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Escola Secundária Joaquim Chissano.

Introdução à Lógica I 2022

INTRODUÇÃO À LÓGICA
1. Surgimento da lógica
Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo grego, dedicou especial atenção à análise do
pensamento, procurando estabelecer as bases de um instrumento seguro que permitisse distinguir
a verdade do erro. Neste sentido, escreveu uma série de tratados conhecidos pela designação
geral de Organon, nome que significa precisamente instrumento. Foi assim que Aristóteles criou
uma ciência nova, de capital importância na reflexão filosófica – a Lógica.

2. Conceito e objecto da lógica


A palavra lógica deriva do termo grego logos que significa razão, palavra, proposição,
oração, pensamento, discurso, linguagem… a noção pode tornar-se equívoca.
Enquanto ciência do logos, a lógica pode, etimologicamente, ser definida como ciência
da razão ou do pensamento ou como ciência do discurso racional, ou a ciência que estuda a
dimensão racional do discurso.
Enquanto ciência, a lógica foi definida em diversas perspectivas, ressaltando em todas
elas elementos comuns, tais como leis e ou formas de pensamento e sempre orientadas para a
busca da verdade ou validade (procurando evitar o erro). A seguir apresenta-se várias definições
de lógica:

a) Ciência das formas válidas do pensamento.


b) Estudo sistemático dos procedimentos com os quais a razão elabora o saber.
c) Ciências das operações da inteligência, orientadas para a conquista da verdade.
d) Ciência das condições do pensamento correcto e do pensamento verdadeiro.
e) Arte que orienta todo o acto racional duma maneira ordenada e isenta de erro.
A lógica pode ser considerada como ciência e como arte:
 Como ciência, porque preocupa-se com as formas gerais do pensamento, ou seja, analisa
a da validade das operações tendo em conta os princípios da razão;
 A lógica é arte: pois preocupa-se com as normas, isto é, é uma técnica que nos leva a
pensar bem, indica e definindo as leis do pensamento válido, ou seja, estabelece as
normas de acção para atingir a verdade.

Da consideração da lógica enquanto ciência e enquanto arte, infere-se a seguinte definição:


f) A lógica é a ciência que estuda as formas e leis do pensamento válido:
 As formas da lógica também são entendidas como sendo domínio da lógica e são
três, cada um deles com a sua exteriorização ou expressão verbal;

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1º 2º 3º
Domínio da Lógica Lógica do Conceito Lógica do Juízo Lógica do Raciocínio
Expressão Verbal Termo Proposição Argumento

 As leis do pensamento designadas igualmente por princípios da razão são três


(alguns filósofos consideram um quarto princípio):
1. Princípio de Identidade cujo enunciado é o seguinte:
- Uma coisa é o que é.
- O que é, é; e o que não é, não é.
- Uma proposição é equivalente a si mesma.
2. Princípio de Contradição (ou de Não Contradição), o seu enunciado é:
- Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, segundo a mesma perspectiva.
- Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo.
- Uma proposição e a sua negação não podem ser simultaneamente verdadeiras.
3. Princípio do Terceiro Excluído (ou do Meio Excluído), se enuncia assim:
- Uma coisa deve ser, ou então não ser; não há uma terceira possibilidade (o terceiro é
excluído).
- Uma proposição é verdadeira, ou então é falsa; não há outra possibilidade.
4. Princípio da Razão ou Fundamento Suficiente, que diz:
- Toda a ideia verdadeira será ser acompanhada pelo respectivo fundamento (razão de
ser) e a justificação deverá ser suficiente.

3. Lógica: Coerência do Pensamento e do Discurso


A lógica é definida igualmente como sendo o estudo das condições de coerência do
pensamento e do discurso, isto é, existe uma relação dialéctica1 entre linguagem, pensamento,
comunicação e discurso.

