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ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA – TRAUMATOLOGIA

Marcella Carvalho

INTRODUÇÃO
 Meios mecânicos causadores do dano: vão desde armas propriamente ditas (como
punhais, revolveres, soqueiras), armas eventuais ( como faca, navalha, machado),
armas naturais (punhos, pés, dentes) e meios imagináveis (maquinas, animais,
veículos, quedas, explosões, precipitações)
 Existem três meios de resultar em uma lesão: 1. Meio ativo – impacto do objeto em
movimento contra o corpo humano; 2. Meio passivo – instrumento encontra-se imóvel
e corpo humano em movimento; 3. Ação mista – os dois se acharem em movimento,
um contra o outro
 Esses meios atuam por: pressão, percussão, tração, torção, compressão, descompressão,
explosão, deslizamento e contrachoque
 Classificação dos meios mecânicos
 Perfurantes;
 Cortantes;
 Contundentes;
 Perfurocortantes;
 Perfurocontudentes;
 Cortocontundentes.
 Produzem feridas:
 Feridas puntiformes;
 Feridas cortantes;
 Feridas contusas;
 Feridas perfurocortantes;
 Feridas perfurocontusas;
 Feridas cortocontusas.

LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO PERFURANTE


 Instrumentos perfurantes, aspecto pontiagudo, alongado e fino, com diâmetro transverso
reduzido;
 Ex: estilete, sovela, agulha, furador de gelo → atuam sempre por percussão/pressão,
afastando as fibras do tecido e, raramente, seccionando-as;
 Causam feridas puntiformes ou punctória (forma de ponto);
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 Como são as lesões punctorias:


o Abertura estreita;
o Raro sangramento;
o Pouca nocividade na superfície;
o Certa nocividade na profundidade;
o Menor diâmetro que do instrumento;

 Como é o trajeto delas?


o Trajeto – túnel estreito que se continua pelo tecido lesão, representado no cadáver por
uma linha escura;
o Predomina a profundidade ao diâmetro;
o Termina em fundo cego (fundo de saco – lesão penetrante)
o Pode ser transfixante → Ferimento de saída - em geral mais irregular e de menor
diâmetro que o de entrada;

 Pode ocorrer do instrumento perfurante atingir profundidade maior que o seu


comprimento;
 Como?
o Quando um instrumento perfurante é atingido com certa pressão ele atinge uma região
de tecidos moles. Nesses tecidos a pressão faz com que atinja uma parte mais profunda
do que o próprio comprimento do instrumento ► Lesão em Acordeão ou Sanfona de
Lacassagne;
o Arma pequena com trajeto longo;

LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CORTANTE


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 Instrumentos de ação cortante possuem gume (parte cortante da lâmina) mais ou menos
afiado;
 Atuam por pressão e deslizamento (pressão e deslocamento), de forma linear ou
obliquo;
 Exemplos: navalha, gilete, bisturi, papel, estilhaços de vidros e entre outros;
 Produzem feridas incisas ou cortantes ou fusiformes
 Feridas incisas: bordas regulares, sem cauda de escoriação;
 Feridas cortantes: extremidades superficiais e parte mediana mais profunda e
nem sempre tem forma regular. Principal característica é a “cauda de
escoriação”.
 Quais características da lesão provocada por agente cortante?
 Forma linear;
 Regularidade das bordas;
 Regularidade do fundo da lesão;
 Ausência de vestígios traumáticos ao redor da ferida;
 Hemorragia quase sempre abundante;
 Predominância do comprimento sobre a profundidade;
 Afastamento das bordas da ferida;
 Presença de cauda de escoriação onde terminou ação do instrumento;
 Vertentes cortadas obliquamente;
 Centro mais profundo que extremidades;
 Paredes lisas e regulares;
 Perfil de corte angular (instrumento perpendicular) ou em forma de bisel
(instrumento obliquo);
 Forma linear = ação por deslizamento
 Início do ferimento mais brusco e fundo
 Ferida arco de violino;
 Obs.: não se observa escoriações, equimoses ou infiltrações hemorrágicas nas
bordas ou em volta da ferida

 Sinal de Chavigny: refere-se a ordem das lesões cortantes que se cruzam. A segunda
lesão, que foi produzida sobre a primeira, não segue um trajeto de linha reta, pois as
bordas da primeira já se encontravam afastadas.
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Focar em zonas de orla e contorno, como é classificado queimadura, tipos de asfixia,


afogamento (tudo), tipos de lesão (rubefação, escoriação, diferença entre todos tipos,
fotos de feridas), manchas (pessoa com eletrocussão, asfixia), equimoses, bastante em
tudo que for de projeto de arma de fogo, sinais (eletroplessao), estágios lesão
cadáveres, manchas e sinais (tudo).

