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PRESCRIÇÃO1 DECADÊNCIA2

Fundamentos: pacificação social, segurança jurídica e boa-fé do legislador em punir quem é negligente
com seus direitos e pretensões.
Aplicação do princípio da operabilidade: simplicidade no estudo dos dois institutos jurídicos de
direito privado. A prescrição e a decadência devem ser facilmente compreendidas e operáveis,
evitando-se conceitos complexos.
Previsão legal: arts. 1893 a 206, CC. Os prazos Previsão legal: arts. 207 a 211, CC. Em regra,
prescricionais estão concentrados taxativamente todos os demais prazos previstos em outros artigos
nos artigos 205 (regra geral) e 206 (regras do Código Civil (Parte Geral ou Especial) são
especiais), ambos do CC. decadenciais.
Conceito: É a perda efetiva de um direito
Conceito: É a perda da pretensão4 (anspruch) de
potestativo5, pelo não exercício por parte de seu
direito material, pela inércia de seu titular, dentro
titular, dentro do prazo previsto em lei ou criado
do prazo previsto em lei.
pela vontade (unilateral ou bilateral) das partes.
Origem: Lei (decadência legal; v.g art. 178, CC)
Origem: Lei (não cabe alteração do prazo
ou convenção das partes (decadência
prescricional pela vontade das partes – artigo 192,
convencional; v.g garantia contratual em que o
CC).
contratante pode desistir do contrato em 30 dias).
Consequência: extingue a pretensão
(exigibilidade – art. 189, CC); Alcança Direitos a Consequência: extingue Direitos Potestativos
uma prestação (subjetivos patrimoniais e (disponíveis ou não).
disponíveis).
Ações condenatórias6. Ações constitutivas (negativas e positivas).

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A prescrição tratada na Parte Geral do Código Civil é a extintiva, diferentemente da prescrição aquisitiva, conhecida como
usucapião (artigos 1.238 a 1.244, CC), tratada no Direito das Coisas.
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Alguns autores utilizam a terminologia caducidade como sinônimo de decadência.
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“Art. 189, CC. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que
aludem os arts. 205 e 206”. O Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), antes do Código
Civil de 2002, já previa que a prescrição extinguia a pretensão, conforme estatui o “Art. 27. Prescreve em 5 (cinco) anos a
pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se
a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”.
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Pretensão é a exigência de subordinação do interesse de outrem ao seu próprio interesse. Segundo Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho pretensão é “o poder de exigir de outrem, coercitivamente, o cumprimento de um dever jurídico, vale
dizer, é o poder de exigir a submissão de um interesse subordinado (do devedor da prestação) a um interesse subordinante (do
credor da prestação) amparado pelo ordenamento jurídico” (GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo
Curso de Direito Civil: parte geral. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, vol. 1, p. 628). Conforme lembra Flávio Tartuce: “Na
prescrição, nota-se que ocorre a extinção da pretensão; todavia, o direito em si permanece incólume, só que sem proteção
jurídica para solucioná-lo. Tanto isso é verdade que, se alguém pagar uma dívida prescrita, não pode pedir a devolução da
quantia paga, eis que existia o direito de crédito que não foi extinto pela prescrição. Nesse sentido, determina o art. 882 do
CC/2002 que não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”
(TARTUCE, Flávio. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. 15.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 721, volume I).
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Direitos Potestativos são aqueles que “conferem ao respectivo titular o poder de influir ou determinar mudanças na esfera
jurídica de outrem, por ato unilateral, sem que haja dever correspondente, apenas uma sujeição”. Exemplo: “Adquirida uma
coisa com vício redibitório (defeito oculto que diminui o valor ou prejudica o uso da coisa alienada, disciplinado nos arts. 441
a 446 do CC/2002), o adquirente, desde o momento da tradição, tem o direito de exigir o desfazimento do contrato (por
meio da ação redibitória), dentro do prazo predeterminado de trinta dias (se o bem for móvel) ou um ano (se o bem for
imóvel). Trata-se de um prazo decadencial, legalmente previsto para o exercício de um direito potestativo (direito de redibir
o contrato), uma vez que o alienante se sujeitará ao seu exercício, sem que nada possa fazer” (GAGLIANO, Pablo Stolze;
FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil. 1.ª ed. Saraiva: 2017. Volume único, p. 191).
