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Prática Jurídica

Trabalhista
Reclamação Trabalhista

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Welington Castilho Garcia

Revisão Técnico:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan

Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Reclamação Trabalhista

• Requisitos da Petição Inicial Trabalhista;


• Notificação;
• Estrutura da Reclamação Trabalhista;
• Redação da Reclamação Trabalhista.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Estudar a estrutura da petição inicial trabalhista com suas particularidades;
• Redigir a peça de forma autônoma.
UNIDADE Reclamação Trabalhista

Requisitos da Petição Inicial Trabalhista


O Poder Judiciário é regido pelo princípio da inércia, e, para que haja a atuação de
um dos seus órgãos, faz-se necessária a provocação, a qual ocorre, em regra, por meio
da petição inicial. Consoante Cassio Scarpinella Bueno (2020, p. 361):

Petição inicial é o primeiro requerimento formulado pelo autor no qual


concretiza, exteriorizando-o, o exercício do seu direito de ação rompendo
a inércia da jurisdição e apresentando os contornos, subjetivos e objeti-
vos, da tutela jurisdicional por ele pretendida. Ela, como qualquer ato
processual, deve observar certos requisitos para que, do ponto de vista
formal, seja bem praticada e, também, viabilize a devida prática dos atos
processuais subsequentes.

Corroborando o aludido entendimento, Amador Paes de Almeida (2020, p. 205) elucida


que a “petição, etimologicamente, significa o ato de pedir, o rogo, a súplica, o pedido por
escrito, o requerimento. Juridicamente, é o instrumento de que se vale o interessado para
provocar a prestação jurisdicional do Estado”.

Tratando-se da seara trabalhista, diversamente do processo civil, a petição inicial,


deno­minada reclamação trabalhista, poderá ser ajuizada sob a forma verbal ou escrita,
nos termos do art. 840 da CLT. Contudo, em ambos os casos, o indivíduo deverá res-
peitar requisitos imprescindíveis.

De acordo com Leone Pereira (2020, p. 207), a reclamação trabalhista é assim denomi-
nada em razão da origem da Justiça do Trabalho, a qual era um órgão administrativo
atrelado ao Poder Executivo. Tornou-se órgão do Poder Judiciário apenas com o advento
da Constituição Federal de 1946.

A reclamação verbal justifica-se em razão da capacidade postulatória (jus postulandi)


das partes, nos termos do art. 791 da CLT – “Os empregados e os empregadores poderão
reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações
até o final”. O jus postulandi das partes é limitado apenas para: mandado de segurança,
ação rescisória, ação cautelar, recursos para o TST e homologação de acordo extrajudicial.

Nesse contexto, o legislador infraconstitucional optou por privilegiar o denominado


princípio da inafastabilidade da jurisdição ou, simplesmente, princípio do acesso à justiça.
Desse modo, conforme o art. 5º, XXXV, da CF/1988:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
dade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito.

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Para ajuizamento da reclamação verbal, o reclamante comparece a um órgão da Justi-
ça do Trabalho, onde haverá um servidor responsável pela redução a termo em duas vias
datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário (art. 840, § 2º, da CLT e requisitos do § 1º
do mesmo dispositivo, no que for cabível), mas, antes da redução, ela é distribuída. Da data
da distribuição, o reclamante deverá, exceto motivo de força maior, apresentar-se no prazo
de 5 (cinco) dias, ao cartório ou à secretaria, para que seja realizada a redução a termo,
conforme o art. 786 celetista.

O reclamante que não respeitar o prazo assinalado pela CLT incorrerá na pena de
perda, pelo prazo de 6 (seis) meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho,
consoante o art. 731 da CLT, o que se denomina de perempção temporária.

Você Sabia?
O Conselho Nacional de Justiça – CNJ editou a Recomendação nº 70, de 4 de agosto
de 2020, cujo art. 1º recomenda aos tribunais brasileiros – obviamente, incluindo-se
os órgãos trabalhistas –, durante a pandemia da Covid-19, em razão da necessidade de
isolamento social, a regulamentação da forma de atendimento virtual aos advogados,
procuradores, defensores públicos, membros do Ministério Público e da Polícia Judiciária
e das partes no exercício do seu jus postulandi.

