sejam tidas como provadas ou não provadas.

125
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Feitas essas considerações, passaremos de imediato a tecer


considerações em relação a fase de instrução.

126
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP VI- INSTRUÇÃO.

1- Noções gerais.

Em linhas gerais, importa salientar que a fase de instrução, é no


essencial a fase de produção de provas. É nesta fase em que os
intervenientes do processo hão de efectuar diligências
complementares no sentido de apresentarem provas em relação
aos factos constantes no questionário.

2- Prova.

No que tange a prova, importa salientar que; é todo


elemento pelo qual se procura mostrar a existência e a
veracidade de um facto. Sua finalidade, no processo, é
influenciar no convencimento do julgador. A prova é também
todo meio legal, bem como os meios moralmente legítimos,
que tem a finalidade de provar a verdade dos fatos, seja na
propositura da ação pelo autor, seja na defesa pelo réu. Ela tem
como função a demonstração da realidade dos factos, tal como o
artigo 341.º do C.C refere-se. Nas palavras do professor
Carnelutti, “a prova em seu sentido jurídico consiste na demonstração
da verdade formal dos fatos discutidos, mediante procedimentos

127
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

determinados, ou seja, através de meios legítimos”. Todavia, há muito


que se diga em relação a mesma. Isto porque; existem
diversidades de meios de prova e para tal, é necessário que
abordemos a matéria inerente as provas de forma separada, ou
seja; tratar das provas segundo a cada especificidade de prova,
para que posamos ter melhor compreensão.

3- Objecto da prova.

No que o objeto da prova diz respeito é de extrema


importância salientar que: Salvo determinadas excepções, só
deve ser objeto de prova, toda circunstância, alegação ou facto
referente ao processo sobre os quais pesa incerteza e que
precisam ser demonstrados perante o juiz para o deslinde do
processo. São as afirmações que devem ser provadas. Dispõe o
artigo 513º do CPC que:
Sem prejuízo do disposto no artigo 520º, as diligências destinadas a
produção de provas só podem recair sobre factos constantes do
questionário, salva a faculdade de requerer exames em documentos
juntos ao processo ou depositados na secretaria.

128
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

4- Classificação da prova

No que a sua classificação diz respeito, é imperioso dizer


que: As provas podem ser destacadas de acordo com o objeto,
sendo distinguidas entre diretas e indiretas, sendo as primeiras
àquelas que possuem relação imediata com o facto, ou seja, que
por si só já constituem uma ligação instantânea com o objeto
controverso, diferente das provas indiretas, as quais consistem
em factos diversos do litígio, que, no entanto podem chegar a
matéria litigiosa através de raciocínio e uma construção lógica.
Como exemplo de prova direta, pode-se citar um recibo de
quitação, uma prova documental cuja proximidade com o facto
controverso é palpável. A prova indireta é, por exemplo, uma
perícia sobre a qual exige do juiz raciocínio e interpretação para
ligar a circunstância relacionada ao facto probante, através dos
indícios observados. Ao que se refere o sujeito da prova, esta
pode ser pessoal, proveniente de uma declaração pessoal
exercida por um sujeito do processo, podendo-se exemplificar a
prova testemunhal. Outra forma é a prova real, estabelecida
através de exames sobre coisas ou pessoas, tal qual a perícia.

129
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

5- Direito probatório material V direito probatório


formal.

O direito probatório é um conjunto de normas que regulam


a prova dos factos que interessam à decisão da causa,
encontrando-se tanto no CC, quanto no CPC. O direito
probatório formal (normas reguladoras de provas) diz respeito
ao modo de produção das provas em juízo, determinando os
actos a praticar para a sua utilização. O direito probatório formal
é um conjunto de normas adjectivas que regulam a actividade
probatória, o modo como se apresentam, atuam e se
desenvolvem os diferentes meios de prova e sua tramitação.
Constando do CPC o seu aspecto formal, dos artigos 513.º e
seguintes. O direito probatório material, são as normas
substantivas que regulam o ônus da prova, a Admissibilidade
dos meios de prova e a sua força ou valor, constando dos arts
341º-392º e seguintes do CC.

130
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

6- Ónus da prova.

O ônus da prova consiste na conduta processual exigida pela


parte para que a verdade dos factos por ela arrolados seja
admitida pelo juiz. Ou seja, ambas as partes tem a opção de
provar o fato alegado, porém, escolhendo não prová-los, o
litigante assume o risco de não obter um resultado positivo do
juiz perante a sua causa. Isto decorre da máxima antiga que diz
que facto alegado e não provado é o mesmo que facto
inexistente. Ao autor incumbe o ônus de provar o fato
constitutivo do seu direito e ao réu cabe o ônus de provar fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito que pretenda
ser seu.

Dispõe o artigo 342.º do C.C que:

1- Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos


constitutivos do direito alegado.

2- A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do


direito invocado compete àquele contra quem a invocação é
feita.

131
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

3- Em caso de dúvidas, os factos devem der considerados


constitutivos do direito.

Sendo assim, quando o réu contestar a alegação do autor,


somente negando o fato pretendido por ele, cabe ao autor o
ônus de provar a veracidade de seus fatos alegados, sob pena
de não convencer o juiz que o pretendido direito é seu, ou seja,
perder a causa. Entretanto, se o réu contestar alegando facto
modificativo, extintivo ou impeditivo de direito, o ônus da
prova é seu, já que nestes casos o próprio réu assume,
implicitamente, que as alegações do autor são verdadeiras, ou
seja, os fatos alegados por ele são incontroversos, dispensando,
portanto qualquer prova.

Todavia, existem situações que funcionam de forma diferente,


por serem situações especiais. Por isso dispõe o artigo 343.º do
C.C com a epígrafe ônus de prova em casos especiais, o
seguinte:

1-Nas acçõe de simples apreciação ou declaração negativa, compete ao


réu a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga.

132
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-Nas acções que devam ser propostas dentro de certo prazo a contar
da data em que o autor teve conhecimento de determinado facto, cabe
ao réu a prova de o prazo ter já decorrido, salvo se outra for a
resolução especialmente consignada na lei.

3-Se o direito invocado pelo autor estiver sujeito a condição suspensiva


ou a termo inicial, cabe-lhe a prova de que a condição se verificou ou o
termo se venceu; se o direito estiver sujeito a condição resolutiva ou a
termo final, cabe ao réu provar a verificação da condição ou o
vencimento do prazo.

7- Inversão do ónus da prova.

No que tange a inversão do ônus da prova, importa tecer as


seguintes considerações:
Inversão do ônus da prova é um instituto do direito que
determina que a prova de uma situação alegada deve ser feita
por quem está sendo processado.

8- Admissibilidade dos meios de prova.