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Quanto à tutela jurisdicional pretendida (natureza do pronunciamento judicial pleiteado) as ações podem ser classificadas
em: a) Condenatórias – são aquelas que exigem o cumprimento coercitivo de uma prestação. São aquelas ações relacionadas
aos direitos subjetivos, próprio das pretensões pessoais. Ações condenatórias são aquelas em que se afirmam a titularidade de
um direito a uma prestação e pela qual se buscam a certificação e a efetivação desses mesmos direitos, com a condenação do
réu ao cumprimento da prestação devida; b) Constitutivas – são aquelas que têm o objetivo de certificar e efetivar direitos
potestativos; e c) Declaratórias – são aquelas que têm o objetivo de certificar a existência, a inexistência ou o modo de ser de
uma situação jurídica (artigo 19, I, CPC/2015). Cabe, também, para a declaração de falsidade ou autenticidade do documento
(artigo 19, II, CPC/2015). Um exemplo consagrado de ação declaratória do modo de ser de uma relação jurídica se encontra no
enunciado número 181 da súmula do Superior Tribunal de Justiça: "É admissível ação declaratória, visando a obter certeza
quanto à exata interpretação de cláusula contratual".
As ações meramente declaratórias e ações constitutivas sem prazo especial de exercício previsto em
lei (v.g ações que versem sobre pretensões dos direitos da personalidade – direito à vida, honra,
imagem, liberdade, nome, obras literárias e artísticas; do estado das pessoas – ação de divórcio, ação de
interdição, ação de investigação de paternidade; de bens públicos – arts. 183, § 3.º e 191, CRFB, e art.
102, CC; exercício facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado, como as destinadas a
extinguir o condomínio – ação de divisão ou de venda da coisa comum, prevista no art. 1.320, CC –, a de
pedir meação no muro vizinho, prevista nos arts. 1.297 e 1.327, CC; direito de propriedade – ação
reivindicatória; de reaver bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor ou mandato;
ações destinadas a anular inscrição do nome empresarial feita com violação de lei ou do contrato,
conforme previsão no art. 1.167, CC; ação de ressarcimento decorrente de ato de improbidade
administrativa7 praticado com DOLO, conforme decidiu o Plenário do STF, no RE n.º 852475/SP,
Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2018)
NÃO estão sujeitas à prescrição ou decadência.
Reconhecimento: a requerimento da parte ou de Reconhecimento. Decadência legal: a
ofício pelo juiz (artigo 487, inciso II, CPC/2015). requerimento da parte ou de ofício pelo juiz (“art.
Ressalvada a hipótese em que o juiz julga 210, CC. Deve o juiz, de ofício, conhecer da
liminarmente improcedente o pedido decadência, quando estabelecida por lei”).
(improcedência prima facie) se verificar, desde Decadência convencional: apenas por alegação da
logo, a ocorrência da decadência ou prescrição (art. parte interessada. Não pode ser conhecida de ofício
332, § 1.º, CPC/2015), ambas não serão pelo juiz (“art. 211, CC. Se a decadência for
reconhecidas sem que antes seja dada às partes convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-
oportunidade de manifestar-se (artigo 487, la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não
parágrafo único, CPC/20158). pode suprir a alegação”).
Momento para alegação: Em qualquer grau de
jurisdição9, pela parte a quem aproveita (art. 193,
CC), inclusive na impugnação à sentença desde
Momento para alegação: Em qualquer fase e
que superveniente (art. 525, § 1.º, inciso VII,
qualquer grau de jurisdição (art. 211, CC).
CPC/2015), exceto pela primeira vez em sede
recurso especial e recurso extraordinário, e na ação
rescisória.

