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Medicina Legal | Eduardo Araújo

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TRAUMATOLOGIA FORENSE
Traumatologia ou Lesonologia medico – legal: estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência
(instrumentos/meios) sobre o corpo humano, nos seus aspectos diagnostico, do prognóstico e das suas implicações legais e sócio
econômicas. Trata também do estudo de diversas modalidades de energias causadoras de danos.

TRAUMATISMO (trauma): Qualquer lesão, aberta ou fechada, produzida no organismo pela ação mecânica de um agente exógeno.

Ofensas à integridade física ou à saúde produzidas por agentes:

 Mecânicos
 Físicos
 Químicos
 Biodinâmicos

Lesão: Quando uma forma de energia entra em contato com o corpo (ou o corpo entra em contato com ela), no ponto em que ocorre
a transferência de energia para o corpo, produzem-se alterações das estruturas superficiais, cutâneas (pele) ou profundas, internas
(músculos, ossos) ou, ainda, modificações das atividades ou funções. A alteração morfológica ou funcional do corpo no local em que
ocorre uma transferência de energia é o que se denomina lesão. Daí que se denominem energias lesivas quaisquer formas de energia
capazes de provocar lesões.

Estuda as lesões produzidos por violência ao corpo humano, sob os seguintes aspectos:

 Etiologia;
 Diagnóstico;
 Prognóstico.

Tipos de Energias Causadoras de Dano

 Mecânica;
 Física;
 Química;
 Físico-Química;
 Bioquímica;
 Biodinâmica;
 Mistas.

AGENTES MECÂNICOS

São agentes que atuam pela energia mecânica. Essa energia modifica o estado inercial (repouso ou movimento) de um corpo em agente
agressor e produzindo lesões em todo ou em parte do outro corpo. Energia de Ordem Mecânica. São aquelas capazes de alterar o
estado de movimento e de repouso de um corpo.

MEIOS MECÂNICOS

 Mecanismos de ação:
o Pressão, compressão, descompressão e percussão;
o Tração e torção;
o Explosão;
o Deslizamento;
o Contra choque;
o Mista.

Ação/atuação: agem por contato e diretamente sobre a superfície atingida, atuando por:

 Somente Pressão
 Pressão e Deslizamento
 Choque, acompanhado ou não de deslizamento

Daí os três tipos de lesão simples:

1. Perfurante
2. Cortante / Inciso
3. Contusa

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CLASSIFICAÇÃO – CARACTERÍSTICAS DAS LESÕES:

AÇÃO PERFURANTE

FERIDA PUNCTÓRIA OU PUNCTIFORME – caracterizam pela sua exteriorização em forma de ponto .( pouca nocividade na superfície
e grande gravidade na profundidade). Instrumentos – furador de gelo, estilete,florete , sovela , a agulha.

As feridas punctórias ou puntiformes causadas por instrumentos perfurantes de médio calibre ,sofrem ação das linhas de tração da
pele, podendo tomar a forma de botoeira, em ponta de seta e pode ter forma bizarra de acordo com a confluência de linhas de tração

Características dos meios perfurantes:

 Extremidade fina – pontiaguda;


 Diâmetro transverso reduzido – fino;
 Predomínio do comprimento – longo.

CARACTÉRISTICAS DA LESÃO

 Orifício de entrada:
o Forma de ponto;
o Estreito;
o Diâmetro menor do que o do meio causador.
 Sangramento raro e/ ou pequeno;
 Trajetória:
o Estreito e com profundidade relacionado com comprimento do meio e da pressão de penetração;
o Retilínea
o predomina a profundidade (comprimento) sobre o diâmetro
o termina em fundo cego (fundo de saco – lesão penetrante
o pode ser transfixante com orifício de saída semelhante ao de entrada
 Pode terminar em fundo cego, penetrar cavidades e atingir órgãos vitais.
 Orifício de saída:
o Forma irregular;
o Menor diâmetro do que o de entrada.
 Lesões nos órgãos:
o Relacionadas com a estrutura;
o Estômago: serosa, muscular e mucosa.

Leis de Filhós (Edouard Filhos):


 Primeira: o orifício de entrada parece ter sido produzido por instrumentos de dois gumes ou tem aspecto de casa de botão;
 Segunda: em uma mesma região, o seu maior eixo tem sempre o mesmo sentido;

Lei de Langer (Karl Ritter Von Langer):


 Na confluência de regiões de linhas de forças diferentes, a extremidade da lesão toma o aspecto de ponta de seta, de
triângulo, ou mesmo de quadrilátero.
 As feridas punctórias ou puntiformes sofrem ação das linhas de tração da pele, podendo tomar a forma de botoeira, em
ponta de seta e pode ter forma bizarra de acordo com a confluência de linhas de tração

AÇÃO CORTANTE
LESAO PRODUZIDA POR AÇÃO CORTANTE
Os meios ou instrumentos de ação cortante agem através de um gume mais ou menos afiado, por mecanismo de deslizamento sobre
os tecidos , em maioria das vezes em sentido linear. Exemplo : navalha ,lamina de barbear , bisturi

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Características dos meios cortantes:
 Presença de gume afiado;
 Atua por deslizamento.

CARACTERISTICAS DA FERIDA
 Forma linear;
 Bordas regulares;
 Margens oblíquas – vertentes;
 Fundo regular;
 Ausência de contusão na periferia;
 Hemorragia abundante;
 Predomínio do comprimento sobre a profundidade;
 Presença de cauda de escoriação;
 Perfil de corte angular ou em bisel.

LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CORTANTE :


1. Esquartejamento – ato de dividir o corpo em partes ( quartos )
2. Castração – retirada de órgãos genitais
3. Decapitação – separação da cabeça do corpo
4. Esgorjamento – se caracteriza por longa ferida transversal no pescoço na região anterolateral ( homicida ou suicida ( direção
da ferida). A morte nesses casos verifica por hemorragia , pela secção dos vasos do pescoço ;por asfixia,devido a secção da
traquéia e aspiração de sangue ;por embolia gasosa , por secção das veias jugulares .
5. Degolamento - ferida transversal no pescoço ,lesando planos profundos , atingindo a parte posterior do pescoço
6. Espostejamento – redução do corpo a fragmentos diversos e irregulares em acidentes ferroviários ,aéreos.
7. Evisceração (haraquiri)

Sinal de Chavigny:
Quando duas feridas cortadas se cruzam, coaptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a primeira que foi produzida, a outra
não segue um trajeto em linha reta;

AÇÃO CONTUNDENTE
Características dos meios contundentes:
 Corpo com superfície;
 Onda gasosa ou coluna líquida!!!

