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A arguição de relevância do recurso especial

A ARGUIÇÃO DE RELEVÂNCIA DO RECURSO ESPECIAL


The claim of relevance of the special appeal
Revista de Processo | vol. 334/2022 | p. 185 - 203 | Dez / 2022
DTR\2022\17307

Rennan Thamay
Pós-Doutor pela Universidade de Lisboa. Doutor em Direito pela PUC/RS e Università degli Studi di
Pavia. Mestre em Direito pela UNISINOS e pela PUC Minas. Especialista em Direito pela UFRGS.
Professor Titular do programa de graduação e pós-graduação (Doutorado, Mestrado e
Especialização) da FADISP. Professor da pós-graduação (lato sensu) da PUC/SP, do Mackenzie e
da EPD – Escola Paulista de Direito. Professor Titular do Estratégia Concursos e do UNASP.
Presidente da Comissão de Processo Constitucional do IASP (Instituto dos Advogados de São
Paulo). Membro do IAPL (International Association of Procedural Law), do IIDP (Instituto
Iberoamericano de Derecho Procesal), do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Processual), do IASP
(Instituto dos Advogados de São Paulo), da ABDPC (Academia Brasileira de Direito Processual Civil),
do CEBEPEJ (Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais), da ABDPro (Associação
Brasileira de Direito Processual) e do CEAPRO (Centro de Estudos Avançados de Processo).
Advogado, administrador judicial, árbitro, mediador, consultor jurídico e parecerista.
rennan.thamay@hotmail.com

Bernardo Silva de Seixas


Doutor em Direito Constitucional pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP.
Mestre em Direito Constitucional pela Instituição Toledo de Ensino – ITE/Bauru. Especialista em
Processo Constitucional e Garantia de Direitos Fundamentais pela Universidade de Pisa-Itália.
Especialista em Direito Processual pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas
(CIESA). Professor Universitário da Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), Escola Superior da Magistratura do Amazonas (ESMAM), CIESA, Escola
Superior da Advocacia – Seccional Amazonas (ESA/AM), Escola Superior da Defensoria Pública do
Estado do Amazonas (ESUDPAM). Professor de Graduação em Direto da UFAM e Unilasalle.
seixas.bernardo@gmail.com

Área do Direito: Processual


Resumo: O presente trabalho tem por temática o Poder Judiciário no atual estágio do
constitucionalismo brasileiro. A delimitação reside no órgão jurisdicional denominado de Superior
Tribunal de Justiça e as relevantes modificações ocorridas a partir da vigência da Emenda
Constitucional 125/2022, que incluiu como requisito de admissibilidade do Recurso Especial a
arguição de relevância. A problemática primordial deste ensaio busca encontrar respostas para os
questionamentos a respeito da aplicabilidade da arguição de relevância, mormente como ocorrerá
sua comprovação pelos jurisdicionados no ato de interposição do recurso, uma vez que ainda não há
legislação específica para regulamentar a temática. Com utilização do método hipotético-dedutivo,
buscam-se respostas aos questionamentos propostos para instrumentalizar com maior segurança
jurídica a interposição do Recurso Especial perante o STJ.

Palavras-chave: Constitucionalismo – Poder Judiciário – Superior Tribunal de Justiça – Recurso


Especial – Arguição de relevância
Abstract: The present work has as its theme the Judiciary in the current stage of Brazilian
constitutionalism. The delimitation resides in the jurisdictional body called the Superior Court of
Justice and the relevant changes that occurred from the validity of Constitutional Amendment n.
125/2022, which included the claim of relevance as an admissibility requirement. The main problem of
this essay seeks to find answers to the questions regarding the applicability of the argument of
relevance, especially how it will be proved by the jurisdictions in the act of filing the appeal, since
there is still no specific legislation to regulate the theme. Using the hypothetical-deductive method,
answers are sought to provide greater legal certainty for the filing of the special appeal before the
STJ.

Keywords: Constitutionalism – Judicial power – Superior Justice Tribunal – Special resource –


Argument of Relevance
Para citar este artigo: Thamay, Rennan; Seixas, Bernardo Silva de . A arguição de relevância do
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A arguição de relevância do recurso especial

recurso especial.Revista de Processo. vol. 334. ano 47. p.185-203. São Paulo: Ed. RT, dezembro
2022. Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:

1.Introdução - 2.A separação dos poderes na Constituição da República Federativa do Brasil - 3.Da
competência do Superior Tribunal de Justiça na Constituição Federal de 1988 - 4.A arguição de
relevância desenvolvida pela Emenda à Constituição 125/2022 - 5.Conclusão - 6.Referências

1.Introdução

A presente temática objeto deste ensaio se inicia na questão atinente à separação de poderes e no
órgão que exerce a função jurisdicional, no caso, o Poder Judiciário, tendo, ainda, como delimitação
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e suas competências jurisdicionais, mormente no
processamento e julgamento do Recurso Especial (REsp) que, a partir da vigência da Emenda
Constitucional 125/2022 (LGL\2022\8470), necessita da comprovação de mais um requisito de
admissibilidade, denominada pelo próprio poder constituinte reformador de arguição de relevância.

A partir desse contexto, justifica-se o tema e a delimitação em razão da importância do STJ para o
contexto dos litígios no Brasil, sejam os individuais, sejam os coletivos, uma vez que a própria
Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88 (LGL\1988\3)) concede a esse órgão
jurisdicional a derradeira decisão a respeito da escorreita interpretação da lei federal.

Esse cenário, inclusive, potencializa-se a partir da excessiva atividade legiferante do Congresso


Nacional a partir do exercício das competências legislativas contidas na CF/88 (LGL\1988\3), sejam
aquelas contidas no art. 22 – competência privativa da União Federal –, sejam aquelas contidas no
art. 24, que disciplina a denominada competência legislativa concorrente entre o ente central e o
Estado-Membro e o Distrito Federal.

Em decorrência da importância da temática, a problemática norteadora deste artigo reside em apurar


a extensão e o alcance do novo requisito de admissibilidade recursal do REsp, denominado de
arguição de relevância para os jurisdicionados que interpõem o Recurso Especial, assim como para
o próprio STJ, pois é possível que esse novo requisito de admissibilidade ocasione uma modificação
de atuação desse Tribunal Superior. Ao fim, questiona-se, também, se a modificação constitucional
será capaz ou não de tornar o STJ uma corte de precedentes ao invés de uma corte de justiça.

