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Juízo de admissibilidade recursal

Prof. Pedro Roberto Donel​


Direito Processual Civil - 2023
Introdução:

- Análise da regularidade formal do recurso;

- Recebido ou não: juízo a quo

- Conhecido ou não: juízo ad quem


Pressupostos Intrínsecos
Pressupostos Intrínsecos:

a) Cabimento:
- Pronunciamento recorrível;
- Adequação do recurso (natureza e conteúdo da decisão e
recurso correspondente previsto em lei).
Decisões recorríveis

Arts. 1.001. Dos despachos..., 1009. Sentenca..., 1015. DI..., 1022


ED ..., 1027 ROC..., 1043 E. Divergência ...102, III, CF RE, 105, III,
CF, RESP, ART. 41..

- O princípio da fungibilidade flexibiliza o requisito do cabimento.


Decisão irrecorrível por vontade do legislador

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a


especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, .....
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.
....
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de
resolução de demandas repetitivas.
• Também o art. 1007, § 6º
b) Legitimidade recursal:
- Art. 996 do CPC:
• Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo
terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como
fiscal da ordem jurídica.
• Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de
a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial
atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo
como substituto processual.

- Confusão entre legitimidade e interesse recursal (Análise em


abstrato, sendo irrelevante o conteúdo da decisão no caso concreto).
b1) Partes:
- Não precisa ser vencida, como previsto no art. 996 do
CPC.

- Autor, réu, terceiros intervenientes, MP como fiscal da lei


– Barbosa Moreira/Nery: devem estar integrados à
relação jurídica processual no momento de prolação da
decisão recorrida;
- Serventuários eventuais da Justiça não são partes e não
têm legitimidade para recorrer.
JURISPRUDÊNCIA
STJ, 4ª. T., REsp 410.793/SP

Esta Corte, no que tange a exegese do referido preceito legal, firmou-se


no sentido de que o “perito não é parte, muito menos tem interesse na
demanda, não podendo intervir como terceiro interessado, dada
ausência de legitimidade para tanto (art. 499, do Código de Processo
Civil)” (v.g. REsp 32.301-4/SP, Rel. Min. Cláudio Santos, DJ 08.08.1994).
Assim, nesta linha, o perito judicial – mero auxiliar do juízo – não tem
legitimidade para promover recurso. Não se trata, portanto, de terceiro
interessado.
- Advogado credor de honorários advocatícios
Araken de Assis, Nery: terceiro prejudicado.

Lei 8.906/1994. Art. 23. Os honorários incluídos na condenação,


por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado,
tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta
parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário,
seja expedido em seu favor.
b2) Terceiro prejudicado:
- Art. 996, § 1º, CPC: interesse jurídico;
- Aquele que poderia ter participado do processo como:
- a) terceiro interveniente (assistente, nomeado à autoria,
denunciando à lide e chamado ao processo);
- b) litisconsorte;
b3) Ministério Público:
- art. 996, caput, do CPC: processos nos quais participou
como fiscal da ordem jurídica ou como parte;

- Processos nos quais deveria ter participado (Barbosa


Moreira/Nery);
c) Interesse recursal:
- Análise em concreto (conteúdo da decisão);

- Possibilidade de melhora na situação prática do


recorrente;

- Necessidade e adequação.
c1) Necessidade:
- Sucumbência (frustração de uma expectativa inicial);

Obs. 1: Terceiro prejudicado não sucumbe;


Ministério Público: interesse recursal está pressuposto na
outorga de legitimação (STJ, 2ª T., REsp 612.075/SC).
c2) Adequação:
- Recurso concretamente apto a reverter a sucumbência;
- Súmula 283/STF: decisão com mais de um fundamento
apto por si só a mantê-la;

STF, Súm. 283: "É inadmissível o Recurso Extraordinário,


quando a decisão recorrida assenta em mais de um
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles".
- Súmula 126, STJ: fundamento federal e constitucional;

STJ, Súm. 126: "É inadmissível recurso especial, quando o


acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e
infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
extraordinário".
d) Ausência de fato impeditivo ou extintivo do direito de
recorrer;

d1) Desistência:
CPC, Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem
a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do
recurso.
Alma sem corpo

Art. 998 (...) parágrafo único. A desistência do recurso não impede a


análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e
daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais
repetitivos.
A qualquer tempo, da interposição até o encerramento do
julgamento (STJ, 1ª T., RMS 20.582/GO).