CARACTERISTICAS DA LESÃO
 Forma estrelada, sinuosa ou retilínear;
 Bordas irregulares;
 Margens irregulares – vertentes;
 Fundo irregular;
 Contusão na periferia;
 Hemorragia escassa;
 Pontes de tecido íntegro;
 Retração das bordas da ferida.

LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CONTUNDENTE


Rubefação; é uma congestão repentina de uma região do corpo atingida por um traumatismo
 Não tem alteração anatomopatológica;
 Congestão vascular - Mancha avermelhada;
 Duração efêmera;
 Impressão do meio
Escoriação: geralmente é por ação tangencial dos meios contundentes
o Erosão epidérmica ou abrasão;
o Importante: desenha a dinâmica do evento;
o Escoriação típica:
1. Não há comprometimento da derme;
2. Não sangra;
3. Exsudato seroso – Crosta serosa;
4. Não cicatriza;
5. Regenera – restitutio ad integrum.

Equimose: lesão que se traduz por infiltrado hemorrágico nas malhas dos tecidos

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o Infiltrado hemorrágico nas malhas dos tecidos, por rotura de capilares;


o Quando a equimose se apresenta em forma de pequenos grãos , recebe o nome de SUGILAÇÃO .
o Quando tem a forma de estrias toma a denominação de VÍBICE .
o EQUIMOSES FIGURADAS – fivelas de cinto , salto de sapato , estrias de pneus de automóveis (estrias pneumáticas de Simonin)
o Petéquias- pequenas equimoses , quase sempre agrupadas e caracterizadas por um puntilhado hemorrágico
o Internamente - infiltrado hemorrágico;
o Tipos:
1. Sugilação – grão (púrpura);
2. Petéquias – cabeça de alfinete;
3. Equimoma – grandes proporções;
4. Víbice - Estria
o Importância – assinatura do meio.
o Espectro Equimótico de Legrand du Saulle
o 1° dia – Vermelha;
o 2° e 3° dia – Violácea;
o 4° ao 6° dia – Azul;
o 7° ao 10° dia – Esverdeada;
o 12° dia – Amarelada;
o 15° dia – Desaparece.
 Nas pessoas de pele escura usa-se lâmpada ultravioleta
 As equimoses de conjuntiva não sofrem a sucessões de tonalidades em virtude da conjuntiva ser muito porosa e de
oxigenação fácil

Hematoma: coleção sanguínea consequente ao extravasamento de sangue dos vasos calibrosos lesados devido ao trauma .
 Hematoma superficial – absorção mais demorada que a equimose .
 Hematoma profundo - intraparenquimatoso- ( intrahepático, intrarenal , ou intracerebral )
 Rotura de vasos de maior calibre;
 Coleção de sangue nos tecidos – Cavitação;
 Em geral faz relevo na pele.

Bossa sanguínea: a bossa diferencia-se do hematoma por apresentar-se sempre sobre um plano ósseo e pela sua saliência bem
pronunciada na superfície cutânea .
 Coleção de sangue sobre superfície óssea;
 Nome Vulgar – Galo;
 Recém-nascidos.

Fraturas;
Luxações;
Entorses;
Roturas de vísceras internas;
Encravamento;
 Penetração de um meio sólido em qualquer parte do corpo;
 Meio de ponta afiada e grande eixo longitudinal;
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 Grandes traumatismos.

Empalamento.
É uma forma especial de encravamento, no qual a penetração do meio sólido ocorre pela região perineal.

QUADROS ESPECÍFICOS
 Lesões por explosões - “Blast injury” produzidas por artefatos explosivos chamada de síndrome explosiva
 A lesão mais comum é lesão de Tímpano ( “blast” auditivo)
 “Blast” pulmonar
 “Blast” abdominal
 “Blast” cerebral
 “Blast” ocular
 Lesões por martelo: causa sempre dolorosa

 Sinônimos ( fratura perfurante , fratura em vazador , fratura em saca bocado)


 Sinal de mapa mundi de Carrara ( afundamento parcial ou uniforme com inúmeras fissuras , em forma de arco ou
meridianos
 Lesões por achatamento;
 Lesões por arrancamento;
 Lesões por cinto de segurança;
 Lesões por atropelamento terrestre;
 Lesões por atropelamento náutico;
 Lesões por atropelamento ferroviário;
 Lesões por acidente aéreo;
 Lesões por precipitação.

LESÕES MISTAS
Meios mecânicos combinados:
1. Perfurocortante – Ferida Perfurocortante
2. Perfurocontundente – Ferida Perfurocontusa
3. Cortocontundente – Ferida Cortocontusa

INSTRUMENTO PERFURO CORTANTE


São aqueles que além de perfurar o organismo exercem lateralmente uma ação de corte.
- Agem por pressão e por secção
- São instrumentos de ponta e gume, um gume (faca-peixeira, canivete, espada), os de dois gumes ( punhal ,faca ) os de três
gumes ou triangulares (lima)
- A solução de continuidade produzidas por instrumentos perfurocortantes de um só resultam em ferimentos em forma de
botoeira com fenda irregular , e quase sempre linear , com ângulo agudo e outro arredondado .
- Os ferimento causados por dois gumes produzem uma fenda de bordas iguais e ângulos agudos
- As armas de três gumes originam feridas de forma triangular ou estreladas.

Classificação:
 Instrumento pérfuro-cortante de um só gume ou de um só bordo cortante;
 Instrumento pérfuro-cortante de dois gumes ou de dois bordos cortantes;
 Instrumento pérfuro-cortante de três ou mais gumes ou bordos cortantes.

Características:
São instrumentos que, além de perfurar, pela sua ponta, ainda exercem lateralmente ação de corte:
 Monocortante: faca, peixeira, canivete
 Bicortante: punhal
 Tricortante: lima, florete
 Multicortante: apontador de pedreiro, perfuratriz manual.

MECANISMO DO TRAUMA
Perfura = Pressão Corta = Secção

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LESÕES
 Instrumento com um gume: ferida ovalar, com um ângulo agudo e um ângulo arredondado.
 Instrumento com dois gumes: (botoeira) dois ângulos agudos.
 Instrumento com três gumes: feridas de forma triangular.
 Instrumento com muitos gumes: feridas parecidas com as produzidas pelos instrumentos cônicos.