O objetivo geral é abordar as principais consequências processuais da inclusão desse requisito de


admissibilidade ao REsp, assim como, de forma específica, abordar o Poder Judiciário no atual
cenário constitucional brasileiro, estudar as competências do STJ, bem como se debruçar sobre as
opções normativas do poder constituinte reformadas ao regulamentar a arguição de relevância.

Para tanto, orientando-se por um critério hipotético-dedutivo, no primeiro tópico, examina-se a


separação de funções, a função jurisdicional e, de forma genérica, os órgãos do Poder Judiciário a
partir da Constituição Federal de 1988.

Após, no segundo estágio, abordam-se as competências contidas no art. 105 da CF/88


(LGL\1988\3), examinando-se, superficialmente, as atribuições originárias e recursais,
mencionando-se, inclusive, a existência do recurso ordinário constitucional e, principalmente, do
REsp.

Ao final, de forma específica, examina-se cada ponto acerca dos §§ 2º e 3º incluídos no art. 105 da
CF/88 (LGL\1988\3) pela Emenda Constitucional 125/2022 (LGL\2022\8470).

2.A separação dos poderes na Constituição da República Federativa do Brasil

Antes de adentrar de forma específica à novel regulamentação contida no art. 105, convém, ainda,
tecer pequenas linhas a respeito dos órgãos do Poder Judiciário e, principalmente, dos denominados
Tribunais Superiores, em especial o STJ.

O Estado brasileiro, com o escopo de evitar a concentração desarrazoada de poder em apenas um


órgão público, valeu-se da técnica da separação dos poderes para evitar arbítrios.

Neste momento, impõem-se mencionar que a teoria da separação dos poderes é tão importante para
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a teoria jurídica do constitucionalismo que o art. 16 da Constituição Francesa de 1791 determina que
“toda sociedade na qual não esteja assegurada a garantia dos direitos do homem nem determinada
a separação de poderes, não possui Constituição”.1 Tal fato deve-se à concepção de que o único
meio de se impor limites àqueles que exercem o poder é por meio de uma Constituição.

Todavia, faz-se a ressalva, com fundamento em Nelson Saldanha2, que a teoria da separação dos
poderes está intimamente ligada à noção de política, sendo objeto de estudo desta mais do que das
ciências jurídicas, pois:

“[...] significa que suas conotações histórico-filosóficas convergem para o tema central do poder
(organização, exercício, fundamentação); significa também que suas conotações jurídicas
concernem ao chamado ‘direito político’ (mais talvez do que ao denominado direito público) e que o
plano constitucional, através do qual os poderes se instituem e se definem, assume, no tocante ao
tema, um cunho eminentemente político, implicando visão global e tendência ideológica.”

Para além da dispersão do poder em, ao menos, três órgãos – Executivo, Legislativo e Judiciário –,
criou-se o mecanismo de check and balances em que, de forma excepcional, é permitido que uma
função interfira em outra quando o ente originário não exerça suas competências ou as utilize de
forma abusiva.

Ainda no tocante à separação de poderes – que hoje pode ser compreendida de modo diverso do
que classicamente sempre se defendeu –, para além da criação dos órgãos que exerceram as
atribuições estatais e a previsão dos mecanismos de interferência lícitos, a Constituição Federal
disciplina as funções típicas, ou seja, aquelas que competem ao órgão criado pelo poder constituinte
exercerem com primazia. Sobre a questão das funções inerentes à separação dos poderes, veja-se
o que afirma André Ramos Tavares3:

“Assim, no âmbito de uma concepção clássica de ‘separação dos poderes’, não pode o juiz, em
nenhuma hipótese, cruzar fronteiras funcionais, para tornar-se legislador, sem atentar diretamente
contra a soberania popular e o modelo democrático de Estado. Ajusta-se a essa concepção apenas
o juiz conforme a lei, jamais o juiz da lei ou o juiz no lugar da lei.”

Como a intenção dessas palavras visam a abordar somente uma das funções constitucionalmente
previstas, restringe-se essa abordagem ao Poder Judiciário, que, na vigência do atual texto
constitucional, precipuamente, exerce a função jurisdicional. Sobre essa função, veja-se o
posicionamento que anteriormente tivemos a oportunidade de defender:

“De acordo com a Constituição (art. 2º), os três Poderes são independentes e harmônicos entre si.
Em nosso sistema jurídico, o Judiciário é relativamente autônomo. Apresenta-se, por um lado, como
um superpoder, pois tem competência para julgar e tornar sem efeito atos da Administração e até
para julgar e declarar inconstitucionais as próprias leis que é chamado a aplicar. Apresenta-se, por
outro lado, como um subpoder, pois é organizado pelo Legislativo e deve obediência à lei. É
sobretudo pelo poder de reformar a Constituição que se afirma a primazia do Congresso Nacional”4.

Por função jurisdicional se entende, sem olvidar de outros conceitos, a função típica estatal de
resolver, em definitivo, os conflitos de interesse ocorridos na sociedade que são apresentados pelos
litigantes ao Poder Judiciário, a partir do exercício do direito público subjetivo de ação, tendo este,
inclusive, natureza de direito fundamental ante a sua previsão contida no art. 5º, XXXV5, da CF/88
(LGL\1988\3). Na oportunidade, cita-se entendimento firmado por nós sobre esse dispositivo
constitucional:

“O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional é aquele que, como a própria denominação


indica, assegura a todo cidadão, que se ache lesado ou ameaçado em seus direitos, o efetivo acesso
aos órgãos judiciais, para que lhe seja prestada a tutela jurisdicional, sendo vedado à lei proibir esse
acesso.