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Para o STJ a ação de improbidade administrativa que resulte na aplicação de sanção de ressarcimento ao erário para aqueles
que praticam atos de improbidade administrativa DOLOSA OU CULPOSAMENTE é imprescritível. Nesse sentido: “(...) É
pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que a pretensão de ressarcimento por prejuízo causado ao erário,
manifestada na via da ação civil pública por improbidade administrativa, é imprescritível. Daí porque o art. 23 da Lei n.
8.429/92 tem âmbito de aplicação restrito às demais sanções prevista no corpo do art. 12 do mesmo diploma normativo (...)”
(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1442925/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/09/2014). O Tribunal de
Contas da União possui entendimento diverso do STF e do STJ, para a Corte de Contas qualquer ação de ressarcimento
proposta pelo Estado é imprescritível, conforme consubstanciado na Súmula n.º 282 do TCU: “As ações de ressarcimento
movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis”.
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Conforme o Enunciado n.º 581 da VII Jornada de Direito Civil do CJF/STJ “a decretação ex officio da prescrição ou da
decadência deve ser precedida de oitiva das partes”.
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A expressão “em qualquer grau de jurisdição” significa que se a prescrição não foi alegada ou apreciada em primeira
instância, poderá ser alegada ou apreciada em segunda instância pelo Tribunal, por exemplo, em sede de recurso de Apelação.
A prescrição não poderá ser alegada pela primeira vez nos Tribunais Superiores, pois a admissibilidade do recurso especial
e extraordinário exige que toda a matéria tenha sido apreciada nas instâncias ordinárias (prequestionamento). A prescrição
deve se alegada na fase de conhecimento antes do trânsito em julgado da decisão. Se a decisão já transitou em julgado, não se
pode alegar a prescrição na fase de execução, por ofensa a coisa julgada.
Conforme estatui o artigo 104, caput, do CPC/2015: “O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo
para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente”. “Independentemente da
reparação por dano processual, a parte responde pela efetivação do prejuízo que a tutela de urgência causar à parte adversa, se
o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor” (artigo 302, inciso IV, CPC/2015). “O
indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o
motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de prescrição” (artigo 310, CPC/2015). “Haverá
resolução de mérito quando o juiz decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição
(artigo 487, inciso II, CPC/2015)”.
Renúncia: não é admitida para decadência
Renúncia10: pode ser expressa ou tácita, desde
legal. “É nula a renúncia a decadência fixada em
que não gere prejuízo para terceiros e após sua
lei” (art. 209, CC). Já a decadência convencional
consumação11 (art. 191, CC).
admite renúncia.
Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas:
em regra13, os prazos decadências não estão
Causas impeditivas, suspensivas e
sujeitos as causas impeditivas, suspensivas e
interruptivas12: os prazos prescricionais estão
interruptivas. “Salvo disposição legal em
sujeitos a causas impeditivas, suspensivas (arts.
contrário, não se aplicam à decadência as normas
197 a 200, CC) e interruptivas (art. 202, CC).
que impedem, suspendem ou interrompem a
prescrição” (art. 207, CC).
Causas impeditivas e suspensivas. Não corre a Causas impeditivas e suspensivas. A decadência,
prescrição: a) entre os cônjuges na constância da em regra, corre contra todos. Exceções: 1) a
sociedade conjugal14; b) entre ascendentes e decadência não corre contra os absolutamente
descendentes, durante o poder familiar 15; c) entre incapazes, ou seja, menores de dezesseis anos (art.
tutelados ou curatelados e seus tutores ou 208, CC); 2) Obstam a decadência do direito de

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Segundo lecionam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “„Renunciar à prescrição‟ consiste na possibilidade de
o devedor de uma dívida prescrita, consumado o prazo prescricional e sem prejuízo a terceiro, abdicar do direito de alegar esta
defesa indireta de mérito (a prescrição) em face do seu credor. Se anuncia o pagamento, e o executa, renunciou expressamente.