O Código trata, de forma especificada, de algumas espécies de


provas. São denominadas provas tipificadas. O rol não é
exaustivo, considerando que são admitidas, também, as provas

133
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

moralmente legítimas. Não há nenhuma graduação entre as


provas em espécie. O juiz poderá valer-se de qualquer meio
típico de prova, desde que seja suficiente para formar seu
convencimento acerca da existência ou não do facto afirmado
em juízo. Todavia, dispõe o artigo 513.º do CPC, que:
Sem prejuízo do disposto no artigo 520.º; as diligências destinadas
à produção de provas só podem recair sobre os factos constantes do
questionário, salva a faculdade de requerer exame em documentos
juntos ao processo ou depositados na secretaria.
Outrossim, importa também salientar, que; não obstante o
acima exposto, dispõe o artigo 515.º do CPC, que:

O tribunal deve tomar em consideração todas as provas


produzidas, tenham ou não emanada da parte que devia produzi-las,41
sem prejuízo das disposições que declarem irrelevante a alegação de
um facto quando não seja feita por certo interessado. Porém, existem
factos que não carecem de alegação ou de prova, isto por
serem factos do conhecimento geral. Por isso dispõe o artigo
514.º do CPC o seguinte:

1-Não carecem de prova nem de alegação os factos notórios, devendo


considerar-se como tais os factos que são do conhecimento geral.

134
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-Também não carecem de alegação os factos de que o tribunal tem


conhecimento por virtude do exercício das suas funções; quando o
tribunal se socorra destes factos, deve fazer juntar documento que os
comprove.

Importa também salientar que; se uma das parte requerer


determinada diligência para produção de determinada prova,
esta não poderá desistir da mesma sem a anuência da parte
contrária. Tal como dispõe o artigo 571.º do CPC. Porém
atendendo o princípio do contraditório, todas as provas
apresentadas, só serão admitidas e produzidas em audiência,
quando houver audiência contraditória da parte a quem hajam de
ser oposta. Tal como dispõe o nº 1 do artigo 517.º do CPC.

9- Valor dos diversos meios de prova.

No que concerne ao valor dos diversos meios de prova


existentes em processo civil, importa salientar que; as provas
constituem fundamentos indispensáveis no processo civil, pelo
qual se baseia qualquer decisão judicial nos dias atuais. Com a
sua ausência, qualquer decisão pode ter sua validade

41- Aqui em homenagem ao princípio da aquisição processual e/ou princípio


da comunhão das provas.

135
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

questionada. Visto que estaria divergindo do sistema jurídico


contemporâneo. A prova possui um papel fundamental no
processo civil, seja por ratificar um direito alegado, ou até
mesmo por acelerar a prestação jurisdicional de acordo com a
qualidade da prova produzida, pois por meio dela pode-se emitir
um juízo de certeza ou um “juízo de probabilidade”. Daí que;
cada prova possui seu valor, por isso as provas deverão ser
atendíveis mediante um critério de valoração.

Toda prova possui como características o objeto (os fatos


que desejam certificar), a finalidade (convicção sobre
determinada alegação), o destinatário (o magistrado que julgará
a causa) e os meios (espécies de provas para constatar o fato).

Ao juiz lhe é outorgado a função de dizer o direito, julgar a


causa, proferir uma decisão que ponha fim a lide, ou seja,
aplicar a lei ao caso concreto que lhe foi apresentado. Contudo,
para o justo julgamento do mérito, deve o magistrado adequar os
fatos a alguma situação amparada pela lei, mediante seu
conhecimento, sua experiência, sua interpretação e suas
convicções. A convicção judicial é formulada por meio do

136
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

exame das provas apresentadas em juízo e que devam ser


devidamente valoradas.

10- Graduação do valor das provas.

No que tange a graduação do valor das provas submetidas


em juízo, importa salientar que acaba por constituir um
exercício de extrema importância que deve ser levado acabo
pelo juiz. Porque é com base essa atividade de valoração das
provas apresentadas e produzidas que o juíz poderá proferir uma
decisão conscienciosa. Por esta razão a actividade de analise e
valoração de provas pressupõe uma grande capacidade de
cognição por parte do julgador. Para entregar a tutela de
direito para quem tem razão, o juiz precisa conhecer dos
fatos trazidos pelas partes, realizando uma atividade de
cognição, “que é um ato de inteligência, consistente em
considerar, analisar e valorar as alegações e as provas
produzidas pelas partes42. Nesse juízo de inteligência, o
magistrado busca a certeza da verdade, função principal do
processo, usando da verossimilhança (o fato precisa ter uma
aparência de verdade), para que se dê qualidade à justiça

42
WATANABE, Kazuo. Da Cognição no processo civil. 2. Ed. Campinas:
Bookseller, 2000p.41.

137
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

ofertada pelo Estado. Por outra dispõe o nº 3 do artigo 264.º do


CPC que; O juiz tem o poder de realizar ou ordenar
oficiosamente as diligências que considere necessárias para o
apuramento da verdade, quanto aos factos que lhe é lícito
conhecer. A par do artigo acabado de mencionar podemos

também elencar o disposto na primeira parte do artigo 266.º do


mesmo diploma que dispõe o seguinte: Cumpre ao juiz remover os
obstáculos que se oponha ao andamento regular da causa, quer
recusando o que for impertinente ou meramente dilatório ... No
processo, as regras sobre prova não regulam apenas os meios de
que o juiz pode servir-se para descobrir a verdade, mas traçam
limites à atividade probatória, resguardando a intimidade, o
silêncio, ou ainda condicionando a eficácia do meio probatório à
adoção de certas formalidades, sobre isto podemos encontrar as
regras contidas no artigo 513.º à 522.º do CPC .

Ainda na senda da graduação do valor das provas a


doutrina classifica-as também da seguinte forma no sentido de
ajudar a valorá-las.

138
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

a)Prova bastante.
No que a este tipo de prova diz respeito, importa salientar
que: A impugnação da prova com este valor basta-se com a
contraprova, ou seja, a colocação em dúvida da veracidade do
facto, tal como dispõe o artigo 346º do C.C “ ...., à prova que
for produzida pela parte sobre quem recaí o ónus
probatório pode a parte contrária opor contra prova a
respeito dos mesmos factos, destinados a torná-los
duvidosos; se o conseguir, é a questão decidida contra a
parte onerada com a prova”

b) Prova plena.
Diferente do que acontece na prova bastante, nesta (prova
plena) a sua impugnação só pode ser obtida mediante prova em
contrário, ou seja; através da demonstração da não veracidade
dos factos, tal como dispõe o artigo 347.º do C.C “ A prova legal
plena só pode ser contrariada por meio de prova que mostre não ser
verdadeiro o facto que dela for objeto, sem prejuízo de outras restrições
especialmente determinadas na lei” .