Nessa toada, segundo o art. 5º, XXXV, da Constituição, “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Evidencia-se que esse princípio está dirigido ao cidadão, sendo vinculado ao Poder Judiciário que,
como fruto do acesso à justiça, ou seja, o acesso à ordem jurídica justa e ao Poder Judiciário,
garantir-se-á que lesão e/ou ameaça a direito será passível de ser conhecida e solvida pelo
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Judiciário, sendo impossível afastar deste poder estatal o dever de prestar a tutela jurisdicional e o
direito de o cidadão, por tudo isso, exigi-la”6.

Para cumprir com essa função e ante a natureza complexa dos conflitos da sociedade hodierna, o
poder constituinte originário dividiu o Poder Judiciário em diversos órgãos, desenvolvendo os
conceitos de jurisdição comum, em que não há uma matéria de competência específica, e a
jurisdição especializada, cuja disciplina constitucional prevê, atualmente, o exame de questões
trabalhistas, eleitorais e militares por órgãos jurisdicionais com competências específicas, para
resolução desses conflitos que abordam o direito material, regulamentado pela Consolidação das
Leis do Trabalho, legislação eleitoral e as leis castrenses.

Por conseguinte, no âmbito da denominada jurisdição comum, para além da divisão entre jurisdição
comum estadual e federal, tem-se como Tribunal Superior o STJ, também denominado como
Tribunal da Cidadania.

Sobre a função de Tribunais Superiores, ao qual se inclui também o STF, veja-se o comentário de
Rodovalho7

“As cortes Constitucional e Federal representam a culminância da atividade jurisdicional,


expressando a última palavra em matéria constitucional (STF) ou federal (STJ) e unificando o
entendimento sobre a matéria, a fim de que haja integridade no sistema jurídico nacional. Essa é a
ratio essendi das Cortes Constitucionais e Federal no Brasil. Assim, a ideia de Cortes Superiores
(STF e STJ) é dar à sociedade certa previsibilidade (racionalidade do discurso jurídico) das decisões,
para que cada cidadão saiba o que esperar e qual é o agire licere, não ficando refém de uma loteria
jurídica, que tanto compromete a vida dos cidadãos e afeto o mundo dos negócios (afetando
investimentos e impactando o denominado Custo Brasil). As Cortes Superiores (como instâncias
extraordinárias) consubstanciam-se, pois, em imprescindível instrumento de racionalização do
discurso jurídico, uniformizando o entendimento sobre a Constituição Federal (STF) e sobre a Lei
Federal (STJ), funcionando seus julgados como precedentes a orientar a atuação das instâncias
ordinárias, razão pela qual devem ser exemplares e paradigmáticos, pois seus ‘pronunciamentos
exorbitam do interesse das partes, projetando-se para toda a sociedade a verdade do seu
entendimento e nesta influindo’.”

Ante a sua importância, a própria Constituição Federal disciplina a composição dessa Corte Superior,
sendo composta de 33 (trinta e três) Ministros, conforme preceitua o art. 104 da CF/88 (LGL\1988\3),
tendo sua composição formada por um terço de representantes da magistratura, um terço de
membros da advocacia e um terço de membros do Ministério Público. Ressalta-se que podem
concorrer como representantes da magistratura, tanto membros de Tribunais Regionais Federais
como de Desembargadores de Tribunais de Justiça, sendo de atribuição do próprio STJ a formação
da lista tríplice.

Assevera-se que, quanto aos membros da advocacia e do Ministério Público, deve-se observar a
regulamentação prevista no art. 948 da CF/88 (LGL\1988\3), que prevê o critério temporal de 10 anos
de atuação na função, bem como, aos advogados, o notório saber jurídico e a reputação ilibada.

Abordadas essas pequenas linhas introdutórias a respeito do Poder Judiciário, sem a intenção de
esgotar a matéria, adentra-se, a partir do próximo tópico, de forma específica ao estudo da Corte
Cidadã.

3.Da competência do Superior Tribunal de Justiça na Constituição Federal de 1988

Superada a questão atinente à composição do STJ, mencionam-se suas competências


constitucionais, conforme previstas nos incisos do art. 1059. Sobre esse dispositivo, veja-se
comentário a respeito das competências jurisdicionais10 :

“Ao Superior Tribunal de Justiça compete essencialmente o controle da legalidade e a uniformização


da jurisprudência. [...]. É ampla a competência do Superior Tribunal de Justiça, estabelecida pelo
art. 105 da Constituição. Especialmente importante é sua competência para julgar, em recurso
especial, decisão final alegadamente contrária a tratado ou lei federal ou da que haja dado a lei
federal interpretação divergente da que lhe atribuiu outro tribunal (Constituição Federal, art. 105, III).”

Depreende-se do dispositivo legal, inicialmente, que há duas atribuições conferidas ao STJ pela
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Constituição, sendo elas a competência originária e as competências recursais.

As competências originárias, também denominadas de foro por prerrogativa de função, no âmbito do


Direito Processual Penal, disciplinam as hipóteses que, em razão da pessoa ou da matéria, o STJ irá
processar e julgar a causa de forma primeva, ou seja, será o primeiro órgão do Poder Judiciário a
realizar apreciação dos fatos e das normas jurídicas aplicadas ao litígio.

Por sua vez, a partir do inciso II, inferem-se as competências recursais, sendo previstos tanto o
Recurso Ordinário Constitucional (ROC) como o Recurso Especial.

O ROC tem por característica primordial a possibilidade de reexame de provas pelo STJ, uma vez
que, entre as hipóteses de sua admissibilidade, duas delas decorrem da necessidade de controverter
julgamento colegiado de pronunciamento proferido pelo Tribunal de Justiça (TJ) e pelo Tribunal
Regional Federal (TRF) no julgamento de Habeas Corpus e Mandado de Segurança em única ou
última instância. Na oportunidade, veja-se comentário próprio a respeito desse recurso:

“[...] o recurso ordinário é previsto na Constituição Federal e é em tudo e por tudo idêntico a uma
apelação, só que com hipóteses de cabimento heterogêneas e expressamente mencionadas pelo
legislador. A competência para apreciação do mérito deste recurso é, conforme o caso, do STF ou
do STJ. Tem fundamentação livre (como a apelação, como o agravo), [...]. O recurso ordinário tem
efeito devolutivo em suas duas dimensões horizontal e vertical. Aquela é subordinada à vontade do
recorrente e esta diz respeito às demais causas de pedir, aos demais fundamentos da defesa, às
questões de ordem pública. Parte da doutrina denomina este último fenômeno de efeito translativo. O
recurso, como se equipara à apelação, tem efeito suspensivo, embora em decisões ditas
‘denegatórias’ não haja o que suspender [...].”11

Ainda, é possível a interposição do ROC em situação que não decorre de julgamento em única ou
última instância, mas, sim, em razão da presença de determinadas pessoas em um dos polos da
relação jurídica processual, sendo essas o Estado estrangeiro ou organismo internacional ou
Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil.

