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UNIDADE TEMÁTICA: Introdução à Lógica I

Conceito e objecto de estudo da Lógica

A palavra lógica deriva do grego logos, que significa ciência ou razão, proposição, oração,
pensamento, discurso, linguagem, isto é, tudo que se refere ao saber humano com vista à
conquista da verdade.

Etimologicamente, lógica é a ciência da razão ou do pensamento; é a ciência do discurso


racional; é a .ciência que estuda a dimensão racional do discurso; é a ciência das condições do
pensamento correcto e do pensamento verdadeiro; é o estudo sistemático das formas ou
procedimentos com base nos quais a razão elabora o saber.

A definição mais abrangente é aquela segundo a qual a lógica, é a ciência que estuda as regras
das operações válidas e os processos utilizados pelas várias ciências em busca da verdade.
Assim, a Lógica é a ciência que estuda as condições do pensamento válido, isto é, do
pensamento que procura alcançar a verdade.

Aristoteles é o pai da Lógica, tendo a definido como um instrumento, uma introdução para a
ciência e para o conhecimento.

A obra relevante de Aristóteles no domínio da Lógica é “Organon”, na qual desenvolve os


principais conceitos e mostra a importância da Lógica Formal como instrumento principal do
pensamento, como fundamento da verdade de todo o conhecimento intelectual.

Objecto da Lógica

Sendo a Lógica uma ciência das condições do pensamento correcto e do pensamento verdadeiro,
podemos concluir que ela tem dois objectos: objecto formal e objecto material.

Objecto formal – é a orientação da inteligência para a verdade por meio de operações racionais,
ou seja, a forma que deve revestir o pensamento para se exercer devidamente e assim, evitar a
contradição. No objecto formal, a Lógica está preocupada com a análise da relação dos
elementos envolvidos no enunciado, se estes são coerentes e não têm nenhuma contradição
interna.

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Objecto material – é o saber humano em toda a sua extensão, ou seja, o que permite ao homem
um acordo do pensamento com a realidade.

No que diz respeito ao objecto material, a Lógica analisa não só a coerência do enunciado, mas
também a sua concordância com a realidade.

Lógica como ciência

Surge a partir do momento que o Homem toma os seus processos cognitivos como objecto de
estudo. Pelo que a Lógica é uma ciência porque nos dá a conhecer quais são os processos do
pensamento que nos conduzem à verdade e organiza-os num sistema coerente.

Lógica como arte

A Lógica é uma arte porque, permite realizar uma obra atendendo a certas normas, isto é, uma
técnica que nos leva a pensar bem.

Lógica espontânea

É a ordem que a razão humana segue naturalmente nos seus processos de conhecer e nomear as
coisas. Esta definição remete-nos a ideia de que, mesmo os que não tiveram ou não têm nenhuma
instrução lógica, também são capazes de elaborar enunciados lógicos. Isso porque a inteligência
humana impõe que se ordenem os pensamentos e que estes tenham uma concatenação entre si.
Tal concatenação é o que vai se chamar Lógica, e por ser conatural ao Homem, é qualificada
como “Lógica espontânea”.

A Linguagem como fundamento da condição humana

Antes de abordar a questão de forma mais profunda, é necessário definir os conceitos língua e
linguagem.

Língua – é um conjunto organizado de signos linguísticos. E por signos linguísticos entende-se o


significante e o significado das palavras.

Significante – é uma imagem acústica, associada a um significado em uma língua. É a imagem


gráfica que se materializa através de fonemas e sílabas até formar completamente a palavra.

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Significado – é uma representação mental, a relação de conhecimento que temos com algo. É a
imagem psíquica que se forma em nossa mente associada à materialização da imagem
propriamente dita.

A língua é a materialização da própria linguagem de forma individual. A língua é um produto da


sociedade.

Linguagem – de modo geral, pode-se definir a linguagem como um “sistema de signos”


convencionais que pretende representar a realidade e que é usado na comunicação humana. A
linguagem é todo sistema de signos que serve como meio de comunicação entre os homens.

A linguagem torna-se um conceito filosoficamente importante sobretudo na medida em que, a


partir do pensamento moderno, passa-se a considerá-la como elemento estruturador da relação do
homem com o real.

A linguagem é o fundamento da condição humana, na medida em que o uso da mesma é parte


essencial do quotidiano e de forma intrínseca de ser e de existência humana.