Contra: Barbosa Moreira/Nery – até o início do julgamento.

Obs. 1: Julgamento por amostragem não admite desistência


(Informativo 381/STJ, Corte Especial, QO no REsp
1.063.343-RS);
Obs. 2: Desistência de ação de competência originária até o
início do julgamento (Informativo 570/STF, Plenário, RCI
1.503/DF);
- Não depende de anuência de litisconsorte ou da parte contrária;
d2) Renúncia:
CPC, Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe
da aceitação da outra parte.
- Antes da interposição do recurso
- Depois de iniciado o prazo recursal (não se admite
renúncia prévia).
d3) Aquiescência:
• CPC, Art. 1000. A parte que aceitar expressa ou
tacitamente a decisão não poderá recorrer.
• Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática,
sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a
vontade de recorrer.
Pressupostos Extrínsecos
Pressupostos extrínsecos:

a) Tempestividade:
- Prazo é peremptório;
Termo inicial
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de
advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.
§ 1o Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida
a decisão.
§ 2o Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra
decisão proferida anteriormente à citação.
§ 3o No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as
normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial.
§ 4o Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de
interposição a data de postagem. (Superada Súmula 216/STJ).
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
§ 6o O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.
Interrupção do prazo recursal

• Art. 1.004. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o


falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior
que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da
parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr
novamente depois da intimação.

• Art. 220 – recesso forense.

• Art. 221 – obstáculos criados pela parte, greve e juiz.


Prazos em dias úteis

• Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido


por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.

• Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se


somente aos prazos processuais.
Dia do começo do prazo
Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo
correio;
II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de
justiça;
III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe
de secretaria;
IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital;
V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a
consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica;
VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da
carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em
cumprimento de carta;
(....)
Continua no prox. slide.
Dia do começo do prazo
Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:
(....)
VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico;
VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou
da secretaria.
§ 1o Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para contestar corresponderá à última
das datas a que se referem os incisos I a VI do caput.
§ 2o Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado individualmente.
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma,
participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo para
cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação.
§ 4o Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação com hora certa.
Prazo em dobro
Arts. 180, 183, 183: prazos em dobro para Fazenda, MP e Defensoria.

Súmula 641/STF: prazo em dobro para litisconsortes com patronos


diferentes;

STF, Súm. 641: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só
um dos litisconsortes haja sucumbido.
Obs. 2: Carimbo de protocolo ilegível: INFORMATIVO STF
707. 1ª turma. AI 822.891.
Modificação do prazo pelas partes

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da
causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a
validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva
em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em
manifesta situação de vulnerabilidade.
RECURSO PREMATURO:
intempestividade ante tempus.
Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos
prescritos em lei.
...
§ 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do
termo inicial do prazo.

Fim da jurisprudência defensiva.


b) Preparo:
- Preparo e porte de remessa e retorno: Art. 1.007.
- Isenções objetivas embargos de declaração – 1.023;
agravo em RE e RESP – 1.042, § 2º);
- Isenções subjetivas (Ministério Público, Fazenda Pública,
beneficiário da assistência judiciária – 1007, § 1º, CPC e
art. 98, § 1º. I);
- Comprovação imediata (STJ, 3ª T., AgRg no Ag
471.502/RJ);

Art. 1.007 CPC. No ato de interposição do recurso, o


recorrente comprovará, quando exigido pela legislação
pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de
remessa e de retorno, sob pena de deserção.
Obs.: Expediente forense se encerra depois do expediente
bancário, admitindo-se o recolhimento no dia seguinte (STJ,
Corte Especial, AgRg no EREsp 711.929/DF).
Obs. 1: Art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995 – 48 horas da
interposição;

