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MEDICINA LEGAL

Toxicologia e Tanatologia Forense

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
MEDICINA LEGAL
Toxicologia e Tanatologia Forense

Sumário
Dalbertom Caselato Junior

Toxicologia e Tanatologia Forense.. ............................................................................................. 3


1. Toxicologia Forense..................................................................................................................... 3
1.1. Conceito de Alimento, Medicamento e Veneno................................................................... 3
1.2. Vias de Penetração do Veneno, Defesa Orgânica e Vias de Eliminação........................ 4
1.3. Conceito de Envenenamento e Espécies de Veneno Noviços ao Organismo............... 6
1.4. Aspectos Médico-Legais da Embriaguez Alcoólica e das Drogadições.......................13
2. Tanatologia Forense.. ................................................................................................................ 22
2.1. A Vida e a Morte Conceituação de Morte e suas Tipologias na Literatura Médico-
Legal.................................................................................................................................................. 23
2.2. A Premoriência, Comoriência e Sobrevida ou Sobrevivência. . ...................................... 36
2.3. A Diagnose Diferencial entre as Lesões Intra Vitam e Post Mortem.......................... 36
2.4. Aspectos Médico-Legais da Inumação, Imersão, Exumação, Cremação e
Embalsamamento.......................................................................................................................... 37
2.5. Fenômenos Cadavéricos de Especial Transformação no Cadáver.. ............................. 39
Resumo............................................................................................................................................. 50

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Toxicologia e Tanatologia Forense
Dalbertom Caselato Junior

TOXICOLOGIA E TANATOLOGIA FORENSE


1. Toxicologia Forense
A denominada toxicologia forense, segundo Wilson Ferreira (2020), é o “ramo da medicina
legal que estuda as energias vulnerantes de ordem química”. Se ocupa, pois, do estudo dos ve-
nenos e das substâncias tóxicas, assumindo especial relevância o estudo médico-legal no sen-
tido de apurar as causas do envenenamento, se por acidente, suicídio ou por meio criminoso.

1.1. Conceito de Alimento, Medicamento e Veneno


A literatura médico-legal demonstra dificuldade em estabelecer uma conceituação clara do
que seja veneno, haja vista ter-se alimentos e medicamentos que, em razão de sua composi-
ção, pode causar danos ou serem prejudiciais à saúde ou à vida.
Ademais, há medicamentos que, se mal prescritos ou advindos da má prática da autome-
dicação, podem ser ingeridos pelo corpo e serem funcionalmente considerados venenos para
o organismo. Daí depreende-se que o conceito é relativo.
De qualquer sorte, veneno pode ser conceituado de uma forma mais sistêmica como “qual-
quer substância que, introduzida pelas mais diversas formas no organismo, danifica a vida ou a
saúde”, podendo, ademais, assumir as formas líquidas, sólidas ou gasosas, de origem animal,
vegetal, mineral ou sintético (FERREIRA, 2020).

Demonstra de suma importância realizar-se uma diferenciação entre energias vulnerantes de


ordem química que agem externamente (como o caso dos cáusticos) e as que agem interna-
mente (caso dos venenos). Genival França (2015) conceitua cáustico como “substâncias que,
de acordo com sua natureza química, provocam lesões nos tecidos, mais ou menor graves. Tais
lesões podem ser coagulantes ou liquefacientes”.
A reação exotérmica causada pelo cáustico em contato com o organismo podem causar lesões
semelhantes as queimaduras, sendo de importância médico-legal na medida em que identifica
não somente a substância utilizada como se as lesões foram intra vitam ou post mortem.
A denominada vitriolagem era utilizada, na literatura penal como a ação do autor de causar le-
são facial na vítima utilizando-se de ácido sulfúrico (H2SO4) também conhecido como óleo de
vitríolo. Atualmente, engloba a conduta penal outras modalidades de agressões com cáusticos
diferentes deste, tais como ácido clorídrico ou ácido nítrico, dentre outros.
Tais substâncias químicas geralmente provocam necrose e liquefação, visto a ocorrência de
lesões tegumentares, de efeitos coagulantes ou liquefantes: as de efeito coagulante são aque-
las que desidratam os tecidos e lhes causam escaras endurecidos e de tonalidade diversa,
como, por exemplo, o nitrato de prata, o acetato de cobre e o cloridrato de zinco. Já as de efei-
to liquefaciente produzem escaras úmidas, translúcidas, moles e têm como modelo a soda, a
potassa e a amônia.

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Ingestão de cáustico (1ª foto) e ação cáustica sobre a pele. Fonte: https://repositorio.hff.min-saude.pt/. Acesso
em: 16 out. 2021.

1.2. Vias de Penetração do Veneno, Defesa Orgânica e Vias de


Eliminação

Segundo Hélio Gomes, o sistema capilar é o campo de atuação dos venenos, tendo maior
ou menor rapidez de atuação a forma como a substância venenosa chega até os capilares. Os
capilares sanguíneos são vasos do sistema cardiovascular que se caracterizam por seu pe-
queno calibre. É nesses vasos que ocorre a troca de substâncias entre o sangue e os tecidos
circundantes.

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A literatura médico-legal traz alguns conceitos importantes relacionados com a defesa e rea-
ção orgânica e potencialidade dos venenos:
a) Mitridatização: é a elevada resistência orgânica aos efeitos dos venenos. O conceito remon-
ta da história do Rei Mitrídates (135-63 a.C.) que ingeria pequenas quantidades de arsênico
com o intuito de criar uma resistência em seu organismo a fim de evitar a morte por envenena-
mento de seus inimigos;
b) Toxidade: é o poder que uma substância possui de causar – por efeitos químicos – danos
internos a um organismo;
c) Intolerância: é a sensibilidade exacerbada de algumas pessoas a pequenas doses de veneno;
d) Sinergismo: é a ação potencializadora dos efeitos de determinada substância quando minis-
trada juntamente com uma ou mais substâncias venenosas;
e) Equivalente tóxico: ministrado por via intravenosa, trata-se de quantidade mínima necessária
de veneno capaz de matar um quilograma do animal.

001. (CESPE/PEFOCE/MÉDICO/PERITO LEGISTA/2012) Acerca de toxicologia forense, jul-


gue o item subsecutivo.
Denomina-se mitridatização o fenômeno caracterizado pela elevada resistência orgânica do
indivíduo aos efeitos tóxicos dos venenos, conseguida por meio da ingestão repetida e pro-
gressiva de substâncias de alto teor venenoso, até se alcançar um estágio de resistência não
encontrado em outras pessoas.

Conforme estudado agora a pouco, mitridatização é o processo pelo qual organismos vivos,
a partir da sensibilização por doses crescentes de venenos, desenvolvem anticorpos especí-
ficos para o tipo de veneno que foi utilizado, resultando em uma imunidade até para elevadas
doses (FRANÇA, 2015).
Certo.

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1.3. Conceito de Envenenamento e Espécies de Veneno Noviços ao


Organismo
Apoiando-se no magistério de Genival França (2015), o envenenamento é “o conjunto de
elementos caracterizadores da morte violenta ou do dano à saúde ocorridos pela ação de deter-
minadas substâncias de forma acidental, criminosa ou voluntária”. Ocorre quase sempre de for-
ma intencional, possuindo origem exógena, sendo produzido por energia de origem química.
A intoxicação, por sua vez, se constitui em um “quadro de reações do metabolismo, que tem
origem acidental”, sendo produzido por energia de ordem bioquímica (FERREIRA, 2020).
De qualquer forma, a velocidade de absorção e sensibilidade de cada indivíduo irá determi-
nar se se trata de casos de envenenamento agudo ou crônico.

O PULO DO GATO
O livro do professor Wilson Ferreira (2020) traz importante questão relacionada as denomina-
das síndromes de Body Packer e Body Pusher: a primeira é uma expressão utilizada para aque-
les indivíduos que carregam dentro de seu organismo, especialmente o estômago ou intestino,
drogas ilícitas tais como cocaína, heroína sempre com o objetivo de abastecer o tráfico de
drogas, seja nas ruas e especialmente nos presídios. Quando tal acondicionamento ocorre na
região do ânus ou vagina, tem-se a denominada síndrome de Body Pusher.
Intra vitam, tal fenômeno é identificado por exames de Raio-X, ao passo que post mortem o
exame de necrópsia identifica as cápsulas de drogas (dentre as quais as rompidas que ocasio-
naram a overdose) no interior do estômago, intestinos ou orifícios naturais, conforme o caso.

Revista Médica de Minas Gerais. Fonte: www.rmmg.org. Acesso em: 16 out. 2021.

002. (CESPE/PC-MA/MÉDICO LEGISTA/2018) A polícia civil levou a um pronto-socorro um


rapaz suspeito de ter ingerido cápsulas de drogas ilícitas. No momento do atendimento médi-
co, ele estava assintomático, e seu exame físico não evidenciou anormalidades. No entanto,
o exame radiográfico gastrintestinal revelou estruturas tenuemente radiopacas com halo de

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hipertransparência circundante, compatíveis com a suspeita de ingestão de drogas. O quadro


evoluiu para excitação motora, agitação e morte.
Com referência às informações objeto da situação anteriormente apresentada, assinale a op-
ção correta.
a) Se houvesse sinais e sintomas de intoxicação, o exame clínico seria suficiente para concluir
que o paciente havia ingerido um pacote contendo drogas, e, nesse caso, o exame de radiogra-
fia seria dispensável para detectar a presença de cápsulas no organismo.
b) Em casos semelhantes ao da situação em apreço, se for constatada a ingestão de cocaína,
a morte sempre ocorrerá com a intoxicação aguda causada pela droga ingerida, e os exa-
mes toxicológicos de urina e sangue poderão revelar a droga transportada na proporção de
sua ingestão.
c) Se tivesse havido obstrução no nível do piloro ou da válvula ileocecal por cápsula, o indiví-
duo teria permanecido assintomático; somente se houvesse a ruptura de cápsula contendo
droga, ele teria tido náuseas, vômitos e epigastralgia.
d) Se o paciente tiver falecido em decorrência do rompimento de cápsulas de drogas no estô-
mago, tratar-se-á de uma intoxicação aguda e súbita. Nesse caso, o exame histopatológico será
insuficiente para evidenciar alterações significativas nas estruturas dos órgãos abdominais.
e) Trata-se, na hipótese considerada, da síndrome de body Pusher, na qual o indivíduo conhe-
cido como mula ou correio é usado para transportar drogas ilícitas no interior do próprio orga-
nismo, em especial no estômago e nos intestinos.

O item “A” traz uma inverdade do ponto de vista médico, dando a certeza acerca da dispen-
sabilidade do exame de radiografia somente por mero exame clínico do paciente com sinais
de sintomas de intoxicação. Tendo o item “B” como correto, o item “C” limita as reações de
náuseas, vômitos ou epigastralgia somente no caso da ruptura das cápsulas contendo drogas,
sendo uma inverdade. No item “D”, basta somente o exame histopatológico para a verificação
de danos estruturais significativos nos órgãos abdominais, realizado por meio de análise mi-
croscópica de um tecido coletado. O item “E” incorre em erro, pois confunde os conceitos de
body Pusher com body Packer, sendo o correto, para a questão, o segundo conceito.
Letra b.

Quais são as espécies de veneno que podem causar danos ao organismo?