139
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

c) Prova Pleníssima.
Contrariamente ao que acontece na prova bastante e na
plena, esta (prova pleníssima) não admite contraprova nem
prova em contrário, aqui estão contidas as presunções inelidíveis
(350º/2 in fine e 372º/ 1 C.C). Mas a contraparte pode impugnar
qualquer que seja o tipo de presunção, a prova do facto
probatório e assim, embora sem ilidir a presunção, impugnar,
mesmo por contraprova a sua base (ex: presunção de má fé do
terceiro que adquiriu o direito após o registo da acção
de simulação 243º/3 C.C não pode ser ilidida, mas o interessado
pode provar que adquiriu antes desse registo e com isso,
impugnar a própria base da presunção e obstar o seu
funcionamento)

11- Procedimentos probatórios. Esquema geral/ regime.

A doutrina confirma que são previstas determinadas


etapas, em ordem cronológica, para a realização da prova em
juízo, conducentes a descoberta da verdade formal. Assim;
quando falamos em procedimentos probatórios, estamos a
referir-nos sobre os meios e/ou formas pelos quais os
intervenientes processuais deverão utilizar, no sentido de

140
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

chegar-se à descoberta da verdade formal. Significa que todos


actos e procedimentos a serem observados no âmbito da
produção de prova conducentes a descoberta da verdade
formal, devem, necessariamente ter em obediência critérios de
legalidade, sob pena de as mesmas (provas) não serem
admitidas.

12- Prova por presunções.

No que tange a prova por presunção, importa salientar o


seguinte: dispõe o artigo 349º do C.C que: Presunções são ilações
que a lei ou o julgador tira de um facto conhecido para chegar a um
facto desconhecido. Importa também salientar que e elas (as
presunções) podem ser legais ou judiciais, tal como dispõem os
artigos 350º e 351º, ambos do C.C que passamos a citar:

Artigo 350º ( Presunções legais )

1- Quem tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a


que ela conduz.

2-As presunções legais podem, todavia, ser ilididas mediante prova em


contrário, excepto nos casos em que a lei proibir.
Artigo 351 ( Presunções judiciais )

141
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

As presunções judiciais só são admitidas nos casos e termos em que


admitida prova testemunhal.

Usada na operação denominada prova indireta, a presunção


é a consequência ou ilação que se tira de um facto conhecido
(provado) para deduzir a existência de outro, não conhecido,
mas que se quer provar. As presunções às vezes são adotadas
por regra legal (presunções legais)43; outras são estabelecidas na
experiência da vida e, por isso, presunções do homem. As
presunções comuns se inserem na instrução probatória por obra
das partes e do juiz (presunção judicial), quando não se
consegue prova direta do fato litigioso. Em suma a presunção é
um recurso cognitivo da comunicação, ciência e do direito que
assume especial relevância no Direito Civil, onde desempenha
um papel fulcral na prova designadamente de factos psíquicos,
volitivos e cognitivos.

Ao contrário da doutrina clássica que subalternizava a


eficácia da presunção, esta pode sustentar por si só o
convencimento judicial, salvo nos limitados casos em que a lei

43 - Vide artigo 351º do C.C para saber em que circunstância é admitida.

142
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

impede a sua utilização. Salvaguardadas estas situações, a


presunção não é hierarquicamente inferior aos meios de prova
comuns.

13- Prova por documentos.

No que tange as provas documentais importa salientar que


é um tipo de prova que resulta de documento, mas para melhor
percepção importa antes de mais sabermos o que são
documentos. O C.C angolano dispõe o seguinte:

Artigo 362º Noção

Prova documental é a que resulta de documento; diz-se documento


qualquer objeto elaborado pelo homem com o fim de produzir ou
representar uma pessoa, coisa ou facto.

Importa salientar também que no que tange aos


documentos escritos o artigo 361º do C.C dispõe o seguinte:

Artigo 361º Modalidade dos documentos escritos

1-Os documentos escritos podem ser autênticos 44 ou particulares45.

44 - Vide noção de documento autêntico no artigo 369º do C. C


45 - Vide noção de documento particular no artigo 373º do C.C

143
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-Autênticos são os documentos exarados, com as formalidades legais,


pelas autoridades públicas nos limites das suas competências ou, ou
dentro do circulo de atividade que lhe é atribuído, pelo notário ou por
outro oficial público provido de fé pública; todos os outros documentos
são particulares.
3-Os documentos particulares são havidos por autenticados, quando
confirmados pelas partes, perante o notário, nos termos prescritos nas
leis notariais.

Ainda no âmbito dos documentos autênticos importa tecer


as seguintes considerações: No que concerne a sua força
probatória o C.C dispõe o seguinte:

Artigo 371º Força Probatória

1-Os documentos autênticos fazem prova plena de factos que referem


como praticados pela autoridade ou oficial público respectivo, assim
como dos factos que nele são atestados com base nas percepções da
entidade de entidade documentadora, os mero juízos pessoais do
documentador só valem como elemento sujeitos a livre apreciação do
julgador.
2-Se o documento contiver palavras emendadas truncadas ou escritas
sobre rasuras ou entrelinhas, sem a devida ressalva, determinará o

144
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

julgador livremente a medida em que os vícios externos do documento


excluem ou reduzem a sua força probatória.
Face ao supra exporto em relação a força probatória dos
documentos autênticos a sua força probatória só poderá ser
posta em causa e/ou afastada, mediante incidente de falsidade.
Sobre isto o C.C dispõe o seguinte:
Artigo 372º Falsidade

1-A força probatória dos documentos autênticos só pode ser ilidida com
base na sua falsidade.

2-O documento é falso quando nele se atesta como tendo sido objeto da
percepção da autoridade ou oficial público qualquer facto que na
realidade se não verificou, ou como tendo sido praticado pela entidade
responsável qualquer acto que na realidade o não foi.
3-Se a falsidade for evidente em face dos sinais exteriores do documento,
pode o tribunal, oficiosamente, declará-lo falso.

No que tange a força probatória dos documentos


particulares, o C.C dispõe o seguinte:

Artigo 373º Assinatura

1-Os documentos particulares devem ser assinados pelo seu autor, ou


por outrem a seu rogo, se o rogante não souber ou não puder assinar.

145
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-Nos títulos emitidos em grande número ou nos demais casos em que o


uso o admita, pode a assinatura ser substituída por simples reprodução
mecânica

3-Se o documento for subscrito por pessoa que não saiba ou não possa
ler, a subscrição só obriga quando feita ou confirmada por notário,
depois de lido o documento ao subscritor.

4-O rogo deve ser igualmente dado ou confirmado perante notário,


depois de lido o documento ao rogante.

Em relação a este tipo de prova e no que tange ao ritual do


processo declarativo, o CPC no seu artigo 523º dispõe o
seguinte:
Artigo 523º Momento da apresentação

1-Os documentos destinados a fazer prova dos fundamentos da acção ou


da defesa devem ser apresentados com o articulado em que se aleguem
os factos correspondentes.

2-Se não forem apresentados com o articulado respectivo, os documentos


podem ser apresentados até ao momento da discussão em 1ª instância,
mas a parte será condenada em multa, excepto se provar que os não
pôde oferecer com o articulado.