Se, embora não o haja afirmado expressamente, constituiu procurador, providenciou as guias bancárias para o depósito ou
praticou qualquer ato incompatível com a prescrição, significa que renunciou tacitamente” (GAGLIANO, Pablo Stolze;
FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: parte geral. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, vol. 1, p. 639).
11
O artigo 191 do Código Civil não admite a renúncia prévia da prescrição, isto é, antes que se tenha consumado. Não se
admite a renúncia prévia, nem de prescrição em curso, mas só da consumada, porque o referido instituto é de ordem pública e a
renúncia tornaria a ação imprescritível por vontade da parte.
12
Causas impeditivas são aquelas que não permitem sequer que o prazo comece a correr. O prazo ainda não se iniciou em
razão da existência da causa impeditiva. O cronômetro não é acionado.
Causas suspensivas são aquelas que congelam o prazo em fluência, voltando a correr de onde havia sido paralisado. O
cronômetro é acionado e paralisado para, em seguida, ser acionado novamente de onde tinha sido parado.
Causas interruptivas são aquelas que tornam sem efeito o lapso temporal anteriormente percorrido. A interrupção faz com
que o prazo retorne ao seu início, partindo do seu ponto zero. O cronômetro é acionado, paralisado e depois zerado.
“A diferença essencial entre a interrupção e a suspensão é que nesta a prescrição continua a correr, computando-se o tempo
anteriormente decorrido, enquanto naquela o tempo já escoado fica inutilizado, recontando-se o prazo por inteiro a partir da
causa interruptiva. E se esta tiver sido um processo judicial, somente recomeça a contar do último ato nele praticado (art. 202,
parágrafo único)” (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 30 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2017. Volume I, p. 557).
13
O artigo 26 do CDC configura exceção a regra de que os prazos decadências não estão sujeitos as causas impeditivas,
suspensivas e interruptivas. In verbis: “Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca
em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de
fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1.° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do
produto ou do término da execução dos serviços. § 2.° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada
pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
de forma inequívoca; II - (Vetado); III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3.° Tratando-se de vício
oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito”.
14
A princípio, a separação de fato não impede a aplicação da regra, somente correndo a prescrição a partir do trânsito em
julgado da sentença de separação judicial (consensual ou litigiosa), da sentença de divórcio direto ou da escritura pública de
separação ou divórcio (artigo 1.571, inciso III, e § 1.º, do Código Civil). Nesse sentido: STJ, REsp 1.202.691-MG, 3ª T., j. 7-4-
2011. TJDF, Apelação 2014.09.1.012566-9, Acórdão 935516, 4.ª Turma Cível, Rel. Des. Cruz Macedo, DJDFTE 27.04.2016,
p. 329. No entanto, há decisões sustentando que a separação de fato pode pôr fim à sociedade conjugal, o que pode ser
levado em conta para os fins de prescrição (STJ, REsp 555.771/ SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
05.05.2009, DJe 18.05.2009; TJRS, Apelação Cível 0288417-42.2017.8.21.7000, Caxias do Sul, 7.ª Câmara Cível, Rel. Des.
Sandra Brisolara Medeiros, j. 28.02.2018, DJERS 07.03.2018). Conforme o enunciado n.º 226 da IV Jornada de Direito
Civil do CJF/STJ: “Não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da união estável”.
15
O Superior Tribunal de Justiça concluiu que não corre a prescrição entre pai e filho menor no caso de ação reparatória de
danos decorrentes do abandono afetivo (STJ, REsp 1.298.576/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21.08.2012, publicado no
Informativo n.º 502). No caso do artigo 197, inciso II, do CC o prazo prescricional inicia-se da data em que o menor completa
18 (dezoito) anos, exceção feita aos casos de emancipação, previstos no artigo 5.º da codificação civil ou de destituição do
poder familiar.
curadores, durante a tutela ou curatela; d) contra reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil
os absolutamente incapazes16; e) contra os constatação: a) a reclamação comprovadamente
ausentes do país em serviço público da União, formulada pelo consumidor perante o fornecedor
Estados ou dos Municípios17; f) contra os que se de produtos e serviços até a resposta negativa
acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo correspondente, que deve ser transmitida de forma
de guerra; g) pendendo condição suspensiva 18; h) inequívoca; b) a instauração de inquérito civil até o
não estando vencido o prazo19; i) pendendo ação de seu encerramento (artigo 26, § 2.º, CDC).
evicção20; j) antes da sentença definitiva prolatada
no âmbito penal quando a ação se originar de fato
que deva ser apurado no juízo criminal21 (arts.