Ao fim, tem-se a regulamentação do REsp, sendo que o inciso III prevê a possibilidade de
interposição desse recurso quando for proferida decisão colegiada, em única ou última instância,
pelos TRF ou TJ, desde que a decisão recorrida contrarie tratado ou lei federal ou lhes negue
vigência; julgue válido ato de governo local contestado em face de lei federal ou o acórdão recorrido
conceda à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Assevera-se, oportunamente, que a competência recursal do STJ na apreciação do REsp é diferente


daquela exercida no ROC, uma vez que naquela não é possível, em regra, a reapreciação da prova.
Nesse sentido é a Súmula 7 do STJ: “a pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso
Especial”.

Ora, a partir da interpretação das competências recursais contidas no inc. III do art. 105 da CF/88
(LGL\1988\3), corroborado pela impossibilidade de reexame da matéria fática probatória do litígio
apresentado perante o Tribunal da Cidadania, desenvolveu-se a ideia de que o STJ, para além de
uma Corte de Justiça que aprecia provas no exame do ROC, é um órgão jurisdicional de pacificação
de interpretações divergentes da lei federal e dos tratados internacionais, bem como, com maior
amplitude a partir da vigência do Código de Processo Civil de 2015, uma corte formadora de
precedentes.

Sobre essa distinção de Cortes de Justiça e Cortes de Precedentes, cita-se Mitidiero12

“A solução que melhor atende à necessidade de economia processual e tempestividade da tutela


jurisdicional é a que partilha a tutela dos direitos em dois níveis judiciários distintos, correspondentes
às duas dimensões da tutela dos direitos. O ideal é que apenas determinadas cortes sejam
vocacionadas à prolação de uma decisão justa e que outras cuidem tão somente da formação de
precedentes. Assim, uma organização judiciária ideal parte do pressuposto da necessidade de uma
cisão entre cortes para decisão justa e cortes para formação de precedentes – ou, dito mais
sinteticamente, entre Cortes de Justiça e Cortes de Precedentes.

Essa novel função, de relevo para a pacificação dos litígios apresentados perante o STJ, é
significativa em razão da existência do REsp repetitivo13 em que, nos termos do art. 92714 , CPC
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A arguição de relevância do recurso especial

(LGL\2015\1656), as decisões do Tribunal da Cidadania que observem esse procedimento serão de


observância – e não de obediência irracional – obrigatória pelos TRF, TJ e juízos de primeira
instância. Na oportunidade, veja-se comentário de Marinoni15 a respeito do art. 927, CPC
(LGL\2015\1656):

[...] O art. 927, caput, somente pode ser compreendido como uma norma equivocada e destituída de
modéstia, pois a lei infraconstitucional não só não precisa dizer que as rationes decidendi das
decisões das Cortes Supremas tem eficácia obrigatória, como obviamente não pode ter a pretensão
de escolher as decisões ou definir os enunciados que podem ter essa eficácia. A eficácia obrigatória
das rationes decidendi das decisões das Cortes Supremas; e algo que logicamente deflui da leitura
da Constituição à luz da teoria do direito. Vale dizer que o art. 927, caput, deve ser compreendido
não só como norma que apenas exemplifica algumas hipóteses de decisões dotadas de eficácia
obrigatória, mas que também trata de hipóteses que nunca terão capacidade de efetivamente
garantir a unidade do direito.”

Todavia, embora a Constituição Federal vigente tenha evoluído as antigas regras de competência do
Tribunal Federal de Recursos (TRF), as elásticas competências, tanto a originária quanto a recursal,
do STJ, ocasionaram uma quantidade excessiva de demandas em tramitação nesse Tribunal
Superior.

Alinha-se para o aumento de tramitação das demandas no STJ, para além das atribuições conferidas
pela CF/88 (LGL\1988\3), o amplo acesso à justiça, a massificação dos conflitos e o desenvolvimento
de órgãos públicos que labutam perante essa corte, em especial o Ministério Público (MP) e a
Defensoria Pública (DP).

Não à toa, desde a vigência da Constituição Federal, o STJ tem aplicado a


denominada jurisprudência defensiva para diminuir a admissibilidade de recursos que são remetidos
pelos Tribunais de Justiça e Federais, citando-se, como exemplificação, a necessidade de indicação
da URL das decisões conflitantes entre Tribunais de segunda instância sobre determinada questão
ligada à interpretação da lei federal, tendo, inclusive, essa questão sido positivada pelo CPC/2015
(LGL\2015\1656), confira-se o art. 1.029, § 1º, CPC (LGL\2015\1656):

“Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição
Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em
petições distintas que conterão:

I – a exposição do fato e do direito;

II – a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III – as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

§ 1º Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência


com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em
mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de
julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte,
devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os
casos confrontados.”

Na oportunidade, veja-se a construção de Thiago Rodovalho16 sobre a jurisprudência defensiva:

“[...] nefasto efeito da criação da denominada jurisprudência defensiva, como forma encontrada pelo
STJ de fazer frente a um número inacreditável e invencível de processos. Assim, a jurisprudência
defensiva, como mal necessário, traduziu-se num instrumento por meio do qual o STJ, na análise da
admissão e conhecimento dos recursos, fá-lo com tal rigor formal e excessiva burocratização, em
detrimento da matéria, que recursos deixam de ser admitidos em razão de pequenos deslizes
meramente formais, como carimbo borrado, ausência de uma única página, guia preenchida
erroneamente, sem que se de possibilidade à parte de saná-lo. Essa foi a forma encontrada pelo
STJ, na ausência de um filtro adequado, de fazer uma triagem do absurdo número de processos que
chegam cotidianamente à corte.”