No tocante à reclamação escrita, há que se observar os requisitos estabelecidos no § 1º


do art. 840 da CLT, além de outros diplomas normativos, como a Resolução nº 185/2017
do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), a qual dispõe:

Art. 19. A distribuição da ação e a juntada da resposta, dos recursos e das


petições em geral, todos em formato digital, nos autos de processo eletrôni-
co, serão feitas diretamente por aquele que tenha capacidade postulatória,
sem necessidade da intervenção da secretaria judicial, de forma automática.

Ademais, seguem os requisitos previstos no art. 840, § 1º, da CLT:


• 1º requisito: designação do juízo, ou seja, o endereçamento conforme as regras de
competência territorial previstas no art. 651 da CLT, quais sejam:
• Regra: local da prestação de serviços:

Art. 651. A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é deter-


minada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, pres-
tar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local
ou no estrangeiro.
» 1ª exceção: agente ou viajante comercial:
Art. 651. [...]
§ 1º. Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a com-
petência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou
filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente
a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a locali-
dade mais próxima.

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UNIDADE Reclamação Trabalhista

» 2ª exceção: empregado brasileiro que labora em agência ou filial no estrangeiro:


Art. 651. [...]
§ 2º A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabeleci-
da neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no
estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção
internacional dispondo em contrário.
» 3ª exceção: empregador que promove a prestação de serviço fora do local da
contratação:
Art. 651. [...]
§ 3º Em se tratando de empregador que promova realização de ativida-
des fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado
apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da pres-
tação dos respectivos serviços.
• 2º requisito: qualificação das partes, isto é, a individualização de reclamante e recla-
mado com as suas principais características. Ressalta-se que, no que for compatível,
se aplica o art. 319 do CPC;
• 3º requisito: breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio. Trata-se da causa
de pedir;
• 4º requisito: pedido, que deverá ser certo, determinado e com indicação de seu
valor, sob pena de ser julgado extinto sem resolução do mérito, de acordo com o §
3º do art. 840 da CLT;
• 5º requisito: data;
• 6º requisito: assinatura do reclamante ou de seu representante.

Importante!
No procedimento sumaríssimo, a reclamação trabalhista também deverá apresentar o
pedido certo ou determinado e indicará o valor correspondente, nos termos do art. 852-B
da CLT.

Notificação
Na análise das regras processuais previstas nos dispositivos da CLT, verifica-se a exis-
tência do termo genérico “notificação” utilizado para designar citação e intimação. Entre-
tanto, estas se referem a institutos com finalidades distintas.

Conforme o Código de Processo Civil:


Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado
ou o interessado para integrar a relação processual.
[...]
Art. 269. Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e
dos termos do processo.

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Inicialmente, destaca-se a notificação postal, a qual equivale à citação, realizada por
intermédio dos correios. Segundo o art. 841 da CLT:
Art. 841. Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário,
dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição,
ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para compa-
recer à audiência do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois
de 5 (cinco) dias.
§ 1º. A notificação será feita em registro postal com franquia. [...]
§ 2º. O reclamante será notificado no ato da apresentação da reclamação
ou na forma do parágrafo anterior.
§ 3º. Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante
não poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação.

O Tribunal Superior do Trabalho editou o Informativo nº 185 para ressaltar que, no


processo do trabalho, a notificação postal não se sujeita a ato pessoal, ou seja, é suficiente
o encaminhamento para o endereço correto da reclamada, o que possibilita o recebimento
por indivíduo distinto daquele que consta no polo da ação. “Assim, não há falar nulidade
por ausência de identificação do recebedor no aviso de recebimento (AR)”.

Importante!
A notificação postal presume-se recebida 48 (quarenta e oito) horas depois de sua pos-
tagem. O seu não recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo constituem ônus
de prova do destinatário, de acordo com a Súmula nº 16 do TST.

No tocante à notificação por edital, equivalente à citação, é admitida no processo


do trabalho, como na hipótese em que o reclamado cria embaraços ao recebimento da
notificação postal ou na fase de execução, quando o executado não é encontrado depois
de duas tentativas no prazo de 48 (quarenta e oito horas), consoante o § 1º do art. 841
e o § 3º do art. 880, ambos da CLT, in verbis:
Art. 841. [...]
§ 1º [...] se o reclamado criar embaraços ao seu recebimento ou não for
encontrado, far-se-á a notificação por edital, inserto no jornal oficial ou
no que publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da
Junta ou Juízo.
[...]
Art. 880. [...]
§ 3º. Se o executado, procurado por 2 (duas) vezes no espaço de 48 (quaren-
ta e oito) horas, não for encontrado, far-se-á citação por edital, publicado no
jornal oficial ou, na falta deste, afixado na sede da Junta ou Juízo, durante
5 (cinco) dias.

