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Raphael Miziara

RETROSPECTIVA TRABALHISTA 2021


INFORMATIVOS DO TST
RESUMIDOS, SEPARADOS POR ASSUNTO E OTIMIZADOS PARA ATUALIZAÇÃO E ESTUDOS

SUMÁRIO
DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO ......................................................................................................................... 4
PRINCÍPIOS ............................................................................................................................................................................. 4
Primazia da realidade .................................................................................................................................................... 4
DIREITO INTERTEMPORAL .......................................................................................................................................................... 4
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ....................................................................................................................................................... 6
Interrupção do prazo prescricional ................................................................................................................................ 6
Responsabilidade civil .................................................................................................................................................... 6
EMPREGADOS E TRABALHADORES EM GERAL ................................................................................................................................. 8
Advogados ..................................................................................................................................................................... 8
Atletas profissionais....................................................................................................................................................... 8
Bancários ....................................................................................................................................................................... 9
Bombeiro Civil .............................................................................................................................................................. 10
Diretor de S/A .............................................................................................................................................................. 10
Empregado com encargos familiares .......................................................................................................................... 10
Empregados públicos ................................................................................................................................................... 12
Engenheiros ................................................................................................................................................................. 15
Motorista ..................................................................................................................................................................... 15
Mulher ......................................................................................................................................................................... 16
Petroleiro ..................................................................................................................................................................... 16
Portuários .................................................................................................................................................................... 18
Professor ...................................................................................................................................................................... 18
Trabalhadores em plataformas digitais ...................................................................................................................... 19
CONTRATO DE TRABALHO ....................................................................................................................................................... 19
Trabalho proibido e trabalho ilícito ............................................................................................................................. 19
Alteração do contrato de trabalho .............................................................................................................................. 20
Suspensão e Interrupção do contrato de trabalho ...................................................................................................... 22
Unicidade contratual ................................................................................................................................................... 22
DURAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................................................................................................ 23
Sobreaviso e Prontidão ................................................................................................................................................ 23
Tempo à disposição ..................................................................................................................................................... 23
INTERVALOS E PAUSAS ............................................................................................................................................................ 23
Recuperação térmica ................................................................................................................................................... 23
Intervalo intersemanal ................................................................................................................................................ 24
FÉRIAS ................................................................................................................................................................................. 24
Pagamento em dobro .................................................................................................................................................. 24
Abono pecuniário de férias .......................................................................................................................................... 25
SALÁRIO E REMUNERAÇÃO ...................................................................................................................................................... 25
Gratificação de função ................................................................................................................................................ 25
Adicional de periculosidade ......................................................................................................................................... 25
Adicional de insalubridade .......................................................................................................................................... 27
Adicional de transferência ........................................................................................................................................... 28
Salário disfarçado ........................................................................................................................................................ 29
SUCESSÃO TRABALHISTA ......................................................................................................................................................... 29
TERCEIRIZAÇÃO ..................................................................................................................................................................... 30
RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................................................................................................................................ 32
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Prescrição..................................................................................................................................................................... 32
Aspectos ligados ao arbitramento............................................................................................................................... 33
Responsabilidade objetiva ........................................................................................................................................... 34
Inobservância das normas de segurança do trabalho ................................................................................................ 35
Jornada extenuante ..................................................................................................................................................... 35
Dispensa imotivada do professor ................................................................................................................................ 35
Dispensa de trabalhador com deficiência ................................................................................................................... 36
Danos indiretos ou em ricochete ................................................................................................................................. 36
Perda de uma chance .................................................................................................................................................. 41
Danos morais coletivos ................................................................................................................................................ 42
Cobrança do candidato por agenciamento de emprego ............................................................................................. 42
Acusação por ato ilícito ............................................................................................................................................... 43
Limbo jurídico-previdenciário ...................................................................................................................................... 45
Recusa de pagamento do prêmio pela seguradora..................................................................................................... 45
Penalização de empregados pela apresentação de atestados médicos ..................................................................... 46
FGTS .................................................................................................................................................................................. 46
Saques .......................................................................................................................................................................... 46
EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO ..................................................................................................................................... 46
Despedida discriminatória ........................................................................................................................................... 46
Despedida de professor ............................................................................................................................................... 47
Força maior .................................................................................................................................................................. 47
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO .......................................................................................................................... 47
UNICIDADE SINDICAL .............................................................................................................................................................. 47
ENQUADRAMENTO SINDICAL.................................................................................................................................................... 48
RECEITAS SINDICAIS ............................................................................................................................................................... 48
NORMAS COLETIVAS .............................................................................................................................................................. 49
COMISSÃO DE FÁBRICA ........................................................................................................................................................... 49
GREVE ................................................................................................................................................................................. 50
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO...................................................................................................................... 51
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ................................................................................................................................................... 51
Servidor submetido a regime jurídico-administrativo de Estado estrangeiro ............................................................. 51
Fraude contra credores................................................................................................................................................ 52
Demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial ............................................................................ 52
Execução contra massa falida ou empresa em recuperação judicial .......................................................................... 53
Diretor estatutário de S/A. .......................................................................................................................................... 54
Advogado dativo.......................................................................................................................................................... 54
Habeas corpus ............................................................................................................................................................. 55
JUSTIÇA GRATUITA ................................................................................................................................................................. 55
HONORÁRIOS ....................................................................................................................................................................... 56
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ ............................................................................................................................................................. 60
Utilização de via processual inadequada .................................................................................................................... 60
LITISCONSÓRCIO .................................................................................................................................................................... 60
NULIDADES PROCESSUAIS ........................................................................................................................................................ 61
Ausência de juntada das razões de voto vencido no acórdão recorrido ..................................................................... 61
Remessa à sessão telepresencial ................................................................................................................................. 61
Exigência de apresentação de originais enviados por e-DOC ..................................................................................... 61
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE................................................................................................................................................... 62
Pronunciamento de ofício ............................................................................................................................................ 62
Processos iniciados antes da Reforma Trabalhista ..................................................................................................... 62
PETIÇÃO INICIAL .................................................................................................................................................................... 63
TUTELA PROVISÓRIA .............................................................................................................................................................. 64
AUDIÊNCIA ........................................................................................................................................................................... 66

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Não comparecimento injustificado do reclamante ..................................................................................................... 66


PROVAS ............................................................................................................................................................................... 66
Produção antecipada de provas .................................................................................................................................. 66
Prova documental........................................................................................................................................................ 67
Prova testemunhal....................................................................................................................................................... 67
HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL .............................................................................................................................. 68
SENTENÇA ............................................................................................................................................................................ 68
RECURSOS............................................................................................................................................................................ 71
Princípio da unirrecorribilidade ................................................................................................................................... 71
Princípio da irrecorribilidade imediata ou em separado das interlocutórias .............................................................. 71
Efeito devolutivo .......................................................................................................................................................... 71
Preparo ........................................................................................................................................................................ 72
Embargos de declaração ............................................................................................................................................. 75
Recurso Ordinário ........................................................................................................................................................ 76
Recurso de Revista ....................................................................................................................................................... 76
Embargos de divergência ............................................................................................................................................ 77
Sustentação oral .......................................................................................................................................................... 78
COISA JULGADA ..................................................................................................................................................................... 79
EXECUÇÃO ........................................................................................................................................................................... 80
Medidas atípicas .......................................................................................................................................................... 80
Remição ....................................................................................................................................................................... 80
Multas .......................................................................................................................................................................... 80
Exceção de pré-executividade ..................................................................................................................................... 81
Penhora........................................................................................................................................................................ 81
Seguro garantia ........................................................................................................................................................... 82
PROCESSO COLETIVO.............................................................................................................................................................. 82
Litispendência .............................................................................................................................................................. 82
Dissídios coletivos ........................................................................................................................................................ 83
MANDADO DE SEGURANÇA ..................................................................................................................................................... 83
AÇÃO RESCISÓRIA .................................................................................................................................................................. 87
AÇÃO ANULATÓRIA ................................................................................................................................................................ 89
Cabimento.................................................................................................................................................................... 89
Auto de infração .......................................................................................................................................................... 89
FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO.................................................................................................................................................... 90
Legitimidade ................................................................................................................................................................ 90
Sociedades de economia mista.................................................................................................................................... 90

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Direito Individual do Trabalho

Princípios

Primazia da realidade

O princípio da primazia da realidade sobre a forma constitui-se em poderoso


instrumento para a pesquisa e encontro da verdade real em uma situação de litígio
trabalhista. Não deve, contudo, ser brandido unilateralmente pelo operador jurídico.
Desde que a forma não seja da essência do ato, o intérprete e aplicador do Direito deve
investigar e aferir se a substância da regra protetiva trabalhista foi atendida na prática
concreta efetivada entre as partes, ainda que não seguida estritamente a conduta
especificada pela legislação. Na hipótese dos autos, conforme dados consignados no
acórdão recorrido, o valor mensal recebido a título de locação do veículo era
superior a 50% do salário do obreiro, o que evidencia o intuito de mascarar o
efetivo caráter salarial da contraprestação paga ao empregado. Assim, constatada
a fraude no pagamento de valores ao Reclamante a título de aluguel de veículo,
impõe-se o reconhecimento da natureza salarial da parcela, nos termos dos arts.
9º e 457, § 2º, da CLT. TST-ARR-1744-25.2014.5.17.0007, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio
Godinho Delgado, julgado em 1/9/2021 – Informativo TST n.º 243.

Direito intertemporal

Inexiste direito adquirido à incorporação da gratificação de função, ainda que


exercida por mais de 10 anos, frente à norma expressa do art. 468, § 2º, da CLT. TST-
ARR-566-82.2017.5.08.0202, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, julgado em
2/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

A controvérsia dos autos limita-se em saber se a concessão parcial do intervalo


intrajornada implica o pagamento do período total correspondente, nos termos da
Súmula 437, I, do TST, no período posterior à Reforma Trabalhista, uma vez que o
contrato de trabalho fora firmado antes da vigência da Lei nº 13.467/2017, perdurando
até 14/08/2018. 3 – A questão já foi apreciada por essa Turma, no julgamento do RR-
1556-35.2017.5.12.0017, de minha relatoria, com acórdão publicado no DEJT em
21/02/2020: “Tratando-se de parcela salarial, devida se configuradas determinadas
circunstâncias, a alteração legislativa que suprimiu o direito à parcela não alcança os
contratos daqueles trabalhadores que já possuíam o direito a seu pagamento,
enquanto aquelas circunstâncias não forem alteradas. Do contrário, estaríamos
albergando a redução da remuneração do trabalhador, embora não alterada a situação
de fato que a amparava, o que é vedado pelo art. 7º, VI, da CR/88”. 4 - Sob a ótica do
direito intertemporal, aplicam-se as normas de Direito Material do Trabalho do
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tempo dos fatos, em respeito ao princípio da irretroatividade da lei tempus regit


actum (art. 5º, XXXVI, da CF/88). 5 – E, quando contrato já se encontra em curso
quando da inovação legislativa, tratando-se de parcela salarial, a alteração
legislativa que suprimiu ou alterou o direito à parcela não alcança os contratos
daqueles trabalhadores que já possuíam o direito a seu pagamento, enquanto
aquelas circunstâncias não forem alteradas, sob pena de se chancelar a redução
da remuneração do trabalhador e ferir direito adquirido. TST-RR-11109-
34.2018.5.03.0143, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em 5/5/2021 –
Informativo TST n.º 237.

No tocante à redução do intervalo intrajornada por norma coletiva, em relação à


contrato firmado anteriormente à vigência da Lei n.º 13.103/2015, entendeu o TST que a
Lei nº 13.103/2015 não retroage para alcançar fatos ocorridos antes de sua vigência, nem
seus efeitos futuros. O autor foi contratado em 7/1/2013 e que o contrato foi extinto em
14/4/2016. Assim, a situação dos autos não está abrangida pela Lei nº 13.103/2015, que
não retroage para alcançar fatos ocorridos antes de sua vigência. O TRT, ao fixar o termo
final da condenação ao pagamento de 1 hora de intervalo intrajornada em 16/4/2015,
incorreu em potencial ofensa ao art. 6º, caput, da LINDB. Caso fosse intenção do
legislador a aplicação das normas materiais da Reforma Trabalhista aos contratos em
curso, o que implica retroatividade mínima, haveria norma expressa em tal sentido. A
anomia quanto à vigência da Lei para esses contratos, entretanto, inviabiliza a aplicação
imediata pretendida. O art. 71, § 5º, da CLT, em sua nova redação, não aceita
aplicação retroativa. TST-RRAg-10405-69.2017.5.03.0009, 3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira, julgado em 25/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

Não se aplica o disposto no art. 468, § 2º, da CLT, incluído pela reforma trabalhista
promovida pela Lei nº 13.467/2017, aos empregados que, em conformidade com a
diretriz do item I da Súmula n° 372 do TST, completaram 10 anos de exercício em
função gratificada anteriormente à vigência da referida novel legislação.
Reestabelecido o acórdão que condenara a reclamada à incorporação da função
gratificada à remuneração da reclamante desde a data da dispensa da função. TST-E-ED-
RR-43-82.2019.5.11.0019, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 9/9/2021 – Informativo TST n.º
243.

[...] a egrégia SBDI-1, quando do julgamento do E-ED-RR-43.82.2019.5.11.0019, de


relatoria do Ministro Lelio Bentes Corrêa, na sessão realizada no dia 9.9.2021, firmou
entendimento de que não se aplica a redação do § 2° do artigo 468 da CLT aos casos
em que o empregado, quando da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017
(11/11/2017), já havia completado 10 anos de exercício na função gratificada, na
forma disposta na Súmula nº 372, I. Na hipótese, infere-se do acórdão recorrido que o

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reclamante exerceu funções comissionadas de 6.3.2003 a 5.5.2013, portanto, por pouco


mais de 10 anos. Para o caso, o Tribunal Regional entendeu que, em face do princípio da
estabilidade financeira, o empregado não poderia ter sua gratificação suprimida, exceto
se o empregador comprovasse o justo motivo, na forma da Súmula nº 372, I, encargo do
qual o reclamado não se desincumbiu. Com isso, reconheceu o direito do reclamante ao
pagamento das diferenças decorrentes da supressão da gratificação de função ocupada
por mais de dez anos, calculada pela média dos valores recebidos de forma continuada
durante o período. A referida decisão, como visto, encontra-se em harmonia com o
entendimento pacificado pela SBDI-1 [...] TST-RR-1234-15.2013.5.03.0014, 4ª Turma, rel.
Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 21/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

Prescrição e decadência

Interrupção do prazo prescricional

O ajuizamento do protesto judicial, mesmo após a Reforma Trabalhista, se encontra


albergado pelo artigo 11, §3º, da CLT, isto é, interrompe a prescrição quanto aos pedidos
indicados. TST-RR-10935-78.2019.5.03.0017, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas
Brandão, julgado em 3/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Mesmo com o art. 11, § 3º, da CLT, introduzido pela Lei nº 13.467/2017 (a interrupção da
prescrição somente ocorrerá pelo ajuizamento de reclamação trabalhista), remanesce
aplicável o protesto judicial ao processo do trabalho. TST-RR-10711-43.2019.5.15.0006,
3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, julgado em 9/11/2021 –
Informativo TST n.º 247.

Responsabilidade civil

Na hipótese, a ex-empregada encontra-se aposentada desde 31.03.2016 e pleiteia a


condenação da ex-empregadora no pagamento de indenização substitutiva. Sustenta
que está recebendo complementação de aposentadoria em valor menor do que o
realmente lhe seria devido [...]. 1.3 Diante dessas circunstâncias fáticas, aplica-se o prazo
prescricional bienal disposto no art. 7º, XXIX, da CRFB. Dessa maneira, ajuizada a ação
somente em 2019, incide a lâmina prescritiva, não sendo possível à Obreira discutir
eventuais lesões ocorridas no biênio anterior ao ajuizamento do feito. Frise-se não se
aplicar à hipótese a Súmula 327 do TST, pois a pretensão não alude a diferenças de
complementação de aposentadoria, mas, sim, à responsabilidade civil de ex-
empregador por omissão culposa alegadamente ocorrida em 2008 (arts. 186 e 927 do
Código Civil). TST-RR-976-29.2019.5.17.0006, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio Godinho Delgado,
julgado em 18/8/2021 – Informativo n.º 242.

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O debate jurídico diz respeito à prescrição da pretensão do reclamante de obter a


condenação da reclamada ao pagamento de indenização por dano moral em razão de
tê-lo submetido, durante o pacto laboral, ao contato com substância notoriamente
nociva à saúde (amianto), razão pela qual, desde então, o obreiro passou a temer pelo
risco acentuado de desenvolver doença grave daí decorrente. No caso, a causa de pedir
está consubstanciada tão somente no possível risco de adoecimento em função da
exposição ao amianto durante o pacto laboral. 6 - Portanto, correta a decisão do
Tribunal Regional, ao considerar que a causa de pedir está consubstanciada apenas no
risco de adoecimento em função da exposição ao amianto e asbesto durante o pacto
laboral, julgou prescrita a pretensão relativa à indenização por dano moral, uma
vez que o ajuizamento da demanda se deu somente em 27/04/2017, ou seja, após
transcorridos 11 anos da extinção do contrato de trabalho. TST-Ag-RR-11309-
63.2017.5.15.0039, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em 18/8/2021 –
Informativo TST n.º 242.

Não atrai a incidência, por interpretação extensiva, da OJ nº 401 da SBDI-I1, a hipótese


em que a pretensão do direito material de nova reclamação trabalhista não depende de
resolução de relação jurídica examinada sob a ótica de ação ajuizada anteriormente. No
caso, o sindicato-autor ajuizou primeira reclamação trabalhista, onde obteve o
reconhecimento da jornada de trabalho de seis horas para empregados substitutos,
maquinistas e auxiliares submetidos a turnos ininterruptos de revezamento.
Posteriormente, ajuizou nova reclamação, alegando que, nos termos da norma coletiva
da categoria, quando prestadas mais de três horas extraordinárias, o adicional de horas
extras a ser pago deveria corresponder a 70%. A Turma do TST ratificou a decisão
proferida pelo Tribunal Regional, no sentido de afastar a arguição de prescrição bienal
veiculada, por não divisar afronta à norma do art. 7º, XXIX, da CR/88, aplicando
extensivamente a diretriz sufragada na OJ nº 401 da SBDI-I do TST. Todavia, quando
ajuizada a primeira ação, já se encontrava em pleno vigor a norma coletiva invocada, ou
seja, era viável que o sindicato cumulasse os pedidos de reconhecimento das horas
extras vindicadas com o adicional que entendia correto. Sob esses fundamentos, a SBDI-
I, por unanimidade, conheceu dos embargos, por contrariedade à OJ n.º 401 da SBDI-1,
em face de sua má aplicação e, no mérito, deu-lhes provimento para pronunciar a
incidência da prescrição total da pretensão deduzida em juízo em relação aos
substituídos com contratos de trabalho findos há mais de dois anos do

1 OJ-401. PRESCRIÇÃO. MARCO INICIAL. AÇÃO CONDENATÓRIA. TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO DECLARATÓRIA COM

MESMA CAUSA DE PEDIR REMOTA AJUIZADA ANTES DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. O marco inicial da
contagem do prazo prescricional para o ajuizamento de ação condenatória, quando advém a dispensa do empregado no
curso de ação declaratória que possua a mesma causa de pedir remota, é o trânsito em julgado da decisão proferida na
ação declaratória e não a data da extinção do contrato de trabalho.
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ajuizamento da segunda reclamação trabalhista. TST-E-ED-RR-91500-


61.2009.5.03.0055, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 23/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

A contagem do prazo prescricional somente tem início, em se tratando de acidente


de trabalho ou doença ocupacional, a partir do momento em que o empregado tem
ciência inequívoca da incapacidade laborativa ou do resultado gravoso para sua
saúde física ou mental, ou seja, com a alta previdenciária ou com a concessão da
aposentadoria por invalidez, e não simplesmente da data do acidente, nem mesmo do
afastamento. TST-RR-2009-73.2013.5.12.0048, 6ª Turma, rel. Min. Augusto César Leite de
Carvalho, julgado em 10/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Empregados e trabalhadores em geral

Advogados

Não existindo expressa previsão contratual de dedicação exclusiva, o labor


extraordinário de advogado empregado implica o pagamento das horas excedentes à 4ª
diária como extras, acrescidas do adicional de 100% da hora normal. Considerando-se a
jornada de 20 horas semanais, há de se adotar o divisor 100 para o cálculo do salário-
hora do empregado advogado. TST-E-ED-RR-845-80.2012.5.05.0023, SBDI-I, rel. Min. Breno
Medeiros, 18/3/2021 – Informativo TST n.º 234.

Conforme jurisprudência consolidada do TST, em relação à jornada de trabalho de


advogado empregado contratado mediante concurso público, após o advento da Lei
8.906/94, aplica-se o princípio da vinculação às regras do edital do concurso público,
concluindo-se que a previsão da jornada de oito horas de trabalho no edital do
concurso equivale ao regime de dedicação exclusiva. No caso em exame, restou
“incontroverso que no edital do concurso público ao qual o Reclamante se submeteu
havia a previsão expressa da jornada de 8 (oito) horas para os advogados”. TST-E-ED-
ARR-1554-10.2012.5.22.0002, SBDI-I, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 12/8/2021 –
Informativo TST n.º 241.

Atletas profissionais

Ao supervisor técnico de futebol profissional, membro integrante da comissão


técnica do clube, não se aplica a Lei Pelé, tampouco a Lei do Técnico de Futebol (Lei
n.º 8.650/93). Não há como reconhecer violação direta do art. 6.º, I, da Lei n.º 8.650/93,
pois esse diploma legal trata especificamente das relações de trabalho do treinador
profissional de futebol, de modo que apenas por analogia poderia, em tese, ter aplicação
ao supervisor técnico de futebol. Igualmente, não há como reconhecer eventual violação
dos arts. 28, § 4º, e 30, da Lei n.º 9.615/98, pois dizem respeito ao atleta profissional, não
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sendo esse o caso do reclamante. TST-RR-100555-85.2016.5.01.0042, 6ª Turma, rel. Min.


Kátia Magalhães Arruda, julgado em 23/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

Tem prevalecido, no âmbito do TST, o entendimento de que a desvinculação do


pagamento efetuado pela agremiação desportiva a título de cessão do direito
imaterial do atleta profissional da efetiva exploração de sua imagem desnatura o
objeto do contrato civil celebrado sob o pálio do artigo 87-A da Lei n.º 9.615/1998,
introduzido pela Lei nº 13.155/2015, atraindo, assim, o reconhecimento da
natureza salarial das parcelas recebidas sob essa rubrica, por aplicação da norma
insculpida no artigo 9º da CLT. Conquanto não se aplique aos contratos de trabalho
desportivos firmados anteriormente à sua vigência (caso dos autos, em que o contrato de
trabalho extinguiu-se em 31/12/2014), a norma prevista no parágrafo único do artigo
87-A da Lei n.º 9.615/1998 fixou um teto para o percentual pago a título de cessão
do direito de imagem, tendo por base a remuneração total devida ao atleta
profissional (40%), com claro intuito de emprestar maior transparência à
contratação e coibir práticas fraudulentas perpetradas em violação à legislação
trabalhista e previdenciária no âmbito desportivo. Assim, ao invés de endossar a
pretensão deduzida pelo reclamado, inovação legal milita em seu desfavor, na
medida em que apenas explicita, de forma objetiva, vedação já existente,
decorrente das disposições do artigo 9º da CLT. Na presente hipótese, o Tribunal de
origem, com base em elementos concretos extraídos do substrato fático-probatório dos
autos, reputou configurada a conduta fraudulenta perpetrada pela agremiação
desportiva que, a pretexto de retribuição pecuniária ajustada no contrato civil de
cessão do direito de imagem do atleta profissional, em verdade remunerava o
contrato de trabalho desportivo, sendo imperioso reconhecer a natureza jurídica
salarial dessa verba. TST-E-ED-RR–1442-94.2014.5.09.0014, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes
Corrêa, 30/9/2021 – Informativo TST n.º 245.

Bancários

Hipótese em que se discute a aplicação da Lei nº 7.102/83 em relação aos


correspondentes bancários, no caso, às agências dos Correios que atuem como Banco
Postal. [...] A partir da análise do disposto nos arts. 17 da Lei nº 4.595/64 e 1º, §1º, da Lei
nº 7.102/83, bem como com base na decisão proferida pelo Tribunal Pleno do C. TST, nos
autos do processo nº ED-E-RR- 210300-34.2007.5.18.0012, conclui-se que os Bancos
Postais, por não terem como atividade principal ou acessória a coleta, a
intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
nem a custódia de valor de propriedade de terceiros, não se enquadram como
instituição financeira e, por isso, não devem obediência ao previsto na Lei nº
7.102/83. TST-RR-20752-39.2017.5.04.0752, 4ª Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos,
julgado em 25/5/2021 – Informativo TST n.º 238.
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É nula a contratação de labor extraordinário do empregado bancário, ainda que


realizada em momento posterior à sua admissão, se constatada a intenção do
empregador de obstar a incidência da Súmula nº 199, I, do TST. No caso, ainda que a
contratação de horas extras tenha ocorrido quase dois anos após a admissão do
empregado, ficou demonstrado nos autos o intuito fraudulento do empregador de
mascarar a pré-contratação de horas extras. TST-E-ED-RR-1833000-79.2005.5.09.0004,
SBDI-I, red. p/ acórdão Min. Breno Medeiros, 19/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

Bombeiro Civil

Nos termos do artigo 2º da Lei nº 11.901/2009, “considera-se Bombeiro Civil aquele que,
habilitado nos termos desta Lei, exerça, em caráter habitual, função remunerada e exclusiva
de prevenção e combate a incêndio, como empregado contratado diretamente por empresas
privadas ou públicas, sociedades de economia mista, ou empresas especializadas em
prestação de serviços de prevenção e combate a incêndio”. No entanto, na prática, as
atividades exercidas por tais profissionais não se limitam à prevenção e ao
combate de incêndios. Logo, o termo “exclusiva” utilizado na Lei não pode ser
interpretado literalmente, sob pena de prejudicar o profissional que além de
prevenir e combater o fogo, presta outros serviços à comunidade. Precedentes. TST-
RR-1002032-48.2017.5.02.0045, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado
em 22/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

Diretor de S/A

O Tribunal Regional registrou que o reclamante exercia cargo de diretor estatutário de


sociedade anônima, não se tratando, no caso, de contrato de emprego nos moldes do
artigo 3º da CLT. 2. Dessa forma, para se acolher as alegações do agravante, no sentido
de que havia vínculo de emprego, seria necessário revolver fatos e provas dos autos,
prática vedada na forma da Súmula 126 do TST. 3. Assim, tratando-se de relação
jurídica de natureza estatutária que remete ao Direito Empresarial, a Justiça do
Trabalho é incompetente para julgar a demanda. Precedentes. TST-Ag-ED-RR-10837-
87.2015.5.01.0050, 8ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves Miranda Arantes, julgado em 18/8/2021
– Informativo TST n.º 242.

Empregado com encargos familiares

A autora pretende a redução de sua jornada com a manutenção do salário, o que foi
indeferido pelo eg. TRT. Ela é mãe de uma menina portadora de síndrome de Down e
bexiga neurogênica, que necessita de cuidados especiais. [...] A ausência de norma
infraconstitucional específica não seria capaz de isentar o magistrado de, com base nos

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princípios gerais de direito, na analogia e nos tratados internacionais ratificados pelo


Brasil, reconhecer a incidência direta dos direitos sociais em determinados casos
concretos. E o direito brasileiro tem recepcionado diversos documentos construídos no
plano internacional com o intuito de proteger e salvaguardar o exercício dos direitos dos
deficientes, com força de emenda constitucional, a exemplo da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD). 4. A CDPD estabelece como
princípio o respeito pela diferença e a igualdade de oportunidades, que devem ser
promovidos pelo Estado especialmente pela adaptação razoável, que consiste em
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional ou indevido,
requeridos em cada caso. O art. 2 da CDPD estabelece ainda que a recusa à adaptação
razoável é considerada forma de discriminação. 5. E considerando que seu real
fundamento é coibir a discriminação indireta, seu campo de atuação não deve se
restringir à pessoa com deficiência, mas alcançar a igualdade material no caso concreto,
com vistas ao harmônico convívio multiculturalista nas empresas. 6. A Comissão de
Direitos Humanos de Ontário realizou pesquisa e consulta pública sobre questões
relacionadas ao status familiar, e seu relatório final foi denominado The Cost of Caring,
que demonstrou que as pessoas que têm responsabilidades de cuidar de familiares com
deficiência enfrentam barreiras contínuas à inclusão, com suporte inadequado tanto por
parte da sociedade como do governo. As empresas normalmente não adotam políticas
de adaptação razoável, o que acaba por empurrar os cuidadores para fora do mercado
de trabalho. 7. A pessoa com deficiência que não possui a capacidade plena tem
encontrado apoio na legislação, mas não o seu cuidador, o qual assume para si grande
parte do ônus acarretado pela deficiência de outrem, como se ela própria
compartilhasse da deficiência. Se há direitos e garantias, como por exemplo a
flexibilidade de horário, àqueles que possuem encargos resultantes de sua própria
deficiência, é inadequado afastar o amparo legal e a aplicação analógica aos que
assumem para si grande parte desses encargos. O caso dos autos ilustra perfeitamente
tal questão, em que a autora, mãe de criança com deficiência, de apenas seis anos,
precisa assumir para si os ônus acarretados pela deficiência de sua filha, o que lhe
demanda tempo, dedicação e preocupação. Assim, negar adaptação razoável no
presente caso traduz medida discriminatória à autora. Além disso, a omissão do Poder
Público, em última instância, afeta a criança, que com menor amparo familiar fatalmente
encontrará maiores desafios no seu desenvolvimento pessoal e de inclusão na
sociedade. Cumpre ressaltar o compromisso assumido pelo Estado, previsto no art. 23
da CDPD, de fazer todo o esforço para que a família imediata tenha condições de cuidar
de uma criança com deficiência. 8. A aplicação da adaptação razoável, atendendo as
peculiaridades do caso, é compromisso assumido pelo Estado, como signatário da CDPD.
A acomodação possível somente pode ser pensada no caso concreto, pois cada pessoa
tem necessidades únicas. No contexto dos autos, conclui-se que a criança necessita de
maior proximidade com sua genitora, diante do desafio superior tanto ao seu

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desenvolvimento como pessoa quanto à sua afirmação enquanto agente socialmente


relevante. Defere-se, portanto, a adaptação razoável ao caso concreto. Recurso de
revista conhecido por violação dos arts. 7º, 27 e 28 da CDPD e parcialmente provido. TST-
RR-10409-87.2018.5.15.0090, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado
em 2/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

Empregados públicos

As empresas públicas e as sociedades de economia mista estão sujeitas à regra do


concurso público. Entretanto, o próprio STF, em razão dos princípios da segurança
jurídica e da boa-fé, passou a mitigar a aplicação do artigo 37, II, da CR/88 nas hipóteses
em que constatado que a admissão ou a ascensão funcional, ainda que efetivada sem
prévia aprovação em concurso público, tenha se verificado entre a promulgação
da Constituição Federal e 23/4/1993. Concluiu o STF que no citado período era
controvertida a aplicação da regra do concurso público às empresas públicas e
sociedades de economia mista. TST-RR-131200-18.2011.5.17.0012, 2ª Turma, rel. Min.
Maria Helena Mallmann, julgado em 10/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Empregado público (Médico) que realiza plantões em horas extras, em fundação


hospitalar de saúde, deve sofrer descontos salariais, para que sua remuneração se
limite ao teto constitucional. Principais fundamentos da decisão: i) tratava-se de
Fundação Hospitalar de Saúde – FHS, fundação pública de direito privado, integrante da
Administração Pública Indireta, que presta serviços de saúde no Estado de Sergipe,
estando, portanto, sujeita aos ditames dos princípios constitucionais norteadores da
Administração Pública; ii) a fundação, embora regida por direito privado, presta serviços
e políticas voltadas à consecução do direito fundamental à saúde estadual,
desempenhando, por conseguinte, típica atividade de Estado, razão pela qual tem
incidência a limitação do teto remuneratório (inciso XI do artigo 37 da CR/88); iii) nos
termos da OJ nº 339 da SBDI-1, “As empresas públicas e as sociedades de economia mista
estão submetidas à observância do teto remuneratório previsto no inciso XI do art. 37 da
CF/88, sendo aplicável, inclusive, ao período anterior à alteração introduzida pela EC nº
19/98”; iv) para se saber da aplicação ou não do teto constitucional em relação a uma
determinada vantagem pecuniária, torna-se imprescindível fixar a sua natureza jurídica,
se de caráter remuneratório ou indenizatório. O artigo 37, §11, da Constituição
expressamente estabelece que “Não serão computadas, para efeito dos limites
remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de caráter
indenizatório previstas em lei”. Assim, toda e qualquer vantagem de caráter
remuneratório, incluídas vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza,
sujeita-se ao limite constitucional; v) o STF já decidiu (RE 609.381), que o teto
estabelecido pela EC 41/2003 possui eficácia imediata, submetendo à referência de
valor máximo todas as verbas remuneratórias percebidas, ainda que adquiridas em
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regime legal anterior; vi) sendo ilícito o pagamento de vantagens acima do teto
remuneratório, por determinação constitucional, não há que se falar em violação do
direito adquirido, da irredutibilidade de vencimentos e do direito de propriedade, já que
as referidas garantias constitucionais possuem o condão de proteger somente o que foi
adquirido licitamente; vii) também em razão da ilicitude dos valores pagos acima do teto,
não há que se falar em enriquecimento ilícito por parte do empregador, em face da
ausência de contraprestação do serviço prestado. Isso porque, no caso, o
enriquecimento ilícito da Administração pressupõe vantagem obtida licitamente pelo
empregado público, sendo que, no caso, a inobservância ao limite previsto na
Constituição constitui a própria ilicitude; viii) qualquer servidor que trabalha a jornada
normal de trabalho e que tem sua remuneração glosada no abate-teto, não pode optar
por trabalhar uma carga de trabalho menor, com fundamento no enriquecimento ilícito
da Administração; ix) a distorção do caso concreto pode ser resolvida por meio de
prestações alternativas por parte da Administração, a exemplo da utilização de
sistema de compensação de jornada, não se podendo admitir seja o limite do teto
ultrapassado, infringindo, dessa forma, a letra da Constituição. TST-RR-1437-
89.2016.5.20.0016, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 10/3/2021 – Informativo
TST n.º 233.