3.1. A linguagem: fundamento da humanidade


O homem não é somente uma realidade biológica, natural, mas também uma realidade
cultural, é algo que depende em boa medida do que fazemos uns com os outros.
Exemplo: a mafura nasce mafura, a gato chega ao mundo já gato, mas o homem de
maneira nenhuma nasce já homem e nunca chegará a sê-lo se os outros para isso não o ajudarem.

1Entre diversas interpretações a dialéctica é entendida como a síntese dos opostos por meio da determinação
recíproca.

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Portanto, não há humanidade sem aprendizagem cultural (de usos e costumes -


socialização) e nem sem traços de personalidade. A base de toda a forma de ser e de estar, da
cultura (e fundamento, por conseguinte, da nossa humanidade) é linguagem e ela tem um
estatuto antropológico, uma vez que assegura a constituição do ser humano no seu processo
antropogenético e cultural.

3.2. Linguagem e Comunicação


Uma das funções da linguagem é comunicar. Na sua forma mais simples a comunicação é
resultado de três elementos fundamentais:
 Uma fonte (o ser humano, um animal…); que
 Emite uma mensagem (uma frase, um gesto, um sinal, um grito, um filme…);
 Em direcção a um alvo (o interlocutor, um espectador…) que recebe.

Modelos de comunicação
Alguns modelos de comunicação conheceram uma enorme divulgação, é o caso dos
modelos de C. Shannon e W. Weaver:

EMISSOR Canal RECEPTOR


Fonte → Codificação → Mensagem → Destinatário → Descodificação → Mensagem

Ruído

Este modelo (simples) de comunicação sofreu críticas (de Riley Riley, Norbert Wiener e Roman
Jakobson) por excluir duas noções fundamentais no processo da comunicação:
 o contexto: os homens (o emissor e o receptor) são seres sociais com normas e valores
dos seus grupos de pertença, na perspectiva de Riley;
 A noção de feedback (retroacção) é introduzida por Norbert Wiener, para ele a
comunicação não é unidireccional, linear, isto é o emissor e receptor não desempenham
papéis fixos, portanto, a comunicação é circular ou seja, designa a reacção do receptor à
mensagem emitida e o seu regresso ao emissor, havendo, portanto a inversão de papéis.
 Roman Jakobson acrescentou aos três elementos (emissor, mensagem, receptor) outros
três aos quais atribui igual importância: a comunicação acontece sempre num dado
contexto, usa determinado código e visa estabelecer contacto entre os interlocutores.
Mas a grande originalidade de Jakobson reside no facto de ter atribuído uma função a
cada um dos seis elementos do processo, assim:

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1) A função emotiva (expressiva) centrada no emissor/destinador. Quando comunica, o


emissor sente-se efectivamente comprometido com o que diz;
2) A função apelativa (imperativa/conotativa) está centrada no destinatário/receptor. Com a
mensagem, o emissor pretende provocar determinado efeito comportamental no receptor;
3) A função fática está centrada no contacto. Através dela o emissor estabelece e mantém
uma relação com o receptor, procurando assegurar a atenção do outro;
4) A função metalinguística centrada no código. Através dela os interlocutores procuram
verificar se usam os mesmos códigos (se usam ou não os termos no mesmo sentido);
5) A função referencial (informativa) está centrada no contexto. Ao comunicar, os
interlocutores procuram que a sua mensagem seja objectiva, neutral, imparcial, mas isto
nem sempre acontece. Para que se assegure o êxito da comunicação é necessário que os
interlocutores partilhem o mesmo contexto, pois assim terão os mesmos referentes
(tempo, lugar, informações comuns, etc.).
6) A função poética (estética) centrada na mensagem. Consiste na preocupação que os
interlocutores têm de embelezar a mensagem e de serem criativos.