Wilson Ferreira (2020) elenca alguns destes elementos químicos e a sua importância do
ponto de vista médico-legal:

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1.3.1. Arsênico

O professor Roberto Blanco (2019) o classifica como metal pesado e que geralmente não
é percebida pelos sentidos do corpo, tendo como diagnóstico a presença de eritemas na pele
quando não haja grande exposição da pele no sol, bem como polineuropatia periférica e dores
abdominais.
Brandão Neto (2018) o define como “um metaloide quase insípido e inodoro que causa
significativa toxicidade aguda e crônica em todo o mundo. A substância tem uma fama de ser
associada com envenenamentos intencionais e mortes”. Trata-se de um gás tóxico incolor e
não irritante encontrado geralmente na indústria de semicondutores e processos de fundição
e refinamento de minério. Sua composição com arsenito (trivalente ou As3+) ou arseniato (pen-
tavalente ou As5+) são altamente tóxicos.
Wilson Ferreira (2020) ressalta que o arsênico não tem capacidade para diminuir a den-
sidade óssea, transformando tecido compacto em esponjoso. Todavia, algumas reações do
organismo são evidentes:
• Vasodilatação paralítica dos capilares;
• Vômitos de aspecto esbranquiçado como água de arroz;
• Diarreia riziforme;
• Fígado amarelado indicativo de intoxicação crônica.

Manifestações da intoxicação por arsênico


Gastrintestinal: náusea; vômito; diarreia semelhante à cólera.
Cardiovascular: hipotensão; taquicardia; arritmias, incluindo
Toxicidade aguda torsade de pointes; isquemia miocárdica secundária.
(10 min a várias horas) Pulmonar: síndrome do desconforto respiratório renal.
Renal: insuficiência renal aguda.
Neurológica central: encefalopatia.

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Manifestações da intoxicação por arsênico


Neurológica central: cefaleia; confusão; delirium; alterações de
personalidade.
Toxicidade subaguda
Neurológica periférica: neuropatia sensório-motora.
(1 a 3 semanas após
Cardiovascular: prolongamento do intervalo QT.
exposição aguda ou com
Pulmonar: tosse; infiltrados alveolares.
exposição crônica)
Dermatológica: erupção cutânea; alopecia; linhas de Mees ou de
Aldrich-Mees (estrias transversais e esbranquiçadas nas unhas).
Dermatológica: hiperpigmentação; ceratoses; doença de Bowen;
carcinoma basocelular e epidermoide.
Toxicidade crônica
Cardiovascular: hipertensão; doença arterial periférica.
(exposição ocupacional ou
Endócrina: diabetes melito.
ambiental de baixo nível)
Oncológica: pulmão e câncer de pele; angiossarcoma hepático e
leucemia.
Fonte: BRANDÃO NETO, Rodrigo Antônio. Intoxicação por Arsênico. Disponível em: https://www.medicinanet.
com.br/conteudos/revisoes/7654/intoxicacao_por_arsenico.htm. Acesso em: 16 out. 2021.

Linhas de Mees ou Aldrich-Mess. Disponível em: www.run.unl.pt.


Acesso em: 16 out. 2021.

1.3.2. Chumbo

Também classificado como metal pesado, tem-se que a intoxicação por chumbo acarreta
o que a medicina-legal denomina saturnismo. Tal intoxicação é capaz de provocar psicoses
tóxicas, conhecidas como modificações psíquicas e sensoperceptivas (FERREIRA, 2020).
Roberto Blanco (2019) nos ensina que o chumbo circula no sangue ligado aos glóbulos
vermelhos, depositando-se nos ossos, dentes e cabelos, bem como no cérebro, donde acarreta
efeitos neuromusculares. Um dos principais sinais encontrados na contaminação por chumbo
é a orla de Burton. É uma faixa acinzentada ao nível das gengivas que margeia a implantação
dos dentes – semelhante à orla mercurial, quando da contaminação por mercúrio.

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É possível haver saturnismo decorrente de intoxicação por chumbo em uma vítima de dis-
paro por P.A.F. (Projetil de Arma de Fogo)?

Sim, o mesmo ocorrendo com aqueles que se expõem em períodos prolongados por combus-
tíveis como a gasolina. Na exposição prolongada da vítima de disparos de P.A.F. a literatura
médico-legal observa o saturnismo em casos de alojamento do projetil no organismo por tem-
po prolongado.
Wilson Ferreira (2020) relata que o chumbo atua no organismo de forma não competitiva, cau-
sando anemia em razão de não permitir a fixação de ferro na hemoglobina. Atua, ademais,
inibindo a delta-ala-sintetase, delta-ala-desidrase e descarboxilase.

1.3.3. Mercúrio

Igualmente um metal pesado, a intoxicação por esta substância gera o que Roberto Blan-
co denomina hidrargirismo, de ocorrência comum em áreas de garimpo, principalmente onde
se opera a extração ilegal. Tal substância afeta, primordialmente, o sistema nervoso, causan-
do paralisias e graves alterações digestivas. É responsável, ademais, pela síndrome da queda
do punho (polineurite periférica: disfunção simultânea de vários nervos periféricos por todo o
organismo).

1.3.4. Cianeto

Tal substância impede as reações ligadas a respiração por meio intracelular, sendo fatal
em meio ácido, pois em meio alcalino não ocorre a liberação do íon cianeto. Atua no organis-
mo – conforme BLANCO (2019), bloqueando a enzima citocromooxidase o que impede que o

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oxigênio que chega às células seja utilizado. É, pois, um veneno de atividade intracelular ou
intramitocondrial causador de hipóxia citotóxica, atuando, contudo, de forma diversa da intoxi-
cação por monóxido de carbono.
Para a identificação pericial do ácido cianídrico, utiliza-se tiras de papel em filtro prepara-
das com os reagentes de Shöenbein ou de Guignard as quais, expostas aos vapores cianídri-
cos, tomam, respectivamente, as cores azul ou avermelhada.

1.3.5. Gases Tóxicos


1.3.5.1. Gases de Combate

Apoiando-se na literatura médico-legal de Wilson Ferreira (2020), citando Hélio Gomes, tais
gases se subdividem em:
a) Lacrimogênios: capazes de produzir intenso lacrimejamento, sendo, por vezes, de efeitos
tão intensos que levam à conjuntivite;
b) Vesicantes: age produzindo lesões na córnea e destruições na mucosa da traqueia;
c) Sufocantes: causado, dentre outras substâncias, pelo cloro;
d) Tóxicos: por exemplo, o estudado ácido cianídrico.

1.3.5.2. Gases Industriais

São representados pelos vapores que são liberados das chaminés das fábricas e minas de
carvão. Dentre os efeitos no organismo, destaca-se a sensação de sufocação. Adquire espe-
cial relevância nas perícias relacionadas aos acidentes de trabalho. (Ex.: gás metano).

1.3.5.3. Gases Anestésicos

São exemplos de tais gases o cloreto de etila (popularmente conhecido como lança-perfu-
me) e clorofórmio, interessando a medicina-legal especialmente em razão de responsabilidade
profissional por imperícia na manipulação de tais gases.

1.3.5.4. Gases das Habitações

Tais gases tem como exemplos mais comuns o óxido de carbono ou monóxido de carbono
– o qual sendo indolor e incolor – reage com a hemoglobina impossibilitando-a de transportar
oxigênio para o organismo, resultando em um quadro progressivo de asfixia ou intoxicação.
Mesmo que houver sobrevivência, a liberação lenta destes gases deixa sequelas neurológi-
cas tais como lesões no sistema nervoso central. Os sinais externos mais comuns são: pele e
vísceras com tonalidade rosada, carminada (cor carmim) ou cor de cereja.

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(Fonte: malthus.com.br)

O tratamento requer ministração de oxigênio 100% concentrado nas vias aéreas, principal-
mente nos casos de níveis acima de 15% de contaminação do organismo.
Náuseas e dor de cabeça podem ser observadas quando os níveis estiverem em 10 a 20%.
Níveis maiores do que 20% causam tonturas, fraqueza generalizada, dificuldade de concen-
tração e dificuldade de raciocínio.
Níveis maiores do que 30% causam falta de ar, dores no peito e confusão mental.
Altos níveis podem causar síncope, convulsões e entorpecimento. Quando os níveis são
menores do que 60%, pode haver hipotensão, coma, insuficiência respiratória e morte.
Sinais gerais em caso de morte:
• Rigidez precoce;
• Putrefação tardia;
• Face com a tonalidade rósea;
• Livores carminados;
• Sangue fluído e róseo.

No caso de morte por contato com gases tóxicos, Hélio Gomes aponta a necessidade de
se buscar, na perícia médico-legal, elementos específicos tais como:
• No cadáver: realização de necropsia para a colheita de sangue e exame das vísceras;
• Intra vitam: exame dos sintomas que o paciente apresenta e do sangue;
• Exame no local: há interesse médico-legal na colheita de ar ambiente e realização de
exame nas instalações condutoras ou combustoras de gás.

003. (CESPE/POLÍCIA CIENTÍFICA - PE/MÉDICO LEGISTA/2016) No exame interno realiza-


do em autopsia, o achado de mucosa gastroduodenal de coloração acinzentada sugere enve-
nenamento por
a) fósforo.
b) arsênico.

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c) sais de cobre.
d) ácido pícrico ou nítrico
e) ácido sulfúrico.

Dentre os sinais identificados pela literatura médico-legal no envenenamento por arsênico, po-
demos elencar:
• perda do apetite, náuseas e diarreia;
• sensação de pinicação nas palmas das mãos, linhas de Mees, câimbras nos músculos
da panturrilha;
• calor e irrigação na garganta e estômago e gosto metalizado na boca;
• vômitos, aumento das evacuações, fezes soltas;
• efeitos neurológicos como irritabilidade, inquietação, dores crônicas de cabeça, apatia,
fraqueza, tonturas, delírios e sonolência, podendo alguns casos mais graves levarem a
convulsões ou coma;
Letra b.

1.4. Aspectos Médico-Legais da Embriaguez Alcoólica e das


Drogadições
1.4.1. Toxicofilia, Toxicomania e a Tipologia das Drogas Ilícitas e Substâncias
de Uso e Abuso

Mesmo não sendo um item expresso do seu edital, faz-se necessário e prudente com a
banca CEBRASPE pontuarmos algumas questões relacionadas a toxicofilia e drogadição, não
nos restringindo somente ao âmbito da embriaguez alcoólica; a qual, obviamente, será tratada
com maior aprofundamento.
Feita estas considerações iniciais, denomina-se toxicofilia – segundo a Organização Mun-
dial da Saúde (OMS/2021), como “um estado de intoxicação periódica ou crônica, nociva ao
indivíduo ou à sociedade, produzida pelo repetido consumo de uma droga natural ou sintética”.
Por sua vez, droga, segundo Genival França (2015), é “o grupo de diversas substâncias
naturais, sintéticas ou semissintéticas que podem causar tolerância, dependência e crise de
abstinência”.
De acordo com Hygino Hércules (2017), a toxicomania decorre do uso constante e habitual
de determinadas substâncias que causam dependência física e psíquica, sendo as principais
drogas de uso e abuso o álcool e o cigarro.
Em relação ao álcool, verifica-se sua presença no organismo por intermédio de exames
periciais que identificam a ingestão por intermédio da coleta da saliva, urina, sangue, ar expi-
rado, dentre outros métodos.
Abaixo, a tipologia das drogas ilícitas e substâncias de uso e abuso mais conhecidas, seus
efeitos no organismo e sua existência legal ou ilegal, bem como os efeitos conhecidos (au-
mente o zoom para melhor visualização).