O SEBRAE, nos mesmos moldes do SESC, do SESI, do SENAC, do SENAI, do SENAR, do


SEST e do SENAT, constitui uma entidade paraestatal que se caracteriza por estar ao lado
do Estado para consecução de atividades de interesses deste, mas não integra a
Administração Pública. Nesse sentido decidiu o Supremo Tribunal Federal, nos autos do
processo n.º RE 789.874/DF, Relator Ministro Teori Zavascki, publicado no DJE de
19/11/2014. Assim, cumpre enfatizar que, se de um lado as entidades do Sistema “S” não
compõe a Administração Pública, de outro a consequência lógica é desnecessidade de
motivação do ato de dispensa de seus empregados, porquanto, consoante se extrai do
voto condutor do eminente Ministro Teori Zavascki, tais entidades “possuem a
prerrogativa de autogerir seus recursos, inclusive no que se refere à elaboração de seus
orçamentos, ao estabelecimento de prioridades e à definição de seus quadros de cargos e
salários, segundo orientação política própria”. Ocorre que, no Manual de Políticas e
Procedimentos do SEBRAE/PA, consta necessidade de parecer prévio emitido por órgão
interno para que seja efetivada a dispensa2. Cinge-se a controvérsia em saber se a
referida previsão de parecer prévio à dispensa do empregado deve ser considerado
como pressuposto de validade do ato demissional. Analisando a referida política de
gestão de pessoas do SEBRAE/PA, verifica-se que esta não foi elaborada com finalidade
de criar direitos aos empregados, tanto que menciona parecer prévio inclusive para
contratação de funcionários. A previsão de parecer emitido pela Unidade de Gestão de

2 “4. Os processos de contratação, demissão, promoção e movimentação de profissionais do SEBRAE/PA serão


acompanhados de parecer prévio emitido pela UGP.”
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Pessoas para dispensa de trabalhador tem o fito de subsidiar administrativamente a


decisão do Diretor Superintendente, responsável pelo ato de demissão de empregados,
possuindo caráter meramente consultivo. Desta maneira, ainda que houvesse
parecer favorável ao empregado, o Diretor Superintendente, no âmbito de sua
autonomia funcional, poderia decidir conforme sua conveniência, não havendo
sequer necessidade de motivação do referido ato de dispensa, uma vez que revela
direito potestativo do empregador. Assim, evidencia-se que a norma interna não
confere estabilidade aos empregados, apenas estabelece procedimento para
embasar a autoridade responsável pela dispensa, possuindo natureza consultiva,
e, por isso mesmo, não vincula a atuação do administrador. TST-RR-1258-
27.2016.5.08.0005, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 28/4/2021 – Informativo
TST n.º 236.

A súmula n.º 443 do TST (despedida discriminatória em casos de doenças que causem
estigma ou preconceito) também se aplica às empresas públicas, ainda que se trate de
cargo em comissão de livre nomeação e exoneração. Nestes casos, a despedida é nula e
é devida a reintegração. Aplicação da Convenção n.º 111 da OIT. TST-RRAg-324-
27.2017.5.10.0022, 6ª Turma, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, julgado em 23/6/2021 –
Informativo TST n.º 240.

O STF (RE 1.112.327), deu provimento ao Recurso Extraordinário interposto pelo


CREA/PR para cassar acórdão deste c. Tribunal Superior (publicado em 16/12/2015), com
determinação de observância da jurisprudência firmada quanto à nulidade da
contratação de pessoal dos conselhos de fiscalização das profissões
regulamentadas, sem o prévio concurso público, após a Constituição Federal de 1988.
Embora este Tribunal Superior, amparado pelos princípios da proteção e da boa-fé
objetiva, conferisse, por algum tempo, validade às contratações desse pessoal, sem
concurso público, após a Constituição de 1988, mas desde que anteriores à ADI 1717-6
(DJ 28/02/2003), a Suprema Corte enfatizou que, em face da inexistência de modulação
dos efeitos da referida decisão, não haveria possibilidade de se conferir eficácia ex nunc
ou prospectiva, devendo ser estabelecido “como marco inicial para a contratação de
pessoal por concurso público para o preenchimento de vagas nos conselhos
federais de fiscalização a data da promulgação da Constituição Federal de 1988” (RE
922374 ED-AgR, Relator Min. Alexandre de Moraes, publicado em 01/08/2018). Mantido
o acórdão rescindendo que declarou a nulidade de contratação do ora Autor, em 1991,
pelo CREA/PR, em face da ausência de realização de prévio concurso público. Fixando-
se, ainda, a inviabilidade do corte rescisório pela alegada ofensa ao art. 37, II, da CR/88.
TST-RO-203-68.2012.5.09.0000, SBDI-II, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte,
31/8/2021 – Informativo TST n.º 243.

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Engenheiros

No caso dos autos, o salário dos substituídos foi fixado no plano de cargos e salários
da ré em valor inferior ao do salário profissional estabelecido na Lei 4.950-A/66.
Disso resultou o estabelecimento, pela reclamada, de complementação salarial sob a
rubrica “Dif. Piso salarial-Eng”. Ocorre, todavia, que, adotada essa metodologia, o
referido complemento deixou de sofrer os devidos reajustes salariais concedidos
por meio das normas coletivas, bem como aqueles decorrentes das
movimentações funcionais. O valor do salário profissional, resultante da soma do
salário-fixo e da parcela “Dif. Piso salarial-Eng”, permaneceria estagnado enquanto
o primeiro fosse inferior ao piso previsto na Lei 4.950/66. Qualquer incremento
incidente sobre o salário-fixo implicaria em redução imediata e equivalente no valor do
complemento. Esse fato faz com que o piso salarial permaneça indexado ao valor do
salário mínimo, o que viola o art. 7.º, IV, da Constituição Federal, e a Súmula Vinculante
4 do STF, e acarreta a estagnação do valor, que permanece o mesmo após o reajuste
do salário-base, caracterizando ofensa ao princípio da irredutibilidade salarial e ao
princípio da isonomia, na medida em que os reajustes concedidos aos engenheiros se
tornam díspares em relação aos demais empregados da ré. Recurso de revista
conhecido e provido. [...]TST-RR-185-87.2014.5.12.0034, 2ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves
Miranda Arantes, julgado em 2/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

Motorista

A Lei n° 12.619/2012 alterou a CLT para regular e disciplinar a jornada de trabalho e o


tempo de direção do motorista profissional. Nesse sentido, acrescentou ao texto
consolidado os arts. 235-A a 235-G, que, além de disporem sobre o exercício da profissão
de motorista em empresas de transporte de cargas e de passageiros, tratam do
chamado tempo de espera. De acordo com o art. 235-C, § 8º, são ‘consideradas tempo de
espera as horas que excederem à jornada normal de trabalho do motorista de transporte
rodoviário de cargas que ficar aguardando para carga ou descarga do veículo no embarcador
ou destinatário ou para fiscalização da mercadoria transportada em barreiras fiscais ou
alfandegárias, não sendo computadas como horas extraordinárias’. Nessa linha, dispôs o §
9º do mencionado dispositivo consolidado que ‘as horas relativas ao período do tempo de
espera serão indenizadas com base no salário-hora normal acrescido de 30%’. Desta forma,
têm-se por ilesos os artigos 4° da CLT e 7°, XIII e XVI, da CF, tendo em vista que o acórdão
regional se coaduna com a diretriz do comando consolidado suso mencionado. Agravo
de instrumento conhecido e não provido [...]. TST-ARR-12287-05.2016.5.15.0062, 8ª Turma,
rel. Min. Dora Maria da Costa, julgado em 9/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

Discute-se nos autos se o tempo que o motorista profissional fica aguardando carga ou
descarga do veículo nas dependências do embarcador ou do destinatário e o período
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gasto com a fiscalização da mercadoria transportada em barreiras fiscais ou


alfandegárias tem natureza salarial ou indenizatória e deve integrar ou não a base de
cálculo das horas extras. O artigo 235-C, §§ 8º e 9º, da CLT, com a redação prevista na Lei
nº 12.619/12 (vigente à época do contrato de trabalho do autor), expressam a nítida
natureza indenizatória que o legislador ordinário impingiu ao tempo de espera do
motorista profissional, razão pela qual ele não repercute nas horas extras nem com
elas se confundem, nos termos do § 8º do citado artigo. Precedentes. TST-RR-11240-
97.2014.5.15.0051, 7ª Turma, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, julgado em 15/9/2021 –
Informativo TST n.º 244.

Mulher

Incumbe aos shopping centers assegurar, diretamente ou por outros meios, “local
apropriado, onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus
filhos no período de amamentação”, atendendo ao escopo do art. 227 da CF. Salienta-se
que a norma a ser extraída do texto legal deve ser atual, manter sua perenidade, não
podendo ficar paralisada no ano de sua edição. Há de sofrer adaptações aos novos
tempos, com inclusão de figuras que vão surgindo na sociedade não antevistas pelo
legislador, como no caso dos shopping centers. Portanto, deve-se fazer uma interpretação
extensiva da ratio da Lei, em especial, dos §§ 1º e 2º do art. 389 da CLT. TST-E-RR-131651-
27.2015.5.13.0008, SBDI-I, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 2/9/2021 –
Informativo TST n.º 243.

[...] embora os shoppings centers, enquanto estabelecimento comercial, não se


enquadram propriamente na posição de empregador das empregadas contratadas
diretamente pelos lojistas que integram o conglomerado, trata-se de empreendimentos
que se relacionam e até se beneficiam da atividade econômica por eles desempenhadas,
como, por exemplo, quando são realizadas promoções ou liquidação de produtos, em
troca de prêmios ofertados pelo próprio centro comercial, cujo resultado final buscado
e muitas vezes atingido é o aumento do faturamento tanto dos lojistas individualmente
quanto do próprio shopping center. Considerando, portanto, a peculiaridade da relação
jurídica firmada entre os shoppings centers e os lojistas, em respeito aos princípios da
valoração do trabalho, insculpido no artigo 170 da CR/88, assim como a proteção ao
trabalho da mulher e da criança em idade de amamentação, perfeitamente aplicável ao
reclamado a exigência prevista no § 1º do artigo 389 da CLT. Precedentes. TST-RR-62-
91.2013.5.09.0007, 2ª Turma, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, julgado em 15/9/2021 –
Informativo TST n.º 244.

Petroleiro

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A Lei nº 5.811/72 disciplina o regime de trabalho dos empregados nas atividades de


extração, produção e transporte de petróleo. Dirige-se primordialmente aos serviços
voltados à atividade offshore (em alto-mar, em plataformas de petróleo). O regime de
sobreaviso nela tratado se destina a situações específicas, em que é cumprido em
condições mais extenuantes do que ordinariamente: no próprio posto de trabalho,
em turnos de revezamento, em locais distantes e de difícil acesso, e com
responsabilidade de supervisão de operações específicas. Ocorre que a hipótese
vertente é de fiscalização de serviços de manutenção prestados por empresas
terceirizadas, e não de supervisão das atividades específicas previstas no artigo 1º
da Lei nº 5.811/72. No caso, o Tribunal regional pinçou isolado trecho do depoimento
do preposto e conferiu interpretação extensiva do disposto no artigo 5º do diploma legal
em questão. Efetivamente, a “fiscalização” – textual expressão do referido depoimento
transcrito no acórdão regional –, exercida pelo autor, é da atuação da empresa
terceirizada incumbida do transporte do petróleo, como tal inserida na função de técnico
de manutenção por ele desempenhada. De modo algum se confunde com a
“responsabilidade de supervisão” das operações dos dutos, a que alude o artigo 1º
daquele diploma legal, as quais supõem a prestação de serviços no transporte de
petróleo do mar propriamente considerado, desenvolvido – frise-se – de maneira
contínua, ininterrupta e mais gravosa do que a ordinária. Reforça tal conclusão, na
espécie, o fato processual de que, na petição inicial, o autor limitou-se a afirmar que
exerce a função de “Técnico de Manutenção Plena”. No entanto, nada veiculou a respeito
da supervisão das operações, de modo que o exercício de responsabilidade de
supervisão constitui fato constitutivo do direito alegado. Tratando-se, pois, de norma
jurídica de exceção, específica para os trabalhadores em situações especiais de
trabalho, deve ser interpretada restritivamente, razão pela qual não procede o
pedido de repouso de 24 horas a cada período de 24 horas em sobreaviso no caso
concreto, na forma prevista na Lei nº 5.811/72. Há precedentes. TST-RR-1001857-
57.2016.5.02.0314, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 9/6/2021
– Informativo TST n.º 239.

A controvérsia repousa em definir se o tempo despendido pelo empregado petroleiro


na participação em diálogos diários de segurança, nas reuniões de segurança e nos
treinamentos de incêndio configura, ou não, tempo a disposição do empregador. [...] A
participação do empregado em diálogos diários de segurança, nas reuniões de
segurança e nos treinamentos de incêndio, era obrigatória e decorria diretamente de
riscos inerentes à natureza da atividade empresarial. Tais riscos, nos termos do disposto
no art. 2º, caput, da CLT, devem ser suportados pelo empregador. [...] Ao considerar que
durante atividades e treinamentos obrigatórios, relacionados à segurança do trabalho,
essenciais em decorrência dos riscos da atividade empresarial, o empregado não se
encontrava à disposição do empregador, o Tribunal Regional violou o disposto no art. 4º

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da CLT. TST-RR-11774-62.2015.5.01.0482, 5ª Turma, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues,


julgado em 18/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

Portuários

Conferindo interpretação sistêmica aos arts. 1º e 13 da Lei nº 9.719/98 e 32, 33, 39, 41 e
43 da Lei nº 12.815/13, firmou-se o entendimento de que o Órgão Gestor de Mão de
Obra - OGMO detém competência exclusiva para gerir e intermediar o
fornecimento de mão de obra de trabalhador avulso. O art. 43 da Lei nº 12.815/13
prevê que serão objeto de negociação entre as entidades representativas dos
trabalhadores portuários avulsos e dos operadores portuários as questões atinentes à
“remuneração, a definição das funções, a composição dos ternos, a multifuncionalidade e as
demais condições do trabalho avulso”. Ademais, ressalta-se que, a partir do novo marco
legislativo das atividades portuárias (normas estatais posteriores à Constituição Federal),
incumbe aos entes sindicais portuários tão somente compor a estrutura tripartite do
OGMO, na defesa dos interesses e direitos individuais, plúrimos e coletivos dos
trabalhadores. Outrossim, destaca-se que, conforme o art. 39 da Lei nº 12.815/13, o
OGMO tem como finalidade específica a intermediação e gestão da mão de obra do
trabalhador avulso, com caráter de utilidade pública, sendo-lhe vedado ter fins
lucrativos, prestar serviços a terceiros ou exercer qualquer atividade não vinculada à
gestão de mão de obra. Portanto, esse limite legal, que define a finalidade do OGMO,
reforça o entendimento de que é atribuição exclusiva deste órgão a intermediação
de mão de obra do trabalhador avulso nas atividades portuárias. TST-SDC-1000360-
97.2017.5.00.0000, SDC, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 18/10/2021 – Informativo TST n.º
246.

Professor

A dispensa imotivada do professor no início do semestre letivo impossibilita a sua


recolocação no mercado de trabalho, configurando o dano moral. A dispensa do
Reclamante no segundo dia do semestre letivo gerou expectativa justa e real de
continuar como professora da instituição de ensino reclamada lecionando a matéria e
evidencia o abuso do poder diretivo do empregador. TST-Ag-RR-12061-14.2016.5.03.0036,
3ª Turma, rel. Min. Alexandre Agra Belmonte, julgado em 3/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Cinge-se a controvérsia em saber se a reclamante, enquanto tutora de ensino a distância,


pode ser enquadrada como professora. Muito embora reste incontroverso nos autos
que a autora, no exercício da função de tutora de Ead, realizava orientação de alunos
para fins de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, sanava dúvidas gerais dos
educandos, além de realizar a correção dos referidos TCC’s, bem como provas e
trabalhos, deve ser observado o disposto na Lei nº 9.394/1996, que estabelece as
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diretrizes e bases da educação nacional para solucionar a questão3. Dessume-se do


acórdão recorrido que a autora não ministrava aulas e não elaborava material
didático ou estratégia didática. Não há registro, ainda, acerca de elaboração por
parte da autora de plano de trabalho, ou de participação na elaboração da
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, tampouco há apontamento no
sentido de que era responsável por estabelecer estratégias de recuperação para
os alunos de menor rendimento. Assim, [...], resta evidenciado que as atividades
exercidas pela autora não são suficientes a enquadrá-la como professora, uma vez
que esta não desenvolve as atividades descritas pelo art. 13 da Lei 9.394/96, incumbidas
aos docentes. Ademais, não se aplica o §2º do art. 67 da Lei de nº 9.394/1996, uma vez
que o melez respeito ao desempenho de atividades educativas exercidas em
estabelecimento de educação básica, o que não é o caso dos autos, uma vez que a autora
laborava em instituição de ensino superior. TST-RR-349-42.2018.5.09.0019, 5ª Turma, rel.
Min. Breno Medeiros, julgado em 10/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Trabalhadores em plataformas digitais

Não merece reforma o acórdão regional que não reconheceu o vínculo de emprego, sob
o fundamento de ausência de subordinação jurídica entre o motorista e a empresa
provedora do aplicativo Uber. TST-RR-10555-54.2019.5.03.0179, 4ª Turma, rel. Min. Ives
Gandra Martins Filho, julgado em 2/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Contrato de Trabalho

Trabalho proibido e trabalho ilícito

Deve ser mantida a decisão regional que impôs à empresa ré a obrigação de não
contratar policiais militares como vigias ou vigilantes nos Estados nos quais, por normas
regulamentares da carreira pública militar, seja prevista no estatuto legal da corporação
a dedicação integral ou exclusiva ao ofício militar. Nisso não há violação aos princípios
da livre iniciativa e da liberdade individual, sobretudo diante do direito coletivo à fruição
de condições adequadas de segurança, que pressupõe policiais militares devidamente
treinados e equipados, bem como dispostos e em pleno gozo de sua higidez física,
mental, psicológica e emocional, evidencia que o engajamento excessivo e a privação do
descanso nos períodos de folga repercutem em um decréscimo da qualidade do serviço

3O art. 13 da supracitada Lei estabelece que os docentes incumbir-se-ão de: “I - participar da elaboração da proposta
pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente
dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades
de articulação da escola com as famílias e a comunidade.”
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público prestado por esses militares. TST-Ag-AIRR-1621-40.2010.5.10.0014, 5ª Turma, rel.


Min. Breno Medeiros, julgado em 28/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

Alteração do contrato de trabalho

A questão relativa à cobrança de custeio e coparticipação obreira no plano de saúde da


ECT, em virtude de alegada alteração lesiva do contrato de trabalho é matéria nova no
âmbito das Turmas do TST, o que caracteriza hipótese de transcendência jurídica do
recurso. Contudo, em razão da decisão proferida pela Seção Especializada em Dissídios
Coletivos nos autos do DC-1000295-05.2017.5.00.0000, de Relatoria do Exmo. Ministro
Aloysio Silva Correa da Veiga, conferiu-se nova redação à Cláusula 28ª do ACT 2017/2018,
para determinar que o custeio da assistência médica/hospitalar e odontológica,
contemplasse a cobrança de mensalidades e coparticipação dos empregados da ativa e
aposentados. O contexto de ruína econômico-financeira do plano levou esta Corte a
considerar adequada a revisão da referida cláusula, de modo a garantir a manutenção
do próprio plano de saúde, o que não fere, a rigor, os artigos 5º, XXXVI, da Constituição
Federal e 468 da CLT, por não se estar diante de alteração lesiva de contrato de trabalho,
ou mesmo de violação a direito adquirido, tampouco ofensa a coisa julgada, sendo certo,
ainda, que esse debate não está inserido na previsão contida na Súmula nº 51 do TST,
que é impertinente, já que não se trata, rigorosamente, de criação de um novo
regulamento empresarial, com aplicação retroativa, por iniciativa do empregador, mas
de simples revisão judicial de cláusula de norma coletiva. Nesse contexto, em que pese
a transcendência jurídica da matéria, não há como conhecer do recurso de revista.
Recurso de revista não conhecido. TST-RR-1017-53.2019.5.12.0032, 5ª Turma, rel. Min.
Breno Medeiros, julgado em 12/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

A matéria relativa a promoções por merecimento encontra-se pacificada pela


jurisprudência da SBDI-1 do TST, no sentido de que, dado o caráter eminentemente
subjetivo da apuração da progressão por mérito, eventual omissão do empregador
quanto à implementação desse procedimento não garante a promoção do
empregado, por não se poder afirmar que ele teria obtido êxito, caso tivesse sido
avaliado. Contudo, a hipótese de ausência de juntada da documentação solicitada pelo
perito, relativa às avaliações de desempenho realizadas pelo empregado,
imprescindíveis à aferição da correta movimentação do trabalhador no sistema de
grades adotado pelo banco, acaba por caracterizar distinção em face da jurisprudência
da SDI quanto à impossibilidade de reconhecimento do direito às promoções por
mérito. A jurisprudência do TST vem se manifestando no sentido de que os
empregados fazem jus ao pagamento de diferenças salariais, quando o réu, Banco
Santander, não apresenta os documentos que poderiam comprovar o correto
cumprimento do sistema de grades previsto no regulamento empresarial. [...] TST-

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E-ED-ARR-532-29.2014.5.03.0016, SBDI-I, rel. Min. Breno Medeiros, red. p/ acórdão Min.


Cláudio Mascarenhas Brandão, 20/5/2021 – Informativo TST n.º 238.

O Tribunal Regional considerou que ‘a medida adotada pela recorrente, por iniciativa
própria, de oportunizar a indigitada folga mediante compensação das horas nos anos em
que a previsão da demanda de serviços era baixa ou, de não disponibilizar tal opção ao
empregado em razão do aumento desta demanda, está inserida no conjunto de prerrogativas
do poder diretivo do empregador’. Não se enquadram como alterações contratuais lesivas
aquelas abrangidas licitamente na esfera do poder diretivo, organizacional e direcional
do empregador. Isso porque o exercício do jus variandi pode gerar alterações nos modos,
circunstâncias ou critérios da prestação laboral, a fim de adequar a atuação do
empregado à dinâmica do empregador. O entendimento acerca da inalterabilidade
contratual, expresso no artigo 468 da CLT, trata dos pontos essenciais do contrato de
trabalho, tais como fixação de jornada e horário, local de prestação de serviços,
transferência, os aspectos de saúde e segurança laboral, função do empregado e,
principalmente, salário. Assim, a conclusão exarada pela Corte Regional não importa
em ofensa literal e direta aos dispositivos invocados, consoante exige a alínea “c” do
artigo 896 da CLT, uma vez que se trata de interpretação dos termos das “notas técnicas”,
legitimamente firmadas pelo empregador, sem que tenha havido ajuste em norma
coletiva. [...] TST-RR-1694-12.2016.5.21.0041, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas
Brandão, julgado em 16/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

A intenção do Sindicato autor é restabelecer medida denominada “Primeira Hora” –


posteriormente substituída – pela qual, uma vez identificado caso confirmado de Covid-
19 na unidade de trabalho, todos os empregados deveriam ser liberados por 15 dias
para realização de trabalho remoto, enquanto a atual redação orienta que, identificado
algum caso de coronavírus, somente serão afastados, para realização de trabalho
remoto, aqueles que trabalham em um raio de 2 (dois) metros do trabalhador infectado
e não mais todos os empregados da unidade. Passados quase dois anos de pandemia,
com a vacinação de grupos sociais prioritários, as medidas protetivas mais enérgicas
merecem alguma flexibilização, até para que a sociedade volte à normalidade ou, o mais
próximo possível desse desiderato, pois é indiscutível que as medidas restritivas mais
enérgicas dificultam a interação social, o desenvolvimento das atividades econômicas e
até mesmo aquelas que podem ser consideradas de utilidade pública. Para o
enfrentamento da crise de saúde pública, a ré elaborou um protocolo especial,
denominado “Protocolo de Medidas de Prevenção ao COVID-19 - Coronavírus”, que
atende ao que foi definido nas normas legais e nas orientações técnicas. Logo, exigir da
ECT, sem respaldo legal, comportamento superior ao exigido da totalidade das empresas
que atuam em atividade similar e concorrente, proporciona desequilíbrio da livre
concorrência, garantido no inciso IV, do art. 170 da Constituição Federal. TST-RR-429-

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17.2020.5.10.0016, 1ª Turma, rel. Min. Amaury Rodrigues Pinto Junior, Julgado em 20/10/2021
– Informativo TST n.º 246.

Suspensão e Interrupção do contrato de trabalho

Na suspensão do contrato de trabalho em decorrência de aposentadoria por invalidez,


o empregador desobriga-se de pagar vantagens previstas em normas coletivas a título
de contraprestação pelo trabalho, tais como o abono salarial e o auxílio-alimentação,
exceto nas hipóteses em que há previsão expressa de manutenção desses benefícios.
TST-E-ED-RR-1453-21.2012.5.03.0060, SBDI-I, rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, 4/3/2021 –
Informativo TST n.º 233.

No caso, o Tribunal Regional entendeu que, diante da existência de previsão genérica de


pagamento das parcelas “Participação nos Resultados (PR) e gratificação de permanência
em área remota” aos empregados afastados em razão de acidente do trabalho conferiria
ao autor, aposentado por invalidez, o direito ao recebimento da parcela. Ocorre,
entretanto, que a jurisprudência desta C. Corte estabelece que os direitos previstos
em norma coletiva só atingirão os empregados com o contrato suspenso por
aposentadoria por invalidez mediante previsão expressa em norma coletiva, o que
não se observa nos autos. Precedentes. Recurso de revista conhecido por violação do
artigo 7º, XXVI, da CR/88 e provido. TST-RR-1276-24.2017.5.08.0131, 3ª Turma, rel. Min.
Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 29/9/2021 – Informativo TST n.º 245.

Unicidade contratual

O TRT manteve a sentença a qual indeferiu o pedido de unicidade contratual


consignando que houve a celebração de vários contratos e que o reclamante afirmou
que sabia que os contratos seriam por prazo determinado. Extrai-se dos autos que
foram firmados contratos de 04/11/2014 a 06/06/2015, de 24/10/2015 a 11/4/2016 e de
27/05/2016 a 3/12/2016 e que o interregno entre os contratos variou de um a quatro
meses. Assim, verifica-se que foi desrespeitado o prazo legal mínimo de seis meses
para a sucessividade entre contratos de trabalho por prazo determinado, o que os
torna por prazo indeterminado, conforme o disposto no art. 452 da CLT. Na
realidade, os contratos de trabalho a termo firmados traduziram-se em verdadeiras
prorrogações contratuais, pois se somados os contratos de trabalho, o prazo
ultrapassou o máximo de dois anos permitido nos arts. 445 e 451 da CLT.
Depreende-se da leitura do acórdão Regional que a atividade empresarial da
reclamada não ostentava caráter transitório, uma vez que as embarcações
navegavam na costa brasileira em alguns períodos do ano e em águas
internacionais nos demais períodos do ano. Violado o art. 452 da CLT. [...] TST-RRAg-

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1040-23.2017.5.09.0009, 2ª Turma, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 4/8/2021 –


Informativo TST n.º 241.

Duração do trabalho

Sobreaviso e Prontidão

O empregado exercente de cargo de confiança previsto no art. 62, II, da CLT não
tem direito a horas de sobreaviso, haja vista a necessidade de um controle dos
horários de trabalho para sua concessão e a incompatibilidade entre a sistemática
do controle de jornada e a atividade exercida pelo trabalhador inserido no referido
dispositivo. TST-E-RR-10070-04.2015.5.01.0065, SBDI-I, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann,
5/8/2021 – Informativo TST n.º 241.

