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Minha Biblioteca: Prática Civil

CAPÍTULO 8
NULIDADES, PRECLUSÃO E PRAZOS
1. NULIDADES

Verifica-se sempre que o ato processual que não observar a forma


prevista em lei não é apto a atingir sua finalidade, trazendo prejuízo a
uma das partes. São espécies de nulidade:

Nulidade absoluta
Instituto Nulidade relativa (art. 276, CPC).
(art. 277, CPC).
Parte e juiz, de
Quem alega Parte prejudicada.
ofício.
Oportunidade Até trânsito em
Na primeira fala nos autos.
de alegação julgado.
Ato gera prejuízo à parte, não há Expressa na lei
Previsão
necessidade de previsão processual, como
legal
expressa. regra.
Prejuízo à Deve ser demonstrado por quem É, via de regra,
parte se prejudicou pela nulidade. presumido.

IMPORTANTE

A nulidade de citação na ação de conhecimento pode ser alegada


em impugnação à execução de título executivo judicial (art. 525, § 1º,
I, CPC).

2. CONSEQUÊNCIAS DA DECRETAÇÃO DA
NULIDADE

A nulidade de um ato atinge todos os outros atos dele dependentes


:
(decorrentes). Por força da aplicação do princípio da causalidade,
não serão decretados nulos os atos processuais que não decorrerem
do ato nulo (art. 281, CPC).

No caso de atos complexos (p. ex., audiência), vigora o princípio da


conservação dos atos processuais, ou seja, se for possível dividir o
ato, as partes que possam ser tidas como autônomas poderão ser
preservadas.

Caso a parte aponte, em sua petição inicial, procedimento diferente


do que estabelecido na lei, há a nulidade do processo (erro de
procedimento – art. 283, CPC).

Porém haverá o aproveitamento do maior número de atos possíveis,


desde que não haja prejuízo para defesa. Isso visa à economia
processual, evitando o refazimento de atos que não causaram
nenhum prejuízo à defesa de qualquer parte.

3. COMO ALEGAR A NULIDADE EM UM PROCESSO

A nulidade relativa deve ser suscitada por petição dirigida ao juízo da


causa na primeira oportunidade para se manifestar nos autos, sob
pena de preclusão.

A nulidade absoluta, apesar de não precluir, também deve ser


suscitada por petição na primeira oportunidade, por dever de boa-fé
processual.

Caso haja nulidade de citação, incumbe ao réu alegá-la na


contestação, sob pena de ocorrer o comparecimento voluntário, que
supre a nulidade.

Incumbe a quem alegar a nulidade demonstrá-la de forma precisa,


indicando o ato nulo, qual o defeito que nele se constata e a
:
demonstração de prejuízo para o exercício do direito de defesa da
parte.

4. PRECLUSÃO

É a perda da oportunidade de prática de ato processual pela parte.


Seu objetivo é fazer o processo se desenvolver independentemente
das omissões das partes. Tem três categorias:

Tipo Temporal Lógica Consumativa


Decurso do prazo Prática de ato Ato já praticado não
Como
assinalado em lei incompatível pode ser refeito,
se
para a prática do com outro já salvo se declarado
verifica
ato. praticado. nulo.

A preclusão é matéria de ordem pública, mas deve ser arguida pela


parte a quem ela aproveita na primeira oportunidade de
manifestação, por dever de boa-fé. Deve ser deduzida por petição
ao órgão judicial, na qual se apresenta qual ato foi atingido pela
preclusão e qual a sua causa.

5. PRAZOS PROCESSUAIS (ARTS. 218 A 235, CPC)

É o lapso de tempo assinalado para a prática de um ato processual.


Os atos processuais serão realizados nos prazos estabelecidos em
lei. Quando esta for omissa, o juiz determinará os prazos, tendo em
conta a complexidade da causa.

Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente


obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito)
horas.

Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de


cinco dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.
:
6. EXTINÇÃO DO PRAZO

Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o


ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando
assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa
causa.

7. JUSTA CAUSA

Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a


impediu de praticar o ato por si ou por mandatário. É exemplo a
constatação de problema técnico do sistema e de erro ou omissão
do auxiliar da justiça responsável pelo registro dos andamentos (art.
197, parágrafo único, CPC).

Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no


prazo que lhe assinar.

EXEMPLO

Enchente de grandes proporções na comarca.