Sucede que, mesmo com todas as técnicas processuais previstas no ordenamento jurídico e/ou as
desenvolvidas pelo próprio órgão jurisdicional a partir da interpretação das normas jurídicas, não foi
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A arguição de relevância do recurso especial

possível diminuir o quantitativo expressivo de ações originárias e, principalmente, de recursos em


tramitação perante o STJ, sendo que esse Tribunal, até a competência 06/2022, tinha um acervo de
261.783 (duzentos e sessenta e um mil, setecentos e oitenta e três) processos, conforme informação
contida no próprio sítio na rede mundial de computadores do STJ, em consulta realizada no dia
20.07.2022.

Sobre essa questão, veja-se interessante comentário de Ovídio Araújo Baptista da Silva17 :

“Em virtude de circunstâncias históricas desconhecidas, esses tribunais, no caso brasileiro, o STF e
o STJ, ficam a meio do caminho, muitas vezes oscilando entre um verdadeiro juízo de cassação,
originariamente não jurisdicional, e uma terceira instância ordinária, alternativa esta última que se
harmoniza com a submissão do direito brasileiro à burocratização da função judicial, a que serve um
sistema de recursos, cuja vastidão não tem paralelo no mundo, além de ser altamente tolerante e
permissivo.”

É neste contexto de uma quantidade expressiva de recursos e demandas originárias, que surgem os
atuais §§ 2º e 3º do art. 105 da CF/88 (LGL\1988\3), que regulamentam o denominado incidente
(arguição) de relevância18 , ou seja, mais um requisito de admissibilidade recursal que as partes terão
de comprovar para que seus Recursos Especiais sejam conhecidos pelo STJ, que será objeto de
apreciação no próximo tópico.

4.A arguição de relevância desenvolvida pela Emenda à Constituição 125/2022

Demonstrado o atual cenário do STJ que, indubitavelmente, tem ocasionado uma dificuldade no
cumprimento de suas funções constitucionais, fato esse, público e notório, que tem levado ao próprio
Tribunal Superior, por meio de variadas súmulas e “precedentes”, ainda que de modo próprio, a
realizar controle forte na admissibilidade dos recursos interpostos e medidas ajuizadas na Corte
Cidadã, sendo que o que hoje se observa, em verdade, nada mais é do que tornar norma aquilo que
já se praticava, de certa forma, expondo, contudo, maiores rigores técnicos e maior segurança
jurídica ao jurisdicionado que pretende recorrer à corte máxima de interpretação da lei federal para
solucionar eventuais desacertos de julgamento feitos pelos TJ ou TRF.

A solução legislativa para readequação do STJ às funções primordiais fixadas pelo poder constituinte
originário foi o desenvolvimento da arguição de relevância, que, nas palavras de Arruda Alvim19 ,
pode ser assim sintetizada:

“A solução de outorga de maiores poderes ao STJ, através da possibilidade de escolha das causas
que são relevantes, é a solução possível, senão a única solução viável, e que a parte da
identificação verdadeiro do problema e o equaciona realística e adequadamente.”

Em relação às novidades constitucionais, indica-se que o § 2º impõe o dever do recorrente de


demonstrar a relevância das questões de direito federal infraconstitucional discutida no caso,
podendo ser interpretado, portanto, como um ônus, não sendo meramente especulativo, mas, sim,
consubstanciado em situação, eminentemente jurídica, que permita a atuação do STJ na pretensão
apresentada a sua apreciação.

Sucede que nesse contexto reside um questionamento de qual será exatamente a amplitude deste
conceito jurídico indeterminado chamado arguição de relevância?

Com efeito, a relevância das questões de direito federal infraconstitucional discutidas no caso
devem, portanto, saltar “aos olhos” para que possam ser enquadras dessa forma, devendo ser, a
nosso ver, exaustivamente, demonstrada pela parte recorrente, não sendo possível seu
conhecimento a partir de meros argumentos genéricos e abstratos que podem, inclusive, ofender o
princípio da dialeticidade recursal.

Não obstante, a parte recorrente deve demonstrar a sua importância para o contexto do processo,
claro, mas, mais ainda, para o contexto geral da interpretação a ser dada a referido texto normativo
de natureza infraconstitucional, sem olvidar, outrossim, da transcendência da questão discutida na
demanda, uma vez que, caso se apliquem por interpretação extensiva os requisitos da repercussão
geral, será imprescindível o recorrente demonstrar ao STJ que a sua pretensão recursal não reside
em um mero interesse subjetivo, mas, sim, transcende esses para atingir uma coletividade
indeterminada de pessoas que possam se encontrar na mesma relação jurídica objeto do Recurso
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A arguição de relevância do recurso especial

Especial e da tentativa de buscar uma resposta definitiva do órgão máximo de interpretação da lei
federal no Brasil.

Assim, pertinente registrar, de fato, que o adequado ante a importância da questão ora em debate e
posta na Constituição Federal seria que os parâmetros para preenchimento fossem definidos
diretamente pelo poder constituinte reformador.

Sucede que a opção normativa foi de relegar a atribuição de regulamentação à legislação ordinária,
ante a indicação do vocábulo “nos termos da lei” que a própria Constituição exige, postergando,
portanto, a regulamentação de forma, clara, objetiva e precisa desse conceito jurídico até este
momento indeterminado, a fim de que a admissão do recurso seja examinada pelo órgão jurisdicional
competente.

Por conseguinte, assevera-se que a forma como o recorrente irá comprovar a relevância das
questões infraconstitucionais federais será objeto de regulamentação por lei ordinária que, quando
discutida pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Chefe do Poder Executivo, provavelmente,
alterará o CPC/2015 (LGL\2015\1656), podendo-se defender ser o § 2º do art. 105 da CF/88
(LGL\1988\3) uma norma de eficácia limitada que somente terá efeito a partir da vigência de lei
federal que regulamente o instituto.