197/200, CC).
Causas interruptivas: artigo 202, incisos I a VI,
do CC. A interrupção da prescrição somente Causas interruptivas: em regra não se aplicam.
poderá ocorrer uma única vez (artigo 202, caput, “Salvo disposição legal em contrário, não se
CC). aplicam à decadência as normas que impedem,
“Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente suspendem ou interrompem a prescrição” (art.
poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do 207, CC).
juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o

16
Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146, de 06 de julho de 2015) são absolutamente incapazes
somente os menores de 16 (dezesseis) anos de idade (artigo 3.º, CC). Note que a prescrição corre contra ou a favor dos
relativamente incapazes, quais sejam, os menores entre dezesseis e dezoito anos de idade, os ébrios habituais e os viciados
em tóxicos, os pródigos e aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade (artigo 4.º,
CC), e apenas a favor dos absolutamente incapazes.
17
A expressão "ausentes", utilizada no comando legal em questão, não se refere especificamente à ausência tratada entre os
artigos 22 a 39 do Código Civil, mas àqueles que estiverem fora do País. De qualquer forma, há entendimento pelo qual a
ausência, causa de morte presumida, está incluída nesse artigo 198, inciso II, do CC. Esse é o teor do Enunciado n.º 156 do
CJF/STJ, aprovado na III Jornada de Direito Civil no sentido de que “desde o termo inicial do desaparecimento,
declarado em sentença, não corre a prescrição contra o ausente”.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves: “O Código não faz qualquer menção ao tipo de serviço público, mas podem-se apontar
como abrangidos pela norma em tela: i) os representantes diplomáticos do Brasil junto aos países estrangeiros; ii) os agentes
consulares brasileiros no estrangeiro; iii) os adidos militares brasileiros, junto a unidades militares estrangeiras; iv) os
delegados brasileiros em missão oficial em países estrangeiros; v) os comissionados pelo governo federal, estadual ou
municipal, para estudos técnicos em países estrangeiros; vi) e qualquer pessoa encarregada de um serviço de utilidade para a
União, para os Estados, ou para os Municípios, em país estrangeiro. Nesse sentido, a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal, suspendendo a prescrição contra policial militar que se encontrava fora do País em missão de paz das Nações Unidas”
(TJDF, 3ª T. Cív., Ap. Cív. 1999.011.038.550-3, Rel. Des. George Lopes Leite, julg. 14.05.2001, pub. DJ, 13-6-2001)
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: parte geral. 15.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, pp. 582/583, volume
I, grifou-se).
18
Condição suspensiva é o evento futuro e incerto que suspende a aquisição de direitos, bem como a eficácia de um ato ou
negócio jurídico (artigos 121 e 125 ambos do Código Civil). Exemplo: Súmula n.º 229 do STJ: “O pedido de pagamento de
indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão”.
19
“Deduz-se que o comando legal em questão refere-se não ao prazo de prescrição, mas àquele fixado para um ato ou negócio
jurídico. Não estando vencido o prazo, pela não ocorrência do termo final – evento futuro e certo que põe fim aos direitos
decorrentes de um negócio –, assinalado pela lei ou pela vontade das partes, não se pode falar em prescrição, havendo causa
impeditiva da extinção da pretensão. Ilustrando de forma ainda mais específica, não vencido o prazo para pagamento de uma
dívida, não corre a prescrição” (TARTUCE, Flávio. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. 15.ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2019, p. 753, volume I).