Obs. 2: Art. 14, II, da Lei 9.289/1996 – prazo de cinco dias


na Justiça Federal (STJ, 2ª T., REsp 964.343/BA).
- Complementação do preparo:

CPC, Art. 1007, § 2º. A insuficiência no valor do preparo


implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a
supri-lo no prazo de cinco dias.
Contra:

FONAJE, Enunciado 80: O recurso inominado será julgado


deserto quando não houver o recolhimento integral do
preparo e sua respectiva comprovação pela parte, no prazo
de 48 horas, não admitida a complementação intempestiva
(art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995).
- Troca de guias é vício sanável: STJ, 3ª T., REsp 867.005/PR;
- Código errado não gera deserção: STJ, 1ª T., AgRg no Ag
623.371/PR;
- Guia inadequada não gera deserção: STJ, 3ª T., REsp
205.561/SP;
- Guia sem dados do processo gera deserção: STJ, 1ª T.,
AgRg no Ag 942.873/RS;
Art. 1.007. (...)
§ 3o É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em
autos eletrônicos.
§ 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o
recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na
pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de
deserção.
§ 5o É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4 o.
§ 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção,
por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.
§ 7o O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da
pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento,
intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.
c) Regularidade formal:
- Fundamentação e pedido;
- Escrito (salvo agravo retido e embargos de declaração no
Juizado Especial);
- Capacidade postulatória (salvo no REsp / RE na exceção
de suspeição e impedimento);
- Recurso deve ser assinado;
Falta de assinatura do recurso

CPC ANTIGO: Nas instâncias inferiores, vício sanável (STJ, 1ª


T., REsp 1.074.423/SP); perante os tribunais superiores o
recurso é juridicamente inexistente (STJ, 1ª S., EREsp
447.766/RS).

AGORA VÍCIO SANÁVEL POR FORÇA DOS ARTIGOS 76, § 2º,


104, § 2º, 932, § ÚNICO, 1029, § 3º.
Procuração:

STJ, Súm. 115: Na instância especial é inexistente recurso


interposto por advogado sem procuração nos autos.
Superada: Enunciado 83 FPPC.

Obs.: Preclusão consumativa (STJ, 4ª T., EDcl no AgRg no Ag


589.887/RJ).
Juízo de admissibilidade CPC

• Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá:
• ...
• § 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2º (contrarrazões e adesivo) os autos serão
remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.

RE e RESP
• Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
• V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
Juízo de mérito

Prof. Pedro Roberto Donel​


Direito Processual Civil - 2022
Introdução:

- Juízo de admissibilidade e juízo de mérito.


• Fundamentos recursais:
a) Error in procedendo (vício formal);
b) Error in judicando (vício de conteúdo).

Obs.: preclusão consumativa.


Causa de pedir recursal:

a) Error in procedendo: vícios formais:


- Intrínseco: da própria decisão recorrida (di sem
fundamentação ou sentença extra petita);
- Extrínseco: do procedimento, sendo anterior à decisão
recorrida (ausência do litisconsorte necessário, a
incompetência absoluta, ausência do MP como fiscal da lei).
- Teoria da causa madura (CPC, 1013, § 3º, I.)
b) Error in judicando: vícios do conteúdo: crítica a qualidade
da decisão.

• Fático:
- Equivocada definição dos fatos;
- Má apreciação da prova.

• Jurídico:
- Aplicação de norma inadequada;
- Indevida interpretação da norma.
Pedido

• Regra;
• Error in procedendo: pedido de anulação:
- Intrínseco: anulação da decisão impugnada;
- Extrínseco: anulação do procedimento desde o momento
do vício.
• Error in judicando: pedido de reforma.
• Exceção:

Fim anômalo do processo:


- Julgamento antecipado da lide equivocado (art. 355);
- Julgamento liminar de improcedência (art. 332).

Pede reforma ou anulação?


Integração da sentença

• Agora possível por força do artigo 1.013, § 3º, III, do CPC.

• Na vigência no antigo CPC só cabia nos ED.

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