Todavia, esse posicionamento, um pouco mais defensivo, a nosso ver, possível ante o risco de
segurança jurídica e alto grau de discricionaridade do órgão competente para realizar o juízo de
admissibilidade, consubstancia-se na possibilidade de defender a inaplicabilidade do instituto até o
advento de uma regulamentação legal. Ademais, o fato de a expressão “relevância das questões de
direito federal infraconstitucional” ser uma cláusula aberta, por certo, admite inúmeras interpretações,
sendo prudente a regulamentação legal para concessão de segurança jurídica aos jurisdicionados e
evitar eventuais comportamentos defensivos por parte do órgão jurisdicional competente.

De outro lado, enquanto não vier norma, certamente a doutrina e o próprio STJ haverão de dar
contornos para o instituto, via interpretação jurisdicional, visando a que não seja uma construção
inócua e que, de fato, passe a ter significado e aplicação, pois importante para que o sistema de
justiça brasileiro não entre em final e efetivo colapso. Um fato iminente, caso não se desenvolvessem
técnicas processuais hábeis para evitar que o Tribunal da Cidadania não se tornasse, faticamente,
uma terceira instância em que os jurisdicionados apresentassem suas pretensões recursais, tão
somente, para prolongar o andamento processual.

Ainda, quando regulamentado esse quesito, a ausência de relevância da questão federal somente
será rejeitada por decisão do órgão competente para julgamento pela maioria qualificada de 2/3 (dois
terços), demonstrando uma semelhança com o instituto da repercussão geral, previsto no art. 102, §
3º20 , da CF/88 (LGL\1988\3), para o recurso extraordinário de competência recursal do STF.

Logo, em contraponto diverso daquele que apregoa a necessidade de legislação infraconstitucional,


para efetividade do requisito de admissibilidade de relevância, é possível a defesa, a qual se
coaduna com nosso entendimento, de uma interpretação sistemática de ambos os institutos –
repercussão geral e relevância da matéria infraconstitucional federal –, aplicando o disposto no
art. 1.03521 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), ante a semelhança de natureza jurídica desses
institutos, muito embora distintos, mormente porque ambos têm o caráter de filtro processual que
permite ao STJ e ao STF examinarem somente os recursos que discutem matérias de grande
impacto para a sociedade brasileira ou, ainda, aqueles que por presunção a norma tenha atribuído
relevância.

Neste contexto, reforça-se o posicionamento defendido de que é possível a interpretação sistemática


entre os institutos da arguição de relevância e a repercussão geral, até que venha norma
efetivamente reguladora, permitindo, portanto, a defesa que somente o STJ, em consonância com as
regras previstas para o filtro constitucional do recurso extraordinário, poderá exercer o juízo definitivo
de admissibilidade da arguição de relevância.

Em contraponto ao ora defendido, ou seja, pela impossibilidade de aplicação das regras da


repercussão geral à arguição de relevância, veja-se o posicionamento de Thiago Rodovalho22 :

“[...] é imperiosa e urgente a adoção no Brasil de um sistema de filtragem dos recursos dirigidos ao
STJ, à semelhança do que foi feito com relação ao STF com a adoção do instituto da repercussão
Página 8
A arguição de relevância do recurso especial

geral. Parece-nos, entretanto, que, para o perfil constitucional do STJ, o resgate do instituto da
arguição de relevância, tal como desenhado antes da Constituição Federal de 1988, é mais
adequado do que a repercussão geral. Isso porque o instituto jurídico da repercussão geral trabalha
muito mais com a ideia de matéria (quaestio iuris) que ultrapassa o mero interesse das partes, é
dizer, que tenha repercussão social, ultrapartes. Assim, esse instituto pode ser adequado a matérias
constitucionais, mais adequado, portanto, ao perfil institucional do STF, como guardião da
Constituição Federal. Para o STJ, contudo, na qualidade de guardião da norma federal, dada sua
vastidão, situações podem surgir que não se enquadrem nessa ideia de repercussão geral, mas,
mesmo assim, dada a relevância da matéria, mereçam o enfrentamento por parte deste. Nesse
contexto, temos que, para esse perfil do STJ, o instituo da arguição de relevância, tal como
delineado antes da CF/1988 (LGL\1988\3), afigura-se mais adequado, justamente, por ser mais
aberto e permitir um maior controle político da Corte das questões federais que devem ser
admitidas.”

Por sua vez, o § 3º do art. 105 indica as hipóteses em que haverá – no imperativo – a relevância da
questão federal, a nosso ver, sendo suficiente somente a indicação da questão regulamentada pela
Constituição Federal, sem a necessidade de efetiva comprovação desse requisito de admissibilidade,
permitindo-se o desenvolvimento de presunção, por certo, juris tantum, de relevância da matéria
contida na pretensão recursal interposta em desfavor da aplicação da lei federal pelos órgãos
jurisdicionais de segunda instância.

As hipóteses de presunção da relevância das questões federais são aplicadas aos Recursos
Especiais que tratarem sobre ações penais – demandas altamente importantes pelo cunho temático,
tendo em vista que em muitos casos se está a enfrentar restrição de liberdade ou de direitos –,
ações de improbidade administrativa – demandas igualmente delicadas pelo cunho temático, tendo
em vista que em muitos casos se está a enfrentar restrição de direitos –, ações que o valor da causa
ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos – tema delicado, pois poderá exigir complexa
justificação e gerar, até, déficit de acesso à justiça –, ações que possam ocasionar inelegibilidade –
demandas complexas pelo cunho temático, tendo em vista que em muitos casos se está a enfrentar
restrição de direitos e inviabilidade de direitos políticos – ou em situações que o acórdão
recorrido contrarie jurisprudência dominante do STJ – casos que poderiam, se não controlados, gerar
a desestabilidade dos tribunais, insegurança jurídica e a própria afronta a eventuais “precedentes” –,
bem como em outras situações previstas em lei.

Desse dispositivo é possível depreender, inicialmente, que a lei ordinária poderá disciplinar novas
questões atinentes à relevância da questão federal de forma presumida, bem como ressalva a
importância de recursos que impugnam pronunciamentos que possam restringir direitos importantes
à dignidade humana, tais como a liberdade, que são tutelados nos Recursos Especiais interpostos
em desfavor de acórdãos proferidos em ação penal, acórdãos proferidos em ações de improbidade
administrativa em virtude das extensões de suas sanções, sejam essas contidas na Constituição
Federal ou na lei específica, bem como os acórdãos que possam limitar o direito político de
participação no processo democrático como o caso das ações eleitorais que possam gerar alguma
inelegibilidade. Realmente, como se pode observar, são situações que, pela sua própria essência,
exigem que o tema chegue para ser revisitado e decidido pela Corte Cidadã.