 Feridas especiais
 Esgorjamento:
 Parte anterior ou lateral do pescoço;
 Longa ferida transversal do pescoço;
 Profundidade significativa;
 Lesa planos cutâneos, vasculonervosos, musculares, órgãos mais internos
(esôfago, laringe e traqueia);
 Morte pode ocorrer por 3 motivos:
1. Hemorragia (anemia aguda);
2. Asfixia (entrada de sangue na arvore respiratória);
3. Embolia (entrada de sangue nas veias).
 Homicida/suicida;
Obs.: em suicídios, individuo destro, ferimento se dá da esquerda para a direita,
com localização anterolateral esquerda e fim voltado ligeiramente p/baixo.
Profundidade maior no início da lesão. Em homicídios, o autor está atrás da
vítima, provocando ferimento da esquerda para a direita, com sentido horizontal
e uniforme, com mesma profundidade do início, ligeiramente voltado para cima.
 Esquartejamento:
 Ato de dividir o corpo em partes;
 Por amputação ou desarticulação;
 Castração:
 Finalidade e instinto de vingança;
 Decapitação:
 Separação total da cabeça do corpo;
 Degolamento:
 Parte posterior do pescoço;
 Secção quase total do pescoço;
 Evisceração (haraquiri)
 Lesões de defesa.
LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CONTUNDENTE
 Maiores causadores de danos;
 Agem em uma superfície, por pressão, explosão, deslizamento, percussão,
compressão, descompressão, distensão, torção, fricção, por contragolpe ou
forma mista;
 Exemplos: mãos, tijolo, automóvel, jato de ar, desabamentos, lutas corporais e
dentre outros;
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 Provocam lesões contusas:


 Alguns exemplos:
o Lesões por martelo;
o Encravamento;
o Empalamento;
o Lesões por achatamento;
o Lesões por arrancamento;
o Lesões por cinto de segurança;
o Lesões por explosão de airbags;
o Lesões por atropelamentos terrestres/ferroviários/aéreos;
o Lesões por precipitação.
 Resultado = contusão.
 Variações de contusão:
 Rubefação:
o Não chega a ser uma lesão;
o Mancha avermelhada, efêmera e fugaz;
o Tende a desaparecer em alguns minutos;
o Surgimento imediato;
o Não lesa integridade da pele;
o Exemplo: bofetada nas nadegas ou face

 Escoriação:
o Arrancamento total e parcial da epiderme;
o Desnudamento da derme;
o “erosão epidérmica”;
o Não deixa cicatriz ou marcas;
o Ocorre formação de corstas que pode ser serosa (linfa) ou hemática (sangue);
o Escoriações post mortem não ocorre formação de crostas, a derme é branca, não
há serosidade e nem sangue. Leito é seco, descorado e apergaminhado;
o Recuperação em curto prazo (20-30 dias);
o Crostas começam a cair entre 4-10 dias e pele regenera até o 15º dia;
o Exemplos: arrastamento, atropelamento, lesões de defesa (unhadas)...;
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 Equimose:
o Lesões contusas e intensidade depende do instrumento e grau de violência;
o Mais frequente e importante;
o Tecido externo integro;
o Infiltrações hemorrágicas nas malhas dos tecidos;
o Extravasamento sanguíneo;
o Material extravasado é reabsorvido e provoca variação cromática, o que leva ao
espectro equimotico de Legrand du Salle, o qual avalia a data da lesão e se
ocorreram em dias diferentes