8. PRAZOS PEREMPTÓRIOS E PRAZOS DILATÓRIOS

Prazo peremptório é aquele em que a lei não admite alteração por


acordo das partes.

EXEMPLO

Prazos para apresentação de defesas e de recursos.

Prazos dilatórios, ao contrário, são os que podem ser modificados


pela vontade das partes, desde que feita antes do vencimento do
prazo e se fundada em justo motivo.
:
EXEMPLO

Prazos de suspensão do feito para tentativa de acordo.

9. SUSPENSÃO DE PRAZOS NO FIM DE ANO

Para fins de garantir férias aos advogados no final do ano, os prazos


processuais são suspensos nos dias compreendidos entre 20 de
dezembro e 20 de janeiro, inclusive.

Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei


(Natal, Ano-Novo etc.), os juízes, os membros do Ministério Público,
da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares da
Justiça exercerão suas atribuições durante tal período, mas não se
realizarão audiências nem sessões de julgamento.

10. SUSPENSÃO DO PRAZO (ART. 221, CPC)

Iniciado o prazo, não há qualquer suspensão, salvo os casos


previstos em lei, que são:

a) por obstáculo criado em detrimento da parte;

b) nas hipóteses de suspensão do processo, estabelecidas no art.


313;

c) durante a execução de programa instituído pelo Poder Judiciário


para promover a autocomposição, incumbindo aos tribunais
especificar, com antecedência, a duração dos trabalhos.

Será o prazo restituído por tempo igual ao que faltava para sua
complementação.

11. PRAZOS DIFERENCIADOS


:
Têm todos os prazos dobrados:

a) os litisconsortes com diferentes advogados, de diferentes


escritórios, sendo o processo físico (art. 229, CPC);

b) o representante judicial da Fazenda Pública (art. 183, CPC), que


terá todos os prazos dobrados, salvo se houver prazo próprio para o
ente público;

c) o Defensor Público, que terá todos os prazos dobrados (art. 186,


CPC), benefício que é estendido aos escritórios de assistência
judiciária mantidos por Faculdades de Direito devidamente
registrados perante a OAB;

d) o Ministério Público, atuando como parte ou como fiscal da ordem


jurídica (art. 180, CPC).

IMPORTANTE

Os arts. 226 a 228 estabelecem prazos para a prática dos atos pelo
juiz e pelos serventuários de justiça.

12. TERMO INICIAL DOS PRAZOS (ARTS. 230-232,


CPC)

O prazo para a parte, o procurador, a Advocacia Pública, a


Defensoria Pública e o Ministério Público será contado da citação, da
intimação ou da notificação.

Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo


do prazo (art. 231, CPC):

Forma de cientificação Termo inicial


Data de juntada aos autos do aviso
Citação ou intimação pelo correio. de recebimento devidamente
:
assinado pelo citando ou intimando.
Citação ou intimação por oficial de
Data de juntada aos autos do
justiça, inclusive na citação com
mandado cumprido.
hora certa.
Citação ou intimação por ato do
Data de ocorrência da citação ou da
escrivão ou do chefe de
intimação.
secretaria.
Dia útil seguinte ao fim da dilação
Citação ou intimação por edital.
assinada pelo juiz.
Dia útil seguinte à consulta ao teor
da citação ou da intimação ou ao
Citação ou intimação eletrônica.
término do prazo para que a
consulta se dê.
Data de juntada do comunicado de
que trata o art. 232 ou, não havendo
Citação ou intimação em
esse, data de juntada da carta aos
cumprimento de carta.
autos de origem devidamente
cumprida.
Data de publicação (se o Diário
Intimação pelo Diário da Justiça Oficial for eletrônico, considera-se
impresso ou eletrônico. haver a publicação no dia seguinte à
disponibilização).
Intimação por meio da retirada
dos autos, em carga, do cartório Dia da carga.
ou da secretaria.
Ato praticado diretamente pela
O dia do começo do prazo para
parte ou por quem, de qualquer
cumprimento da determinação
forma, participe do processo, sem
judicial corresponderá à data em
a intermediação de representante
que se der a comunicação.
judicial.
Quinto dia útil seguinte à
Citação realizada por meio confirmação, na forma prevista na
eletrônico. mensagem de citação, do
recebimento da referida mensagem.

a) Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para


:
contestar corresponderá à juntada do último mandado ou do último
aviso de recebimento, se não for o caso de audiência de mediação e
conciliação (art. 334, CPC).

b) Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado


individualmente.