INTRUMENTOS CORTO CONTUNDENTES


São ferimentos produzidos por instrumentos com gume que são influenciados pela ação contundente. São provocadas por
instrumentos que, mesmo com gumes, têm a sua principal ação pela contusão, pela pressão devido ao seu próprio peso

- Gume;
- Peso o força;
- Deslizamento e pressão.
- Sua gravidade depende do ângulo de incidência, da superfície atingida e pela força de impacto
- São lesões sempre profundas, com bordas e formas irregulares, com destruição de tecidos, inclusive com fraturas
- Exemplos: foice, facão, machado, enxada, rodas de trem etc

Características dos meios corto-contundentes:


- Bordas da ferida geralmente irregulares .
- Podem atingir plano osseo
- Forma variável a depender do gume;
- Profunda – plano ósseo;
- Não apresenta cauda de escoriação;
- Não apresenta ponte de tecidos íntegros.
- Sua ação se faz pelo deslizamento, percussão e pela pressão .
- Exemplo de instrumento cortocontundente : a foice , o facão ,o machado, a enxada , os dentes , as unhas , as rodas de trem

MORDEDURA
 Humana e de pouca violência:
o Equimose e/ou escoriação;
o Forma ovalar ou de meia-lua – Arcos dentários;
 Animal ou humana com grande violência:
o Ferida corto-contusa;
o Avulsão de tecidos.

INSTRUMENTO PERFURO CONTUNDENTE


- São produzidas por mecanismo de ação que perfura e contunde ao mesmo tempo .
- Não tem ponta afiada
- Lesões que causam
o perfuração e
o ruptura dos tecidos
- Características do ferimento
o Bordas irregulares
o Predomínio da profundidade
o Caráter penetrante ou transfixante
- Exemplo: ponta guarda – chuva ,amolador de faca , projétil de arma de fogo.

Balística
A Ciência forense é composta de diversos métodos de análise e identificação criminalística dentre eles encontramos a balística que em
sua primeira definição é a parte da física (mecânica), que estuda o movimento dos projéteis (considera-se como projétil todo corpo
que se desloca livre no espaço em virtude de um impulso recebido), justificada plenamente como uma disciplina autônoma em seus
métodos de pesquisa e aplicação criminalística. Portanto, balística é a ciência da velocidade dos projéteis.

Balística forense é em suma "uma disciplina, integrante da criminalística, que estuda as armas de fogo, sua munição e os efeitos dos
disparos por elas produzidos, sempre que tiverem uma relação direta ou indireta com infrações penais, visando esclarecer e provar sua
ocorrência" por definição de Domingo Tochetto (in Tratado de Perícias Criminalísticas, Porto Alegre: Sagra-Luzzato, 1995).

Balística forense é universalmente a utilizada para análise e a identificação das armas de fogo, dos projéteis e dos explosivos, em
particular para a criminalística a balística é importante no conhecimento e reconhecimento das armas de fogo; dos projéteis e dos
cartuchos vazios; dos explosivos, formadores da munição; do confronto do projétil com a arma que efetuou o disparo.

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Anteriormente pertencente aos capítulos da Medicina Legal a Balística Forense era tratada por peritos médicos, hoje como uma
matéria da criminalística e está classificada em:

Balística Interna
As armas de fogo são criteriosamente analisadas nesse ramo da balística forense, definida como balística interna ela trata do
funcionamento das armas, da sua estrutura e mecanismos, descrevendo até mesmo as técnicas do tiro.

Balística dos Efeitos


Essa divisão da balística forense busca analisar e descrever os efeitos causados pelos disparos com armas de fogo , dentre seus objetos
de análise estão os impactos dos projeteis, os ricochetes desse durante sua trajetória, as lesões e danos sofridos pelos corpos atingidos.
Visando a partir de métodos científicos identificar os efeitos causados pela arma que efetuou os disparos para que através dela haja
uma futura identificação do criminoso e sua detenção.

ARMAS DE FOGO
Armas de Fogo: são instrumentos que utilizam a grande quantidade de gases produzidos pela queima instantânea de uma carga,
constituída por um combustível seco (pólvora ou sucedâneo) como forma de propulsão dos projéteis. Necessidade de existir nos
cartuchos uma segunda mistura combustível, capaz de se acender (inflamar) quando golpeada. Esta forma parte da espoleta ou
escorva. Os instrumentos desta classe são, na maioria das vezes, os projeteis de arma de fogo. Arma de Fogo: São as peças constituídas
de um ou dois canos, aberto numa das extremidades e parcialmente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil.

Classificação:
A. Quanto à dimensão: portáteis, semiportáteis e não portáteis.
B. Quanto ao modo de carregar: Antecarga e Retrocarga.
C. Quanto ao modo de percussão: Perdeneira e Espoleta
D. Quanto ao calibre:

A munição compõe-se de cinco partes:


a) Estojo ou cápsula: É um receptáculo de latão ou papelão prensado, de forma cilíndrica contendo os outros elementos da
munição;
b) Espoleta: É a parte do cartucho que se destina a inflamar a carga. É constituído de fulminato de mercúrio, de sulfeto de
antimônio e de nitrato de bário.
c) Bucha: É um disco de feltro, cartão, couro, borracha, cortiça ou metal, que se separa a pólvora do projétil.
d) Pólvora: É uma substância que explode pela combustão. Há a pólvora negra e a pólvora branca. Esta última não tem fumaça.
Ambas produzem de 800 a 900 cm3 de gases por grama de peso. Em geral são compostas de carvão pulverizados enxofre e
salitre.
e) Projétil: É o verdadeiro instrumento pérfuro-contundente, quase sempre de chumbo nu ou revestido de níquel ou qualquer
outra liga metálica. Os mais antigos eram esféricos. Os mais modernos são cilíndricos-ogivais.

MECANISMO DE AÇÃO:
O projétil desloca-se da arma graças a combustão da pólvora, quando ganha movimento de rotação propulsão, ao atingir o alvo atuam
por pressão, havendo afastamento e rompimento das fibras. O alvo é também atingido por compressão de gases que acompanha o
projétil.
Ao atingir o corpo, o projétil provoca:
o Rompimento na pele, formando um orifício em forma tubular no qual se enxuga de seus detritos (orla de enxugo)
o Arrancamento da epiderme (orla de contusão)
Ao se formar o túnel de entrada:
o pequenos vasos se rompem formando equimoses em torno do ferimento (orla equimótica)

LESÕES:
Uma lesão completa por projétil de arma de fogo é constituída de 03 (três) partes: Orifício de entrada, Trajeto e Orifício de saída. As
Lesões produzidas pelo projétil de arma de fogo devem ser analisado:
• o ferimento de entrada
• ferimento de saída
• o trajeto
• a trajetória
• a distância do disparo

Orifício de Entrada: (elementos):

CARACTERISTICA DE FERIMENTOS DE ENTRADA (NÍVEL VISCERAL) – HALO HEMORRÁGICO VISCERAL , não se observa no ferimento de
saída .
a) ORLA DE CONTUSÃO: Deve-se ao arrancamento da epiderme motivado pelo movimento rotatório do projétil antes de
penetrar no corpo, pois sua ação é de início contundente.