Nas reclamações trabalhistas que tramitam pelo procedimento sumaríssimo, na fase


de conhecimento, não se adota a citação por edital, incumbindo ao autor a correta
indicação do nome e endereço do reclamado, nos termos do art. 852-B, II, da CLT.

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Em regra, a notificação por meio de oficial de justiça é realizada na fase de execução


ou quando o juízo determinar, ressaltando-se que não há citação por hora certa no pro-
cesso do trabalho. Desse modo, o art. 800, §§ 1º e 2º, da CLT dispõe:
Art. 880. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal man-
dará expedir mandado de citação do executado, a fim de que cumpra
a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações esta-
belecidas ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de
contribuições sociais devidas à União, para que o faça em 48 (quarenta e
oito) horas ou garanta a execução, sob pena de penhora.
§ 1º. O mandado de citação deverá conter a decisão exequenda ou o
termo de acordo não cumprido.
§ 2º. A citação será feita pelos oficiais de diligência.

A sistemática processual trabalhista


não adota a citação por hora certa.

Em relação à notificação por meio eletrônico, correspondente à citação, conforme o


art. 17 da Resolução nº 185/2017 do CSJT, no processo eletrônico, as citações, intima-
ções e notificações, inclusive as destinadas à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos
municípios e a suas respectivas autarquias e fundações de direito público, serão feitas
por meio eletrônico, sem prejuízo da publicação no Diário Eletrônico da Justiça do
Trabalho (DEJT), nas hipóteses previstas em lei.

Importante!
A Súmula nº 262 do TST estabelece que, se a parte for intimada ou notificada no sábado,
o início do prazo se dará no primeiro dia útil imediato e a contagem no subsequente.

Quanto às notificações que equivalem à intimação, Élisson Miessa (2021, p. 494-496),


ao discorrer sobre essas espécies, destaca: a intimação pelo Diário Oficial – o advogado
é intimado por meio do Diário Oficial ou do Diário da Justiça eletrônico; intimação
postal ou por oficial de justiça – a parte que faz uso do jus postulandi é intimada pelos cor-
reios ou por oficial de justiça, assim como nas situações determinadas pelo juízo; intimação
eletrônica – realização da intimação nos termos do art. 270 do CPC; intimação em audi-
ência – as partes são intimadas das decisões na própria audiência em que são proferidas,
por exemplo, nos termos dos arts. 834 e 852 da CLT.

Estrutura da Reclamação Trabalhista


A redação da reclamação trabalhista demanda a construção de um esboço, espécie de
rascunho, tendo em vista que, durante o exame da OAB ou de um concurso público, o can-
didato não tem à disposição tempo suficiente para redigir detalhadamente e, em seguida,
realizar a transcrição, pois incorrerá na possibilidade de não finalizar sua peça processual.

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Em razão disso, aconselha-se traçar os pontos principais e, posteriormente, realizar
a redação definitiva.

Outrossim, não se recomenda decorar modelos, o adequado é conhecer a estrutura


da reclamação trabalhista com base nos requisitos legais mencionados anteriormente,
construindo um roteiro a ser seguido, com os elementos apresentados adiante.

Endereçamento da Peça
Com base nos critérios de competência territorial traçados no art. 651 da CLT, dire-
ciona-se a peça ao órgão competente para processamento e julgamento da reclama-
ção trabalhista.

É preciso se atentar para não utilizar expressões ou termos típicos das peças civis,
como “juiz de direito” e “comarca”.

O endereçamento deve conter a menção ao Juiz do Trabalho e à Vara do Trabalho.


Diante disso, supondo que a localidade de ajuizamento seja Franca/SP, assim ficará a
designação do Juízo:

Excelentíssimo Senhor Dr. Juiz do Trabalho da ____ Vara do Trabalho de Franca/SP.