De relevo, oportunamente, critica-se a abertura legislativa conferida ao instituto em exame,


mormente pela possibilidade de uma mera lei ordinária aumentar as hipóteses de restrição ao STJ,
podendo ocasionar, inclusive, eventual incompatibilidade de acesso à justiça aos órgãos do Poder
Judiciário, sobretudo ao acesso aos Tribunais Superiores, muitas vezes, a última “trincheira” de
defesa dos direitos da pessoa, sejam esses individuais ou coletivos, mormente quando a
regulamentação de direito material visa à proteção de direitos de vulneráveis ou regulamentam
relações jurídicas desequilibradas, principalmente, no caso do STJ, por exemplo, o Código de
Defesa do Consumidor, porquanto se tratando de lei federal, competindo ao Tribunal da Cidadania a
derradeira palavra sobre a interpretação desses conflitos tão importante para a sociedade brasileira.

Ainda no contexto de reflexão crítica à regulamentação do novel instituto, entende-se que a utilização
da expressão “acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante do STJ” não é suficiente para
conceder segurança jurídica ao instituto, vez que essa cláusula aberta é passível de inúmeras
interpretações, sejam mais ampliativas – permitindo a abrangência maior do instituto ao abarcar
entendimentos jurisprudenciais consolidados pelo Tribunal da Cidadania –, sejam mais restritivas, em
que se poderia defender a aplicabilidade desse instituto somente quando o acórdão recorrido ofender
Página 9
A arguição de relevância do recurso especial

o disposto nos incisos III, IV, V, do art. 927 do CPC (LGL\2015\1656).

Ao fim, porém, e não menos importante, cita-se o art. 2º da Emenda Constitucional 125, que indica a
necessidade de comprovação da relevância a partir da entrada em vigor da Emenda à Constituição,
ou seja, no dia 14.07.2022, ressaltando-se que, muito embora essa Emenda Constitucional entre em
vigor na data de sua publicação (art. 3º), a relevância de que trata o § 2º do art. 105 da Constituição
Federal será exigida nos recursos especiais interpostos após a entrada em vigor da referida Emenda
Constitucional, ocasião em que a parte poderá atualizar o valor da causa para os fins de que trata o
inciso III do § 3º do referido artigo.

Por tudo isso, salutar a atualização normativa a respeito do Recurso Especial, sobretudo, porque, por
meio de sua aplicação no decorrer da vigência da Constituição Federal, poderá o STJ se tornar, de
forma específica, uma corte de precedente em que demandará seus esforços para resolver os
grandes litígios de interesse da coletividade brasileira.

5.Conclusão

Este ensaiou buscou debater a inovação constitucional denominada de arguição de relevância,


aplicada ao Superior Tribunal de Justiça para realizar a admissibilidade prévia do Recurso Especial.

Sem a pretensão de esgotar o tema, bem como debater matéria relevante de forma açodada,
buscou-se discorrer e inicialmente opinar a respeito da melhor prática processual no preenchimento
desse requisito de admissibilidade, bem como conceder segurança jurídica aos jurisdicionados e
também ao órgão jurisdicional para aplicar esse instituto que, conforme visto, mesmo que possível
sua aplicação imediata, ainda será regulamentado por lei ordinária.

Outrossim, aguarda-se que, a partir da regulamentação legal e de sua aplicação pelo órgão
jurisdicional competente, haja repercussões benéficas para a atividade jurisdicional, não se
tergiversando com o instituto jurídico e o utilizando como, mais um, instrumento de atuação
defensiva das cortes superiores brasileiras, mas, ao reverso, torná-las órgãos jurisdicionais com
competências bem definidas e permitindo sua evolução para, agora legitimamente, uma corte de
precedentes, pois, ante a atual inovação, será possível a realização de julgamento de máxima
importância para a sociedade brasileira e para a correta aplicação da lei federal sem a inquietação
de inúmeros recursos especiais a serem ainda analisados por aqueles que exercem importante
função para pacificação dos conflitos perante a sociedade brasileira.

Logo, com os primordiais ajustes necessários a todo novo instrumento jurídico, entende-se, e por
que não, defende-se, que a inovação legislativa potencializará a prestação jurisdicionada exercida
pelo STJ, permitindo, inclusive, seu desenvolvimento, semelhante ao visto no STF a partir da
vigência da Emenda Constitucional 45/04 (LGL\2004\2637), para ser mais um protagonista de
efetivação de direitos no constitucionalismo brasileiro.

6.Referências

ARRUDA ALVIM. A arguição de relevância no recurso extraordinário. São Paulo: Ed. RT, 1988.

ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de. A alta função jurisdicional do Superior Tribunal de Justiça
no âmbito do recurso especial e a relevância das Questões. STJ 10 anos: obra comemorativa –
1989-1999. Brasília: Superior Tribunal de Justiça, 1999.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei Federal 13.105/2015. Disponível em:


[www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm]. Acesso em: 22.07.2022.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro 1988. Disponível em:


[www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm]. Acesso em: 22.07.2022.

BRASIL. Emenda Constitucional 125, de 14 de julho de 2022 (LGL\2022\8470). Disponível em:


[www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc125.htm]. Acesso em: 22.07.2022.

MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas cortes supremas: precedente e decisão do recurso
diante do novo CPC (LGL\2015\1656). São Paulo: Ed. RT, 2015.

MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores e cortes supremas: do controle à interpretação da


Página 10
A arguição de relevância do recurso especial

jurisprudência ao precedente. São Paulo: Ed. RT, 2013.

RODOVALHO, Thiago. O STJ e a arguição de relevância. In: GALLOTTI, Isabel; DANTAS, Bruno;
FREIRE, Alexandre; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA, José Miguel Garcia (Coord.). O
papel da jurisprudência no STJ. São Paulo: Ed. RT, 2014.

