Você está na página 1de 52

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE DIREITO
Monografia

EDUARDO LIMA GENTIL

O NOVO FILTRO DE RELEVÂNCIA PARA A ADMISSIBILIDADE DE RECURSOS


ESPECIAIS NO STJ:
como fica o acesso à Justiça?

Brasília, DF
2023
EDUARDO LIMA GENTIL

O NOVO FILTRO DE RELEVÂNCIA PARA A ADMISSIBILIDADE DE RECURSOS


ESPECIAIS NO STJ:
como fica o acesso à Justiça?

Banca Examinadora:

Profa. Doutora Daniela Marques de Moraes - Orientadora


FD/UnB

Prof. Doutor Benedito Cerezzo Pereira Filho


FD/UnB

Prof. Mestre Rodrigo Nery Cardoso


FD/UnB

Brasília, DF
2023
EDUARDO LIMA GENTIL

O NOVO FILTRO DE RELEVÂNCIA PARA A ADMISSIBILIDADE DE RECURSOS


ESPECIAIS NO STJ:
como fica o acesso à Justiça?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Faculdade


de Direito de Brasília como requisito parcial para outorga
do título de bacharel em Direito

Orientadora: Profa. Dra. Daniela Marques de Moraes

Brasília, DF
2023
AGRADECIMENTOS

A Deus, que me permitiu chegar até aqui.

À minha esposa Karolina, que sempre me incentiva e me apoia em tudo. A minha base!

A meu filho querido, João Vítor, que tanto amo. Meu anjo!

À minha orientadora, a Profa. Dra. Daniela Marques de Moraes, que, desde os primeiros
semestres da faculdade, sempre a admirei.

Ao colega Rodrigo Nery, que me fez despertar, em sala de aula, o interesse sobre o tema e
pelas várias referências bibliográficas que, gentilmente, me indicou.
RESUMO

A Emenda Constitucional 125/2022 instituiu a chamada relevância da questão de direito federal


infraconstitucional como novo requisito de admissibilidade para o Recurso Especial para o
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Este trabalho de conclusão de curso navega sobre as origens
deste instituto, apresentando algumas noções gerais sobre o Recurso Especial e seus critérios
de admissibilidade. Traz, também, um comparativo com outros mecanismos semelhantes, como
a repercussão geral para o Recurso Extraordinário no STF e a transcendência para o Recurso
de Revista no TST. Esta nova sistemática processual carece ainda de regulamentação, o que
provavelmente ocorrerá tanto pela via legislativa quanto por meio de modificações no
Regimento Interno do STJ. Diante disso, este trabalho apresentará, brevemente, sobre o
anteprojeto de regulamentação para o filtro da relevância que foi sugerido pelo STJ ao Senado
Federal. Por fim, refletiremos juntos sobre possíveis impactos advindos da adoção deste novo
filtro recursal, com destaque para eventuais barreiras no acesso à Justiça.

Palavras-chave: Recurso Especial. Relevância da questão de direito federal infraconstitucional.


Filtro recursal. Repercussão geral. Transcendência. Acesso à Justiça.
ABSTRACT

The Constitutional Amendment 125/2022 instituted the so-called relevance of the infra-
constitutional federal law issue as a new admissibility requirement for the Special Appeal to
the Superior Court of Justice (STJ). This course conclusion work navigates the origins of this
institute, presenting some general notions about the Special Appeal and its admissibility criteria.
It also brings a comparison with other similar mechanisms, such as the general repercussion for
the Extraordinary Appeal in the STF and the transcendence for the Review Appeal in the TST.
This new procedural system still needs to be regulated, which will probably occur both through
legislation and through changes in the internal regulations of the STJ. In view of this, this work
will briefly present the draft regulation for the relevance filter that was suggested by the STJ to
the Federal Senate. Finally, we will reflect together on possible impacts arising from the
adoption of this new appeal filter, with emphasis on possible barriers to access to Justice.

Key-words: Special Appeal. Relevance of the infra-constitutional federal law issue. Appeal
filter. General repercussion. Transcendence. Access to Justice.
SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................................ 8

2. A reorganização do Judiciário em decorrência do novo filtro de relevância para o Recurso


Especial..................................................................................................................................... 13

3. Noções gerais sobre o Recurso Especial ........................................................................... 16

4. Critérios de admissibilidade do Recurso Especial ............................................................ 17

5. Comparação com a sistemática da repercussão geral no Recurso Extraordinário para o


STF e da transcendência no Recurso de Revista para o TST ................................................... 18

6. O anteprojeto de regulamentação para o filtro da relevância ............................................ 27

7. Impactos possíveis com a adoção do filtro da relevância e algumas reflexões................. 29

7.1. Barreiras no acesso à Justiça ...................................................................................... 33

7.2. O lobby e a proteção maior a alguns grupos .............................................................. 39

8. Considerações finais .......................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 41

ANEXO I .................................................................................................................................. 46

ANEXO II ................................................................................................................................ 48
1. Introdução

A Emenda Constitucional (EC) nº 125, de 14 de julho de 2022 – há exato 1 ano


(data de fechamento desta monografia) – trouxe novos critérios de admissibilidade para o
Recurso Especial, o chamado filtro de relevância, que exige, a partir de então, que o recorrente
demonstre a relevância das questões de direito federal infraconstitucional discutidas no caso,
sob pena de não admissão do Recurso Especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ), também
conhecido como “Tribunal da Cidadania”.
Boa parte da doutrina costuma se referir a este novo filtro recursal também como
“arguição de relevância” (FUGA, TESOLIN, LEMOS et al, 2022, p. 271). A meu ver, isso pode
acabar gerando certa confusão conceitual, pois a “arguição de relevância” usada originalmente
referia-se ao Recurso Extraordinário (PASSOS, 1977, p. 11).
Algumas situações foram elencadas pelo legislador como de presumida
relevância, ou seja, já haveria o reconhecimento da relevância nas seguintes hipóteses: nas
ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos; nas ações de
improbidade administrativa; nas ações que possam gerar inelegibilidade; nas ações penais; e
ações que venham a contrariar a jurisprudência dominante do STJ (art. 105, § 3º, incisos III, II,
IV, I, e V, respectivamente, da CF 88, redação dada pela EC nº 125/2022).
Ainda, a EC abre espaço para que outras situações, previstas em lei, possam ser
enquadradas como de relevância presumida. Trata-se do disposto no inciso VI, § 3º, do art. 105,
da CF/1988, segundo redação trazida pela EC nº 125/2022.
Essa possibilidade de considerar, por lei, novas situações em que a relevância
seja presumida, na visão de Alvim, Uzeda e Meyer (2022, p. 4), parece ser de bom tom, pois a
referida EC nº 125/2022 deixou de considerar ações de extrema importância, sob o viés
econômico e social, como as ações coletivas – em especial as ações civis públicas, pois tutelam
interesses transindividuais, intrinsecamente transcendentes –, ações que versam sobre meio
ambiente, direitos de indígenas, idosos, crianças ou adolescentes e PCDs, bem como recursos
interpostos contra acórdãos que julgam mérito de IRDR, etc. Por tudo isso, Araken de Assis
considera imperioso o papel do legislador ordinário para estender o rol do art. 105, § 3º, da
CF/1988, de forma a abarcar estas hipóteses (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Não se enquadrando em alguma das situações previstas acima, ou seja, aquelas
de relevância presumida, caberá ao recorrente demonstrar de forma concreta a existência da
relevância. O Tribunal decidirá acerca da admissão ou não do recurso, “o qual somente pode
dele não conhecer com base nesse motivo pela manifestação de 2/3 (dois terços) dos membros
do órgão competente para o julgamento” (art. 105, § 2º, da CF/1988, que foi incluído pela EC
nº 125/2022).
Assim, devido a este trecho final sobre o quórum para rejeição, Araken de Assis
entende que “essa cláusula final elimina a possibilidade de que o STJ seja instado a se
manifestar por meio do plenário” (ASSIS, 2022, Jusbrasil). Contudo, não compartilho deste
entendimento, visto que é plenamente aceitável a interpretação de que os 2/3 (dois terços)
tratam-se de um quórum mínimo. A princípio, nada impediria que a relevância fosse analisada
pelo Plenário do STJ. Dependerá, apenas, de como será feita a regulamentação sobre o assunto,
tanto via legislativa quanto via alterações no Regimento Interno do STJ.
Apesar desta viabilidade interpretativa, entendo que, muito dificilmente, tais
julgamentos ocorrerão em Plenário, uma vez que o Plenário é um órgão com competência
majoritariamente administrativa, sendo composto por todos os ministros da Corte (STJ,
Composição). Além disso, demandaria um esforço e gestão operacional desnecessários, para
tratar de situações que poderiam facilmente ser analisadas pelos demais órgãos fracionários do
STJ, como as Turmas, Seções e Corte Especial.
Araken de Assis enfatiza que será “indispensável, em síntese, a apresentação
formal e motivada da relevância da questão federal decidida e objeto do recurso (ASSIS, 2022,
Jusbrasil).
Esta EC foi fruto da chamada PEC da Relevância (PEC 39/2021), aprovada pela
Câmara dos Deputados no dia 13 de julho de 2022. Apesar da promulgação da EC, a sessão do
Pleno do STJ (sessão que reúne todos os ministros do STJ) aprovou, no dia 19/10/2022, um
enunciado no sentido de que:

A indicação, no recurso especial, dos fundamentos de relevância da questão de


direito federal infraconstitucional somente será exigida em recursos interpostos
contra acórdãos publicados após a data de entrada em vigor da lei
regulamentadora prevista no artigo 105, parágrafo 2º, da Constituição
Federal” (BONFANTI e MENGARDO, 2022, grifo meu).

Assim, vemos que se trata de uma norma jurídica de eficácia limitada, visto que
carece de elaboração pelo Congresso Nacional de uma lei regulamentadora. O art. 105, § 2º, da
CF/1988, cita claramente que essa exigência da demonstração da relevância será “nos termos
da lei”. O STJ já apresentou algumas sugestões ao Legislativo para o aprimoramento e
regulamentação da aplicação dos critérios de relevância para a admissão de Recursos Especiais
(BONFANTI, 2022).
De acordo com Bonfanti e Mengardo (2022):

A mudança contou com amplo apoio dos ministros do STJ e tem como objetivo
reduzir o número de casos que chegam ao tribunal superior, fazendo com que a
Corte foque seus esforços em processos relevantes. Sistemática semelhante é
adotada no STF por meio da repercussão geral. As alterações trazidas na PEC, por
outro lado, desagradam parte da classe advocatícia. Profissionais que atuam no
STJ temem que as mudanças, na prática, dificultem o acesso ao tribunal.