Qualificação Completa do Reclamante


• Nome completo;
• Nacionalidade;
• Estado civil;
• Profissão;
• Data de nascimento;
• Nome da mãe;
• Número do RG;
• Número do CPF;
• Número da CTPS;
• Número do PIS/PASEP/NIT;
• Endereço completo com CEP.

Representação por Meio do Advogado


• Informar a existência de procuração anexa;
• Endereço profissional com CEP.

Nome da Peça e Fundamentação Legal


Reclamação trabalhista – art. 840, § 1º, da CLT c/c art. 319 do CPC.

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Utilização do Verbo Correto


• Propor ou ajuizar: Petição inicial em geral;
• Impetrar: Ações mandamentais, como mandado de segurança e habeas corpus;
• Apresentar ou oferecer: Contestação;
• Interpor: Recursos (exceto emb. decl.);
• Opor: Embargos.

Menção ao Procedimento
Dependendo do valor da causa, o procedimento pode ser ordinário, sumário ou
sumaríssimo.
O procedimento ordinário está previsto nos arts. 837 a 852 da CLT e é aplicá-
vel às ações com valor de causa acima de 40 vezes o salário mínimo vigente à época
do ajuizamento.
No que tange ao procedimento sumário, tem fundamento na Lei nº 5.584/1970 e é
adotado para ações cujo valor da causa seja de até duas vezes o salário mínimo corrente.
Quanto ao procedimento sumaríssimo, há previsão nos arts. 852-A a 852-I da CLT
e é utilizado para ações cujo valor da causa seja de até 40 vezes o salário mínimo vigente.

Importante!
Estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em que é parte a Administração
Pública direta (União, estados-membros, Distrito Federal e municípios), autárquica e funda-
cional, nos termos do parágrafo único do art. 852-A da CLT. Portanto, independentemente
do valor da causa, se, em um dos polos da ação, figurar qualquer dos entes citados, o proces-
samento e o julgamento da demanda ocorrerão pelo procedimento ordinário.

Qualificação completa do reclamado


• Pessoa física: Nome completo, CPF e endereço completo com CEP;
• Pessoa jurídica: Nome completo, pessoa jurídica de direito privado, número do
CNPJ, endereço completo com CEP.

“Dos fatos” ou “Do contrato de trabalho” ou “Da relação laboral”


Trata-se de breve relato da motivação que impulsionou o reclamante a buscar o Poder
Judiciário, respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos, assim como as regras
de coerência e coesão.

Você não deve apresentar dados ou fatos não comunicados pela situação-problema,
sob risco de ser penalizado(a) com desconto de nota.

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“Da fundamentação jurídica” ou “Do Direito”
Neste tópico, você deverá abordar todas as teses apresentadas pela situação-problema,
de modo coerente e coeso. Para tanto, deverá construir a fundamentação jurídica apro-
priada, especialmente com base na Constituição Federal, na CLT, nas Súmulas e nas
Orientações Jurisprudenciais do TST e na legislação esparsa.
Diante disso, deve-se evitar a utilização de certas ferramentas, como o “recorta e cola”
da letra da lei sem qualquer conexão à realidade fática, ou seja, a simples citação do dis-
positivo legal sem contextualizar com o caso concreto.
Geralmente, a reclamação trabalhista cuida de diversos assuntos, por exemplo, vários
direitos laborais violados. Em razão disso, recomenda-se o estabelecimento de subdivisão
na fundamentação jurídica.

Pedidos
De acordo com o art. 840, § 1º, da CLT, os pedidos devem ser certos, determinados
e com indicação do valor, sob pena de serem julgados extintos sem resolução do mérito.
Neste tópico, far-se-á o requerimento conforme as teses defendidas na fundamenta-
ção jurídica, além dos pedidos clássicos:
• notificação do reclamado;
• protesto por provas;
• honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do art. 791-A da CLT;
• benefício da justiça gratuita (quando necessário), de acordo com o art. 790, §§ 3º
e 4º, da CLT.

Valor da Causa
O valor da causa será fixado em razão do somatório dos pedidos contidos na peti-
ção inicial.
Outrossim, o valor da causa determinará o procedimento pelo qual tramitará a recla-
mação trabalhista.

Fechamento
• Nestes termos,
pede deferimento.
• Local e data.
• Advogado(a)
OAB nº ____

Importante!
Não é necessário juntar rol de testemunhas na petição inicial trabalhista, as quais são
convidadas a comparecer espontaneamente na data e horário designados para audiência.