Tempo à disposição

A controvérsia repousa em definir se o tempo despendido pelo empregado petroleiro


na participação em diálogos diários de segurança, nas reuniões de segurança e nos
treinamentos de incêndio configura, ou não, tempo a disposição do empregador. [...] A
participação do empregado em diálogos diários de segurança, nas reuniões de
segurança e nos treinamentos de incêndio, era obrigatória e decorria diretamente de
riscos inerentes à natureza da atividade empresarial. Tais riscos, nos termos do disposto
no art. 2º, caput, da CLT, devem ser suportados pelo empregador. [...] Ao considerar que
durante atividades e treinamentos obrigatórios, relacionados à segurança do trabalho,
essenciais em decorrência dos riscos da atividade empresarial, o empregado não se
encontrava à disposição do empregador, o Tribunal Regional violou o disposto no art. 4º
da CLT. TST-RR-11774-62.2015.5.01.0482, 5ª Turma, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues,
julgado em 18/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

Intervalos e pausas

Recuperação térmica

O trabalho realizado além dos níveis de tolerância ao calor gera o direito não apenas ao
adicional de insalubridade (OJ nº 173 da SDI-1 do TST), como também a intervalos
para recuperação térmica previstos pelo Ministério do Trabalho, em seus
regulamentos, conforme autoriza o art. 200, V, da CLT. A cumulação do adicional de
insalubridade com o pagamento das horas extras decorrentes da supressão das
pausas para recuperação térmica, não configura “bis in idem”, visto que a exposição
contínua ao agente insalubre não é elidida pelas pausas. São verbas de natureza diversa

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devidas distintamente. TST-RR-243-71.2019.5.13.0007, 3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz


Bresciani de Fontan Pereira, julgado em 3/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Intervalo intersemanal

O art. 67 da CLT garante o descanso semanal de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas.


Já o art. 66 da CLT estabelece período mínimo de 11 horas a ser usufruído entre duas
jornadas de trabalho, o qual, inclusive, deverá ser observado em sequência do repouso
semanal de 24 horas (Súmula nº 110 do TST). A junção dos referidos períodos de
descanso constitui o chamado intervalo intersemanal de 35 horas (11 horas
consecutivas entre jornadas e 24 horas do repouso semanal remunerado). A questão de
mérito controvertida nos Embargos consiste em definir se configura bis in idem o
pagamento, como hora extraordinária, do tempo suprimido desse intervalo
intersemanal de 35 horas, tendo em vista que o desrespeito ao intervalo interjornada de
11 horas impõe o pagamento do tempo suprimido como horas extras e que eventual
desrespeito ao período de repouso semanal de 24 horas, sem a devida compensação,
enseja o recebimento das horas laboradas em dobro. A SBDI-I, decidiu, por unanimidade,
suspender a proclamação do resultado do julgamento para, nos termos do art. 72 do
RITST, remeter o processo ao Tribunal Pleno para deliberação sobre a questão
controvertida nestes autos, após: a) os Exmos. Ministros Guilherme Augusto Caputo
Bastos, relator, João Oreste Dalazen, João Batista Brito Pereira, Aloysio Corrêa da Veiga,
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Márcio Eurico Vitral Amaro, Walmir Oliveira da
Costa, Augusto César Leite de Carvalho e Breno Medeiros terem votado no sentido de
conhecer do recurso de embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito,
negar-lhes provimento; e b) os Exmos. Ministros Hugo Carlos Scheuermann, Lelio
Bentes Corrêa, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, José Roberto Freire Pimenta e Cláudio
Mascarenhas Brandão terem votado no sentido de conhecer do recurso de
embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, dar-lhe provimento para
condenar a embargada ao pagamento de horas extraordinárias decorrentes da
concessão parcial do intervalo interjornada de 35 horas, nos termos da OJ nº 355
da SBDI-I do TST, com o adicional respectivo e reflexos. TST-E-ED-RR-480200-
21.2009.5.09.0071, SBDI-I, rel. Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, designado como
relator dos Embargos no Tribunal Pleno o Ministro Alexandre Luiz Ramos, 4/3/2021 –
Informativo TST n.º 233.

Férias

Pagamento em dobro

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É indevida dobra nos casos de férias cujo pagamento foi efetuado no primeiro dia de
fruição. Inaplicabilidade da súmula nº 450 do TST, no sentido de se afastar sua aplicação
às hipóteses de atraso ínfimo no pagamento das férias. TST-E-RR-10128-
11.2016.5.15.0088, Tribunal Pleno, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 15/3/2021 –
Informativo TST n.º 233.

Se as férias foram concedidas na época própria e o seu pagamento foi realizado no prazo
legal, de forma que apenas uma parcela (“transitória remuneração”), pendente de decisão
judicial e que corresponde a uma pequena parte da remuneração do Autor, não foi
quitada de forma antecipada, não há que se falar em pagamento em dobro. A situação
não se amolda à súmula n.º 450 do TST, pois não houve o descumprimento do art. 145
da CLT, uma vez que o pagamento das férias foi feito de forma antecipada. Não ofende
o entendimento do TST o não pagamento antecipado de parcela reduzida da
remuneração (que não acarreta prejuízo ao trabalhador) e sobre a qual pendia
controvérsia judicial. TST-RR-1001258-28.2018.5.02.0386, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra
Martins Filho, julgado em 2/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Abono pecuniário de férias

A teor do que dispõe o art. 143, caput, e § 1º, da CLT, é faculdade do empregado
converter 1/3 (um terço) do período de férias a que tiver direito em abono
pecuniário, o qual deve ser requerido pelo trabalhador até 15 dias antes do
término do período aquisitivo. Nesse contexto, com base no princípio da melhor
aptidão para a prova, prevalece no TST o entendimento de que é ônus da parte
empregadora a comprovação de que o pagamento de abono pecuniário decorreu
de solicitação do empregado, sob pena de restar constatada a imposição do
empregador para a referida conversão. TST-RR-132-52.2011.5.09.0016, 7ª Turma, rel.
Min. Evandro Pereira Valadão Lopes, julgado em 8/9/2021 – Informativo TST n.º 243.

Salário e Remuneração

Gratificação de função

Inexiste direito adquirido à incorporação da gratificação de função, ainda que


exercida por mais de 10 anos, frente à norma expressa do art. 468, § 2º, da CLT. TST-
ARR-566-82.2017.5.08.0202, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, julgado em
2/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Adicional de periculosidade

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A SBDI-1 do TST (Processo nº E-RR-50-74.2015.5.04.0871, em 18/10/2018), interpretando


a NR 16 do Ministério do Trabalho e Emprego, firmou o entendimento de que o adicional
de periculosidade é devido em razão do fato de o veículo possuir um segundo tanque,
extra ou reserva, com capacidade superior a 200 litros, mesmo que para consumo
próprio (item 16.6 da NR 16), seja ele original de fábrica, suplementar ou alterado para
ampliar a capacidade. Se os caminhões conduzidos pelo reclamante possuíam dois
tanques originais de fábrica, sendo um suplementar/reserva, com capacidade total de
até 820 litros, lhe é devido o adicional de periculosidade. TST-Ag-RR-283-
11.2019.5.12.0030, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 24/2/2021 – Informativo
TST n.º 232.

Nota do organizador: a Portaria nº 1.357, de 9 de dezembro de 2019 (DOU 10/12/2019,


Seção 1, Pág. 66), expedida pelo Secretário Especial de Previdência e Trabalho no
Ministério da Economia, promoveu alteração na Norma Regulamentadora nº 16 –
Atividades e Operações Perigosas - para adicionar o item 16.6.1.1, que dispõe que “Não
se aplica o item 16.6 às quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de combustível
originais de fábrica e suplementares, certificados pelo órgão competente.”.

Constatada a prestação de serviços em farmácia instalada à distância inferior a 7,5


metros da boca de abastecimento das bombas do posto, é devido o adicional de
periculosidade, porquanto esses trabalhadores, embora não operem diretamente com
o abastecimento de veículos, exercem outras atividades em ponto comercial instalado
em área de risco. TST-E-RR-20267-40.2014.5.04.0333, SBDI-I, rel. Min. Walmir Oliveira da
Costa, 4/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

A SBDI-I, em sua composição plena, analisando a questão relativa à possibilidade de


cumulação do Adicional de Atividade de Distribuição e/ou Coleta Externa – AADC,
instituído pela ECT no PCCS de 2008, com o Adicional de Periculosidade, previsto § 4º
do art. 193 da CLT, aos empregados que desempenham a função de carteiro motorizado
(Função Motorizada ‘M’ e ‘MV’), utilizando-se de motocicletas, decidiu, por maioria, sem
modulação, aprovar a seguinte tese jurídica para o Tema Repetitivo nº 15: “Diante
das naturezas jurídicas diversas do Adicional de Atividade de Distribuição e/ou Coleta
Externa – AADC previsto no PCCS/2008 da ECT e do Adicional de Periculosidade
estatuído pelo § 4° do art. 193 da CLT, define-se que, para os empregados da ECT que se
enquadram nas hipóteses de pagamento dos referidos adicionais, o AADC e o adicional
de periculosidade, percebido por carteiro motorizado que faz uso de motocicleta,
podem ser recebidos cumulativamente”. TST-IRR-1757-68.2015.5.06.0371, SBDI-I, Rel. Min.
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 14/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

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A SBDI-I, em sua composição plena, analisando a questão relativa à percepção do


adicional de periculosidade pelo Agente de Apoio Socioeducativo, decidiu, por
maioria, aprovar, sem modulação, as seguintes teses jurídicas para o Tema Repetitivo
nº 16: “I. O Agente de Apoio Socioeducativo (nomenclatura que, a partir do Decreto nº 54.873
do Governo do Estado de São Paulo, de 06.10.2009, abarca os antigos cargos de Agente de
Apoio Técnico e de Agente de Segurança) faz jus à percepção de adicional de periculosidade,
considerado o exercício de atividades e operações perigosas, que implicam risco acentuado
em virtude de exposição permanente a violência física no desempenho das atribuições
profissionais de segurança pessoal e patrimonial em fundação pública estadual. II. Os efeitos
pecuniários decorrentes do reconhecimento do direito do Agente de Apoio Socioeducativo ao
adicional de periculosidade operam-se a partir da regulamentação do art. 193, II, da CLT em
03.12.2013 – data da entrada em vigor da Portaria nº 1.885/2013 do Ministério do Trabalho,
que aprovou o Anexo 3 da NR-16”. TST-IRR-1001796-60.2014.5.02.0382, SBDI-I, rel. Min. Hugo
Carlos Scheuermann, 14/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

Adicional de insalubridade

É inválida norma coletiva que veda a cumulação de adicionais de penosidade e


insalubridade, não podendo prevalecer a decisão regional que admite a possibilidade de
transação que implique em renúncia de direito previsto em norma constitucional e
trabalhista, com manifesto prejuízo para o empregado. TST-RR-20729-77.2016.5.04.0801,
8ª Turma, rel. Min. Dora Maria da Costa, julgado em 24/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

O TRT desconsiderou a conclusão do laudo pericial produzido nestes autos de que os


produtos manuseados pelo reclamante não constariam do rol de substâncias insalubres
previstas na NR-15 e decidiu com base no PPRA da própria reclamada que aponta a
caracterização da insalubridade em grau médio na função de auxiliar de produção,
exercida pelo reclamante. A Corte regional, ainda, compartilhou do mesmo
entendimento assentado na sentença que “decidiu a causa com base em regras de
experiência decorrentes de julgamentos anteriores envolvendo a reclamada, conforme laudos
técnicos elaborados por outros profissionais que realizaram inspeção na empresa”. 3 - A
decisão do TRT está em consonância com a jurisprudência majoritária no TST no
sentido de que documentos como o PCMSO, PPRA e LTCAT podem ser aceitos como
meio de prova quando o julgador entender nas instâncias ordinárias que seja
suficiente para formar a sua convicção. Podia o TRT, valorando as provas produzidas,
decidir com base no PPRA e nos laudos periciais produzidos em processos anteriores
envolvendo a mesma reclamada, valorando-os para o fim de concluir se a atividade
exercida era insalubre ou não. Julgados. 4 - Quanto à alegação da agravante de que o
agente insalubre (produto "Perkadox") não consta da NR-15 como agente insalubre, não
incide no caso a Súmula nº 448, I, do TST quando a própria empresa, por meio de

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profissionais por ela escolhidos, reconhece a insalubridade em grau médio em


PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), passando a constituir
condição mais favorável ao trabalhador. 5 - Os precedentes que deram origem ao
item I da Súmula nº 448 do TST tratam da impossibilidade de deferir adicional de
insalubridade quando o laudo pericial formulado no processo aponta agente
insalubre não categorizado pelo MTE, não incidindo na hipótese na qual a
insalubridade é reconhecida pela própria empresa. TST-Ag-AIRR-21017-
54.2017.5.04.0101, 6ª Turma, rel. Min. Katia Magalhães Arruda, julgado em 15/9/2021 –
Informativo TST n.º 244.

A SBDI-1 do TST (E-RR-207000-08.2009.5.04.0231 Redator Designado: Ministro Aloysio


Corrêa da Veiga, DEJT de 29/04/2016, julgado em 18/02/2016) firmou jurisprudência no
sentido de que as atividades desempenhadas pelos agentes comunitários de saúde,
por não estarem enquadradas no Anexo 14 da NR 15 da Portaria nº 3.214/78 do
Ministério do Trabalho, não geram o direito ao adicional de insalubridade, pois
“não se pode estender o conceito de residência ao do ambiente hospitalar, nem há
como definir o contato social como agente de exposição ao agente insalubre”.
Ocorre que a Lei nº 13.342/16 (com vigência a partir 04/10/16) acresceu o §3º ao artigo
9-A da Lei nº 11.350/16: “§ 3º. O exercício de trabalho de forma habitual e permanente
em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo órgão
competente do Poder Executivo Federal, assegura aos agentes de que trata esta Lei a
percepção de adicional de insalubridade, calculado sobre o seu vencimento ou salário-
base:”. No caso, o TRT registrou que, “embora tenha o perito concluído que as atividades
desempenhadas pela reclamante estariam enquadradas como salubres, a prova produzida
nos autos denota a exposição do agente comunitário de saúde, atuando no combate ao
mosquito da dengue e no acompanhamento de pacientes com doenças infectocontagiosas,
caracterizando-se as atividades desempenhadas pelo reclamante como insalubres em grau
médio, nos termos do Anexo 14 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE”. RR-20627-
16.2017.5.04.0641, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em
27/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Adicional de transferência

O fato de o empregado nunca ter prestado serviços no local em que fora contratado, e
desde o início ter tido conhecimento que o labor seria prestado em cidade distinta, não
lhe retira o direito de perceber o adicional de transferência. A empresa, ao optar por
selecionar seus empregados em cidade distinta daquela em que ocorrerá a prestação
de serviços deve arcar com os encargos legais trabalhistas daí decorrentes, in casu, o
adicional de transferência. TST-RRAg-10696-43.2015.5.01.0026, 3ª Turma, rel. Min.
Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 28/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

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É devido o pagamento do adicional de transferência, no importe de 25%, previsto no art.


469, § 3º da CLT e tratado na OJ nº 113 da SBDI-I do TST, no caso de sucessivas
transferências durante o contrato de trabalho. Na espécie, houve diversas
transferências no curso do contrato laboral, seis no total, sendo que a última durou
mais de três anos. Sabe-se que, em relação ao critério temporal da transferência, a
jurisprudência do TST entende como provisória aquela cuja duração não supere 2 (dois)
anos. Contudo, no caso em análise, em razão da sucessividade das transferências
efetivadas, deferiu-se o pagamento do respectivo adicional. TST-E-RR-536-
14.2012.5.09.0002, SBDI-I, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 12/8/2021 – Informativo
TST n.º 241.

Salário disfarçado

O princípio da primazia da realidade sobre a forma constitui-se em poderoso


instrumento para a pesquisa e encontro da verdade real em uma situação de litígio
trabalhista. Não deve, contudo, ser brandido unilateralmente pelo operador jurídico.
Desde que a forma não seja da essência do ato, o intérprete e aplicador do Direito deve
investigar e aferir se a substância da regra protetiva trabalhista foi atendida na prática
concreta efetivada entre as partes, ainda que não seguida estritamente a conduta
especificada pela legislação. Na hipótese dos autos, conforme dados consignados no
acórdão recorrido, o valor mensal recebido a título de locação do veículo era
superior a 50% do salário do obreiro, o que evidencia o intuito de mascarar o
efetivo caráter salarial da contraprestação paga ao empregado. Assim, constatada
a fraude no pagamento de valores ao Reclamante a título de aluguel de veículo,
impõe-se o reconhecimento da natureza salarial da parcela, nos termos dos arts.
9º e 457, § 2º, da CLT. TST-ARR-1744-25.2014.5.17.0007, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio
Godinho Delgado, julgado em 1/9/2021 – Informativo TST n.º 243.

Sucessão Trabalhista

A teor do art. 10 consolidado, “qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não


afetará os direitos adquiridos por seus empregados”. 2. A forma aparentemente singela em
que são postas as hipóteses tipificadoras da sucessão trabalhista, a despeito das críticas
doutrinárias, lançadas ao longo do tempo, representa conceito jurídico
indeterminado, que traduz pontos de mobilidade e de abertura do sistema para as
modificações da realidade. Os tipos abertos, consistentes na “alteração da estrutura
jurídica” e “mudança na propriedade”, permitem que a Lei se faça mais sábia do que
o Legislador, possibilitando ao aplicador a adequação da norma aos fins sociais a que se
dirige (art. 8º da LINDB), em atendimento, de forma prospectiva, a fatos e valores
supervenientes. 3. Diante disso, a visão hodierna que se tem da sucessão
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trabalhista é bastante ampla, estando compreendida no instituto qualquer


situação fática que traduza alteração intra ou interempresarial, sendo irrelevante
o vínculo entre sucedido e sucessor e a natureza do título que possibilitava ao
titular do estabelecimento a utilização dos meios de produção nele organizados. 4.
Assim, na hipótese, o fato é que houve, na prática, sucessão de empregadores, pois
não houve interrupção na prestação de serviços, continuando o reclamante a
laborar para a sucessora, razão pela qual se declara a responsabilidade solidária
entre eles. TST-ARR-502-16.2016.5.09.0126, 3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de
Fontan Pereira, julgado em 13/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

O Plenário do STF (ADI 3.934/DF), declarou a constitucionalidade dos arts. 60, parágrafo
único, e 141, II, da Lei 11.101/2005, os quais estabelecem que o objeto da alienação,
aprovado em plano de recuperação judicial, estará livre de qualquer ônus e não haverá
sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária,
as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidente de trabalho. Dessa
forma, a jurisprudência do TST entende pela inexistência de sucessão trabalhista e de
qualquer responsabilidade das empresas arrematantes da Unidade Produtiva Varig
(UPV). No caso, o Regional, apesar de afirmar que a solidariedade se deu apenas pelo
reconhecimento do grupo econômico, verifica-se que a conclusão da existência de grupo
econômico decorreu da análise da sucessão das recorrentes em face da arrematação
em leilão de recuperação judicial, o que não se coaduna com o entendimento do STF no
julgamento da ADIN 3.934-2 e viola o disposto no art. 60, parágrafo único, da Lei
11.101/2005, porquanto o objeto da alienação encontra-se livre de qualquer ônus. TST-
RR-12000-12.2008.5.01.0030, 6ª Turma, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, julgado em
20/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Terceirização

É lícito à ECT celebrar convênios com municípios para a realização material de tarefas
executivas. O STF já decidiu que é possível a terceirização de atividade-fim (RE nº
760.931). Além disso, há lei que claramente autoriza a realização de convênio com outras
entidades, possibilitando a prestação de serviços postais, por meio das agências de
correios comunitárias. TST-RR-781-38.2010.5.18.0004, 7ª Turma, rel. Min. Evandro Pereira
Valadão Lopes, julgado em 24/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Discute-se se é possível o reconhecimento da responsabilidade solidária da prestadora


de serviços, pelos créditos trabalhistas, no caso em que o reclamante requer o
reconhecimento do vínculo empregatício com o tomador dos serviços, porém deixa de
apresentar na inicial pedido de condenação solidária da prestadora. O
reconhecimento do vínculo empregatício com o tomador de serviços e a incidência
do art. 9º da CLT tem o condão de atrair a aplicação da regra prevista nos artigos
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927 e 942 do Código Civil, o que por conseguinte ampara também o art. 265 do
Código Civil. Isso porque a responsabilidade da empresa decorre, pois, da sua conduta
ilícita e fraudulenta à legislação trabalhista. Na Justiça do Trabalho, o art. 840, § 1º, da
CLT, exige que, na petição inicial, haja apenas uma breve exposição do fato de que
resulte o dissídio e o pedido. Portanto, é a exposição do fato que delimita a
manifestação judicial. Mas não pode o julgador considerar fatos e questões não
alegados pelas partes e fora da causa. Nesse contexto, o princípio da demanda refere-
se a todas as espécies de questões. Assim, a exemplo do previsto no art. 489, III, do CPC,
a vinculação do juiz, nos termos do art. 840, § 1º, da CLT, deve ser com as questões
alegadas, e não com os fundamentos de direito invocados pelas partes. Assim,
considerando o princípio da informalidade e da simplicidade que reveste o
processo trabalhista, ao redigir a petição inicial, basta ao autor expor rapidamente
os fatos a fim de proporcionar a sua compreensão e a respectiva consequência
jurídica, contida no pedido. No caso em tela, extrai-se da inicial que a reclamação foi
ajuizada contra a recorrente e primeira reclamada como principais devedoras e demais
empresas como secundárias. Assim, o reclamante, ao colocar no rol dos pedidos a
responsabilidade solidária das demais empresas, não afasta, por si só, a
responsabilidade principal da recorrente, outrora empresa empregadora e
prestadora de serviços. Logo, a condenação solidária imposta à ex-empregadora
não configura julgamento extra petita. TST-RR-11429-50.2015.5.01.0077, 6ª Turma, rel.
Augusto César Leite de Carvalho, julgado em 22/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

Apesar de o Tema nº 725 de Repercussão Geral consagrar a licitude da terceirização de


serviços em atividade-fim, é certo que o próprio Supremo Tribunal Federal excluiu do
alcance dessa a tese os casos em que as empresas tomadora e prestadora de serviços
integram o mesmo grupo econômico. Precedentes. Ora, se uma empresa, ao invés de
contratar empregados, escolhe desempenhar sua atividade-fim por meio de outra
pessoa jurídica do grupo econômico que integra, certamente o faz com o intuito de
baratear a mão de obra, mascarar a real categoria profissional dos trabalhadores
e sonegar-lhes direitos. Registre-se que, para fins da relação de emprego, o grupo
econômico é considerado empregador único, na clara dicção da Súmula nº 129 do
TST, em especial, na circunstância presente, em que o labor é prestado por meio de uma
empresa e em prol de outra, em condições de simultaneidade. Tal conduta não admite
chancela do Judiciário. Correta, portanto, a decisão regional que reconheceu a fraude
perpetrada entre as rés, deferiu à parte autora os pedidos calcados na condição de
empregada direta da tomadora e declarou a responsabilidade solidária. Inteligência
dos artigos 942 do Código Civil, 2º, § 2º, e 9º da CLT. TST-RR-10716-31.2015.5.01.0027, 7ª
Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 15/9/2021 – Informativo TST n.º
244.

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A contratação precária no decorrer do prazo de validade de concurso público com


cadastro de reserva para as mesmas atribuições do cargo para o qual fora
realizado o certame configura preterição dos candidatos aprovados, em ofensa ao
art. 37, II, da Constituição Federal, ainda que fora das vagas previstas no edital ou
não comprovada a efetiva existência de cargo oficialmente vago. No caso, o
reclamado contratou 768 trabalhadores temporários, durante a validade do concurso no
qual o reclamante obteve aprovação, para exercer as mesmas atribuições previstas no
edital. Além disso, o Tribunal Regional ressaltou que o réu, ainda durante o prazo de
validade do concurso referido, abriu novo edital para formação de cadastro reserva. TST-
ED-E-RR-854-95.2016.5.10.0012, SBDI-I, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 21/10/2021–
Informativo TST n.º 246.

O encargo relativo à entrega do perfil profissiográfico previdenciário constitui obrigação


de fazer personalíssima do empregador, não extensível ao tomador de serviços, em
decorrência da responsabilidade subsidiária a ele atribuída. TST-ED-Ag-E-ED-RR-1002446-
80.2016.5.02.0433, SBDI-I, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 21/10/2021 – Informativo TST
n.º 246.

Restou incontroversa a existência de convênio entre as Reclamadas para a prestação de


serviços. Convênio assinado para uso de marca para ensino à distância não representa
uma terceirização de serviços e nem o verbete mencionado (Súmula n.º 331 do TST)
possibilita a responsabilização generalizada da empresa que se “beneficia, ainda que
indiretamente, pela força de trabalho” do empregado da empresa contratada. A partir dos
fatos descritos, não se aplica a tese fixada pelo STF no Tema nº 725 da Tabela de
Repercussão Geral acerca do efeito do reconhecimento da licitude da terceirização da
atividade meio ou fim, porque, no presente caso, não se trata de terceirização.
Reconhecida a má aplicação das diretrizes contidas na Súmula nº 331, IV e VI, do TST.
TST-RR-10060-83.2020.5.03.0014, 4ª Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em
19/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Responsabilidade Civil

Prescrição

Na hipótese, a ex-empregada encontra-se aposentada desde 31.03.2016 e pleiteia a


condenação da ex-empregadora no pagamento de indenização substitutiva. Sustenta
que está recebendo complementação de aposentadoria em valor menor do que o
realmente lhe seria devido [...]. Diante dessas circunstâncias fáticas, aplica-se o prazo
prescricional bienal disposto no art. 7º, XXIX, da CRFB. Dessa maneira, ajuizada a ação
somente em 2019, incide a lâmina prescritiva, não sendo possível à Obreira discutir

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eventuais lesões ocorridas no biênio anterior ao ajuizamento do feito. Frise-se não


se aplicar à hipótese a Súmula 327 do TST, pois a pretensão não alude a diferenças
de complementação de aposentadoria, mas, sim, à responsabilidade civil de ex-
empregador por omissão culposa alegadamente ocorrida em 2008 (arts. 186 e 927
do Código Civil). TST-RR-976-29.2019.5.17.0006, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio Godinho
Delgado, julgado em 18/8/2021 – Informativo n.º 242.

A contagem do prazo prescricional somente tem início, em se tratando de acidente


de trabalho ou doença ocupacional, a partir do momento em que o empregado tem
ciência inequívoca da incapacidade laborativa ou do resultado gravoso para sua
saúde física ou mental, ou seja, com a alta previdenciária ou com a concessão da
aposentadoria por invalidez, e não simplesmente da data do acidente, nem mesmo do
afastamento. TST-RR-2009-73.2013.5.12.0048, 6ª Turma, rel. Min. Augusto César Leite de
Carvalho, julgado em 10/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Aspectos ligados ao arbitramento

Consoante o entendimento do STF (exemplo: RE 140940; RE 603496 AgR; ARE 927235


AgR), a utilização do salário mínimo como base de cálculo e atualização de pensão
deferida a título de indenização por ato ilícito não viola o art. 7º, IV, da CR/88. Na espécie,
conforme decisão rescindenda de primeiro grau, foi determinada a utilização do salário
mínimo como fator de correção dos valores devidos a título de pensionamento vitalício,
a ser pago em parcela única. TST-RO-8509-64.2012.5.04.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas
Alencar Rodrigues, 2/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

É pacífico o entendimento no TST de que as quantias arbitradas a título de reparações


por danos morais devem ser modificadas nesta esfera recursal apenas nas hipóteses
em que as instâncias ordinárias fixarem valores teratológicos, ou seja, desprovidos
de qualquer sentido de razoabilidade e proporcionalidade, para mais ou para
menos. TST-AIRR-969-96.2014.5.21.0007, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra
Belmonte, julgado em 27/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

Não incidem o imposto de renda e a contribuição previdenciária sobre o valor


fixado a título de compensação por danos morais e materiais quando decorrentes
de acidente do trabalho, pois a compensação por dano moral e material não se
enquadra no conceito de rendimento, mas sim em reparação pelos danos
ocasionados pela doença profissional, não fazendo parte, portanto, do salário de
contribuição (artigo 28, I, da Lei nº 8.212/91). No mesmo sentido, o art. 6º, IV, da Lei nº
7.713/88, que alterou a legislação do imposto sobre a renda, bem como o inciso XVII do
art. 39 do Decreto nº 3.000/99, que cuida da tributação, fiscalização, arrecadação e
administração do referido imposto, preveem a proibição de tributação no caso de
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indenização decorrente de acidente de trabalho, seja decorrente de dano moral ou


patrimonial, seja o pagamento realizado de qualquer forma, parcela única ou
pensionamento. TST-E-ED-RR-346000-68.2005.5.15.0130, SBDI-I, rel. Min. Breno Medeiros,
27/5/2021 – Informativo TST n.º 238.

Viola o artigo 950, caput, do Código Civil e o artigo 121 da Lei 8.213/91 decisão que
indefere o pagamento de pensão mensal por danos materiais decorrente de doença
ocupacional ao fundamento de que o trabalhador recebe benefício previdenciário e não
comprova prejuízo salarial. O fato de o empregado perceber benefício previdenciário
não pode eximir o empregador de pagar a pensão que decorre de doença
ocupacional, uma vez que constituem verbas de naturezas jurídicas distintas, uma
derivada da relação previdenciária e a outra da relação de trabalho. TST-ROT-24202-
86.2019.5.24.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 10/8/2021 – Informativo TST
n.º 241.

A Súmula nº 439 do TST estabelece que “Nas condenações por dano moral, a atualização
monetária é devida a partir da data da decisão de arbitramento ou de alteração do valor. Os
juros incidem desde o ajuizamento da ação, nos termos do art. 883 da CLT”. A jurisprudência
do TST vem estendendo a diretriz da Súmula nº 439 à fixação dos juros de mora
também quanto ao pedido de indenização por danos materiais, tratando-se,
portanto, de construção jurisprudencial. Contudo, o verbete, por não tratar do
termo inicial para a incidência dos juros de mora em relação às indenizações por
danos materiais, inviabiliza o conhecimento do recurso de embargos, por
impertinência temática. Nesse sentido, sinale-se que o TST já firmou entendimento
quanto à impossibilidade de conhecimento do recurso de embargos com Súmula
ou OJ por analogia. TST-AgR-E-ED-RR-19900-90.2007.5.17.0012, SBDI-I, rel. Min. Breno
Medeiros, 7/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

Tratando-se de determinação judicial de reintegração em outra função, em face de


estabilidade provisória decorrente de doença ocupacional, é possível a percepção
cumulada de salário e de indenização por danos materiais (pensão mensal), pois os
salários do período de reintegração e a pensão mensal possuem natureza jurídica e fatos
geradores distintos. TST-E-RR-266300-17.2008.5.02.0060, SBDI-I, rel. Min. Hugo
Scheuermann, 4/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Responsabilidade objetiva

Atrai a responsabilidade objetiva a atividade de cobrador de ônibus, pois implica


risco acentuado para os trabalhadores, haja vista o quadro atual da profissão, que é,
com relevante frequência, alvo de condutas criminosas, expondo os trabalhadores dessa

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área a situações de vulnerabilidade. No caso, contra o ônibus coletivo, onde laborava


como cobradora, foi arremessado, da via pública, um saco de lixo que atingiu o seu rosto,
causando-lhe a evisceração e perda do globo ocular direito), bem como dos assaltos
sofridos (em um total de dez), no cumprimento de suas atividades laborais. TST-RR-876-
36.2014.5.06.0142, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, julgado em 24/2/2021 –
Informativo TST n.º 232.