IMPORTANTE

Nos termos do art. 212, § 2º, CPC, independentemente de


autorização judicial, as citações, as intimações e as penhoras
poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as houver, e
nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido nesse artigo,
observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal.

Essa norma estabelece que a casa é asilo inviolável do indivíduo,


ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

Sendo assim, deve haver ordem judicial para cumprir ordens judiciais
que necessitem a entrada na casa de uma pessoa.

EXEMPLO

Cumprimento de ordem de arresto, penhora, busca e apreensão.

13. CONTAGEM DOS PRAZOS (ART. 224, CPC)

Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o


dia do começo e incluindo o dia do vencimento.

Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para


o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o
expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora
:
normal, ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica.

A contagem do prazo terá sempre início no primeiro dia útil que


seguir ao da intimação. Contam-se apenas os dias úteis, salvo
disposição em lei especial. São feriados os sábados, os domingos e
os dias em que não haja expediente forense (art. 216, CPC).

Para contar corretamente o prazo, deve-se atentar para o seguinte:

a) verifique o termo inicial do prazo, conforme as regras do art. 231,


CPC (tabela anterior);

b) o termo inicial não é computado. Assim, verifique no calendário se


o dia seguinte ao do ato é dia útil. Se for, é este o primeiro dia a ser
contado;

c) conte apenas os dias úteis, atentando para os feriados


eventualmente existentes (art. 216, CPC). Caso o feriado seja local,
não esqueça de documentá-lo nos autos (p. ex., junte a portaria que
suspendeu o expediente naquele dia);

d) o último dia é computado no prazo, devendo o ato ser praticado


até tal data. Lembre-se de que a prorrogação somente acontece nos
casos previstos em lei;

e) se o processo for físico, o ato deve ser praticado até o


encerramento do protocolo; se for digital, até às 23h59 do último
dia.

EXEMPLO

Imaginando que houve a juntada do mandado de intimação no dia 10


de um mês para a prática de um ato processual em 10 dias. Sendo o
dia 11 dia útil, conta-se dia a dia, excluindo os dias não úteis
(sábados e domingos, e eventuais feriados).
:
Assim, se dia 11 for uma terça-feira, o dia de vencimento será dia 25
daquele mês (contaram-se os dias 12, 13, 14, 17, 18, 19, 20, 21, 24 e
25. Os dias 15, 16, 22 e 23 são dias não úteis e, por isso, excluídos
da contagem).

Se o último dia do prazo, dia 25, for um feriado ou se o expediente se


encerrar antes ou se iniciar antes da hora normal, o ato poderá ser
praticado até o dia útil seguinte, dia 26 daquele mês.

Caso a intimação ocorra por Diário de Justiça Eletrônico, considera-


se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da intimação.

Assim, caso a intimação seja disponibilizada na segunda-feira,


considera-se publicada na terça-feira, caso seja a data dia útil.
Assim, o prazo apenas começa a contar na quarta-feira, também se
for dia útil.

IMPORTANTE

Caso se suspenda, o prazo volta a contar pelo tempo que faltava.


Caso se interrompa, volta a contar do começo.

O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o qual,


quando houver duplicidade das intimações eletrônicas previstas
na Lei nº 11.419/2006 – especificamente pelo Diário da Justiça
Eletrônico (DJe) e pelo portal eletrônico –, deve prevalecer, para
efeitos de contagem de prazos processuais, a intimação que tiver
sido realizada no portal eletrônico.

DICA

1) Em algumas provas, é indicado no enunciado que a medida deve


ser apresentada no último dia do prazo. Ao elaborar a peça, não se
:
esqueça de fazer a contagem do prazo e indicá-la na data, antes da
assinatura.

2) Na vida prática, procure não deixar seus “prazos” para a última


hora. Organize-se e procure fazer suas petições com antecedência.
Isso evita surpresas desagradáveis, como trânsito para chegar no
fórum ou queda do sinal de telefone ou internet.

3) Em caso de indisponibilidade do sistema no último dia do prazo,


dependendo de sua duração, poderá haver prorrogação dos prazos
para o dia seguinte. Tome o cuidado de documentar no processo
esse fato (junte o comunicado do tribunal informando tal
ocorrência).
:

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