146
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Não obstante o supra referenciado em relação ao exposto


no artigo 523.º, importa salientar que a última parte do número 2
do referido artigo vem salvaguardar os caso previstos no artigo
146º do CPC, isto é; existindo questões de justo impedimento.

14- Prova por confissão.

No que a este meio de prova diz respeito, importa tecer as


seguintes considerações:
Nos termos do artigo 352.º do C.C, a confissão que a parte faz
da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte
contrária. A confissão pode ser judicial ou extrajudicial, tal como
dispões o artigo 355.º do C.C, o referido artigo nos seus
números seguintes estabelece quando é que se verifica uma
confissão judicial e quando é que se verifica uma confissão
extrajudicial. Porém estabelece também o C.C, no seu artigo
353.º com a epígrafe capacidade e legitimidade, o seguinte:

Artigo 353.º
1-A confissão só é eficaz quando feita por pessoa com capacidade e poder
para dispor do direito a que o facto confessado se refira.

147
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-A confissão feita pelo litisconsórcio é eficaz, se o litisconsórcio for


voluntário46, embora o seu efeito se restrinja ao interesse do confitente;
mas não o é se o litisconsórcio for necessário47.

3-A confissão feita por um substituto processual não é eficaz contra o


substituído.

Porém, importa salientar que: A confissão ocorre quando


uma das partes concorda com os fatos alegados pela parte
contrária, admitindo-os como verdadeiros, logo, não se trata do
reconhecimento da pretensão da parte contrária, mas sim o
reconhecimento da veracidade dos fatos arrolados.

Estabelece o CPC no seu artigo 552.º que:

Quando se requeira o depoimento de parte, devem ser


discriminadamente indicados os factos sobre que há de
recair, sob pena de não ser admitido. Todavia, o depoimento
de parte não pode ser exigido de pessoas que não tenham
capacidade judiciária, tal como dispõe o nº 1 do artigo 553.º do

46 - Vide noção de litisconsórcio voluntário no artigo 27.º do CPC


47 - Vide noção de litisconsórcio necessário no artigo 28.º do CPC

148
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CPC. O artigo 554.º do CPC estabelece os factos sobre os


quais podem recair os depoimentos.

Artigo 554.º

1-O depoimento de parte só pode ter por objeto factos pessoais ou de


que o depoente deva ter conhecimento.

2-Não é, porém, admissível depoimento sobre factos criminosos ou


torpes, de que a parte seja arguida.

Antes de prestar o depoimento o confitente deve ser


submetido a prestação de juramento os termos do artigo 559.º
que passamos a citar:

Artigo 559.º

1-Antes de começar o depoimento o tribunal fará sertir ao depoente a


importância moral do juramento que vai prestar e o dever de ser fiel à
verdade, advertindo-o ainda das sansões aplicáveis às falsas
declarações.

149
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

2-Em seguida, o tribunal exigira que o depoente preste o seguinte


juramento: «Juro perante Deus que hei-de dizer toda verdade e só a
verdade » se o depoente declarar que prefere o compromisso de honra ,
a fórmula do julgamento é esta: « Juro pela minha honra que hei-de
dizer toda verdade e só a verdade»

A confissão não pode ser confundida com a figura do


reconhecimento da procedência do pedido, que é causa de
extinção do processo, com resolução de mérito. É, portanto,
um meio de prova, como os demais, que tem como objetivo
convencer o juiz dos fatos controversos na lide. E que pode ser
julgada a favor do confitente, basta que este fato confessado
não seja suficiente para o acolhimento do pedido da parte
contrária. Para que ocorra a confissão, basta que nela contenha
“o reconhecimento de um facto alegado por outra parte; a
voluntariedade desse reconhecimento e um prejuízo para o
confitente, em decorrência do reconhecimento.

O doutrinador Humberto Theodoro Jr, considera que a


confissão tem dois elementos, o elemento subjetivo, que é a
vontade de confessar do confitente, ou seja, a intenção de
reconhecer a veracidade do fato alegado pela parte contrária, e

150
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

o elemento objetivo, que é o facto litigioso reconhecido


prejudicando o confitente. A confissão é apenas um ônus, ou
seja, uma opção aos litigantes, ninguém é obrigado a confessar,
entretanto, ambas as partes tem o dever de contribuição para a
verdade. Sendo assim, se alguém for intimado a depor, será
obrigado a responder às indagações do juiz.

15- Prova pericial.

No que a prova pericial diz respeito, importa salientar que:


o artigo 388.º do C.C dispõe que:

Artigo 388.º ( Objecto )


A prova pericial tem por fim a percepção ou apreciação de factos
por meio de peritos, quando sejam necessários conhecimento especiais
que os julgadores não possuem, ou quando os factos relativos a pessoas
não devam ser objeto de inspeção judicial.
No que a força probatória da prova pericial diz respeito, o
C.C dispõe o seguinte:
Artigo 389.º ( Força probatória )
A força probatória das respostas dos peritos é fixada livremente pelo
tribunal.

151
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

O CPC estabelece que a prova pericial pode consistir em


exame, vistoria ou avaliação. Assim o artigo 568 do CPC dispõe
o seguinte:
Artigo 568.º ( Noção )

1.A prova pericial faz-se mediante arbitramento, que pode consistir em


exame, vistoria ou avaliação.

2 . Os exames e vistorias têm por fim a averiguação, feita por peritos, de


factos que tenham deixado vestígios ou sejam susceptíveis de inspecção
ou exame ocular: Se a averiguação recai sobre coisas móveis ou pessoas,
diz-se exame; se recai sobre imóveis, tem o nome de vistoria.

3-A avaliação tem por fim a determinação do valor dos bens ou direito.

A prova pericial auxilia o juiz a verificar a veracidade do


facto através de uma análise específica do caso concreto. Isto
ocorre porque o juiz não dispõe de conhecimentos universais
para examinar todos os fatos apresentados em juízo, portanto, é
necessário que ele busque o auxílio de determinados
profissionais que são técnicos no assunto, como por exemplo,
médicos, quer sejam; dentistas, veterinários, engenheiros,
etc.etc.

152
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

A prova pericial é considerada prova especial porque,


somente será admitida quando a apuração do facto litigioso não
se puder fazer pelos meios ordinários de convencimento.
portanto, somente poderá ocorrer perícia quando o exame do
facto jurídico depender exclusivamente de conhecimento
técnico específico.

Como já mencionado anteriormente, o profissional


escolhido pelo juiz é denominado perito, que tem a única
função de auxiliar o juiz.

Após a notificação do disposto no artigo 512.º do CPC, as


partes têm cinco dias para requerer o arbitramento por meio de
exames, tal como consagra o artigo 570.º do CPC.

Artigo 570.º ( quando podem ser requeridos )

1.O arbitramento por meio de exame ou vistoria e a exibição, por


inteiro, dos livros de escrituração 48 podem ser requisitados ser
requisitados nos cinco dias seguintes à notificação a que se referre o
artigo 512.º.