A atividade de cobrador de ônibus de transporte coletivo urbano é de risco e atrai a


responsabilidade objetiva do empregador. TST-E-ED-RR-238100-91.2005.5.01.0202,
SBDI-I, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, 11/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

A atividade de manejo de gado é objetiva e atrai a responsabilidade objetiva do


empregador, seja pelas condições adversas do campo, seja pela lida com os animais.
TST-RR-24256-63.2019.5.24.0061, 8ª Turma, rel. Min. Dora Maria da Costa, julgado em
10/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Inobservância das normas de segurança do trabalho

A inobservância das normas de segurança do trabalho configura culpa para efeitos de


responsabilização civil subjetiva. TST-RO-21582-98.2015.5.04.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria
Helena Mallmann, 2/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Jornada extenuante

A SDI-1 do TST (E-RR-402-61.2014.5.15.0030 – julgamento em 29.10.2020), firmou


entendimento de que o cumprimento de jornada extenuante pela prestação de horas
extras habituais, por si só, não resulta em dano existencial, sendo imprescindível a
demonstração efetiva de prejuízo ao convívio familiar e social. Se não consta na decisão
regional nenhuma prova de efetivo prejuízo decorrente da prestação das horas extras,
nem impedimentos de a reclamante participar do convívio social ou se ocorreram
mudanças em seus projetos pessoais, não há falar em dano moral, não tendo a
reclamante se desvencilhado do ônus probatório que lhe competia quanto a fato
constitutivo do seu direito (prova do efetivo prejuízo decorrente da imposição de jornada
excessiva). TST-RR-248-91.2016.5.09.0013, 2ª Turma, rel. Min. Maria Helena Mallmann,
julgado em 10/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Dispensa imotivada do professor

A dispensa imotivada do professor no início do semestre letivo impossibilita a sua


recolocação no mercado de trabalho, configurando o dano moral. A dispensa do
Reclamante no segundo dia do semestre letivo gerou expectativa justa e real de
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continuar como professora da instituição de ensino reclamada lecionando a matéria e


evidencia o abuso do poder diretivo do empregador. TST-Ag-RR-12061-14.2016.5.03.0036,
3ª Turma, rel. Min. Alexandre Agra Belmonte, julgado em 3/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Dispensa de trabalhador com deficiência

Gera danos morais in re ipsa a dispensa de trabalhador com deficiência, ainda que a
dispensa tenha ocorrido com quitação das verbas rescisórias em valor substancial e que
tal valor fosse suficiente para o sustento do autor durante o tempo de afastamento.
Prescinde-se de prova o dano moral, sendo o próprio ato abusivo ensejador da
reparação. O artigo 93, § 1°, da Lei n° 8.213/1991 estabelece uma regra de proteção ao
trabalhador portador com deficiência que limita o exercício do direito potestativo do
empregador de dispensar, sem encontrar previamente um substituto de condição
semelhante, os empregados que se encontram nessa condição. A inobservância da
referida norma cogente no ato de demissão enquadra o reclamado como praticante de
abuso de direito. Precedentes. TST-RR-1611-79.2014.5.03.0004, 2ª Turma, rel. Min. Maria
Helena Mallmann, julgado em 14/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Danos indiretos ou em ricochete

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho é a de que os familiares, os herdeiros


e os sucessores do empregado vítima de acidente do trabalho são partes legítimas para
pleitear em juízo a indenização pelos prejuízos extrapatrimoniais por eles sofridos em
virtude do falecimento do ente querido. Trata-se do direito de postular reparação que a
doutrina convencionou denominar de “danos morais indiretos ou em ricochete”. Ocorre
que os presentes autos demandam uma análise pormenorizada da matéria, porque a
controvérsia gravita em torno da legitimação dos sobrinhos para perseguir, em nome
próprio, a indenização pelos prejuízos extrapatrimoniais decorrentes do infortúnio que
ceifou a vida do seu tio. As reclamadas S.M.S. e B.B.B.L. alegam que o simples laço de
parentesco não seria suficiente para autorizar o prosseguimento da ação reparatória,
sob pena de banalização do dano moral e de alargamento demasiado da reparação.
Argumentam que os beneficiários da indenização deveriam ser apenas os membros do
núcleo familiar mais próximo, formado pelo cônjuge ou companheiro e pelos pais e
filhos. Sendo assim, a hipótese concreta traz à baila o limite que deve ser objetivamente
adotado na cadeia de legitimados para a ação indenizatória, mormente porque os
autores se encontram posicionados na linha colateral de herdeiros do falecido. Há que
se ter em mente que nem todo aquele que sofre pela perda de outrem deve encontrar
a proteção do direito para perseguir uma compensação pela via judicial. Isso porque
correr-se-ia o risco de que uma infinidade de indivíduos obtivesse a chancela do Poder
Judiciário para, por exemplo, pleitear danos morais em razão do falecimento de uma

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pessoa famosa ou de alguém cuja tragédia tenha causado um sentimento geral de


comoção. Portanto, quando o que se pretende em juízo é a compensação moral pela
morte de alguém, a oportunidade de demonstrar o prejuízo íntimo deve ocorrer
somente após a comprovação da existência de uma relação de natureza objetiva
(notadamente familiar, de parentesco, de dependência econômica) entre o sujeito que
pretende demandar e o falecido, mesmo porque a legitimidade ativa caminha pari
passu com o próprio interesse de agir, sendo ambos pressupostos processuais,
posicionados como requisitos de admissibilidade da demanda. Ao contrário do que
acontece no direito português, em que o artigo 496º, “2”, do CCP é expresso ao conferir
legitimação ao cônjuge, aos descendentes, aos ascendentes, aos irmãos e aos sobrinhos,
o direito brasileiro não contém uma norma legal específica, que discipline a titularidade
do direito à indenização pelos danos morais sofridos pelos parentes do morto, cabendo
à doutrina traçar as diretrizes teóricas da matéria, bem como à jurisprudência proceder
à integração do ordenamento jurídico. Vale reiterar que já não existem maiores
controvérsias a respeito da legitimidade do cônjuge e dos parentes em linha reta para
perseguir os danos morais “indiretos ou em ricochete”, perseverando uma certa
inquietação doutrinária e jurisprudencial sobre a legitimação dos colaterais e o limite a
ser adotado na cadeia sucessória destes. Clóvis Beviláqua, citado por Luis Felipe
Salomão, assevera que o sentimento de unidade da família e o vínculo de simpatia entre
os parentes desaparece apenas após o quarto grau da linha de parentesco colateral
(SALOMÃO, Luis Felipe. Direito Privado. Teoria e Prática. 3. ed., Saraiva. p. 423). Esse
entendimento encontra-se em sintonia com o pensamento de outros autores, como, por
exemplo, Carlos Alberto Bittar e o próprio Salomão, que traçam um paralelo entre os
artigos 1.829 e 1.839 CCB – que limitam a linha sucessória colateral ao quarto grau – e
os legitimados para perseguir os danos morais indiretos. Ancorar o rol de legitimados
para propor ação de reparação moral pela morte de uma pessoa querida nos
dispositivos que tratam da ordem e dos limites da vocação hereditária parece bastante
razoável, sobretudo porque os valores jurídicos que subjazem o pleito reparatório
confundem-se com aqueles que orientam as linhas sucessórias, cujo norte axiológico
reside justamente nas relações de afeto presumidamente existentes entre quem se foi
e os que ficaram. É importante ressaltar que os debates travados durante a V Jornada de
Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal entre os dias 9 e 11/11/2011,
contribuíram decisivamente para a elucidação do tema. A conclusão a que chegaram os
doutrinadores e que resultou na edição do Enunciado nº 400 do CJF, foi a de que o artigo
12, parágrafo único, do CCB assegura aos parentes colaterais até o quarto grau não
apenas a legitimidade para proteger a imagem do morto (ou preservar o resquício da
personalidade daquele que partiu), mas, também, a prerrogativa de ingressar em juízo
por direito próprio, a fim de perseguir a compensação pelos danos morais reflexos
decorrentes do passamento do ente querido. Conclui-se, portanto, que os artigos 12,
1.829 e 1.839 do CCB garantem aos sobrinhos, posicionados no terceiro grau da linha

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sucessória colateral do de cujus, o direito de se socorrer do Poder Judiciário para


perseguir, em nome próprio, a indenização pelos prejuízos extrapatrimoniais
decorrentes do infortúnio que ceifou a vida do seu tio. Precedentes do Superior Tribunal
de Justiça. Agravos de instrumento conhecidos e desprovidos. PRESSUPOSTOS DO
DEVER DE INDENIZAR. Discute-se os pressupostos da responsabilidade civil das rés pelos
danos morais sofridos pelos sobrinhos em razão do acidente do trabalho que ceifou a
vida de seu tio. É incontroverso nos autos que o de cujus foi soterrado pelo rejeito de
minério enquanto dirigia caminhão pipa à jusante da barragem de Fundão, em Mariana-
MG. As reclamadas S.M.S. e B.B.B.L. alegam que os autores não comprovaram a
existência de laços afetivos com o falecido e que o Tribunal Regional não poderia
presumir o dano extrapatrimonial pela mera circunstância de os reclamantes residirem
no mesmo município de seu tio. Argumentam que o artigo 7º, XXVIII, da CF veda a
aplicação da responsabilidade civil objetiva do empregador em caso de acidente do
trabalho, que o infortúnio ocorreu em razão de caso fortuito e que todas as normas de
segurança foram estritamente observadas. Diferentemente do que acontece no direito
das sucessões, em que os parentes mais próximos normalmente excluem os mais
remotos, os danos morais decorrentes do falecimento de uma pessoa querida não
seguem um padrão lógico de incidência ou de gradação. “Se no direito sucessório os
parentes excluem-se gradativamente, o mesmo não ocorre no caso da ação indenizatória”
(PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9. ed., Forense. p. 329).
Evidentemente, presume-se que os membros do núcleo familiar íntimo (normalmente
integrado pelo cônjuge, pelos filhos e pelos pais) sejam os que sofram as repercussões
personalíssimas causadas pelo infortúnio e que este sofrimento se apresente de forma
mais intensa que em outros parentes. Não por outro motivo, J. M. Carvalho Santos diz
que a ordem natural das afeições familiares obedece a um padrão em que “o amor
primeiro desce, depois sobe, e em seguida dilata-se” (CARVALHO SANTOS, J. M. Código Civil
Brasileiro Interpretado. Vol. XXII. 13. ed., Freitas Bastos. p. 247). Porém, isto não significa
que estes ou mesmo outros indivíduos que sequer tenham relação de parentesco com
aquele que se foi não possam padecer das mesmas dores ou até mesmo de aflições mais
intensas que as suportadas pelos familiares. A complexidade das relações e dos
sentimentos humanos não permite que se chegue a uma conclusão estanque nesse
sentido, embora a estreita via da legitimação ad causam restrinja sobremaneira o
universo das pessoas com respaldo jurídico para provocar o Poder Judiciário a fim de
fazer valer o seu direito à compensação pela ofensa moral em ricochete. Conforme
ressaltado alhures, apenas os parentes em linha reta e os que figuram até o quarto grau
colateral possuem essa prerrogativa, salvo em situações muito particulares. A partir do
momento em que é demonstrado o vínculo objetivo de parentesco, a atenção do juiz
deve voltar-se para o problema da prova do dano que a parte alega padecer. A
presunção de que a morte possui a capacidade de desencadear sentimentos de
profunda tristeza, de angústia e de sofrimento, é natural para os membros do núcleo

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familiar e para os parentes mais próximos. Porém, essa presunção hominis ou facti
dissipa-se à medida em que o vínculo de parentesco se afasta da família em sentido
estrito. Assim, os danos morais decorrentes do falecimento de um ente querido podem
ser considerados in re ipsa apenas para os parentes posicionados até o terceiro grau nas
linhas reta e colateral; a partir daí, o direito à reparação depende de que a parte
demonstre uma relação de intimidade, de proximidade, de apadrinhamento ou de
dependência econômica frustrada pelo perecimento. Depreende-se do acórdão
recorrido que o de cujus desfrutava de uma convivência familiar com os autores,
conclusão extraída pelo Tribunal Regional a partir do que ordinariamente acontece em
cidades de interior. É de todo pertinente buscar amparo no artigo 375 do CPC para
aplicar as regras da experiência comum no caso concreto, notadamente porque os
depoimentos transcritos no corpo da decisão demonstram que os demandantes
residem ou residiram na mesma localidade em que morava o trabalhador falecido [...].
Ultrapassada a controvérsia relativa à existência do dano, vale recordar que o artigo 7º,
XXVIII, da CF, que consagra a responsabilidade subjetiva do empregador pelos danos
decorrentes de acidentes do trabalho, é incapaz de, por si só, afastar a aplicação da
teoria do risco positivada no artigo 927, parágrafo único, do CCB. Destarte, sempre que
a atividade econômica implicar, por sua própria natureza, perigo de dano aos
trabalhadores em patamar superior a outras atividades normalmente desenvolvidas no
mercado, haverá a obrigação de reparação dos prejuízos decorrentes daquela espécie
de infortúnio, independentemente da existência de culpa do empresário. Essa é
exatamente a hipóteses dos autos, tendo em vista que as atividades de suporte à
mineração em barragens são de altíssimo risco. Os rompimentos em Mariana e em
Brumadinho são exemplos dolorosos e bem ilustrativos desta compreensão. Ademais,
pelo princípio do poluidor-pagador, as pessoas físicas ou jurídicas exploradoras de
atividades nocivas ao meio ambiente – onde se insere o meio ambiente de trabalho –
devem responder de forma objetiva e solidária pelos custos e prejuízos sociais diretos
ou indiretos provenientes da degradação. Essa é a exegese que se extrai dos artigos 3º,
IV, e 14, §1º, primeira parte, da Lei nº 6.938/1981, ao assentarem que o poluidor é aquele
“responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”,
sendo este “obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”. Acrescente-se
que não se constata nos autos qualquer excludente de nexo de causalidade,
notadamente caso fortuito ou força maior, tendo o Tribunal Regional salientado
expressamente que o sinistro não decorreu de fato alheio ao controle das rés, mas de
sua culpa grave pela falha estrutural da barragem. O Colegiado observou uma sucessão
de eventos irregulares que comprometeram a segurança do ambiente de trabalho, bem
como a insuficiência de medidas adequadas para a mitigação dos seus efeitos danosos,
circunstâncias que atraem, também, a responsabilidade subjetiva prevista nos artigos
186 e 927, caput, do CCB. Desta feita, quer pela natureza da atividade econômica, quer

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pelo risco do empreendimento explorado, quer pela conduta antijurídica na


administração dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho, deve ser mantida a
responsabilidade das rés pelos danos morais sofridos pelos sobrinhos do trabalhador
falecido. Agravos de instrumento conhecidos e desprovidos. VALOR DA CONDENAÇÃO.
O Tribunal Regional manteve a sentença, que arbitrou em R$ 30.000,00 os danos morais
sofridos por cada um dos oito sobrinhos do trabalhador falecido. Por outro lado,
depreende-se do acórdão recorrido que os irmãos do de cujus – pais dos autores –
homologaram acordo nesta Justiça Especializada, por meio do qual a empresa S.M.S.
comprometeu-se a pagar a cada um deles a quantia de R$ 75.000,00, a título de
reparação pelos danos extrapatrimoniais decorrentes do passamento do ente querido.
A monetização dos prejuízos causados à esfera íntima de qualquer indivíduo certamente
consubstancia-se em uma das tarefas mais tormentosas impostas ao magistrado. Isso
porque, se já é difícil ao próprio ofendido quantificar a exata extensão daquilo que o
aflige, que dirá ao juiz, possuidor de experiências de vida e entendimento de mundo
evidentemente diversos. É certo que existem alguns critérios objetivos, comumente
observados pela doutrina e pela jurisprudência, para a fixação econômica da
responsabilidade civil do dano moral. A capacidade financeira dos envolvidos, a extensão
da culpa de cada uma das partes e o caráter pedagógico e punitivo da medida auxiliam
na formação de um entendimento sobre a questão, mas nenhum desses parâmetros
deve atuar de forma isolada ou em desalinho com a efetiva repercussão do evento
danoso no território privado e impenetrável que é a personalidade da vítima. Tendo em
vista ser extremamente difícil à instância extraordinária construir juízo valorativo a
respeito de uma realidade que lhe é distante, notadamente quando a análise envolve a
difícil tarefa de quantificar a dor interna do indivíduo, foi pacificado o entendimento de
que as quantias arbitradas a título de reparações por danos extrapatrimoniais devem
ser modificadas no TST apenas nas hipóteses em que as instâncias ordinárias fixarem
valores teratológicos, ou seja, desprovidos de qualquer sentido de razoabilidade e
proporcionalidade, para mais ou para menos. No caso dos autos, o Tribunal levou em
consideração a vultosa capacidade econômica das rés (capital social de até R$
75.000.000.000,00 – setenta e cinco bilhões de reais), o caráter punitivo e pedagógico da
medida, a gravidade e a grande extensão do prejuízo perpetrado pela conduta ilícita e a
impossibilidade de que a reparação propicie o enriquecimento sem causa dos autores.
Considerando os parâmetros observados pela Turma a quo, principalmente a notória
opulência financeira das reclamadas e os devastadores reflexos do infortúnio na vida
dos sobrinhos, integrantes de uma pequena comunidade interiorana, conclui-se que a
importância chancelada se encontra em desarmonia com os princípios da ponderação e
equilíbrio que devem nortear a atividade jurisdicional, no entanto, mantem-se a decisão
regional neste particular, em observância ao princípio da non reformatio in pejus.
Acrescente-se, por fim, que os fatos que instruem o presente processo são anteriores à
denominada “reforma trabalhista”, razão pela qual não incide a tarifação dos danos

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morais incluída na CLT pela Lei nº 13.467/2017. Agravos de instrumento conhecidos e


desprovidos. [...] III – RECURSOS DE REVISTA DAS RECLAMADAS S.M.S. E W.M.L. E
AGRAVOS DE INSTRUMENTO EM RECURSOS DE REVISTA DAS RECLAMADAS V.S. E B.B.B.L.
(MATÉRIA COMUM). RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – GRUPO ECONÔMICO.
CORRESPONSABILIDADE. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. Depreende-se do inteiro teor do
acórdão recorrido que as empresas V.S., S.M.S., W.M.L. e B.B.B.L. formavam
conglomerado que reunia esforços para execução de um objetivo comum. As
recorrentes defendem a inexistência de grupo econômico e que não interferiram nas
atividades profissionais do de cujus. Independentemente da configuração ou não de
grupo econômico, da existência de subordinação ou coordenação de interesses, a
obrigação de indenizar as repercussões danosas de acidentes do trabalho não pode ser
afastada pela mera vontade das partes, atingindo, de forma solidária, todas as empresas
envolvidas no evento, nos termos do artigo 942 do CCB, não havendo sequer que se
cogitar de subsidiariedade ou qualquer outro benefício de ordem entre as devedoras.
Trata-se de corresponsabilidade por responsabilidade civil, no caso, por danos
extrapatrimoniais. Corrobora tal entendimento o art. 223-E da CLT, inserido pela Lei nº
13.467/2017, que embora não seja aplicável aos fatos ocorridos nestes autos, por serem
anteriores à vigência da lei, dispõe que “São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos
os que tenham colaborado para a ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou
da omissão”, vindo ao encontro da jurisprudência que já admitia a aplicação das normas
de direito civil para a responsabilidade civil do empregador. De mais a mais, mesmo que
algumas empresas integrantes do conglomerado econômico não tenham atuado
diretamente para o rompimento da barragem, todas devem responder pelos danos
decorrentes da atividade nociva, pelo simples fato de que se beneficiavam, mesmo que
indiretamente, da deterioração ambiental. Aliás, é importante reiterar que, conforme o
princípio do poluidor-pagador insculpido nos artigos 3º, IV, e 14, §1º, primeira parte, da
Lei nº 6.938/1981, as pessoas físicas ou jurídicas exploradoras de atividades nocivas ao
meio ambiente devem responder de forma objetiva e solidária pelos custos e prejuízos
sociais diretos ou indiretos provenientes da degradação. Recursos de revista das
reclamadas S.M.S. e W.M.L. não conhecidos e agravos de instrumento das reclamadas
V.S. e B.B.B.L. conhecidos e desprovidos. [...]. TST-ARR-11559.02-2017.5.03.0140, 3ª Turma,
rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 7/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Perda de uma chance

O rompimento das tratativas pela empresa de forma repentina, no momento em que


restavam somente detalhes de ajustes salariais e após ter agradecido o fato de “ter sido
escolhido” é, no mínimo, antiético, senão má fé. O silêncio do autor por três dias não é
suficiente para a empresa ter recrutado outro executivo imediatamente, sem que haja
nos autos qualquer documento que comprove que o autor foi informado do

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encerramento das tratativas e da contratação de outro candidato. Ressalta-se que se


trata de um complexo processo de seleção, com entrevistas em São Paulo com o
presidente da empresa, e diversas trocas de e-mails e envio de carta proposta oficial. Se
a empresa contatou o autor, que estava empregado, para participar de processo de
seleção para outro cargo, sem lhe informar que esse processo envolveria outros
concorrentes, então faltou com o dever de informação básico decorrente da boa fé
objetiva exigida nos contratos e nas tratativas e criou expectativa frustrada
posteriormente, assumindo o risco de indenizar. Portanto, depreende-se que, da
ruptura imotivada das tratativas, decorre má fé contratual, especialmente pela violação
aos deveres de lealdade e informação e criação de expectativa frustrada pela quebra das
negociações em seu estágio final. Sendo assim, em razão da responsabilidade pré-
contratual e do dano moral e material pela perda de uma chance, causado por
rompimento das tratativas em fase avançada de negociação, é possível visualizar-se
violação ao artigo 422 do Código Civil e art. 5.º, V e X da Constituição Federal. TST-RR-
1901-05.2014.5.09.0012, 2ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves Miranda Arantes, julgado em
5/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Danos morais coletivos

O Tribunal Regional ressaltou que, “conquanto evidenciadas violações às normas que


disciplinam o intervalo intrajornada e o repouso semanal dos trabalhadores, tem-se que a
irregularidade foi pontual, mormente em se considerando um universo de 300 empregados,
não se vislumbrando antijuridicidade sistêmica”. Depreende-se do quadro fático delineado
no acórdão recorrido que a conduta ilícita da ré atingiu poucos trabalhadores, não
se mostrando grave o suficiente para caracterizar afronta aos valores
fundamentais da sociedade, que justificasse a condenação do agente ofensor à
reparação por dano moral coletivo. Assim, o recurso de revista não oferece
transcendência com relação aos reflexos de natureza social, política ou jurídica. TST-ARR-
26016-72.2015.5.24.0001, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em
12/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Cobrança do candidato por agenciamento de emprego

Cobrança do candidato por agenciamento de emprego é lícita. A decisão regional,


no sentido de que a cobrança por serviços atinentes à possível recolocação do
trabalhador no mercado é lícita, porque é opção deste, não contende com o
disposto no art. 6º da CF. Isso porque, não havendo regulamentação específica dessa
atividade, não se está diante de atividade vedada pelo ordenamento jurídico, nem de
caráter ilícito quanto ao objeto da contratação; a contratação do serviço depende da
procura espontânea do interessado e conta com a sua anuência, mediante pagamento,

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não estando evidenciada nenhuma espécie de coerção ou vício de consentimento; há


serviço gratuito de mesmo viés ofertado pelo Estado, por meio do Sistema Nacional de
Emprego (SINE), que pode ser acionado pelo candidato a uma vaga de emprego, sem
desembolso de nenhuma quantia. Nesse sentido, não há de se cogitar de afronta ao
direito social do trabalho, insculpido no art. 6º da CF, pois não se pode impor como regra
critério derivado da interpretação sistemática feita pelo MPT, mas apenas examinar, no
caso, se há vedação legal ou ilicitude na postura, com prejuízo à coletividade. Ora,
qualquer critério, para ser aplicado, deve ser objeto de lei, não cabendo ao julgador
estabelecer como fundamento para dar procedência ao pleito a interpretação
sistemática sustentada pelo MPT, no sentido de que o empregador pague pelo serviço,
fazendo menção, ainda, à Convenção 181 da OIT, nem sequer ratificada pelo Brasil.
Ademais, em um país onde é cediço haver mais procura por emprego do que oferta de
vagas, seria simplesmente chegar às raias do absurdo cogitar que o empregador viesse
a pagar pelo acesso do trabalhador a sites de empregos, envio de currículos,
agendamento de entrevistas e outras situações descritas pelo Parquet. A bem da
verdade, o direito social ao trabalho, previsto no art. 6º da CF, resta prestigiado no caso
concreto, pois a atividade desempenhada pela Empresa Ré promove a empregabilidade,
na sua expressão mais ampla, que é a do texto constitucional, buscando otimizar o
encontro mais rápido de uma vaga para o trabalhador. Noutro giro, não há dano algum
a direitos difusos ou coletivos pela conduta perpetrada pela Ré, nem há prejuízo
discernível quanto aos demais trabalhadores, o que sinaliza, no caso, que o escopo da
função fiscalizatória do cumprimento da lei não só não está sendo atingido, como
também está inviabilizando, ao cabo, a empregabilidade pela propositura de ação civil
pública de tal jaez. TST-AIRR-11839-19.2016.5.09.0088, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra
Martins Filho, julgado em 4/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Acusação por ato ilícito

[...] São fatos incontroversos que as causas de pedir a indenização por danos morais
foram duas - a dispensa por Whatsapp e a acusação também por meio do aplicativo
de que a reclamante teria falsificado assinatura em documento de rescisão. Na
sentença a indenização por danos morais foi deferida pelos dois fundamentos –
dispensa por Whatsapp e acusação indevida de ato ilícito. No recurso ordinário, o
reclamado não questionou a veracidade dos fatos, centrando suas alegações na
pretendida licitude da utilização do aplicativo na relação de trabalho. Por essa razão, no
acórdão recorrido o TRT não se deteve na análise da prova dos fatos, eis que essa
questão não era controvertida no segundo grau de jurisdição. 4 – A Corte regional
manteve a indenização por danos morais examinando apenas o enfoque da dispensa
por Whatsapp, sem se manifestar sobre a acusação de ato ilícito sofrida pela reclamante
também por meio do aplicativo. Nesse contexto, o segundo fundamento para a

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indenização por danos morais (acusação indevida de ato ilícito) transitou em julgado,
pois sobre ele não se manifestou o TRT nem o reclamado traz qualquer impugnação
para o TST (suas razões recursais se referem à dispensa por Whatsapp). Havendo dois
fundamentos autônomos, suficientes por si mesmos para manter a condenação, a não
desconstituição de um deles torna inútil seguir na discussão sobre o fundamento
impugnado. Assim, de plano, no caso dos autos não haveria utilidade em seguir no
debate sobre a dispensa por Whatsapp. 5 – Por outro lado, dada a relevância da matéria,
deve ser registrado que no caso concreto o que se extrai do acórdão recorrido, trecho
transcrito no recurso de revista, é que o TRT fundamentou o reconhecimento dos danos
morais no conteúdo da mensagem da dispensa, e não no meio utilizado para a dispensa
(Whatsapp). Disse a Corte regional: “Não se questiona na hipótese dos autos a privacidade
ou a segurança do meio de comunicação utilizado, o que, de todo modo, poderia potencializar
os danos causados. O que se avalia é o modo como o reclamado comunicou a cessação do
vínculo de emprego à trabalhadora, que, como se sabe, depende economicamente da
contraprestação pelo trabalho prestado. A mensagem, reproduzida às fls. 43, fala por si.
Vejamos: ‘Bom dia, Você está demitida. Devolva as chaves e o cartão da minha casa. Receberá
contato em breve para assinar documentos’.” Nesse particular, não se ignora que o
conteúdo da mensagem de dispensa foi telegráfico nem se ignora que as regras da
cortesia e da consideração devem ser observadas em quaisquer etapas da relação de
trabalho. No entanto, para que se pudesse concluir nesta Corte Superior se foi ofensivo
ou não o conteúdo da mensagem da dispensa precisaríamos saber do contexto da
mensagem, e não apenas do texto da mensagem. O contexto é que dá sentido ao texto.
Isso porque no âmbito das interações sociais os fatos não falam por si – os interlocutores
é que dão sentido aos fatos. Esse aspecto é mais acentuado ainda na linguagem escrita,
na qual a comunicação não é somente o que uma pessoa escreve, mas também o que a
outra pessoa lê. No caso dos autos, afinal, o que teria acontecido entre as partes para
que a dispensa tivesse desfecho com mensagem daquele conteúdo? Não consta no
acórdão recorrido o contexto em que as coisas ocorreram. Nem mesmo o reclamado,
nas suas razões recursais, traz contextualização sobre os diálogos com a reclamante,
pois sua tese é sobre a licitude da utilização de Whatsapp na relação de trabalho. 6 –
Acrescente-se que, embora o reclamado sustente que a reclamante não teria alegado
danos morais pelo conteúdo da mensagem da dispensa, mas pelo instrumento utilizado
para a dispensa – a reclamante teria se insurgido na realidade contra o conteúdo de
mensagem posterior que a acusou de ato ilícito ao assinar documento de rescisão -,
subsiste que não há tese no acórdão recorrido sobre o suposto julgamento fora dos
limites da lide e não há no recurso de revista, renovado no agravo de instrumento,
fundamentação jurídica (dispositivos de lei ou arestos) que trate especificamente dos
limites da lide. 7 – Enfim, por todos os ângulos que se examine a lide, conclui-se que não
há como afastar o direito à indenização por danos morais reconhecido no primeiro e no
segundo graus de jurisdição. 8 - Agravo de instrumento a que se nega provimento. TST-

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AIRR-10405-64.2017.5.15.0032, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em


26/5/2021 – Informativo TST n.º 238.

Limbo jurídico-previdenciário

Configura ato ilícito (art. 187 do Código Civil), a conduta da empresa que impede o
retorno do empregado à atividade laboral e, consequentemente, inviabiliza o
percebimento da contraprestação pecuniária, mesmo após a alta previdenciária. TST-E-
ED-RR-51800-33.2012.5.17.0007, SBDI-I, rel. Min. Breno Medeiros, 2/9/2021 – Informativo TST
n.º 243.

Recusa de pagamento do prêmio pela seguradora

O presente caso trata de situação em que, embora seja incontroverso que a Reclamada
cumpriu a sua obrigação na contratação do seguro previsto em norma coletiva, o TRT
manteve a condenação da Empregadora ao pagamento da indenização substitutiva
do prêmio de seguro, em razão da negativa de pagamento pela seguradora. A Corte
a quo entendeu que o Reclamante comprovou que fazia jus à cobertura do seguro de
vida instituído pela Reclamada, ante a sua incapacidade para o trabalho e em face da
negativa injusta, pela seguradora. O Colegiado de origem concluiu que a Empregadora
deve responder pelo pagamento da indenização substitutiva em razão de sua culpa in
eligendo, nos seguintes termos: “exsurge, assim, a culpa in eligendo da empregadora, por
ter contratado seguradora que negou injustamente a cobertura securitária ao obreiro,
devendo, por consequência, arcar com o pagamento correspondente”. Contudo, o contexto
fático delineado no acórdão recorrido permite que esta Corte proceda ao
enquadramento jurídico diverso da questão. Com efeito, a jurisprudência do TST vem se
firmando no sentido de reconhecer que, se a Empregadora cumpre o seu encargo
previsto na norma coletiva - de contratar seguro de vida -, fica isenta da
responsabilidade pelas obrigações da seguradora frente aos beneficiários do
seguro, salvo nos casos em que tenha dado causa à recusa da seguradora em pagar
o valor do prêmio. Dessa forma, considerando o atual entendimento desta Corte,
bem como o fato de que, no presente caso, não há indícios de que a recusa de
pagamento do prêmio pela seguradora tenha sido causada pela Empregadora, essa
não pode ser responsabilizada pelo pagamento de indenização substitutiva do
referido prêmio. Portanto, tendo em vista que a Reclamada cumpriu a sua obrigação,
nos termos previstos na norma coletiva - no que diz respeito à contratação do seguro de
vida -, não há falar em sua responsabilização em razão da negativa/inadimplemento da
seguradora. TST-RR-10784-88.2015.5.03.0038, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio Godinho Delgado,
julgado em 15/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

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Penalização de empregados pela apresentação de atestados médicos

Gera danos morais in re ipsa a conduta da empresa que penaliza empregados pela
apresentação de atestados médicos, com a supressão da folga aos sábados. De
acordo com a jurisprudência do TST, o dano moral, na hipótese em apreço, revela-se in
re ipsa, pois decorre da natureza da situação vivenciada, não havendo necessidade de
prova cabal para demonstrar o abalo sofrido pelo empregado. Assim, a conduta da
empresa, que utilizava os atestados médicos apresentados pelos empregados para
comprometer as suas avaliações e com isso puni-los com a supressão das folgas
aos sábados, vai além dos limites do diretivo, na medida em que impede seus
empregados de usufruírem seus direitos e expõe a saúde. [...]. Precedentes. TST-RR-
4648-48.2017.5.10.0802, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em
27/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

FGTS

Saques

Os saques motivados pelo contexto de calamidade pública decorrente da deflagração


da pandemia de COVID-19 estão limitados pelo art. 6º da MP nº 946/2020. TST-AIRR-578-
19.2020.5.06.0341, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 10/11/2021 – Informativo
TST n.º 247.