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b) ORLA EQUIMÓTICA: É representada por uma zona superficial e relativamente difusa da hemorragia oriunda da ruptura de
pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento.
c) ORLA DE ENXUGO: É uma zona que se encontra nas proximidades do orifício, de cor quase sempre escura que se adaptou às
faces da bala, limpando-as dos resíduos de pólvora. é produzida pela limpeza dos resíduos existentes no cano da arma
(pólvora, ferrugem, partículas etc.) que o projétil transporta e que este deixa ao atravessar a pele ou as vestes, ficando sob a
forma de uma auréola escura em volta do orifício de entrada.
d) Zona de Tatuagem: É mais ou menos arredondadas, nos tiros perpendiculares, ou de formas crescentes nos oblíquos. É
resultante da impregnação de partículas de pólvora incombustas que alcançam o corpo.
e) Zona de Esfumaçamento: É produzida pelo depósito de fuligem da pólvora ao redor do orifício de entrada.
f) Zona de Chamuscamento ou Queimadura: Tem como responsável a ação super aquecida dos gases que atingem e queimam
o alvo.
g) Zona de Compressão de Gases: Vista apenas nos primeiros instantes no vivo. É produzida graças a ação mecânica dos gases,
que acompanha o projétil quando atingem a pele.

Anel de Fish: orifício de entrada (orla de enxugo + orla de contusão)


Podem ser
 Circulares (90°)
 Ovais ou arredondados (ângulo diverso de 90°) ou
 Tangencial, de acordo com o ângulo de incidência

DA DISTÂNICA
Pela distância de disparo do alvo:
- Encosto
- Curta distância (Queima-roupa)
- À distância

Tiro Encostado: É aquele dado com a boca da arma apoiada no alvo. Nesse caso todos os elementos que saem da arma penetra na
vítima. A ferida de entrada adquire o aspecto de buraco de mina (Hoffman), acompanhado de deslocamento trajeto.
 Tiro Encostado na região do crânio, tem forma irregular , denteada e com entalhes , o sinal da câmara de mina de Hoffmam,
presença da crepitação gasosa da tela subcutânea proveniente da infiltração dos gases .
 Sinal de Benassi – halo fuliginoso na lamina externa do osso .
 Sinal Werkgaertener – desenho da boca e da massa de mira do cano
 forma irregular (estrelado) pela dilaceração dos tecidos pelos gases explosivos (mina de Hoffmann)
 sem zona de tatuagem ou de esfumaçamento
 diâmetro do ferimento maior que o projétil (explosão dos gases)
 halo fuliginoso nos ossos: (sinal de Benassi)

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 impressão (pressão) do cano da arma (sinal de Werkgaertner)
 quando transfixante: trajeto com orifício de entrada e saída
 Sinal do Funil de Bonnet (define entrada e saída de projéteis em crânio)

TIROS A CURTA DISTÂNCIA


Podem mostrar:
- Forma arredondada ou elÍptica ,
- Bordas invertidas
- cone de dispersão do tiro
- forma arredondada ou circular
- Orla de escoriação ou de contusão (arrancamento da epiderme)
- orla equimótica
- Halo de enxugo ou orla de Chavigny ( o projétil deixa os detritos na pele – geralmente escura)
- Halo ou zona de tatuagem – resultante da impregnação de grãos de pólvora incombusta
- Halo ou orla de esfumaçamento – produzida por pólvora combusta, decorre do deposito de fuligem (removível)
- zona de queimadura (chamuscamento) devido a ação superaquecida dos gases que atingem o alvo.

TIRO A DISTÂNCIA
Características:
 Diâmetro menor que o do projétil
 Forma arredondada ou elíptica
 diâmetro menor que o do projétil
 Orla de escoriação
 Halo de enxugo
 Aréola equimótica
 Bordas invertidas

SINAL DE FUNIL DE BONNET


O ferimento de entrada é arredondado , regular em forma de saca-bocado , na lamina interna o ferimento é irregular maior que da
lamina externa e com bisel interno bem definido , dando à perfuração a forma de um funil ou de tronco em cone .

Trajetória: é o caminho percorrido pelo projetil da arma ate chegar no corpo da vitima, ou seja, percurso no ambiente.
Trajeto: É o caminho que o projétil descreve dentro do organismo. É aberto quando tem orifício de saída e em fundo de saco, quando
termina em cavidade fechada. Pode ser retilíneo ou sofrer desvios. Pode ser: transfixante e/ou não transfixante (projétil retido)

Orifício de Saída: É o orifício produzido pelo projétil isoladamente ou aderido por corpos ou autor que a ele se juntam no decorrer do
trajeto.

 Forma irregular ou dilacerado


 Bordas evertidas
 maior que orifício de entrada
 Maior sangramento
 Ausência de orlas, zonas e halos, não apresenta (orla de escoriação, halo de enxugo e nem elementos químicos resultantes
da decomposição da pólvora .

Entrada Saída
Regular Dilacerado
Invertido Evertido
Normalmente proporcional ao diâmetro do projétil (exceção aos projéteis de ponta oca, principalmente Desproporcional ao diâmetro do
os expansivos) projétil
Com orlas e zonas Sem orlas e zonas

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AGENTES FÍSICOS
Calor é a energia transferida de um corpo para outro em razão da diferença de temperatura entre os envolvidos; é a energia térmica
em trânsito.

CALOR Modalidades:
 Contato direto
o efeitos: queimaduras
 Calor difuso
o efeitos: insolação e a intermação

FRIO Modalidade:

• Contato direto
• Efeitos: necroses periféricas imediatas ou tardias (infartos)
• Ambiental
- efeitos: baixa da resistência, choque circulatório
Não existe uma lesão típica na ação generalizada

QUEIMADURAS
São lesões coagulativas envolvendo diversas camadas do corpo, causadas pelos vários tipos de agentes agressores.
Queimaduras são lesões dos tecidos orgânicos em decorrência de trauma de origem térmica resultante da exposição ou contato com
chamas, líquidos quentes, superfícies quentes, eletricidade, frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricção.
• da chama
• do calor irradiante
• dos gases superaquecidos
• dos líquidos escaldantes
• dos sólidos quentes e
• dos raios solares
ZONAS DA LESÃO
 Zona de Coagulação: lesão grave, não é capaz de reparação tecidual.
 Zona de Estase: células lesadas, mas não de maneira irreversível.
 Zona de Hiperemia: lesão celular mínima, aumento do fluxo
sangüíneo.