CONTEXTO
(F. Referencial)

DESTINADOR MENSAGEM DESTINATÁRIO


(EMISSOR) (EMISSOR) (RECEPTOR)
(F. Expressiva) (F. Poética) (F. Apelativa)

CONTACTO
(F. Fática)

CÓDIGO
(F. Metalinguística)

3.3. Linguagem, Pensamento e Discurso


A linguagem é a matéria do pensamento. Não há sociedade sem linguagem, tal como não
há sociedade sem comunicação. Portanto, a função primeira da linguagem é de produzir
pensamento e comunicar.
Pensamento, comunicação e linguagem são realidades indissociáveis, as quais acrescenta-
se uma outra: discurso. Entre elas pode-se estabelecer relação (triádica):
 É através da linguagem que os seres humanos estabelecem comunicação entre si;
 A linguagem serve de instrumento e meio de exteriorização do que pensamos; o
desenvolvimento do pensamento e da linguagem são correlativos;

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 Pensamento e linguagem não podem separar-se porque a linguagem funciona como


suporte do pensamento;
 É através da linguagem que regulamos o pensamento. Sem a linguagem não seria
possível formular conceitos, juízos e raciocínios;
 Porque os homens e as mulheres dispõem da linguagem, podem expressar, através do seu
discurso o seu pensamento, podem apreender cognoscitivamente a realidade.

3.4. As Dimensões do Discurso Humano


O discurso humano é pluridimensional, isto é, existem diversas dimensões que o constituem.
As fundamentais são a sintáctica, semântica e pragmática. Existem outras, as acessórias.

3.4.1. Dimensões Acessórias do Discurso Humano


As dimensões acessórias do discurso humano são as seguintes:
 Dimensão linguística: todo discurso é um acto de fala, em que um dado emissor actualiza
a língua em fala.
 Dimensão textual: o produto final do discurso é sempre uma sequência de enunciados
que são coerentemente ordenados e que se materializam num texto escrito, oral ou
gestual.
 Dimensão lógico-racional: a nossa razão discorre de uma proposição a outra proposição
procurando estabelecer um encadeamento lógico, uma dada sequência.
 Dimensão expressiva ou subjectiva: todo o discurso é sempre expressão pessoal e
subjectiva das emoções, dos pontos de vista, das razões, dos argumentos, dos diversos
sujeitos.
 Dimensão intersubjectiva ou comunicacional: a comunicação é normalmente dialógica,
interactiva. O discurso humano é partilhado entre sujeitos. O outro, o interlocutor está
sempre presente ou é pressuposto como presente.
 Dimensão argumentativa: no geral, todo o sujeito na situação de discurso apresenta
razões, argumentos, provas para justificar as posições que defende.
 Dimensão apofântica ou representativa: o nosso discurso traduz sempre a nossa
representação do real, ou seja, todo o discurso é um dizer sobre alguma realidade e, pode
corresponder a verdade ou a falsidade.
 Dimensão comunitária e institucional: as palavras que usamos para dizer o que queremos
dizer, não são nossas. Encontrámos tal língua logo à nascença e não fomos nós que a
inventámos. Ela é fruto da comunidade onde nascemos.

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 Dimensão ética: qualquer interveniente numa situação de discurso deve respeitar aquilo
que Karl Otto Apel e Jurgen Habermas chamam de “código deontológico do discurso”.
Eis alguns princípios que devem vigorar no discurso:

a) Todos os participantes no discurso devem:


- ter amor à verdade;
- empenhar-se na sua procura, conformando e adequando a sua razão àquilo que é;
- falar verdade.

b) Todos os participantes no discurso:


- podem problematizar qualquer posição de outro participante;
- só devem afirmar aquilo que acreditam;
- devem ser isentos, reconhecendo aos outros igualmente essa capacidade.

c) Todos os participantes devem ter vontade sincera de chegar a um acordo ou um


consenso, próprios de sujeitos livres e emancipados;

d) Não é legítimo que os participantes entrem em contradição expressa (conflito).