Extinção do contrato de trabalho

Despedida discriminatória

Configura dispensa discriminatória do empregado com doença estigmatizante (câncer


de mama), sendo devida a reintegração e ressarcimento integral do período de
afastamento. TST-Ag-ARR-16-19.2015.5.09.0594, 1ª Turma, rel. Min. Walmir Oliveira da Costa,
3/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Restou incontroverso nos autos que o reclamante foi acometido por doença considerada
grave (câncer), razão pela qual cumpria ao reclamado comprovar que a dispensa
decorreu de outro motivo, sem qualquer vinculação com a doença do empregado. Na
hipótese, o Tribunal Regional concluiu, em face das provas e fatos delineados nos autos,
que não houve discriminação e arbitrariedade na dispensa do Autor por parte da
reclamada. Entendimento em sentido contrário, no caso, demandaria o revolvimento de
fatos e provas, o que é vedado nesta instância extraordinária. Súmula nº 126 do TST.

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Agravo interno não provido. TST-Ag-AIRR-969-19.2016.5.10.0012, 5ª Turma, rel. Des. Conv.


João Pedro Silvestrin, julgado em 12/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

[...] Segundo posto no voto vencido, o desligamento massivo procedido pela


reclamada foi estabelecido de forma unilateral e com base, apenas, no critério de
idade (empregados aposentados ou prestes a se aposentar pelo Regime Geral da
Previdência). Não erige do v. acórdão recorrido outra conclusão se não a de que a ora
ré pretendeu desligar empregados com idade avançada de seu quadro funcional.
Notórios a ilegalidade e o abuso de direito no ato perpetrado. [...] Caracterizada a ofensa
ao princípio da dignidade da pessoa humana, não havendo como ser chancelado pelo
Poder Judiciário. [...] Recurso de revista conhecido por afronta aos arts. 1º, III, da
Constituição Federal e 373-A, II, da CLT e provido. TST-RRAg-21738-31.2016.5.04.0201, 3ª
Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 25/8/2021 – Informativo TST
n.º 242.

Despedida de professor

A dispensa imotivada do professor no início do semestre letivo impossibilita a sua


recolocação no mercado de trabalho, configurando o dano moral. A dispensa do
Reclamante no segundo dia do semestre letivo gerou expectativa justa e real de
continuar como professora da instituição de ensino reclamada lecionando a matéria e
evidencia o abuso do poder diretivo do empregador. TST-Ag-RR-12061-14.2016.5.03.0036,
3ª Turma, rel. Min. Alexandre Agra Belmonte, julgado em 3/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Força maior

Não se acolherá a arguição de força maior como justificativa para rescindir contratos de
trabalho se a empresa não foi extinta, ou seja, se não encerrou suas atividades. TST-
AIRR-10402-15.2020.5.03.0008, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte,
julgado em 10/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Direito Coletivo do Trabalho

Unicidade sindical

É irregular a criação de sindicato com base estadual, ainda que eclético, se já há


sindicato nacional, ainda que específico, mesmo que por expressa manifestação de
assentimento dos interessados da categoria envolvida. TST-RR-1257-
64.2012.5.10.0801, 2ª Turma, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 17/11/2021 –
Informativo TST n.º 247.

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Enquadramento sindical

A jurisprudência do TST possui entendimento consolidado no sentido de que os


correspondentes bancários não podem ser enquadrados como bancários, pois as
atividades desempenhadas não demandam conhecimento técnico e especializado, de
forma ampla e aprofundada, exigido dos trabalhadores bancários, haja vista que apenas
exerce atividades bancárias elementares. Também por isso, não há como reconhecer a
legitimidade ativa do sindicato dos bancários para representá-los. TST-ARR-185-
80.2013.5.20.0008, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 10/2/2021
– Informativo TST n.º 232.

Delimitado pelo eg. Tribunal Regional que o reclamante, ao desempenhar o serviço de


motorista rodoviário, trabalhava em diversas cidades do Brasil e do Mercosul, sem
qualquer preponderância de localidade, mostra-se prudente e adequado
considerar que o reclamante estava representado pelo Sindicato dos
Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Chapecó, tendo em vista o local da
sede da reclamada, não havendo critério melhor a ser aplicado. Se o reclamante
prestava serviços em todo o Brasil e países da América do Sul, sem preponderância de
local, mas se reportava a Chapecó, pois de lá emanavam as ordens; se lá as encomendas
eram contratadas e estabelecidos os preços de fretamento, considerar que cada uma
das cidades correspondentes aos trajetos percorridos pudesse servir para
enquadramento sindical, ou que uma ou outra, porque próxima à residência do
reclamante pudesse servir para o desiderato seria atentar contra a razoabilidade, que é
um dos princípios de Direito do Trabalho. TST-RR-279-34.2015.5.04.0871, 3ª Turma, rel.
Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 30/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

A súmula n.º 443 do TST (despedida discriminatória em casos de doenças que causem
estigma ou preconceito) também se aplica às empresas públicas, ainda que se trate de
cargo em comissão de livre nomeação e exoneração. Nestes casos, a despedida é nula e
é devida a reintegração. Aplicação da Convenção n.º 111 da OIT. TST-RRAg-324-
27.2017.5.10.0022, 6ª Turma, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, julgado em 23/6/2021 –
Informativo TST n.º 240.

Receitas Sindicais

A imposição de cobrança de contribuição assistencial a empregados não associados em


favor da entidade sindical afronta, diretamente, a liberdade de associação
constitucionalmente assegurada, independentemente de eventual autorização em
assembleia geral da categoria (PN nº 119 e a OJ nº 17, ambos da SDC). Reforçam o

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referido entendimento os julgados do STF: ARE 1.018.459/PR, que fixou tese de


repercussão geral (Tema 935), e ADI 5.794/DF. TST-RO-1004102-76.2017.5.02.0000, SDC,
red. p/ acórdão Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 12/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Normas coletivas

A autonomia de vontade dos seres coletivos, manifestada mediante os instrumentos


normativos autônomos, encontra limite nas normas heterônomas de ordem cogente,
que tratam de direitos de indisponibilidade absoluta e normas constitucionais de ordem
e de políticas públicas. No caso, os sindicatos, ao estabelecerem cláusulas que
excluíam a função de motorista da base de cálculo da cota de portadores de
deficiência ou reabilitados e as funções de auxiliar de viagem/trocador e motorista
da base de cálculo da cota de aprendizes, atingiram interesse difuso, que
transpassa o interesse privado passível de negociação pelas categorias
representadas, regulando direito dissociado das condições de trabalho dos
trabalhadores, e que, portanto, não deve constar em instrumento normativo
autônomo, por afronta ao disposto nos arts. 611 da CLT e art. 104 do CCB. Registre-se,
ainda, que a jurisprudência do TST orienta-se no sentido de que o art. 93 da Lei nº
8.213/91, ao estabelecer cota mínima para contratação de pessoas com deficiência
ou reabilitados pela Previdência Social, com base no percentual de incidência
sobre o número total de empregados da empresa, não estabeleceu nenhuma
ressalva ou exceção de cargos ou atividades para o cômputo do cálculo. Quanto à
impossibilidade do cumprimento da cota de trabalhadores com deficiência ou
reabilitados por ausência de mão de obra habilitada para o exercício da função de
motorista de passageiros, que exige habilitação profissional específica – CNH Categoria
D, a exigência pode ser cumprida em outros quadros das empresas, visto existir
uma série de funções na cadeia da atividade econômica desenvolvida pelas
empresas de transporte de passageiros capazes de absorver a mão de obra das
pessoas com deficiência, na forma da lei. [...] Deve ser mantida a decisão regional que
declarara a nulidade das cláusulas da CCT que excluíam a função de motorista da
base de cálculo da cota de portadores de deficiência ou reabilitados e as funções
de auxiliar de viagem/trocador e motorista da base de cálculo da cota de
aprendizes. TST-ROT-10139-07.2020.5.03.0000, SDC, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda,
16/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

Comissão de Fábrica

É ilícita a extinção unilateral pela empresa da comissão de fábrica prevista em


regulamento interno desde 1992, sem qualquer vinculação a um número mínimo de
empregados e com nítido intuito continuativo, ainda que reduzido o quadro de
funcionários para menos de 200 empregados. Embora exista um condicionamento
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legal para a instituição cogente de comissão de representação dos trabalhadores nas


empresas, dado pelo número mínimo de 200 empregados, é evidente que a Constituição
da República autoriza às normas legais ordinárias, às normas internacionais ratificadas,
à própria negociação coletiva trabalhista e até mesmo aos regulamentos internos
empresariais que criem regras jurídicas mais favoráveis do que a fixada nos arts. 11 da
Constituição da República e 510-A da CLT. No caso, o direito à existência da comissão
incorporou-se às relações jurídicas como condição mais favorável,
independentemente do critério quantitativo fixado na lei. E, por se tratar de
vantagem de natureza coletiva, prevista em regulamento empresarial, não
poderia ser extirpada unilateralmente do patrimônio jurídico dos trabalhadores,
sob pena de desrespeito aos princípios da inalterabilidade contratual lesiva, da
incorporação da norma mais favorável, bem como da lealdade e transparência nas
relações coletivas de trabalho. Vencidos os Ministros Ives Gandra da Silva Martins
Filho, Relator, Emmanoel Pereira e a Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, que
votaram no sentido de dar provimento ao recurso ordinário para declarar extinta a
comissão de representantes de trabalhadores, enquanto perdurar a situação
empresarial de possuir menos de 200 empregados. TST-ROT-1002264-93.2020.5.02.0000,
SDC, red. p/ acórdão Min. Mauricio Godinho Delgado, 20/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

Greve

A jurisprudência majoritária da SDC do TST entende que a greve motivada por mora
salarial, mesmo que não observe as exigências legais para sua deflagração, não
pode ser considerada abusiva, nem autoriza o desconto dos dias parados. Conforme
a jurisprudência majoritária da SDC, não se exige o cumprimento dos requisitos
previstos na Lei nº 7.783/1989 quando a greve é motivada pela conduta ilícita do
empregador de atrasar o pagamento dos salários, bem como a participação em
greve deflagrada nessa situação não autoriza a realização do desconto dos
salários, sendo devido seu pagamento. TST-RO-451-67.2018.5.11.0000, SDC, rel. Min. Ives
Gandra da Silva Martins Filho, 14/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

Não é possível ao empregador rescindir os contratos de trabalho no decurso de greve,


ainda que não se trate de trabalhador grevista, em face do que dispõe o art. 7.º,
parágrafo único da Lei 7.783/89. Esse é o entendimento já firmado por esta 2.ª Turma no
julgamento do AIRR-1131-40.2014.5.02.0001, DEJT 29/11/2019 [...] No mesmo sentido,
em caso semelhante, já decidiu a egrégia 3.ª Turma, nos autos do RR 1810-
20.2011.5.02.0462, DEJT 19/09/2014, firmando entendimento de que, o ato de dispensa
sem justa causa do empregado no decurso de greve, mesmo sem ter aderido ao
movimento paredista, configura conduta abusiva e antissindical. TST-ARR-10332-
34.2013.5.12.0059, 2ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves Miranda Arantes, julgado em 9/6/2021 –
Informativo TST n.º 239.
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Discute-se nos autos a legalidade (ou não) dos descontos dos dias de paralisação
noticiado nos autos, para a participação dos ora substituídos em manifestações
contrárias às reformas trabalhista e previdenciária. A Corte Regional consignou que a
greve aventada no v. acórdão recorrido ostentou caráter político, não tendo,
portanto, objetivado efetivar direitos trabalhistas, razão pela qual a reputou ilegal
e reconheceu a validade dos descontos salariais. Nessa linha, o v. acórdão recorrido
guarda fina sintonia com a jurisprudência firmada no âmbito desta Corte Superior que
entende que a paralisação constitui suspensão do contrato de trabalho, não sendo
devido o pagamento do dia de paralisação, não estando presente, no caso sub judice,
nenhuma das excepcionalidades prevista na lei. [...] No caso da greve, a lei é taxativa ao
determinar a suspensão do contrato durante o movimento paredista. E assim o faz para
evitar que a greve termine sendo financiada pelo empregador, o que aconteceria se
precisasse pagar os dias parados, fazendo com que, em última análise, arcasse
duplamente com o ônus das reinvindicações do empregado: primeiro, com o prejuízo na
produção imanente à falta do empregado ao trabalho e, segundo, com o próprio
pagamento do dia de paralisação. Daí porque a jurisprudência somente excepciona
do alcance da lei os casos em que há paralisação motivada em face do
descumprimento de instrumento normativo coletivo vigente, não pagamento dos
próprios salários e más condições de trabalho, que decorrem de inexecução do
contrato provocadas pelo próprio empregador. Logo, não se enquadrando o caso
sub judice em nenhuma dessas hipóteses excepcionais, os dias de paralisação,
independentemente da legalidade ou ilegalidade da greve, devem ser objeto de
negociação, a qual restou demonstrada, in casu. TST-Ag-AIRR-821-67.2017.5.09.0863, 3ª
Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 23/6/2021 – Informativo TST
n.º 240.

Direito Processual do Trabalho

Jurisdição e Competência

Servidor submetido a regime jurídico-administrativo de Estado estrangeiro

Em se tratando de hipótese que versa acerca de servidor público incontroversamente


sujeito ao regime jurídico-administrativo do Estado estrangeiro, aplica-se a imunidade
absoluta de jurisdição, que atrai a incompetência da Justiça do Trabalho para o presente
feito, sendo irrelevante, em tal contexto, a discussão relativa ao exercício de atos de
império ou de gestão. Esclareça-se, por fim, que o registro em CTPS não se sobrepõe ao
ato jurídico perfeito consubstanciado em face da vinculação do reclamante ao regime
jurídico-administrativo lusitano. TST-RR-11176-28.2015.5.01.0056, 4ª Turma, rel. Min.
Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 23/3/2021 – Informativo TST n.º 234.
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Fraude contra credores

A ação anulatória em curso envolve o pedido de anulação de ato judicial proferido em


execução trabalhista que decretou a ineficácia de negócio jurídico de cisão, por fraude à
execução, em hipótese típica de fraude contra credores, na medida em que a
transferência do bem imóvel ocorreu em data anterior ao próprio ajuizamento da
reclamação trabalhista. Fora isso, consta do acórdão recorrido que há coisa julgada
posterior, em processo tramitado perante a Justiça Comum, declarando a validade do
negócio jurídico de cisão operado pela empresa autora da anulatória. Assim, seja pela
incompetência material absoluta da Justiça do Trabalho para processar incidente
de fraude à execução em hipótese jurídica de fraude contra credores, seja pela
própria constatação de coisa julgada da Justiça Comum posterior ao ato eivado de
vício de nulidade insanável, o recurso de revista apresenta transcendência jurídica,
pela alegada violação dos arts. 114, I e IX, e 5º, XXXVI, da Constituição Federal, o que
impõe o seu conhecimento e provimento, para julgar procedente a ação anulatória.
TST-RR-814-51.2015.5.19.0060, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 28/4/2021 –
Informativo TST n.º 236.

Demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial

Hipótese em que a Corte Regional considerou competente a Justiça do Trabalho para


apreciar demanda que envolva a manutenção dos empregados substituídos
(dispensados imotivadamente ou aposentados) na apólice do seguro saúde, com
supedâneo na Lei 9.656/98, que dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde. II) No julgamento do Incidente de Assunção de Competência no REsp
nº 1.799.343/SP, julgado em 11 de março de 2020, o Eg. STJ firmou tese de que "Compete
à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão
empresarial, exceto quando o benefício for regulado em contrato de trabalho,
convenção ou acordo coletivo, hipótese em que a competência será da Justiça do
Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do
trabalhador" (STJ, Segunda Seção, IAC nº 5 proposto no Recurso Especial nº 1.799.343/SP,
Relatora para acórdão Ministra Nancy Andrighi, DJ-e de 18/03/2020). III) A tese firmada
pelo Superior Tribunal de Justiça, portanto, apenas possibilita a consideração de
competência da Justiça do Trabalho quando cumuladas duas condições, quais
sejam: a) a existência de autogestão empresarial (instituída e gerida pela própria
empregadora); e b) que seja regulado no contrato de trabalho, ou por convenção
ou acordo coletivo. IV) Cabe destacar que IAC 5 do STJ detém a possibilidade de a
eficácia vinculante do julgado se projetar para além da área de jurisdição do Superior
Tribunal de Justiça, por se tratar de precedente qualificado que irá orientar as instâncias
ordinárias, bem como deverá ser aplicada em todo o território nacional e a todos os
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processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito. [...]. V)
No caso em exame, o pedido formulado pelo Sindicato autor, objetivando a manutenção
na apólice do seguro saúde dos empregados substituídos (dispensados imotivadamente
ou aposentados), com fundamento na Lei nº 9.656/98, vai de encontro à tese firmada
no IAC 5 do STF, que concluiu que a pretensão de ex-empregado de manutenção no
plano de assistência à saúde, fornecido pela ex-empregadora, não se adequa ao
ramo do Direito do Trabalho, em virtude da autonomia jurídica da saúde
complementar após o surgimento da Lei nº 9.656/1998 (reguladora dos planos de
saúde), da Lei nº 9.961/2000 (criadora da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar)
e da Lei nº 10.243/2001 (que deu nova redação ao § 2º do art. 458 da CLT). Além do mais,
o caso em debate não cuida de plano de saúde de autogestão empresarial
(modalidade em que a operação do plano de saúde é realizada pelo departamento de
recursos humanos da própria empresa que contratou o trabalhador), pois trata-se de
seguro saúde operado por seguradora especializada em saúde, qual seja, BRADESCO
SAÚDE S.A. [...] Recurso de Revista provido para declarar a incompetência material da
Justiça do Trabalho para apreciar a causa, razão pela qual os autos devem ser
remetidos à distribuição dos feitos da Justiça Comum, com lastro do art. 64, § 3º, do CPC.
TST-RR-608-11.2017.5.05.0463, 4ª Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em
29/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

Execução contra massa falida ou empresa em recuperação judicial

A competência da Justiça do Trabalho para executar créditos contra a massa falida ou


contra empresa em recuperação judicial estende-se até a sua individualização e
quantificação, momento após o qual cabe ao credor habilitá-lo no Juízo Universal.
Tratando-se de execução de empresa em processo de recuperação judicial, eventual
decisão sobre liberação dos depósitos recursais em favor do exequente, ainda que tais
depósitos tenham sido realizados antes do deferimento do pedido de recuperação
judicial, insere-se na competência da Justiça Universal e não da Justiça do Trabalho.
Precedentes da SBDI-2. TST-RRAg-128600-14.2007.5.03.0025, 8ª Turma, rel. Min. Delaíde
Miranda Arantes, julgado em 4/8/2021 – Informativo TST n.º 241.

O TST, reiteradamente, vem entendendo que, havendo o deferimento da recuperação


judicial ou a decretação da falência da empresa executada, o crédito relativo à execução
fiscal deve ser habilitado no juízo falimentar. Não obstante a existência de precedentes
judiciais em tal sentido, a Lei nº 14.112 de 24/12/2020 trouxe significativas alterações à
Lei de Falências, a convocarem uma nova análise da matéria. Conforme dispõe o artigo
6º, § 11, da Lei de Falências, incluído pelo mencionado diploma, ainda que haja a
decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação
judicial, as execuções fiscais decorrentes de penalidades administrativas impostas

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aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho e as


execuções de ofício das contribuições à seguridade social decorrentes das
condenações trabalhistas devem ser processadas nesta Justiça Especializada, “(...)
vedados a expedição de certidão de crédito e o arquivamento das execuções para efeito de
habilitação na recuperação judicial ou na falência”. Nesse cenário, impõe-se a adequação
da jurisprudência à nova disciplina legal, de modo a declarar-se que, em tais casos,
a Justiça do Trabalho é competente para processar a execução, sem prejuízo da
competência do juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos
atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da
atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, conforme §§ 7º-
B e 11 do artigo 6º da Lei nº 11.101/2005, incluídos pela Lei nº 14.112/2020. Considerando
os precedentes judiciais existentes, o novo status normativo e as peculiaridades do
julgamento diante do stare decisis brasiliensis (artigos 926, 927 e 489, § 1º, incisos V e VI,
do CPC de 2015), incumbe proceder ao uso da técnica do distinguishing para deixar de
aplicar ao caso sub judice os fundamentos determinantes das decisões do passado.
Trata-se de hipótese de distinção em relação aos julgados anteriores, decorrente da
superveniência da comentada alteração legislativa, a qual deve ser observada por esta
Corte Superior, ainda que o debate sobre o tema tenha se iniciado anteriormente – no
caso, o acórdão regional foi publicado em 31/07/2020 e o recurso de revista interposto
em 03/08/2020 –, visto referir-se à alteração de competência absoluta, o que constitui
exceção ao princípio da perpetuatio jurisdictionis. [...] TST-RR-10366-92.2015.5.15.0014,
2ª Turma, rel. Des. Conv. Marcelo Lamego Pertence, julgado em 15/9/2021 – Informativo TST
n.º 244.

Diretor estatutário de S/A.

O Tribunal Regional registrou que o reclamante exercia cargo de diretor estatutário de


sociedade anônima, não se tratando, no caso, de contrato de emprego nos moldes do
artigo 3º da CLT. Dessa forma, para se acolher as alegações do agravante, no sentido de
que havia vínculo de emprego, seria necessário revolver fatos e provas dos autos, prática
vedada na forma da Súmula 126 do TST. Assim, tratando-se de relação jurídica de
natureza estatutária que remete ao Direito Empresarial, a Justiça do Trabalho é
incompetente para julgar a demanda. Precedentes. TST-Ag-ED-RR-10837-
87.2015.5.01.0050, 8ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves Miranda Arantes, julgado em 18/8/2021
– Informativo TST n.º 242.

Advogado dativo

Nos termos do artigo 114, I, da CR/88, é incompetente a Justiça do Trabalho para o


processamento e o julgamento de lides que envolvam relação jurídica-administrativa.
Nesse contexto, tratando-se de ação de cobrança de honorários advocatícios, proposta
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contra a União, em decorrência dos serviços prestados pelo autor na condição de


defensor dativo, é incompetente a Justiça do trabalho para processar e julgar referida
ação. Isso porque, nessa situação, o advogado dativo atua como um colaborador do
Estado, exercendo, transitoriamente, suas funções sem qualquer vínculo com o Poder
Público. Cuida-se do exercício de um encargo público que não decorre de relação de
trabalho, mas sim de relação jurídico-administrativa. TST-E-RR-209000-38.2009.5.04.0018,
SBDI-I, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 23/9/2021– Informativo TST n.º 244.

Habeas corpus

A SBDI-II concluiu que o cabimento do habeas corpus não se restringe aos atos
praticados por autoridade ou agentes públicos, podendo também ser impetrado
contra ato de particular. Na hipótese, o habeas corpus fora impetrado sob a alegação
de constrangimento ao direito de locomoção em decorrência de atos supostamente
praticados por sindicato durante o exercício do direito de greve. Consignou-se que o
inciso LXVIII do artigo 5º da CR/88, que trata do habeas corpus, diferentemente dos
incisos LXIX e LXXII, que dispõem, respectivamente, sobre o mandado de segurança e o
habeas data, é silente quanto ao sujeito do ato coator e que a importância do direito à
liberdade de ir e vir justifica não apenas a utilização da ação constitucional contra ato de
particular, como também a sua legitimação ativa plena e a dispensa da capacidade
postulatória. Salientou-se, ainda, que eventual constrangimento ao direito de
locomoção, decorrente de ato praticado pelo sindicato, é passível de elisão por meio do
habeas corpus, em razão do poder que lhe é legalmente outorgado para deflagrar a
paralisação coletiva. Em seguida, a SBDI-II, com fundamento no artigo 114, incisos II e IV,
da CR/88, afastou a alegação de incompetência desta Justiça Especializada
suscitada pelo sindicato, deixando consignado que é da Justiça do Trabalho a
competência para processar e julgar os habeas corpus contra atos vinculados ao
exercício do direito de greve. Por fim, definiu-se que a competência funcional para
apreciar e julgar habeas corpus impetrado contra ato praticado por particular é da
Vara do Trabalho, e não do TRT. [...] TST-RO-1023-93.2015.5.05.0000, SBDI-II, rel. Min. Luiz
José Dezena da Silva, 28/9/2021 – Informativo TST n.º 245.

Justiça gratuita

Tendo em vista o silêncio da legislação específica que trata de Mandado de Segurança,


a concessão da gratuidade da justiça nesta ação rege-se pela legislação processual
comum (CPC, art. 1.046, § 2º), não se aplicando a legislação processual do trabalho.
O deferimento do benefício à pessoa natural, em MS, exige apenas que o interessado
declare, sob as penas da lei, a impossibilidade de pagar as custas do processo, sem
prejuízo do sustento próprio ou de sua família (art. 99, § 3º, do CPC de 2015). TST-RO-

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1000015-09.2019.5.02.0000, Órgão Especial, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 8/2/2021 –


Informativo TST n.º 232.

Mantém-se no Processo do Trabalho, mesmo após a Lei nº 13.467/2017, o entendimento


de que a declaração do interessado, de que não dispõe de recursos suficientes para o
pagamento das custas do processo, goza de presunção relativa de veracidade e se revela
suficiente para comprovação de tal condição (99, § 2º, do CPC de 2015 c/c art. 790, § 4º,
da CLT). Devem ser concedidos os benefícios da justiça gratuita ao reclamante e afastada
a deserção declarada pelo TRT. TST-RR-168-32.2018.5.09.0022, 6ª Turma, rel. Min. Kátia
Magalhães Arruda, julgado em 3/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Honorários

Em se tratando de reclamação trabalhista ajuizada após a vigência da Lei nº 13.467/2017,


deve ser aplicado o disposto no art. 791-A, e parágrafos, da CLT, sujeitando-se a parte
reclamante à condenação em honorários de sucumbência recíproca, quando o pedido
de danos morais é parcialmente acolhido, mesmo sendo beneficiária da gratuidade de
justiça. TST-RR-12170-70.2019.5.18.0241, 4ª Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado
em 16/3/2021 – Informativo TST n.º 234.

Nota do organizador: O Tribunal Pleno do E. STF, no julgamento da ADI 5766, na sessão


realizada em 20/10/2021, declarou a inconstitucionalidade do artigo 791-A, § 4º, da CLT,
possuindo a decisão efeito vinculante. Deste modo, sendo a parte beneficiária da justiça
gratuita, não há mais que se falar em condenação em honorários sucumbenciais.

[...] os honorários advocatícios sucumbenciais devidos pela Parte Autora incidem sobre
o crédito trabalhista constituído na ação que seja suficiente ao pagamento dos
honorários, nos termos expressos do art. 791-A, § 4º, da CLT, que goza de presunção de
constitucionalidade e não excepcionou tal crédito à alteração da condição financeira do
beneficiário da justiça gratuita, de modo que a decisão regional atenta contra a norma
legal, tornando-a inócua, merecendo, assim, reforma. TST-RR-11123-24.2019.5.03.0065, 4ª
Turma, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, julgado em 17/8/2021 – Informativo TST
n.º 242.

Nota do organizador: vide nota anterior.

Cinge-se a controvérsia em saber se é devido o pagamento de honorários advocatícios


de sucumbência em ação de produção antecipada de provas. A rigor, na ação autônoma
de produção antecipada de provas não existe litiscontestatio, tampouco sucumbência em
sentido estrito, razão pela qual é incabível o pagamento dos honorários advocatícios

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previstos no art. 791-A, caput, da CLT em tais hipóteses. Precedentes da 4ª Turma do TST.
TST-RR-923-63.2019.5.12.0046, 5ª Turma, rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 7/4/2021 –
Informativo TST n.º 235.

A base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais na ação rescisória deve


observar os parâmetros definidos no art. 85, § 2º, do CPC de 2015, devendo observar o
valor da condenação. A verba advocatícia deferida na ação rescisória não pode ter
como base o valor da causa, cujo emprego é autorizado somente quando não é
possível a utilização do valor da condenação ou do proveito econômico obtido com a
ação. TST-RO-202-55.2016.5.05.0000, SBDI-II, rel. Min. Luiz José Dezena da Silva, 11/5/2021 –
Informativo TST n.º 237.

[...] A ação anulatória de auto de infração caracteriza-se como lide não derivada da
relação de emprego, razão por que se aplicam a ela, quanto aos honorários de
advogado, as disposições dos artigos 85 e seguintes do CPC de 2015. Observa-se que
a violação a que alude o art. 896, “c”, da CLT consuma-se também quando se deixa de
aplicar a lei reguladora do caso concreto. IV. O provimento do recurso de revista da parte
autora (OGMO) tem por corolário lógico o arbitramento de honorários advocatícios
sucumbenciais e de honorários de sucumbência recursal, nos termos dos arts. 85, caput,
§ 2º e § 11 e 86 do CPC de 2015, observando-se os parâmetros e percentuais específicos
de honorários devidos pela fazenda pública (parte ré), previstos no art. 85, §§ 3º a 6º, do
CPC de 2015. Oportuno diferenciar sucumbência recíproca de sucumbência parcial,
de forma a apreciar os encargos devidos sob o prisma do princípio da causalidade.
A sucumbência recíproca, consagrada no art. 86 do CPC de 2015, ocorre quando - pela
pluralidade de demandas, ações conexas reunidas, ação e reconvenção e cumulação de
pedidos - autor e réu, em uma mesma relação processual, tenham pretensões
individualmente consideradas vencidas em sua integralidade. A sucumbência parcial,
por sua vez, dá-se quando uma pretensão não é reconhecida em sua integralidade,
concedendo o juízo medida mais reduzida em relação ao pedido. Na sucumbência
parcial, o vencido, que deu causa ao processo (princípio da causalidade), não é
parcialmente sucumbente, mas vencido no todo, pois o acolhimento da pretensão do
vencedor, ainda que em medida menor, não altera o fato de que o vencido deu causa ao
processo, devendo arcar com as despesas. Nesse sentido, Piero Pajardi, em sublime lição,
esclarece que, “na sucumbência parcial ocorre a situação de uma vitória do autor, porém
em medida mais reduzida em relação ao petitum inicial. Neste caso, não há um julgamento
consequente de uma investida da parte do réu; há, isto sim, o acolhimento da demanda do
autor. Todavia, um acolhimento não completo, em razão da defesa do réu, que, por sua vez,
não obteve o resultado que pretendia obter [...] o vencido não é parcialmente sucumbente,
mas vencido no todo, porque ainda assim vem a ser condenado a qualquer coisa que não
desejava prestar, e vê rejeitado o resultado final previsto na sua defesa. Portanto, se o vencido

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se opõe sic et simpliciter à demanda do autor, ou se opõe parcialmente, mas em termos mais
reduzidos, com vistas à decisão do juiz, é óbvio que a redução do pedido do autor não
comporta influência sobre o princípio fundamental da responsabilidade pelas despesas, que
se carreiam ao vencido, como a única parte que deu causa ao processo”. (La responsabilità
per le spese e i danni del processo. Milão: Giuffrè, 1959). V. No caso vertente, o Tribunal
Regional manteve a improcedência do pedido de anulação do auto de infração -
sagrando-se vencedora a União, no aspecto – e acolheu o pedido cumulado subsidiário
de redução do valor da multa, em extensão menor que a pleiteada – ressaindo, daí, a
vitória da parte autora (OGMO) nessa pretensão, reiterando-se que “a redução do pedido
do autor não comporta influência sobre o princípio fundamental da responsabilidade pelas
despesas, que se carreiam ao vencido, como a única parte que deu causa ao processo”
(Pajardi, Piero. La responsabilità per le spese e i danni del processo. Milão: Giuffrè, 1959).
VI. Recurso de revista de que se conhece, no particular, por contrariedade à Súmula nº
219, IV, do TST e afronta ao art. 85, § 2º, do CPC de 2015, e a que se dá provimento, para
fixar honorários advocatícios sucumbenciais em sucumbência recíproca e
honorários de sucumbência recursal. TST-RR-1000300-33.2016.5.02.0444, 7ª Turma, rel.
Min. Evandro Pereira Valadão Lopes, julgado em 26/5/2021 – Informativo TST n.º 238.

