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Trabalhista
Reclamação Trabalhista
Revisão Técnico:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan
Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Reclamação Trabalhista
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Estudar a estrutura da petição inicial trabalhista com suas particularidades;
• Redigir a peça de forma autônoma.
UNIDADE Reclamação Trabalhista
De acordo com Leone Pereira (2020, p. 207), a reclamação trabalhista é assim denomi-
nada em razão da origem da Justiça do Trabalho, a qual era um órgão administrativo
atrelado ao Poder Executivo. Tornou-se órgão do Poder Judiciário apenas com o advento
da Constituição Federal de 1946.
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Para ajuizamento da reclamação verbal, o reclamante comparece a um órgão da Justi-
ça do Trabalho, onde haverá um servidor responsável pela redução a termo em duas vias
datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário (art. 840, § 2º, da CLT e requisitos do § 1º
do mesmo dispositivo, no que for cabível), mas, antes da redução, ela é distribuída. Da data
da distribuição, o reclamante deverá, exceto motivo de força maior, apresentar-se no prazo
de 5 (cinco) dias, ao cartório ou à secretaria, para que seja realizada a redução a termo,
conforme o art. 786 celetista.
O reclamante que não respeitar o prazo assinalado pela CLT incorrerá na pena de
perda, pelo prazo de 6 (seis) meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho,
consoante o art. 731 da CLT, o que se denomina de perempção temporária.
Você Sabia?
O Conselho Nacional de Justiça – CNJ editou a Recomendação nº 70, de 4 de agosto
de 2020, cujo art. 1º recomenda aos tribunais brasileiros – obviamente, incluindo-se
os órgãos trabalhistas –, durante a pandemia da Covid-19, em razão da necessidade de
isolamento social, a regulamentação da forma de atendimento virtual aos advogados,
procuradores, defensores públicos, membros do Ministério Público e da Polícia Judiciária
e das partes no exercício do seu jus postulandi.
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
Importante!
No procedimento sumaríssimo, a reclamação trabalhista também deverá apresentar o
pedido certo ou determinado e indicará o valor correspondente, nos termos do art. 852-B
da CLT.
Notificação
Na análise das regras processuais previstas nos dispositivos da CLT, verifica-se a exis-
tência do termo genérico “notificação” utilizado para designar citação e intimação. Entre-
tanto, estas se referem a institutos com finalidades distintas.
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Inicialmente, destaca-se a notificação postal, a qual equivale à citação, realizada por
intermédio dos correios. Segundo o art. 841 da CLT:
Art. 841. Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário,
dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição,
ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para compa-
recer à audiência do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois
de 5 (cinco) dias.
§ 1º. A notificação será feita em registro postal com franquia. [...]
§ 2º. O reclamante será notificado no ato da apresentação da reclamação
ou na forma do parágrafo anterior.
§ 3º. Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante
não poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação.
Importante!
A notificação postal presume-se recebida 48 (quarenta e oito) horas depois de sua pos-
tagem. O seu não recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo constituem ônus
de prova do destinatário, de acordo com a Súmula nº 16 do TST.
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
Importante!
A Súmula nº 262 do TST estabelece que, se a parte for intimada ou notificada no sábado,
o início do prazo se dará no primeiro dia útil imediato e a contagem no subsequente.
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Em razão disso, aconselha-se traçar os pontos principais e, posteriormente, realizar
a redação definitiva.
Endereçamento da Peça
Com base nos critérios de competência territorial traçados no art. 651 da CLT, dire-
ciona-se a peça ao órgão competente para processamento e julgamento da reclama-
ção trabalhista.
É preciso se atentar para não utilizar expressões ou termos típicos das peças civis,
como “juiz de direito” e “comarca”.
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
Menção ao Procedimento
Dependendo do valor da causa, o procedimento pode ser ordinário, sumário ou
sumaríssimo.
O procedimento ordinário está previsto nos arts. 837 a 852 da CLT e é aplicá-
vel às ações com valor de causa acima de 40 vezes o salário mínimo vigente à época
do ajuizamento.