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Em Síntese
• Endereçamento;
• Qualificação do(a) reclamante;
• Advogado(a);
• Nome da peça e fundamentação legal;
• Verbo;
• Procedimento;
• Qualificação do(a) reclamado(a);
• Fatos;
• Fundamentação jurídica;
• Pedidos;
• Valor da causa;
• Fechamento.

Redação da Reclamação Trabalhista


Caso Hipotético 1 (adaptado)
Síntese da entrevista realizada com Heitor Samuel Santos, brasileiro, solteiro, desem-
pregado, filho de Isaura Santos, portador da identidade 559, CPF 202, residente e
domiciliado na Rua Sete de Setembro, casa 18 – Manaus – Amazonas – CEP 999:
• Trabalhou na fábrica de componentes eletrônicos Nimbus S.A. situada na Rua
Leonardo Malcher, 7.070 – Manaus – Amazonas – CEP 210, de 10.10.2012 a
02.02.2020, oportunidade na qual foi dispensado sem justa causa e recebeu,
corretamente, sua indenização;
• A empresa possui 220 empregados;
• É portador de deficiência e soube que, após a sua dispensa, não houve contra-
tação de um substituto em condição semelhante;
• Seu e-mail pessoal era monitorado pela empresa porque, na admissão, estava
ocorrendo um problema na plataforma institucional, daí por que a ex-emprega-
dora acordou com os empregados que o conteúdo de trabalho seria enviado ao
e-mail particular de cada um, desde que pudesse fazer o monitoramento; que,
em razão disso, o empregador teve acesso a diversos escritos e fotos particulares
do depoente, inclusive conteúdo que ele não desejava expor a terceiros;
• Durante o contrato sofreu descontos a título de contribuição sindical e confede-
rativa, mesmo não sendo sindicalizado;
• Teve a CTPS assinada como assistente de estoque, mas, em parte do horário de
trabalho, também realizava as tarefas de um analista de compras, pois seu chefe
determinava que ele fizesse pesquisa de preços e comparasse a sua evolução ao
longo do tempo, atividades estranhas ao seu mister de assistente de estoque;

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• Trabalhava de segunda a sexta-feira, das 8h00min às 16h45min, com intervalo
de 45 minutos para refeição, e aos sábados, das 8h00min às 12h00min, sem
intervalo. Você, contratado(a) como advogado(a), deve apresentar a medida
processual adequada à defesa dos interesses de Heitor, sem criar dados ou fatos
não comunicados.

Fonte: https://bit.ly/3fTfCSN

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz do Trabalho da ..... Vara do Trabalho de Manaus – AM.

HEITOR SAMUEL SANTOS, brasileiro, solteiro, desempregado, nascido em


__________, filho de Isaura Santos, portador do RG nº 559 e CPF nº 202, CTPS
nº ___, PIS nº ___, residente e domiciliado na Rua Sete de Setembro, casa 18, CEP
999, Manaus – AM, por seu/sua advogado(a) abaixo subscrito(a) (procuração ane-
xa), com endereço profissional em ___________________, onde receberá
correspondências e notificações, vem, à presença de Vossa Excelência, com base no
art. 840, § 1º, da CLT combinado com o art. 319 do CPC, propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
pelo rito __________, em face de NIMBUS S.A., nº do CNPJ, situada na rua Leo-
nardo Malcher, 7.070, Manaus – AM, CEP 210, pelos fundamentos de fato e de direito
a seguir expostos:
I – Dos fatos
O Reclamante trabalhou para a Reclamada de 10.10.2012 a 02.02.2020, oportunidade
na qual foi dispensado sem justa causa e recebeu, corretamente, sua indenização.
Durante o contrato de trabalho, o Reclamante, que é portador de deficiência, teve
sua CTPS registrada como assistente de estoque, mas, ao longo da jornada diária de
trabalho, executava tarefas conexas ao cargo de um analista de compras.
Ressalta-se que a ex-empregadora não contratou novo empregado portador de defi-
ciência quando da dispensa do reclamante.
Ademais, monitorava e-mail pessoal, bem como realizava descontos de contribuição
sindical e confederativa de não sindicalizados.
Por fim, a jornada de trabalho era de segunda a sexta-feira, das 8h00min às 16h45min,
com intervalo de 45 minutos para refeição, e aos sábados, das 8h00min às 12h00min,
sem intervalo.
II – Dos fundamentos jurídicos
1. Da reintegração
A empresa possui 220 empregados e o Reclamante é portador de deficiência, o qual
soube, após a sua dispensa, que não houve contratação de um substituto em condição
semelhante, o que lhe dá o direito de ser reintegrado às funções anteriormente ocupadas.
Demonstra-se a probabilidade do direito assentada no art. 93, § 1º, da Lei nº 8.213/1991,
uma vez que a dispensa imotivada do empregado portador de deficiência terá funda-
mento somente após a contratação de outro em condição de deficiente, o que não
ocorreu na situação mencionada.