O Tribunal Pleno, em sede de incidente de recurso repetitivo, analisando a questão


relativa ao direito aos honorários assistenciais em reclamações trabalhistas típicas,
envolvendo trabalhadores e empregadores, consideradas as disciplinas das Leis nos
1.060/50 e 5.584/70, do art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, e o teor das Súmulas nos
219 e 329 do TST, decidiu, por unanimidade, aprovar as seguintes teses jurídicas para
o Tema Repetitivo nº 3: “1) Nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários
advocatícios, com relação às ações ajuizadas no período anterior ao início de vigência da Lei
nº 13.467/2017, somente são cabíveis na hipótese prevista no artigo 14 da Lei nº 5.584/70 e
na Súmula nº 219, item I, do TST, tendo por destinatário o sindicato assistente, conforme
disposto no artigo 16 do referido diploma legal, até então vigente (revogado expressamente
pela Lei nº 13.725/2018) e no caso de assistência judiciária prestada pela Defensoria Pública
da União ao beneficiário da Justiça gratuita, consoante os artigos 17 da Lei nº 5.584/70 e 14
da Lei Complementar nº 80/94, revelando-se incabível a condenação da parte vencida ao
pagamento dessa verba honorária seja pela mera sucumbência, seja a título de indenização
por perdas e danos, seja pela simples circunstância de a parte ser beneficiária da justiça
gratuita; 2) A ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional
nº 45/2004 acarretou o pagamento de honorários advocatícios com base unicamente no
critério da sucumbência apenas com relação às lides não decorrentes da relação de emprego,
conforme sedimentado nos itens III e IV da Súmula nº 219 do TST, por meio, respectivamente,
das Resoluções nos 174, de 24 de maio de 2011, e 204, de 15 de março de 2016, e no item 5
da Instrução Normativa nº 27, de 16 de fevereiro de 2005; 3) Às demandas não decorrentes
da relação de emprego, mas que já tramitavam na Justiça do Trabalho por força de norma

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legal expressa, relativas aos trabalhadores avulsos e portuários, ex vi dos artigos 643, caput,
e 652, alínea "a", inciso V, da CLT, são inaplicáveis o item 5 da Instrução Normativa nº 27/2005
do Tribunal Superior do Trabalho e o item III da Súmula nº 219 desta Corte, porquanto a
Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso XXXIV, equipara o avulso ao trabalhador com
vínculo empregatício, sendo-lhe aplicável, portanto, o entendimento previsto no item I da
Súmula nº 219 desta Corte; 4) Às lides decorrentes da relação de emprego, objeto de ações
propostas antes do início da vigência da Lei nº 13.467/2017, não se aplica a Súmula nº 234
do STF, segundo a qual ‘são devidos honorários de advogado em ação de acidente de trabalho
julgada procedente’; 5) Não houve derrogação tácita do artigo 14 da Lei nº 5.584/1970 em
virtude do advento da Lei nº 10.288/2001, que adicionou o § 10 ao artigo 789 da CLT,
reportando-se à assistência judiciária gratuita prestada pelos sindicatos, e a superveniente
revogação expressa desse dispositivo da CLT pela Lei nº 10.537/2002 sem que esta
disciplinasse novamente a matéria, pelo que a assistência judiciária prestada pela entidade
sindical no âmbito da Justiça do Trabalho ainda permanece regulamentada pela referida lei
especial; 6) São inaplicáveis os artigos 389, 395 e 404 do Código Civil ao Processo do Trabalho
para fins de condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nas lides decorrentes da
relação de emprego, objeto de ações ajuizadas antes do início da vigência da Lei nº
13.467/2017, visto que, no âmbito da Justiça do Trabalho, essa condenação não se resolve
pela ótica da responsabilidade civil, mas sim da sua legislação específica, notadamente a Lei
nº 5.584/70; 7) A condenação em honorários advocatícios sucumbenciais prevista no artigo
791-A, caput e parágrafos, da CLT será aplicável apenas às ações propostas na Justiça do
Trabalho a partir de 11 de novembro de 2017, data do início da vigência da Lei nº
13.467/2017, promulgada em 13 de julho de 2017, conforme já decidiu este Pleno, de forma
unânime, por ocasião da aprovação do artigo 6º da Instrução Normativa nº 41/2018; 8) A
deliberação neste incidente a respeito da Lei nº 13.467/2017 limita-se estritamente aos efeitos
de direito intertemporal decorrentes das alterações introduzidas pela citada lei, que
generalizou a aplicação do princípio da sucumbência em tema de honorários advocatícios no
âmbito da Justiça do Trabalho, não havendo emissão de tese jurídica sobre o conteúdo em si
e as demais peculiaridades da nova disposição legislativa, tampouco acerca da
inconstitucionalidade do artigo 791-A, caput e § 4º, da CLT”. Entendeu, ainda, não caber a
modulação dos efeitos da decisão. Os Exmos. Ministros Augusto César Leite de
Carvalho e Cláudio Mascarenhas Brandão ressalvaram seu entendimento pessoal
quanto à tese de número 6. TST-IRR-341-06.2013.5.04.0011, Tribunal Pleno, rel. Min. José
Roberto Freire Pimenta, 23/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

[...] A cobrança de honorários advocatícios contratuais que conta com a aprovação da


Assembleia Geral e efetiva participação do sindicato representante da categoria
profissional deve, em regra, ser tida como válida (art. 7º, XXVI, da CR/88), que impõe o
reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho. A Constituição da
República assegurou a liberdade sindical, vedando ao Poder Público a interferência e a

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intervenção na organização sindical. O STF, em recentes decisões, tem reafirmado a


prevalência dos instrumentos originados de negociação coletiva, com base na
autonomia sindical proclamada pela própria Lei Maior. 4. Portanto, conforme decidiu a
Corte de origem, afigura-se possível a percepção pelo Sindicato dos honorários
assistenciais concomitantemente com a cobrança de honorários contratuais dos
substituídos. TST-RR-1010-18.2017.5.08.0008, 2ª Turma, rel. Min. Delaíde Alves Miranda
Arantes, julgado em 1/9/2021 – Informativo TST n.º 243.

Litigância de má-fé

Utilização de via processual inadequada

A utilização de via processual inadequada (ACP) para viabilizar cobrança de contribuição


sindical, por si só, não configura má-fé, mas mero exercício do direito de ação. A adoção
indevida da ACP não configura pretensão contra texto expresso de lei. Além disso,
quando ajuizada ação sub judice (06/04/2018), o STF ainda não havia decidido ações em
controle concentrado de constitucional, acerca das alterações promovidas pela Lei nº
13.467/2017 (exigência de autorização prévia do empregado para desconto de
contribuição sindical), o que somente ocorreu em 29/06/2018. Nesse contexto, o
Sindicato, ao pleitear contribuições sindicais, não formulou pretensão “contra texto
expresso de lei”, não podendo ser considerado litigante de má-fé. TST-RR-1000374-
10.2018.5.02.0059, 2ª Turma, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, julgado em 10/3/2021 –
Informativo TST n.º 233.

Litisconsórcio

Em ACP ajuizada pelo MPT em face de empresas responsáveis por ministrar o curso de
capacitação de “Supervisores de Espaço Confinado”, em decorrência de fraude na
emissão dos certificados de conclusão de curso em data anterior à finalização do curso,
não há necessidade de inclusão no pólo passivo dos empregadores, fiscalizados pelo
MTE e que já apresentaram os certificados fraudulentos. Não há disposição de lei
determinando a formação de litisconsórcio necessário entre os empregadores e os
responsáveis pelo curso de capacitação, sendo, ainda, certo, que a eficácia da sentença
não depende da citação dos referidos atores. Mesmo que figurasse no pólo passivo, as
empresas não poderiam ser condenadas a cumprir as obrigações que cabem
exclusivamente às Reclamadas: absterem-se de fornecer certificados de conclusão de
cursos antes do preenchimento de todos os requisitos exigidos pela norma específica,
bem como regularizar, mediante a emissão, sem custos, de novo certificado que atenda
todos os requisitos legais. TST-RR-380-98.2014.5.04.0841, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio
Godinho Delgado, julgado em 24/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

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Nulidades processuais

Ausência de juntada das razões de voto vencido no acórdão recorrido

A ausência de juntada das razões de voto vencido no acórdão recorrido, como determina
no art. 941, §3º, do CPC, gera nulidade. TST-RRAg-1428-75.2015.5.09.0661, 2ª Turma, rel.
Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 10/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Remessa à sessão telepresencial

Em suas razões de embargos de declaração, a parte sustenta que o acórdão ora


embargado foi prolatado em sessão de julgamento virtual desta 6ª Turma, em que pese
tenha requerido por e-mail, com antecedência, o julgamento em sessão telepresencial.
Pondera que somente quando já não havia tempo hábil para formalizar seu pedido, é
que a Secretaria lhe respondeu indicando o meio correto (Portal do Advogado). Suscita
a nulidade do julgamento de seu agravo, afirmando que, se o processo tivesse sido
julgado na sessão telepresencial, poderia “suscitar questões de ordem e prestar
esclarecimentos fáticos relevantes, que certamente poderiam influir no resultado do julgado”.
Alega afronta ao art. 5.º, LIV e LV, da Constituição Federal. 2 - Ocorre que, nos termos do
art. 794 da CLT, “Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá
nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes”. E, no
caso, não se constata prejuízo sob o enfoque das alegações do embargante, pois
não caberia a manifestação do advogado em sessão de julgamento, por se tratar
de agravo em agravo de instrumento, ante o que dispõe o art. 161, § 5º, III e IV, do
RITST. 3 - Não é demais ressaltar que a responsabilidade pela utilização oportuna da
via correta para a formalização do requerimento de remessa à sessão
telepresencial é exclusiva da parte, não cabendo impingir tal responsabilidade o
órgão do TST que não possui essa atribuição. Cumpre notar que, além da
possibilidade de utilização do portal do advogado, o meio formal de requerimento,
quando cabível, é o peticionamento nos autos, o que não ocorreu no caso concreto.
A remessa de processo de sessão virtual para telepresencial, quando não utilizado
o portal do advogado, é decisão do relator do processo (de ofício ou a pedido), e
não da Secretaria da Turma, a qual somente auxilia o advogado em caráter
meramente informativo. 4 - Nesse contexto, não há qualquer violação ao art. 5.º, LIV e
LV, da Constituição Federal. TST-ED-Ag-AIRR-1405-22.2017.5.06.0313, 6ª Turma, rel. Min.
Kátia Magalhães Arruda, julgado em 5/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Exigência de apresentação de originais enviados por e-DOC

[...] A IN nº 30/2007 do TST regulamenta, no âmbito da Justiça do Trabalho, a Lei n°


11.419/2006, quanto à informatização do processo judicial, e estabelece, em seu art. 7º,
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que ‘o envio da petição por intermédio do e-DOC dispensa a apresentação posterior dos
originais ou de fotocópias autenticadas, inclusive aqueles destinados à comprovação de
pressupostos de admissibilidade do recurso’. No caso dos autos, restou configurada a
nulidade por cerceamento do direito de defesa, em prejuízo da executada, que não teve
sua contestação apreciada em momento oportuno, porque aplicado o Ato 52/2016 do
TRT da 1ª Região, que exigia a apresentação física da petição protocolada pelo sistema
e-DOC. Assim, as garantias do devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa
não foram respeitadas, violando o art. 5º, LIV e LV, da CR/88. Precedentes. TST-RR-6200-
20.1992.5.01.0044, 3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, julgado em
2/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

Prescrição intercorrente

Pronunciamento de ofício

A IN nº 41/2018 do TST, que dispõe sobre a aplicação das normas processuais


introduzidas pela Lei nº 13.467/2017 à CLT, estabeleceu que “o fluxo da prescrição
intercorrente conta-se a partir do descumprimento da determinação judicial a que alude o §
1º do art. 11-A da CLT, desde que feita após 11 de novembro de 2017” (art. 2º). No caso,
conquanto o título judicial tenha sido constituído em período anterior à Lei n.º
13.467/2017, o juízo a quo intimou o exequente em 16/04/2018, já na vigência da referida
Lei, para que apresentasse meios para o prosseguimento da execução, tendo a parte
permanecida inerte e o processo arquivado por mais de dois anos. Ainda, o feito foi
desarquivado em 11/05/2020 e o exequente novamente intimado, na forma prevista no
artigo 40 da Lei 6.830/80, para indicar eventuais causas suspensivas ou interruptivas da
prescrição. Contudo, assim não o fez. Nesse contexto, diante da inércia do exequente na
apresentação de meios para o prosseguimento da execução, incide, na hipótese, o art.
11-A, caput, e §§ 1ºe 2º, da CLT que permite a aplicação da prescrição intercorrente no
Processo do Trabalho, ainda que de ofício. TST-RR-10433-03.2015.5.18.0005, 5ª Turma,
rel. Min. Breno Medeiros, julgado em 7/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Processos iniciados antes da Reforma Trabalhista

À luz do que preconiza a Súmula nº 114, é inaplicável na Justiça do Trabalho a prescrição


intercorrente. No que se refere à alteração trazida pela Lei nº 13.467/17, com a inserção
do artigo 11-A da CLT, o artigo 2º da IN nº 41 do TST disciplina que a prescrição
intercorrente conta-se a partir do descumprimento da determinação judicial, desde que
feita após 11 de novembro de 2017. Extrai-se, assim, que a prescrição intercorrente
é inaplicável aos processos cuja execução teve início anteriormente à Lei nº
13.467/17, o que impossibilita a penalização do exequente por inércia. Precedentes.
Na hipótese dos autos, verifica-se que o crédito do exequente foi constituído antes da
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vigência da Lei nº 13.467/17, ou seja, a execução poderia ser impulsionada, de ofício,


pelo juiz. A Corte Regional, ao manter a declaração da prescrição intercorrente, violou o
artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, pois os efeitos materiais do título judicial
transitado em julgado foram indevidamente afastados. TST-RR-649-18.2010.5.18.0121, 4ª
Turma, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 17/8/2021 – Informativo TST
n.º 242.

Petição inicial

O artigo 840, § 1º, da CLT em momento algum também determina que a parte está
obrigada a trazer memória de cálculo ou indicar de forma detalhada os cálculos de
liquidação que a levaram a atingir o valor indicado em seu pedido. TST-RR-1001473-
09.2018.5.02.0061, 2ª Turma, Relator Min. José Roberto Freire Pimenta, Julgado em 24/2/2021
– Informativo TST n.º 232.

Hipótese em que a ação foi proposta na vigência da Lei nº 13.467/2017, e se discute o


dever da parte Reclamante de indicar valores específicos aos pedidos na petição
inicial (art. 840, §1º, da CLT). [...] O Tribunal Regional manteve a sentença de origem em
que se entendeu que a condenação deve ser limitada aos valores dos pedidos indicados
na petição inicial, em razão da imposição prevista no art. 840, §1º, da CLT. Ressaltou-se
que “a inobservância dos limites impostos pelos valores apontados na petição inicial implica
em decisão ultra petita, flagrantemente violadora do art. 492 do CPC”. [...] O TST consolidou
sua jurisprudência no sentido de que, na hipótese em que há pedido líquido e certo
na petição inicial, o julgador fica adstrito aos valores atribuídos a cada um desses
pedidos, de maneira que a condenação em quantia superior àquela fixada pelo
Reclamante na reclamação trabalhista caracteriza violação dos artigos 141 e 492
do CPC/2015. VI. Portanto, fixo a tese de que, nas reclamações trabalhistas propostas
após a entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, deve-se seguir o determinado no §1º
do art. 840 da CLT, e a expressão “com indicação de seu valor” limita a condenação
do pedido ao valor atribuído na petição inicial. [...] TST-ARR-991-36.2018.5.09.0594, 4ª
Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em 28/9/2021 – Informativo TST n.º 245.

Nota do organizador: existem 3 linhas de pensamentos sobre o tema. A 4ª turma do


TST, em mais de uma ocasião, já decidiu que a condenação está limitada aos valores
indicados na inicial, ainda que o autor mencione “por mera estimativa”. Já a 6ª Turma,
entende que a condenação não está limitada aos valores da inicial quando o autor
informa que é “por mera estimativa”. Por fim, a 7ª Turma adota posição intermediária,
pela qual a condenação deve se limitar ao valor indicado na inicial, salvo se for indicado
por mera estimativa, o que só será permitido desde que o autor apresente justificativa
para a “mera estimativa” no bojo da peça de ingresso (RR-1001601-92.2018.5.02.0719, 7ª
Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 19/11/2021).
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A SBDI-2 vem mitigando a aplicação da OJ nº 92 da SBDI-2 do TST nos casos em que há


criação de embaraços não previstos em lei capazes de inviabilizar o livre exercício
do direito constitucional de ação. Na hipótese, a despeito de o impetrante ter
formulado, na petição inicial da reclamação trabalhista, pedidos certos e determinados,
indicando, inclusive, valores que se entendiam devidos, o magistrado determinou a
emenda da inicial, exigindo uma liquidação pormenorizada das verbas referentes
a cada pedido. Tal exigência é medida que, além de extrapolar o comando previsto no
art. 840, § 1º, da CLT, impõe restrição indevida de acesso ao Judiciário, visto que, por
vezes, seria necessária a contratação de profissional contabilista pelo reclamante – em
muitos casos, beneficiário da justiça gratuita – para apresentação de cálculos de maior
complexidade. Ademais, não há previsão legal que exija prova contábil pré-
constituída para o ajuizamento de reclamação trabalhista. Provimento do RO em
MS, para conceder a segurança e, assim, cassar a decisão proferida na reclamação
trabalhista por meio da qual se exigiu a liquidação de "cada uma das verbas apontadas
nos pedidos, de forma pormenorizada, incluindo os reflexos de cada rubrica". TST-ROT-
101623-94.2019.5.01.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria Helena Mallmann, 26/10/2021 –
Informativo TST n.º 246.

Tutela Provisória

Trata-se de pedido de tutela provisória de urgência incidental, em que se requer a


atribuição de efeito suspensivo ao recurso ordinário interposto em reclamação
trabalhista e, por consequência, a cassação da ordem de reintegração imediata do
trabalhador ao emprego determinada na sentença proferida naqueles autos. [...] No
caso concreto, não se verifica o perigo na demora da prestação jurisdicional, uma
vez que o recorrido já foi reintegrado ao emprego e os seus salários são pagos em
contraprestação pelos serviços prestados à recorrente, de modo que não se
sustenta a alegação de que a reintegração do trabalhador onera a empresa,
submetendo-a a “danos de difícil reparação”. Julgados da SBDI-2 do TST. Ainda, ante a
pendência de IRR no TST sobre o tema4, a prudência recomenda que seja aplicado o
princípio do in dubio pro operario, a fim de manter a reintegração do reclamante ao
emprego, ressaltando-se que desse contexto não resulta dano irreparável para a
empresa, pois o pagamento de salários e consectários ao trabalhador remunera a
prestação de serviços em benefício do demandado. Essa conclusão observa também os
princípios da equidade, da razoabilidade e da proporcionalidade que balizam a solução

4 Nos autos do IRR-872-26.2012.5.04.0012, em que será decidida a "Validade da dispensa do empregado em face de
conteúdo de norma interna da empresa WMS, que previu no programa denominado 'Política de Orientação para Melhoria'
procedimentos específicos que deveriam ser seguidos antes da dispensa de seus trabalhadores", foi determinada apenas
a suspensão dos agravos de instrumento, recursos de revistas e de embargos em tramitação nesta Corte que versem
sobre a matéria, o que não inclui os recursos ordinários em tutela provisória, caso dos autos.
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de casos sensíveis como este dos autos. [...] TST-RO-22308-67.2018.5.04.0000, 6ª Turma,


Rel. Min. Katia Magalhaes Arruda, julgado em 14/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Determinada empresa buscou, por meio da tutela provisória de urgência, conferir efeito
suspensivo ao agravo de instrumento em recurso de revista interposto em Ação Civil
Pública, para o fim de suspender a eficácia da tutela antecipada deferida pelo TRT da 17ª
Região, que determinou o cumprimento de obrigação de fazer pela requerente,
consistente na “(...) contratação de aprendizes no percentual de 5% a 15% do total de
empregados contido em cada estabelecimento, incluindo na base de cálculo todas as funções
que demandem formação profissional, observada a CBO, inclusive os profissionais agentes
de segurança e vigilância, [...] sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais),
por aprendiz não contratado [...]”. Reconhece-se o fumus boni iuris, em face da perduração
crítica dos efeitos da pandemia, que, além de fortemente agravada nos dias atuais, nem
de longe conta com uma data provável para o seu término. Por essa razão, no cenário
atual, afigura-se desarrazoado impor à Empresa-ré o cumprimento imediato de
uma obrigação de fazer, consistente na contratação de aprendizes, ainda mais
quando a condenação imputa à ré a cominação de multa por cada aprendiz não
contratado. Ora, além da dificuldade que salta à vista em exigir da Empresa que proceda
a tais contratações diante de um quadro de pandemia, não se pode olvidar que, hoje, os
jovens e menores aprendizes encontram-se numa situação de alta vulnerabilidade,
sujeitos a formas até mais graves recentemente descobertas de contaminação em
relação ao novo Coronavírus, e sem uma previsão de imunização a curto prazo. De mais
a mais, não se pode deixar de reconhecer que a questão em torno da possibilidade de
inclusão dos vigilantes na base de cálculo dos aprendizes, na forma do artigo 429 da CLT,
ainda pode vir a sofrer mudança de entendimento jurisprudencial no âmbito desta
egrégia Corte, tal como se verificou em relação aos motoristas e cobradores, por
ocasião do julgamento do Processo AIRR-916-04.2014.5.12.0028, nesta egrégia
Quarta Turma (Rel. Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, DEJT 26/03/2021).
[...] a condenação imposta pelo TRT quanto ao cumprimento de uma obrigação de fazer,
com a aplicação de multa diária por cada aprendiz não contratado, poderia acarretar à
ré dano irreparável, diante do atual quadro de pandemia deflagrado em todo o mundo
diante do novo Coronavírus. Isso porque a egrégia Corte Regional, na oportunidade,
também deferiu a antecipação dos efeitos da tutela postulada pelo MPT, compelindo,
assim, a ré ao imediato cumprimento da obrigação de fazer imposta, de todo
impossibilitado ante a pandemia que ainda hoje persiste em todo o mundo. Ademais,
mesmo que permitida a realização de trabalho remoto ou de teletrabalho pelos
aprendizes, nos moldes da Nota Técnica nº 9/2020, ou, ainda, flexibilizado o “isolamento”
mediante a adequação dos ambientes de trabalho aos protocolos sanitários de
segurança, na forma da Nota Técnica Conjunta nº 12/2020, ambas expedidas pela
COORDINFÂNCIA – MPT, a ré relatou, em seu pedido de tutela, que muitas empresas

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de aprendizagem encontravam-se com as suas atividades suspensas, tendo


carreado aos autos documentos para comprovar as tentativas infrutíferas feitas
para fins de contratação. Reafirme-se, por outro lado, o entendimento já esposado por
ocasião do julgamento monocrático dos embargos de declaração opostos pelo MPT, no
sentido de inexistir qualquer obrigatoriedade no sentido de que a vigência da
medida de urgência deferida fique atrelada à duração dos efeitos restritivos da
pandemia, que serviu de fundamento para o reconhecimento do periculum in mora.
Ressalte-se que a pandemia atualmente enfrentada em todo o mundo constitui
fenômeno sem data certa para o seu término, sendo a maior prova disso a atual
situação vivenciada no País, com inúmeros lockdowns recentemente decretados
em diversos Estados e regiões, além do total colapso no sistema de saúde. Assim,
porque demonstrada a presença dos requisitos ensejadores para a concessão da
medida pleiteada, há que ser mantida a decisão monocrática ora agravada. TST-
TutCautAnt-1001559-52.2020.5.00.0000, 4ª Turma, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo
Bastos, julgado em 4/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Audiência

Não comparecimento injustificado do reclamante

O art. 844, § 2º, da CLT, ao mesmo tempo em que o legislador determina que o
reclamante que não comparece à audiência seja condenado ao pagamento das custas
processuais, mesmo que beneficiário da justiça gratuita, o isenta deste pagamento caso
haja a comprovação, no prazo de quinze dias, que o não comparecimento à audiência
decorreu de motivo legalmente justificável. Não há qualquer contraposição entre a
norma prevista no artigo 844, § 2º, da CLT, e as garantias constitucionais do acesso à
justiça e da assistência judiciária gratuita prestada pelo Estado. Precedentes da 4ª e 8ª
Turmas do TST. TST-RR-1000119-02.2018.5.02.0205, 7ª Turma, rel. Min. Renato de Lacerda
Paiva, julgado em 7/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Nota do organizador: O Tribunal Pleno do E. STF, no julgamento da ADI 5766, na sessão


realizada em 20/10/2021, declarou a constitucionalidade do artigo 844, § 2º, da CLT,
possuindo a decisão efeito vinculante.

Provas

Produção antecipada de provas

É cabível a produção antecipada de prova ainda que ausente situação de urgência


(art. 381, III, do CPC). O inciso III do art. 381 do CPC autoriza a produção antecipada de
prova, mesmo nas hipóteses em que não há urgência na sua colheita, mas quando o

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prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou obstar o ajuizamento da ação


principal. Ou seja, a necessidade de a parte aferir a viabilidade de sua pretensão já
configura, per se, motivo apto a legitimar a ação de produção antecipada de provas. TST-
ED-ARR-10610-81.2018.5.15.0057, 6ª Turma, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho,
julgado em 3/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

Prova documental

Na hipótese, a reclamada não compareceu à audiência de instrução em que seriam


produzidas provas, embora tenha comparecido à audiência inaugural para apresentação
de contestação e documentos. O TRT consignou que “os cartões de ponto que ostentam
marcação de variadas jornadas elastecidas têm força probante”, concluindo que os
documentos colacionados pela Reclamada devem prevalecer sobre a jornada alegada
na inicial pelo Reclamante, mesmo diante da ausência da reclamada em audiência.
Ocorre que houve impugnação do reclamante em face dos documentos juntados pela
reclamada, inclusive especificamente aos controles de jornada. Sendo assim, seria a
instrução processual o momento para o autor demonstrar a veracidade das suas
alegações, notadamente com a prova testemunhal e o depoimento pessoal do preposto
da ré, o que, obviamente, deixou de ser possível com a ausência da ré. É por isso que a
presunção de veracidade das alegações da inicial, neste caso concreto, também alcança
a jornada de trabalho e não podem ser considerados prova pré-constituída os
cartões de ponto juntados pela ré que foram devidamente impugnados. [...]
Demonstrada má aplicação da Súmula 74, II, do TST. TST-RR-11417-12.2013.5.01.0043, 2ª
Turma, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 14/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

A revelia e confissão ficta da reclamada, bem como a ausência de controles de ponto,


gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, que pode ser elidida por
prova em contrário, com recurso à razoabilidade e à experiência do magistrado (art. 375
do CPC), de modo que não se impõe a adoção, pelo julgador, de toda e qualquer
jornada de trabalho informada pelo reclamante, sobretudo quando esta se
mostrar inverossímil, como ocorre no presente caso. Precedentes. Todavia,
tratando-se a discussão acerca de jornada considerada inverossímil, em face da
confissão ficta e da ausência de apresentação dos registros de jornada, cumpre ao
magistrado não excluir as horas extras, mas arbitrá-las segundo critérios de
razoabilidade. TST-RR-101450-91.2017.5.01.0048, 3ª Turma, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani
de Fontan Pereira, julgado em 27/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Prova testemunhal

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O simples estabelecimento de vínculos em mídias sociais (Whatsapp, Facebook),


principalmente no caso em apreço, em que evidenciado que esses são uma extensão
das relações interpessoais decorrentes de uma origem comum, qual seja, o labor para
uma mesma empregadora, não se revelam, por si só, suficientes para a configuração da
amizade íntima a que aludem os arts. 477, § 3º, I, do CPC e 829 da CLT. [...] Para que haja
a suspeição da testemunha, não basta a simples amizade decorrente dos muitos anos
de convívio no ambiente de trabalho, ou mesmo, a continuidade desta relação em redes
sociais, sob pena de, ao fim e ao cabo, inviabilizar-se a produção de prova testemunhal
- e justamente por quem teria melhor condições de fazê-lo, ou seja, quem laborou por
mais tempo com a parte reclamante no mesmo ambiente de trabalho. TST-RR-24-
44.2015.5.06.0023, 1ª Turma, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, julgado em 12/5/2021 –
Informativo TST n.º 237.

Homologação de acordo extrajudicial

O Tribunal Regional manteve a r. sentença que homologara o acordo extrajudicial, não


outorgando ampla, geral e irrestrita quitação. [...] Da exegese dos arts. 855-B ao 855-E
da CLT, conclui-se pela possibilidade de o acordo extrajudicial regular a terminação
contratual nos moldes ajustados pelas partes, na medida em que não há uma lide, mas
partes interessadas na homologação, não cabendo, assim, ao magistrado a postura
natural do processo jurisdicional. Ele deve ficar adstrito à regularidade formal do
acordo que lhe é submetido a exame, indagando se o ajustado corresponde à
vontade das partes e esclarecendo os efeitos do ajuste. O judiciário pode até
afastar cláusulas que considerar abusivas, fraudatórias ou ilegais, mas não lhe
cabe, sem a identificação de vícios, restringir os efeitos do ato praticado, quando
as partes pretendem a quitação total do contrato. [...], o sistema jurídico coloca à
disposição do jurisdicionado os meios adequados para a rescisão e a anulação,
conforme o caso, dos ajustes viciados. Recurso de revista conhecido por violação do
art. 855-B da CLT e provido. TST-RR-1001432-05.2018.5.02.0720, 3ª Turma, rel. Min.
Alexandre Agra Belmonte, julgado em 4/8/2021 – Informativo TST n.º 241.