De acordo com o agente causal:


 Físicos
temperatura: vapor, objetos aquecidos, água quente, chama, etc.
eletricidade: corrente elétrica, raio, etc.
radiação: sol, aparelhos de raios X, raios ultra-violetas, nucleares, etc.

 Químicos
produtos químicos: ácidos, bases, álcool, gasolina, etc. e

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 Biológicos
animais: lagarta-de-fogo, água-viva, medusa, etc.
vegetais: o látex de certas plantas, urtiga, etc.

CLASSIFICAÇÃO MEDICO LEGAL DAS QUEIMADURAS


INTENSIDADE OU GRAU DUPUYTREN LUSSENA / HOFMANN
1ºgrau Camada córnea–edema ERITEMA (sinal de Christinson)
2ºgrau Toda a epiderme–flictenas FLICTENAS (sinal de Chambert)
3ºgrau Derme com prometida DERME COMPROMETIDA
4ºgrau Derme amplamente destruída CARBONIZAÇÃO
5ºgrau Aponeurose De músculos X
6ºgrau Carbonização X

CLASSFICAÇÃO QUANTO A PROFUNDIDADE DA LESÃO

1º GRAU: Não sangra, geralmente seca; Rosa e toda inervada; Não passam da Epiderme. Queimadura de Sol (exemplo);
Hiperemia(Vermelhidão). Dolorosa. Obs: Normalmente não chega na
emergência
2º GRAU: FLICTENAS. Atinge derme; Úmida. Presença de Flictenas (Bolhas);
Rosa, Hiperemia(Vermelhidão). Dolorosa; Cura espontânea mais lenta, com
possibilidade de formação de cicatriz
3º GRAU: Atinge todos os apêndices da pele: Ossos , musculos, nervos , vasos.
Pouca ou nenhuma dor; Úmida; Cor Branca, Amarela ou Marrom. Não cicatriza
espontaneamente, necessita de enxerto
4º GRAU: Necrose Total; Carbonização; Tecido negro. Se particularizam pela
carbonização do plano ósseo. Pode ser total ou parcial. Ocorre redução do volume e tamanho do cadáver (adulto de 100 a 120 cm).
• Podem chegar a estatura de 100 a 120cm
• Posição de lutador (semi-flexão dos mmss)
• Posição de boxer (hiperextensão do pescoço e tronco)
• Couro cabeludo com fendas
• Fraturas ósseas
• Pode haver fissuras em abdômen e tórax (pode confundir com outros ferimentos)
• Pode haver disjunção articulares (amputação)
• PERÍCIA
• Pesquisa de óxido de carbono no sangue
• Fuligem nas vias respiratórias – sinal de Montalti
• Flictenas post-mortem não tem conteúdo seroso com exsudato leucocitário – sinal de Janesie-Jeliac

(a gravidade das queimaduras, em relação à sobrevivência da vítima, é avaliada em função de sua extensão e intensidade)

Pequeno queimado:
Considera-se como queimado de pequena gravidade o paciente com:
 Queimaduras de primeiro grau em qualquer extensão, e/ou
 Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida até 5% em crianças menores de 12 anos e 10% em maiores de 12
anos.
 No pequeno queimado as repercussões da lesão são locais.

Médio queimado:
Considera-se como queimado de média gravidade o paciente com:
 Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida entre 5% a 15% em menores de 12 anos e 10% e 20% em maiores
de 12 anos, ou
 Queimaduras de terceiro grau com até 10% da área corporal atingida em adultos, quando não envolver face ou mão ou
períneo ou pé, e menor que 5% nos menores de 12 anos, ou
 Qualquer queimadura de segundo grau envolvendo mão ou pé ou face ou pescoço ou axila.
Obs.: todo paciente deverá ser reavaliado quanto à extensão e profundidade, 48 a 72 h após o acidente

Grande queimado
As repercussões da lesão manifestam-se de maneira sistêmica. Considera-se como queimado de grande gravidade o paciente com:
 Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida maior do que 15% em menores de 12 anos ou maior de 20% em
maiores de 12 anos, ou
 Queimaduras de terceiro grau com mais de 10% da área corporal atingida no adulto e maior que 5% nos menores de 12 anos,
ou

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 Queimaduras de períneo, ou
 Queimaduras por corrente elétrica, ou
 Queimaduras de mão ou pé ou face ou pescoço ou axila que tenha terceiro grau.
Observação: É considerado também como grande queimado o paciente que for vítima de queimadura de qualquer extensão que tenha
associada a esta lesão uma condição clínica que possa deteriorar seu estado geral

INSOLAÇÃO:
 Ação da temperatura do calor ambiental em locais abertos (raramente em espaços confinados)
 Desidratação

INTERMAÇÃO:
 Decorre do excesso de calor ambiental
 Lugares mal arejados, quase sempre confinados ou pouco abertos e sem a necessária ventilação, surgindo, geralmente, de
forma acidental
 Alguns fatores contribuintes:
o Alcoolismo
o Falta de ambientação climática
o vestes inadequadas
CALOR DIFUSO
• Secreção espumosa e sanguinolenta nas vias respiratórias
• Rigidez cadavérica precoce
• Putrefação antecipada
• Congestão e hemorragia das vísceras (sinal de chaleira)

CÁLCULO DA ÁREA QUEIMADA


Regra dos “nove” Superficial

• Hidratação
– Grande queimado Adulto: RL 2000ml EV 30’
– Grande queimado Cça: RL 30ml/Kg 20’
– Parkland (primeiras 24h)
• RL 4ml X Peso (Kg) X % superfície queimada 2/3g
• 50% primeiras 8h
• 50% próximas 16h

GELADURAS
Há hipotermia quando a temperatura cai abaixo de 35° C. A medida da temperatura deve ser feita no reto, ou melhor ainda no esôfago

QUADRO CLÍNICO
Alterações do sistema nervoso
• Sonolência
• Convulsões
• Delírios
• Perturbações dos movimentos
• Anestesias
• Congestão ou isquemia das vísceras
• Morte

COM RELAÇÃO A TEMPERATURA CENTRAL É CLASSIFICADA


• Graus das geladuras

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- 1º -> eritema ou palidez local
- 2º -> flictenas conteúdo claro e hemorrágico
- 3º -> necrose ou gangrena (pés de trincheira)
1. Leve (entre 35 e 32ºc); moderada (entre 32 e 28ºc);
2. Grave (abaixo de 28ºc)
3. Leve: consciente; tremores.
4. Moderada: cessa o tremor; embotamento; alucinações.
5. Grave: coma e morte.