3.4.2. Dimensões Fundamentais do Discurso Humano


Charles Morris, nascido em 1901, Colorado, EUA, estabeleceu uma teoria geral dos sinais a
semiótica e, segundo ele, são três os níveis dos processos de comunicação: nível sintáctico,
semântico e pragmático, a que corresponderiam três disciplinas, respectivamente: sintaxe,
semântica e pragmática.

 Sintaxe: deriva de “syn + taxis” (co-ordem; coordenado).


- tradicionalmente define-se como sendo a parte da gramática que trata das regras combinatórias
entre diversos elementos da frase.
- Para Karl-Otto Apel, a sintaxe trata da relação intralinguística dos signos entre si ou estuda as
relações internas que os signos mantêm entre si (Michel Meyer).
- uma definição mais elaborada (de Marina Yaguello), defende que sintaxe é o conjunto dos
meios que permitem organizar os enunciados, afectar a cada palavra uma função e marcar as
relações que estabelecem entre as palavras.
Assim, por razoes de carácter sintáctico:
- uma série de letras ao acaso não é uma palavra;
- uma série de palavras postas ao acaso não é uma frase; e
- uma série de frases dispostas ao acaso não é um texto nem um discurso.

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 Semântica: encontra a sua raiz no grego “semantiké” (tékhne) que significa a arte da
significação ou ciência do significado.
- Para Michel Meyer a semântica trata da relação dos signos som o seu significado, logo, com o
mundo.
- Segundo Karl-Otto Apel a semântica diz respeito à relação dos signos com os factos
extralinguísticos designados.
- A semântica trata das relações dos signos (as palavras, as frases) com os seus significados
(significação) e destes com a realidade a que dizem respeito (referência).

 Pragmática: encontra no grego “pragmatiké” (de pragma - acção) a sua raiz.


- Michel Meyer define-a como a disciplina que se prende com os signos na sua relação com os
utilizadores, ou seja, é o uso que se faz da linguagem num dado contexto.
- Para C. Morris, a pragmática é o complemento da sintaxe e da semântica. Na comunicação, na
sua perspectiva, há um signo (sintáctica), um significado (semântica) e um intérprete
(pragmática).

4. Divisão da Lógica
A lógica divide-se em duas partes:
 Lógica formal (teórica, pura ou dialéctica);
 Lógica material (aplicada, especial ou metodologia).

a) Lógica formal interessa-se pelas formas mais gerais do pensamento – conceito, juízo e
raciocínio – procurando apenas que o pensamento seja coerente consigo mesmo. A lógica pura
estuda as condições formais do pensamento válido (estudo das condições da verdade formal).
b) Lógica material trata das relações do pensamento com a realidade objectiva, isto é, estuda
os métodos gerais das ciências em busca da verdade. A lógica aplicada examina as condições de
concordância do pensamento com a realidade (verdade material).
Desta divisão da lógica, infere-se que os enunciados podem ter validade formal ou material:
 Tem validade formal – quando os elementos que constituem um enunciado formam um
todo coerente, sem contradição interna e quando os seus elementos são compatíveis.
Exemplo: Hoje é sábado.

 Tem validade material – quando o conteúdo ou matéria do enunciado está conforme à


realidade, isto é, concordância do pensamento com a realidade.
Exemplo: A água é um composto de hidrogénio e oxigénio.

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5. Lógica do Conceito
Já atrás referiu-se que a lógica formal abrange três domínios: a ideia (ou conceito), juízo
e raciocínio.
Esta primeira etapa ocupar-se-á na abordagem da lógica do conceito.

Conceito ou ideia é a representação universal de alguma coisa ou realidade, ou seja, é a


representação mental das coisas que sintetiza as propriedades comuns aos seres que formam
uma classe.
Exemplo: Quando diz-se mesa, elefante, livro, árvore, pode-se representar mentalmente
todas as mesas, todos os elefantes, todos os livros, todas as árvores.