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UNIDADE Reclamação Trabalhista

Desse modo, requer-se que a reclamada proceda à reintegração do trabalhador ao


emprego, assim como ao pagamento dos salários e das demais vantagens do período
de afastamento.
2. Do dano moral
Durante a vigência do contrato de trabalho, o e-mail pessoal do Reclamante era mo-
nitorado pela empresa, sob a justificativa de problemas na plataforma institucional
e necessidade de envio de trabalho.
Por tal razão, a Reclamada teve acesso a diversos escritos e fotos particulares, inclusive
conteúdo de foro íntimo que não se desejava expor a terceiros.
De acordo com o art. 5º, X, da CF/1988, assim como os arts. 223-B e ss. da CLT, deverá
indenizar pelo dano moral decorrente da violação da intimidade, o que é evidente
no caso do Reclamante.
No que tange ao quantum indenizatório, ante o advento da reforma trabalhista (Lei
nº 13.467/2017), o valor será fixado de acordo com a natureza da ofensa. O reclamante
sofreu grande abalo em razão da invasão de intimidade, assim como pela possibilidade
de terceiros terem acesso ao conteúdo do seu e-mail privado.
Desse modo, o Reclamante requer a condenação da Reclamada por dano de cará-
ter gravíssimo.
3. Da devolução dos descontos
No curso do contrato de trabalho, o trabalhador sofreu descontos a título de contri-
buição sindical e confederativa.
Segundo o entendimento do STF na Súmula Vinculante nº 40, a contribuição con-
federativa apenas é exigível ao trabalhador sindicalizado, qualidade que não condiz
com o Reclamante.
No que diz respeito à contribuição sindical, popularmente conhecida como imposto
sindical, não há que se falar na obrigatoriedade do seu pagamento, estando sindica-
lizado ou não. O desconto de tal contribuição está condicionado à autorização prévia
e expressa, conforme o art. 579 da CLT.
Os mencionados descontos violam o direito de livre associação e sindicalização. Sendo
assim, requer-se a devolução dos valores descontados irregularmente.
4. Do acúmulo funcional
O Reclamante teve a CTPS assinada como assistente de estoque, mas, em parte do
horário de trabalho, também realizava as tarefas de um analista de compras, as
quais eram estranhas à função de assistente.
Notadamente, está caracterizado o acúmulo de função e, nos termos do art. 456 da
CLT, a prova do contrato de trabalho ocorre pelas anotações do citado documento,
não cabendo a tese de obrigar-se a qualquer circunstância compatível com a condi-
ção pessoal.
Portanto, espera-se a condenação da Reclamada ao pagamento do plus salarial pelo exer-
cício de duas funções distintas, assim como os reflexos nos demais direitos trabalhistas.
5. Do intervalo intrajornada parcial
O Reclamante trabalhava de segunda a sexta-feira, das 8h00min às 16h45min, com
intervalo de 45 minutos para refeição, e aos sábados, das 8h00min às 12h00min,
sem intervalo.