Todas as actividades humanas comportam, na sua essência, o uso da linguagem, facto que resulta
da necessidade que o Homem tem de comunicar-se com os outros.

Para Savater, na obra “Ética para um Jovem”, a linguagem humana é a base de toda a cultura e,
por isso, fundamento da humanidade.

O Homem não é só uma realidade biológica e natural, mas também uma realidade cultural. Por
isso, pode-se afirmar que não há humanidade sem aprendizagem cultural e sem o que é a base de
toda a cultura, a linguagem. Mas há que salientar que esta aprendizagem só pode ser feita através
da língua, num determinado contexto cultural, isso porque toda a linguagem é linguagem de uma
determinada cultura humana.

Linguagem e Comunicação

A linguagem tem como objectivo responder a uma necessidade humana, que é a comunicação.
Os homens aprendem a linguagem para, através da língua, articulada de forma oral, escrita ou
gestual, exprimir seus pensamentos, isto é, comunicar.

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Comunicação – o termo vem do latim “communis”, que significa comum. Isso nos remete a
ideia de comunhão, comunidade. O termo comunicação antes era entendido apenas como
processo de transmissão e recepção de mensagens simples ou complexas no meio oral, escrito ou
gestual. Hoje em dia a comunicação é tida como um fenómeno complexo global que abrange os
meios habituais e todo um conjunto de novos meios, produtos das novas tecnologias (rádio, Tv,
Telemóvel, Fax, Internet, etc.) e mensagens muito diversas (informação, formação, publicidade,
simples conversa, debate, etc.).

Aristóteles afirmou que o Homem é um ser social. Ninguém pode negar, entretanto, que a
comunicação, sobretudo a linguística é condição basilar dessa sociabilidade, que exige um
intercâmbio entre homens de forma a possibilitar a transmissão, de um para o outro, de
experiências, conhecimentos e apelos.

A possibilidade da transmissão do conhecimento é um assunto gnoseológico e é, também, um


assunto da comunicação.

Modelo de comunicação proposto por Roman Jakobson

Roman Jakobson, foi um linguista americano de origem russa. Modelos de comunicação


annteriores a ele, consideravam que os factores da comunicação eram apenas o emissor, a
mensagem e o receptor. Jakobson, acrescenta mais três elementos também importantes, o
contexto, o código e o canal/contacto.

Contexto – a comunicação ocorre sempre dentro de um determinado contexto ou situação.

Código – a comunicação usa um determinado código, isto é, um conjunto de sinais partilhados


entre os interlocutores.

Canal/contacto – no acto da comunicação, o emissor e o receptor estabelecem um contacto entre


si.

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Contexto
(Função referencial)

Emissor → Mensagem → Receptor
(Função emotiva) (Função poética) (Função persuasiva)

Canal ou Contacto
(Função fática)

Código
(Função metalinguística)

Descrição das funções da linguagem segundo Roman Jakobson

1. Função referencial (ou informativa) – está centrada no contexto. Aqui, o emissor centra
a sua mensagem predominantemente no contexto. É um discurso caracterizado pela
objectividade, neutralidade e imparcialidade, visto que o emissor pretende transmitir
sempre informações.

2. Função expressiva (ou emotiva) – está centrada no emissor. Aqui predomina a atitude
do emissor perante o referente, produzindo uma apreciação subjectiva. É um discurso no
qual, o uso de adjectivos e interjeições é frequente. No discurso oral, o tom de voz do
emissor varia consoante o que deseja transmitir.

3. Função persuasiva (apelativa, imperativa ou conativa) – está centrada no receptor.


Consoante o que deseja transmitir, o emissor procura influenciar, seduzir, convencer ou
dar uma ordem ao receptor, provocando nele uma dada reacção. Neste discurso
predominam imperativos e vocativos.
4. Função estética (ou poética) – está centrada na mensagem. A preocipação do emissor
neste tipo de discurso, é de procurar embelezar e melhorar a sua mensagem. Esta função
é evidente na poesia, mas ocorre em qualquer tipo de mensagem.

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5. Função fática – está centrada no contacto, ou seja, no canal. Os interlocutores procuram
assegurar, estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação ou verificar se o meio
usado funciona.