Um outro assunto a ser discutido na monografia é relativo a qual órgão colegiado


do STJ (Pleno, Corte Especial, Seções ou Turmas) seria o responsável por essa análise de
admissibilidade quanto aos quesitos de relevância. Para ilustrar, Bonfanti e Mengardo (2022)
nos informam que no STF, por exemplo, quem decide se os Recursos Extraordinários possuem
repercussão geral é o Pleno, que se compõe pela totalidade dos onze ministros.
Após esta breve exposição do tema e sua delimitação, destaca-se que esta
monografia transitará pela seara político-jurídica que culminou com a aprovação da EC nº
125/2022, visando compreender o contexto que estamos vivendo atualmente, apresentar a
proposta de regulamentação que foi sugerida pelo STJ e tecer algumas previsões sobre os
possíveis impactos, como por exemplo, no acesso à Justiça, com a adoção deste novo filtro de
admissibilidade para Recursos Especiais.
O objetivo geral da monografia será discutir sobre os efeitos do novo filtro de
relevância para a admissibilidade de Recursos Especiais, advindo da aprovação da Emenda
Constitucional nº 125/2022.
Como objetivos específicos, pretendo analisar se houve algum grau de
corporativismo na construção desta proposta legislativa; estudar o contexto social que levou à
aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do filtro da relevância; apresentar a
proposta de regulamentação sugerida pelo STJ para o filtro de relevância de Recursos Especiais;
e investigar possíveis barreiras no acesso à Justiça, considerando que certas situações já têm
relevância presumida por lei, como o valor da causa acima de quinhentos salários mínimos.
A escolha deste tema surgiu após reflexões lançadas em sala de aula, na
disciplina de Direito Processual Civil 3, da Universidade Brasília (UnB), no semestre de 2022.1,
turma do Professor Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho, com a valiosa colaboração do colega
doutorando Rodrigo Nery Cardoso.
Busca-se com esta pesquisa, compreender o domínio do estado da arte sobre o
tema, estudar as implicações advindas desta nova sistemática da relevância para a
admissibilidade de Recursos Especiais, pensando em estratégias eficazes que possam vir a
colaborar para que tal instituto não venha a se tornar mais uma barreira no acesso à Justiça.
Por ser um assunto relativamente recente, e ainda pouco explorado acadêmica e
doutrinariamente, esta pesquisa tem o potencial de contribuir para a disseminação e
amadurecimento do tema, trazendo aspectos sobre sua noção geral, particularidades e reflexões.
O problema aventado pela monografia será: a adoção do novo filtro da relevância
como critério de admissibilidade para Recursos Especiais no STJ trará prejuízos ao acesso à
Justiça? Esta indagação surgiu com o objetivo de averiguar se este filtro tornará ainda mais
distante o acesso dos jurisdicionados ao Tribunal da Cidadania (STJ).
Infelizmente, temos como hipótese inicial que sim. Partimos, dessa forma, de
uma suposição inicial e provisória de que este novo instituto pode, sim, dificultar o acesso à
Justiça e favorecer certos grupos sociais. Entretanto, esta suposição será cuidadosamente
destrinchada e suas premissas validadas, para analisarmos se a tese se comprova ou não.
Como meios para validação da hipótese inicial, faremos uma interpretação dos
dados coletados e das informações investigadas; analisaremos também o anteprojeto de lei que
foi entregue ao Senado pelo STJ – com o foco em regulamentar os procedimentos de
admissibilidade baseado na relevância para os Recursos Especiais –; e teceremos algumas
reflexões, a partir da identificação de variáveis que possam vir a impactar negativamente nos
efeitos desta norma jurídica, apresentando os dispositivos e artigos mais importantes deste
anteprojeto de regulamentação que está sendo gestado.
Faremos, por fim, algumas inferências e correlações com os mecanismos da
repercussão geral (adotado nos Recursos Extraordinários para o STF) e da transcendência
(adotado nos Recursos de Revista para o TST), visto que ambos possuem bastante similaridade
com o nosso objeto de estudo.
A monografia foi elaborada utilizando a pesquisa bibliográfica como
metodologia principal. Segundo Gil (2022), uma pesquisa bibliográfica é realizada utilizando-
se como referência, principalmente, livros e artigos científicos.
Por meio da análise e pesquisa exploratória, buscarei subsidiar as discussões
sobre o tema. Além disso, para a realização deste trabalho, foi feito um levantamento de
informações publicadas mais recentemente.
Foram utilizados como referência livros de diversos autores renomados, artigos
científicos nacionais e internacionais, doutrina e jurisprudência, extraídos de bibliotecas
particulares e públicas, tanto físicas quanto virtuais.
Para a obtenção dos textos envolvidos na confecção do presente trabalho, foi
feita a pesquisa supracitada, por meio da utilização de palavras-chave como método. Dentre
elas, as seguintes: PEC da Relevância, Filtro da Relevância, Arguição de Relevância, Recurso
Especial, Critérios de Admissibilidade para Recursos Especiais, Recurso Extraordinário,
Repercussão Geral, Recurso de Revista, Transcendência, Acesso à Justiça, entre outras.
Para alcançar os objetivos gerais e específicos descritos anteriormente,
estruturamos esta monografia da seguinte forma: no capítulo 2, abordaremos sobre a criação do
novo filtro de relevância para o Recurso Especial e como este novo mecanismo irá provocar
uma verdadeira reorganização no Judiciário.
Nos capítulos 3 e 4, respectivamente, traremos algumas noções iniciais e os
critérios de admissibilidade do Recurso Especial. Já, no capítulo 5, mostraremos o quanto a
criação da relevância para o Recurso Especial teve forte inspiração em outros filtros existentes,
como o da repercussão geral no Recurso Extraordinário para o STF e o da transcendência no
Recurso de Revista para o TST.
No capítulo 6, apresentaremos a proposta de regulamentação para o filtro da
relevância que foi enviada pelo STJ ao Senado, no final de 2022. A seguir, no capítulo 7, o
leitor terá acesso a algumas reflexões e possíveis impactos a partir da nova sistemática do filtro
da relevância.
No capítulo 8, traremos as considerações finais deste trabalho de conclusão de
curso. Ao final, exibiremos a listagem completa com as referências utilizadas. No Anexo I,
transcrevemos a íntegra da EC nº 125/2022, e, no Anexo II, o conteúdo completo do anteprojeto
de regulamentação do filtro de relevância para Recurso Especial, que foi proposto pelo STJ no
final do segundo semestre de 2022.
2. A reorganização do Judiciário em decorrência do novo filtro de relevância para o
Recurso Especial

No ano de 2022, o Superior Tribunal de Justiça recebeu cerca de 400 mil novos
processos. Para ser mais preciso, foram 399.455, de acordo com balanço divulgado pela própria
Corte Superior (STJ, 19/12/2022). Isso revela o grave cenário e urgência que levaram à
aprovação, em julho de 2022, da Emenda Constitucional nº 125/2022. Esta EC criou o filtro de
relevância para a admissão de Recursos Especiais, também chamado de requisito da relevância.
O entendimento dos ministros do STJ é o de que o filtro de relevância deverá ter
um impacto muito positivo nas atividades jurisdicionais do Tribunal, uma vez que ajudará na
redução do alto volume de processos que chegam todos os anos à Corte. Este novo filtro
restringirá o acesso ao STJ daqueles Recursos Especiais que impugnam decisões de segundo
grau, que eventualmente “não tenham maior relevância para a formação da jurisprudência” (STJ,
19/12/2022).
Porém, para concretizar e pôr em prática a implementação deste novo filtro, o
Congresso Nacional precisará regulamentar o funcionamento desta nova sistemática. Após a
aprovação da EC nº 125/2022, o STJ tem se debruçado sobre o assunto, e propôs, já no segundo
semestre de 2022, algumas sugestões para a regulamentação destas novas regras (STJ,
5/12/2022).
Esta mudança irá trazer diversas alterações e impactos no funcionamento de toda
a Justiça, não somente para o STJ. Conseguimos vislumbrar pontos positivos e negativos. Este
trabalho de conclusão de curso visa trazer o leitor à reflexão, a partir dos insights que grandes
doutrinadores tiveram sobre o tema.
Luiz Guilherme Marinoni, por exemplo, entende que o requisito da relevância é
imprescindível para que o Superior Tribunal de Justiça possa assumir a sua verdadeira função.
Em coluna publicada no Conjur, ele discorre sobre um dos principais papéis do STJ, que é o de
analisar recursos repetitivos e firmar teses. Porém, ele guarda certa preocupação quanto a esta
prática. Para ele, o STJ deve se preocupar a decidir sobre as questões essenciais que permitam
esclarecer determinado instituto jurídico:

uma Corte Suprema deve se preocupar em decidir as questões essenciais ao


esclarecimento e ao desenvolvimento de um instituto jurídico, sem se preocupar
com aquelas cuja elucidação constitui uma mera “consequência”. Decidir a
“questão essencial”, ou a base de sustentação de um instituto, é o que basta para
que os juízes e os tribunais raciocinem para resolver as “questões consequentes”.
Não perceber isso não só pode levar a Corte a decidir as questões consequentes
antes das essenciais, como transformar a solução das questões consequentes em
“precedentes filhotes” (MARINONI, 28/11/2022).

A partir do requisito da relevância, as questões repetitivas ou idênticas, ficarão


a cargo dos tribunais locais, cujo dever de solucionar os casos concretos seria dos juízes e
tribunais, e não do STJ. Segundo Marinoni, o STJ “apenas poderá atuar quando a questão
repetitiva solucionada no tribunal mediante IRDR (Incidentes de Resolução de Demandas
Repetitivas), especialmente diante da divergência com decisões tomadas por outros tribunais
do país, constituir questão federal relevante” (MARINONI, 28/11/2022).
Neste mesmo sentido, Medina (10/8/2022) nos informa que é “inegável
reconhecer que a mudança pela qual passará o STJ acabará por repercutir também no papel
desempenhado pelos tribunais locais. Afinal, a alteração de uma das engrenagens do sistema
afeta-o, como um todo”.
Vital (2022), até o fechamento de sua publicação que fez no site do Conjur
(8/10/2022), nos informa que cinco Tribunais de Justiça já estariam exigindo a comprovação
da relevância da questão federal para admitir os Recursos Especiais ao Superior Tribunal de
Justiça. Seriam os Tribunais do Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraíba e Piauí.
A regra geral era que este novo filtro recursal passasse a ser exigido nos Recursos
Especiais interpostos após a entrada em vigor da EC nº 125/2022, que ocorreu em 14 de julho
de 2022, conforme disposto no art. 2º da referida EC.
A implantação desta nova metodologia vem sendo defendida pelo próprio STJ
há mais de uma década. Sabemos que o STJ desempenha diversas funções, dentre elas: julgar
as ações de sua competência originária; julgar os recursos ordinários, que se assemelham
bastante com o recurso de apelação; e, aquela função por excelência, que é a de uniformizar a
interpretação da norma federal infraconstitucional.
Assim, ao adotar este novo filtro recursal, o STJ passaria a analisar apenas
processos com questões relevantes, permitindo assim que ele se concentrasse no seu principal
papel, que é a uniformização da interpretação do Direito federal infraconstitucional. Isso faria
com que houvesse, também, uma significativa redução dos recursos que chegam à Corte.
Porém, de acordo com Vital (2022), “o problema é que, apesar de os tribunais
de segundo grau já exigirem a comprovação da relevância, o próprio STJ não está pronto para
aplicar esse filtro”.
Como citamos anteriormente, carece de regulamentação de uma série de
definições, por exemplo: qual órgão do STJ julgaria o requisito da relevância, se os órgãos
fracionários (turmas) ou as seções; como ocorreria a votação sobre a admissibilidade; qual rito
a ser seguido; qual recurso seria cabível em caso de não admissão do Recurso Especial por falta
de demonstração da relevância (se através de agravo regimental do art. 1.042 do CPC, que seria
direcionado ao STJ, ou por meio de agravo interno do art. 1.021 do CPC, que seria analisado
pelo próprio tribunal de origem); dentre vários outros.
Araken de Assis (ASSIS, 2022, Jusbrasil), nesse mesmo sentido, explica que
será necessário decidir, ainda, sobre em que ordem o tribunal – aqui também incluímos o
próprio STJ, pois será ele que julgará necessariamente sobre a existência ou não da relevância
– irá examinar o conjunto de requisitos, sejam eles intrínsecos e extrínsecos, quanto à relevância
do Recurso Especial.
O autor comenta, como exemplo, que “de muito pouco adiantaria se reconhecer
a relevância da questão federal e, ato contínuo, deixar de conhecer do Recurso Especial, porque
intempestivo” (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Para o autor, caso seja adotado o mesmo princípio informado no art. 1.209, § 3º,
do CPC – o qual permite que o STF e STJ desconsiderem vícios formais de recursos tempestivos
ou determinem sua correção, desde que não considerem graves –, “somente o Recurso Especial
admissível, preenchidos os demais requisitos intrínsecos e extrínsecos, receberá o exame da
alegada relevância. Será o último aspecto do juízo de admissibilidade apreciado pelo órgão
competente do STJ” (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Um pouco mais à frente, iremos fazer algumas digressões sobre essa distinção
entre requisitos intrínsecos e extrínsecos.
Em eventual ausência de tópico específico na peça recursal sobre o critério da
relevância, por se tratar de requisito formal, sendo assim passível de controle pelo tribunal a
quo, o presidente ou vice-presidente daquele tribunal “poderá negar seguimento ao Recurso
Especial pela ausência da demonstração, em tese, da relevância cogitada no art. 105, § 2º, da
CF/1988, embora não lhe seja lícito adiantar qualquer palavra sobre a relevância do caso
concreto” (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Araken de Assis complementa que “o defeito relativo à ausência de alegação da
relevância não pode ser suprido pelo recorrente”, e ocorrerá, assim, o juízo de inadmissibilidade
pelo tribunal a quo (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Vital (2022) nos traz qual a lógica da criação deste novo filtro:

Para o assessor-chefe do Núcleo de Gerenciamento de Precedentes, Marcelo


Marchiori, a lógica que norteou a criação desse filtro recursal é a de restringir a
recorribilidade. Assim sendo, se toda recusa gerar agravo regimental, não vai
adiantar nada. ‘A tendência é que não caiba mais o AREsp, mas apenas o agravo
interno.’ ‘A grande vitória vai ser na redução do recebimento de recursos, com
formação de temas de relevância. E esses temas resolvendo a questão, reduzindo
a recorribilidade, nem que seja à força. A ideia não é melhorar a agilidade no
julgamento. É reduzir o recebimento de recursos’, explicou ele.

Apesar de já haver um anteprojeto de lei de regulamentação sendo gestado pelo


próprio STJ, alguns Ministros do STJ entendem que essas definições deveriam ser feitas pelo
próprio Judiciário, por meio de alterações no Regimento Interno do STJ. De acordo com Vital
(2022), “segundo o STF, os regimentos internos dos tribunais têm caráter de lei material”.