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004. (CESPE/POLÍCIA CIENTÍFICA - PE/MÉDICO LEGISTA/2016) Um cadáver adulto, do


sexo feminino, procedente de um hospital foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal
de Recife. Na guia de atendimento de emergência (GAE), constava que a periciada havia sido
levada ao hospital por familiares, com suspeita de tentativa de suicídio pela ingestão de so-
bredose de medicamentos. No momento da internação, a paciente encontrara-se em coma,
sem resposta a quaisquer estímulos, com reflexos e sinais vitais instáveis, miose intensa e de-
pressão respiratória. A paciente fora submetida à entubação traqueal com suporte ventilatório,
lavagem gástrica e alcalinização da urina, para que os medicamentos supostamente ingeridos
fossem eliminados. Apesar das intervenções realizadas, a paciente viera a óbito.
Com base nessa situação hipotética, a provável causa da morte é intoxicação
a) por barbitúricos.
b) por nortriptilina.
c) por anfetaminas.
d) pela atropina.
e) pela cetamina.

Os barbitúricos por muito tempo foram utilizados para o tratamento da insônia; todavia, com a
aplicação dos benzodiazepínicos, sua utilização – que causava muitas reações nos pacientes
– foi interrompida. A principal ação desta substância é no sistema nervoso central, causando
depressão profunda, variando desde níveis anestésicos até a morte. O envenenamento bar-
bitúrico é um problema clínico significativo, podendo levar à morte em alguns casos. A dose
letal do barbitúrico varia de acordo com muitos fatores, mas é provável que o envenenamento
grave ocorra com a ingestão de uma só vez de doses dez vezes maiores que a dose hipnótica
total. Se o álcool ou outros agentes depressores forem utilizados junto com o barbitúrico, as
concentrações que causam morte são mais baixas. Em casos de envenenamento grave o pa-
ciente apresenta-se comatoso, com a respiração lenta ou rápida e curta, a pressão sanguínea
baixa, pulso fraco e rápido, pupilas mióticas reativas à luz e volume urinário diminuído. As com-
plicações que podem ocorrer são: insuficiência renal e complicações pulmonares (atelectasia,
edema e broncopneumonia).
Letra d.

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1.4.2. A Embriaguez Alcoólica, Sinais de Alcoolismo, Manifestações Clínicas


e as Fases da Embriaguez
1.4.2.1. Conceito Legal de Embriaguez Alcoólica e seus Sinais Clínicos

De acordo com Genival França (2015) a denominada embriaguez alcoólica pode trazer as
seguintes manifestações clínicas, importantes para a identificação por ocasião da realização
de exame pericial médico-legal:
a) manifestações físicas:
• Congestão das conjuntivas;
• Taquicardia;
• Taquipneia;
• Hálito alcoólico-acético.

Um sinal ou indício de manifestação física – considerado isoladamente – não deve ser trata-
do como causa determinante para se concluir pela embriaguez.
O perito médico-legal deverá considerar em conjunto os demais aspectos como as manifes-
tações neurológicas e psíquicas.

b) Manifestações neurológicas: aquelas ligadas à alteração do equilíbrio, da marcha e das


perturbações da coordenação motora; quando o examinado tiver dificuldades para realizar o
“quatro” com as pernas, tem-se o que a medicina legal denomina sinal de Romberg;
c) Manifestações psíquicas: ocorrem de maneira progressiva. Começam pelas alterações
de humor, da atenção, até atingirem os impulsos menores.
Abaixo, mapa mental segundo o magistério de Genival França (2015) acerca do resultado
neurológico e psíquico advindo dos sinais positivos de embriaguez:

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O PULO DO GATO
Quando um condutor de veículo é flagrado dirigindo com manifestações semelhantes a ingestão
de bebidas alcoólicas e, ao ser convidado pela Polícia a realizar o teste de alcoolemia, exerce o
direito de não auto-incriminação (não produzir provas contra si mesmo), o condutor então será
encaminhado à Delegacia de polícia, após a lavratura do auto administrativo de recusa de realiza-
ção do exame de alcoolemia que irá gerar em seu desfavor multa, conforme artigo 165-A do CTB
no valor de dez vezes R$ 293,47 (o valor da infração gravíssima), que corresponde a R$ 2.934,70:

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo
art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado
o disposto no § 4º do art. 270.
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de reincidência no período
de até 12 (doze) meses.

Feitas tais medidas administrativas, agora no âmbito criminal, a Autoridade policial (De-
legado de polícia), decide pelo encaminhamento do condutor ao Instituto Médico Legal (IML)
para a realização de exame para a constatação de embriaguez, onde você – perito Médico-
-legal – irá identificar as manifestações físicas, psíquicas e neurológicas naquele condutor,
sinais clínicos de suma relevância para a elaboração do laudo atestando estar aquele condutor
sob “influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine dependência”, conforme
prevê o crime de embriaguez ao volante, artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, com pena
de detenção de seis (06) meses a três (03) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência
de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permis-
são ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior
a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou
II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.

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§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou to-
xicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito
admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos
para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.
§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia - INMETRO - para se determinar o previsto no caput.

Segundo Renato Brasileiro de Lima (2020), um dos desdobramentos do princípio da não


auto-incriminação é o direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incrimi-
ná-lo. Sendo assim, a doutrina considera que o examinado, por ocasião do exame clínico de
embriaguez, não pratica atos ativos dos quais tenha o direito de exercer a não auto-incrimina-
ção. Portanto, ao perito médico-legal cabe a realização do exame clínico do examinado, mes-
mo que este se negue ser examinado, haja vista não demandar, para a realização do exame,
qualquer ato ativo por parte do examinado.
Todavia, em caso de toxicomanias, não será possível a realização de coleta de sangue ou
de urina caso o examinado se negue a realização de tais atos ativos, acobertando, portanto,
pelo princípio da não auto-incriminação.

🐵
1.4.2.2. As Fases da Embriaguez

a) fase de excitação, desinibição ou fase do macaco : esta expressão fase do macaco


foi criada por Legrand Du Saulle e demonstra o período de vivacidade, bom humor por parte do
embriagado, dando sinais falsos de uma maior capacidade intelectual. Tal fase eufórica pode
acarretar revelação de segredos e instabilidade;
b) fase da confusão, agitação ou fase do leão 🦁
: surge no embriagado as perturbações
nervosas e psíquicas, passando a ter um andar cambaleante, possuindo certo grau de irritabili-
dade e tendência agressiva. Wilson Ferreira (2020) também a denomina como fase médico-le-

c) fase do sono, comatosa ou fase do porco 🐷


gal, visto o interesse médico para a identificação de crimes comissivos (praticados por ação);
: fase igualmente importante para identifi-
cação médico-legal de crimes omissivos, o embriagado passa e caminhar com dificuldade ou
mal se manter de pé; não reage aos estímulos normais e em razão disso poderá ser vítima de
crimes, tais quais crimes contra a dignidade sexual ou patrimonial.

1.4.2.3. A Tolerância à Embriaguez

Wilson Ferreira (2020) conceitua tolerância como a maior ou menor capacidade que uma
pessoa possui para se embriagar. Dentre os vários fatores, destacam-se:
• O peso da pessoa (influi na diluição do álcool);
• A velocidade de absorção do álcool ingerido pelo organismo, sendo subfatores impor-
tantes o tipo de bebida, grau de teor alcoólico e plenitude do estômago;
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• A frequência com o que a pessoa ingere bebidas alcoólicas;


• O estado específico de saúde da pessoa no momento da ingestão da bebida alcoólica.

1.4.2.4. O Diagnóstico Médico-Legal

São meios de alcançar o diagnóstico médico-legal para fins de imputação penal do crime
previsto no artigo 306 do CTB o teste de alcoolemia (bafômetro), exame clínico ou qualquer
outro meio hábil (ex.: testemunhas, imagens, áudios e vídeos etc.) nos termos do §2º do mes-
mo artigo (FERREIRA, 2020).
Roberto Blanco (2019) nos esclarece acerca dos sinais decorrentes de um exame clínico
positivo para embriaguez:
• Ritmo cardiorrespiratório acelerado;
• Conjuntivas vermelhas;
• Hálito com odor de aldeído acético (primeiro produto expelido decorrente do metabolis-
mo);
• Vestes em desalinho;
• Cabelo despenteado;
• Pele com suor.

1.4.2.5. Formas de Embriaguez e Formas de Alcoolismo

Segundo Rogério Sanches Cunha (2021), as espécies de embriaguez são assim divididas:
a) embriaguez pré-ordenada: O agente tem a vontade de ingerir a substância visando se
embriagar e tem a vontade de praticar o crime. Consequência: NÃO EXCLUI O CRIME; o agente
responde inclusive com a agravante do artigo 61, II, “l” do Código Penal (CP).
b) embriaguez voluntária/dolosa: O agente quer ingerir a substância e quer se embriagar,
mas não desejava praticar o crime. Consequência: NÃO EXCLUI O CRIME, visto que sua ação
foi livre na causa (teoria da actio libera in causa); ou seja, teve o livre arbítrio no momento ante-
rior de ingerir a substância.
c) embriaguez culposa: O agente quer ingerir a substância, todavia não queria se embria-
gar e não queria cometer o crime. Consequência: NÃO EXCLUI O CRIME, visto que sua ação foi
livre na causa; ou seja, teve o livre arbítrio no momento anterior de ingerir a substância.
d) embriaguez fortuita: É aquela proveniente de caso fortuito ou força maior. O agente, nes-
te caso, não queria ingerir a substância. Ex.: amigos colocam álcool no suco de outro amigo
que nunca bebeu, se embriaga e acaba cometendo um crime.
d.1) embriaguez fortuita incompleta: o agente não quis ingerir a substância e ainda há um
resquício de consciência em sua conduta delituosa. Consequência: NÃO EXCLUI O CRIME,
mas poderá haver uma diminuição de pena.

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d.2) embriaguez fortuita completa: o agente não quis ingerir a substância e não há cons-
ciência em sua conduta delituosa. Consequência: EXCLUI O CRIME pela inexistência de cul-
pabilidade.
e) embriaguez patológica: É o vício do álcool ou da droga. A Organização Mundial de Saú-
de (OMS) considera tal embriaguez como uma doença mental. Neste raciocínio, a embriaguez
patológica poderá excluir a culpabilidade, mas não pela causa “embriaguez”, mas em razão da
inimputabilidade penal por doença mental.
Para tanto, irá depender se, no momento da ação/omissão, o agente tinha ou não capaci-
dade de entender o caráter ilícito do fato.
Wilson Ferreira (2020), citando Vibert, assim divide os tipos de embriaguez patológica:
• Agressiva e violenta: tende ao crime e ao sangue;
• Excito-motora: acessos de raiva e destruição;
• Convulsiva: impulsos destruidores e sanguinários;
• Delirante: delírios e tendência de auto-acusação.