20
Evicção é a perda total ou parcial da coisa em decorrência de uma decisão judicial ou apreensão administrativa que a atribui
a terceiro (arts. 447/457, CC). Na hipótese de se encontrar pendente uma ação entre qualquer um dos envolvidos na evicção,
quais sejam, evictor (ou evincente), o evicto (ou evencido) e o alienante, o prazo prescricional fica suspenso em relação aos
outros envolvidos. A título de exemplo, se ainda correr a ação reivindicatória proposta pelo terceiro (evictor/evincente) contra
o adquirente do bem (evicto/evencido), o prazo da pretensão regressiva do último em face do alienante não correrá.
21
A sentença penal condenatória transitada em julgado constitui título executivo judicial (artigo 935, CC; artigo 515, inciso
VI, CPC/2015; artigo 63, CPP). A finalidade do artigo 200 do CC “é evitar soluções contraditórias entre os juízos cíveis e
criminais, especialmente quando a solução do processo penal seja determinante do resultado do cível. Sendo assim, permite-se
à vítima aguardar a solução da ação penal para, apenas depois, desencadear a demanda indenizatória na esfera cível. Por isso, é
fundamental que exista processo penal em curso ou, pelo menos, a tramitação de inquérito policial até o seu arquivamento”
(STJ, REsp 1.180.237/MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 19.06.2012). Esse dispositivo legal tem aplicação direta
aos casos que envolvem a pretensão indenizatória, com prazo prescricional de três anos, contados da ocorrência do evento
danoso ou do conhecimento de sua autoria, conforme previsto no artigo 206, § 3.º, inciso V, do CC.
interessado a promover no prazo e na forma da lei
processual22; II - por protesto, nas condições do inciso
antecedente23; III - por protesto cambial24; IV - pela
apresentação do título de crédito em juízo de inventário
ou em concurso de credores 25; V - por qualquer ato
judicial que constitua em mora o devedor 26; VI - por
qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
importe reconhecimento do direito pelo devedor 27.

22
Conforme preceitua o artigo 240 do CPC/2015, in verbis: “Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e
398 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). § 1.º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que
ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. § 2.º Incumbe ao
autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para viabilizar a citação (por exemplo, recolhimento de
custas), sob pena de não se aplicar o disposto no § 1.º. § 3.º A parte não será prejudicada pela demora imputável
exclusivamente ao serviço judiciário. § 4.º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais
prazos extintivos previstos em lei”. O despacho que determina a emenda da petição inicial e a sentença que indefere a
petição inicial não interrompem a prescrição (STJ, REsp 15.354-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU 9-3-1992, p. 2588).
Viabilizar a citação é providenciar a extração do mandado de citação, com o recolhimento das custas devidas, inclusive
despesas de condução do oficial de justiça. Frise-se que a parte não pode ser prejudicada por obstáculo judicial para o qual não
tenha concorrido, isto é, pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário (CPC, art. 240, § 3º; Súmula nº 106 do
STJ). Segundo Carlos Roberto Gonçalves “O inciso I do art. 202, ora comentado, não condiciona a interrupção da prescrição à
citação na ação principal em que o autor diretamente persegue o direito material. É razoável admitir que a citação em questão
pode ser a do processo cautelar, que não tem outra finalidade senão assegurar o resultado prático (realização do direito
material) do processo principal” (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: parte geral. 15.ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 588, volume I).
De acordo com o artigo 802, caput, do CPC/2015 “na execução, o despacho que ordena a citação, desde que realizada em
observância ao disposto no § 2.° do art. 240, interrompe a prescrição, ainda que proferido por juízo incompetente. Parágrafo
único. A interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da ação”. Após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, nasce novo prazo para a pretensão executória ou de cumprimento da prestação jurisdicional fixada.
A instauração de procedimento arbitral também interrompe a prescrição, conforme inclusão que foi realizada na Lei de
Arbitragem, por força da Lei 13.129/2015. Nos termos do artigo 19, § 2.º, da Lei 9.307/1996, “a instituição da arbitragem
interrompe a prescrição, retroagindo à data do requerimento de sua instauração, ainda que extinta a arbitragem por
ausência de jurisdição”.
