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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUÍZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE JUTAÍ-AMAZONAS

Taissa Oliveira Santiago, brasileira, solteira, portadora do RG nº 2933432-2 e


inscrita no CPF sob o n° 032.534.582-10, residente e domiciliada na Rua São Francisco,
n° 26, Bairro: Centro, Jutaí-AM, CEP: 69660-000, vem, mui respeitosamente perante
Vossa Excelência, por meio de seu advogado subscritor (procuração em anexo), propor
a seguinte:

AÇÃO DE PERDAS E DANOS C/₢ AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR PAGO


POR LOCADOR EM DOBRO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de Rosa Maria Pinheiro da Silva, brasileira, solteira, autônoma,


portadora do RG nº 2944309-1 SSP/AM e inscrita no CPF sob o n° 032.132.732-28,
residente e domiciliada no Beco Mario Andreazza, S/nº, Bairro São José, Jutaí-Am,
CEP. 69660-000, nas razões de fato e de direito a seguir expostas.

DOS FATOS

Com efeito, em 20 de junho de 2023, a requerente entrou em contato com a


requerida com o interesse de alugar um imóvel situado no Beco Mario Andreazza, s/n,
São José. Ocorre que a requerida impôs como condição para a tradição do contrato o
deposito prévio do valor de R$ 800,00 (oitocentos reais) equivalentes a um mês de
aluguel do imóvel, condição que foi prontamente atendida pela autora, comprovado em
Pix em anexo que foi efetuado no dia 20/06/2023 às 15:26:01. O fato de que o
pagamento deveria ser efetuado antes mesmo da assinatura do contrato e da efetiva
entrada no imóvel chamou a atenção da então pretensa locadora, que não questionou a
princípio, pois, queria, de boa-fé, mudar-se para aquele endereço por questões pessoais.

No dia 23 de junho, veio o primeiro questionamento quanto a entrega da chave


do imóvel para que a autora pudesse fazer sua mudança, foi então que os problemas
estruturais da casa começaram a se revelar para a locadora, um dos quartos do imóvel
estava sem caixa de ar e a proprietária do imóvel se dispôs a mandar fazer a tal caixa,
foi combinado então que a autora deixaria um fogão e uma botija no imóvel antes de ela
efetivamente se mudar para aquele local e a ré aceitou sem questionar nada a respeito.

No dia 3 de julho de 2023 a requerente questionou mais uma vez a autora quanto
a problemas do imóvel, na ocasião, a falta de água foi o motivo do questionamento, a
mãe da requerida afirmou que aquela falta de água se tratava de problema causado pela
má prestação do serviço público. No entanto, a autora afirma e comprova com “prints”
de conversa entre ela e a ré que a matriz do problema era mesmo a bomba que enchia os
tanques de água que abasteciam o imóvel, portanto, a responsabilidade de terceiros pela
falta de água na residência é excluída, uma vez que o problema de distribuição de água
é anterior ao início das negociações de aluguel da residência e que era de conhecimento
da locatária a necessidade de uma bomba d’agua para que a casa não ficasse
desabastecida.

No dia 11 de julho de 2023, ou seja, 21 (vinte e um) dias após efetuado o


pagamento referente a primeira mensalidade, a locatária afirmou que os tanques
estavam cheios, a bomba era ótima e que havia apenas um vazamento no tanque
principal, mas que seria resolvido, no entanto, já era suficiente para que a locadora se
mudasse para o local.

Sete dias depois, no dia 18 de julho de 2023, a locadora questionou mais uma
vez a locatária sobre o problema de falta de água, a resposta dada foi que a proprietária
do imóvel tinha esvaziado a caixa para fazer uma benfeitora no piso de fora. Nesse
mesmo dia, a locadora foi até o imóvel, mas ele estava fechado, horas depois a ré
afirmou que manteria o contrato para vencimento no dia 20 de cada mês e que iria
providenciar uma cópia da chave do imóvel para a autora. Nesse momento a autora
questionou o porquê de ser aquela data uma vez que ela não tinha se mudado para o
imóvel devido a falta de água e aos demais problemas estruturais do imóvel. A ré afirma
no mesmo trecho da conversa que o problema da água foi resolvido, o que contradiz ela
mesmo que no dia 11 daquele mês que ainda havia um vazamento no tanque principal
da casa, além do mais, foi constatado que o ralo do banheiro estava entupido e que a
casa estava alagada no dia 18.

No mesmo dia 18, a então locatária questionou a locadora sobre qual seria o dia
da sua mudança, uma vez que, segundo ela, o problema da água já estaria resolvido.
Porém, a autora só recebe seu salário no final de mês e propôs a mudança da data do
vencimento das mensalidades referentes ao pretenso aluguel do imóvel. A ré aceitou a
proposta, mas impôs como condição, o pagamento da diferença entre o dia do
pagamento acordado anteriormente e a data que a autora pretendia por como o dia dos
vencimentos. Afirmou ainda que ela teria de redigir um novo contrato e que esse novo
contrato acarretaria mais custas que deveriam ser pagas pela autora.