No que tange ao procedimento sumário, tem fundamento na Lei nº 5.584/1970 e é
adotado para ações cujo valor da causa seja de até duas vezes o salário mínimo corrente.
Quanto ao procedimento sumaríssimo, há previsão nos arts. 852-A a 852-I da CLT
e é utilizado para ações cujo valor da causa seja de até 40 vezes o salário mínimo vigente.
Importante!
Estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em que é parte a Administração
Pública direta (União, estados-membros, Distrito Federal e municípios), autárquica e funda-
cional, nos termos do parágrafo único do art. 852-A da CLT. Portanto, independentemente
do valor da causa, se, em um dos polos da ação, figurar qualquer dos entes citados, o proces-
samento e o julgamento da demanda ocorrerão pelo procedimento ordinário.
Você não deve apresentar dados ou fatos não comunicados pela situação-problema,
sob risco de ser penalizado(a) com desconto de nota.
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“Da fundamentação jurídica” ou “Do Direito”
Neste tópico, você deverá abordar todas as teses apresentadas pela situação-problema,
de modo coerente e coeso. Para tanto, deverá construir a fundamentação jurídica apro-
priada, especialmente com base na Constituição Federal, na CLT, nas Súmulas e nas
Orientações Jurisprudenciais do TST e na legislação esparsa.
Diante disso, deve-se evitar a utilização de certas ferramentas, como o “recorta e cola”
da letra da lei sem qualquer conexão à realidade fática, ou seja, a simples citação do dis-
positivo legal sem contextualizar com o caso concreto.
Geralmente, a reclamação trabalhista cuida de diversos assuntos, por exemplo, vários
direitos laborais violados. Em razão disso, recomenda-se o estabelecimento de subdivisão
na fundamentação jurídica.
Pedidos
De acordo com o art. 840, § 1º, da CLT, os pedidos devem ser certos, determinados
e com indicação do valor, sob pena de serem julgados extintos sem resolução do mérito.
Neste tópico, far-se-á o requerimento conforme as teses defendidas na fundamenta-
ção jurídica, além dos pedidos clássicos:
• notificação do reclamado;
• protesto por provas;
• honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do art. 791-A da CLT;
• benefício da justiça gratuita (quando necessário), de acordo com o art. 790, §§ 3º
e 4º, da CLT.
Valor da Causa
O valor da causa será fixado em razão do somatório dos pedidos contidos na peti-
ção inicial.
Outrossim, o valor da causa determinará o procedimento pelo qual tramitará a recla-
mação trabalhista.
Fechamento
• Nestes termos,
pede deferimento.
• Local e data.
• Advogado(a)
OAB nº ____
Importante!
Não é necessário juntar rol de testemunhas na petição inicial trabalhista, as quais são
convidadas a comparecer espontaneamente na data e horário designados para audiência.
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
Em Síntese
• Endereçamento;
• Qualificação do(a) reclamante;
• Advogado(a);
• Nome da peça e fundamentação legal;
• Verbo;
• Procedimento;
• Qualificação do(a) reclamado(a);
• Fatos;
• Fundamentação jurídica;
• Pedidos;
• Valor da causa;
• Fechamento.
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• Trabalhava de segunda a sexta-feira, das 8h00min às 16h45min, com intervalo
de 45 minutos para refeição, e aos sábados, das 8h00min às 12h00min, sem
intervalo. Você, contratado(a) como advogado(a), deve apresentar a medida
processual adequada à defesa dos interesses de Heitor, sem criar dados ou fatos
não comunicados.
Fonte: https://bit.ly/3fTfCSN
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz do Trabalho da ..... Vara do Trabalho de Manaus – AM.
