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FERIDAS AGUDAS
Dr.Brunno Rosique
Considerações Gerais
As feridas podem ser definidas como rupturas das estruturas anatómica e funcional
normais do corpo.
Tendo em conta o tempo de reparação tissular, as feridas podem ser classificadas em:
> Agudas - feridas cuja reparação ocorre sem complicações, em tempo adequado e sequência
ordenada, levando à restauração da integridade anatómica e funcional.
> Crônicas - feridas que não são reparadas em tempo esperado e apresentam complicações.
Causas
A principal causa de feridas agudas no nosso meio são os traumatismos (incluindo as mordeduras). Existem
outras causas como: térmicas (queimaduras P.e.); infecciosas (por bactérias, vírus, parasitas); químicas;
vasculares; alérgicas e radioactivas.
Classificação
• Ferida limpa - não contém microorganismos patogénicos. Por exemplo, uma ferida feita sob condições
assépticas (incisão cirúrgica).
• Ferida contaminada - contém bactérias não virulentas.
• Ferida infectada - contém bactérias virulentas (que aparecem 6 horas após o traumatismo).
Abertas
o Escoriações, erosões ou brasões - atingem somente a epiderme.
o Incisas - são lineares, com bordos rectos que coaptam bem e provocadas por objectos
cortantes como vidros partidos, facas e metais afiados.
o Contusas - com bordos irregulares e sem perda de substância, são geralmente provocadas por
forças de compressão ou tensão envolvendo objectos pouco ou não cortantes como pedras,
paus e veículos.
o Por esfacelamento - são variantes das feridas por arrancamento em que o grau
de contusão dos tecidos é muito severo.
o Intermédias - são associações dos tipos de feridas acima indicados, podem ser contuso incisas,
confuso perfurantes, inciso perfurantes, etc.
> Fechadas
Cicatrização
Existem 2 tipos de cicatrização espontânea das feridas agudas:
♦ Por Ia intenção - típica das feridas incisas, sem formação de tecido de granulação.
♦ Por 2a intenção - típica dos restantes tipos de feridas abertas, com formação de
tecido de granulação.O processo de cicatrização pode ser longo ou curto. As feridas incisas, incluindo as
cirúrgicas, normalmente cicatrizam em 7 dias. O processo de cicatrização pode ser influenciado por
fatores locais e gerais.
Fatores locais:
♦ Infecção - atrasa o processo de cicatrização.
♦ Tamanho e forma da ferida - quanto maior e mais disforme for a ferida mais lento
é o processo de cicatrização.
♦ Localização da ferida sobre uma neoplasia - atrasa o processo de cicatrização.
♦ Tipo de tecido lesado - a cicatrização é mais lenta nos tendões.
Factores gerais:
♦ Nutrição (teor de proteínas e vitamina C) - um bom teor de proteínas e vitamina C
acelera o processo de cicatrização.
♦ Erosão epitelial - é uma descamação da superfície da cicatriz devido à lise epitelial por
insuficiente irrigação sanguínea ou infecção.
♦ Quelóide - são hiperplasias da cicatriz (massas de tecido fibroso), muito frequentes na
raça negra e com tendência à recidiva após extirpação.
Evolução e complicações
As feridas agudas podem evoluir para a cura (através de um processo adequado de cicatrização)
ou complicar-se, podendo levar à morte.
Rabdomiólise (insuficiência renal aguda devido á obstrução dos túbulos renais pela mioglobina
libertada dos músculos traumatizados)
♦ Qual foi a causa da lesão (arma branca, arma de fogo, mordedura, queda, etc.)
♦ Quais são as principais queixas do doente à chegada (dor, hemorragia, sintomas de choque)
No exame físico deve-se valorizar o exame geral (para excluir um politraumatismo e sinais de choque)
e o exame local.
O exame do local lesado deve começar pela detecção de quaisquer lesões nervosas (motoras e
sensitivas), tendinosas, vasculares ou de duetos especializados.
Quando a lesão é numa extremidade que sangra e a inspecção é dificultada, pode-se utilizar um
esfigmomanómetro colocado próximo da lesão e insuflá-lo até uma pressão superior à pressão sistólica
do doente para se promover a hemostase.
A palpação dos ossos adjacentes à ferida pode permitir a detecção de dor ou instabilidade
confirmando uma fractura subjacente, a qual pode ser confirmada pela radiologia.
Deve-se considerar que todas as estruturas situadas em baixo de uma ferida estão atingidas até que se
prove o contrário.
Outros aspectos a considerar no exame do local lesado são a localização, o tamanho, a forma, o
bordo, base, a profundidade das feridas e as características dos tecidos adjacentes. Estes aspectos
permitem classificar correctamente as feridas.
Tratamento
O tratamento imediato inclui:
♦ Limpeza - com água estéril e água oxigenada para a ferida e com água e sabão para a
pele circundante;
Sutura - feridas incisas com menos de 6 horas (excepto nas zonas altamente vascularizadas como o
couro cabeludo e a face), após a extracção dos coágulos. Feridas contusas após limpeza
cirúrgica cuidadosa, na qual se deve retirar todos os tecidos desvitalizados. As feridas por
arrancamento, por esfacelamento, por armas de fogo e por mordeduras humanas e animais não são
suturadas.
Profilaxia do tétano - se o doente estiver vacinado há menos de 5 anos, reactiva-se com vacina anti-
tetânica (VAT). Se o doente não estiver vacinado ou se tiver sido vacinado há mais de 5 anos,
(re)inicia-se a vacinação anti-tetânica (VAT) e, noutra região, administra-se o soro anti-tetânico (SAT).
Ver anexo instruções para aplicação de VAT/SAT.
♦ Pensos fechados com hipoclorito de sódio, pomada antibiótica, sulfadiazina de prata (ou mel) -
feridas confusas, por arrancamento e por esfacelamento.
Analgésicos - paracetamol. Os analgésicos fortes (petidina, morfina, codeína...) só são recomendados nos
casos severos.
Hidroterapia diária - contribui para a limpeza das feridas (principalmente as que têm tecido necrótico) e
facilita a fisioterapia.
imunizações do VAT (0.5 ml) SAT (1 ml) VAT (0.5 ml) SAT (1 ml)
tétano (doses)