Logo em seguida aos fatos narrados anteriormente, a então locatária afirma em


mensagem de texto enviada via WhatsApp que a parte autora tem de saldo de “um
mês dentro”, ou seja, R$ 800,00 (oitocentos reais).

Em conversa entre os dias 19 e 27 de julho, elas firmaram acordo no qual a ré se


propôs a pagar os valores pagos pela autora até o final daquele mês de julho de 2023,
uma vez que a autora não se mudou para o imóvel pretendido devido a todos os
problemas narrados acima. No dia 29 daquele mesmo mês, a ré disse que não faria o
pagamento naquele dia porque “ainda não era final do mês”. Dia 2 de agosto de 2023, a
ré afirmou que não poderia mandar o dinheiro naquele momento, mas que “assim que
pudesse enviaria” e pediu graças a compreensão da ré, que questionou quando seria
feito esse pagamento e que ela estaria precisando de ao menos uma parte naquele
momento. No dia 8 de agosto de 2023 a autora questionou mais uma a ré sobre o
dinheiro, a ré mais uma vez afirmou que “assim que tivesse mandaria”. No entanto,
além de não restituir os valores pagos pela ré, ainda deixou de responder as mensagens
enviadas pela requerente e não mais deu satisfação do dinheiro, disse ainda que pelo
fato de autora fazer tanta questão do dinheiro ela não teria condições de buscar na
justiça a restituição daqueles valores.
Diante dos fatos narrados, não restou outra alternativa a autora senão recorrer ao
Poder Judiciário para pleitear a restituição dos valores pagos indevidamente, bem como
a reparação pelos danos morais sofridos causados pelo constrangimento de ter de pagar
por bem inutilizado e sem as devidas condições de ser uso, bem como pelo desdém da
ré ao afirmar que a autora não teria condições de buscar a tutela do estado para
resguardar seus direitos.

PRELIMINARMENTE:

DA DESNECESSIDADE DE AUDIÊNCIA

Por ser matéria unicamente de Direito, o autor entende desnecessária a audiência


inaugural de conciliação, requerendo assim o Julgamento da Lide após a devida
intimação da parte requerida para oferecer Contestação.

DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

A Requerente, de baixa renda, sem condições de arcar com as custas judiciais,


requer a isenção das mesmas, conforme declaração de hipossuficiência em apenso.
Ainda, o FOAMJE (21ª. Reunião do FOAMJE – 13/12/2018), assegurou:

ENUNCIADO 06: “O benefício de gratuidade judiciária pode ser concedido,


sem maiores perquirições, aos que tiverem renda mensal de até 05 (cinco) salários
mínimos.” (21ª. Reunião do FOAMJE – 13/12/2018). (g. N.)

Por tais razões, pleiteiam-se os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados


pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015 (CPC), artigo 98 e
seguintes, bem como o art. 54 da Lei 9.099/95.

III – DO DIREITO

Conforme reza o artigo 565 do Código Civil, o contrato de locação de coisa é


firmado quando uma das partes se obriga a ceder à outra o uso e gozo de coisa ,
mediante certa restituição.

Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por
tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
retribuição. (grifo nosso)
Portanto, evidencia-se o pretenso objeto e o tipo de contrato que seria firmado
entre as duas partes desta ação, que seria, o aluguel de imóvel localizado no Beco Mário
Andreaza, s/n, São José, Jutaí-Am, CEP: 69660-000.

Dos contratos de locação de coisa nascem direitos, deveres e obrigações tanto


para locador quanto para locatário, dentre eles, está a obrigação do locador entregar a
coisa alugada em estado de servir ao uso a que se destina e mate-la, conforme
expressa o Art. 566, I, do CC/2002:

Art. 566. O locador é obrigado:

I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de


servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato,
salvo cláusula expressa em contrário; (grifo nosso)

Desta forma, verifica-se que a locadora do imóvel não cumpriu com suas
obrigações ao não entregar o imóvel com as devidas condições de uso a que se destina,
ou seja, moradia, pois não se pode viver em uma casa sem abastecimento de água,
elemento essencial para a vida humana, útil tanto para o preparo de alimentos, como
para consumo, limpeza e higiene pessoal, além dos problemas na tubulação que faziam
a casa a alagar.

Além do mais, o mesmo artigo 566, inciso II do Código Civil garante ao


locatário o uso pacífico do bem:

Art. 566. O locador é obrigado:

(...)

II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.

Observa-se que antes mesmo de assinado o contrato de locação do referido


imóvel, a obrigação de garantir o uso pacífico daquele bem já foi violado, uma vez que
a autora não tinha a posse da chave da residência e a ré entrava no imóvel sem a
permissão da locatária, como comprovado em prints de conversas entre elas no
WhatsApp, no qual senhora Rosa afirma que esvaziou a caixa d’água para fazer reparo
no piso externo.

O Código Civil resguarda o locatário de resolver o contrato caso este não sirva
para o fim a que se destina, conforme o Art. 567:

Art. 567. Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do
locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato,
caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.