EXAMES LABORATORIAIS
 Hematócrito elevado; hipercalemia,
 Trombocitopenia e acidose nas fases iniciais

DOENÇAS DE HIPERSENSIBILIDADE DESENCADEADAS:


 Urticária,
 Vasculopatia cutânia (livedo reticularis) e anemia hemolítica
 Causada por anticorpos da classe IgM contra as hemácias

CLASSIFICAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO DE CALLISEN CLÍNICA FISIOPATOLOGIA

1ºgrau Eritema Vasoconstrição (palidez) seguido de estase (ruborização)

2ºgrau Flictenas Estase–transudação de plasma e formação de bolha ou flictena (vesicação)

3ºgrau Necrose Coagulação capilar–déficit de irrigação-necrose

MORTE POR FRIO

 Diagnóstico difícil
 Hipóstase vermelho-clara
 Rigidez cadavérica precoce, intensa e demorada
 Sangue de tonalidade menos escura
 Sinais de anemia cerebral
 Congestão polivisceral
 Disjunção das suturas cranianas (às vezes)
 Sangue de pouca coagulabilidade
 Espuma sanguinolenta nas vias respiratórias
 Infiltrações hemorrágicas na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski

TRAUMAS POR PRESSÃO

Os principais fenômenos resultantes das alterações de pressão são denominados BAROPATIAS.

BAROPATIAS E/ OU BAROTRAUMAS

A relação entre a força exercida em determinada área é denominada de pressão. Pressão atmosférica é a pressão ou força do ar na
unidade de superfície. As unidades de pressão mais frequentemente utilizadas são ATM,CMHG,MMHG E PA (PASCAL).

Os principais fenômenos resultantes das alterações de pressão são denominados BAROPATIAS:

1. Diminuição da pressão – mal das montanhas ou dos aviadores (rarefação do ar em grandes altitudes)
2. Aumento da pressão - mal dos mergulhadores com embolia gasosa (pela rápida subida à superfície)

DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO

 mal das montanhas ou dos aviadores (rarefação do ar em grandes altitudes)


 cefaleia, dispneia, fadiga, insônia, tonturas e vômitos
 poliglobulina das alturas
 edema agudo de pulmão e edema cerebral das alturas
 hemorragia retiniana
 mal crônico das montanhas (doença do monge)
 embolia pulmonar

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 psicose das grandes alturas

AUMENTO DA PRESSÃO

 Patologia da descompressão: mal dos mergulhadores com embolia gasosa (pela rápida subida à superfície)
 Patologia da compressão: intoxicação por oxigênio, nitrogênio e gás carbônico
 Acidentes de trabalho

ELETRICIDADE
A eletricidade natural:

 Agindo letalmente sobre o homem: FULMINAÇÃO


 Quando apenas provoca lesões corporais: FULGURAÇÃO
 Lesões com aspecto arboriforme e tonalidade arroxeada: Sinal de Lichtemberg ou marcas Queraunográficas – surge 1h após
o raio e pode desaparecer após 24hs
 Inibição direta dos centros nervosos –paralisia respiratória e asfixia
 Fibrilação ventricular
 Lesão corporal diversas
 Entrada e saída

A eletricidade artificial ou industrial:

 Proposital: para execução de um condenado - ELETROCUSSÃO


 Acidental: ELETROPLESSÃO
 A lesão mais simples é chamada marca elétrica de Jellinek
o No Local de entrada é produzido uma lesão semelhante ao condutor elétrico que originou a descarga. Lesão de
bordas elevadas e de coloração amarelo esbranquiçada e indolor.
 Os efeitos deletérios da corrente elétrica se devem à intensidade da corrente (amperagem)

Morte pela ELETRICIDADE (natural ou artificial)

 Morte cardíaca – fibrilação produzida pela corrente – tensão abaixo de 120 V


 Morte pulmonar ou por asfixia (tetanização dos músculos): tensão entre 120 e 1.200V
 Morte cerebral – hemorragia das meninges e demais estruturas cerebrais – acima de 1.200V

AGENTES QUÍMICOS

Toxologia: ciência que estuda as intoxicações e os venenos que as provocam. É a ciência que tem por objetivo o estudo do efeito nocivo
produzido pela intenção entre o agente químico e o organismo.

 AGENTE TÓXICO: É a substância química capaz de produzir um efeito nocivo através de sua interação com o organismo.
 TOXICIDADE: É a capacidade inerente ao potencial de um agente químico de produzir um efeito nocivo após interação com
o organismo.
 INTOXICAÇÃO: É o conjunto de sinais e sintomas que evidenciam o efeito nocivo produzido pela interação entre um agente
químico e o organismo.
 ENVENENAMENTO: É a morte violenta ou dano grave a saúde ocasionada por determinadas substâncias de forma acidental,
criminosa ou voluntária.
 Medicamento – toda substância que, introduzida no organismo, tem a finalidade de restituir ou repor ao mesmo o equilíbrio
anteriormente rompido. É toda substância que quando absorvida, atua sobre as funções vitais, exarcebando-as ou inibindo-
as, para restabelecer a saúde, ou quando usada por qualquer via, elimina ou extermina outros organismos parasitários.
 Veneno – toda substância que introduzida no organismo ou mesmo assimilada produza um mal à saúde (transtorno) podendo
até mesmo acarretar a morte do indivíduo como o veneno de cobra. É toda substância que ingerida no organismo ou aplicado
ao seu exterior, sendo absorvida, determina a morte, ponha em perigo de vida ou altere profundamente a saúde. É toda
substância que lesa a integridade corporal ou a saúde do indivíduo ou lhe produz a morte, mesmo em quantidades
relativamente pequenas. Uma substância pode ser concomitantemente medicamento e veneno, dependendo da quantidade
que é administrada. O CONCEITO DE VENENO ESTÁ INTIMAMENTE VINCULADO À DOSE. O veneno pode causar reação para
uma pessoa e para outra não. Para que seja veneno é preciso que haja :
o Introdução no organismo;
o Absolvido pelo organismo por meio de reação química ou bioquímica que implique mal à saúde, podendo chegar à
inconsciência (coma) e até a morte.

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 No laboratório será feita a análise da substância que pode ser básica, ácida ou neutra e somente o resultado final (laudo
definitivo) no prazo de 30 dias poderá atestar qual substância seja.