Roberto Blanco (2019) e o instituto Mundo Psicólogos indicam algumas formas ou tipos de
alcoolismo que podem ser importantes para sua prova:
• Alcoolismo alfa: comum em ambientes sociais onde o álcool é consumido, a pessoa
apresenta algum tipo de distúrbio psicológico anterior ao alcoolismo, causador da an-
siedade ou depressão, motivo pelo qual o uso da bebida é utilizada como forma de se
livrar de problemas pessoais;
• Alcoolismo beta: comum o consumo em regiões onde é tradição a produção de cerveja,
as pessoas – apesar do consumo regular – ainda não apresentam uma dependência
do álcool, mas já possuem algum problema físico ou mental em razão deste consumo
regular, indicando alguns casos de cirrose e demência;
• Alcoolismo gama: alcoolismo patológico, caracteriza-se pelo alto grau de abstinência,
onde a pessoa, mesmo em um longo período sem consumir álcool, ao retornar a beber,
não consegue mais parar;
• Alcoolismo delta: agravamento do consumo do alcoolismo beta, neste caso o consumo
de álcool, apesar de pequeno em quantidades, é diário e várias vezes ao dia, tornando-se
um hábito de difícil abandono;
• Alcoolismo épsilon: decorre de dipsomania ou alcoolismo periódico (do grego dípsa, sede,
e manía, loucura, mania) é o impulso ininterrupto e irresistível de ingerir bebidas alcoóli-
cas), onde a pessoa, aparentemente sóbria, somente se satisfaz se o consumo de álcool
fazer com que ela perca o controle de si mesma a ponto de chegar a inconsciência.

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005. (CESPE/SEGESP-AL/PERITO MÉDICO LEGISTA/2013) A embriaguez pode ser definida


como um conjunto de fenômenos tóxicos transitórios ocasionados pelo ingresso no organis-
mo de substâncias capazes de modificar as funções mentais e de provocar alterações neu-
rológicas. A respeito desse assunto, julgue os itens que se seguem. A embriaguez patológica
ocorre quando o indivíduo ingere grandes quantidades de álcool, resultando em um estado de
embriaguez cujas características são graves.

Segundo Genival França (2015), são formas de embriaguez: a) culposa: decorrente de impru-
dência ou negligência de beber exageradamente e de não conhecer os efeitos reais do álcool;
não isenta de responsabilidade; b) preterdolosa: o agente não quer o resultado, mas sabe que,
em estado de embriaguez, poderá vir a cometê-lo, assumindo, mesmo assim, o risco de pro-
duzi-lo; não isenta de responsabilidade. c) fortuita: tendo origem em um erro compreensível
e não em uma ação predeterminada/imprudente; pode isentar agente de pena; d) acidental:
quem por engano toma bebida como inócua e se trata de uma de grande teor alcóolico (ex.: in-
gerir remédio que potencializa os efeitos de pequenas doses de bebidas); pode isentar agente
de responsabilidade; e) por Força Maior: embriaguez que a capacidade humana é incapaz de
prever ou resistir; pode haver possível redução da pena (ex.: em razão do trabalho o indivíduo
é obrigado a permanecer em local saturado de vapores etílicos); f) preordenada: embriaga-se
com propósito de praticar crime; circunstância agravante da pena - habitual: indivíduos que
vivem sobre a influência do álcool; g) patológica: não há ingestão de grandes quantidades de
álcool; a pessoa ingere pouca bebida e ela tem efeitos intensos no organismo. Há, portanto,
desproporção entre quantidade ingerida e a intensidade dos efeitos (FRANÇA, 2015).
Errado.

2. Tanatologia Forense
Percebe-se, com a leitura do item 6 do presente edital, que o CEBRASPE realizou uma ver-
dadeira salada de conceitos onde os assuntos se apresentam fora de uma ordem cronológica
como bem realiza as literaturas médico-legais que indicamos para estudo. Diante deste qua-
dro, iremos elaborar seu material de acordo com a experiência destes autores indicados no
assunto, mas que, ao final, seja abordado todos os pontos necessários para a sua prova.
Então vamos lá? Bons estudos a todos!

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2.1. A Vida e a Morte Conceituação de Morte e suas Tipologias na


Literatura Médico-Legal
Wilson Ferreira (2020) se apoia na literatura médico-legal para definir a tanatologia forense
como o “ramo da medicina legal que estuda a morte e o morto, bem como suas repercussões”.
É de vital importância o presente assunto no dia-a-dia do perito criminal e médico-legal na
medida em que seus conhecimentos podem definir as circunstâncias envolvidas por ocasião
da situação de morte, fazendo com que a Autoridade policial disponha de elementos de infor-
mação capazes de iniciar o procedimento policial mais adequado ao fato. Orienta, ademais,
a investigação criminal acerca da indicação da autoria, causas da morte e o tempo de morte.
No que atine ao conceito de morte, a definição tradicional e ultrapassada ligava a morte à
cessação de sinais vitais; ou seja, ausência de batimentos cardíacos.
Com a evolução da medicina principalmente na área de transplantes, atualizou-se o concei-
to, considerando a denominada morte encefálica a morte do tronco encefálico, composto pela
Ponte de Varólio e Bulbo Raquidiano.
O conceito de morte encefálica trouxe maior segurança para permitir que houvesse uma
decisão mais consciente e capaz de garantir que alguém estivesse de fato morto, diante da irre-
versibilidade da situação, viabilizando, conforme o caso, a doação de órgãos e as implicações
legais decorrentes de direitos civis, previdenciários, trabalhistas e penais (FERREIRA, 2020).

2.1.1. O Diagnóstico da Morte Critérios Acerca da Morte Encefálica

De acordo com a sociedade alemã de cirurgia (1968) e o protocolo de Havard (1968), Wil-
son Ferreira elenca em quais situações pode-se concluir acerca da morte encefálica (aumente
o zoom para melhor visualização):

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No Brasil, o tema acerca da morte encefálica foi regulamentado pelo Conselho Federal de
Medicina com a resolução 1.480/1997 dispondo acerca de critérios de constatação de mor-
te encefálica. Posteriormente, a resolução 2.173/20171 revogou a anterior, definindo novos
critérios.

Confira trecho da resolução:

Art. 1º - Os procedimentos para determinação de morte encefálica (ME) devem ser iniciados em
todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e
apneia persistente, e que atendam a todos os seguintes pré-requisitos: a) presença de lesão ence-
fálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar morte encefálica; b) ausência de fatores
tratáveis que possam confundir o diagnóstico de morte encefálica; c) tratamento e observação em
hospital pelo período mínimo de seis horas. Quando a causa primária do quadro for encefalopatia
hipóxico-isquêmica, esse período de tratamento e observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas;
d) temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) superior a 35ºC, saturação arterial de oxigênio
acima de 94% e pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial média
maior ou igual a 65mmHg para adultos, ou conforme a tabela a seguir para menores de 16 anos:
Pressão Arterial Idade Sistólica (mmHg) PAM (mmHg): Até 5 meses incompletos, 60 43; De 5 meses
a 2 anos incompletos, 80 60; De 2 anos a 7 anos incompletos, 85 62; De 7 a 15 anos, 90 65.
Art. 2º - É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para determinação da mor-
te encefálica: a) dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função
do tronco encefálico; b) teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após
estimulação máxima dos centros respiratórios; c) exame complementar que comprove ausência de
atividade encefálica.
Art. 3º - O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das seguintes condi-
ções: a) coma não perceptivo; b) ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência
dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. § 1º Serão re-
alizados dois exames clínicos, cada um deles por um médico diferente, especificamente capacitado
1
Disponível em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20171205/19140504-resolucao-do-conselho-federal-de-me-
dicina-2173-2017.pdf. Acesso em: 18 out. 2021.

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a realizar esses procedimentos para a determinação de morte encefálica. § 2º Serão considerados
especificamente capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no atendimento de
pacientes em coma e que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de
ME ou curso de capacitação para determinação em ME, conforme anexo III desta Resolução. § 3º
Um dos médicos especificamente capacitados deverá ser especialista em uma das seguintes es-
pecialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica,
neurocirurgia ou medicina de emergência. Na indisponibilidade de qualquer um dos especialistas
anteriormente citados, o procedimento deverá ser concluído por outro médico especificamente ca-
pacitado. § 4º Em crianças com menos de 2 (dois) anos o intervalo mínimo de tempo entre os dois
exames clínicos variará conforme a faixa etária: dos sete dias completos (recém-nato a termo) até
dois meses incompletos será de 24 horas; de dois a 24 meses incompletos será de doze horas. Aci-
ma de 2 (dois) anos de idade o intervalo mínimo será de 1 (uma) hora.
Art. 4º - O teste de apneia deverá ser realizado uma única vez por um dos médicos responsáveis
pelo exame clínico e deverá comprovar ausência de movimentos respiratórios na presença de hi-
percapnia (PaCO2 superior a 55mmHg). Parágrafo único. Nas situações clínicas que cursam com
ausência de movimentos respiratórios de causas extracranianas ou farmacológicas é vedada a rea-
lização do teste de apneia, até a reversão da situação.
Art. 5º O exame complementar deve comprovar de forma inequívoca uma das condições: a) au-
sência de perfusão sanguínea encefálica ou b) ausência de atividade metabólica encefálica ou c)
ausência de atividade elétrica encefálica. § 1º A escolha do exame complementar levará em con-
sideração situação clínica e disponibilidades locais. § 2º Na realização do exame complementar
escolhido deverá ser utilizada a metodologia específica para determinação de morte encefálica. §
3º O laudo do exame complementar deverá ser elaborado e assinado por médico especialista no
método em situações de morte encefálica.
Art. 6º Na presença de alterações morfológicas ou orgânicas, congênitas ou adquiridas, que impos-
sibilitam a avaliação bilateral dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico ou vestíbulo-
calórico, sendo possível o exame em um dos lados e constatada ausência de reflexos do lado sem
alterações morfológicas, orgânicas, congênitas ou adquiridas, dar-se-á prosseguimento às demais
etapas para determinação de morte encefálica. Parágrafo único. A causa dessa impossibilidade
deverá ser fundamentada no prontuário.
Art. 7º As conclusões do exame clínico e o resultado do exame complementar deverão ser regis-
trados pelos médicos examinadores no Termo de Declaração de Morte Encefálica (Anexo II) e no
prontuário do paciente ao final de cada etapa.
Art. 8º O médico assistente do paciente ou seu substituto deverá esclarecer aos familiares do pa-
ciente sobre o processo de diagnóstico de ME e os resultados de cada etapa, registrando no prontu-
ário do paciente essas comunicações.
Art. 9º Os médicos que determinaram o diagnóstico de ME ou médicos assistentes ou seus subs-
titutos deverão preencher a DECLARAÇÃO DE ÓBITO definindo como data e hora da morte aquela
que corresponde ao momento da conclusão do último procedimento para determinação da ME.
Parágrafo único. Nos casos de morte por causas externas a DECLARAÇÃO DE ÓBITO será de res-
ponsabilidade do médico legista, que deverá receber o relatório de encaminhamento médico e uma
cópia do TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA.
Art. 10. A direção técnica do hospital onde ocorrerá a determinação de ME deverá indicar os mé-
dicos especificamente capacitados para realização dos exames clínicos e complementares. § 1º

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Nenhum desses médicos poderá participar de equipe de remoção e transplante, conforme estabe-
lecido no art. 3º da Lei n. 9.434/1997 e no Código de Ética Médica. § 2º Essas indicações e suas
atualizações deverão ser encaminhadas para a Central Estadual de Transplantes (CET).
Art. 11. Na realização dos procedimentos para determinação de ME deverá ser utilizada a metodo-
logia e as orientações especificadas no ANEXO I (MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA DETERMI-
NAÇÃO DA MORTE ENCEFÁLICA), no ANEXO II (TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA)
e no ANEXO III (CAPACITAÇÃO PARA DETERMINAÇÃO EM MORTE ENCEFÁLICA) elaborados e atua-
lizados quando necessários pelo Conselho Federal de Medicina.
Art. 12. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação e revoga a Resolução CFM n.
1.480, publicada no Diário Oficial da União, seção I, p. 18227-18228, em 21 de agosto de 1997.