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Segundo o art. 71 da CLT, o intervalo intrajornada para jornadas acima de 6 horas
diárias deverá ter a duração mínima de 1 hora, o que não ocorria no caso do recla-
mante, pois tinha 15 minutos suprimidos do seu intervalo.
Em decorrência da violação celetista, o trabalhador faz jus ao intervalo intrajornada
quanto ao tempo não usufruído, com o respectivo adicional de 50%, de acordo com
o art. 71, § 4º, da CLT.
III – Dos pedidos
Ante o exposto, o Reclamante requer o processamento da presente reclamação traba-
lhista e a procedência dos pedidos, especialmente:
a. A reintegração do Reclamante ao emprego, assim como o pagamento dos salá-
rios do período de afastamento;
b. O pagamento de indenização por danos morais;
c. A devolução dos valores descontados irregularmente a título de contribuição
sindical e confederativa;
d. O pagamento do plus salarial pelo acúmulo de função, assim como os reflexos;
e. O pagamento de 15 minutos diários com adicional de 50% pela concessão par-
cial do intervalo intrajornada;
f. O pagamento de custas e demais despesas processuais, inclusive honorários
advocatícios de sucumbência, nos termos do art. 791-A da CLT;
g. A notificação da Reclamada para que apresente sua defesa e compareça em audi-
ência designada por Vossa Excelência, sob pena de incorrer nos efeitos da revelia.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, princi-
palmente a prova documental, testemunhal, pericial e outras que se fizerem neces-
sárias, as quais, desde já, ficam requeridas.
Dá-se à causa o valor de R$ _____________________ (valor por extenso)
Nestes termos,
pede deferimento.
Local e data

Advogado(a)
OAB nº

Importante!
Perceba que os parágrafos da fundamentação jurídica estão apresentados de modo se-
quencial, conectados por meio de elementos que priorizam a coerência e a coesão. Exem-
plos de conectivos: “Diante disso”, “Portanto”, “Em razão disso”, “Por tal motivo”, “Sendo
assim”, “Em decorrência disso”, “Por tal razão”, “Ante o exposto”, “Diante do exposto”,
“Segundo o(a)”, “De acordo com”, “Ademais”, “Além disso”, entre outros.

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UNIDADE Reclamação Trabalhista

Caso Hipotético 2

Maria, brasileira, casada, residente e domiciliada em Céu Azul/PR, ex-empregada da


“Doces Açucarados Ltda.”, com sede em Curitiba/PR. Durante o vínculo empregatício,
tinha jornada de trabalho das 8h00min às 18h00min e era vinculada à unidade de
Cascavel/PR. O contrato de trabalho vigeu de 1º de março de 2017 a 5 de janeiro de
2020, quando fora rompido sem justa causa pela ex-empregadora. A obreira desem-
penhou a função de agente comercial e apresentava a clientes produtos fabricados
pela empresa; tal representação era realizada em diversas cidades do interior do es-
tado, como Arapongas, Balsa Nova e Bandeirantes. Na rescisão contratual, segundo
a ex-empregada, a ex-empregadora não quitou adicional noturno, multa do FGTS,
participação nos lucros e resultados no valor de 30% da remuneração (conforme CCT
apresentada), gratificação natalina proporcional.
Na qualidade de advogado(a) de Maria, apresente a medida processual adequada
para a garantia dos direitos da sua cliente.

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz do Trabalho da ..... Vara do Trabalho de Cascavel/PR


(espaço de 10 linhas)
MARIA, brasileira, casada, desempregada, portadora do RG nº __________
e CPF nº __________, CTPS nº __________, PIS nº __________, fi-
lha de __________, nascida em __________, residente e domiciliada em
__________, no município de Céu Azul/PR, por seu/sua advogado(a) abaixo
subscrito(a (procuração anexa), o/a qual recebe correspondências e notificações no
endereço __________________, vem, à presença de Vossa Excelência, com
base no art. 840, § 1º, da CLT combinado com o art. 319 do CPC, propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
pelo rito __________, em face de DOCES AÇUCARADOS LTDA., nº do CNPJ, pes-
soa jurídica de direito privado, situada em __________, pelos fundamentos de
fato e de direito abaixo expostos:
I – Do contrato de trabalho
A reclamante laborou para a reclamada de 01.03.2017 a 05.01.2020, momento que
fora dispensada sem justa causa.
Durante o contrato de trabalho, exerceu a função de agente comercial em diversas
cidades do interior do estado do Paraná, cuja jornada de trabalho era das 8h00min
às 18h00min, estando subordinada à unidade de Cascavel.
Na rescisão contratual, a ex-empregadora deixou pendentes os seguintes direitos
trabalhistas: multa indenizatória sobre os depósitos do FGTS, participação nos lucros
e resultados no valor de 30% da remuneração.
A presente reclamação visa à reparação dos haveres violados, entre outros a
serem demonstrados.