VENENO
 É toda substância que lesa a integridade corporal ou a saúde do indivíduo ou lhe produz a morte, mesmo em quantidades
relativamente pequenas. É toda substância que ingerida no organismo ou aplicado ao seu exterior, sendo absorvida,
determina a morte, ponha em perigo de vida ou altere profundamente a saúde.
 Uma substância pode ser concomitantemente medicamento e veneno, dependendo da quantidade que é administrada
 O CONCEITO DE VENENO ESTÁ INTIMAMENTE VINCULADO À DOSE
 Cada veneno tem a sua dose tóxica e mortal;
 A pureza e a frescura da substância influi na toxidez;
 A via de penetração é importante, injeção, pele, inalatória, ingestão;
 A tolerância é fundamental na dose mortal, pode ocorrer que uma grande dose seja inócua;
 Idiossincrasia: (inverso da tolerância - sensibilidade anormal ao veneno

Os Venenos podem ser:

 Medicamentos:
o depressores e estimulantes do SNC Sistema Nervoso Central;
 Produtos Químicos Diversos:
o raticidas e formicidas a base de arsênico
o cianetos
o Fósforo
 Plantas Tóxicas:
o mandioca brava
o espada de São Jorge
o Mamona
 Animais:
o serpentes, aranhas, vespas, abelhas

Ciclo toxicológico seguido pelo veneno

• 1º - Absorção ou Via de Administração - Depende da substância, oral, pele, mucosa, hipodérmica, endovenosa Assim, o
veneno de cobra, via oral, é inócuo
• 2º - Distribuição - O veneno é circulado pelo sangue e passa aos tecidos
• 3º - Fixação - O veneno, especificamente, fixa-se no órgão onde vai agir (tropismo). Ex: Os metálicos no fígado, os
estupefacientes no sistema nervoso etc
• 4º - Transformação - O organismo defende-se dos venenos transformando-os em derivados menos tóxicos e substâncias mais
solúveis e,
• 5º - Eliminação - As substâncias são eliminadas pela urina, fezes, saliva etc

VENENO NO CADÁVER

 Para que se caracterize, com certeza uma morte por envenenamento, além da identificação de uma substância química tóxica
no corpo da vítima, é necessário que se verifique a concentração da referida substância.
 O cadáver exala odor de amêndoas amargas, quando houve ingestão de Cianeto de Potássio ou Ácido Cianídrico
 O cadáver daquele que ingeriu Cianureto de Potássio, além dos sinais gerais da asfixia e do odor de amêndoas, apresenta-
se com livores violáceos na pele e rigidez precoce e intensa
 Saturnismo é o nome que se dá ao envenenamento por Chumbo (Riso sardônico: expressão facial tetânico)
 Hidrargirismo ou Mercurialismo é o nome da intoxicação provocada pelo Mercúrio

DIAGNÓSTICO DE ENVENEMAMENTO

• Critério clínico: sintomas característicos de cada substância


• Critério anatomopatológico: exames laboratoriais
• Exame macroscópico: análise do corpo observando lesões na boca, odores característicos, coloração da pele etc.
• Exame necroscópico: coleta de vísceras para exames laboratoriais

INTOXICAÇÕES POR ENVENENAMENTO


São danos devidos ao uso de alimentos por si só inofensivos, mas que se tornam nocivos pelas toxinas ou por micróbios. Podem ser
provocadas:

• Pelas embalagens dos alimentos, em especial, latarias


• Pela existência de substâncias conservantes em grande dose
• Pela carne crua de animais doentes, em especial, o portador de carbúnculo

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• Por alimentos tóxicos, tais como peixes, crustáceos e cogumelos, ou ainda,
• Por alimentos deteriorados, como, por exemplo palmito em conserva (botulismo).

LESÕES CORPORAIS À LUZ DO ART. 129 CP

Lesão Corporal: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”. O objetivo fundamental do estudo medico-legal das lesoes
corporais é caracterizar a extensão ,gravidade e perenidade ,ou seja ,a quantidade e qualidade da lesão.

Lesões corporais, ou melhor ainda, lesões pessoais, são as que causam danos ao corpo, à saúde física ou mental, resultantes de
traumatismos materiais ou morais, segundo o Código Penal vigente. Quando não há lesão documentando a agressão (cuspida no rosto,
bofetão, empurrão etc.). temos as chamadas vias de fato.

 Ofensa à integridade corporal: ocorrência de dano anatômico como:


o escoriação – equimose – ferida incisa – luxação – fratura – cicatriz – mutilação – amputação
 Ofensa à saúde: ocorrência de perturbações funcionais:
o motricidade = articulações
o funções vegetativas = digestão, respiração, circulação
o atividade sexual
o psiquismo

ART 129 – CODIGO PENAL BRASILEIRO

 Ofender a integridade corporal ou a saude de outrem


 A violencia empregada pode ser fisica ( socos , golpes com armas ou objetos …) ou moral ( ameaça ,terror),gerando lesões
fisicas e/ou psiquicas .

As lesões corporais, ou como melhor seria sua denominação — lesões pessoais— quando estudadas quanto à quantidade e à qualidade
do dano, têm o significado jurídico de configurar, no dolo ou na culpa, um crime contra a pessoa, como está disposto no artigo 129,
caput do Código

Penal Brasileiro: "Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano". Ofender a
integridade corporal ou a saúde de nus: uni: Pena - detenção de três meses a um ano.

Neste dispositivo, o que se quer proteger é não só a integridade corporal do indivíduo, mas a saúde integral de cada um, como uma
forma de evitar agravo à sua normalidade física ou funcional.

Entende-se também que a expressão "lesão", em Medicina Legal tem um significado diferente, muito mais amplo do que uma medicina
curativa. Assim, pode-se dizer que lesões corporais, sob o ponto de vista médico jurídico ou legispericial, quaisquer alterações ou
desordem da normalidade, sempre de origem exógena e violenta.

As energias causadoras desses danos pessoais podem ser de ordem mecânica, física, química, físico-química, bioquímica, biodinâmica
e mista. As energias de ordem mecânica são aquelas capazes de alterar o estado de repouso ou de movimento de um corpo, produzindo
danos funcionais ou anatômicos. São representadas, em sua maioria, por objetos ou instrumentos e, de acordo com as características
de sua configuração e das formas das próprias lesões, são conhecidas como perfurantes, cortantes e contundentes, e nas suas
modalidades combinadas em pérfuro-cortantes, pérfuro-contundentes e corto-contundentes. E conseqüentemente produzem
ferimentos puntiformes, incisos ou cortantes, contusos, pérfurocortantes, pérfuro-contusos

As energias de ordem física são aquelas que produzem lesões através da mudança do estado físico desses agentes causadores da ofensa
corporal ou até da morte do individuo. Entre as formas de energias chamadas físicas as mais encontradas são: temperatura (calor, frio
ou oscilação de temperatura) eletricidade, pressão atmosférica, radioatividade, luz e som.

As energias de ordem química estão representadas por toda forma de substância, seja ela sólida, líquida ou gasosa, capaz de, agindo
por meio físico, químico ou biológico, provocar sérios danos à vida ou à saúde do indivíduo. Se elas agem externamente, chamam-se
causticas; se internamente, venenos.