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
pelo rito __________, em face de NIMBUS S.A., nº do CNPJ, situada na rua Leo-
nardo Malcher, 7.070, Manaus – AM, CEP 210, pelos fundamentos de fato e de direito
a seguir expostos:
I – Dos fatos
O Reclamante trabalhou para a Reclamada de 10.10.2012 a 02.02.2020, oportunidade
na qual foi dispensado sem justa causa e recebeu, corretamente, sua indenização.
Durante o contrato de trabalho, o Reclamante, que é portador de deficiência, teve
sua CTPS registrada como assistente de estoque, mas, ao longo da jornada diária de
trabalho, executava tarefas conexas ao cargo de um analista de compras.
Ressalta-se que a ex-empregadora não contratou novo empregado portador de defi-
ciência quando da dispensa do reclamante.
Ademais, monitorava e-mail pessoal, bem como realizava descontos de contribuição
sindical e confederativa de não sindicalizados.
Por fim, a jornada de trabalho era de segunda a sexta-feira, das 8h00min às 16h45min,
com intervalo de 45 minutos para refeição, e aos sábados, das 8h00min às 12h00min,
sem intervalo.
II – Dos fundamentos jurídicos
1. Da reintegração
A empresa possui 220 empregados e o Reclamante é portador de deficiência, o qual
soube, após a sua dispensa, que não houve contratação de um substituto em condição
semelhante, o que lhe dá o direito de ser reintegrado às funções anteriormente ocupadas.
Demonstra-se a probabilidade do direito assentada no art. 93, § 1º, da Lei nº 8.213/1991,
uma vez que a dispensa imotivada do empregado portador de deficiência terá funda-
mento somente após a contratação de outro em condição de deficiente, o que não
ocorreu na situação mencionada.
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
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Segundo o art. 71 da CLT, o intervalo intrajornada para jornadas acima de 6 horas
diárias deverá ter a duração mínima de 1 hora, o que não ocorria no caso do recla-
mante, pois tinha 15 minutos suprimidos do seu intervalo.
Em decorrência da violação celetista, o trabalhador faz jus ao intervalo intrajornada
quanto ao tempo não usufruído, com o respectivo adicional de 50%, de acordo com
o art. 71, § 4º, da CLT.
III – Dos pedidos
Ante o exposto, o Reclamante requer o processamento da presente reclamação traba-
lhista e a procedência dos pedidos, especialmente:
a. A reintegração do Reclamante ao emprego, assim como o pagamento dos salá-
rios do período de afastamento;
b. O pagamento de indenização por danos morais;
c. A devolução dos valores descontados irregularmente a título de contribuição
sindical e confederativa;
d. O pagamento do plus salarial pelo acúmulo de função, assim como os reflexos;
e. O pagamento de 15 minutos diários com adicional de 50% pela concessão par-
cial do intervalo intrajornada;
f. O pagamento de custas e demais despesas processuais, inclusive honorários
advocatícios de sucumbência, nos termos do art. 791-A da CLT;
g. A notificação da Reclamada para que apresente sua defesa e compareça em audi-
ência designada por Vossa Excelência, sob pena de incorrer nos efeitos da revelia.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, princi-
palmente a prova documental, testemunhal, pericial e outras que se fizerem neces-
sárias, as quais, desde já, ficam requeridas.
Dá-se à causa o valor de R$ _____________________ (valor por extenso)
Nestes termos,
pede deferimento.
Local e data
Advogado(a)
OAB nº
Importante!
Perceba que os parágrafos da fundamentação jurídica estão apresentados de modo se-
quencial, conectados por meio de elementos que priorizam a coerência e a coesão. Exem-
plos de conectivos: “Diante disso”, “Portanto”, “Em razão disso”, “Por tal motivo”, “Sendo
assim”, “Em decorrência disso”, “Por tal razão”, “Ante o exposto”, “Diante do exposto”,
“Segundo o(a)”, “De acordo com”, “Ademais”, “Além disso”, entre outros.