3. Noções gerais sobre o Recurso Especial

O Recurso Especial (REsp) é uma espécie de recurso direcionado ao STJ, que


tem o objetivo de questionar uma possível aplicação incorreta/indevida de alguma lei federal
por um tribunal de segundo grau.
Assim, o REsp visa a uniformização pelo STJ da interpretação da legislação
federal em todo o país. Como bem explica Araken de Assis (2022), em artigo postado no Portal
Jusbrasil, o Recurso Especial é um “meio de impugnação destinado a assegurar a uniformidade
de interpretação e de aplicação do direito federal” (ASSIS, 2022, Jusbrasil).
Como bem lembrou Gilberto Bruschi e Mônica Couto, o Recurso Especial é um
daqueles recursos que possuem a chamada “fundamentação vinculada”, ou seja, “não se destina
à revisão geral, ampla e irrestrita de decisões tidas por injustas, como acontece, por exemplo,
com a apelação. O seu cabimento cinge-se às hipóteses predeterminadas na Constituição”
(FUGA, TESOLIN, LEMOS et al, 2022, p. 264). Ou seja, é preciso que o recurso atenda
claramente aos critérios informados na Constituição.
Ainda sobre a “fundamentação vinculada” do Recurso Especial, Cassio
Scarpinella Bueno nos explica que:

Não basta ao recorrente demonstrar que a decisão é contrária aos seus interesses
para que esteja aberta a via do recurso extraordinário e do recurso especial. É
mister que a decisão, além disto, cause a ele um específico gravame previamente
indicado na própria Constituição Federal (apud FUGA, TESOLIN, LEMOS et al,
2022, p. 264).

Um outro ponto que merece destaque é que o Recurso Especial deverá ser
interposto no tribunal a quo, e direcionado ao presidente ou vice-presidente – conforme estiver
regulado pelo respectivo regimento interno –, o qual decidirá sobre o juízo de admissibilidade.
Mas, vale ressaltar que, “por óbvio, a palavra final sobre a admissibilidade ou não do Recurso
Especial, relativamente a quaisquer requisitos intrínsecos ou extrínsecos, caberá ao STJ, motivo
por que o juízo no tribunal a quo se mostra provisório” (ASSIS, 2022, Jusbrasil).

4. Critérios de admissibilidade do Recurso Especial

Os requisitos formais para a admissibilidade do Recurso Extraordinário e do


Recurso Especial, antes mesmo do advento da exigência da relevância para o Recurso Especial,
já estavam descritos no art. 1.029, incisos I a III, do CPC:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na


Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente
do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

Além destes, estão elencadas na CF/1988, no art. 105, III, alíneas “a” a “c”, os
casos em que se aplicam o Recurso Especial (o chamado cabimento):

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


(...)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância,
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

Estes são os critérios tradicionais de admissibilidade do Recurso Especial,


originalmente adotados antes do advento da EC nº 125/2022. A partir de então, será exigido
adicionalmente o critério da relevância da questão de direito federal infraconstitucional para a
admissão dos Recursos Especiais interpostos após a EC nº 125/2022.
5. Comparação com a sistemática da repercussão geral no Recurso Extraordinário
para o STF e da transcendência no Recurso de Revista para o TST

Existem inúmeros mecanismos, tanto no direito nacional quanto no direito


estrangeiro, que tentam limitar o alto número de recursos que chegam às Cortes Superiores.
A criação do instituto da relevância para o Recurso Especial inspirou-se
fortemente na criação do requisito da repercussão geral da questão constitucional para o
Recurso Extraordinário, advindo da Emenda Constitucional nº 45/2004. Esse novo mecanismo
gerou um grande impacto não apenas no STF, mas também na forma de atuação do STJ
(MEDINA, 10/8/2022).
Esta grande transformação experimentada pelo STF, com a instituição da
repercussão geral, passou a ser uma vitrine ao STJ, clareando um possível caminho a ser
trilhado diante da grande demanda processual que recebia. A própria doutrina tem a
compreensão de que “a relevância é a repercussão geral do Recurso Especial” (NERY e
MELLO, 15/5/2023).
Neste mesmo sentido, Medina (10/8/2022) nos esclarece que:

Espera-se que, em sua regulamentação, a disciplina da relevância da questão


federal infraconstitucional para o recurso especial espelhe-se na prevista para a
repercussão geral da questão constitucional para o recurso extraordinário. Ainda
que não sejam requisitos idênticos, nos dois casos está-se diante da exigência de
que a questão seja qualificada para que se submeta ao exame dos tribunais
superiores. É natural, assim, que a experiência haurida pelo Supremo seja
aproveitada pelo Superior Tribunal de Justiça (MEDINA, 10/8/2022).

Contudo, Alvim, Uzeda e Meyer (2022, p. 2) nos resgatam que houve uma
diferença significativa entre a criação de ambos os institutos (repercussão geral para o Recurso
Extraordinário e este da relevância para o Recurso Especial). No art. 7º da Emenda
Constitucional nº 45/2004, constava que:

Art. 7º O Congresso Nacional instalará, imediatamente após a promulgação desta


Emenda Constitucional, comissão especial mista, destinada a elaborar, em cento
e oitenta dias, os projetos de lei necessários à regulamentação da matéria nela
tratada, bem como promover alterações na legislação federal objetivando tornar
mais amplo o acesso à Justiça e mais célere a prestação jurisdicional.

Por sua vez, na Emenda Constitucional nº 125/2022, que instituiu a exigência da


demonstração da relevância para a admissibilidade do Recurso Especial, não há imposição de
nenhum prazo para que haja a regulamentação do instituto. Isso é preocupante, sob certo ponto
de vista, pois não sabemos ao certo quando esta matéria da relevância para o REsp entrará
novamente na agenda do Congresso Nacional.
Inclusive, destaco aqui que já se passou exatamente 1 (um) ano desde a
promulgação da EC nº 125/2022 e, até o momento, não houve a devida regulamentação nem
pela via legislativa e nem pelas alterações no Regimento Interno do STJ. Devemos lembrar,
ainda, que a relevância só passará a ter eficácia quando esta regulamentação estiver em vigor.
O STJ já informou que só passará a exigir o novo filtro recursal após a definição da legislação
sobre o tema.
Quanto à natureza, de forma análoga a que acontece com a repercussão geral, a
relevância da questão federal revelaria duas características simultâneas e distintas: seria tanto
requisito intrínseco quanto extrínseco de admissibilidade do Recurso Especial (ALVIM,
UZEDA e MEYER, 2022, p. 2). Os requisitos intrínsecos têm a ver com a própria existência
do direito de recorrer (por exemplo: cabimento, legitimidade, interesse em recorrer, e
inexistência de fato extintivo ou impeditivo). Já os requisitos extrínsecos dizem respeito ao
modo de exercício do direito de recorrer. Alguns exemplos destes últimos seriam: recolhimento
do preparo, tempestividade e exigências formais.
Seria um requisito extrínseco na medida em que, a partir de então, será exigida
a demonstração de relevância como requisito de admissibilidade do Recurso Especial, ou seja,
o recorrente terá o ônus de demonstrar (em preliminar específica) a relevância das questões de
direito federal infraconstitucional discutidas no caso (§ 2º, do art. 105, CF/1988) ou mostrar
que a discussão se enquadra em alguma das hipóteses de relevância presumida previstas nos
incisos do § 3º, art. 105, CF/1988.
E, também, seria um requisito intrínseco, pois, uma vez que o STJ decidir que
determinada matéria não teria relevância, recursos semelhantes não seriam admitidos (ALVIM,
UZEDA E MEYER, 2022, p. 2).
Por sua vez, Araken de Assis (2022, Jusbrasil), em artigo postado no Portal
Jusbrasil, revela uma visão distinta. Ele entende que o requisito da relevância da questão federal
enquadra-se apenas como requisito extrínseco, pois compõe “item autônomo da regularidade
formal do Recurso Especial”.
Vale ressaltar, ainda, que não há uma exigência de cumulatividade entre os
dispositivos contidos nos §§ 2º e 3º do art. 105, da CF/1988. Em síntese, ou se encaixará nas
hipóteses previstas de presumida relevância, ou, não sendo o caso, o requerente deverá
demonstrar claramente a relevância da questão de direito infraconstitucional no seu caso.
Em relação à ausência de eventual preliminar de relevância no Recurso Especial,
Alvim, Uzeda e Meyer (2022, p. 4) nos informam que, muito provavelmente, o STJ adotará
uma sistemática bastante semelhante à que foi adotada pelo STF quando da criação da
repercussão geral:

Nenhum recurso será inadmitido pela ausência da respectiva preliminar, até que
a matéria seja regulamentada por lei e, muito possivelmente, pelo regimento. De
todo modo, todos os recursos interpostos, a partir da publicação da Emenda à
Constituição, poderão ser submetidos a referido regime (da relevância)
(complemento meu).

O instituto da transcendência nos Recursos de Revista (na esfera trabalhista),


apresenta, também, certa similitude teleológica com o almejado pelo requisito da relevância
para admissibilidade dos Recursos Especiais. O princípio da transcendência, adotado no
Recurso de Revista, pretende convencer os julgadores de que o pedido apresentado no Recurso
de Revista extrapola os direitos individuais do autor da ação (trabalhador) e, de certa maneira,
poderá afetar outros trabalhadores.
Mas, antes de tudo, precisamos contextualizar um pouco sobre a origem da
transcendência, dar algumas noções gerais sobre o Recurso de Revista e sobre a sistemática da
transcendência adotada pelo TST no julgamento de tais recursos. Faremos isso nos parágrafos
seguintes. Em seguida, levaremos o leitor a algumas reflexões sobre a práxis processual
trabalhista e o efeito dela no acesso à Justiça.
Apesar de a Justiça do Trabalho ter sido uma das pioneiras no âmbito do
Judiciário em relação à informatização de seus processos e recursos, sejam eles administrativos
ou judiciais (MANUS, 2018), tal processamento eletrônico não conseguiu, por si só, reduzir a
grande demanda de recursos judiciais que chegam diariamente ao TST.
Podemos dizer que o TST foi um verdadeiro desbravador quando implantou o
instituto da transcendência para o Recurso de Revista, lá nos anos 2001 – criado pela Medida
Provisória nº 2.226/2001. A transcendência serviu de inspiração para outros institutos
semelhantes que vieram somente anos depois, a exemplo da repercussão geral para o Recurso
Extraordinário no STF (que ocorreu com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004,
também chamada de “reforma do Judiciário”), e da relevância da questão de direito federal
infraconstitucional para o Recurso Especial para o STJ, que só ocorreu em 14 de julho de 2022
– vemos que é bastante recente – com a aprovação da EC nº 125/2022, a qual ainda aguarda
regulamentação de sua operacionalização.
A Medida Provisória nº 2.226/2001 foi o marco legislativo que criou o instituto
da transcendência. Ela acrescentou o art. 896-A na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
que passou a considerar a transcendência como condição de admissibilidade do Recurso de
Revista:

Art. 896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará


previamente se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de
natureza econômica, política, social ou jurídica.

Posteriormente, a Lei da Reforma Trabalhista de 2017 – Lei nº 13.467/2017 –


complementou o art. 896-A, o que representou uma restrição ainda maior ao Recurso de
Revista, passando a exigir a demonstração da transcendência no recurso, sob pena de não
admissibilidade (SANTOS e HAJEL FILHO, 2020, p. 610).
Apesar dos inúmeros efeitos nefastos trazidos com a reforma trabalhista de 2017,
em que Maior e Severo (2017, p. 33) consideram que a reforma “constituiu um ato de terrorismo
contra a classe trabalhadora”, podemos enxergar na transcendência um dos poucos pontos
positivos daquela reforma.
Mas o que seria exatamente a transcendência recursal? O instituto da
transcendência, adotado no Recurso de Revista, pretende convencer os julgadores de que o
pedido apresentado no Recurso de Revista extrapola os direitos individuais do autor da ação
(trabalhador) e, de certa maneira, poderá afetar outros trabalhadores. Assim, o recorrente deve
demonstrar que a controvérsia ultrapassa os interesses meramente das partes, ou seja, não dizem
respeito apenas às partes envolvidas no litígio, mas sim que extrapola seus efeitos para outras
parcelas da sociedade.
O objetivo principal é o de atuar como filtro recursal para o TST, reduzindo a
grande quantidade de recursos que chegam ao Tribunal e referem-se a disputas
individualizadas, permitindo que o TST se concentre nos seus objetivos constitucionais, como
ser um pacificador e uniformizador da jurisprudência trabalhista.
Entretanto, não devemos focar apenas em números frios. Um alto número de
reclamações trabalhistas não representa necessariamente algo ruim. Se passarmos a
compreender tal fato através do prisma da proteção desejada pelo Direito do Trabalho, essa alta
taxa de litigiosidade seria justamente um dos efeitos esperados com a prevalência dos princípios
da justiça do Trabalho, em que se prima pela simplicidade, menor formalidade, oralidade,
dentre vários outros princípios. Acima de tudo, temos que nos lembrar que o acesso à Justiça,
como bem tratou Maior e Severo (2017, p. 4),
é um direito fundamental da cidadania, que tem sede constitucional e nas
declarações internacionais de Direitos Humanos, assim, a Lei nº 13.467/17 não
pode impedi-lo. As alterações nas regras processuais, propostas pela Lei nº
13.467/17, precisam ser compreendidas e aplicadas à luz da atual noção do direito
de acesso à justiça como um direito fundamental, que é condição de possibilidade
do próprio exercício dos direitos sociais. Esse é o referencial teórico que
permitirá, também no âmbito processual, o uso das regras dessa legislação “contra
ela mesma”, construindo racionalidade que preserve as peculiaridades do
processo do trabalho e a proteção que o justifica.