2.Porém, se posteriormente forem juntos documentos particulares e a


parte contrária impugnar a sua letra ou assinatura ou declarar que as

48- Livros de escrituração, são os documentos onde constam os bens a serem


avaliados.

153
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

não aceita como verdadeiras, o exame para convencer da sua


veracidade pode ser requerido nos cinco dias seguintes a esta
declaração ou ao conhecimento dela pela parte que apresentou os
documentos.

É também de estrema importância salientar que a parte


que requereu a diligência não pode desistir dela sem anuência
da parte contrária, tal como consagra o artigo 571.º do CPC.
Outrossim, importa salientar que após a apresentação do
requerimento do disposto no artigo 570.º do CPC deve-se
observar o disposto no artigo 572.º do CPC que passamos a
citar:

Artigo 572.º ( Formulação de quesitos )

1.Com o requerimento do exame ou vistoria, a parte apresentará, sob


pena de indeferimento, os quesitos a que os peritos hão de responder.

2.Se entender que a diligência não é impertinente ou dilatória, o juiz


mandará notificar a parte contrária para apresentar os seus quesitos.

3. Se o exame ou vistoria for ordenado oficiosamente 49, os quesitos do


juiz serão formulados no despacho que ordenar a diligência e as partes
serão notificadas para apresentar os seus.

49
- Entenda-se aqui que quando ordena-se o exame ou vistoria de forma
oficiosa, ou seja; ordenado pelo tribunal, tem-se aqui homenagem ao princípio
do inquisitório vertido no artigo 266.º do CPC.

154
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

4.O juiz pode formular os quesitos complementares que julgue


conveniente, até ao acto da inspecção.

Em face do exposto no artigo 572.º do CPC, importa


salientar que, cada parte pode formular quesitos não só sobre
os factos que articulou, mas também sobre os articulados pela
parte contrária, tal como consagra o artigo 573.º do CPC.

Nos termos do nº 3 do artigo 595.º do CPC, o laudo


pericial deverá conter as conclusões que o perito constatou a
partir de seu trabalho, e deverá depositá-lo no cartório antes da
audiência de instrução e julgamento. Porém se o perito não
entregar o laudo até a audiência, ela poderá ficar suspensa. O
laudo pericial relata as conclusões do perito a partir do facto
litigioso, ele é válido por suas informações e não pelo
profissional que subscreveu, portanto, o perito deverá mostrar
ao juiz as razões pela qual chegou a tais conclusões.

O perito é nada mais que um auxiliar do juiz e não um


substituto dele na apreciação do evento probando. Sendo
assim, o seu laudo não é uma sentença, é apenas uma peça
auxiliar do juiz para que ele possa sentenciar. Desta forma,

155
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

concluímos que o laudo pericial é opinativo, sendo assim, o


juiz poderá discordar em duas situações:

a) Quando carecer de fundamentação lógica, ou seja, se o


perito não informar nem ao juiz e nem às partes os motivos
pelos quais chegou à determinada conclusão, seu lado é
considerado invalido.

b) Quando outros elementos de prova auxiliarem o juiz a


chegar a determinada conclusão visto que a perícia não é
hierarquicamente superior as demais provas, e o juiz não está
vinculado às conclusões do perito para proferir qualquer
decisão.

16- Prova testemunhal.

A prova testemunhal consiste na declaração, em juízo, de


uma pessoa diversa das partes do processo, que tenha
presenciado (por meio da visão ou audição) no passado, algum
facto relevante sobre a questão a ser decida no processo em que
depõe. Nos termos do artigo 392.º do C.C, A prova por
testemunhas é admitida em todos os casos em que não seja directa ou

156
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

indirectamente afastada. Porém no que tange a sua força


probatória o C.C dispõe o seguinte:

Artigo 396.º C.C ( Força probatória )


A força probatória dos depoimentos das testemunhas é apreciada
livremente pelo tribunal.

A prova testemunhal pode ser indeferida pelo juiz quando o


objeto do depoimento já houver sido provado por confissão da
parte ou por meio de documentos, tal como dispõe o nº 2 do
artigo 393.º do C.C ou quando o depoimento da testemunha não
puder comprovar o facto em si, aqui podemos ter como exemplo
os casos previstos no nº 1 do artigo 393.º do C. C.

No que tange as pessoas que podem depor como


testemunha, o CPC dispõe o seguinte:

Artigo 616.º Quem pode depor como testemunha

Podem depor como testemunhas todas as pessoas de um e outro


sexo, que não sejam inábeis por incapacidade natural ou por motivo de
ordem moral.

157
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

No que aos inábeis por incapacidade natural diz respeito, o


CPC estabelece o seguinte:

Artigo 617.º
São inábeis por incapacidade natural:
a) Os interditos por anomalia psíquica;
b)Os cegos e os surdos, naquilo cujo conhecimento dependa dos sentidos
que carecem;
c) Os menores de 10 anos .

Já em relação aos inábeis por ordem moral o CPC dispõe o


seguinte:

Artigo 618.º Inabilidades legais

1. São inábeis por motivo de ordem moral


a) Os que podem depor como partes;
b) Os ascendentes nas causas dos descendentes, e vice-versa;
c) O sogro ou sogra nas causas do genro ou nora, e vice-versa;
d) O marido na causa da mulher, e vice-versa;
e) Os que, por seu estado ou profissão, estejam vinculados ao sigilo
profissional, quanto aos factos abrangidos por este.

2. As inabilidades constantes das alíneas b), c) e d) do número


anterior não são aplicáveis às causas em que se trate de verificar o
nascimento ou óbito dos filhos.

158
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Feitas as considerações acima, importa também salientar


que em relação a apresentação do rol de testemunhas as partes
são notificadas após a fixação do questionário, para que possam
proceder a apresentação, tal como consagra o artigo 512.º do
CPC.
Porém as testemunhas deverão ser designadas nos termos
constante no artigo 619.º do CPC, que passamos a citar:

Artigo 619.º CPC


1.As testemunhas serão designadas no rol pelos seus nomes,
profissão e morada e por outras circunstâncias necessárias para as
identificar.

2.O rol das testemunhas não pode ser alterado depois de findo o
prazo da apresentação, salvo o disposto no artigo 629.º; a parte pode,
porém, desistir a todo o tempo da inquirição de testemunhas que tenha
oferecido.
Já em relação ao lugar e ao momento da inquirição das
testemunhas o CPC dispõe o seguinte:

Artigo 621.º CPC


As testemunhas depõem na audiência final, excepto nos casos
seguintes:
a)Inquirição antecipada, nos termos do artigo 520.º ;

159
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

b)Inquirição por carta;


c)Inquirição na residência ou na sede dos serviços, nos termos do
artigo 624.º;
d)Impossibilidade de comparência no tribunal.