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Caso Hipotético 2
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
pelo rito __________, em face de DOCES AÇUCARADOS LTDA., nº do CNPJ, pes-
soa jurídica de direito privado, situada em __________, pelos fundamentos de
fato e de direito abaixo expostos:
I – Do contrato de trabalho
A reclamante laborou para a reclamada de 01.03.2017 a 05.01.2020, momento que
fora dispensada sem justa causa.
Durante o contrato de trabalho, exerceu a função de agente comercial em diversas
cidades do interior do estado do Paraná, cuja jornada de trabalho era das 8h00min
às 18h00min, estando subordinada à unidade de Cascavel.
Na rescisão contratual, a ex-empregadora deixou pendentes os seguintes direitos
trabalhistas: multa indenizatória sobre os depósitos do FGTS, participação nos lucros
e resultados no valor de 30% da remuneração.
A presente reclamação visa à reparação dos haveres violados, entre outros a
serem demonstrados.
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II – Dos fundamentos jurídicos
1. Da multa indenizatória do FGTS
No curso da relação laboral, a reclamada efetuou, corretamente, os depósitos per-
tinentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, no entanto não cumpriu com a
obrigação de depositar a multa indenizatória sobre o montante.
Consoante o art. 18, § 1º, da Lei nº 8.036/1990, ocorrendo a rescisão do contrato de
trabalho na hipótese de despedia sem justa causa, o empregador deverá depositar,
na conta vinculada do trabalhador no FGTS, importância igual a 40% do montante
de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato
de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros.
Desse modo, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento da multa inde-
nizatória do FGTS.
2. Da participação nos lucros ou resultados
A participação nos lucros ou resultados não é instituto obrigatório nas empresas,
dependerá de prévia negociação entre empregador e empregados. Nos termos do
art. 2º da Lei nº 10.101/2000, o ajuste ocorrerá por comissão paritária, convenção
coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho.
No caso da reclamante, a negociação deu-se por meio de convenção coletiva de
trabalho, a qual fixou o percentual de 30% sobre a remuneração do empregado.
Entretanto, a reclamada também não honrou com tal compromisso.
Sendo assim, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento da participação
nos lucros ou resultados.
3. Da multa do art. 477, § 8º, da CLT
Diante do exposto, percebe-se que a reclamada não efetuou o pagamento das verbas
rescisórias de forma correta, tal como: multa indenizatória do FGTS.
Conforme o art. 477, §§ 6º e 8º, da CLT, na extinção do contrato de trabalho, o emprega-
dor deverá anotar a Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos
órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo de 10 (dez)
dias contados a partir do término do contrato de trabalho, sob pena de pagar multa em
prol do trabalhador equivalente ao valor do salário.
Tal regramento não foi respeitado pela reclamada; portanto, requer-se o pagamen-
to de multa.
4. Da multa do art. 467 da CLT
Não se pode olvidar da regra estabelecida no art. 467 da CLT, segundo a qual o empre-
gador deverá pagar ao trabalhador, até a data de comparecimento à Justiça do Trabalho,
a parte incontroversa das verbas rescisórias, sob pena de pagá-las acrescidas de 50%.
No que tange à reclamante, todas os direitos pendentes são considerados incontroversos,
por isso, desde já, se requer o pagamento das verbas acrescidas do mencionado percen-
tual caso não haja a quitação nos termos estabelecidos pelo dispositivo celetista.
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Advogado(a)
OAB nº
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Prática Jurídica Trabalhista
PEREIRA, L. Prática jurídica trabalhista. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
https://bit.ly/2Q5NbID
Vídeos
Saber Direito – Petição Inicial Trabalhista – Aula 1, 2, 3, 4 e 5
https://youtu.be/NDgriqPC2bc
Leitura
Pedidos na Petição Inicial Trabalhista Após a Reforma
https://bit.ly/34x9M4d
A nova petição inicial trabalhista
https://bit.ly/3oZoOcx
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UNIDADE Reclamação Trabalhista
Referências
ALMEIDA, A. P. Curso prático de processo do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.
BUENO, C. S. Manual de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.
PEREIRA, L. Prática jurídica trabalhista. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
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