2.1.1.1. Procedimentos de Diagnóstico de Morte Encefálica Antes e Após a


Resolução 2.173/2017

A nova resolução 2173/2017 estabeleceu novos procedimentos para a determinação da


morte encefálica para todos os pacientes que:
• Apresentem coma não perceptivo;
• Apresentem ausência de reatividade supraespinhal;
• Apresentem apneia persistente.

O quadro clínico do paciente também deve apresentar todos os seguintes pré-requisitos:


• presença de lesão encefálica de causa conhecida e irreversível;
• ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico;
• tratamento e observação no hospital pelo período mínimo de seis horas;
• temperatura corporal superior a 35º graus;
• saturação arterial de acordo com critérios estabelecidos pela Resolução.

Além do exame clínico, que deve ser realizado por dois médicos diferentes, o novo proto-
colo reduz o intervalo entre os testes clínicos para o mínimo de uma hora entre a primeira e a
segunda bateria de testes.
Além disso, é necessário apenas um teste de apneia e um exame complementar. Anterior-
mente, o exame clínico era vedado a um neurologista e outro médico não-especialista.
Com a nova resolução, podem fazer os exames médicos neurologistas, neurocirurgiões,
intensivistas e emergencistas que tenham experiência com os testes clínicos.
Entre os exames complementares recomendados, estão a a angiografia cerebral, o ele-
troencefalograma, o doppler transcraniano e a cintilografia cerebral. O laudo deve ser assi-
nado por profissional com comprovada experiência e capacitação para a realização desse
tipo de exame.
Veja, abaixo, as principais diferenças entre as duas normativas, antiga e de 2017, de acordo
com tabela fornecida pelo CFM:

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Resolução 1.480/97 Resolução 2.173/17


Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico
Coma não perceptivo, ausência de reatividade
supraespinhal, apneia persistente, lesão encefálica
Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico de causa conhecida, irreversível e capaz de causar a
Coma aperceptivo com ausência de atividade morte encefálica, ausência de fatores tratáveis que
motora supraespinal e apneia. possam confundir o diagnóstico de morte encefálica.
Temperatura corporal superior a 35º, saturação
arterial de oxigênio acima de 94% e pressão arterial
sistólica maior ou igual a 100 mmHg para adultos.
Tempo de observação para que seja iniciado o
Tempo de observação para que seja iniciado o diagnóstico
diagnóstico Mínimo de 6 horas
Não tinha. Quando a causa fora encefalopatia hipóxico-isquê-
mica, a observação deve ser de 24 horas.
Intervalo mínimo entre as duas avaliações clíni-
Intervalo mínimo entre as duas avaliações clínicas
cas conforme a faixa etária
conforme a faixa etária
De 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas;
De 7 dias a 2 meses incompletos – 24 horas;
De 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas;
De 2 meses a 24 meses incompletos – 12 horas;
De 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas;
Acima de 2 anos – 1 hora.
Acima de 2 anos – 6 horas.
Confirmação da morte encefálica
a) Dois exames clínicos, por médicos diferentes,
Confirmação da morte encefálica
especificamente capacitados para confirmar o
a) Exames clínicos, realizados por médicos dife-
coma não perceptivo e a ausência de função do
rentes, e exames complementares, realizados em
tronco encefálico;
intervalos de tempos variáveis;
b) um teste de apneia;
b) Os exames complementares devem demons-
c) um exame complementar que comprove a au-
trar: ausência de atividade elétrica cerebral, ou
sência de atividade encefálica. Este exame deve
ausência de atividade metabólica cerebral ou au-
comprovar: ausência de perfusão sanguínea ence-
sência de perfusão sanguínea cerebral.
fálica, ou ausência de atividade metabólica ence-
fálica ou ausência de atividade elétrica encefálica.
Formação dos médicos examinadores
a) Será considerado capacitado o médico com um
ano de experiência no atendimento de pacientes
em coma e que tenha acompanhado ou realizado
Formação dos médicos examinadores
pelo menos dez determinações de morte encefá-
a) Decreto 2.268/97 (revogado pelo decreto
lica, ou que tenha realizado curso de capacitação
9.175/2017) estabelecia que um dos dois médi-
para determinação de morte encefálica;
cos confirmadores da morte encefálica deveria
b) Um dos médicos capacitado para o diagnósti-
ser neurologista;
co de morte encefálica deverá ser especialista em
b) mesmo decreto estabelecia que nenhum des-
uma das seguintes especialidades: medicina in-
ses médicos poderiam fazer parte da equipe de
tensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia,
transplante.
neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina
de emergência.
c) Nenhum desses médicos poderá fazer parte da
equipe de transplante.

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2.1.2. As Mortes Real, Aparente, Anatômica, Histológica, Relativa e Interme-


diária

Das modalidades de morte elencadas pela literatura médico-legal, destaca-se a classifica-


ção elaborada por Delton Croce e Delton Croce Junior (2017) assim divididas na seguinte ordem:
a) morte anatômica: é o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do
organismo entre si e com o meio ambiente;
b) morte histológica: é um processo decorrente da morte paulatina de tecidos, células dos
órgãos e sistemas;
c) Morte aparente: é o caso em que o indivíduo se assemelha ao morto, todavia encontra-
-se vivo, mas em estado de débil persistência da circulação. De acordo com Hygino Hércules
(2017) “a morte aparente é um estado de profundo embotamento das funções vitais, em que se
torna muito difícil escutar os batimentos cardíacos, pois estão bem fracos, ou perceber os mo-
vimentos respiratórios”. É possível, inclusive, a recuperação do indivíduo em estado de morte
aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado.
d) Morte relativa: conforme Croce e Croce Junior (2017) “o indivíduo jaz como morto, vitima-
do por parada cardíaca diagnosticada pela ausência de pulso em artéria calibrosa, como a caró-
tida comum, a femoral, associada à perda de consciência, cianose, ou palidez marmórea”. Caso
o indivíduo seja submetido em tempo hábil a massagem cardíaca, poderá retornar à vida.
e) Morte intermédia ou intermediária: há uma divergência na literatura médico-legal acerca
da sua aceitação e existência. Para aqueles que a admitem, é a morte que precede a absoluta
e sucede a relativa (MORTE RELATIVA -> MORTE INTERMÉDIA -> MORTE REAL). Croce e Croce
Junior (2017) relatam “centenas de casos de indivíduos que, em inúmeras circunstâncias (atos
cirúrgicos, afogamentos frustrados etc.) perceberam-se como que saídos de seus corpos, flutu-
ando no espaço, presos por um “fio prateado” à cicatriz umbilical, sentindo-se como se mortos
estivessem”. Os autores completam que tais indivíduos, ao serem socorridos em tempo hábil e
retornando sua consciência, contaram avidamente estas experiências vividas;
f) Morte real: “é o ato de cessar a personalidade e fisicamente a humana conexão orgânica,
por inibição da força de coesão intermolecular, e o de formar-se paulatinamente a decomposi-
ção do cadáver até o limite natural dos componentes minerais do corpo (água, anidrido carbôni-
co, sais etc.)”. Em um sentido de renovação orgânica, celular e cósmica, Croce e Croce Junior
(2017) entendem a morte real como uma “renovação [...] quando os seres mudam inexoravel-
mente deste plano físico para o campo da extensão de algum estado de consciência determi-
nado, sujeito a nova escala de medida vibratória, para obedecer à ordem eterna, pois tudo se
transforma, nada se destrói...”.

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2.1.3. As Mortes Suspeita, Súbita e Agônica

a) morte suspeita: conforme Hygino Hércules, “a morte é considerada suspeita sempre


que houver a possibilidade de não ter sido natural a sua causa”. Decorrendo, pois, de causa
duvidosa, se subdivide em:
a.1) morte natural: conhecida por Genival França (2015) como morte por antecedentes
patológicos, pode ter origem tanto em eventos congênitos, quando em patologias adquiridas
(ex.: câncer, infarto ou covid-19);
a.2) morte violenta: por sua vez, é aquela oriunda de causa externa e pode ser causada por
acidente, suicídio ou crime.
b) morte súbita: é aquela que ocorre inesperadamente, depreendendo-se seu conceito, se-
gundo HÉRCULES (2017) “mais à existência de um quadro patológico prévio que pudesse ex-
plicá-la do que ao tempo de evolução rápido da causa da morte”.
c) morte agônica: é uma morte lenta, com sofrimento. Wilson Ferreira (2020) esclarece
que durante o período de sobrevivência o indivíduo – em razão da dor – faz com o que o corpo
reaja e dê elementos para eventual docimasia, sendo tais dados importantes para a verificação
se a morte ocorreu de forma agônica ou súbita.
c.1) docimásia hepática química (Lacassagne e Martin): analisa o nível de glicogênio e da
glicose no fígado. Baixa reserva de glicogênio no fígado significa indicativo de morte agônica,
ao passo que toda a reserva de glicogênio demonstra uma morte rápida;
c.2) docimásia suprarrenal (Leoucini e Cevidalli): irá verificar a repleção (indicativo de mor-
te rápida) ou depleção (morte agônica) de adrenalina nas glândulas suprarrenais.

2.1.4. Sinais de Morte Real (Tanatognose)

A denominada tanatognose é a subdivisão da Tanatologia forense que estuda o diagnósti-


co da realidade da morte. Croce e Croce Junior (2017) entendem que tal diagnóstico será tanto
mais fácil como mais próximo o momento da morte.
Antes do surgimento de fenômenos transformativos do cadáver, não existe sinal patog-
nomômico de morte. O perito médico-legal, portanto, irá observar dois tipos de fenômenos
cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e consecutivos e os transfor-
mativos, destrutivos ou conservadores (aumente o zoom para melhor visualização):

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2.1.4.1. Sinais de Probabilidade de Morte (Abióticos)

a) sinais abióticos imediatos:


a.1 – Perda da consciência;
a.2 – Abolição do tônus muscular com imobilidade;
a.3 – Perda da sensibilidade (sinal de Josat);
a.4 – Relaxamento dos esfíncteres;
a.5 – Cessação da respiração;
a.6 – Cessação dos batimentos cardíacos (circulação);
a.7 – Ausência de pulso (inexcitabilidade elétrica);
a.8 – Fácies hipocrática;
a.9 – pálpebras parcialmente cerradas.
b) sinais abióticos tardios ou consecutivos
b.1 – Resfriamento paulatino do corpo cadavérico (algor mortis);
b.2 – Rigidez cadavérica (rigor mortis ou período de estado);
b.3 – Espasmo cadavérico e evaporação tegumentar do tecidos;
b.4 – Livores cadavéricos, manchas de hipóstase ou livor mortis.