1º dia – avermelhada
2º e 3º dia – violácea
4º ao 6º dia – azul
7º ao 10º dia – esverdeada
12º dia – amarelada
15º ao 20º dia – desaparece;
o “manchas roxas”;
o Em “pequenos grãos” = sugilação / formas de estrias = víbice / pequenas
equimoses agrupadas em pontilhados agrupados = petéquias;
o Estrias pneumáticas de Simonin = dedos de mão, anéis, pneus de automóveis;
o Violetas róseo-equimoticas = “chupão”;
o Sinal de Kunckle = pigmento encontrado mesmo após desaparecimento da
equimose;
o Como diferencia equimose de livor?
 Técnica de Bonnet.
 Equimose tem sangue infiltrado nos tecidos e maior aderência;
 Livor, como é apenas uma decomposição de elementos figurados do sangue, não
há essa aderência
 Edema: acúmulo de líquido no espaço intersticial;
 Hematoma: maior extravasamento de sangue;
 Bossa sanguínea:
o Diferencia-se do hematoma por apresentar-se sobre um plano ósseo e pela sua
saliência bem pronunciada na superfície cutânea;
o Traumatismos do couro cabeludo;
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o “galo”.
 Ferida contusa: lesões abertas;
o Produzidas por compressão, pressão, percussão, arrastamento, explosão e tração;
o Causadas por meio ou instrumento de superfície e não de gume;
o Quais as principais características?
 Forma estrelada, sinuosa ou retilínea;
 Bordas irregulares, escoriadas e equimosadas;
 Fundo irregular;
 Vertentes irregulares;
 Pontes de tecido integro ligando as vertentes;
 Retração das bordas da ferida;
 Pouco sangrantes;
 Integridade dos vasos, nervos e tendões no fundo da lesão;
 Ângulo tendendo a obtusidade.
 Fraturas:
o Decorrem de mecanismos de compressão, flexão ou torção;
o Solução de continuidade dos ossos;
o Diretas – no próprio local de traumatismo
Indiretas – provem de violência em uma região mais ou menos distante do local
fraturado. Ex: indivíduo que cai de uma certa altura de pé e fratura a base do
crânio;
o Fratura em galho verde = deformação do osso sem fratura;
 Luxações:
o Lesão ocorre na articulação;
o Osso sai da articulação parcialmente/totalmente;
o Deslocamento de dois ossos cujas superfícies de articulação deixam de manter
suas relações de contato que lhe são comuns;
o Completas – superfícies de contato se afastam totalmente;
Incompletas – perda de contato das superfícies articulares é parcial;
o Fechadas/expostas;
o Ex: luxações de ombro, cotovelo, joelho e tornozelo.
 Entorses:
o Lesão ocorre na articulação;
o Ligamentos rompem/esticam;
o Lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos que
compõe uma articulação, incidindo apenas sobre os ligamentos;
o Ex: pé mal assentado no solo ou rotação mais violenta de um joelho;
o Dor intensa;
o Perturbação funcional com redução temporária da função;
o Tumefação, rubor local, movimentos articulares anormais, equimose/hematoma;
 Ruptura de vísceras internas:
o Ruptura de órgãos internos;
o Ação por compressão, pressão, percussão, tração e explosão;
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o Mais comuns: fígado, baço, rins, pulmões, intestino, pâncreas e suprarrenais;


 Lesões por martelo:
o Afundamentos ósseos;
o Perda de tecidos;
o Ação em sentido perpendicular = fratura perfurante/em vazador/em saca-
bocados;
o Afundamento parcial e uniforme com inúmeras fissuras, em forma de arcos e
meridianos = sinal do mapa-múndi de Carrara;
o Traumatismo tangencial que produz fratura de forma triangular = sinal em
terraza de Hoffman.
 Encravamento:
o Modalidade de ferimento produzida pela penetração de um objeto afiado e
consistente em qualquer parte do corpo;
o Requer agente comprido, perfurocontundente alongado (haste, lança, barra
metálica)

 Empalamento:
o É uma forma de encravamento;
o Quando ocorre penetração de objeto de grande eixo longitudinal nos órgãos
sexuais ou próximo deles;

 Resumo ações simples:


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LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO PERFUROCORTANTE


 Instrumentos de ponta e gume;
 Atuam por mecanismo misto → penetram perfurando com a ponta e cortam com
a borda afiada planos superficiais e profundos;
 Agem por pressão e secção;
 Há os de 1 gume = canivete, espada... → ferimentos em forma de botoeira, fenda
regular, linear, ângulo agudo e outro arredondado;
Os de 2 gumes = punhal... → fendas de bordas iguais e ângulos agudos;
Os de 3 gumes/triangulares = lima → feridas de forma triangular ou estrelada;