Existem circunstâncias em que as testemunhas arroladas


não podem comparecer, e em alguns casos são testemunhas em
que as parte não prescinde, ao ser assim, o CPC estabelece o
seguinte:

Artigo 629.º Consequência do não aparecimento da testemunha

1.Faltando alguma testemunha de que a parte não prescinda,


observar-se-á o seguinte:
a) Se a testemunha tiver falecido depois de apresentado o rol, a
parte tem a faculdade de a substituir;
b) Se estiver doente e não for possível a sua inquirição imediata. A
parte pode substituí-la o requerer o adiamento da inquirição pelo prazo
que pareça indispensável, nunca excedente a trinta dias.
c) Se tiver mudado de residência depois de oferecida, pode a parte
substituí-la ou requerer carta para sua inquirição, contanto que não seja
para fora do continente ou da ilha onde a causa corre, ou comprometer-
se apresenta-la no dia em que for novamente designado;
d) se não tiver sido notificada, devendo tê-lo sido, ou se deixar de
comparecer por outros impedimento legítimo, é adiada a inquirição,

160
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

mas, se não for possível inquiri-la dentro de trinta dias, a parte pode
substituí-la;
e) Se faltar sem motivo justificado e não for encontrada para vir
depor debaixo da prisão, pode ser substituída.

2. Se não justificar dentro de trinta dias a sua falta, serão passados


mandados de captura contra a testemunha, para vir depor sob prisão.

3. A testemunha é mantida sob custódia até prestar o depoimento,


salvo se a parte prescindir dela; mesmo neste caso não fica , porém,
isenta de multa.
No que concerne ao limite de número de testemunhas e a
ordem estabelecidas para os depoimentos das testemunhas,
varia segundo a forma de processo. Sobre este assunto pode-se
verificar o disposto nos artigos 362.º e seguintes, 789.º e
seguintes e 796.º e seguintes, todos do CPC.

161
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

CAP.VII-DISCUSSÃO E JULGAMENTO.
1- Discussão e julgamento.

Finda a fase de instrução, e nos termos do artigo 646.º do


CPC, segue-se a fase de discussão e julgamento, que constitui a
4ª e penúltima fase do processo declarativo ordinário. Importa
salientar que é nesta fase em que as partes procuram, através da
oralidade, discutir intensamente a matéria de facto e influenciar
o tribunal a seu favor, através dos argumentos apresentados em
torno da discussão da matéria de facto. Podemos também dizer
que é um acto processual solene e serve, principalmente, para
colheita da prova oral (depoimento de partes e/ou testemunhas).
Na prática, esse tipo de audiência tem como objetivo esclarecer
questões em que não há consenso entre as partes.
O dia designado para a audiência de discussão e
julgamento deve ser marcado pelo juiz após a fase de instrução
tal como consagra o nº 1 do artigo 647.º do CPC. Porém, a
marcação da data para a audiência de discussão e julgamento, só
deverá ter lugar passados o período estabelecido para que cada
um dos advogados possa fazer o exame do processo, o período
estabelecido por lei é entre cinco a dez dias só depois poderá
designar-se dia para a audiência, tal como consagra o nº 2 do
artigo 647.º do CPC.

162
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Todavia existem situações que poderão concorrer para o


adiamento da audiência, e nos termos do CPC, são as seguintes:
Número 1 do artigo 651.º Causas de adiamento da audiência

1.Feita a chamada das pessoas que tenham sido convocadas, é logo a


audiência. Mas esta será adiada:
a) Se não for possível constituir o tribunal colectivo;

b) Se faltar alguma pessoa que tenha sido convocada e de que se não


prescinda ou se tiver sido oferecido documento que a parte contrária não
possa examinar no próprio acto, mesmo com suspensão dos trabalhos
por algum tempo, e o tribunal entender que há grave inconveniente em
que a audiência prossiga sem presença dessa pessoa ou sem resposta
sobre o documento oferecido;

c) Se, por motivo ponderoso e inesperado, faltar alguns dos


advogados.

Porém, o nº 2 do artigo supra referenciado dispõe o


seguinte:
2. Não é admissível o adiamento por acordo das partes, nem pode,
por falta de advogado ou de pessoas que tenham sido convocadas, adiar-
se a audiência mais de uma vez.50

50
Aqui em homenagem aos seguintes princípios:
- Princípio da economia processual.

163
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Os números 3 e 4 ainda do artigo 651.º do CPC dispõem o


seguinte:
3-Quando a audiência prosseguir nos casos previstos na alínea b) do
nº 1, será interrompida antes de iniciar os debates, designando-se logo
dia para continuar quando possa ser ouvida a pessoa que faltou depois
de decorrido o tempo necessário para exame do documento. No primeiro
caso, a interrupção não pode ir além de trinta dias; no segundo, não
pode exceder oito.

4-A falta de qualquer pessoa que deva comparecer será justificada


na própria audiência ou nos cinco dias imediatos.

Designado dia para audiência de discussão e julgamento, e


não havendo razões para adiamento da audiência, nos termos do
acima referenciado. Proceder-se-á, a discussão da matéria de
facto nos termos estabelecidos no artigo 652.º do CPC.
Encerrada a discussão, o tribunal recolhe à sala das
conferências para decidir, fazendo o julgamento da matéria de
facto com a consequente subsunção da matéria de facto ao
direito, nos termos estabelecidos no artigo 653.º ao 657.º do
CPC, no sentido de decidir de forma correspondente ao fim

- Princípio da celeridade processual.


- Princípio da credibilidade das instituições públicas.

164
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

último do Direito, ou seja, justiça, paz social, segurança e


certeza jurídica.

2- Sentença final. Noção / Conteúdo.

Numa linguagem muito simples e/ou pragmática, podemos


dizer que a sentença é o acto e/ou instrumento pelo qual o juiz
decide a causa.
Assim, pode-se dizer que: No que tange a elaboração da
sentença após a discussão dos aspectos jurídicos da causa, o
CPC dispões o seguinte:
Artigo 658.º
1.Concluída a discussão do aspecto jurídico da causa, vai o processo
com vista ao Ministério Público, para se pronunciar sobre a má fé dos
litigantes ou promover procedimento disciplinar contra os funcionário
judiciais que no decorrer do processo se tenham mostrado negligentes.

2. Seguidamente é o processo concluso ao juiz, que proferirá


sentença
dentro de quinze dias.
Todavia, a sentença ao ser proferida, deve obedecer a uma
descrição que contenha em primeira instância o relatório, de
seguida a fundamentação51, e só depois a decisão. Para que não

51 - Vide artigo 158.º do CPC com a epígrafe – dever de fundamentar a decisão.

165
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

tenha o efeito adverso do pretendido pelo juiz no momento da


tomada de decisão, no que concerne a descrição referenciada, o
CPC dispõe o seguinte:
Artigo 659.º Descrição analítica da sentença.

1.A sentença começa pelo relatório, no qual se mencionam os nomes


das partes e se faz uma exposição concisa do pedido e seus fundamentos,
bem como dos fundamentos e conclusões da defesa, indicando-se depois
resumidamente as ocorrências cujo registo possa oferecer interesse para
o conhecimento do litígio. O relatório concluirá pela descrição da causa
tal como emergiu da discussão final, fixando com precisão as questões a
resolver.