A atuação da Justiça do Trabalho na homologação de acordo extrajudicial é binária:


homologar ou não o acordo. Não lhe é dado substituir-se às partes e homologar
parcialmente o acordo, se este tinha por finalidade quitar integralmente o
contrato de trabalho extinto. TST-RRAg-1001365-34.2018.5.02.0431, 4ª Turma, rel. Min.
Ives Gandra da Silva Martins Filho, julgado em 16/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Sentença

Determina-se a aplicação da tese vinculante do STF fixada na ADC 58, no sentido da


incidência do IPCA-E mais juros pela TR acumulada na fase pré-judicial e, a partir da
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citação, a incidência da taxa SELIC. TST-RRAg-101306-17.2017.5.01.0049, 4ª Turma, rel. Min.


Ives Gandra da Silva Martins Filho, julgado em 24/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Quanto à modulação dos efeitos da decisão acima, assim ficou decidido: “(i) são
reputados válidos e não ensejarão qualquer rediscussão (na ação em curso ou em nova
demanda, incluindo ação rescisória) todos os pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E
ou qualquer outro índice), no tempo e modo oportunos (de forma extrajudicial ou judicial,
inclusive depósitos judiciais) e os juros de mora de 1% ao mês, assim como devem ser
mantidas e executadas as sentenças transitadas em julgado que expressamente adotaram,
na sua fundamentação ou no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os juros de mora de 1% ao mês;
(ii) os processos em curso que estejam sobrestados na fase de conhecimento
(independentemente de estarem com ou sem sentença, inclusive na fase recursal) devem ter
aplicação, de forma retroativa, da taxa Selic (juros e correção monetária), sob pena de
alegação futura de inexigibilidade de título judicial fundado em interpretação contrária ao
posicionamento do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC).” TST-RR-1836-
79.2015.5.09.0010, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 3/3/2021
– Informativo TST n.º 233.

Nota do organizador: em 25/10/2021, o STF acolheu, parcialmente, os embargos de


declaração opostos pela AGU, para sanar erro material constante da decisão de
julgamento e do resumo do acórdão, de modo a estabelecer “a incidência do IPCA-E na
fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406
do Código Civil)”, sem conferir efeitos infringentes, Ministro Luiz Fux (Presidente).
Plenário, Sessão Virtual de 15.10.2021 a 22.10.2021).

A incidência de juros moratórios, decorrentes de condenação na justiça laboral, ocorre


a partir do ajuizamento da primeira reclamação trabalhista, ainda que tenha sido
arquivada, e não a partir da propositura da segunda reclamação, na qual se proferiu a
condenação, contra a mesma reclamada e com o mesmo pedido. Assim, a partir do
ajuizamento da reclamação inicial, a parte reclamada já passa a ter ciência, ao menos
em tese, de que existe uma pretensão material em seu desfavor e naquele momento já
fica constituída em mora. TST-E-RR-1023-29.2010.5.15.0085, SBDI-I, rel. Min. Lélio Bentes
Corrêa, 15/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Na hipótese, foi incontroversamente celebrado acordo entre as partes pelo qual a


reclamada se comprometeu a pagar ao reclamante a importância de R$ 145 mil,
decorrente de parcelas de natureza indenizatória, todas discriminadas, [...]
Estabelecido o contexto, verifica-se que o caso dos autos não se trata de fixação
genérica do valor acordado como perdas e danos, mas, sim, discriminação das
parcelas de natureza indenizatória no acordo, as quais guardam correspondência

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com a petição inicial do reclamante, a ensejar validade do acordo. RR-10306-


59.2018.5.03.0108, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em 19/5/2021 –
Informativo TST n.º 238.

A Corte Regional afastou a incidência da lei nº 12.546/2011, sob o fundamento de que “a


desoneração diz respeito à contribuição previdenciária incidente sobre os salários pagos no
mês pela empresa e não sobre as parcelas salariais oriundas de condenação judicial”. O
regime de desoneração previdenciária, instituído pela Lei nº 12.546/11, incidente
sobre o valor da receita bruta em relação às empresas de transporte rodoviário
coletivo de passageiros, é aplicável no cálculo das contribuições previdenciárias
patronais decorrentes de decisões condenatórias ou homologatórias proferidas
pela Justiça do Trabalho, conforme artigo 18 da Instrução Normativa RFB 1.436, de
30/12/2013. Recurso de revista conhecido e provido. TST-RR-1194-11.2015.5.06.0101, 7ª
Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 19/5/2021 – Informativo TST n.º
238.

Discute-se se é possível o reconhecimento da responsabilidade solidária da prestadora


de serviços, pelos créditos trabalhistas, no caso em que o reclamante requer o
reconhecimento do vínculo empregatício com o tomador dos serviços, porém deixa de
apresentar na inicial pedido de condenação solidária da prestadora. O
reconhecimento do vínculo empregatício com o tomador de serviços e a incidência
do art. 9º da CLT tem o condão de atrair a aplicação da regra prevista nos artigos
927 e 942 do Código Civil, o que por conseguinte ampara também o art. 265 do
Código Civil. Isso porque a responsabilidade da empresa decorre, pois, da sua conduta
ilícita e fraudulenta à legislação trabalhista. Na Justiça do Trabalho, o art. 840, § 1º, da
CLT, exige que, na petição inicial, haja apenas uma breve exposição do fato de que
resulte o dissídio e o pedido. Portanto, é a exposição do fato que delimita a
manifestação judicial. Mas não pode o julgador considerar fatos e questões não
alegados pelas partes e fora da causa. Nesse contexto, o princípio da demanda refere-
se a todas as espécies de questões. Assim, a exemplo do previsto no art. 489, III, do CPC,
a vinculação do juiz, nos termos do art. 840, § 1º, da CLT, deve ser com as questões
alegadas, e não com os fundamentos de direito invocados pelas partes. Assim,
considerando o princípio da informalidade e da simplicidade que reveste o
processo trabalhista, ao redigir a petição inicial, basta ao autor expor rapidamente
os fatos a fim de proporcionar a sua compreensão e a respectiva consequência
jurídica, contida no pedido. No caso em tela, extrai-se da inicial que a reclamação foi
ajuizada contra a recorrente e primeira reclamada como principais devedoras e demais
empresas como secundárias. Assim, o reclamante, ao colocar no rol dos pedidos a
responsabilidade solidária das demais empresas, não afasta, por si só, a
responsabilidade principal da recorrente, outrora empresa empregadora e

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prestadora de serviços. Logo, a condenação solidária imposta à ex-empregadora


não configura julgamento extra petita. TST-RR-11429-50.2015.5.01.0077, 6ª Turma, rel.
Augusto César Leite de Carvalho, julgado em 22/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

Recursos

Princípio da unirrecorribilidade

A transmissão incompleta da petição dos embargos realizada por intermédio de fac-


símile torna inválida a peça recursal, uma vez que impede a imprescindível conferência
do seu conteúdo com o teor dos originais do recurso, conforme interpretação que se
extrai do artigo 4º da Lei nº 9.800/99. No caso, a preclusão consumativa operou-se com
a apresentação de petição incompleta, transmitida via fac-símile. À luz do princípio da
unirrecorribilidade, não se pode considerar, para fins de verificação da regularidade da
interposição do recurso, uma segunda petição, também transmitida via fac-símile, ainda
que dentro do prazo recursal, salientando-se, por oportuno, que os originais do recurso
foram apresentados somente após a expiração do prazo. TST-AgR-E-RR-20300-
30.2013.5.17.0001, SBDI-I, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 15/4/2021 – Informativo
TST n.º 235.

Princípio da irrecorribilidade imediata ou em separado das interlocutórias

A regra geral da irrecorribilidade imediata - constante do art. 893, § 1º, da CLT e da


Súmula nº 214 do TST - se aplica também no caso de decisão interlocutória mista
(com matéria interlocutória e com matéria definitiva ao mesmo tempo), conforme
já decidido na Sexta Turma do TST. Há também julgados de outras Turmas do TST
sobre a matéria. [...] TST-Ag-AIRR-114200-76.1995.5.03.0037, 6ª Turma, rel. Ministra Kátia
Magalhães Arruda, julgado em 26/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Efeito devolutivo

Nos termos do artigo 1.013, §§ 1º e 2º, do CPC, são devolvidos à cognição judicial, com a
interposição de recurso, todos os fundamentos de fato e de direito suscitados na defesa.
Na mesma linha, a diretriz consagrada no item I da Súmula nº 393 do TST, estabelece: O
efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do § 1º do art. 1.013 do
CPC de 2015 (art. 515, §1º, do CPC de 1973), transfere ao Tribunal a apreciação dos
fundamentos da inicial ou da defesa, não examinados pela sentença, ainda que não
renovados em contrarrazões, desde que relativos ao capítulo impugnado. Não remanescem
dúvidas, portanto, de que o efeito devolutivo em profundidade impõe à instância
recursal ordinária o exame de todas as questões atinentes à matéria impugnada, no

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caso, o pedido de pagamento da gratificação de dedicação. Logo, não há falar em pedido


recursal genérico no tocante aos consectários legais, porquanto a parte sequer estava
obrigada a reiterar os termos da inicial em relação ao tema impugnado, notadamente
em razão do caráter acessório dos reflexos pretendidos. TST-RR-2047-89.2013.5.09.0009,
7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 20/10/2021 – Informativo TST
n.º 246.

Preparo

Foi ofertada apólice de seguro garantia com validade de três anos, mas o Tribunal
Regional entendeu pela deserção do recurso ordinário. O não conhecimento do recurso
ordinário por deserção devido a existência de cláusula de validade, ou outras cláusulas
que eventualmente poderiam inviabilizar a garantia do Juízo, em época anterior ao Ato
Conjunto nº 1/TST.CSJT.CGJT, de 1/10/2019, sem que ao menos fosse concedido prazo
para a apresentação de nova apólice de seguro, realmente viola o art. 899, § 11, da CLT.
TST-RR-1000606-05.2017.5.02.0464, 4ª Turma, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em
27/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

Quando da interposição do RO, a reclamada garantiu o Juízo, por meio da apresentação


de apólice de seguro com prazo de vigência determinado. O TRT não conheceu do
aludido apelo, por deserção, sob o fundamento de que a apólice do seguro garantia
apresentada trazia cláusulas com exigências para o pagamento da indenização e sem
previsão de atualização com os mesmos índices de correção do débito trabalhista, não
atendendo, assim, à finalidade do artigo 899, § 11, da CLT. Contudo, o dispositivo legal
mencionado, que institui a possibilidade de substituição do depósito recursal por fiança
bancária ou seguro garantia, contudo, não impõe a referida restrição. Ademais, à época
da interposição do RO ainda não havia entrado em vigor o Ato Conjunto nº
1/TST.CSJT.CGJT, de 16/10/2019, que regulamentou a utilização do seguro garantia
judicial em substituição ao depósito recursal no âmbito do Processo do Trabalho e
estabeleceu diversos requisitos. Nos termos do artigo 12 do referido Ato Conjunto, suas
disposições serão aplicadas aos seguros garantias judiciais e às cartas de fiança bancária
apresentados após a vigência da Lei 13.467/2017, devendo o magistrado deferir prazo
razoável para a devida adequação. Num tal contexto, reconhecida a violação do
artigo 899, § 11, da CLT, faz-se necessário o retorno dos autos à Corte de origem, a
fim de que se conceda prazo razoável à reclamada para adequação do seguro
garantia às regras constantes do Ato Conjunto nº 1/TST.CSJT.CGJT, de 16/10/2019,
sob pena de deserção. TST-ARR-11937-87.2016.5.03.0179, 6ª Turma, rel. Min. Lelio Bentes
Corrêa, julgado em 28/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

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Aplica-se às sociedades de economia mista, que atua em serviço público essencial,


em regime não concorrencial e sem distribuição de lucros, os benefícios
processuais da Fazenda Pública. O STF tem estendido algumas prerrogativas da
Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços
públicos, quando não atuam em regime de concorrência e não há comprovação de
acúmulo ou distribuição de lucros, tais como a ECT, Infraero e diversas companhias
estaduais de saneamento básico (Rcl 33893 MC/PB, relator Min. Roberto Barroso,
julgamento em 28/3/2019). No caso específico, em razão da aplicação das
prerrogativas inerentes à Fazenda Pública, é desnecessário o pagamento do
depósito recursal e das custas processuais para interposição do recurso ordinário
e demais recursos, ante a isenção do preparo. TST-E-ED-ARR-1609-56.2016.5.13.0006,
SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 13/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

O valor recolhido a título de depósito recursal quando da interposição do primeiro


recurso de revista e complementado no momento da interposição do segundo apelo, de
forma a atingir o limite legal atualizado, atende ao pressuposto extrínseco de
admissibilidade relativamente ao preparo do recurso. Assim, diante desse entendimento
cabia à recorrente comprovar, por ocasião da apresentação do novo apelo (Súmula nº
245 do TST), o recolhimento do valor remanescente ao limite legal atualizado, o que não
foi observado, razão pela qual se encontra deserto o recurso de revista, já que não havia
sido atingido o valor total da condenação. Sinale-se que não se há falar em intimação
para regularização do preparo, uma vez que não se trata de recolhimento insuficiente
do valor devido por ocasião da interposição do novo recurso de revista, mas de ausência
de comprovação do recolhimento devido, ou seja, ao apresentar o novo recurso, nada
foi recolhido, razão pela qual inaplicável à espécie o disposto na Orientação
Jurisprudencial nº 140 da SBDI-1 desta Corte. Outrossim, o Órgão Especial desta Corte,
em sessão realizada no dia 06/05/2019, retificou a ata da sessão de 17/12/2018, para
nela constar ter sido rejeitada a proposta de alteração da IN nº 3 do TST quanto à
aplicabilidade da regra contida no artigo 1.007, § 4º, do CPC no processo do trabalho.
Constatada a deserção do recurso de revista, inviável o prosseguimento na análise das
matérias nele veiculadas, bem como no presente agravo de instrumento. Agravo de
instrumento conhecido e não provido. [...] TST-ARR-189-71.2010.5.22.0104, 7ª Turma, rel.
Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 5/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Trata-se de recurso de revista, cujo preparo foi efetuado mediante seguro garantia, com
apólice acostada simultaneamente à interposição e renovada após a expiração. Ao lado
da contradição entre os valores garantidos pela primeira apólice e seu endosso
(R$24.734,22 e R$12.367,11, respectivamente), é certo que durante o lapso temporal
compreendido entre 13/12/2020 e 08/01/2021, o juízo ficou sem garantia, o que, por
si só, caracteriza a deserção do apelo. É incumbência da parte que opta por esse tipo

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de preparo, certificar-se de que permaneça vigente durante todo o processo, até o


desfecho final da controvérsia. Se não o faz, arca com as consequências da deserção.
TST-RR-10406-02.2018.5.03.0112, 7ª Turma, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado
em 12/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

A Vice-Presidência do TST não é competente para verificar a pertinência da troca


do depósito recursal, já recolhido, pelo seguro garantia judicial. Com efeito,
compete ao juízo de origem examinar o cabimento dessa substituição, uma vez que,
para fins de deferimento de pedido de tal natureza, além de outras questões jurídicas
afetas ao respectivo pedido, é essencial o exame dos requisitos de validade das apólices
de seguro, que tem a sua aceitação condicionada ao cumprimento das disposições do
art. 3º do Ato Conjunto TST.CSJT.CGT nº 1/2019, sob pena de a eventual execução resultar
frustrada. TST-Ag-ED-AIRR-489-36.2013.5.06.0019, Órgão Especial, rel. Min. Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho,7/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

O e. TRT concluiu que é inaplicável ao caso o artigo 899, § 9, da CLT, acrescido pela Lei
13.467/2017, ao fundamento de que, na situação, o sindicato atuou como empregador
do reclamante, razão pela qual entendeu a Corte local não se tratar de entidade sem fins
lucrativos prevista no aludido dispositivo. Contudo, considerando que os sindicatos,
por lei, são considerados entidades sem fins lucrativos, e inexistindo registro nos
autos de que o recorrente auferisse e distribuísse lucros, diferentemente do que
concluiu o e. TRT, faz jus o sindicato reclamado ao direito de recolher pela metade
o depósito recursal, nos termos do novel art. 899, § 9º, da CLT, ainda que atue como
empregador, dado que o referido preceito tem como destinatárias as empresas ou
entidades que, na condição de reclamadas, detenham tais características, dele não se
extraindo a distinção feita pelo Tribunal Regional, razão pela qual deve ser afastada a
deserção aplicada ao recurso ordinário. TST-RR-11368-91.2015.5.15.0113, 5ª Turma, rel.
Min. Breno Medeiros, julgado em 18/8/2021 – Informativo TST n.º 242.

A inobservância dos requisitos previstos no Ato Conjunto configura a ausência total do


preparo, porquanto inválida a apólice ofertada como garantia do juízo. Ademais, a
concessão de prazo prevista no artigo 12 do Ato Conjunto n.º 1 diz respeito apenas às
apólices apresentadas após a edição da Lei n.º 13.467/2017 e anteriormente à
regulamentação da questão pelo referido ato normativo, o que não era o caso. [...]
Inaplicável, daí, o disposto no artigo 12 do referido ato normativo, em relação à apólice
apresentada pela recorrente. Não há cogitar, ademais, na incidência do entendimento
sedimentado na OJ n.º 140 da SBDI-I do TST, visto que não se trata de recolhimento
insuficiente do depósito recursal, mas de ausência total de recolhimento, ante a
invalidade da apólice de seguro garantia judicial oferecida. TST-RR-24947-

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34.2018.5.24.0022, 6ª Turma, red. p/ acórdão Min. Lelio Bentes Corrêa, julgado em 5/10/2021
– Informativo TST n.º 245.

Tem prevalecido, no âmbito do TST, entendimento no sentido da possibilidade de


substituição do depósito recursal por fiança bancária ou pelo seguro garantia judicial
com prazo determinado. [...] Não existe previsão legal de que a carta de fiança bancária
ou o seguro garantia judicial tenham prazo de validade indeterminado, ou condicionado
até a solução final do litígio. Caso seja extinta e não renovada a garantia, a parte arcará
com tal incúria, como em qualquer hipótese da sua perda superveniente. [...] TST-E-AIRR-
1154-45.2013.5.04.0007, SBDI-I, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 28/10/2021 –
Informativo TST n.º 246.

Embargos de declaração

A jurisprudência do TST é firme no sentido de que não configura mandato tácito a


realização de sustentação oral por advogado, sem procuração válida. Ademais, nos
termos da OJ 200 da SBDI-I do TST, “É inválido o substabelecimento de advogado investido
de mandato tácito”. Logo, não é possível afastar a irregularidade de representação
constatada em recurso cujo subscritor recebeu substabelecimento de advogado sem
poder nos autos. Antes mesmo da modificação do art. 897-A, § 3º, da CLT, o
entendimento desta Corte já era no sentido de ser inaplicável o efeito interruptivo do
prazo recursal, quando da interposição de embargos de declaração sequer
conhecidos, por ausência de pressuposto extrínseco de admissibilidade, tal como
a regularidade de representação. Ante o exposto, configura-se intempestivo o recurso
de embargos interposto em 09/03/2011, quando o acórdão que não conheceu
parcialmente do recurso de revista foi publicado em 21/10/2010 e contra o referido
acórdão tenham sido opostos embargos de declaração que não ultrapassaram a
barreira do conhecimento. TST-E-ED-RR-16400-08.2008.5.13.0007, SBDI-I, rel. Min. Renato
de Lacerda Paiva, 13/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

A sentença de origem foi publicada em 09/03/2018, ao passo que em face dessa a


primeira reclamada (SUSTENTARE) opôs tempestivamente embargos de declaração em
16/03/2018, interrompendo o prazo recursal. Após, as partes foram intimadas da
sentença em sede dos embargos de declaração dessa reclamada em 11/06/2018. O
segundo reclamado (DF), então, opôs embargos declaratórios em 12/06/2018 para sanar
omissão da sentença. O Juízo de origem, porém, não conheceu dos embargos de
declaração do reclamado por intempestividade, ao fundamento de que objetivavam
sanar omissão tão somente da primeira sentença, publicada em 09/03/2018. À vista
disso, o Tribunal Regional, considerando que os embargos de declaração do reclamado
DF são intempestivos, afastou o efeito interruptivo deste e, por consequência, concluiu

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que os recursos ordinários da reclamada SUSTENTARE, interposto em 06/08/2018, e o


do reclamado DF, em 14/08/2018, são intempestivos. Esta Corte tem entendido que, na
hipótese de não conhecimento dos embargos em razão da ausência de pressuposto
extrínseco de admissibilidade (intempestividade, preparo, irregularidade de
representação processual etc.), afasta-se a produção do efeito interruptivo para a
interposição de outros recursos. Todavia, no caso dos autos, denota-se que não se
trata da ausência de tempestividade, pressuposto extrínseco de admissibilidade,
tendo em vista que os embargos de declaração do reclamado foram opostos dentro
do prazo recursal (intimação da sentença em embargos de declaração da reclamada
em 11/06/2018 e oposição pelo reclamado em vista desta em 12/06/2018). No caso
concreto houve, na realidade, preclusão consumativa, pressuposto intrínseco (a
matéria dos segundos embargos de declaração, opostos pelo DF, deveria ter sido
alegada no prazo dos primeiros embargos de declaração, apresentados apenas
pela SUSTENTARE). Não se trata de preclusão temporal (intempestividade por
decurso de prazo). Nesse contexto, o caso era de rejeitar os segundos embargos de
declaração. Não se trata de hipótese em que os segundos embargos de declaração
devessem ser não conhecidos. Como consequência, os segundos embargos de
declaração interromperam o prazo para a interposição do recurso ordinário. Assim,
mostra-se tempestivo o recurso ordinário da reclamada, interposto no dia 06/08/2018,
em face da sentença em embargos de declaração do reclamado, cuja intimação ocorreu
no dia 01/08/2018. Afastada a intempestividade do recurso ordinário da reclamada,
determina-se o retorno dos autos ao TRT, a fim de que prossiga no seu exame, como
entender de direito. TST-RR-766-27.2016.5.10.0022, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães
Arruda, julgado em 20/10/2021 – Informativo TST n.º 246.

Recurso Ordinário

O art. 2º da Lei nº 5.584/70 trata de rito aplicável à jurisdição contenciosa (sujeita a


conciliação, instrução e julgamento da causa), não sendo esse o caso do protesto
interruptivo da prescrição, que é procedimento de jurisdição voluntária. Em se
tratando de procedimento de jurisdição voluntária, o valor atribuído à causa é
mera formalidade, apenas para fins fiscais, razão por que não influi na submissão
ou não da ação ao rito sumário. Cabível, no caso, o Recurso Ordinário. TST-RR-803-
27.2018.5.09.0664, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em 7/4/2021 –
Informativo TST n.º 235.

Recurso de Revista

É desnecessária a renovação das alegações do recurso de revista, nas razões do


agravo de instrumento que ataca óbice processual. De acordo com o princípio da

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dialeticidade, é suficiente que o agravo de instrumento procure infirmar o óbice


processual que norteou a decisão agravada, a fim de acessar a violação ou a divergência
jurisprudencial apontada no recurso de revista, resultando atendida a orientação da
Súmula nº 422 do TST. Sob esse entendimento, o Tribunal Pleno, por maioria, negou
provimento aos embargos da reclamada, fixando a seguinte tese: o agravo de
instrumento que impugna óbice processual eleito no despacho denegatório do
recurso de revista não necessita renovar as razões do mérito do recurso, as quais
não foram examinadas no despacho agravado. Ainda, por maioria, o Tribunal Pleno
rejeitou a proposta de modulação dos efeitos da decisão. TST-E-ED-ED-RR-291-
13.2016.5.08.0124, Tribunal Pleno, red. p/ acórdão Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho,
19/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Impõe-se confirmar a decisão que negou seguimento ao agravo de instrumento,


porquanto o recurso de revista não comprovou pressuposto intrínseco de
admissibilidade inscrito no artigo 896, alínea “c”, da CLT (“proferidas com violação literal
de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à Constituição Federal”). TST-Ag-ARR-
1632-91.2013.5.09.0014, 1ª Turma, rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, julgado em 24/3/2021.

Deve ser reconhecida a transcendência jurídica para exame mais detido da


controvérsia devido às peculiaridades do caso concreto. O enfoque exegético da
aferição dos indicadores de transcendência em princípio deve ser positivo,
especialmente nos casos de alguma complexidade, em que se torna aconselhável o
debate mais aprofundado do tema. Havendo transcendência, segue-se na análise dos
demais pressupostos de admissibilidade. [...] TST-AIRR-10405-64.2017.5.15.0032, 6ª
Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, julgado em 26/5/2021 – Informativo TST n.º 238.

Embargos de divergência

Em embargos de divergência, se situação fática do acórdão paradigma é diversa do caso


submetido a julgamento não há como atribuir a identidade fática viabilizadora do
confronto de teses, a teor da Súmula 296, I, do TST, razão pela qual os embargos de
divergência não devem ser conhecidos. TST-E-RR-1532-10.2012.5.10.0802, SBDI-I, rel. Min.
Alexandre Luiz Ramos, 11/3/2021 – Informativo TST n.º 233.

A falta de indicação de item da Súmula 422 do TST entendido como violado


inviabiliza a admissibilidade do recurso de embargos. TST-Ag-E-ED-RR-543-
07.2015.5.08.0009, SBDI-I, rel. Min. Dora Maria da Costa, 11/11/2021 – Informativo TST n.º
247.

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Sustentação oral

Na hipótese, o Tribunal a quo não conheceu do recurso ordinário patronal por deserção,
tendo o reclamante requerido preferência para sustentação oral (certidão de
julgamento). Contudo, não realizou a sustentação oral, já que o Recurso da outra parte
(Reclamada) não foi conhecido por deserção. Posteriormente, o Colegiado a quo deu
provimento aos embargos de declaração apresentados pela Reclamada, com efeito
modificativo, para afastar a deserção. Ato contínuo, julgou o Recurso Ordinário da
Reclamada, sem franquear oportunidade para sustentação oral. O reclamante, no
recurso de revista, afirmou que não exerceu o direito à sustentação, “em face de o Relator
NÃO TER CONHECIDO O APELO, haja vista a configuração de deserção”, concluindo que “a
sustentação requerida perdeu seu objeto e não foi exercida”. A Corte regional deu
provimento aos embargos de declaração interpostos pela reclamada com efeito
modificativo, para afastar a deserção do seu recurso ordinário e, ato contínuo, julgou o
apelo parcialmente procedente para afastar o deferimento do pleito relativo à
estabilidade sindical. Discute-se, assim, a necessidade de reinclusão do feito em
pauta para proporcionar às partes o direito à sustentação oral em sessão de
julgamento do recurso ordinário conhecido. Na forma do artigo 554 do CPC de 1973,
vigente à época da decisão atacada, “na sessão de julgamento, depois de feita a exposição
da causa pelo relator, o presidente, (...), dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao
recorrido, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de
sustentarem as razões do recurso” (grifou-se). Dessa forma, a concessão de prazo
improrrogável para sustentação oral implica que esse direito processual somente
pode ser exercido uma única vez, de forma concentrada, quando cada um dos
advogados deverá sustentar, se quiser e a seu critério, sobre todas as questões
pertinentes, sejam elas preliminares, prejudiciais ou de mérito, que sejam de seu
interesse e estejam sob a apreciação do colegiado julgador. Vale dizer, não há,
nunca, direito a duas sustentações orais pela mesma parte, ainda que em primeira
sessão a parte não tenha exercido o seu direito, deixando-o precluir. É precisamente
essa a hipótese que ocorre nos autos. Conforme se observa na certidão de julgamento
do recurso ordinário interposto pela reclamada, em que a Corte regional não conheceu
do apelo da ré, por considerá-lo deserto, é possível constatar que naquela sessão de
julgamento se fizeram presentes os procuradores tanto do reclamante como da
reclamada, os quais apenas registraram suas presenças sem exercer o direito à
sustentação oral. Salienta-se, conforme já observado acima, que, na forma do artigo
554 do CPC de 1973, cabia aos patronos das partes, naquele momento,
independentemente do teor do voto proferido pelo Relator, sustentar oralmente
todos os pontos de interesse na demanda, seja sobre a deserção acolhida ou
quaisquer outros temas objetos do recurso, preliminares, prejudiciais ou
meritórios, sob pena de preclusão. Dessa forma, ao julgar os embargos de declaração

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interpostos pela reclamada, afastar a deserção e prosseguir no julgamento do mérito do


apelo, a Corte regional adentrou no mérito de temas, que poderiam ter sido invocados
na sustentação oral, direito esse que volitivamente não foi exercido por ambas as partes.
Diante do exposto, constatado o não exercício volitivo do direito à sustentação oral no
momento apropriado, verifica-se a sua inexorável preclusão, motivo pelo qual não é
possível constatar a apontada violação dos artigos 5º, incisos LIV e LV, da Constituição
Federal e 795 da CLT. TST-RR-801-98.2011.5.05.0022, 2ª Turma, rel. Min. José Roberto Freire
Pimenta, 22/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

Coisa julgada

Extrai-se do acórdão regional que as Partes firmaram acordo, em que ficou estabelecido
o pagamento da multa de 50% sobre o saldo devedor, em caso de inadimplemento da
cláusula relativa às bases fixadas para o acordo. [...] Pontuou o TRT que a Executada
atrasou o pagamento da primeira parcela em dois dias – premissa fática inconteste à luz
da Súmula 126/TST -, o que gerou a incidência da multa de 50% cominada sobre o valor
restante, no importe de R$11.500,00 (R$23.000,00 x 0,50%). Contudo, o TRT reformou a
sentença para excluir totalmente a multa aplicada à Executada, por assentar que “o
atraso se deu por apenas dois dias, tempo exíguo para se imputar um gravame tão alto à
executada, mormente porque demonstrou que estava agindo de boa fé ao depositar
espontaneamente nos autos o valor de R$1.000,00 para compensação pelo atraso e ainda
antecipou o pagamento do acordo, quitando-o em abril/2020, quando pelos vencimentos das
parcelas acordadas seria apenas em outubro/2020”. É sabido que os acordos celebrados
pelas Partes e homologados em Juízo adquirem força de coisa julgada, devendo,
portanto, ser executados nos seus estritos termos (arts. 831, parágrafo único, da CLT,
487, III, CPC e Súmula 259 do TST). Com efeito, em que pese a jurisprudência mais
recente desta Corte tenha se posicionado no sentido de permitir a adequação do
valor da cláusula penal, quando reputada excessiva diante do conjunto probatório
dos autos, a teor do que dispõe o art. 413 do CCB, não autoriza a exclusão total da
referida penalidade quando se verificar o descumprimento parcial do acordo, por
implicar na alteração do teor das cláusulas constantes do acordo imantado pela
coisa julgada, em afronta ao artigo 5º, XXXVI, da CF. Julgados desta Corte. Assim, a
decisão recorrida, ao excluir a multa cominada à Executada, a despeito de
consignar o atraso no cumprimento da primeira parcela do acordo, foi proferida
dissonância com o atual e pacífico entendimento jurisprudencial desta Corte
Superior, motivo que possibilita o processamento do recurso, para considerar
devido o pagamento da multa, adequando-a, contudo, nos termos do art. 413 do
CCB, para percentual mais condizente com os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. TST-RR-357-64.2019.5.08.0131, 3ª Turma, rel. Min. Mauricio Godinho
Delgado, julgado em 22/9/2021 – Informativo TST n.º 244.