Por sua vez, as energias de ordem físico-químicas são aquelas que, por ação mecânica e por alterações bioquímica, produzem o
fenômeno chamado "asfixia", alterando a função respiratória, perturbando a função da hematose, podendo ou não levar o individuo
à morte. Dentre essas formas de asfixia destacam-se as produzidas por confinamento, gases irrespiráveis, sufocação direta ou indireta
soterramento, afogamento, enforcamento, estrangulamento e por esganadura.

As energias de ordem bioquímica são aquelas que agem de forma combinada — química e biológica —- atuam por restrição (carencial)
ou positivamente (infecção) - levando em conta as conduções orgânicas da vítima, incluídas nelas estão as perturbações alimentares
(inanição, doenças cariciais e intoxicações alimentares), as auto-intoxicações e as infecções.

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A energia de ordem biodinâmica está representada por uma síndrome conhecida por "choque", cujo surgimento é quase sempre devido
a uma agressão orgânica, como se esta representasse um mecanismo de defesa destinado a proteger o organismo humano da agressão
recebida. As modalidades de choque mais conhecidas são: cardiogênicas, obstrutivas, hipovolêmicas e periféricas.

Finalmente, as energias de ordem mista, como aquelas combinadas nas suas formas biodinâmica e bioquímica, capazes de produzirem
danos à vida ou à saúde do individuo. As modalidades mais conhecidas dessas energias são: a fadiga, as doenças parasitarias e as
sevicias.

CLASSIFICAÇÃO

As lesoes corporais se dividem em dolosas ou culposas e somente as primeiras tem a subdivisao de leves ,graves e gravissimas .

 Lesões Leves (pena de até 1 ano)


 Lesões Graves (pena de até 5 anos)
 Lesões Gravíssimas (pena de até 8 anos)
 Lesões Seguidas de Morte (pena de até 12 anos)

LESÃO LEVE

 Não implica em grandes consequências para a vítima


 O conceito de lesão corporal de natureza leve é estabelecido por exclusão, uma vez que as tipificações de agravantes da lesão
estão contidas nos parágrafos 1º, 2º e 3º do Art. 129 do CPP
 Danos superficiais aos tecidos – ex: ferimentos em tecidos moles, escoriações, hematomas, equimoses, contusões, edemas,
luxações, fraturas dentárias de pequena extensão, entre outros
 Lesões de menor monta que não comprometam as funções de caráter permanente e que não acarretem maiores riscos ou
recuperação demorada

LESÃO GRAVE

Incapacidade (física ou psíquica) para ocupação habitual por mais de 30 dias

 não exige incapacidade absoluta


 em 30 dias deverá ser reavaliada a necessidade de um período maior, para o retorno da vítima às suas ocupações habituais
 atividade profissional ou social (passeio, escola: não somente o trabalho - conceito funcional e não econômico )

Perigo de vida

 Deve ser atestado mediante sintomas, como perda de consciência, desaparecimento do reflexo
 As lesões com maior probabilidade de colocar em risco a vida da vítima são: feridas penetrantes do abdômen e do tórax,
hemorragias abundantes, estados de choque, queimaduras generalizadas, fraturas do crânio e da coluna vertebral,
traumatismo cranioencefálico, infecções
 Debilidade permanente (definitiva frente ao tratamento habitual) de membro, sentido ou função
o Membro: anquilose, paralisia muscular
o Sentido: tato, visão, audição, paladar e olfato
(redução ou diminuição da capacidade sensorial)
o Função: rins, coração, mastigação
 perda de dente = função mastigatória
 perda de testículo = função reprodutiva
 Aceleração do Parto
o Compreende traumas de toda ordem (física ou psíquica) que pode antecipar o parto, não ocorrendo a morte do
feto

LESÃO GRAVÍSSIMA

Incapacidade permanente para o trabalho


 Dificilmente curada ou reparada. Ex.: um motorista de ônibus perdeu a visão: (impossibilidade de trabalhar)
Enfermidade incurável
 Estado patológico que tende a evoluir para a morte ou que permaneça indefinidamente estacionário sem possibilidade de
cura: lepra, tuberculose, epilepsia
Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
 Ex.: perda da fala pela amputação da língua, perda da audição, da visão, de uma mão, de um pé
Deformidade permanente
 Dano estético irreversível, visível e permanente (de vulto)
 (Visibilidade, permanência e extensibilidade da lesão)
Aborto
 Morte fetal ou sua expulsão e morte consequente como resultado do dano (agressão à integridade física ou à saúde da mãe)

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LESOES CORPORAIS CULPOSAS

Quando ocorre a morte por conseqüência da lesão corporal produzida pelo agente, sempre que este não teve a intenção de matar e
nem assumir o risco desse resultado. O reconhecimento dos elementos deste tipo cabe a justiça, mas os informes médico-legais são
de capital importância

O crime de lesao corporal tambem pune quando praticado culposamente ( art 129 paragrafo 6 CP ) , isto é ,quando sem ter querido
produzir a ofensa fisica , nem assumido o risco de produzi-la , o agente a provoca por nigligencia , imprudencia ou impericia.

 Sendo culposas as lesoes, nao ha distinçao entre as leves, graves ou gravissimas .

LESÃO CORPORAL MORTAL LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE

O agente, sem a intenção de matar, produz uma lesão corporal dolosa e, esta, determina a morte da vítima a morte da vítima agrava
a pena, pois se trata de uma ação dolosa com resultado culposo.

Paragrafo 3 do artigo 129 CPP esta prevista a lesão corporal seguida de morte , que se verifica quando a ofensa a integridade corporal
ou a saúde resulta em morte e as circunstancias evidenciam que o agente nao quis este resultado nem assumiu o risco de produzi-lo
.O reconhecimento deste fato nao cabe a perícia , mas a justiça .

QUESITOS PARA EXAME DE CORPO DE DELITO LESÕES CORPORAIS

A. Houve lesão?
B. Qual instrumento ou meio a produziu?
C. Há quanto tempo foi produzida?
D. Resultou debilidade de membro, sentido ou função?
E. Resultou perda ou inutilização de membro, sentido ou função?
F. Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?
G. Resultou perigo de vida?
H. Impediu as atividades habituais por mais de trinta dias?
I. Resultou deformidade permanente, enfermidade incurável, aceleração de parto ou aborto?

As respostas devem ser incisivas, evitando-se expressão dúbias .Quando houver dúvida o perito deve confessar sua incerteza ; não
ter elementos de convicção ou não ter elementos para afirmar ou negar

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