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II – Dos fundamentos jurídicos
1. Da multa indenizatória do FGTS
No curso da relação laboral, a reclamada efetuou, corretamente, os depósitos per-
tinentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, no entanto não cumpriu com a
obrigação de depositar a multa indenizatória sobre o montante.
Consoante o art. 18, § 1º, da Lei nº 8.036/1990, ocorrendo a rescisão do contrato de
trabalho na hipótese de despedia sem justa causa, o empregador deverá depositar,
na conta vinculada do trabalhador no FGTS, importância igual a 40% do montante
de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato
de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros.
Desse modo, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento da multa inde-
nizatória do FGTS.
2. Da participação nos lucros ou resultados
A participação nos lucros ou resultados não é instituto obrigatório nas empresas,
dependerá de prévia negociação entre empregador e empregados. Nos termos do
art. 2º da Lei nº 10.101/2000, o ajuste ocorrerá por comissão paritária, convenção
coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho.
No caso da reclamante, a negociação deu-se por meio de convenção coletiva de
trabalho, a qual fixou o percentual de 30% sobre a remuneração do empregado.
Entretanto, a reclamada também não honrou com tal compromisso.
Sendo assim, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento da participação
nos lucros ou resultados.
3. Da multa do art. 477, § 8º, da CLT
Diante do exposto, percebe-se que a reclamada não efetuou o pagamento das verbas
rescisórias de forma correta, tal como: multa indenizatória do FGTS.
Conforme o art. 477, §§ 6º e 8º, da CLT, na extinção do contrato de trabalho, o emprega-
dor deverá anotar a Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos
órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo de 10 (dez)
dias contados a partir do término do contrato de trabalho, sob pena de pagar multa em
prol do trabalhador equivalente ao valor do salário.
Tal regramento não foi respeitado pela reclamada; portanto, requer-se o pagamen-
to de multa.
4. Da multa do art. 467 da CLT
Não se pode olvidar da regra estabelecida no art. 467 da CLT, segundo a qual o empre-
gador deverá pagar ao trabalhador, até a data de comparecimento à Justiça do Trabalho,
a parte incontroversa das verbas rescisórias, sob pena de pagá-las acrescidas de 50%.
No que tange à reclamante, todas os direitos pendentes são considerados incontroversos,
por isso, desde já, se requer o pagamento das verbas acrescidas do mencionado percen-
tual caso não haja a quitação nos termos estabelecidos pelo dispositivo celetista.

III – Pedidos e requerimentos


Ante o exposto, o Reclamante requer o processamento da presente reclamação tra-
balhista e a procedência dos pedidos, especialmente:

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UNIDADE Reclamação Trabalhista

a. A notificação da Reclamada no endereço citado, para que compareça em Juízo,


em audiência designada por Vossa Excelência e, se desejar, apresente sua defesa
sob pena de incorrer nos efeitos da revelia;
b. A condenação da reclamada para efetuar o recolhimento da multa indenizatória
sobre os depósitos do FGTS;
c. A condenação da reclamada ao pagamento da participação nos lucros ou resultados;
d. O pagamento da multa do art. 477, §§ 6º e 8º, da CLT;
e. O pagamento da multa do art. 467 da CLT;
f. A condenação da reclamada ao pagamento de despesas processuais, inclusive
honorários advocatícios, conforme dispõe o art. 791-A da CLT.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em espe-
cial prova documental, testemunhal e outras que se fizerem necessárias, as quais, desde
já, ficam requeridas.
Dá-se à causa o valor de R$ ____________________.
Nestes termos,
pede deferimento.
Local e data

Advogado(a)
OAB nº

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Prática Jurídica Trabalhista
PEREIRA, L. Prática jurídica trabalhista. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
https://bit.ly/2Q5NbID

Vídeos
Saber Direito – Petição Inicial Trabalhista – Aula 1, 2, 3, 4 e 5
https://youtu.be/NDgriqPC2bc

Leitura
Pedidos na Petição Inicial Trabalhista Após a Reforma
https://bit.ly/34x9M4d
A nova petição inicial trabalhista
https://bit.ly/3oZoOcx

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UNIDADE Reclamação Trabalhista

Referências
ALMEIDA, A. P. Curso prático de processo do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.

BUENO, C. S. Manual de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.

MIESSA, É. Curso de direito processual do trabalho. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.

PEREIRA, L. Prática jurídica trabalhista. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

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