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Execução

Medidas atípicas

O artigo 139, IV, do CPC de 2015 tem aplicação subsidiária ao Processo do Trabalho (IN
nº 39/2016 do TST). Sua aplicação exige cautela, porque implica em restrição ao direito
fundamental de ir e vir do executado. A medida deve ser proporcional e ter afinidade
com a obrigação do pagamento de créditos trabalhistas. É preciso garantia de que a
restrição dos direitos viabilizará de forma eficiente a probabilidade de adimplemento do
débito trabalhista, ou seja, deve estar presente relação de causa e efeito entre a
aplicação da medida coercitiva e o pagamento da dívida. TST-RO-1412-96.2017.5.09.0000,
SBDI-II, rel. Min. Delaíde Alves Miranda Arantes, 23/2/2021 – Informativo TST n.º 232.

Remição

Não é cabível mandado de segurança para impugnar decisão que rejeita o pedido
de remição de dívida apresentado pela executada após a assinatura do auto de
arrematação do bem imóvel. O direito subjetivo à remição apenas se convalida se
exercido antes da alienação dos bens penhorados (art. 926 do CPC), revelando-se
preclusos os requerimentos formulados após a assinatura do auto de arrematação,
salvo se vinculados à existência de vício processual para o próprio exercício do direito à
remição (art. 903, caput e § 1º, I, do CPC). De outro lado, a alegação de excesso de
execução deve ser deduzida nos momentos processuais adequados, seja no prazo
previsto para o contraditório contábil prévio (art. 879, § 2º, da CLT), seja naquele indicado
para ataque à sentença de liquidação (art. 884, § 3º, da CLT). Portanto, se há no
ordenamento jurídico medidas processuais idôneas para corrigir a suposta ilegalidade
apontada pela autoridade coatora, revela-se incabível a impetração de MS. TST-ROT-40-
17.2019.5.10.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 23/2/202 – Informativo TST
n.º 232.

Multas

Não há falar em ofensa a direito líquido e certo na aplicação de multa por


descumprimento de ordem judicial na condição de terceiro, desde que o valor
observe o limite de 20% do valor da causa, nos termos do art. 77, § 2º, do CPC de 2015.
No caso, foi direcionada ao banco impetrante ordem judicial determinando o bloqueio
imediato de contas bancárias, bem como a transferência da quantia para uma conta
judicial, sob pena de multa. Passados 33 dias, não houve qualquer resposta do
impetrante à determinação judicial. Em razão da inércia do banco, o juiz da execução
entendeu que ficou caracterizada prática de ato atentatório à dignidade da justiça e fixou
multa no valor correspondente ao montante que deveria ter sido bloqueado. A SBDI-II
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concedeu em parte a segurança para reduzir a multa aplicada por ato atentatório ao
exercício da jurisdição para 20% do valor da causa, revertida à União. TST-RO-663-
18.2018.5.10.0000, SBDI-II, red. p/ acórdão Min. Maria Helena Mallmann, 23/3/2021 –
Informativo TST n.º 234.

Exceção de pré-executividade

A exceção de pré-executividade contemplada no art. 803 do CPC é admitida nos casos


de inexigibilidade, incerteza ou não liquidez de título executivo extrajudicial, bem como
por vício de citação no processo de execução, ou sua deflagração antes da ocorrência de
termo ou condição. A característica especial e vantagem para o executado que o referido
incidente ostenta é o fato de que pode ser arguido independentemente de garantia do
juízo. [...] No caso dos autos, quer pelo elevado valor originário da multa, de R$
1.204.955,12 (sem contar juros e correção monetária desde sua constituição em 2017),
quer pela duvidosa legalidade do auto de infração (exigência de carteira assinada
para 1.798 prestadores eventuais de serviços durante 5 ou menos jogos da Copa do
Mundo de 2014 no Estádio Mané Garrincha em Brasília, em dias espaçados), quer ainda
pelo vício de intimação quanto à autuação da fiscalização do trabalho (intimação
editalícia, praticamente ficta, após devolução do registro postal sem cumprimento do
aviso de recebimento pelos Correios), é de se acolher a exceção de pré-executividade
oferecida pela Empresa Recorrente. 5. Não sendo hipótese de extinção da execução,
por não terem sido esgrimidas causas extintivas (prescrição da ação ou decadência do
direito), mas vícios que contaminam a execução do título extrajudicial, tornando-o
duvidoso, é de se decretar a nulidade da execução, para que seja oferecida à
Empresa Recorrente a oportunidade de apresentar sua defesa no processo
administrativo que culminou com a imposição da multa e sua inscrição na dívida
ativa da União. TST-RR-478-48.2017.5.10.0021, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra Martins
Filho, julgado em 29/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

Penhora

É lícita a penhora de vencimentos determinada na vigência do CPC de 2015, para


pagamento de prestação alimentícia e em percentual inferior ao limite estabelecido no
art. 529, § 3º, do referido diploma legal. No caso em questão, a penhora determinada
pelo ato coator preencheu todos os requisitos legais de validade, quais sejam: a)
determinada na vigência do CPC de 2015; b) imposta para pagamento de créditos
reconhecidos pela Justiça do Trabalho, os quais possuem nítido caráter alimentar; c)
fixada em percentual condizente com o que preceitua o art. 529, § 3º, do CPC de 2015.
Assim, deve-se reconhecer a legalidade do ato coator, confirmando o entendimento do
Regional que impôs a penhora de 20% do salário do recorrente. TST-ROT-100876-

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81.2018.5.01.0000, SBDI-II, rel. Min. Luiz José Dezena da Silva, 21/9/2021 – Informativo TST n.º
244.

A limitação da penhora em 50% (cinquenta por cento) incide sobre a totalidade dos
rendimentos auferidos pela parte executada, não se limitando a um rendimento
individualizado. TST-ROT-100051-06.2019.5.01.0000, SBDI-II, rel. Min. Alexandre de Souza
Agra Belmonte, 9/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Seguro garantia

No caso de execução definitiva, é cabível a impetração de mandado de segurança


que vise a impugnar a não aceitação de apólices de seguro com o objetivo de
garantir o juízo e, consequentemente, viabilizar a admissibilidade de eventuais
embargos à execução ou agravo de petição, afastando assim, em tais casos, a
incidência da OJ nº 92 da SBDI-II. Ocorre que, na espécie, restou comprovado que o
valor da apólice não contemplou o montante atualizado da execução com o acréscimo
de 30%, conforme previsto no art. 835, § 2º, do CPC c/c o art. 3º, I Ato Conjunto n.
1/TST.CSJT.CGJT/2020. Assim, é ausente o direito líquido e certo do impetrante, pois
a insuficiência do valor segurado é óbice intransponível, não podendo ser
concedido prazo para complementação, visto que inaplicável a disciplina do § 2º do
art. 1.007 do CPC. TST-RO-1000279-26.2019.5.02.0000, SBDI-II, rel. Min. Amaury Rodrigues
Pinto Junior, 5/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

Processo Coletivo

O Ministério Público do Trabalho possui as prerrogativas necessárias para atuar na


defesa dos interesses dos trabalhadores que laboram sem a observância do descanso
semanal e dos intervalos intrajornada, uma vez que o direito ao efetivo cumprimento
das normas tutelares da jornada de trabalho possui índole individual homogênea, de
inequívoca relevância social. Precedentes de todas as turmas do TST. TST-ARR-26016-
72.2015.5.24.0001, 3ª Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em
12/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

Litispendência

O TST firmou entendimento de que, com base no art. 104 do CDC, o ajuizamento de ação
coletiva pelo sindicado de classe, na qualidade de substituto processual, não impede o
ajuizamento de ação individual idêntica pelo titular do direito material, por não haver a
identidade de partes, em seu aspecto formal, a que alude o art. 337, § 2º, do CPC, ainda
porque há expressa ressalva quanto a ausência de configuração de litispendência ou
coisa julgada, em relação a interesses individuais, na expressa dicção do artigo citado.
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Logo, nessas hipóteses, não há litispendência ou coisa julgada. Precedentes. Ainda que
haja homologação de acordo nos autos da ação coletiva ajuizada pelo sindicato
substituto, não há configuração de litispendência ou coisa julgada, relativamente à ação
individual que vier a se proposta por empregado substituído, e, pela mesma razão,
identidade entre as partes das ações coletiva e individual. TST-RR-10159-
60.2013.5.03.0091, 7ª Turma, rel. Min. Evandro Pereira Valadão Lopes, julgado em 14/4/2021
– Informativo TST n.º 235.

Dissídios coletivos

O dissídio coletivo de natureza jurídica tem por finalidade exclusiva proceder à


interpretação de instrumentos de negociação coletiva e enunciados normativos,
destinados a regular, de forma particular e específica, os interesses da categoria
profissional ou econômica (OJ n.º 7 da SDC). É inadequada a via do dissídio coletivo de
natureza jurídica para busca de provimento de natureza mandamental, relativo à
fixação de uma obrigação de não fazer, qual seja, de não convocação de profissionais
indicados ou, sucessivamente, de trabalhadores que se enquadrem como grupo de
risco, em face da pandemia da COVID-19. TST-ROT-10481-18.2020.5.03.000, SDC, rel. Min.
Guilherme Augusto Caputo Bastos, 12/4/2021 – Informativo TST n.º 235.

Conforme já se posicionou a SDC, a excepcionalidade da pandemia de COVID-19 não


justifica a utilização de dissídio coletivo de natureza jurídica para a imposição de
obrigações às empresas e empregadores além daquelas já previstas em lei. [...]. Em
casos tais, em que a extinção do processo, sem resolução do mérito, se dá por ausência
insanável de pressuposto processual, como no caso de não subordinação do
procedimento à lei, com reconhecimento da inadequação da via eleita, por não se ajustar
a pretensão aos moldes do dissídio coletivo de natureza jurídica (art. 241, caput e II, do
RITST, na OJ 7 da SDC), o exercício da jurisdição não pode gerar efeitos para as partes.
Nesse sentido, reconhecida a inadequação da via eleita, a extinção do processo sem
resolução do mérito se dá com efeitos ex tunc, não podendo o descumprimento das
liminares gerar a aplicação ou cobrança de qualquer multa, nem os empregadores
ficarem obrigados pelos ditames liminares quanto à prestação de serviços por
parte de seus empregados. Sob esses fundamentos, a SDC, por unanimidade, deu
provimento ao recurso ordinário do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do
Noroeste de Minas Gerais para declarar que a cassação da liminar deferida no presente
feito se dá ex tunc, ou seja, desde a sua concessão. ROT-10443-06.2020.5.03.0000, SDC, rel.
Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 20/9/2021 – Informativo n.º 244.

Mandado de Segurança

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Não é cabível mandado de segurança para impugnar decisão que rejeita o pedido
de remição de dívida apresentado pela executada após a assinatura do auto de
arrematação do bem imóvel. O direito subjetivo à remição apenas se convalida se
exercido antes da alienação dos bens penhorados (art. 926 do CPC), revelando-se
preclusos os requerimentos formulados após a assinatura do auto de arrematação,
salvo se vinculados à existência de vício processual para o próprio exercício do direito à
remição (art. 903, caput e § 1º, I, do CPC). De outro lado, a alegação de excesso de
execução deve ser deduzida nos momentos processuais adequados, seja no prazo
previsto para o contraditório contábil prévio (art. 879, § 2º, da CLT), seja naquele indicado
para ataque à sentença de liquidação (art. 884, § 3º, da CLT). Portanto, se há no
ordenamento jurídico medidas processuais idôneas para corrigir a suposta ilegalidade
apontada pela autoridade coatora, revela-se incabível a impetração de MS. TST-ROT-40-
17.2019.5.10.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 23/2/202 – Informativo TST
n.º 232.

Preliminarmente, a SDI-2 entendeu cabível MS para atacar ato que determina a


suspensão do processo até ulterior deliberação do STF na ADPF n.º 323, por inexistir via
recursal ordinária apropriada, já que é incabível a correição parcial fundada no
Regimento Interno do TRT de origem ou no Regimento Interno da CGJT, porque ausente
abuso ou erro de procedimento, porquanto a decisão impugnada apenas estabeleceu
critério de adequação da matéria ao tema do STF, bem como por não se cuidar de
hipótese de dano irreparável, pois o julgamento do feito pelo STF possibilitará a
retomada da regular marcha processual. No mérito, a SDI-2 decidiu pelo desprovimento
o recurso ordinário, mantendo-se o acórdão regional que não vislumbrou a ilegalidade
na decisão apontada como coatora, mediante a qual se determinou o sobrestamento da
reclamação trabalhista até ulterior deliberação do STF na ADPF n.º 323. TST-RO-90-
07.2018.5.09.0000, SBDI-II, red. p/ acórdão Min. Renato de Lacerda Paiva, 16/3/2021 –
Informativo TST n.º 234.

Na espécie, cuida-se de mandado de segurança impetrado em face de decisão


monocrática que indeferira o pedido de substituição do depósito recursal pelo seguro
garantia, ao argumento de que o § 11 do art. 899 da CLT não assegura à impetrante o
direito de, a qualquer tempo, pleitear a substituição do depósito recursal, bem como de
que o exame da pretensão se insere no âmbito de competência do juízo de execução.
Assim, verifica-se que o ato impugnado constitui decisão interlocutória, de
inequívoco caráter judicial, por meio da qual foi indeferida pretensão deduzida
pela parte em processo em curso no TST. Há de se reconhecer, portanto, que a
decisão impugnada possui recurso próprio, no caso, o Agravo Interno. Nesse
sentido, destacam-se os artigos 118, IX, e 265 do Regimento Interno do TST, bem como,
o art. 1.021 do Código de Processo Civil. Salienta-se, ainda, que apesar da disciplina do
art. 893, § 1º, da CLT, a jurisprudência do TST pacificou-se no sentido de admitir o
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recurso imediato de decisões interlocutórias suscetíveis de impugnação mediante


recurso para o próprio Tribunal, no caso do Agravo Interno, a teor do disposto na
Súmula nº 214, alínea b, do TST. Logo, no presente caso, evidencia-se ser incabível a
impetração do mandado de segurança, porquanto há recurso próprio. Com efeito,
é inadmissível a utilização do mandamus como sucedâneo recursal, como orientam a
Súmula nº 267 do STF e a OJ nº 92 da SBDI-II do TST. TST-MSCiv-1001295-
35.2020.5.00.0000, Órgão Especial, red. p/ acórdão Min. Lelio Bentes Corrêa, 7/6/2021 –
Informativo TST n.º 239.

A legislação referente à transmissão eletrônica de documentos, especificamente as Leis


nºs 9.800/1999 e 11.419/2006, não atribui limitação ao número de páginas dos
documentos enviados eletronicamente, não se admitindo que os Tribunais
Regionais, por meio de normas internas, estabeleçam tais restrições. [...] Se a
petição não for processada por tal motivo, é cabível Mandado de Segurança. TST-RO-221-
61.2019.5.12.0000, SBDI-II, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 15/6/2021 – Informativo TST n.º
239.

É cabível a impetração de mandado de segurança contra decisão de juiz que determinou


o sobrestamento do feito em razão de decisão do STF em sede de recurso extraordinário,
relativo ao Tema de Repercussão Geral nº 1046, que trata da prevalência da negociação
coletiva sobre os dispositivos de lei, por se tratar de decisão interlocutória e ante a
ausência de outro recurso interponível. No caso, o Tribunal Regional de origem
extinguiu o processo, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, IV, do CPC,
consignando a impropriedade do manejo da ação mandamental para reformar decisão
que determina o sobrestamento do feito até que seja pacificada a questão relacionada
à prevalência da negociação coletiva sobre dispositivos de lei. O ato coator referido,
decisão interlocutória, não é passível de recurso, nem mesmo com efeito diferido,
nos moldes do art. 893, § 1º, da CLT, tampouco se insere nas exceções da Súmula
214 do TST. Admite-se, portanto, nesse caso a impetração da ação mandamental.
TST-ROT-1003587-70.2019.5.02.0000, SBDI-II, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte,
8/6/2021 – Informativo TST n.º 239.

A controvérsia diz respeito ao prazo prescricional para execução individual de


decisão proferida em ação coletiva (ACP). [...] O prazo prescricional aplicável não é
bienal, sendo indiferente que o rompimento do vínculo empregatício tenha ocorrido
antes do trânsito em julgado, pois se trata de execução de sentença proferida em ação
civil pública. Nos termos da Súmula 150 do STF, “prescreve a execução no mesmo prazo de
prescrição da ação” que, no caso, é a ação civil pública, na qual foi reconhecido o direito
que se pretende executar. O STJ bem dirimiu a questão, ao se posicionar nos seguintes
termos: “(...) Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por
analogia, o prazo de prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº
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4.717/1965), adotando-se também tal lapso na respectiva execução, a teor da Súmula nº


150/STF. A lacuna da Lei nº 7.347/1985 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação
também integrante do microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os
coletivos e difusos, a afastar os prazos do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais
homogêneos (...) Precedentes. 7. (...). 8. Recurso especial não provido.” (STJ - REsp: 1473846
SP 2014/0184129-1, Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Data de Julgamento:
21/02/2017, 3ª Turma, Data de Publicação: DJe 24/02/2017). Desse modo, considerando
que a execução individual foi ajuizada antes de transcorridos cinco anos do trânsito em
julgado da decisão proferida na ação civil pública, fica afastada a prescrição da pretensão
executiva. TST-RRAg-11213-19.2019.5.03.0134, 6ª Turma, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda,
julgado em 23/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

No caso de execução definitiva, é cabível a impetração de mandado de segurança


que vise a impugnar a não aceitação de apólices de seguro com o objetivo de
garantir o juízo e, consequentemente, viabilizar a admissibilidade de eventuais
embargos à execução ou agravo de petição, afastando assim, em tais casos, a
incidência da OJ nº 92 da SBDI-II. Ocorre que, na espécie, restou comprovado que o
valor da apólice não contemplou o montante atualizado da execução com o acréscimo
de 30%, conforme previsto no art. 835, § 2º, do CPC c/c o art. 3º, I Ato Conjunto n.
1/TST.CSJT.CGJT/2020. Assim, é ausente o direito líquido e certo do impetrante, pois
a insuficiência do valor segurado é óbice intransponível, não podendo ser
concedido prazo para complementação, visto que inaplicável a disciplina do § 2º do
art. 1.007 do CPC. TST-RO-1000279-26.2019.5.02.0000, SBDI-II, rel. Min. Amaury Rodrigues
Pinto Junior, 5/10/2021 – Informativo TST n.º 245.

A SBDI-2 vem mitigando a aplicação da OJ nº 92 da SBDI-2 do TST nos casos em que há


criação de embaraços não previstos em lei capazes de inviabilizar o livre exercício
do direito constitucional de ação. Na hipótese, a despeito de o impetrante ter
formulado, na petição inicial da reclamação trabalhista, pedidos certos e determinados,
indicando, inclusive, valores que se entendiam devidos, o magistrado determinou a
emenda da inicial, exigindo uma liquidação pormenorizada das verbas referentes
a cada pedido. Tal exigência é medida que, além de extrapolar o comando previsto no
art. 840, § 1º, da CLT, impõe restrição indevida de acesso ao Judiciário, visto que, por
vezes, seria necessária a contratação de profissional contabilista pelo reclamante – em
muitos casos, beneficiário da justiça gratuita – para apresentação de cálculos de maior
complexidade. Ademais, não há previsão legal que exija prova contábil pré-
constituída para o ajuizamento de reclamação trabalhista. Provimento do RO em
MS, para conceder a segurança e, assim, cassar a decisão proferida na reclamação
trabalhista por meio da qual se exigiu a liquidação de "cada uma das verbas apontadas
nos pedidos, de forma pormenorizada, incluindo os reflexos de cada rubrica". TST-ROT-

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101623-94.2019.5.01.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria Helena Mallmann, 26/10/2021 –


Informativo TST n.º 246.

Ação rescisória

Não se pode, antes da citação do réu, indeferir liminarmente a petição inicial com
fundamento na inexistência de violação literal de disposição de lei na decisão
rescindenda, ante a necessidade de triangularização da relação processual. Deve ser
afastada a extinção do processo sem resolução do mérito, determinando o retorno dos
autos ao TRT, a fim de que proceda ao processamento e julgamento da ação rescisória,
conforme entender de direito. TST-RO-1544-98.2011.5.15.0000, SBDI-II, rel. Min. Delaíde
Alves Miranda Arantes, 16/3/2021 – Informativo TST n.º 234.

O MPT possui legitimidade ativa para propor ação rescisória, com fundamento no
art. 966, III e V, do CPC, ainda que não tenha sido parte no processo originário, em
face de decisão que julgou improcedente reclamação trabalhista com fundamento em
laudo oficial fraudulento produzido por perito judicial investigado pelo Ministério Público
Federal na “Operação Hipócritas”, exceto nas hipóteses em que a reclamação
trabalhista for extinta por acordo, caso em que falece legitimidade ao MPT. Nos
termos da Súmula nº 407 do TST, a legitimidade ad causam do Ministério Público para
propor ação rescisória, ainda que não tenha sido parte no processo que deu origem à
decisão rescindenda, não está limitada às alíneas “a” e “b” do inciso III do art. 967 do CPC
e que, na hipótese em que inúmeros trabalhadores foram criminosamente prejudicados
com a produção e utilização de laudos periciais viciados, não se pode falar em lesão a
direitos puramente individuais e disponíveis, mas, sim, de interesses transindividuais,
visto que ligados por circunstância comum que os privou de uma sentença proferida
com base no devido processo legal, cuja proteção é conferida expressamente ao MPT, a
teor dos artigos 127 da Constituição Federal e 5º, inciso I, 6º, incisos XII e XIV, alínea “a”,
e 83, inciso III, da Lei Complementar nº 75/1993. Além disso, a legitimidade do MPT
decorre também do fato de a fraude perpetrada na produção de laudos periciais oficiais
ter atingido a dignidade da Justiça do Trabalho. TST-RO-6784-24.2018.5.15.0000, rel. Min.
Maria Helena Mallmann, e TST-RO-6789-46.2018.5.15.0000, rel. Min. Alexandre de Souza Agra
Belmonte, SBDI-II, 20/4/2021. TST-RO-6784-24.2018.5.15.0000, rel. Min. Maria Helena
Mallmann, e TST-RO-6789-46.2018.5.15.0000, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte,
SBDI-II, 20/4/2021 – Informativo TST n.º 236.

A base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais na ação rescisória deve


observar os parâmetros definidos no art. 85, § 2º, do CPC de 2015, devendo observar o
valor da condenação. A verba advocatícia deferida na ação rescisória não pode ter
como base o valor da causa, cujo emprego é autorizado somente quando não é
possível a utilização do valor da condenação ou do proveito econômico obtido com a
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ação. TST-RO-202-55.2016.5.05.0000, SBDI-II, rel. Min. Luiz José Dezena da Silva, 11/5/2021 –
Informativo TST n.º 237.

O prazo para ajuizamento da ação rescisória é estabelecido pela data do trânsito


em julgado da decisão rescindenda, de modo que não se aplica a regra contida no
art. 975, § 2º, do CPC de 2015, acerca da contagem do prazo decadencial em ação
rescisória fundada em prova nova, à coisa julgada constituída antes de sua
vigência. No caso, destacou-se que a sentença rescindenda, que julgara improcedente
o pedido da reclamante de indenização por dano moral e material decorrente de
moléstia profissional, transitou em julgado em 2012, não havendo possibilidade de se
alterar o início da contagem do prazo decadencial para momento diverso, em razão de
a ação rescisória ter sido ajuizada em 2017, muito além do prazo previsto no art. 495 do
CPC de 1973. Com efeito, a Subseção já se manifestou no sentido de que a data do
trânsito em julgado da sentença rescindenda define o regramento processual a ser
aplicado, não podendo ser atribuído efeito retroativo à nova lei processual, em
observância ao princípio de direito intertemporal tempus regit actum. TST-ROT-7994-
47.2017.5.15.0000, SBDI-II, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 18/5/2021 –
Informativo TST n.º 237.

A divergência jurisprudencial pontual instalada nesta Corte Superior, após o trânsito em


julgado da decisão rescindenda, não se presta a legitimar a compreensão do Tribunal
Regional acerca da possibilidade da cumulação dos adicionais de insalubridade e de
periculosidade provenientes de fatos geradores distintos. No caso, verificou-se que, à
época da prolação do acórdão rescindendo, a jurisprudência neste Tribunal Superior do
Trabalho era unânime no sentido da impossibilidade de cumulação dos referidos
adicionais, não havendo qualquer controvérsia a respeito da matéria. Desse modo, a
oscilação jurisprudencial que se seguiu, em momento posterior à decisão rescindenda e
de seu trânsito em julgado, a partir de julgados da 7ª Turma desta Corte, não poderia
autorizar a compreensão regional objeto da pretensão rescisória. Ao prolatar o acórdão
rescindendo, a Corte Regional desviou-se da pacífica, notória e reiterada jurisprudência
deste TST, por suas oito turmas e pela SBDI-I, incorrendo em inescusável afronta ao art.
193, § 2º, da CLT. Sob esse fundamento, a SBDI-II, por maioria, vencida a Exma. Ministra
Maria Helena Mallmann, que aplicava o óbice da Súmula 83, I, desta Corte, deu
provimento ao recurso ordinário interposto pelo autor, rescindindo a coisa julgada
formada nos autos da ação matriz, e, em novo julgamento, julgou improcedentes os
pedidos formulados na petição inicial, invertendo-se os ônus da sucumbência. TST-RO-
21209-33.2016.5.04.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria Helena Mallmann, red. p/ acórdão Min.
Douglas Alencar Rodrigues, 29/6/2021 – Informativo TST n.º 240.

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A data do efetivo trânsito em julgado corresponde ao dia imediatamente subsequente


ao último dia do prazo para a interposição do recurso, iniciando-se a contagem do prazo
decadencial para ajuizamento da ação rescisória no dia seguinte, nos termos do inciso I
da Súmula nº 100 do TST, e findando-se no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência, conforme artigo 132, § 2º, do Código Civil. TST-
RO-1293-83.2016.5.05.0000, SBDI-II, red. p/ acórdão Min. Renato de Lacerda Paiva, 10/8/2021
– Informativo TST n.º 241.

A existência de decisões em reclamações constitucionais que indiquem mudança de


entendimento firmado em tema de repercussão geral não autoriza a utilização da ação
rescisória para desconstituir decisão proferida em harmonia com o entendimento
firmado, à época, pelo Plenário do STF. TST-ROT-200-94.2020.5.14.0000, SBDI-II, rel. Min.
Evandro Pereira Valadão Lopes, 9/11/2021 – Informativo TST n.º 247.

Ação anulatória

Cabimento

Ação anulatória não é a via adequada para provimento de natureza condenatória, nem
pode servir para regular os efeitos financeiros de eventual nulidade de cláusula
declarada. TST-RO-1000037-04.2018.5.02.00009, SDC, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins
Filho, red. p/ o acórdão Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 22/2/2021 – Informativo TST n.º
232.

Auto de infração

Trata-se de ação anulatória ajuizada pela empresa em que postula a anulação dos autos
de infração e das multas que lhe foram impostas, por erro na capitulação da infração,
em razão dos descontos indevidos de contribuições assistenciais/confederativas de
empregados não sindicalizados. Segundo normativo interno do extinto Ministério do
Trabalho e Emprego, art. 14, V, da Portaria 854/2015, o auto de infração conterá a
capitulação do fato mediante citação expressa do dispositivo legal infringido. Do
que se depreende do acórdão regional, “o Auditor Fiscal do Trabalho durante o período da
fiscalização (início abril/2015-autuação 01/09/2015), constatou que os salários não eram
quitados integralmente até o quinto dia útil do mês subsequente ao trabalhado (a partir da
competência de abriu/2011), ante a realização indevida de descontos efetuados a título de
contribuição assistencial e confederativa de empregados não sindicalizados”. Logo, a
infração cometida pela empresa, conforme constatado pelo agente público, estava
ligada ao desconto indevido efetuado a título de contribuição assistencial e
confederativa de empregados não sindicalizados sem respectiva autorização. Tal como

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reconhecido pelo TRT, “ficou evidente a inobservância, por parte da empresa autora, do
artigo 545, caput, da CLT, além do Precedente Normativo n. 119 do TST, os artigos. 5º, XX e 8º,
V, da Constituição Federal de 1988 e a Súmula Vinculante n 40 do STF”. A infração cometida
pela empresa, portanto, não tem relação com a falta de pagamento de salários no
seu devido tempo (art. 459, §1°, da CLT), mas na efetivação de descontos das
contribuições sindicais sem autorização (artigos 545, caput e 462 da CLT).
Realmente, a capitulação do auto de infração se mostra incorreta. Como as ações
da administração pública devem estar estritamente em conformidade com a lei,
sob pena de nulidade, então não se pode conferir validade ao auto de infração que
não se reporta corretamente à infração cometida. Recurso de revista conhecido por
ofensa aos arts. 5º, II e 37, caput, da CF/88 e provido. TST-RR-12774-75.2015.5.15.0137, 3ª
Turma, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 8/9/2021 – Informativo TST
n.º 243.

Fazenda Pública em Juízo

Legitimidade

Pessoa jurídica de direito privado, integrante da Administração Pública Indireta,


somente tem legitimidade para o pedido de suspensão de liminar e de sentença
caso resulte configurada atuação na defesa de interesse público primário, e não
de interesse meramente patrimonial. Com fulcro na jurisprudência deste colendo TST
e do egrégio STJ, no sentido de que a legitimidade ativa de pessoa jurídica de direito
privado integrante da Administração Pública Indireta para apresentar pedido de
suspensão de liminar e de sentença restringe-se às hipóteses em que atua na defesa de
interesse público primário, o Órgão Especial, por unanimidade, manteve a decisão
agravada que reconheceu não configurada a legitimidade excepcional da requerente,
uma vez que as alegações veiculadas pelo pedido de suspensão não evidenciam a
necessidade de tutela da economia e da ordem públicas, mas sim estão relacionadas ao
exercício de atividade econômica pela requerente, revelando a defesa de interesse
estritamente patrimonial. Nesse contexto, resultou mantida a decisão que julgou extinto
o processo sem resolução do mérito, com espeque no art. 485, VI, do CPC de 2015, por
ilegitimidade ativa. TST-OE-SLS-1001214-86.2020.5.00.0000, Órgão Especial, rel. Min. Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, 9/8/2021 – Informativo TST n.º 241.

Sociedades de economia mista

Aplica-se às sociedades de economia mista, que atua em serviço público essencial,


em regime não concorrencial e sem distribuição de lucros, os benefícios
processuais da Fazenda Pública. O STF tem estendido algumas prerrogativas da

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Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços


públicos, quando não atuam em regime de concorrência e não há comprovação de
acúmulo ou distribuição de lucros, tais como a ECT, Infraero e diversas companhias
estaduais de saneamento básico (Rcl 33893 MC/PB, relator Min. Roberto Barroso,
julgamento em 28/3/2019). No caso específico, em razão da aplicação das prerrogativas
inerentes à Fazenda Pública, é desnecessário o pagamento do depósito recursal e das
custas processuais para interposição do recurso ordinário e demais recursos, ante a
isenção do preparo. TST-E-ED-ARR-1609-56.2016.5.13.0006, SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico
Vitral Amaro, 13/5/2021 – Informativo TST n.º 237.

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