É notório o direito da autora de resolver o contrato em caso de deterioração da


coisa sem sua culpa, portanto, é de interesse dela a devolução da quantia paga tanto pela
não tradição do contrato devido a falta de entrega da coisa, quanto pelas más condições
do imóvel que o tornou inapropriado para o fim a que se destina (moradia).

O locatário também é sujeito de obrigações, tais como os requisitos do Art. 569,


I e II do Código Civil:
Art. 569. O locatário é obrigado:

I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos,


conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado
como se sua fosse; (grifo nosso)

II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de


ajuste, segundo o costume do lugar; (grifo nosso)

As obrigações da locatária mostram-se plenamente satisfeitas, uma vez que o


pagamento do aluguel foi efetivado na data combinada entre elas (dia 20 de cada mês) e
ela pretendeu servir-se da coisa para o uso presumido, infelizmente a falta do
cumprimento das obrigações da ré causaram prejuízo e constrangimento para a autora,
que teve que recorrer a via judicial para buscar seu direito de estorno do valor pago
antecipadamente a título de vencimento de mensalidade e garantia de contrato.

As perdas e danos resultantes das práticas da autora vão desde a quantia de R$


800,00 (oitocentos reais) pagas até ao desdém da ré ao afirmar que a autora não teria
condições de ter seus direitos amparados pelo Poder Judiciário, satisfazendo o
mandamento do Art. 402 CC/2002:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos


devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar.

A autora pagou a mensalidade do imóvel sem nem mesmo utilizar-se dele, é


evidente a caracterização de perdas e danos decorrentes da falta de condições de uso do
imóvel e da falta de efetiva tradição do contrato não assinado.

O valor pago inicialmente para a ré a titulo de vencimentos caracteriza-se como


Arras ou Sinal, pois foi feito para assegurar que o contrato seria efetivado e que o objeto
do contrato estaria em conformidade com as necessidades ao qual se destina, desta
forma, o Art. 418 do Código Civil diz o seguinte:

Art. 418. (...); se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as
deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado. (grifo nosso)

Desta forma, deverá a ré pagar o valor de R$ 800,00 em dobro, uma vez que
presume-se que a exigência de depósito prévio deste valor para assegurar a efetivação
do contrato preenche o conceito de arras uma vez que Arras ou Sinal:

“Constituem uma garantia, geralmente em dinheiro ou bens móveis, que tem


como finalidade de firmar o negócio e obrigar que o contrato seja cumprido...”

Em seguida, o Art. 419 do CC/2002 permite que a parte inocente peça


indenização suplementar em caso de maiores prejuízos:

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar


maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. (...). (grifo nosso)
Indo além, o art. 186 do CC/2002 diz o seguinte:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito. (grifo nosso)

As condutas apresentadas pela ré constituem ato ilícito, uma vez que ela causou
dano patrimonial ao exigir arras para a tradição de contrato de locação de imóvel bem
como violou a moral da ré ao afirmar que ela não teria condições de buscar a tutela
jurisdicional do estado por estar fazendo questão daquele valor que a ré alegou ser
baixo.

Nesta linha de pensamento, o art. 927 do mesmo diploma legal diz:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. (grifo nosso)

Portanto, é de responsabilidade da ré o dever de indenizar a autora pelos danos


morais e materiais apresentados acima, respeitando-se como limite mínimo o valor de
R$ 800,00 conforme mandamento do art. 419, CC/2002.

IV - DOS PEDIDOS

Diante o exposto, requer:

a) A citação da requerida, por todos os meios possíveis querendo que conteste a


presente ação, sob pena de revelia, confissão e demais cominações legais;
b) O RESSARCIMENTO PELOS DANOS MORAIS na ordem de R$ 800,00
(oitocentos reais), devidamente corrigido pelo INPC a partir da sentença
(S.362 do STJ) e juros de mora de 1% a partir do primeiro desconto indevido (S.
54 do STJ). Visto que não há prévio liame contratual entre as partes que
embasasse a cobrança;
c) A restituição em dobro do valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), pagos a título
de vencimentos, Arras ou Sinal, conforme o art. 419, CC/2002, ou seja, R$
1.600,00 (mil e seiscentos reais);
d) Os BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA, nos termos de declaração de
hipossuficiência que ora se faz consoante preconizam o artigo 5°, inciso
LXXIV da Constituição Federal c/c. artigos 98 e 99 do Código de Processo
Civil;
e) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
inclusive prova testemunhal, depoimento pessoal dos representantes das
demandadas sob pena de confissão, juntada ulterior de documentos e tudo mais
que se fizer necessário para a perfeita resolução da lide, o que fica, desde logo,
requerido;
f) Não possui interesse na realização de audiência de mediação/conciliação.
g) Que a empresa ré seja condenada ao pagamento 20% a títulos de honorários
advocatícios, com base no Art. 85 do CPC;

Dá-se se à causa o valor de R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais)

Jutaí, 29 de agosto de 2023

Tiago Vasques Laurentino

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