Atenção aos sinais de Sommer e aos sinais de Stenon-Louis! A mancha esclerótica, livor scle-
rotinae nigrecens ou simplesmente sinal de Sommer e Larcher assume um aspecto enegrecido,
oval, circular e às vezes triangular, de base voltada para a córnea, manifestando-se, assim, no
órgão da visão:

Sinal de Sommer e Larcher. Fonte: Malthus.com.br.

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Ao final, a superfície do globo é recoberta por um fino véu denominada tela viscosa, também
conhecida por sinal de Stenon-Louis, resultante da evaporação do líquido do globo ocular de
mistura com detritos epiteliais e finíssimos grânulos de poeira:

Sinal de Stenon-Louis. Fonte: Malthus.com.br.

006. (CESPE/POLÍCIA CIENTÍFICA – PE/AUXILIAR DE LEGISTA/2016) Assinale a opção


em que todos os sintomas apresentados correspondem a sinais tanatológicos — abióticos —
imediatos.
a) perda da consciência, saponificação, hipóstases, parada respiratória, insensibilidade
b) rigidez cadavérica, imobilidade, desidratação, parada respiratória, insensibilidade
c) perda da consciência, imobilidade, ausência de pulso, parada respiratória, insensibilidade
d) relaxamento muscular, parada cardíaca, resfriamento do corpo, autólise, insensibilidade
e) perda da consciência, imobilidade, maceração, parada respiratória, livores cadavéricos

Os fenômenos abióticos imediatos (perda da consciência, imobilidade, relaxamento muscular,


parada cardíaca, ausência de pulso, parada respiratória e insensibilidade) não dizem definiti-
vamente que a pessoa morreu, podendo haver socorro médico ou intervenção para que seja
recuperada. Logo, não é certeza de morte, mas é um indicativo inicial. Tais fenômenos podem
ser avaliados tentando ouvir o coração por meio de auscultação, eletrocardiograma e, de for-
ma usual no passado, a Prova da fluoresceína de Icard – que consiste na injeção intravascular

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de uma solução carbonatada de fluoresceína que se difunde no organismo vivo, dando uma
coloração amarelo-esverdeada à pele e às mucosas; a ausência de coloração permite concluir
pela morte real.
Letra c.

2.1.5. A Determinação do Tempo de Morte (Cronotanatognose)

Conhecida, ademais, por cronotanatodiagnose ou tanatocronodiagnose, possibilita o diag-


nóstico da hora em que a morte ocorreu; auxiliando, do mesmo modo, a estabelecer a causa
jurídica da morte, o nexo de causa com o evento narrado e a análise acerca da comoriência.
Durante as primeiras seis (06) horas antes e após a morte, ainda há uma incerteza acer-
ca do diagnóstico das lesões, não se podendo definir se foram causadas intra vitam ou post
mortem: esse período é denominado pela literatura médico-legal como o período de incerteza
de Tourdes.
No direito processual penal brasileiro, o tema não passa despercebido, conforme preceitua
o artigo 162 do Código de Processo Penal:

(CPP) Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando
não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa
da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância
relevante (BRASIL, 2021).

Por intermédio dos já estudados fenômenos cadavéricos abióticos imediatos e consecuti-


vos, Wilson Ferreira (2020) nos ensina que é possível estabelecer a cronologia da morte anali-
sando fatores, dentre os quais, a rigidez corporal, os livores, resfriamento e evaporação tegu-
mentar etc.

Quais dados podem ser utilizados como auxiliares no diagnóstico do tempo de morte?

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Atenção à respeito da entomologia forense, do qual realiza o estudo dos insetos no ca-
dáver (legiões de Mégnin). Veja as fases em que cada inseto interage com o cadáver o que
poderá, em razão de sua presença, auxiliar no tempo de morte (utilize o zoom para melhor
visualização):

Entomologia forense.
Fonte: https://pontobiologia.com.br/csi-da-vida-real-entomologia-forense .
Acesso em: 18 out. 2021

Entomologia forense.
Fonte: https://pontobiologia.com.br/csi-da-vida-real-entomologia-forense .
Acesso em: 18 out. 2021

Vale ressaltar, contudo, que os sinais presentes não são determinantes para se concluir
acerca do tempo da morte, devendo se utilizar uma série de outros fatores, sob pena de se
determinar uma morte incompatível com as circunstâncias e a realidade.

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São fatores importantes, em especial, o depoimento de testemunhas, em especial no local


de crime, bem como imagens de circuito de câmeras nas imediações do local de morte, as
quais podem ter um papel relevante no tempo estimado da morte revelados no cadáver.

2.2. A Premoriência, Comoriência e Sobrevida ou Sobrevivência


Apesar do seu edital somente abordar o conceito relativo a sobrevida, não custa abordar-
mos conceitualmente os conceitos de comoriência e premoriência para evitarmos as surpresi-
nhas do CEBRASPE na hora da sua prova.
a) Premoriência: se em virtude das circunstâncias há condições de se provar que uma des-
sas pessoas faleceu em momento anterior, dá-se o nome de premoriência.
b) Comoriência: quando duas ou mais pessoas morrem na mesma ocasião, não se poden-
do provar quem faleceu primeiro, presume-se que tiveram mortes simultâneas. Tal instituto
está previsto no art. 8º do Código Civil:

(CC) Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar
se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos (BRASIL,
2021).

c) Sobrevivência ou sobrevida: De acordo com Genival França (2015), a sobrevivência é “o


período de tempo que vai desde 0 evento danoso até a morte”. É importante sob o ponto de vista
médico-legal, na medida em que se pode verificar (através de docimásias hepáticas e suprar-
renais, por exemplo) se ocorreu morte agônica ou morte rápida, possibilitando a determinação
de como se deu a sequência da morte.

2.3. A Diagnose Diferencial entre as Lesões Intra Vitam e Post


Mortem
É um estudo particular da tanatologia forense que objetiva identificar as lesões para se
saber acerca de sua ocorrência em vida ou após a morte.
Do ponto de vista médico-legal, uma identificação minuciosa no cadáver é de suma rele-
vância para a constatação das lesões que possam trazer informações acerca das circunstân-
cias de eventual ato suicida, de crime ou acidente.
Neste contexto, deve-se evitar elaborar conclusão acerca das lesões durante o período de
incerteza de Tourdes (06hs antes e 06hs após a morte); deve-se considerar, ademais, no exame
cadavérico, eventuais lesões produzidas pela fauna (ex.: lesões nos tecidos da boca e olhos
em razão da ação de animais), lesões acidentais (ex.: lesões decorrentes de queda da própria
altura), lesões intencionais, quando o autor da agressão tenta mascarar a verdadeira causa da
morte produzindo outras lesões incompatíveis com o verdadeiro crime praticado (comum nos
crimes de homicídio passional).

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Saber identificar e separar tais situações do real contexto fático pode ser a diferença en-
tre a investigação de um homicídio ou a apuração de uma morte natural ou agônica (FER-
REIRA, 2020).

O PULO DO GATO

Como identificar em lesões cortantes se se trata de lesões intra vitam ou post mortem?

2.4. Aspectos Médico-Legais da Inumação, Imersão, Exumação,


Cremação e Embalsamamento
a) inumação simples: é a forma mais comum havendo, pois, necessidade de cautela para o
tempo de sepultamento, o qual não deve ocorrer antes de 24 horas, nem após 36 horas (exceto
motivos especiais, como no caso de doenças contagiosas). Inadmite-se qualquer inumação
sem a certidão de óbito.
b) inumação com necrópsia: obrigatória nos casos de morte violenta, não havendo tal obri-
gatoriedade no caso de morte natural, apesar de ser possível sua realização caso os represen-
tantes legais autorizem.
c) imersão: método antigo utilizada comumente por marinheiros de jogar o corpo ao mar.
d) cremação: do ponto de vista sanitário, a cremação é o modo mais higiênico dos destinos
possíveis de um cadáver. Do ponto de vista médico-legal não é possível haver a cremação nos
casos de morte violenta, visto a possibilidade posterior de se realizar uma exumação.
e) exumação: que tal conceituarmos com o exercício a seguir?

007. (CESPE/POLÍCIA CIENTÍFICA - PE/MÉDICO LEGISTA/2016) Desenterramento de ca-


dáver com a finalidade de atender aos reclamos da justiça na averiguação da exata causa de
morte é a definição de

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a) averiguação.
b) acareação.
c) reconhecimento.
d) inumação.
e) exumação.

Gabarito letra “E”. Segundo o professor e jurista Fábio Roque, a EXUMAÇÃO é o ato de desen-
terrar o cadáver, sendo que a INUMAÇÃO é o sepultamento cadavérico.
Letra e.

É o ato de enterrar; em ambos os casos, sua realização em desacordo com as disposições


legais caracteriza contravenção penal (art. 67 da LCP com pena de prisão simples de um mês
a um ano, ou multa).
A exumação como um dos possíveis destinos do cadáver, está regulada no Código de Pro-
cesso Penal (CPP), dentre os artigos 163 a 166:

(CPP) Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que,
em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura,
sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de en-
contrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas
necessárias, o que tudo constará do auto.
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem
como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.
Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão
ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimen-
to pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de teste-
munhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com
todos os sinais e indicações.
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontra-
dos, que possam ser úteis para a identificação do cadáver (BRASIL, 2021).

f) embalsamamento: que tal resolvermos mais um exercício para explicar o concei-


to? Vamos lá?

008. (CESPE/EBSERH/TÉCNICO EM NECRÓPSIA/2018) Julgue o item a seguir quanto às


técnicas de embalsamamento.

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O embalsamamento pode ser feito em cadáveres necropsiados, que tiveram suas vísceras
manipuladas. Tais situações são muito comuns em mortes violentas, nas quais o cadáver é
submetido à necropsia médico-legal, ou, ainda, nas necropsias para a verificação de óbito.

O professor Malthus Fonseca Galvão nos ensina que o Embalsamamento é um tratamento


dado ao cadáver para protegê-lo da decomposição, sendo retirados sangue e outros fluidos
e injetada em seu sistema circulatório uma solução. Há 4 (quatro) principais técnicas de em-
balsamento:
a) DUBOIS: Processo de. Embalsamento. Consiste em injeções subcutâneas e intracavitárias
de líquido desidratantes e antissépticos, geralmente o álcool amilico.
b) LASTROWSKI: Processo de. Embalsamento. Utiliza-se glicerina, álcool absoluto, cloreto de
zinco, ácido fênico e bicloreto de mercúrio.
c) PAIS LEME: Processo de. Embalsamento. Utiliza-se de formol, glicerina, acetato de sódio de
sódio e água.
d) TANNER DE ABREU: Processo de. Embalsamento. Injeta-se nas artérias uma mistura de
água, glicerina e formol após remoção de todo sangue cadavérico.
Certo.