2. Ao relatório seguem-se os fundamentos e a decisão. O juiz tomará


em consideração os factos admitidos por acordo, provados por
documentos ou por confissão reduzida a escrito e os que o tribunal
colectivo deu como provados; fará o exame crítico das provas de que lhe
compete conhecer e estabelecerá os factos que considera provados;
depois interpretará e aplicará a lei aos factos, concluindo pela decisão.

166
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

3- Limites da sentença.

No que aos limites da sentença diz respeito, importa


salientar que; após a elaboração da mesma, há toda necessidade
de verificarão dos seus limites contidos no dispositivo, ou seja;
o conteúdo do dispositivo deve conformar-se com o pedido.
Ao ser assim, o conteúdo do dispositivo deve estar em
conformidade com o disposto no artigo 661.º do CPC, que
passamos a citar.

Artigo 661.º Limites da condenação.

1.A sentença não pode condenar em quantidade superior ou em


objeto diverso do que se pedir.

2. Se não houver elementos para fixar o objeto ou a quantidade o


tribunal condenará no que se liquidar em execução de sentença, sem
prejuízo de condenação imediata na parte que já é líquida.

4- Limites da atividade do juiz.

No que ao limite da atividade do juiz diz respeito, importa


frisar e em linhas gerais que: Processualmente falando,
a sentença é publicada quando assinada e entregue
formalmente pelo juiz à secretaria, que irá juntar aos autos. Ora

167
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

bem; havendo ainda possibilidade de interposição de recurso


sobre a mesma, não é viável que o recurso seja julgado pelo juiz
que proferiu a sentença, por uma questão de confiança nas
instituições encarregues de administrar a justiça, bem como por
questão de certeza e segurança jurídica. Porque pressupõe-se
que ao ser o mesmo juiz não se estaria a fazer justiça,
porquanto, na maior parte das vezes prevaleceria a decisão já
proferida, ainda que não correspondesse ao que supostamente
fosse justo.
Dai que o legislador entendeu que a atividade do juiz em
sede de determinado processo teria o seu fim tão logo fosse
prolatada a sentença. Tal como consagra o artigo o nº 1 do art.
666.º do CPC que passamos a citar:

Art. 666.º Extinção do poder jurisdicional e suas limitações.

1.proferida a sentença, fica imediatamente esgotado o poder


jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa.
Todavia, o legislador previu algumas circunstâncias em
que mesmo depois de proferida a sentença o juiz pudesse ter
algum poder sobre o processo. Por isso estabeleceu nos números
2 e 3 do artigo supra referenciado o seguinte:

168
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Art. 666.º Extinção do poder jurisdicional e suas limitações.

2.É lícito, porém, ao juiz rectificar erros materiais52, suprir


nulidades,53esclarecer dúvidas existentes na sentença e reforma-la
quanto a custas e multa.54
3. O disposto nos números anteriores, bem como nos artigos
subsequentes, aplica-se, até onde seja possível, aos próprios despachos.

5- Vícios e reformas da sentença.

No que aos vícios e a reforma da sentença dizem respeito,


importa salientar e de forma muito telegráfica o seguinte: No
que tange aos vícios da sentença ela poderá conter determinados
vícios, uns que eventualmente poderá conduzir a nulidade da
sentença, e sobre esta matéria (arguição da nulidade da
sentença) trataremos no tema seguinte. E outros vícios, não
susceptíveis de arguição de nulidades, qualquer uma das partes
pode requerer ao tribunal que proferiu a sentença, que proceda a
retificação e ou reforma, tal como consagra o artigo 669.º do
CPC . Porém importa também salientar que: A atividade do juiz

52
- Vide art. 667.º do CPC
53
- Vide art. 668.º do CPC
54
- Vide art. 669.º do CPC

169
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

em sede de determinado processo terá o seu fim tão logo seja


prolatada a sentença. Tal como consagra o artigo o nº 1 do art.
666.º do CPC.
Todavia, o legislador previu algumas circunstâncias em
que mesmo depois de proferida a sentença o juiz pudesse ter
algum poder sobre o processo. Por isso estabeleceu nos números
2 do artigo 666.º o seguinte:

2.É lícito, porém, ao juiz retificar erros materiais, suprir nulidades,


esclarecer dúvidas existentes na sentença e reforma-la quanto a custas e
multa.

6- Arguição das nulidades da sentença.

O sistema de nulidades admitido pelo CPC é o princípio da


instrumentalidade das formas e dos atos processuais, o qual
afirma que o ato só será declarado nulo e sem efeito caso, além
da inobservância da forma legal, não tiver atingido seu objetivo.
A nulidade processual consiste na privação de efeitos imputada
aos atos do processo. Daí existirem determinados vícios não
suscetíveis a nulidade da sentença, e ao ser assim o CPC no seu
artigo 668.º com a epígrafe causas de nulidade da sentença
estabelece o seguinte:

170
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Art. 668.º Causas de nulidade da sentença.

1 - É nula a sentença:
a) Quando não contenha a assinatura do juiz;
b) Quando não especifique os fundamentos de facto e de direito que
justificam a decisão;
c) Quando os fundamentos estejam em oposição com a decisão;
d) Quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse
apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento;
e) Quando condene em quantidade superior ou em objecto diverso
do pedido.

2 - A omissão prevista na alínea a) do número anterior pode ser


suprida oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes,
enquanto for possível colher a assinatura do juiz que proferiu a
sentença.
Este declarará no processo a data em que apôs a assinatura.

3 - As nulidades mencionadas nas alíneas b) a e) do n.º 1 só podem


ser arguidas perante o tribunal que proferiu a sentença se esta não
admitir recurso ordinário; no caso contrário, o recurso pode ter como
fundamento qualquer dessas nulidades. A nulidade prevista na alínea a)
do mesmo número pode ser sempre arguida no tribunal que proferiu a
sentença

171
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

7- Uso anormal do processo e sentença adequada.