LESÕES POR AÇÃO PERFUROCONTUNDENTE


 Mecanismo de ação que perfura e contunde ao mesmo tempo;
 Quase sempre por projeteis de arma de fogo;
 Classificação de balística forense:
1. Balística interna: funcionamento das armas, estrutura e mecanismo, e técnica
do tiro.
2. Balística externa: estuda trajeto e trajetória do projétil, desde a saída darma
até seu impacto ou parada.
3. Balística dos efeitos/ferimento: efeitos produzidos pelo projétil disparado.
 Lesões produzidas por projeteis de arma de fogo (balística dos efeitos):
 ferimento de entrada
 tiro encostado (0cm)
o plano ósseo logo abaixo;
o forma irregular, denteada ou com entalhes → ação dos gases que descolam e
dilaceram tecidos → penetram ferimento e refluem ao encontrar com plano
ósseo;
o Câmara de Mina de Hoffmann: ao redor do ferimento, nota-se crepitação
gasosa da tela subcutânea proveniente da infiltração dos gases; não há zona de
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tatuagem ou esfumaçamento → todos os elementos de carga penetram pelo


orifício da bala;

o Tiros no crânio, costelas e escapulas → encontra-se halo fuliginoso ou zona de


tatuagem na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada → Sinal de
Benassi;

o Sinal de Werkgaertner → impresso na pele desenho da boca de mira do cano


devido ação contundente e aquecimento;

o Halo fuliginoso na lâmina externa do osso = orifício de entrada;


 Tiros a curta distância (10 – 50cm)
o Forma arredonda ou elíptica;
o Orla de escoriação – arrancamento da epiderme;
o Bordas invertidas – de fora para dentro;
o Halo de enxugo ou orla de Chavigny – passagem do projetil através dos tecidos,
limpando nele suas impurezas;
o Halo ou zona de tatuagem – impregnação de grãos de pólvora incombustos que
alcanço o corpo;
o Orla ou zona de esfumaçamento – deposito de fuligem que circunscreve a ferida
de entrada “zona de falsa tatuagem”;
o Zona de queimadura ou chamuscamento – ação superaquecida dos gases que
queimam o alvo;
o Aréola equimótica;
o Zona de compressão de gases – depressão da pele.
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 Tiros à distância (> 60-70 cm)


o Diâmetro menor que o do projetil.
o Forma arredonda/elíptica;
o Orla de escoriação ou anel de Fisch;
o Halo de enxugo;
o Aréola equimótica;
o Bordas reviradas para dentro.
o Sinal de funil de Bonnet – diagnostico diferencial de entrada e saída
principalmente no plano ósseo (ossos do crânio). Na lâmina externa o ferimento
é arredondado, regular e em forma de saca-bocado. Na lâmina interna é
irregular, maior do que o da lâmina externa e bisel interno bem definido, dando a
perfuração a forma de um funil. No ferimento de saída, há um amplo bisel
externo com a forma de funil e base voltada para fora.

 Ferimento de saída:
 Características principais:
 Forma irregular – diâmetro maior que o orifício de entrada;
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 Bordas reviradas p/ fora;


 Maior sangramento;
 Sem orla de escoriação e halo de enxugo e elementos resultante da pólvora;

 Sinal de Romanese – corpo encostado em um anteparo (parede) e projetil


encontra resistência ao sair;

 Trajeto vs trajetória:
 Trajeto é o caminho percorrido pelo projetil no interior do corpo;
 Trajetória é todo o percurso do projetil, desde seu ponto de disparo até
sua parada final.
LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CORTOCONTUNDENTE
 Instrumentos com gume, mas que são influenciado pela ação contundente;
 Age tanto por deslizamento, percussão e pressão;
 Exemplos: foice, machado, enxada, serra elétrica...
 Lesões chamadas de cortocontusas;
 Características:
 Forma variável;
 Graves e fundas;
 Sem cauda de escoriação;
 Espostejamento: redução do corpo (acidentes ferroviários).
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 Mordeduras:
 Dentada por homens ou animais;
 Agem por pressão e secção;
 Pouca violência = equimoses e escoriações;
 Maior violência = feridas, lacerações, arrancamento de tecidos;
RESUMO

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