SALDANHA, Nelson. O estado moderno e a separação de poderes. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin,
2010.

SILVA, Ovídio A. Baptista da. A função dos Tribunais Superiores. STJ 10 anos: obra comemorativa –
1989-1999. Brasília, Superior Tribunal de Justiça, 1999.

TAVARES, André Ramos. A inconsistência do tribunal constitucional como “legislador negativo” em


face de técnicas avançadas de decisão da justiça constitucional. Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais – RBEC, Belo Horizonte, ano 4, n. 15. jul.-set. 2010.

TESHEINER, José Maria Rosa; THAMAY, Rennan Faria Krüger. Teoria geral do processo. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021.

THAMAY, Rennan Faria Krüger. Manual de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.

1 .Tradução livre.

2 .SALDANHA, Nelson. O estado moderno e a separação de poderes. 2. ed. São Paulo: Quartier
Latin, 2010. p. 140.

3 .TAVARES, André Ramos. A inconsistência do tribunal constitucional como “legislador negativo”


em face de técnicas avançadas de decisão da justiça constitucional. Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais – RBEC, Belo Horizonte, ano 4, n. 15, jul.-set. 2010. p. 1.

4 .TESHEINER, José Maria Rosa; THAMAY, Rennan Faria Krüger. Teoria geral do processo. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 94.

5 .Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV – a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

6 .THAMAY, Rennan Faria Krüger. Manual de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2022. p. 32.

7 .RODOVALHO, Thiago. O STJ e a arguição de relevância. In: GALLOTTI, Isabel; DANTAS, Bruno;
FREIRE, Alexandre; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA, José Miguel Garcia (Coord.). O
papel da jurisprudência no STJ. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 837.

8 .Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do
Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez
anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação
das respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder
Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.

Página 11
A arguição de relevância do recurso especial

9 .Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I – processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; (Redação dada pela Emenda
Constitucional 23, de 1999)

c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea
“a”, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da
Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; (Redação
dada pela Emenda Constitucional 23, de 1999)

d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, “o”,
bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;

e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;

f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;

g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre


autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as
deste e da União;

h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão,


entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos
de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da
Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;


(Incluída pela Emenda Constitucional 45, de 2004)

II – julgar, em recurso ordinário:

a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;

b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou


pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do


outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

III – julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; (Redação dada pela Emenda
Constitucional 45, de 2004)

c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

10 .TESHEINER, José Maria Rosa; THAMAY, Rennan Faria Krüger. Teoria geral do processo. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021. p. 62.

Página 12
A arguição de relevância do recurso especial

11 .THAMAY, Rennan Faria Krüger. Manual de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2022. p. 596.

12 .MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores e cortes supremas: do controle à interpretação da


jurisprudência ao precedente. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 30.

13 .Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal
selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a
suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no
Estado ou na região, conforme o caso.

§ 2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da decisão de


sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que tenha sido interposto
intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.

§ 3º Da decisão que indeferir este requerimento caberá agravo, nos termos do art. 1.042.

§ 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas agravo interno.


(Redação dada pela Lei 13.256, de 2016)

§ 4º A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do tribunal regional


federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar outros recursos
representativos da controvérsia.

§ 5º O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos


representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente da
iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.

§ 6º Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente


argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

14 .Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

II – os enunciados de súmula vinculante;

III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas


repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do


Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;

V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º, quando decidirem
com fundamento neste artigo.

§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos


repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou
entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.

§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos


tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação
dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
Página 13
A arguição de relevância do recurso especial

§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em


julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.

§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida
e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.

15 .MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas cortes supremas: precedente e decisão do recurso
diante do novo CPC. São Paulo: Ed. RT, 2015. p. 356.

16 .RODOVALHO, Thiago. O STJ e a arguição de relevância. In: GALLOTTI, Isabel; DANTAS,


Bruno; FREIRE, Alexandre; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA, José Miguel Garcia
(Coord.). O papel da jurisprudência no STJ. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 842.

17 .SILVA, Ovídio A. Baptista da. A função dos Tribunais Superiores. STJ 10 anos: obra
comemorativa – 1989-1999. Brasília, Superior Tribunal de Justiça, 1999. p. 145.

18 .Importante citar a relevante obra do saudoso mestre Arruda Alvim, com quem, efetivamente,
muito aprendemos, veja-se: ARRUDA ALVIM. A arguição de relevância no recurso extraordinário.
São Paulo: Ed. RT, 1988. Igualmente importante conferir o ótimo texto de RODOVALHO, Thiago. O
STJ e a arguição de relevância. In: GALLOTTI, Isabel; DANTAS, Bruno; FREIRE, Alexandre;
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA, José Miguel Garcia (Coord.). O papel da
jurisprudência no STJ. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 835 e ss.

19 .ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de. A alta função jurisdicional do Superior Tribunal de
Justiça no âmbito do recurso especial e a relevância das questões. STJ 10 anos: obra
comemorativa – 1989-1999. Brasília: Superior Tribunal de Justiça, 1999. p. 44.

20 .§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões


constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

21 .Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos
deste artigo.
§ 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes
do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do
processo.

§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva


pelo Supremo Tribunal Federal.

§ 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:

I – contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;

II – (Revogado); (Redação dada pela Lei 13.256, de 2016)

III – tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da
Constituição Federal.

§ 4º O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita


por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a


suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
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A arguição de relevância do recurso especial

versem sobre a questão e tramitem no território nacional.

§ 6º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem, que


exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que tenha sido interposto
intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.

§ 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar entendimento firmado


em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá agravo interno.
(Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

§ 8º Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará


seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre matéria idêntica.

§ 9º O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de 1 (um) ano
e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de
habeas corpus.

§ 10. (Revogado).

§ 11. A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada no diário
oficial e valerá como acórdão.

22 .RODOVALHO, Thiago. O STJ e a arguição de relevância. In: GALLOTTI, Isabel; DANTAS,


Bruno; FREIRE, Alexandre; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA, José Miguel Garcia
(Coord.). O papel da jurisprudência no STJ. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 844.

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