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Tema: Figuras afins
Sumário: Obrigação real, Pretensão real e Ónus real

Por situações jurídicas propter rem ou ob rem entendem-se aquelas cujo sujeito activo ou
passivo se determina em atenção à titularidade de um direito real, ou seja, o sujeito activo
ou passivo da situação jurídica propter rem é o titular do direito real. Quer isto dizer que,
as situações propter rem correspondem àquelas situações jurídicas cujo sujeito activo e
passivo é determinado em virtude da titularidade de um direito real. Correspondem assim
a situações em que a existência do direito real atribui ao seu titular direitos e obrigações
em relação a outrem.

Estas situações são: as obrigações propter rem, os ónus reias e as pretensões reais.

1. Obrigações propter rem

Correspondem as obrigações em que o respectivo devedor é determinado pela


titularidade de um direito real. Trata-se assim de obrigações cujo sujeito passivo é
variável, correspondendo ao que for titular naquele momento de determinado
direito real, o que justifica sua qualificação como obrigações ambulatórias.

Existem inúmeras situações em que surgem as obrigações propter rem no âmbito


dos direitos reais. Assim, os comproprietários têm o dever de contribuir, em
proporção das respectivas quotas, para as despesas necessárias à conservação ou
fruição da coisa comum, artigo 1411.º, n.º 1 do CC. Da mesma forma, os
condóminos têm o dever de pagar,na proporção do valor das suas fracções, as
despesas necessárias à conservação e fruição das partes comuns do edifício e ao
pagamento de serviços de interesse comum, artigo 1424.º, n.º 2 do CC. Igualmente o
usufrutuário tem o dever de realizar as reparações ordinárias na coisa usufruída,
artigo 1472.º, n.º 1, bem como pagar impostos e outros encargos anuais, artigo
1474.º, sendo estas obrigações extensíveis no todo ou em parte ao usuário e ao
morador usuário, artigo 1489.º do CC. Por sua vez, o titular do direito de superfície
pode ser obrigado a pagar uma prestação anual, perpétua ou temporária,
denominado cânon superficiário, artigo 1530.º, n.º 1 do CC. Nas servidões prediais,
o proprietário do prédio dominante pode ser obrigado a custear a realização de
obras no prédio serviente, artigo 1567.º, n.º1 do CC.

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Porquanto vários direitos reais podem coexistir simultaneamente sobre a mesma
coisa, ocorrendo situações de actuação concorrente e, por conseguinte, de conflito
potencial entre titulares, o exercício desses direitos tem de ser regulado. Essa
regulação é, assim, o escopo das obrigações propter rem.

As obrigações propter rem fazem parte do conteúdo do direito real, uma vez que
este, como situação jurídica complexa, além do seu núcleo essencial, que consiste na
faculdade de aproveitamento de uma coisa corpórea, pode incluir outros elementos,
entre estes se incluindo essas obrigações. Em certos direitos reais, a lei confere uma
certa amplitude para a constituição de obrigações propter rem por via negocial,
como se verifica no usufruto, artigo 1445.º, uso e habitação, artigo 1485.º, superfície,
artigo 1530.º e servidões prediais, artigo 1564.º todos do CC. Nestas, é
inclusivamente possível alterar o sujeito passivo da respectiva obrigação, artigo
1567.º do CC. Apesar disso, no entanto, as obrigações propter rem são sujeitas ao
princípio da tipicidade, artigo 1306.º, n.º 1 do CC, apenas se podendo constituir nos
casos previstos por lei.

2. Ónus real

Em sentido jurídico, o ónus real constitui uma prestação de dare, em dinheiro ou


em géneros, única ou períodica, imposta ao titular de determinados bens, que
atribui ao repectivo credor preferência no pagamento sobre esses bens. O ónus real
designa uma prestação positiva a que se encontra obrigado o titular de um direito
real defronte de outra pessoa. Neste sentido, o ónus real constitui uma modalidade
de situação jurídica propter rem.

Ónus real é o direito de exigir a entrega, singular ou períodica, de coisa, em géneros


ou dinheiro, a quem for o titular de um direito real de gozo sobre um prédio. O
ónus real real tem por objecto uma prestação de dare. A coisa a entregar pode ser
uma qualquer, em regra, será dinheiro, como por exemplo: o apanágio do cônjuge
sobrevivo, a reserva de quantia sobre coisa doada, artigo 959.º do CC, etc.

O ónus real atinge o titular de um direito real sobre um prédio, impondo-lhe uma
obrigação de entrega da coisa. Os ónus reais conferem ao titular o direito de exigir a
entrega de coisa seja qual for o titular do direito real de gozo sobre o prédio. Por
conseguinte, havendo uma transmissão do direito real, o novo titular está obrigado
a cumprir a prestação ao credor, ainda que exista mora anterior à transmissão, ou

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seja, mesmo que o crédito seja vencido antes do novo titular ter adquirido o seu
direito.

Os ónus reais distinguem-se das obrigações propter rem por não fazerem parte do
conteúdo de direitos reais, embora sejam igualmente constituídos em virtude da
titularidade de determinados bens, aos quais permanecem ligados. Enquanto nas
obrigações propter rem, o titular só fica vinculado ao cumprimento das prestações
que se constituiram na vigência do seu direito, nos ónus reais o adquirente dos bens
responde pelo cumprimento das prestações anteriores à sua aquisição, uma vez que
sucede na titularidade da coisa que essa obrigação se encontra unida.

Por outro lado, os ónus reais atribuem preferência no pagamento sobre coisa que
gravam, estando assim acopulados a uma garantia real, enquanto nas obrigações
propter rem não existe qualquer garantia, respondendo o património do devedor
em caso de incumprimento, nos termos gerais.

3. Pretensões reais

As pretensões reais são direitos relativos, que têm apenas a especialidade de ser
originadas pelo direito real, estando consequentemente a ele ligadas. Não fazem, no
entanto, parte do conteúdo desse direito real, o qual pode ser plenamente exercido,
sem que alguma vez dê origem a uma pretensão dessa natureza. As pretensões
reais protegem os direitos reais em que se fundamentam.

Sendo direitos relativos, as pretensões reais estão sujeitas às normas sobre o


cumprimento das obrigações, artigo 762.º e seguintes, sendo-lhes igualmente
aplicável o regime da mora do devedor, artigo 804.º e seguintes e da mora do
credor, artigo 813.º e seguintes do CC.

Através de acção de reivindicação e da acção negatória, as pretensões reais


protegem os direitos reais em que se apoiam e, por isso, o regime jurídico a que se
encontram sujeitas há-de harmonizar-se com os direitos que tutelam. Assim, são
imprescritíveis, sem prejuízo dos direitos adquiridos por usucapião, artigo 1313.º
do CC e da extinção por não uso nos casos legalmente admitidos, artigo 298.º, n.º 3
(quanto ao direito de propriedade, o Código Civil só admite um caso em que se
extingue por não uso: o das águas originariamente públicas, artigo 1397.º. São
inaplicáveis ao não uso as causas suspensivas e interruptivas da prescrição, artigo
298.º, n.º 3 do CC.)

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