23
O protesto judicial (arts. 726/729 do CPC/2015) é ação específica de jurisdição voluntária que visa a dar publicidade a
uma situação fática ou jurídica. É uma medida cautelar utilizada pelo credor para dar ciência de seu interesse no cumprimento
da obrigação ao devedor, interrompendo, dessa forma, a prescrição.
24
O protesto cambial ou extrajudicial é o ato oficial e público, realizado perante o cartório extrajudicial de protesto de
títulos, que comprova a exigência do cumprimento das obrigações cambiárias, constituindo-se prova plena. Exemplo: o
protesto de uma nota promissória, além de repercutir perante os coobrigados indiretos da cártula, tem o efeito de interromper o
curso do prazo prescricional. A Súmula n.º 153 do STF, o qual estabelecia que o “simples protesto cambiário não interrompe
a prescrição”, encontra-se superada.
25
A habilitação de crédito promovida pelo credor no processo de inventário (arts. 610/673, CPC/2015), falência (arts. 7.º/20
da Lei n.º 11.101, de 09/02/2005 – Lei de Falências e Recuperação de Empresas), ou insolvência civil (art. 1052,
CPC/2015 – determina a aplicação dos artigos 748 até 786-A do CPC/1973 para as execuções contra devedor insolvente, em
curso ou que venham a ser propostas, até a edição de lei específica) interrompe a prescrição, havendo ato praticado pelo credor.
26
Trata-se de norma genérica que considera causa interruptiva da prescrição qualquer ato judicial que demonstre a intenção do
credor de exigir o cumprimento da prestação devida. Interpelações, notificações judiciais (arts. 726/729, CPC/2015), enfim,
medidas cautelares em geral podem interromper o curso do prazo prescricional. Além disso, a interpelação e notificação
judicial constituem o devedor em mora (mora solvendi ex persona). A notificação extrajudicial, via cartório de títulos e
documentos, não gera a interrupção da prescrição, pela ausência de previsão legal específica. O mesmo pode ser dito quanto
a qualquer ato extrajudicial promovido pelo credor com esse objetivo, caso de uma carta enviada pelo correio.
27
Segundo os ensinamentos de Flávio Tartuce: “Diante desse comando legal, qualquer atuação do devedor que importe em
reconhecimento total ou parcial da existência da dívida gera a interrupção da prescrição. Como exemplos de atos que têm esse
condão, podem ser citados o pagamento de juros ou de cláusula penal, o envio de correspondência reconhecendo de
forma expressa a dívida, o seu pagamento parcial ou total, entre outros. Porém, de maneira correta, a jurisprudência
superior tem entendimento segundo o qual o mero “pedido de concessão de prazo para analisar documentos com o fim de
verificar a existência de débito não tem o condão de interromper a prescrição” (STJ, REsp 1.677.895/SP, 3.ª Turma, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 06.02.2018, DJe 08.02.2018, publicado no Informativo n.º 619 do STJ).
Essas condutas interruptivas do devedor podem ocorrer no plano judicial ou extrajudicial, segundo consta do próprio
dispositivo transcrito. No plano judicial, vejamos concretização constante do Enunciado n. 416, da V Jornada de Direito
Civil do Conselho da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça: “A propositura de demanda judicial pelo devedor,
que importe impugnação do débito contratual ou de cártula representativa do direito do credor, é causa interruptiva da
prescrição””. No mesmo sentido: STJ, REsp 1.321.610/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 21.02.2013, DJe
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a
correr da data do ato que a interrompeu, ou do último
ato do processo para a interromper”.
Prazos: Sempre contados em ano. Ordinário: 10
(dez) anos para as ações pessoais e reais, se não Prazos: Podem ser contados em dias ou em anos.
houver determinado prazo menor específico (art. Todos do CC, com exceção dos previstos nos arts.
205, CC). Especiais: para certos direitos, conforme 205 e 206.
previsão do art. 206, CC (1 a 5 anos).

27.02.2013). (TARTUCE, Flávio. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. 15.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, pp.
760/761, volume I).

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