O Recurso de Revista, previsto no artigo 896 da CLT, é o instrumento adequado


para se impugnar acórdãos proferidos pelos Tribunais Regionais do Trabalho nas demandas
originárias de primeira instância oriundas das Varas do Trabalho, visto que possui o intento de
unificar a jurisprudência dos Tribunais Regionais do Trabalho em relação à Constituição
Federal, lei federal e aos princípios norteadores e aplicáveis ao Direito material. Tal recurso se
caracteriza como de natureza especial e extraordinária, pois visa analisar somente as matérias e
as questões de direito, bem como se destina a proteger o direito objetivo. Nesse sentido, a
competência para seu julgamento é das Turmas do TST.
Para mais, o referido recurso é legalmente restrito porquanto só pode ser
invocado nas hipóteses expressamente determinadas no texto normativo. Assim, os
fundamentos do Recurso de Revista são taxativos. Este não pode analisar, por exemplo, os
elementos fáticos e probatórios da decisão, o que obsta um amplo acesso à justiça. Tal
determinação foi imposta pelo TST na Súmula 126, como se verifica no enunciado:

RECURSO. CABIMENTO. Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts.


896 e 894, b, da CLT) para reexame de fatos e provas. (mantida) - Res. 121/2003,
DJ 19, 20 e 21.11.2003.

Ademais, é importante mencionar que o Recurso de Revista só pode ser


interposto em demanda individual, portanto este não pode ser utilizado em dissídios coletivos,
bem como em outras matérias de competência originária do TRT como mandado de segurança
contra ato judicial, ação rescisória e ação anulatória de cláusulas convencionais e em acórdãos
regionais prolatados em agravo de instrumento.
Por conseguinte, alguns critérios de admissibilidade são exigidos para este
recurso. Sendo assim, como usualmente é previsto, o retromencionado deve atender a todos os
pressupostos recursais gerais:

regularidade formal e de representação, conforme Súmulas 422 e 425 do TST,


respectivamente;
depósito recursal, cujo valor é o dobro do valor imposto para o recurso ordinário,
observado o teto máximo do valor da condenação (SANTOS e HAJEL FILHO,
2020, p. 595).

Para mais, deve-se abarcar, também, algumas particularidades de


prequestionamento e transcendência que lhe são restritas. O prequestionamento, desse modo,
pressupõe que a matéria a ser tratada no recurso deve necessariamente ter sido discutida
anteriormente, portanto é proibida a inclusão de argumentos inéditos no processo. Para tanto, a
Lei nº 13.015/2014 denota que a peça do Recurso de Revista necessita expressar os argumentos
específicos os quais devem ser revisados de modo a atender o prequestionamento.
A exceção para a exigência do prequestionamento é quando o vício a ser sanado
nasce no próprio acórdão do Tribunal Regional do Trabalho, de modo que este tenha violado a
lei ou a Constituição Federal. Portanto, a OJ nº 119 da SDI-I do TST, salienta:

Prequestionamento Inexigível. Violação Nascida na Própria Decisão Recorrida.


Súmula nº 297 do TST. Inaplicável. É inexigível o prequestionamento quando a
violação indicada houver nascido na própria decisão recorrida. Inaplicável a
Súmula nº 297 do TST.

O Recurso de Revista, portanto, é o remédio cabível para contestar as decisões


proferidas pelos TRTs advindas do recurso ordinário. O artigo 896 da CLT salienta que este é
cabível para os dissídios individuais, entretanto, o entendimento predominante é que é possível
se utilizar de tal recurso nos casos de ações civis públicas e ações coletivas.
Ademais, além dos pressupostos retromencionados, o Recurso de Revista tem
que atender às hipóteses previstas nas alíneas do artigo 896 da CLT, as quais demonstram que
as questões ali tratadas são motivo de divergência jurisprudencial; viola literalmente dispositivo
de lei federal, bem como se opõe à Constituição Federal:

Art. 896. Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do Trabalho
das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio individual, pelos
Tribunais Regionais do Trabalho, quando:
a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe
houver dado outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a
Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou contrariarem
súmula de jurisprudência uniforme dessa Corte ou súmula vinculante do Supremo
Tribunal Federal;
b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de Trabalho,
Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância
obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional
prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea a;
c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e
literal à Constituição Federal.
Desse modo, o recorrente deve demonstrar que no acórdão combatido há uma
interpretação de lei federal de modo diverso a adotada por outro Tribunal ou, de outra forma,
este se manifestou contrariamente às súmulas ou às orientações jurisprudenciais do TST ou STF.
Para tanto, tal divergência deve ocorrer entre Tribunais Regionais distintos.
Por fim, quando recurso se referir a dissenso de julgado incumbe ao recorrente
o ônus da produção da prova desta divergência jurisprudencial através de certidão, cópia, ou
citação da jurisprudência, bem como o referido deve evidenciar as circunstâncias que
identifiquem ou se assemelham ao caso confrontado.
Como explicamos anteriormente, além de ser necessário que o Recurso de
Revista atenda aos pressupostos gerais, é preciso que ele satisfaça os pressupostos específicos
do prequestionamento e da transcendência. Sobre o prequestionamento, já tratamos acima.
Agora, iremos detalhar um pouco melhor sobre a exigência da transcendência.
O requisito da transcendência para o Recurso de Revista está previsto no Art.
896-A da CLT, que informa que a causa deverá oferecer transcendência “com relação aos
reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica”.
Santos e Hajel Filho (2020, p. 604) nos trazem uma explicação sobre o alcance
e a finalidade da transcendência para o julgamento dos Recursos de Revista:

Transcendência é a característica de algo superior, sublime, metafísico, que


excede, ultrapassa as fronteiras comuns. Em sentido jurídico, equivale a dizer que
é um tema ou uma matéria que extrapola os interesses da parte. É similar à
repercussão geral prevista para o recurso extraordinário julgado pelo STF. Desse
modo, o recurso de revista deve ter por finalidade julgar questões que sejam
relevantes para a coletividade e não somente para as partes (SANTOS e HAJEL
FILHO, 2020, p. 604).

Os institutos da transcendência, da repercussão geral e dos recursos repetitivos


(acrescento aqui, ainda, o instituto da relevância trazido pela EC nº 125/2022), “têm em comum
a seleção ou filtragem de causas relevantes, para definição de teses jurídicas pelo TST, STF e
STJ nos Recursos de Revista, Extraordinário e Especial, respectivamente” (FILHO, 2018, p.
64).
O Ministro do TST, Ives Gandra da Silva Martins Filho, nos explica que:

O instituto da transcendência foi outorgado ao Tribunal Superior do Trabalho para


que possa selecionar as questões que transcendam o interesse meramente
individual, exigindo posicionamento da Corte quanto à interpretação do
ordenamento jurídico trabalhista pátrio, fixando teses jurídicas que deem o
conteúdo normativo dos dispositivos da CLT e legislação trabalhista extravagante
e garantam a observância, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, da
jurisprudência então pacificada (FILHO, 2018, p. 63).

Santos e Hajel Filho (2020), na página 604, também repercutem a visão do


Ministro Ives Gandra Martins Filho sobre a transcendência:

O critério de transcendência previsto para a admissibilidade do recurso de revista


para o TST dá ao Tribunal, e seus ministros, uma margem de discricionariedade
no julgamento dessa modalidade recursal, na medida em que permite uma seleção
prévia dos processos que, pela sua transcendência jurídica, política, social ou
econômica, mereçam pronunciamento da Corte (palavras do Ministro Ives Gandra
Martins Filho).

A Lei nº 13.467/2017 (Lei da Reforma Trabalhista) adicionou alguns parágrafos


ao Art. 896-A da CLT, com o objetivo de clarear sobre como será o processamento e os
indicadores de transcendência, exigidos para o enquadramento e admissibilidade do Recurso de
Revista:

§ 1o São indicadores de transcendência, entre outros:


I - econômica, o elevado valor da causa;
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do
Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;
III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social
constitucionalmente assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legislação
trabalhista.
§ 2o Poderá o relator, monocraticamente, denegar seguimento ao recurso de
revista que não demonstrar transcendência, cabendo agravo desta decisão para o
colegiado.
§ 3o Em relação ao recurso que o relator considerou não ter transcendência, o
recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência,
durante cinco minutos em sessão.
§ 4o Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será
lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível
no âmbito do tribunal.
§ 5o É irrecorrível a decisão monocrática do relator que, em agravo de instrumento
em recurso de revista, considerar ausente a transcendência da matéria.
§ 6o O juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela Presidência
dos Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos
intrínsecos e extrínsecos do apelo, não abrangendo o critério da transcendência
das questões nele veiculadas.

Assim, percebemos que há um forte subjetivismo na análise de quais matérias


serão consideradas transcendentes ou não, principalmente pelo fato de a transcendência
envolver aspectos de “natureza econômica, política, social ou jurídica”. Independente disso,
uma certeza que temos é que se trata de um filtro recursal extremamente valioso, à disposição
do TST, para que ele tenha meios de melhorar a celeridade processual, diminuindo assim o
represamento de recursos e processos na Corte (SANTOS e HAJEL FILHO, 2020, p. 604).
Portanto, vemos que a transcendência se caracteriza como um atributo do
Recurso de Revista. À vista disso, o instituto, embora já ser previsto na Consolidação das Leis
do Trabalho, só foi regulamentado pela Reforma Trabalhista de 2017 e, apesar dos pontos
controversos da referida Lei, constitui um importante mecanismo para a Justiça do Trabalho,
haja vista que o filtro da transcendência tende a prezar pelo seu caráter inovador, célere e eficaz,
bem como por sua missão pela ampla pacificação dos conflitos trabalhistas.
Para tanto, ao se analisar que existem fatores relevantes social, político, jurídico
e economicamente, de modo a transcender os interesses subjetivos da causa, visto que atinge
inúmeras pessoas em situações vulneráveis semelhantes, torna-se necessária a incorporação de
ferramentas que viabilizem uma resposta mais rápida para a sociedade em consonância com os
princípios da eficiência e do interesse público. Assim, ao se pautar na racionalização do sistema
recursal, na estabilização e no desafogamento do sistema de justiça trabalhista, como sua
finalidade precípua, a transcendência corrobora para o combate das desigualdades sociais, das
injustiças e, inclusive, para a manutenção da própria democracia calcada nos direitos
fundamentais.
Apesar de tudo que vimos, Nery e Mello (15/5/2023) nos explicam que, muito
provavelmente, o conceito de relevância que será talhado pelos nossos legisladores virá de
forma distinta do que foi adotado na questão da repercussão geral e na transcendência.
Por exemplo, poderíamos facilmente ter algum caso judicial cujo valor da causa
seja muito superior a quinhentos salários mínimos (hipótese de relevância presumida para o
Recurso Especial), mas que não teria a devida repercussão geral exigida para um eventual
Recurso Extraordinário. E o mesmo pode ocorrer com a transcendência para o Recurso de
Revista. Não necessariamente uma causa de valor superior a quinhentos salários mínimos
extrapolaria seus efeitos para outras partes além-processo, por dizerem respeito apenas às partes
envolvidas no litígio (NERY e MELLO, 15/5/2023).
É o mesmo que afirma Didier Jr. e Cunha (2023, p. 469). Segundo eles, o texto
do § 3º do art. 105 da Constituição já deixa claro que a relevância da questão de direito federal
infraconstitucional não exige a transcendência (como conceituamos acima). É possível ver
claramente, no rol das hipóteses descritas em alguns dos incisos do § 3º (como o valor da causa),
que existe a relevância (já é presumida), mas não necessariamente haverá a transcendência
(extrapola os efeitos para além do caso concreto).
6. O anteprojeto de regulamentação para o filtro da relevância