Os conceitos se formam graças às nossas capacidades de análise, de síntese, de


comparação, de abstracção e de generalização:
 Análise: permite separar mentalmente as partes de um objecto;
 Síntese: capacidade de compor um todo reunindo as partes;
 Comparação: permite estabelecer as semelhanças e as diferenças entre objectos;
 Abstracção: é a capacidade de separar (tirar de…) o essencial do acessório; e a
 Generalização: é a capacidade de reunir os objectos num mesmo conceito.

Termo é a expressão verbal do conceito. O termo é como que a ideia exteriorizada e


concretizada.
Note-se que não convém identificar o termo com a palavra, já que o termo pode ser formado
por várias palavras (animal racional = Homem) e existirem palavras apenas com função
gramatical (e não lógica) que não exprimem ideias (de, que, por, etc.)

Relação entre o Conceito e Termo – o conceito, sendo a representação intelectual de um


objecto, dá imediatamente a noção do objecto, enquanto o termo é a expressão imediata do
conceito e mediata do objecto. Quando nos exprimimos para com o nosso semelhante, a ideia (o
conceito) é anterior ao termo, visto que para comunicarmos aos outros precisamos primeiro ter a
ideia que devemos exprimir; para o nosso interlocutor, porém, o termo é anterior à ideia
(conceito).
Os conceitos são os elementos da esfera ideal dos pensamentos, os termos pertencem à esfera
objectiva a que os pensamentos se reportam:
 O conceito é um produto da actividade do pensamento;
 O termo é a roupagem que veste, o vaso que o encerra e pelo qual se fixa e transmite.

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Conceito e Termo não se confundem: um conceito pode ser expressado por vários termos.
Exemplo: o conceito de “Rei” é por este termo expressado em português, por Hosi em
xichangana, Koenig em alemão, Nan’golo em ximakonde, Rex em latim, Anwene em ximakwa.
A grande maioria dos lógicos distingue termo mental e termo oral ou termo escrito:
 Termo mental é o termo enquanto pensado, equivalendo ao conceito; e
 Termo oral ou escrito2 é a palavra falada ou escrita que exprime o termo mental – o
conceito.

5.1. Classificação dos Conceitos


CRITÉRIOS CLASSES CARACTERIZAÇÃO EXEMPLOS
Simples que não tem (não pode ter)partes ser, nada (ideia de)
A
Segundo a Compostos que são decomponíveis/divisíveis animal, planta…
COMPREENSÃ
O Concretos aplicáveis objectos tangíveis caderno, livro
B
Abstractos aplicáveis a qualidades, acções ou estados beleza, alegria…

Universais aplicáveis a todos elementos de uma classe vertebrado, polígono


Segundo a
Particulares aplicáveis apenas a parte de uma classe alguns alunos, há rãs…
EXTENSÃO
Singulares Aplicáveis apenas a um indivíduo este país, Francisco…

Segundo a Contraditórios oposição e exclusão mútua sábio/não sábio


RELAÇÃO Contrários oposição sem exclusão mútua alto/baixo; pobre/rico
MÚTUA Relativos um não é sem o outro (implicação mútua) direita/esquerda*

Unívocos atribuem-se de modo idêntico a objectos diversos animal (cão, abelha)*


Segundo o
aplicam-se a sujeitos diversos em sentido totalmente canto (dito de ângulo)*
MODO DE Equívocos
distinto canto (dito de cantiga)
SIGNIFICAÇÃ
Aplicáveis a realidades diversas num sentido que não saudável - o corpo
O Análogos
é totalmente idêntico e nem totalmente distinto saudável - os alimentos

Adequados quando representam com perfeição o objecto felino ( dito do tigre)


A
Inadequados quando representam incompletamente o objecto aquático (dito do rã)

Segundo a Claros quando suficientes para fazer reconhecer o objecto falante (o homem)*
PERFEIÇÃO B
Obscuros quando insuficientes para fazer reconhecer o objecto 4 lados (o quadrado)*
COM QUE
REPRESENTA quando permitem distinguir bem um objecto de Faca de cozinha – que
M Distintos outros serve para cortar
O OBJECTO alimentos*
C
quando não permitem distinguir bem um objecto de Química – ciência do
Confusos outros estudo de fenómenos
naturais*

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Neste grupo está incluso outros tipos de termos, tal é o caso dos termos gestuais, simbólicos, sinaléticas, etc.