2.5. Fenômenos Cadavéricos de Especial Transformação no Cadáver

2.5.1. Fenômenos Transformativos Conservadores

a) Mumificação: segundo a literatura médico-legal, ocorre após o segundo ou terceiro mês


desde a morte. Uma condição essencial para ocasionar tal processo é que o cadáver esteja
em um ambiente com falta de umidade. No entanto, fatores individuais como a composição

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física, peso e altura podem ser decisivos. A mumificação tem origem química, podendo ocorrer
naturalmente ou artificialmente (embalsamamento) (FERREIRA, 2020).
Já para o professor Roberto Blanco (2019), a mumificação natural poderá ocorrer em am-
bientes gelados onde o cadáver sofra a ação de ventos com baixa temperatura que facilitem
a desidratação; todavia, caso o corpo esteja coberto pela neve, não haverá mumificação, visto
todas as características biológicas serem preservadas pelo congelamento.
Não há dúvidas que a localização de um cadáver naturalmente mumificado irá facilitar o
trabalho da perícia médico-legal visando identificá-lo e diagnosticar sua causa mortis.

Mumificação parcial e total. Fonte: Malthus.com.br

b) Saponificação: conhecida pelo nome de adipocera, ocorre geralmente no caso de de-


pósito de cadáveres em covas múltiplas ou em caso de catástrofes onde vários corpos são
localizados. No local de crime, Hygino Hércules (2017) relata ser possível sentir um cheiro
assemelhado a um queijo rançoso e adocicado. Roberto Blanco (2019) tal fenômeno transfor-
ma tecido do corpo em uma substância amarelo-acinzentada, untuosa, mole ou quebradiça. É
imprescindível que o cadáver se encontre em um ambiente excessivamente úmido, quente e
pouco arejado.

A saponificação raramente ocorre em todo o corpo, sendo encontradas as adipoceras geral-


mente em pequenas partes ou segmentos. Pode ocorrer concomitantemente com a mumifica-
ção e a putrefação. Mas frise-se que a saponificação – não sendo um processo transformativo
conservativo inicial – tende a ocorrer um, dois ou três meses após a morte.

O solo argiloso com retenção de água e intoxicações pelo fósforo ou álcool podem favore-
cer o processo transformativo de saponificação (FERREIRA, 2020).

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Além disso, do ponto de vista médico-legal, Wilson Ferreira (2020) explica que a saponifi-
cação auxilia no processo de identificação do indivíduo e das lesões sofridas por conservar
algumas características físicas.

Fonte: http://marceloaviz.blogspot.com/. Acesso em: 22 out. 2021.

c) Corificação: é um processo transformativo conservador que dá ao cadáver um aspecto


semelhante ao couro, pois seus tecidos cutâneos ficam transformados em razão da desidra-
tação intensa e absorção de zinco. Para fins de identificar as lesões intra vitam e post mortem,
Wilson Ferreira (2020) nos ensina ser possível, com recursos técnicos, realizar um processo de
reidratação dos tecidos, auxiliando na identificação da face e tipos de lesões. Roberto Blanco
(2019) entende a corificação como um processo relacionado a um estágio da mumificação.

Foto 1: cadáver encontrado em quarto fechado em processo de mumificação e corificação.


Foto 2: cadáver inumado dentro de saco plástico, facilitando o processo de corificação.

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2.5.2. Fenômenos Transformativos Destrutivos (Sinais Patognomônicos de


Morte)

a) Autólise: Wilson Ferreira (2020) conceitua como o “processo de destruição das células
caracterizado pela ação das suas próprias enzimas”. Há, na autólise, o rompimento das mem-
branas lisossômicas e a formação de vesículas com enzimas proteolíticas.

Fonte: grupocienciascriminais.blogspot.com

A autólise é dividida em dois processos de acidez intracelular:


• Processo latente, ocorrido no citoplasma;
• Processo necrótico, comprometendo o núcleo celular.

Wilson Ferreira (2020) nos ensina que existem alguns métodos para a identificação da aci-
dez proveniente de um processo de autólise:
• Prova de Lecha-Marzo: onde a acidez poderá ser demonstrada por meio da utilização de
um papel azul de tornassol.
• Método de Labord: introduz-se um estilete de aço no tecido acidificado. Ao retirar o esti-
lete, este permanece com brilho cerca de 30 minutos após a retirada.

b) Putrefação: é a decomposição de matéria orgânica por ação de diversos micro-organis-


mos (tais como germes a bactérias) que estejam presentes ou não no corpo humano. Existem
vários fatores, extrínsecos (ex.: condições, climáticas, solo, falta de oxigênio, maior ou menor
acidificação do meio ambiente, ação de bactérias de decomposição, flora e fauna cadavérica
etc.) e intrínsecos (constituição física, idade, causa mortis etc.), para facilitar ou retardar o pro-
cesso de putrefação cadavérica.

O PULO DO GATO
Mumificação -> locais quentes, secos e muito arejados;
Saponificação -> locais quentes, úmidos e pouco arejados.
Putrefação -> local equilibrado em temperatura, umidade e ventilação.

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b.1) Fases da putrefação:


b.1.1 – Fase de coloração: é a primeira fase da putrefação, também conhecida como fase
cromática, ocorrendo em média após 24 horas iniciando-se com uma mancha verde abdomi-
nal, especialmente em razão da ação das bactérias presentes no intestino grosso.
Wilson Ferreira (2020) entende como o marco inicial da putrefação o desfazimento da ri-
gidez cadavérica; em seguida, inicia-se o processo putrefativo cadavérico na região do ceco
(porção inicial do intestino grosso), especificamente na fossa ilíaca direita, onde ocorre a ma-
cha verde abdominal. Tal mancha é “o resultado da combinação de hidrogênio sulfurado mais
a hemoglobina [...] originando a sulfoxiemoglobina”. Onde houver mais livores de hipóstase,
maior será a formação daquela substância.

Mancha verde abdominal. Fonte: Malthus.com.br

Nos fetos, ocorre primeiro da maceração asséptica para depois ocorrer a putrefação, justa-
mente porque no interior do útero materno haver uma proteção natural do feto de micro-orga-
nismos que possam causar a putrefação.

Tema já discutido na aula de Asfixiologia forense, o fenômeno denominado cabeça de negro


de Lecha-Marzo tem ocorrência comum nas vítimas de afogamento, o que dificulta o reconhe-
cimento visual do cadáver. O processo inicial de putrefação evidencia-se nas partes superiores
do corpo (terço superior do tórax, na face e nos pulmões), em razão da maior quantidade de
sangue e maior disponibilidade de formação da sulfoxiemoglobina. Relaciona-se com a fase
gasosa ou enfisematosa de putrefação.

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Fonte: grupocienciascriminais.blogspot.com

b.1.2 – Fase gasosa ou enfisematosa: com o início do processo de decomposição, forma-


-se gases no interior do corpo, os quais, por vezes, não encontram pontos de saída. Em razão
disso, o cadáver passa a formar bolhas com conteúdo podre (contendo leucócitos e proteínas),
processo decorrente de infiltração dos gases nos tecidos por meio de um processo de difusão,
ocorrendo, por vezes, rompimento.

Fonte: grupocienciascriminais.blogspot.com

Tais gases, caso haja combustão, queimarão com a chama na cor amarela. Os gases de
putrefação, ademais, são identificados pelo teste de Ícard, onde reagem com papel impregna-
do de acetato de chumbo, ficando com a cor negra (FERREIRA, 2020).
Nos cadáveres femininos, há o aumento das mamas e o denominado prolapso uterino, re-
presentada pela saída do útero via vagina, ação típica dos gases de putrefação. Pode ocorrer,
ademais, o parto póstumo de Brouardel, onde o útero e feto são expulsos por meio da vagina.
Nas vítimas de afogamento, os cadáveres, uma vez submersos, tendem a emergir com a
fase gasosa de putrefação.
Outro fenômeno interessante é a circulação póstuma de Brouardel, quando os gases de
putrefação se espalham no interior dos vasos sanguíneos, dando uma aparência de “teia de
aranha”. Esse sinal, segundo Wilson Ferreira (2020), significa que o cadáver se encontra em
período de fase gasosa com morte aproximada de uma semana.

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Foto 1: Bolha subepidérmica e conteúdo hemoglobínico (circulação póstuma de Brouardel).


Foto 2: “teia de aranha” decorrente da circulação póstuma de Brouardel.
Fonte: Malthus.com.br

b.1.3 – Fase coliquativa: é o chamado período de dissolução pútrida do cadáver, que pode
durar de um a vários meses e ocorrer apenas em parte ou no cadáver como um todo. Tem-se
como início geralmente após três semanas de morte (FERREIRA, 2020).

Fonte: Malthus.com.br

b.1.4 – Fase de esqueletização: é a fase de perda dos tecidos moles, onde os músculos,
vísceras e ossos vão aparecendo. O período pode compreender de meses a anos após a mor-
te. Na área de localização do cadáver, alguns aspectos merecem atenção tais como o solo, o
clima e se animais arrastaram o cadáver ou seus pedaços do local original.

Dica de memorização das fases da putrefação: CO GA COLI


ES.

009. (CESPE/PC-RR/MÉDICO-LEGISTA/2003) Sabe-se que o aparecimento de fenômenos


tardios não oferece qualquer dificuldade para o diagnóstico da morte. No entanto, diagnosti-

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car a morte recente é tarefa que exige maiores conhecimentos. De acordo com a classificação
de Borri, os fenômenos cadavéricos se traduzem por sinais detectáveis pelo exame clínico ou
com o auxílio de instrumentos. Acerca desse tema, julgue o item seguinte.
Entre os períodos da putrefação, o coliquativo se caracteriza pelo aspecto gigantesco que
assume o cadáver, pelos membros semi-fletidos (atitude de boxeador) e pela face vultuosa
(lábios grossos e língua procidente).

Nas denominadas quatro fases da putrefação (cromática ou de coloração; gasosa ou enfise-


matosa; coliquativa ou de liquefação e a esqueletização) a 2ª fase – gasosa – inicia-se apro-
ximadamente em 48 horas post mortem e tem duração de cerca de 14 dias. Nesta fase, ocorre
o que CROCE e CROCE Júnior (2017) chama de aspecto gigantesco, atitude de boxeador, lábios
grossos e a língua procidente. Por sua vez, a 3ª fase – de liquefação – inicia-se a partir da 3ª
semana post mortem e relaciona-se com a dissolução das partes moles; surge-se, destarte,
muitos insetos e larvas (entomologia forense).
Errado.

Fase gasosa: posição de boxeador. Fonte: grupocienciascriminais.blogspot.com

c) Maceração: é o processo pelo qual o cadáver tem destruído seus tecidos moles pela
ação prolongada de líquidos. Wilson Ferreira (2020) identifica alguns sinais característicos
como o destacamento da epiderme da derme e o esbranquiçamento e enrugamento da pele.

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Maceração em retenção fetal intra-uterina. Fonte: Malthus.com.br

c.1) Maceração nos indivíduos:


c.1.1 – Maceração séptica: é a exposição prolongada do cadáver em líquido contaminado
por micro-organismos, o que não impede de ocorrer a putrefação.
c.1.2 – Maceração asséptica: não há contaminação do líquido, ocorrendo em fetos que,
mortos, permanecem no interior do útero protegidos pelo líquido amniótico.
c.2) Maceração nos fetos: o estudo deste aspecto pode auxiliar na responsabilização pe-
nal, especialmente nas imputações penais por erro médico, fraudes no nascimento e na su-
cessão civil:
c.2.1) Maceração fetal de 1º grau: forma-se as flictenas no período de um a três dias da
primeira semana de morte;

c.2.2) Maceração fetal de 2º grau: há presença de líquido amniótico hemorrágico e epider-


me arroxeada, rompendo-se as bolhas. Representa a segunda semana de morte;

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c.2.3) Maceração fetal de 3º grau: ocorre por volta da terceira semana, onde ocorre a de-
formidade craniana e infiltração hemoglobínica das vísceras. O feto possui uma coloração
marrom escuro e córion friável.