Após a aprovação da Emenda Constitucional nº 125/2022, que ocorreu em 14 de


julho de 2022, e instituiu o filtro da relevância para o Recurso Especial, o Superior Tribunal de
Justiça – durante o segundo semestre de 2022 – elaborou uma proposta de regulamentação e
modo de operacionalização para este novo filtro recursal.
A proposta foi entregue pelo STJ ao presidente do Senado, o Senador Rodrigo
Pacheco, no dia 5/12/2022. Trata-se de uma sugestão de anteprojeto de lei para a
regulamentação do filtro de relevância do Recurso Especial.
O anteprojeto foi fruto de muita discussão e sugestões dos Ministros do STJ, e
traduz o consenso da Corte Superior infraconstitucional acerca da regulamentação do filtro da
relevância. Ele insere dispositivos e adapta o Código de Processo Civil (CPC) – a Lei nº
13.105/2015 – com a finalidade de regulamentar o parágrafo 2º do artigo 105 da Constituição
Federal, que passa a exigir do recorrente a demonstração da relevância das questões jurídicas
de direito infraconstitucional debatidas no recurso (STJ, 5/12/2022).
Como falamos anteriormente, o anteprojeto foi inspirado fortemente na
regulamentação da repercussão geral para o Recurso Extraordinário. “Na elaboração do texto,
foi considerada a experiência de 15 anos do Supremo Tribunal Federal (STF) na formação de
precedentes, desde a instituição da exigência da repercussão geral para o Recurso
Extraordinário” (STJ, 5/12/2022).
Tanto a repercussão geral (para o RE) quanto a relevância (para o REsp)
pretendem liberar as cortes superiores a focarem na sua missão essencial, que é a de formar
precedentes cujos impactos sejam refletidos para o direito pátrio e a sociedade como um todo,
reduzindo-se o julgamento de recursos que envolvam somente o interesse das partes.
No caso específico da relevância para o REsp, conforme a justificativa do
anteprojeto que foi enviado ao Senado, o STJ registra que “a proposta enfatiza seu papel como
corte superior responsável por uniformizar a jurisprudência e dar a última palavra sobre a
legislação federal” (STJ, 5/12/2022).
Assim, o anteprojeto buscou localizar no CPC os dispositivos que
provavelmente seriam impactados pela EC nº 125/2022. Por exemplo, o texto trouxe a inclusão
do artigo 1.035-A e alterações na redação de sete dispositivos do CPC.
Em notícia divulgada pelo STJ em 5/12/2022, acerca da entrega do anteprojeto
ao Senado, a Corte explica que o anteprojeto prevê, inclusive, impactos em outras instâncias
judiciais e aborda questões como um período de vacatio legis, para adaptação dos profissionais
do Direito:

O artigo 1.035-A introduz a relevância da questão de direito federal


infraconstitucional no CPC, detalhando seu conceito para fins de admissibilidade
do recurso especial. O artigo proposto também contempla a possibilidade de
suspensão da tramitação dos processos idênticos após o reconhecimento da
relevância, em mecanismo semelhante ao que já ocorre na repercussão geral do
STF. O texto do anteprojeto prevê ainda que caberá às presidências ou vice-
presidências dos tribunais de origem a negativa de seguimento de recursos que
veiculem mesma questão jurídica definida sob o rito da relevância da questão
federal, além da previsão de juízo de retratação quando o entendimento estiver em
desacordo com o entendimento do STJ. O anteprojeto prevê regras de direito
intertemporal e um período de vacatio legis para possibilitar a adaptação da
comunidade jurídica à nova sistemática de filtragem recursal, além da autorização
para que o STJ regulamente questões procedimentais em seu regimento interno,
quando necessário (STJ, 5/12/2022).

Este anteprojeto poderá ser consultado, na sua íntegra, no Anexo II desta


monografia e também no link contido nas referências bibliográficas, do item denominado “STJ,
Anteprojeto da regulamentação do filtro de relevância do Recurso Especial, instituído pela EC
nº 125/2022”. Trata-se de um arquivo (versão em PDF), disponibilizado pelo próprio site do
STJ.
Sobre a discussão citada anteriormente acerca de qual seria a provável escolha
do legislador acerca do uso de agravo regimental (para o STJ) ou do agravo interno (para o
tribunal de origem), em caso de inadmissão do Recurso Especial (por suposta ausência de
relevância), temos que, segundo a proposta enviada pelo STJ do anteprojeto de regulamentação
para o filtro de relevância, a processualística que será adotada será a mesma do Recurso
Extraordinário em caso de ausência de repercussão geral, ou seja, da inadmissão do Recurso
Especial por suposta ausência de relevância caberá agravo interno a ser direcionado tribunal
recorrido:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do


tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo
quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regimes da repercussão
geral, da relevância da questão de direito federal infraconstitucional ou em
julgamento de recursos repetitivos. (NR)
(…)
§ 2ºA petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais,
aplicando-se a ela o regime da repercussão geral, da relevância da questão de
direito federal infraconstitucional e dos recursos repetitivos, inclusive quanto à
possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação. (NR) (STJ, Anteprojeto
da regulamentação do filtro de relevância do recurso especial, instituído pela EC
nº 125/2022, disponível também no Anexo II desta monografia).
Porém, não é garantido que o anteprojeto da regulamentação do filtro de
relevância para Recurso Especial será aprovado exatamente (sem alterações) da forma que foi
proposta pelo STJ. Os parlamentares têm total autonomia e liberdade para decidirem, de acordo
com a representação popular que lhe foi constitucionalmente concedida. Ainda assim, existe
grande probabilidade de ser aprovado de forma bastante próxima à que foi sugerida pelo STJ,
por se tratar de procedimentos que impactam diretamente a Corte Superior infraconstitucional.
Até o momento do fechamento desta monografia (20/7/2023), não havia sido
aprovada a legislação pertinente a este anteprojeto de regulamentação do filtro da relevância
para o Recurso Especial. Além disso, muito provavelmente, o STJ terá que fazer ajustes no seu
Regimento Interno, visando estabelecer as normas necessárias sobre o instituto da relevância.
O que também ainda não foi feito. Tal autorização (para adaptar seu Regimento Interno) já está
prevista no Art. 6º do anteprojeto de lei que foi enviado ao Senado.

7. Impactos possíveis com a adoção do filtro da relevância e algumas reflexões

Segundo Medina (14/9/2022), a implementação da relevância da questão federal


como requisito para o Recurso Especial provocará inúmeras transformações no desenho
institucional dos tribunais, em especial nos tribunais locais e no próprio STJ.
O autor explica, também, que o modo de atuação de um dos tribunais superiores
acaba por influenciar no modo de atuação do outro. Ocorre uma influência recíproca entre estes
dois tribunais de cúpula.

Espera-se, com isso, um recrudescimento da peculiar função nomofilática


desempenhada pelos tribunais locais, quanto à inteligência das regras de direito
federal infraconstitucional. É que, como o Superior Tribunal de Justiça se recusará
a se manifestar a respeito de temas que considerar sem relevância, sobre esses
tocará aos tribunais locais dar "a última palavra". Caso, por exemplo, o STJ decida
que questões de direito de vizinhança ou de direito condominial não ostentam
relevância, os tribunais de cada um dos estados dirão como as regras de lei federal
correspondentes devem ser interpretadas, na área de sua competência territorial
(MEDINA, 10/8/2022).

Medina vislumbra a possibilidade de que, com a aprovação do requisito da


relevância, uma vez que certos temas de direito federal infraconstitucional deixarão de chegar
ao STJ, diante da ausência de relevância, os tribunais locais e regionais passarão a exercer uma
maior normatividade sobre certos assuntos. Ele diz que:

tais temas podem vir a ser "estadualizados" (ou "regionalizados", se considerados


os Tribunais Regionais Federais). Os resultados são agudos. Como consequência,
por exemplo, uma determinada cláusula contratual poderá ser considerada válida
em um estado da federação, mas não em outro, a depender do sentido que cada
um dos tribunais estaduais dê ao artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor
(MEDINA, 14/9/2022).

Para o autor, corre-se o risco de que o direito federal se torne bastante


fragmentado, uma vez que, devido a esta limitação de cabimento de Recursos Especiais por
conta do critério da relevância da questão federal infraconstitucional, os tribunais locais
poderão dar à lei federal um sentido próprio, o que poderia se distanciar do entendimento dado
por outros tribunais locais. Para ele, por conta disso, será preciso estabelecer limites, para não
colocarmos em risco a unidade do direito nacional (MEDINA, 14/9/2022).
Araújo e Nery (22/8/2022) discorrem em sentido semelhante. Este novo filtro de
acesso ao STJ acarretará mudanças significativas no modo como o REsp será processado e
julgado pelo STJ.
Segundo os autores, isso trará impactos na governança judicial no STJ – uma
vez que influenciará na gestão dos processos na Corte Superior –, e na cooperação no exercício
das atividades dos tribunais e também na competência recursal dos tribunais locais (tribunais
de justiça e regionais federais), que terão agora sua competência local ampliada para apreciar e
encerrar processos, não precisando remeter para a instância superior aqueles REsp sem a
relevância tratada pela EC nº 125/2022.
“Trata-se, em suma, de filtro de controle de processos e de temas, para permitir
a gestão de causas pela Corte Superior” (ARAÚJO e NERY, 22/8/2022). “As decisões do STJ,
que deixarem de reconhecer a relevância de determinada questão de direito federal, serão
fundamento para a negativa de seguimento aos Recursos Especiais, pelos Tribunais locais”
(ALVIM, UZEDA E MEYER, 2022, p. 7).
Ainda, temos que o órgão competente para julgar a relevância das questões de
direito infraconstitucional é o STJ, mas os tribunais locais terão papel de suma importância:
irão analisar a presença (ou não) da preliminar específica da relevância, ou seja a presença, no
Recurso Especial, da efetiva demonstração de relevância (ALVIM, UZEDA E MEYER, 2022,
p. 7).
Os autores entendem que esta sistemática afetará não somente o STJ, mas
também as chamadas “Cortes de Justiça”, também chamadas de “Cortes Locais”, ou seja, os
Tribunais de Justiça dos Estados (e do DF) e os Tribunais Regionais Federais, que terão a sua
atuação modificada e ressignificada.
Uma vez que o STJ declarar que inexiste relevância em determinado caso, será
papel das “Cortes de Justiça” darem a última palavra sobre a questão de Direito
infraconstitucional, como, inclusive, já ocorre nos casos em que as questões constitucionais
discutidas em Recursos Extraordinários não possuem repercussão geral.

Em primeiro lugar, se a lei a ser editada estabelecer dinâmica semelhante aos


casos em que o STF não tenha reconhecido a existência de repercussão geral
(artigo 1.030, I, a, do CPC) com a negativa de seguimento de todos os recursos
especiais com a mesma questão federal que o STJ já tiver afirmado não ser
relevante, é de se destacar que as Cortes de Justiça (TJs e TRFs) inevitavelmente
terão a última palavra para todas as questões de Direito Federal infraconstitucional
que não forem “relevantes” (ARAÚJO e NERY, 22/8/2022, adaptado).

Araújo e Nery (22/8/2022) fazem uma prospecção até um pouco mais ousada:

Com a EC nº 125/2022, será necessário refletir sobre o papel das Cortes de Justiça
no cenário constitucional, notadamente no que diz respeito à atuação dessas cortes
como, quem sabe, cortes de precedentes “regionais” em questões constitucionais
(sem repercussão geral) e infraconstitucionais (sem relevância) (ARAÚJO e
NERY, 22/8/2022).

Dependendo de como for feita a regulamentação desta sistemática da relevância


para o Recurso Especial para o STJ, os Recursos Especiais que versarem sobre temas “sem
relevância”, não serão julgados pelo STJ e, da decisão que negar seguimento ao recurso, caberá
apenas o Agravo Interno, impedindo, desta forma, o acesso à Corte Superior. Para atingir este
objetivo, muito provavelmente, será feita também uma modificação no CPC, de forma análoga
ao que existe no artigo 1.030, I, a, do CPC (sobre a ausência de repercussão geral nos Recursos
Extraordinários no STF).
Como bem dito por Nery e Mello, a “relevância da questão federal” é um
conceito jurídico indeterminado. Assim, a EC nº 125/2022 não cuidou de explicitar os contornos
exatos para a concretização do conceito de relevância (NERY e MELLO, 15/5/2023). Houve
uma indicação apenas de algumas hipóteses cuja relevância seria já presumida, relegando à
regulamentação legal posterior o delineamento de como ficaria a definição desse conceito
jurídico indeterminado.
Além disso, muito provavelmente teremos um embate hermenêutico acerca do
enquadramento nas hipóteses de relevância presumida contidas nos incisos do § 3º, do art. 105,
da CF/1988. A melhor interpretação a ser adotada, de acordo com Alvim, Uzeda e Meyer (2022,
p. 5), é a de que “tanto para as ações penais e de improbidade, quanto para as que possam gerar
a inelegibilidade do cidadão, para que haja relevância presumida, é necessário que o recurso
tenha sido interposto pelo sujeito prejudicado por eventual decisão condenatória”.
Nesse mesmo sentido, os autores entendem, em caso de eventuais recursos
adesivos, ou seja, que estão subordinados a Recursos Especiais, que forem interpostos pelo
Ministério Público, até mesmo o MP deverá cumprir a exigência contida no § 2º quanto à
demonstração da relevância da questão de direito federal infraconstitucional (ALVIM, UZEDA
E MEYER, 2022, p. 5).
Uma outra reflexão interessante, trazida por Alvim, Uzeda e Meyer (2022, p. 5),
é relativa à interpretação da hipótese de relevância presumida quanto ao valor da causa. Tanto
o inciso III, do § 3º, do art. 105 da CF/1988, quanto o art. 2º da EC nº 125/2022 (que abre espaço
para eventual ajuste no valor da causa), falam em “valor da causa”. Mas devermos interpretar
rigidamente essa expressão em sentido estrito, ou devemos fazer uma interpretação extensiva?
Os autores entendem que o melhor caminho é interpretar extensivamente, pois
não é incomum haver ações em que o valor da causa não representa necessariamente o benefício
econômico efetivamente auferido ou pretendido.
Os patronos das partes podem vir a informar valores de causa simbólicos, bem
inferiores à potencial vantagem econômica em disputa, muitas vezes por receio de condenações
em honorários sucumbenciais exorbitantes. Outro exemplo em que o valor da causa pode não
corresponder com a realidade é quando o valor não seja imediatamente quantificável. Por isso,
tal valor só será possível descobrir na fase de liquidação.
Assim, o mais correto seria uma interpretação extensiva sobre o que deveria ser
entendido como “valor de causa” (ALVIM, UZEDA E MEYER, 2022, p. 5).
No mesmo sentido, Araken de Assis (ASSIS, 2022, Jusbrasil) nos ensina que,
no direito espanhol, o Tribunal Supremo leva em conta a chamada summa gravaminis (em
tradução livre, “a soma das queixas” ou “gravame”). No Judiciário espanhol não é valor da
causa que caracteriza o valor do gravame, mas sim o valor do objeto da impugnação. O exemplo
que o autor cita é o seguinte:

na causa em que A postula do réu B a quantia de 1.000 (mil salários mínimos), o


autor obtém no tribunal de segundo grau a condenação do réu em 800 (oitocentos
salários mínimos), mas interpõe recurso especial para obter a condenação em mais
200 (duzentos) salários mínimos, quantia inferior ao piso do art. 105, § 3º, III, da
CF /1988, tornando inadmissível o recurso. Resta ver qual a linha seguida pelo
STJ nesse tópico (ASSIS, 2022, e-book, p. RB-1.6).
A presunção de relevância contida no inciso V, do § 3º, do art. 105, da CF/1988,
introduzido pela EC nº 125/2022, qual seja nas “hipóteses em que o acórdão recorrido contrariar
jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça”, na visão de Alvim, Uzeda e Meyer
(2022, p. 5-6), traz novamente outro conceito excessivamente vago: “jurisprudência
dominante”.
Segundo eles, “sem dúvida, um retrocesso, que pode, a nosso ver, ser um
verdadeiro tiro no pé do próprio STJ”. Os autores resgatam que “jurisprudência dominante”
pode ser entendida da mesma forma que “entendimento dominante” – conforme adotado pelo
STJ na Súmula 568, que informa que “o relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de
Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante
acerca do tema”.
Mas, o mais preciso seria entender “jurisprudência dominante” como um
“entendimento reiterado”, que enxergue jurisprudência como um coletivo de precedentes em
determinado sentido e, ainda, seria somente para os casos em que a decisão fosse prolatada por
um colegiado qualificado (e não uma decisão monocrática).
Alvim, Uzeda e Meyer, nos esclarecem que competirá, “em tese, ao STF dar a
última palavra sobre a interpretação do art. 105, notadamente do alcance e compreensão das
hipóteses de relevância presumida” (ALVIM, UZEDA E MEYER, 2022, p. 7).
O STF, como guardião da Constituição, certamente será instado a decidir sobre
dispositivos que foram inseridos na CF/1988 mediante a EC nº 125/2022, que instituiu o filtro
da relevância para Recurso Especial.

7.1. Barreiras no acesso à Justiça

Como vimos, a EC nº 125/2022 trouxe o requisito da relevância, em que se exige,


a partir de então, que o recorrente demonstre que as questões de direito debatidas no caso vão
além dos meros interesses pontuais e exclusivos da parte. O STJ passaria, portanto, a julgar
casos cujos temas são relevantes, visando assim a uniformizar a compreensão da legislação
infraconstitucional, que terá repercussão em outros casos.
Entretanto, desde a sua tramitação legislativa, a chamada “PEC da relevância”
sofreu grande resistência por parte da doutrina e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
De acordo com Moura Júnior (2018, pp. 9-10), a OAB tinha o entendimento de que “a proposta
restringe o acesso à Justiça e lança um olhar equivocado sobre como resolver o
congestionamento processual no STJ”.
Talvez, uma das maiores falhas do filtro da relevância seja que ele ataca o
sintoma e não a causa do problema. Foca-se, na maioria das vezes, no problema da grande
demanda recursal que chega às Cortes Superiores. Mas esquece-se de que um dos maiores
motivos causadores disso é o excesso de litigiosidade na nossa sociedade.
O jurista Lenio Luiz Streck, em coletânea publicada pela Revista dos Tribunais
no ano de 2022 (versão e-book), nos esclarece que estamos falhando em focar apenas na
efetividade quantitativa, esquecendo-nos de almejar uma efetividade qualitativa (ABBOUD,
STRECK, MARINONI, et al, 2022, p. RB-5.3). Ele argumenta, ainda, que:

o número exacerbado de processos que chegam ao STJ é um problema real e de


extrema importância. Muitos são os fatores que levam a essa condição. A
efetividade quantitativa ganhou o papel de trunfo justificador das reformas nas
últimas décadas, até mesmo para tolher direitos e garantias fundamentais, como o
acesso à justiça. Tudo em prol da otimização, relevância e celeridade processual,
jargões que acompanham a análise do senso comum teórico dos juristas
(ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al, 2022, p. RB-5.1).

Ele nos informa também que, “estatisticamente, a ação mais ajuizada no Superior
Tribunal de Justiça – o agravo em Recurso Especial, ação que justamente impugna decisões de
tribunais a quo de juízo de inadmissibilidade de Recursos Especiais – tem apenas 4,2% de
provimento” (ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al, 2022, p. RB-5.1). Este é um número
que, por si só, já revela a extrema dificuldade de conseguir chegar até o STJ.
Lenio Streck sintetiza, de maneira primorosa, quais são os cidadãos
majoritariamente afetados por esse movimento, cada vez maior, de restrição de acesso às Cortes
extraordinárias:

Ao fim e ao cabo, o que incomoda, a ponto de protagonizar mudanças funcionais,


é a efetividade quantitativa. Os movimentos que limitam o acesso à justiça
revelam isso. Um questionamento há de ser feito: será que a única ideia para lidar
com os problemas do Judiciário é sacrificar direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos? E, nesses sacrifícios, será que os mais penalizados serão sempre os mais
vulneráveis e invisíveis, aqueles que não conseguem sensibilizar os tribunais
sobre a relevância de suas causas? (ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al,
2022, p. RB-5.4).

Partindo-se do princípio de que “a lei não excluirá da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, da CF/1988), vemos que tal princípio se
trata de um direito fundamental de suma importância para o cidadão, não podendo o Poder
Judiciário se afastar da prestação e tutela jurisdicional, sempre que provocado. O acesso à
Justiça e a inafastabilidade da jurisdição são princípios complementares e que andam juntos.
A meu ver, os jurisdicionados correm sérios riscos de não conseguirem levar
suas pretensões até o STJ, devido à certa discricionariedade que ocorrerá quando da análise da
existência da relevância para o direito federal infraconstitucional na questão discutida no caso.
Também, o próprio princípio do livre convencimento motivado do juiz pode acabar nos guiando
a caminhos não desejados quando da criação da relevância.
Para ilustrar um pouco sobre estes riscos, vejamos as hipóteses de relevância
presumidas. As presunções de relevância apontadas pelos incisos do art. 105, § 3º, da CF/1988,
em especial pelo inciso III, nos despertam algumas preocupações. Por que presumir que “ações
cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos” já teriam relevância
presumida? E as ações de valor inferior? Para elas, portanto, o esforço argumentativo para
demonstrar a relevância será muito superior. Será que a importância e extensão do direito deve
medido apenas com base no valor patrimonial? Isso não tornaria o STJ uma Corte elitista e
discriminatória, criando assim mais uma barreira desnecessária no acesso à Justiça?
Araken de Assis compreende desta mesma forma:

Não deixa de ser discriminatória e discutível a alçada (summa gravaminis) do art.


105, § 3º, III, da CF/1988. Embora a função do STJ não seja a de satisfazer os
interesses das partes, mas a de garantir a uniformidade na interpretação e na
aplicação do direito federal, a alçada ou summa gravaminis trancará as portas do
Tribunal para a maior parte dos litígios entre particulares e, de modo especial,
para os vulneráveis economicamente, cujas causas, de regra, jamais alcançarão o
piso de 500 (quinhentos) salários mínimos (ASSIS, 2022, Jusbrasil).

Alguns podem até discordar deste ponto de vista, alegando que tal barreira
poderia ser superada adotando-se os incisos VI e V do mesmo dispositivo, que nos dizem,
respectivamente, que outras hipóteses previstas em lei poderão caracterizar tal relevância, ou
ainda, nas “hipóteses em que o acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante do
Superior Tribunal de Justiça”.
Em esteira diversa, grande parte da doutrina entende que a exigência da
relevância não prejudicará o acesso à Justiça, já que a missão do STJ não é analisar casos
concretos, e entendem que a prestação jurisdicional já foi devidamente realizada pelas
instâncias de 1º e 2º grau, que são aquelas destinadas a tratar do caso concreto. Assim, não faria
sentido alegar tratar-se de nova barreira no acesso à Justiça, uma vez que a jurisdição
devidamente prestada pelas duas instâncias iniciais.
O doutrinador Daniel Mitidiero se filia a esta corrente de que o filtro de
relevância para o Recurso Especial não prejudicará o acesso à Justiça. Segundo ele:
(...) a exigência de relevância da questão federal como condição de acesso aos
corredores do STJ está muito longe de violar o direito de ação (...) porque o direito
de ação – ainda que dogmaticamente contemple o direito ao recurso – se satisfaz
com a realização da primeira dimensão da tutela dos direitos: a viabilização de
uma decisão justa para o caso concreto, cuja tarefa é confiada ao duplo grau de
jurisdição (MITIDIERO, 2022, e-book, p. RB-2.2, adaptado).

A par disso, vemos com bastante frequência, a invocação, pelas Cortes


Superiores, de uma forte “jurisprudência defensiva”. Mas o que seria exatamente esta expressão?
Gilberto Bruschi e Mônica Couto, em artigo publicado no ano de 2022, em
coletânea organizada e coordenada pelo Ministro do STJ, Mauro Luiz Campbell Marques et al,
nos esclarecem que:

Na verdade, a jurisprudência defensiva traz em si mesma o significado de uma


Jurisdição que cria mecanismos para defender-se do jurisdicionado, obstando
recursos sem que seu mérito venha a ser analisado pelo órgão julgador
competente. É de causar espanto o fato de que os Tribunais criem, por meio de
sua jurisprudência, dificuldades, barreiras e regras que obstaculizam a admissão
dos recursos a eles interpostos, o que vai de encontro com o desejo de solução
definitiva dos litígios levados à juízo, em uma atitude que ofende a própria
garantia de acesso à justiça (FUGA, TESOLIN, LEMOS et al, 2022, p. 268).

Como exemplo da adoção de jurisprudência defensiva por parte dos órgãos


judicantes temos o uso das Súmulas – como a temida Súmula nº 7 do STJ – que serve justamente
para dificultar a subida de recursos ao Superior Tribunal de Justiça. Em síntese, a Súmula nº 7
descarta da apreciação do STJ aqueles Recursos Especiais que visem o simples reexame de
provas. De acordo com esta Súmula, o STJ não se presta ao reexame de fatos e provas. É aquela
polêmica distinção entre “matéria de fato” x “matéria de direito”. Vemos, portanto, que trata-
se de mais uma barreira que pretende evitar que o STJ acabe se tornando uma terceira instância
judicial.
Além das Súmulas, o próprio juízo de admissibilidade que é realizado pelos
tribunais a quo atua de forma a impedir a subida de Recursos Especiais ao STJ, se refletindo
num tipo de barreira no acesso à Justiça. Outro exemplo é o uso da inteligência artificial para
limitar a subida dos recursos, em que algoritmos, por exemplo, auxiliam no juízo de
admissibilidade dos Recursos Extraordinários no STF.
É bastante compreensível a atitude daqueles órgãos jurisdicionais, diante da alta
carga de processos e recursos que recebem anualmente, mas é preciso deixar registrado que
esse movimento vai justamente em sentido contrário ao do tão esperado e desejado amplo
acesso à Justiça, protegido pela nossa Constituição (como dito anteriormente).
Mas, como definir quais lesões (ou ameaças) ao bem jurídico deverão ser
tuteladas pelo nosso Direito? Trata-se de uma decisão a ser tomada, ainda, pelos nossos
legisladores. Porém, como bem apontava J. J. Calmon de Passos, já no final da década de 1970,
não haveria injustiça irrelevante:

Não há injustiça irrelevante! Salvo quando o sentimento de Justiça deixou de ser


exigência fundamental na sociedade política. E quando isso ocorre, foi o Direito
mesmo que deixou de ser importante para os homens. Ou quando nada para alguns
homens – os poderosos (PASSOS, 1977, p. 16).