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5.2. Compreensão e Extensão de Conceitos


Os conceitos podem ser considerados sob ponto de vista de sua extensão (ou denotação) e
da sua compreensão (ou conotação ou intenção).

Compreensão de um conceito é o conjunto de características que determinam esse


conceito (ou ideia) ou seja, é o conjunto de propriedades que caracterizam esse mesmo conceito
e são comuns a todos os sujeitos ou objectos que formam a sua extensão.
Exemplo: Compreendemos que falamos de um ser humano se considerarmos que é um
ser vivo, um animal, um vertebrado, um bípede, mamífero, racional, etc.
Um conceito tem maior compreensão quando se refere à unidade, facilmente
identificável (compreensível), caso contrário, a compreensão é menor.
A compreensão pode ser crescente ou decrescente:
 Crescente: quando a ordenação parte do conceito com menor compreensão para o
conceito com maior compreensão.
Exemplo: 1 2 3 4 5 6 7
Ser Ser vivo Animal Vertebrado Mamífero Racional Clésio
 Decrescente: é o contrário da compreensão crescente.
Exemplo: 1 2 3 4 5 6 7
Clésio Racional Mamífero Vertebrado Animal Ser vivo Ser
Extensão de um conceito é o conjunto de indivíduos (objectos, seres, etc.) a que um
conceito (ideia) se refere, ou seja, é o conjunto de seres ou objectos que o conceito abrange e aos
quais se aplica.
Exemplo: o conceito “ser humano” aplica-se ao Orcídio, aos nossos familiares, aos
colegas de turma, aos asiáticos, aos cientistas, ao alfaiate, etc.
Quanto maior for o conjunto de indivíduos abrangidos por um determinado conceito,
maior será a sua extensão e vice-versa.
Tal como a compreensão, a extensão pode ser crescente ou decrescente:
 Crescente: quando a ordenação parte do conceito com menor extensão para o conceito
com maior extensão.
Exemplo: 1 2 3 4 5 6 7
Clésio Racional Mamífero Vertebrado Animal Ser vivo Ser
 Decrescente: é o contrário da extensão crescente, ou seja, é a ordenação dos conceitos,
partindo do que tem maior para o que tem menor extensão.
Exemplo: 1 2 3 4 5 6 7
Ser Ser vivo Animal Vertebrado Mamífero Racional Clésio

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Relação entre a Compreensão e Extensão de Conceitos: os exemplos dados demonstram que a


compreensão e a extensão do conceito variam entre si na razão inversa: quanto maior é a
compreensão de uma ideia, menor é a sua extensão e vice-versa.

Ser
EXTENSÃO
Ser vivo
Animal
Vertebrado
Mamífero
COMPREENSÃO Racional
Clésio

5.3. Noção de Predicável


Predicável é tudo o que pode ser atribuído a um sujeito.
Exemplo: Da Stélia podemos dizer que é modelo (onde: Stélia é sujeito e o que é dito dela -
modelo - é predicável).
A lógica distingue cinco espécies de predicáveis: género, espécie, diferença específica,
propriedade e acidente.
 Género é o conceito geral que encerra várias espécies, representando os seus traços
comuns.
Exemplo: Animal é género em relação a espécie humana.