No que ao uso anormal do processo diz respeito, importa


tecer as seguintes considerações:
O uso anormal do processo pressupõe o conluio entre as
partes, com alegação de uma versão fáctica não correspondente
à realidade. Na vertente de simulação processual, pressupõe-se
que as partes se tivessem conluiado, criando a aparência de um
litígio inexistente, para obter sentença cujo efeito queiram
apenas relativamente a terceiros, enganando estes, mas não entre
si. Regra geral, o incidente de uso anormal do processo apenas é
aplicável aos processos de declaração, neles se incluindo os
incidentes e/ou procedimentos de natureza declarativa
enxertados no processo executivo, como sejam, os embargos de
executado e os embargos de terceiros, de modo a obstar a que as
partes logrem obter a força vinculativa da sentença a uma
situação que não resultou do decurso normal do processo, mas
antes de um conluio prévio entre si, visando praticar um acto
simulado ou a obtenção de um fim proibido por lei. Pretendendo
o requerente/terceiro anular o negócio jurídico subjacente ao
título exequendo (declaração confessória de dívida) com
fundamento em vício de vontade (simulação absoluta), o meio

172
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

adequado tendente a obter esse efeito jurídico é a dedução de


ação autónoma de declaração de anulação a intentar contra os
(alegados) simuladores, e não a dedução em sede de ação
executiva do incidente de uso anormal do processo previsto no
art. 665º do Código de processo Civil.
Ao ser assim, dispõe o CPC que ao suceder o supra
referenciado o tribunal deve decidir com base ao objeto anormal
do processo. Tal como dispõe o artigo 666.º que passamos a
citar.
Artigo 665.º - (Uso anormal do processo)
Quando a conduta das partes ou quaisquer circunstâncias da causa
produzam a convicção segura de que o autor e o réu se serviram do
processo para praticar um ato simulado ou para conseguir um fim
proibido por lei, a decisão deve obstar ao objectivo anormal prosseguido
pelas partes.
8- Eficácia da sentença.

Quanto a eficácia da sentença, é de extrema importância


frisar e de forma muito prática, que a sua eficácia está
condicionada a determinados elementos, ou seja; para que a
sentença tenha e/ou produza a eficácia desejada é necessário ter
em observância dois elementos fundamentais, que de resto, em
nosso entender devem ser cumulativos.

173
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

- O primeiro consiste na verificação dos pressupostos e/ou


requisitos de validade da sentença estabelecidos pelo CPC. Ou
seja; não se poderá falar sobre a eficácia de uma sentença que
não esteja nela contida os requisitos de validade legalmente
estabelecidos.
- O segundo, e como já supra referenciamos, que deverá ser
cumulativo ao primeiro, tem que ver com o cumprimento da
decisão proferida na sentença. Ou seja; por mais que a sentença
esteja contida com todos os requisitos que atribuam a sua
validade, se a decisão nela contida não for executada, não se
pode falar que a sentença teve a sua eficácia.
Com o supra referenciado, podemos concluir que a
sentença só será tida como eficaz, caso verificarem-se
cumulativamente os dois elementos e/ou requisitos acima
referenciados. Ou seja; a sentença só e tão somente é
considerada eficaz caso estejam nela contidos os seus requisitos
estabelecidos legalmente e a decisão contida na mesma seja
executada.

174
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

9- Caso julgado. Noção. Limites subjetivos (Formal)


e objetivos (material) Natureza jurídica.

O caso julgado consiste na repetição da causa depois de a


primeira ter sido decidida por sentença que já não admita
recurso ordinário (segunda parte do nº 1 do artigo º 497.º do
CPC).
A existência deste instituto justifica-se pelas necessidades
de certeza e segurança jurídica e economia processual, evitando
a repetição de causas sobre as mesmas questões, com decisões
judiciais contraditórias ou mesmo idênticas.
A coisa julgada formal55 é a imutabilidade da decisão
dentro do mesmo processo por falta de meios de impugnação
possíveis, recursos ordinários ou extraordinários. Ou já foram
esgotados todos os recursos, ou porque decorreu o prazo de sua
interposição. A respeito do caso julgado formal vide o nº 1 do
artigo 671.º e o artigo 672.º ambos do CPC. Quando o juiz
extingue o processo sem julgamento do mérito, e declara
ilegitimidade com base na última parte da línea b) do artigo
474.º do CPC, o autor pode entrar com nova ação, pois nesse

55 Também designado por alguns autores por caso limites subjectivos do caso
julgado

175
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

caso a lide não foi analisada, houve, portanto, coisa julgada


formal.
A Coisa julgada material56 É a necessidade de
estabilidade nas relações jurídicas, com a cessação definitiva do
litígio e decisão imutável.
A coisa julgada material é a imutabilidade dos efeitos de
uma decisão que se projeta para fora e dentro do processo, pois
decide a lide e faz coisa julgada formal e material. Nenhuma
outra ação pode ser intentada coma mesma matéria, faz lei entre
as partes, chamado de efeito negativo, porque nenhum juiz
poderá analisar uma questão já julgada.
A coisa julgada é necessário para estabilidade das relações
jurídicas e a harmonia social, por isso as decisões devem ser
justas para se colocar uma pedra sobre elas para perpetuidade
daquilo que é justo. Passado todos os prazos e condições, a
sentença não mais poderá ser reavaliada, ainda que injusta.

56
Também designado por alguns autores por caso limites objectivos do caso
julgado

176
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Não fazem coisa julgada material

Dentre outras situações, e nos termos do nº 2 do artigo


671.º do CPC não constituem caso julgado material e pela
natureza das relações jurídicas as seguintes situações:

I. As sentenças determinativas - que decidem algumas


relações de ordem pública em que o juiz integra com a sua
vontade a vontade concreta da lei como nas decisões sobre
guarda de filhos;

II. Ação de alimentos - que podem ser alteradas


conforme condição do alimentante ou alimentado;

III. Jurisdição voluntária - Podem ser modificadas se


ocorrerem circunstâncias supervenientes sem prejuízo dos
efeitos já produzidos;

IV. Relações jurídicas continuativas - Quando ocorrer


modificação no estado de facto ou de direito em que cabe
revisão da sentença. A sentença anterior não pode ser
mudada, apenas alterada.

177
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

Os recursos servem para modificar a sentença do juiz,


qualquer que seja ela, isso se chama de coisa julgada formal.
Dentro dessa sentença a coisa julgada não mais poderá ser
modificada. A coisa julgada formal atua dentro do processo,
mas não impede que em outro processo a coisa volte a ser
discutida, o que impede nova discussão é a coisa julgada
material e ocorre nas sentenças de mérito, que discutem as
questões objetos do litígio.

No que tange a sua natureza jurídica, importa salientar o


seguinte:

No Direito Romano a sentença era a própria coisa julgada


ou a coisa julgada era o próprio objeto litigioso do processo
decidido definitivamente, depois houve uma alteração no
sentido de entender que a coisa julgada é a imutabilidade da
sentença, independe do objeto litigioso. Nenhuma mudança
poderá ocorrer no processo após a coisa julgada, esse é um
efeito da sentença.

Depois teve outra tese dizendo que a coisa julgada é uma


qualidade da sentença, após esgotados todos os recursos, com
efeitos dentro e fora do processo, pois a lide não mais poderá ser

178
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

rediscutida, seja pela perda do prazo ou porque já se esgotaram


os recursos.

Com supra referenciado podemos depreender que: A


sentença produz os efeitos declaratório, condenatório e
executório após a decisão do juiz, não se pode dizer que estes
efeitos só ocorrem por haver coisa julgada, esta é uma qualidade
dos efeitos, tornando-os imutáveis.

Podemos também dizer que no âmbito do CPC, transitada


a sentença em julgado, nos termos do artigo 676.º, faz caso
julgado.

179
Lições de Direito Processual Civil 1. Por, Manuel Correia

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