A percepção é a de que, em alguma medida, “toda questão federal é relevante,


por se configurar como potencial situação de injustiça” (NERY e MELLO, 15/5/2023).
Embora o anteprojeto de lei que foi encaminhado pelo STJ ao Senado, com o
objetivo de regulamentar o filtro de relevância para os Recursos Especiais, referir-se a “questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo” (NERY e MELLO, 15/5/2023), ainda não sabemos ao certo
qual será a regulamentação superveniente que será gestada pelo Congresso Nacional e também
as mudanças regimentais que serão realizadas pelo STJ.
O que sabemos é que, da forma que está, foi aprovada uma EC com a prevalência
de certos temas já de relevância presumida, sem a devida transparência, como uma verdadeira
caixa-preta, ou um cheque em branco que será concedido ao Judiciário, que pode vir a ser algo
extremamente prejudicial, sob a perspectiva do acesso à Justiça pela população.
Em sentido oposto, Araken de Assis compreende que esse arrolamento, de forma
positivada na Constituição, de casos em que há relevância presumida, como os descritos nos
incisos I a VI, § 3º, art. 105, da CF/1988, trata-se de

técnica utilizada pelo legislador constitucional para combater a discricionariedade


na seleção das causas relevantes. É que a identificação da relevância, não fora
assim, tenderia ao casuísmo, presidido pela discrição do órgão judicial (...), poder
dificilmente aceito no Estado Constitucional Democrático brasileiro (ASSIS,
2022, Jusbrasil, adaptado).

Luiz Guilherme Marinoni discorda que ao limitar a interposição de Recurso


Especial seria violado o direito de acesso à Justiça. Segundo ele, “os limites dos recursos às
Cortes Supremas têm evidente relação com as suas funções”, e, no caso do STJ, ela “tem o
compromisso de definir o sentido do direito federal infraconstitucional”:
Isso também demonstra que não cabe associar direito à tutela jurisdicional com
direito ao recurso especial, ou afirmar, ingenuamente, que limitar a interposição
do recurso especial viola o direito de acesso à justiça. O direito de acesso à justiça
ou o direito fundamental à tutela jurisdicional não garantem, nem nunca
garantiram, uma resposta da Corte Suprema. O direito de acesso à justiça é
plenamente realizado mediante as respostas das duas instâncias incumbidas de
resolver os casos concretos. A Corte Suprema, diante da arguição de relevância,
não se preocupa em resolver o caso para as partes, mas em analisar o caso para
decidir para todos, ou seja, para formar precedentes (MARINONI, 2023, e-book,
p. RB-1.2).

Por sua vez, Lenio Streck entende que o desenvolvimento de cada vez mais
filtros recursais, com a intenção precípua de mitigar o acesso às Cortes Superiores, com objetivo
de “reduzir o número de recursos, e consequentemente o acesso à justiça, parece ser justamente
a solução simples para um problema complexo” (ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al,
2022, p. RB-5.4).
Dentre algumas sugestões, ele cogita, inclusive o aumento no número de
Ministros no STJ. Para ilustrar, ele cita o quantitativo adotado em outros países:

Uma possível solução, que também parece ser um cenário alcançável, refere-se a
um problema estrutural. Por que não é discutido, com a devida importância, o
aumento do número de integrantes do STJ? Eu já tratei sobre essa possibilidade
em 1999, no meu livro Jurisdição Constitucional e Hermenêutica. O órgão similar
ao STJ na Itália – país com um terço da população do Brasil – possui 350
membros. Em Portugal, tal corte similar possui 60 integrantes, e a sua população
corresponde à do Rio Grande do Sul. Isso precisa dizer algo ao modelo brasileiro
(ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al, 2022, p. RB-5.5).

Por fim, o jurista Lenio Streck revela uma compreensão bastante ampla sobre
todo este problema, e que parece ser compartilhada por vários doutrinadores, corrente dentre as
quais eu me filio:

De reforma em reforma, vamos esvaziando o cerne do processo: o acesso à justiça


e a prestação jurisdicional. Mas esse assunto não parece despertar interesse. É
sempre deixado de lado. O que “funciona” é fazer novas reformas para diminuir
o número de processos judiciais. Depois dessa reforma, outras virão. A solução
do problema está sempre na próxima medida(...) Até que ponto impedir o acesso
à justiça melhora o acesso à justiça? (ABBOUD, STRECK, MARINONI, et al,
2022, p. RB-5.6).

Em sua dissertação de mestrado, Amanda Visoto de Matos reverbera um


entendimento de Sessa e Couto, que entendem haver um verdadeiro paradoxo na justiça
brasileira: “o amplo e efetivo acesso à justiça é um objeto promovido e perseguido por um
Estado que não tem condições de suportá-lo” (SESSA e COUTO, 2004, p. 202, apud VISOTO
DE MATOS, 2022, p. 45).
Portanto, só após a observação atenta da prática jurídica, que será adotada pelo
Superior Tribunal de Justiça na análise dos Recursos Especiais, nos permitirá enxergar se a
implantação deste novo mecanismo foi bem sucedida ou não. Veremos, deste modo, se o
caminho trilhado até então conseguirá gerar frutos de qualidade, oriundos da implementação
deste novo filtro recursal.

7.2. O lobby e a proteção maior a alguns grupos

Atualmente, o termo lobby tem sido utilizado em um sentido bastante pejorativo,


vinculado muitas vezes à troca de favores e corrupção, mas em seu sentido original, de acordo
com Said Farhat, lobby é “toda atividade organizada, exercida dentro da lei e da ética, por um
grupo de interesses definidos e legítimos, com o objetivo de ser ouvido pelo poder público para
informá-lo e dele obter determinadas medidas, decisões, atitudes” (FARHAT, 2007).
Conseguimos identificar, claramente, nos incisos do art. 105, § 3º, da CF/1988
o lobismo de alguns grupos sociais quando da elaboração legislativa da Emenda Constitucional
nº 125/2022.
Por exemplo, isto pode ser ilustrado de forma mais evidente pelos incisos IV
(ações que possam gerar inelegibilidade), II (ações de improbidade administrativa) e, como já
falamos anteriormente, o inciso III (ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos)
salários mínimos) e as próprias ações penais (inciso I).
Não apontarei aqui neste trabalho de monografia quais grupos tiveram maior ou
menor força política e que conseguiram se fazer serem ouvidos pelo Poder Público, de forma a
inscreverem seus direitos diretamente na Constituição. O intuito deste trabalho é trazer algumas
reflexões e apontar riscos advindos desta nova Emenda. Mas fica evidente que poucos grupos
foram ouvidos durante esta construção legislativa, gerando uma proteção constitucional e um
tratamento diferenciado a grupos restritos e já privilegiados de nossa sociedade. É o que
comumente se chama de legislar em causa própria.
8. Considerações finais

A implantação de um novo filtro recursal para a admissibilidade de Recursos


Especiais no STJ, que terá como requisito a relevância da questão federal de direito
infraconstitucional, trará efeitos que ainda não conseguimos vislumbrar na sua totalidade.
Conseguimos, entretanto, tecer algumas considerações e previsões, baseando-nos na
sistemática que foi adotada com a repercussão geral no julgamento dos Recursos
Extraordinários do STF e também da transcendência nos Recursos de Revista para o TST.
A implementação deste novo filtro, que representa mais uma tentativa de mitigar
o grande volume recursal no STJ, acarretará uma significativa redução no âmbito de atuação
daquela Corte, e provocará consequências inevitáveis acerca do redimensionamento do papel
desempenhado também pelos tribunais locais.
A criação deste novo filtro de relevância, inevitavelmente, reforçará a missão
constitucional do STJ, que é a de conferir interpretação à legislação federal que sirva de
precedente para as instâncias a quo. Será possível, assim, que o STJ tenha mais poder e
liberdade de decidir sobre sua pauta de julgamento, afastando-se cada vez mais de julgamentos
que interessem unicamente às partes, e passe a focar na formação de precedentes, emitindo
decisões de caráter geral, que venham a solucionar questões jurídicas relevantes para a
sociedade.
Mas, é de grande importância que tenhamos em mente que devemos preservar,
sempre que possível, as garantias fundamentais elencadas pela nossa Constituição Federal de
1988, como o acesso à justiça, a ampla defesa, e o devido processo legal. Assim, tornaríamos
um pouco mais palpável a tão desejada segurança jurídica, como sempre desejada pelos
jurisdicionados.
REFERÊNCIAS

ABBOUD, Georges; STRECK, Lenio Luiz; MARINONI, Luiz Guilherme; ALVIM, Teresa
Arruda; UZEDA, Carolina; et al. Relevância no REsp: pontos e contrapontos. 1. ed. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, Revista dos Tribunais, 2022. E-book (ePub). Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/301404751/v1. Acesso
em: 5/6/2023.

ALVIM, Teresa Arruda; UZEDA, Carolina; MEYER, Ernani. Mais um filtro, agora para o
STJ: uma análise da EC 125/2022. Revista de Processo. vol. 330. ano 47. São Paulo: Ed. RT,
agosto 2022. Disponível em: https://www.academia.edu/resource/work/84642311. Acesso
em: 30/5/2023.

ARAÚJO, José Henrique Mouta; NERY, Rodrigo. Questões sem “relevância”: jurisdição
cooperada e redefinição de competência. Revista Consultor Jurídico. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-ago-22/araujo-nery-ultima-palavra-questoes-relevancia.
Publicado em: 22/8/2022. Acesso em: 10/5/2023.

ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral, institutos fundamentais - II, vol. III.
3. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, Revista dos Tribunais, 2022. E-book (ePub).
Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/
107537709/v3. Acesso em: 1/6/2023.

ASSIS, Araken de. Relevância no Recurso Especial: Primeiras Impressões. In: ASSIS,
Araken de. Processo Civil Brasileiro - Vol. III - Ed. 2022. São Paulo (SP): Editora Revista
dos Tribunais. 2022. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/secao/introducao-
relevancia-no-recurso-especial-primeiras-impressoes-processo-civil-brasileiro-vol-iii-ed-
2022/1728399733. Acesso em: 3/6/2023.

BONFANTI, Cristiane. Portal Jota. STJ entrega ao Senado proposta para regulamentar
filtro de relevância. Disponível em: https://www.jota.info/justica/stj-entrega-ao-senado-
proposta-para-regulamentar-filtro-de-relevancia-06122022. Publicado em: 6/12/2022. Acesso
em: 1/2/2023.

BONFANTI, Cristiane; MENGARDO, Bárbara. Portal Jota. Critérios de relevância só


valerão após lei regulamentando a PEC, decide STJ. Disponível em:
https://www.jota.info/justica/criterios-de-relevancia-so-valerao-apos-lei-regulamentando-a-
pec-decide-stj-19102022. Publicado em: 19/10/2022. Acesso em: 1/2/2023.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105/ 2015. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13105compilada.htm.
Acesso em: 10/2/2023.

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei nº 5.452/1943. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm. Acesso em:
14/7/2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em:
8/2/2023.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm. Acesso em:
1º/7/2023.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 125, de 14 de julho de 2022. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc125.htm. Acesso em:
2/2/2023.

BRASIL. Lei da Reforma Trabalhista. Lei nº 13.467/2017. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em:
12/7/2023.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 126. Disponível em:


https://jurisprudencia.tst.jus.br/?tipoJuris=SUM&orgao=TST&pesquisar=1#void. Acesso em:
14/7/2023.

DIDIER JR., Fredie; e CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil –
Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 20 ed. São Paulo:
Juspodivm, 2023.

FARHAT, Said. Lobby: O que é. Como se faz. Ética e transparência na representação


junto a governos. São Paulo: Ed. Peirópolis, 2007.

FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Rev. TST, São Paulo, vol. 84, nº 3, jul/set 2018. pp.
59-89. O critério de transcendência do recurso de revista e sua aplicação efetiva pelo
TST. Disponível em: https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/
146964/2018_martins_filho_ives_criterio_transcendencia.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 12/7/2023.

FUGA, Bruno; TESOLIN, Fabiano da Rosa; LEMOS, Vinicius Silva; et al. Relevância da
questão federal no recurso especial. Coord. Geral. Min. Mauro Campbell Marques. Brasília:
Editora Thoth. 1ª ed. 2022.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 7a ed. São Paulo: Atlas, 2022.

JR, Marco Aurélio Serau. Emenda Constitucional 125/2022: relevância da questão federal
no recurso especial. Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/
2022/07/26/emenda-constitucional-125-2022-relevancia-da-questao-federal-no-recurso-
especial/. Publicado em: 26/7/2022. Acesso em: 18/1/2023.

MAIOR, Jorge Luiz Souto; SEVERO, Valdete Souto. O acesso à justiça sob a mira da
reforma trabalhista – ou como garantir o acesso à justiça diante da reforma trabalhista.
Revista Eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia. Ano V, n. 9, Out. de 2017.

MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Revista Consultor Jurídico. Reflexos do processo eletrônico
nas ações na Justiça do Trabalho. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-jan-
26/reflexoes-trabalhistas-reflexos-processo-eletronico-acoes-justica-trabalho?imprimir=1.
Publicado em: 26/1/2018. Acesso em: 13/7/2023.

MARINONI, Luiz Guilherme. Dos recursos repetitivos à relevância da questão federal no


STJ. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-nov-28/direito-civil-atual-recursos-
repetitivos-relevancia-questao-federal. Publicado em: 28/11/2022. Acesso em: 1/6/2023.

MARINONI, Luiz Guilherme. O filtro da relevância: do precedente ingênuo ao


precedente relevante. 1. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, Revista dos Tribunais,
2023. E-book (ePub). Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/
rt/monografias/305344766/v1. Acesso em: 10/6/2023.

MEDINA, José Miguel Garcia. Alteração do desenho institucional dos tribunais após
relevância para REsp. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-set-14/processo-
alteracao-desenho-institucional-tribunais-relevancia-resp. Publicado em: 14/9/2022. Acesso
em: 7/5/2023.

MEDINA, José Miguel Garcia. Um novo recurso especial, um novo Superior Tribunal de
Justiça. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-ago-10/processo-novoum-recurso-
especial-superior-tribunal-justica. Publicado em: 10/8/2022. Acesso em: 14/5/2023.
MITIDIERO, Daniel. Relevância no recurso especial. 1. ed. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, Revista dos Tribunais, 2022. E-book (ePub). Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/296752106/v1. Acesso
em: 7/6/2023.

MOURA JÚNIOR, G. W. Debate sobre a proposta de novo requisito de admissibilidade


do recurso especial: a relevância da questão de direito federal infraconstitucional. Brasília:
Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, abril/2018 (Texto para Discussão nº 247).
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-
estudos/textos-para-discussao/td247. Acesso em: 2/6/2023.

NERY, Rodrigo; MELLO, João Pedro de Souza. Gravidade da lesão subjetiva como
questão federal relevante: leitura da EC nº 125. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2023-mai-15/nerye-mello-gravidade-lesao-subjetiva-questao-
relevante. Publicado em: 15/5/2023. Acesso em: 25/5/2023.

PASSOS, J. J. Calmon de. Da arguição de relevância no recurso extraordinário. Rio de


Janeiro: Revista Forense. 1977. vol. 259. ano 73. fascículos 889, 890 e 891 (julho, agosto e
setembro). pp. 11-22.

QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo; FEFERBAUM, Marina. Metodologia da pesquisa em


direito. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

ROQUE, Andre Vasconcellos; GAJARDONI, Fernando; DELLORE, Luiz; DUARTE,


Zulmar. Novidade no recurso especial: primeiras reflexões sobre a EC 125 e o requisito da
relevância das questões de direito federal infraconstitucional (REsp com RQF). Disponível
em: http://genjuridico.com.br/2022/09/06/novidade-no-recurso-especial-ec-125/. Publicado
em: 6/9/2022. Acesso em: 1/2/2023.

ROSA, Ana Carolina Vieira; GOMES, Gustavo Gonçalves. Emenda Constitucional nº


125/22 e a relevância no REsp ao STJ: o que muda? Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-ago-25/rosa-gomes-ec-12522-muda. Publicado em:
25/8/2022. Acesso em: 8/2/2023.

SANTOS, Enoque Ribeiro dos; HAJEL FILHO, Ricardo Antonio Bittar. Curso de Direito
Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Atlas (Grupo GEN), 2020. E-book. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597025040/. Acesso em:
13/7/2023.
SICA, Heitor Vitor Mendonça. Breves notas sobre o filtro de relevância do recurso
especial (EC 125/2022). Disponível em: https://direito.usp.br/noticia/7149e7d17012-breves-
notas-sobre-o-filtro-de-relevancia-do-recurso-especial-ec-1252022. Acesso em: 14/2/2023.

SIQUEIRA, Gustavo Silveira. Pequeno manual de metodologia da pesquisa jurídica: ou


roteiro de pesquisa para estudantes de direito. 2 ed. Belo Horizonte: instituto Pazes. 2021.

STJ. Anteprojeto da regulamentação do filtro de relevância do recurso especial,


instituído pela EC nº 125/2022. Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/
SiteAssets/documentos/noticias/Anteprojeto%20PEC%20Relev%C3%A2ncia%2007122022.
pdf. Acesso em: 8/7/2023.

STJ. Composição. Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Com


posicao. Acesso em: 16/7/2023.

STJ. Filtro de relevância do recurso especial vira realidade com a promulgação da


Emenda Constitucional 125. Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/
Comunicacao/Noticias/14072022-Filtro-de-relevancia-do-recurso-especial-vira-realidade-
com-a-promulgacao-da-Emenda-Constitucional-125.aspx. Publicado em: 14/7/2022. Acesso
em: 30/1/2023.

STJ. STJ entrega ao Senado proposta para regulamentar filtro de relevância. Disponível
em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2022/05122022-STJ-
entrega-ao-Senado-proposta-para-regulamentar-filtro-de-relevancia-do-recurso-especial.aspx.
Publicado em: 5/12/2022. Acesso em: 8/7/2023.

STJ. Tribunal encerra 2022 com recorde de julgamentos e reduz estoque processual pelo
quinto ano seguido. Disponível:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2022/19122022-Tribunal-
encerra-2022-com-recorde-de-julgamentos-e-reduz-estoque-processual-pelo-quinto-ano-
seguido.aspx. Publicado em: 19/12/2022. Acesso em: 7/7/2023.

VISOTO DE MATOS, Amanda. Os filtros de admissibilidade dos recursos excepcionais: a


relevância do recurso especial. Orientadora Profa. Dra. Daniela Marques de Moraes. Brasília,
2022. 183 p. Dissertação (Mestrado em Direito), Universidade de Brasília, 2022.

VITAL, Danilo. Cinco tribunais já aplicam filtro da relevância para admitir recurso
especial. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-out-08/cinco-tribunais-aplicam-
filtro-relevancia-admitir-resp. Publicado em: 8/10/2022. Acesso em: 2/6/2023.
ANEXO I

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 125/2022


EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 125, DE 14 DE JULHO DE 2022

Altera o art. 105 da Constituição Federal


para instituir no recurso especial o
requisito da relevância das questões de
direito federal infraconstitucional.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60


da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º O art. 105 da Constituição Federal passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 105. ......................................................................................................

§ 1º ...............................................................................................................

§ 2º No recurso especial, o recorrente deve demonstrar a relevância das questões


de direito federal infraconstitucional discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que
a admissão do recurso seja examinada pelo Tribunal, o qual somente pode dele não
conhecer com base nesse motivo pela manifestação de 2/3 (dois terços) dos membros
do órgão competente para o julgamento.

§ 3º Haverá a relevância de que trata o § 2º deste artigo nos seguintes casos:

I - ações penais;

II - ações de improbidade administrativa;

III - ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos;

IV - ações que possam gerar inelegibilidade;

V - hipóteses em que o acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante


do Superior Tribunal de Justiça;

VI - outras hipóteses previstas em lei."(NR)

Art. 2º A relevância de que trata o § 2º do art. 105 da Constituição Federal será exigida
nos recursos especiais interpostos após a entrada em vigor desta Emenda Constitucional,
ocasião em que a parte poderá atualizar o valor da causa para os fins de que trata o inciso III do
§ 3º do referido artigo.

Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, em 14 de julho de 2022


ANEXO II

ANTEPROJETO DA REGULAMENTAÇÃO DO FILTRO DE RELEVÂNCIA

DO RECURSO ESPECIAL, INSTITUÍDO PELA EC Nº 125/2022.


Anteprojeto da Lei n. xx.xxx, DE xx DE xxxxxxx DE 20xx

Insere dispositivo à Lei n. 13.105, de 16


de março de 2015 (Código de Processo
Civil), a altera, a fim de regulamentar o §
2º do art. 105 da Constituição Federal, e
dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I
DO OBJETO

Art. 1º Esta Lei insere dispositivo à Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil), a altera, a fim de regulamentar o § 2º do art. 105 da Constituição Federal, e dá
outras providências.

CAPÍTULO II
DA RELEVÂNCIA DA QUESTÃO DE DIREITO FEDERAL INFRACONSTITUCIONAL

Art. 2º A Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), passa a


vigorar acrescida do seguinte dispositivo:

“Art. 1.035-A. O Superior Tribunal de Justiça, em decisão irrecorrível, não conhecerá


do recurso especial quando a questão de direito federal infraconstitucional nele versada não for
relevante, nos termos deste artigo.

§ 1º A deliberação a que se refere o caput deste artigo considerará a existência ou não


de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem
os interesses subjetivos do processo.

§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência da relevância da questão de direito


federal infraconstitucional para apreciação exclusiva pelo Superior Tribunal de Justiça, em
tópico específico e fundamentado.

§ 3º Desatendida a forma prevista no § 2º o recurso será inadmitido.

§ 4º Presume-se a relevância da questão de direito federal infraconstitucional nas


hipóteses do art. 105, § 3º, da Constituição Federal.

§ 5º O relator poderá admitir, na análise da relevância da questão de direito federal


infraconstitucional, a manifestação de terceiros subscrita por procurador habilitado.
§ 6º O recurso especial somente não será conhecido, nos termos do caput, pela
manifestação de 2/3 (dois terços) dos membros do órgão competente para o julgamento.

§ 7º Reconhecida a relevância da questão de direito federal infraconstitucional, o relator


no Superior Tribunal de Justiça poderá determinar a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no
território nacional.”

CAPÍTULO III
DA COMPATIBILIZAÇÃO COM O RITO DA RELEVÂNCIA

Art. 3º. A Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), passa a
vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 927. …………………………………………………………….……

III-A – acórdão proferido em julgamento de recurso especial submetido ao


regime da relevância da questão de direito federal infraconstitucional;” (NR)

“Art. 932.…………………………………………………………….……

IV – ..................................................................................................

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal


de Justiça em julgamento de recursos repetitivos ou em julgamento de recurso especial
com a relevância da questão de direito federal infraconstitucional reconhecida; (NR)

V – ……………………………………………………………………......

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal


de Justiça em julgamento de recursos repetitivos ou em julgamento de recurso especial
com a relevância da relevância da questão de direito federal infraconstitucional
reconhecida;” (NR)

“Art. 979.............................................................................................

§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recurso extraordinário


com repercussão geral, de recurso especial com relevância da questão de direito federal
infraconstitucional reconhecida, de incidente de assunção de competência e de casos
repetitivos.” (NR)

“Art. 998. ....…....................................................................................

Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja


repercussão geral ou relevância da questão de direito federal infraconstitucional já
tenham sido reconhecidas e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários
ou especiais repetitivos.” (NR)

“Art. 1.030. ......…...............................................................................


I – .....................................................................................................

c) a recurso especial que discuta questão infraconstitucional federal à qual o


Superior Tribunal de Justiça não tenha reconhecido a existência de relevância da questão
de direito federal infraconstitucional ou a recurso especial interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Superior Tribunal de Justiça exarado no
regime de relevância.

II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de


retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso, nos regimes de repercussão
geral, de relevância da questão de direito federal infraconstitucional ou de recursos
repetitivos; (NR)

V – .................................................................................................

a) o recurso ainda não tenha sido submetido aos regimes de repercussão geral,
de relevância da questão de direito federal infraconstitucional ou de julgamento de
recursos repetitivos;” (NR)

“Art. 1.039. ......................................................................................

Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral ou da relevância da


questão de direito federal infraconstitucional, respectivamente, no recurso
extraordinário ou especial afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os
recursos extraordinários ou os recursos especiais cujo processamento tenha sido
sobrestado.” (NR)

“Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do


tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando
fundada na aplicação de entendimento firmado em regimes da repercussão geral, da
relevância da questão de direito federal infraconstitucional ou em julgamento de
recursos repetitivos. (NR)

(…)

§ 2ºA petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do


tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais, aplicando-
se a ela o regime da repercussão geral, da relevância da questão de direito federal
infraconstitucional e dos recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de
sobrestamento e do juízo de retratação.” (NR)

CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 4º A indicação no recurso especial, em tópico específico e fundamentado, dos


argumentos da relevância da questão de direito federal infraconstitucional será exigida em
recursos interpostos contra acórdãos publicados após a data de entrada em vigor desta Lei.
Art. 5º Reconhecida ou recusada, pelo Superior Tribunal de Justiça, a relevância da
questão de direito federal infraconstitucional, todos os efeitos processuais e materiais do
julgamento deverão incidir em processos em andamento no Superior Tribunal de Justiça e nas
instâncias de origem.

Art. 6º Caberá ao Superior Tribunal de Justiça, em seu Regimento Interno, estabelecer


as normas necessárias à execução desta Lei.

Art. 7º Esta Lei entrará em vigor 30 dias após a publicação.

Brasília, xx de xxxxxx de 20xx;

xxxº da Independência e xxxº da República.

Você também pode gostar