Observação: Quando duas ideias (conceitos) estão relacionadas entre si, chama-se género à de
maior extensão. No exemplo, atrás citado, animal (género) em relação a homem (espécie); no
entanto, será espécie (animal) em relação a ser vivo (género), visto ter maior extensão este último
conceito.
 Espécie é o conceito geral que engloba muitos indivíduos semelhantes.
Exemplo: Triângulo é a espécie que convém ao triângulo recto, triângulo isósceles e
escaleno.
 Diferença específica é o conceito geral que se junta ao género (próximo) para distinguir
uma espécie de outra do mesmo género.
Exemplo: A espécie humana distingue-se das restantes do mesmo género (animal) pelo facto
de ser racional. Racional é, pois, neste caso a diferença específica.

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 Propriedade é o conceito geral que assinala uma qualidade que, embora não pertença à
essência do objecto, é inseparável deste, acompanhando-o necessariamente.
Exemplo: A faculdade de rir no homem.
 Acidente é o conceito geral atribuível a um sujeito, mas que não pertence à sua essência,
isto é, o sujeito permanece o mesmo, afirmando ou negando essa qualidade contingente
(acidental).
Exemplo: O homem não deixa de ser homem pelo facto de ser ateu ou crente.

5.4. Definição de Conceitos


A definição tem por objectivo manifestar a compreensão de um conceito, é igualmente um
instrumento na organização do saber. Contribui para a sistematização do conhecimento e tem
importância na produção do conhecimento científico e filosófico.
Quando define-se qualquer conceito, o objectivo é dizer claramente o que é esse conceito
sem deixar margem para qualquer ambiguidade.
A palavra definição provém do latim definire que significa “pôr ou assinalar limites,
circunscrever, determinar”. Por sua vez o termo latino definitio inclui o termo finis que significa
“limite, fronteira”. Definir é então demarcar, delimitar as fronteiras de um conceito relativamente
a outros.

Definição é a operação lógica que consiste em analisar um conceito sob ponto de vista da sua
compreensão; quer dizer: é a operação que consiste em decompor uma ideia nas características
que a constituem, apontando as notas peculiares ou essenciais que caracterizam a ideia (ou seja, é
dizer o que uma coisa é e distingui-la do que não é).
Toda a definição apresenta dois elementos:
 O Definiendum (o definido) é o que se define ou pretende definir; e
 O Definiens (a definição) termo ou grupo de termos usados para explicar ou dar o
significado do definiendum. No exemplo: Triângulo é um polígono de três lados:
 “triângulo” é o definiendum (o definido); e
 “um polígono de três lados” é o definiens (a definição).

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5.4.1. Tipos e Subtipos de Definição

TIPOS SUBTIPOS CARACTERIZAÇÃO E EXEMPLO


É aquela que aponta as notas essenciais do objecto a definir (definiendum),
mediante indicação do género próximo e diferença específica.
Essencial (ou
Exemplo: Quadrado é um polígono de quatro lados iguais.
metafísica)
 Género próximo: polígono;
REAL
 Diferença específica: de quatro lados iguais.
É aquela que se faz mediante a discriminação de características mais evidentes
Descritiva do objecto a definir.
Exemplo: Água é um líquido incolor, inodoro e insípido.

- Define-se segundo o agente criador (produtor) ou segundo a forma como foi


produzida ou donde resulta.
Eficiente ou
Exemplo1: Mel é uma substância doce feito por abelhas (ou outros insectos) a
Genética
partir do suco das flores.
Exemplo2: O macho é resultado do cruzamento do cavalo com a burra.
CAUSAL
Define-se segundo o fim (objectivo) do objecto (objecto feito para…)
Final
Exemplo: Balança é o aparelho que serve para avaliar a massa de um corpo.
Quando indicam quer a causa eficiente quer a causa final.
Eficiente e
Exemplo: Relógio é um instrumento feito pelo relojoeiro e serve para marcar as
Final
horas.