Existem sinais gerais e específicos de maceração nos fetos: os sinais gerais compreendem:
achatamento do abdômen; articulações com mobilidade anômala e exagerada e cordão umbi-
lical embebido por hemoglobina:

Fonte: Malthus.com.br

Os sinais específicos compreendem: sinal de Spalding onde se observa o achatamento látero-


-lateral da cabeça, com cavalgamento dos ossos cranianos:

Sinal de Hartley: perda da configuração da coluna vertebral;

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Sinal de Spangler: achatamento da abóbada craniana;


Sinal de Horner: assimetria craniana;
Sinal de Robert: presença de gases nos grandes vasos e vísceras;
Sinal de Brakeman: queda do maxilar inferior, conhecido como “sinal da boca aberta”;
Sinal de Damel: halo pericraniano translúcido.

010. (CESPE/SEGESP-AL/PERITO MÉDICO LEGISTA/2013) Com relação à tanatologia fo-


rense, julgue os itens de 56 a 64. A maceração é um fenômeno transformativo conservador que
pode ser observado nos submersos em meio líquido contaminado (maceração séptica) e nos
fetos retidos a partir do quinto mês de gestação.

O CESPE/CEBRASPE e seus peguinhas sem graça! Veja que o erro da questão reside em clas-
sificar a maceração como um fenômeno transformativo conservador; todavia, em verdade, tra-
ta-se de um fenômeno transformativo destrutivo.
Errado.

Vamos recapitular?

Fenômenos transformativos destrutivos:


Grave “MAP” ( = mapa em português)
Maceração
Autólise
Putrefação
Fenômenos transformativos conservadores:
Grave “SAMUCO”
SAponificação
MUmificação
COrificação

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RESUMO
Nesta aula 03, trabalhamos, no ramo da toxicologia forense, com os conceitos de alimento,
medicamento e veneno, perpassando pela dificuldade da doutrina médico-legal em conceitu-
ar tais elementos especialmente no que diz respeito ao termo veneno, tendo, Wilson Ferreira
(2020) o conceituado como “qualquer substância que, introduzida pelas mais diversas formas
no organismo, danifica a vida ou a saúde”, podendo, ademais, assumir as formas líquidas, sóli-
das ou gasosas, de origem animal, vegetal, mineral ou sintético.
Em seguida, identificamos as principais vias de entrada do veneno pelo corpo humano:
boca, ânus, pele e corrente sanguínea, percorrendo as etapas fisiológicas de penetração, ab-
sorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação. Ao percorrer especialmente as vias
capilares do organismo, os venenos encontram, como principais vias de eliminação, o ar expi-
rado, o sistema urinário, o suor, saliva, bile, leite materno e o sistema digestivo, por intermédio de
vômitos e evacuações.
Apoiando-se no magistério de Genival França (2015), o envenenamento é “o conjunto de
elementos caracterizadores da morte violenta ou do dano à saúde ocorridos pela ação de deter-
minadas substâncias de forma acidental, criminosa ou voluntária”. Ocorre quase sempre de for-
ma intencional, possuindo origem exógena, sendo produzido por energia de origem química.
Desta forma, classificamos as principais espécies de veneno noviços ao organismo cata-
logados pela medicina-legal, quais sejam: chumbo, mercúrio, cianeto, arsênico e gases tóxicos
de combate (lacrimogêneos, vesicantes, sufocantes e tóxicos), gases industriais, anestésicos e
das habitações.
No que atine aos aspectos médico-legais da alcoolemia e das drogadições, trabalhamos
as conceituações de toxicofilia, toxicomania, apresentando uma tipologia das drogas ilícitas e
de abuso consagrada pela literatura médico-legal. Denomina-se toxicofilia – segundo a Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS/2021), como “um estado de intoxicação periódica ou crônica,
nociva ao indivíduo ou à sociedade, produzida pelo repetido consumo de uma droga natural ou
sintética”.
Dentre as diversas drogas ilícitas e substâncias de uso e abuso, conceituamos, especial-
mente: maconha, cocaína, crack, merla, oxi, erva do Santo-Daime, ópio, barbitúricos, alucinó-
genos e morfina, e seus efeitos analépticos, psico-analépticos, catalépticos e dislépticos ou
psicodislépticos.
De acordo com Genival França (2015) a denominada embriaguez alcoólica pode trazer as
seguintes manifestações clínicas, importantes para a identificação por ocasião da realização
de exame pericial médico-legal:
a) manifestações físicas:
• Congestão das conjuntivas;
• Taquicardia;

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• Taquipneia;
• Hálito alcoólico-acético.

b) Manifestações neurológicas: polineurite, síndrome de Wernicke e Korsakov;


c) Manifestações psíquicas: delirium tremens, delírio dos ciúmes dos bebedores e epilep-
sia alcoólica.
No que concerne as denominadas fases da embriaguez, estudamos, conforme a literatura

🦁
médico-legal mais indicada as seguintes: fase de excitação, desinibição ou fase do macaco
fase da confusão, agitação ou fase do leão e fase do sono, comatosa ou fase do porco
,
.
🐵
🐷
Por sua vez, tolerância à embriaguez é a maior ou menor capacidade que uma pessoa pos-
sui para se embriagar. Dentre os vários fatores, destacam-se:
• O peso da pessoa (influi na diluição do álcool);
• A velocidade de absorção do álcool ingerido pelo organismo, sendo subfatores impor-
tantes o tipo de bebida, grau de teor alcoólico e plenitude do estômago;
• A frequência com o que a pessoa ingere bebidas alcoólicas;
• O estado específico de saúde da pessoa no momento da ingestão da bebida alcoólica.

Das formas de embriaguez mais conhecidas pele doutrina, seguimos a doutrina de Rogério
Sanches Cunha para as classificarmos em: embriaguez pré-ordenada, embriaguez voluntária ou
dolosa, embriaguez fortuita incompleta e completa e embriaguez patológica. Ademais, segundo
Roberto Blanco (2019) pontuamos acerca do alcoolismo alfa, beta, gama, delta e épsilon.
Finalizando a toxicologia forense, iniciamos o estudo da tanatologia forense, definindo-a
como o “ramo da medicina legal que estuda a morte e o morto, bem como suas repercussões”.
Uma vez tecendo comentários introdutórios acerca da morte, elencamos os principais crité-
rios para a identificação da morte encefálica, conforme resolução n.. 2.173/2017, quais sejam:
sinais clássicos de morte (depressão circulatória, perda gradual das funções vitais e parada
cardiorrespiratória), sinais combinados (falta de respiração espontânea por mais de 12 horas,
midríase bilateral e EEG isoelétrico), angiograma, ausência de receptividade a estímulos exter-
nos, movimentos espontâneos por mais de 1 hora, respiração espontânea por mais de 3 minutos
e coma irreversível, além das pupilas dilatadas e fixas.
Em seguida, conceituamos os conceitos de morte real, anatômica, histológica, relativa, in-
termediária, seguindo para morte real, suspeita, natural, súbita e agônica (elencando as verifica-
ções por docimásia hepática química e suprarrenal).
No que se refere a tanatognose (sinais de morte real), estudamos o diagnósticos da reali-
dade da morte por meio da identificação de fenômenos cadavéricos abióticos, avitais ou vitais
negativos, subdividindo-se em:
a) a) sinais abióticos imediatos:
a.1 – Perda da consciência;
a.2 – Abolição do tônus muscular com imobilidade;

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a.3 – Perda da sensibilidade (sinal de Josat);


a.4 – Relaxamento dos esfíncteres;
a.5 – Cessação da respiração;
a.6 – Cessação dos batimentos cardíacos (circulação);
a.7 – Ausência de pulso (inexcitabilidade elétrica);
a.8 – Fácies hipocrática;
a.9 – pálpebras parcialmente cerradas.
b) sinais abióticos tardios ou consecutivos
b.1 – Resfriamento paulatino do corpo cadavérico (algor mortis);
b.2 – Rigidez cadavérica (rigor mortis ou período de estado);
b.3 – Espasmo cadavérico e evaporação tegumentar do tecidos;
b.4 – Livores cadavéricos, manchas de hipóstase ou livor mortis.
Conhecida, ademais, por cronotanatodiagnose ou tanatocronodiagnose, os estudos desta
aula possibilitaram conhecer o diagnóstico da hora em que a morte ocorre; auxiliando, do mes-
mo modo, a estabelecer a causa jurídica da morte, o nexo de causa com o evento narrado e a
análise acerca da comoriência.
Durante as primeiras seis (06) horas antes e após a morte, ainda há uma incerteza acer-
ca do diagnóstico das lesões, não se podendo definir se foram causadas intra vitam ou post
mortem: esse período é denominado pela literatura médico-legal como o período de incerteza
de Tourdes.
Vários dados importantes podem ser utilizados para o diagnóstico do tempo de morte:
perda de peso, mancha verde abdominal, presença de cristais no sangue putrefeito (Westenhö-
fer-Rocha-Valverde), flora e fauna cadavéricas, conteúdo estomacal e visceral, crescimento de
pelos no corpo e presença de gases nos vasos sanguíneos e demais tecidos.
Prosseguiu-se no diagnóstico diferencial entre as lesões intra vitam (infiltração hemorrági-
ca nos tecidos moles, coagulação sanguínea e ferimentos com bordas afastadas, retração de
camadas superficiais e presença de equimoses como reação vital) e as denominadas lesões
post mortem (índice de Verderau: relação hemácias x leucócitos, suspeita no local lesionado e
valor de índice igual a zero).
Outro ponto importante da tanatologia forense explorado nesta aula compreendeu os
conceitos de inumação, imersão, exumação, cremação e embalsamamento e seus aspectos
médico-legais. Adiante, falamos a respeito dos fenômenos cadavéricos transformativos con-
servadores (Saponificação, Mumificação e Corificação = SAMUCA) e os destrutivos (Autólise,
Putrefação e Maceração = MAP).
Na putrefação, as subdividimos em fase de coloração ou cromática, fase gasosa ou enfise-
matosa, fase coliquativa ou de liquefação e fase de esqueletização; na maceração, por sua vez,
as subdividimos em maceração séptica e asséptica, pontuando, na maceração fetal, os seus
1º, 2º e 3º graus de transformação destrutiva.

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Com o intuito de melhorar a experiência de aula, buscamos manter a indicação dos concei-
tos seguidos de fotografias retiradas de sites especializados em medicina-legal e associando
todas estas informações com exercícios pontuais da banca CEBRASPE para fins de completar-
mos o ciclo de estudo (teórico e exercícios). Esperamos que tenham gostado das ilustrações.
Na próxima aula 04, abordaremos os aspectos relacionados à necropsia e ao exame peri-
cial indireto, fechando, assim, a parte teórica do edital proposto para o seu cargo. Então, mãos
à obra e bons estudos a todos!

Dalbertom Caselato Junior


Policial Civil do DF. Bacharel em Relações Internacionais e Direito. Especialista em Direito Público, mestre
e doutorando em Direito Penal e Criminologia (CEUB-DF). Professor da Escola Superior da PCDF e de
cursinhos para concursos.

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