É aquela que define segundo o étimo original da língua primitiva; serve apenas
para precisar o sentido do termo utilizado.
Etimológica
Exemplo: Democracia vem de demo (povo) e cracia (poder) e significa
governo do (e pelo) povo.
Faz-se mediante um termo com o mesmo significado (sinónimo) mais
Sinonímica
NOMINAL conhecido (usual).
(ou Usual)
Exemplo: Um trilátero é um triângulo.
É aquela que define recorrendo ao símbolo, termo, sinal convencionado (ou
atribuído) ao definiendum. Este subtipo de definição é muito usado nas ciências
Estipulativa
naturais.
Exemplo: H2O é água.

É aquela que se faz segundo as regras e/ou as operações que definem o


conceito.
OPERACIONAL
Exemplo: Ebulição é a vaporização a determinada temperatura e pressão
exterior, em toda a massa do líquido.

É aquela que se faz mediante indicação de um exemplar do conceito a definir.


OSTENSIVA Exemplo: - O que é uma definição ostensiva?
- A definição ostensiva é a que está acima deste exemplo.

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5.4.2. Regras de Definição


Para que uma definição seja correcta deve estar em conformidade com as regras.
Há três regras fundamentais da definição:

1ª Regra: A definição deve ser mais clara do que o definido. Por isso:
 não deve conter o termo a definir; deve evitar palavras da mesma família.
Exemplo: Evitar definir a justiça como a qualidade do que é justo.
 deve ser elaborada em termos rigorosos, claros, distintos, precisos.
Exemplo: Evitar definir peixe como sendo animal que nada.
 deve ser breve (se possível definir usando somente o género próximo e diferença
específica);
 não pode ser negativa, excepto nos conceitos privativos.
Exemplo1: Evitar definições do tipo quadrado não é rectângulo.
Exemplo2: Mas define-se analfabeto como sendo o indivíduo que não sabe ler nem escrever.

2ª Regra: A definição deve convir a todo o definido e só ao definido (a definição e o definido


devem ter a mesma extensão). Por isso:
 não deve ser muito restrita (ou seja, a definição não deve ter menor extensão em relação
ao definido).
Exemplo: Evitar definir a geometria como sendo o estudo dos polígonos.
 não deve ser muito ampla (ou seja, a definição não deve ter maior extensão em relação ao
definido).
Exemplo: Evitar definir leopardo como sendo animal felino.

3ª Regra: A definição deve ser recíproca ou convertível (o definiendum e o definiens devem


poder trocar de lugar).
Observação: Toda a definição correcta é convertível.
Exemplo: A definição:
1. Lua cheia é a fase da lua em que a terra se encontra entre o sol e a lua e esta mostra a face
iluminada na totalidade.
Converte-se em:
2. A fase da lua em que a terra se encontra entre o sol e a lua e esta mostra a face iluminada
na totalidade designa-se lua cheia.

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Escola Secundária Joaquim Chissano. Introdução à Lógica I 2022

INTRODUÇÃO À LÓGICA I

1. Surgimento da lógica .................................................................................................................. 1

2. Conceito e objecto da lógica ....................................................................................................... 1

3. Lógica: Coerência do Pensamento e do Discurso....................................................................... 2

3.1. A linguagem: fundamento da humanidade........................................................................... 2

3.2. Linguagem e Comunicação.................................................................................................. 3

3.3. Linguagem, Pensamento e Discurso .................................................................................... 4

3.4. As Dimensões do Discurso Humano.................................................................................... 5

3.4.1. Dimensões Acessórias do Discurso Humano ................................................................ 5

3.4.2. Dimensões Fundamentais do Discurso Humano ........................................................... 6

4. Divisão da Lógica ....................................................................................................................... 7

5. Lógica do Conceito ..................................................................................................................... 8

5.1. Classificação dos conceitos.................................................................................................. 9

5.2. Compreensão e Extensão de Conceitos.............................................................................. 10

5.3. Noção de Predicável........................................................................................................... 11

5.4. Definição de Conceitos ...................................................................................................... 12

5.4.1. Tipos e Subtipos de Definição..................................................................................... 13

5.4.2. Regras de Definição..................................................................................................... 14

O Docente: Milton Francisco Zevute. 15

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