6. Função metalinguística – está centrada np código. Os interlocutores procuram definir ou


clarificar o sentido dos signos para que sejam compreendidos entre si. Nas artes, esta
função está presente na análise do estilo de um autor; no dia-a-dia, está presente quando
perguntamos “compreendes-me?”.

7. Função referencial – permite representar ou descrever factos, estados ou relações entre


as coisas. Os seus enunciados, frases ou expressões, podem ser verdadeiros ou falsos,
conforme o seu conteúdo e a sua adequação à realidade.

8. Função persuasiva – permite a combinação de enuciados, frases ou proposições e


estruturação dos respectivos argumentos justificativos ou comprovativos, que podem ser
válidos ou inválidos.
A lógica tem como missão, averiguar a validade e invalidade dos discursos e também a verdade
ou falsidade dos mesmos.

Linguagem, Pensamento e Discurso: uma relação triádica


As questões que se pretendem responder neste ponto são, se há ou não relação entre linguagem,
pensamento e discurso? Se o pensamento pode separar-se da linguagem? E se o discurso pode
ser discurso sem o pensamento ou sem recorrer à linguagem?
Partindo do pressuposto de que, através da linguagem, os seres humanos comunicam entre si os
seus pensamentos em forma de discurso oral, escrito ou gestual, então há uma relação estreita e
insdissociável entre linguagem, pensamento e discurso. E isso ocorre porque:
 A linguagem é um instrumento e meio ao serviço do pensamento. O que significa que ela
é o suporte do pensamento e através dela, os seres humanos exprimem os seus
pensamentos. Portanto, o pensamento e a linguagem são inseparáveis, um desenvolve-se
em correlação com o outro;

 É através da linguagem que regulamos o pensamento. Sem ela não seria possível
formular conceitos, juízos e raciocínios;

 Os seres humanos dispõem da linguagem, podendo expressar e comunicar, através do seu


discurso, o seu pensamento e aprender cognoscivamente a realidade.

Quando a Filosofia usa o termo discurso, considera-o como uma operação intelectual que se
processa por uma sequência de operações elementares e sucessivas que se encadeiam numa

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sequência de enunciados em que cada um retira seu valor dos antecedentes, procurando chegar a
determinadas conclusões.
A relação entre linguagem, pensamento e discurso, deve-se ao facto do discurso ser uma
manifestação do pensamento e um acontecimento da linguagem.
O termo grego “logos” traduzido significa discurso, razão e ainda linguagem. E segundo a
Filosofia, só há discurso quando temos um conjunto de enunciados articulados entre si de uma
forma coerente e lógica.

As dimensões dos discursos humano

Dimensões fundamentais do discurso: sintáctica, semântica e pragmática

O discurso humano é constituído por diversas dimensões e por isso diz-se que é
pluridimensional. No contexto da lógica as dimensões consideradas mais relevantes e
fundamentais são: sintáctica, semântica e pragmática. Mas existem outras que são: linguística,
textual, lógico-racional, expressiva ou subjectiva, intersubjectiva ou comunicacional,
argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária, institucional e ética, que serão
estudadas mais adiante.

A importância das três dimensões foi destacada pelo filósofo americano Charles Morris (1901-
1979).

Dimensão sintáctica – a palavra “sintaxe” vem do grego syn+taxis (co-ordem, coordenado).


Tradicionalmente, a sintaxe é definida como a parte da gramática que trata das regras
combinatórias entre os diversos elementos da frase. Karl-Otto Apel, afirma que a sintaxe trata da
relação interlinguística dos signos entre si. E para Michel Meyer, a sintaxe estuda as relações
internas que os signos mantêm entre si.

Sintaxe, é o conjunto dos meios que permitem organizar os enunciados, afectar a cada palavra
uma função e marcar as relações que se estabelecem entre as palavras. Portanto, através do
relacionamento de signos chegamos a uma palavra, daqui a uma frase e desta a um texto ou
discurso. Logo, letras expostas ao acaso não formam uma palavra; palavras expostas ao acaso
não formam uma frase e; estas expostas ao acaso não formam um texto nem um discurso.

Dimensão semântica – o termo semântica vem do grego “semantiké”, que significa arte da
significação ou arte (ciência) do significado.
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O fundador da semântica, Michel Bréal, a define como ciência que se dedica ao estudo das
significações.

Michel Meyer, afirma que a semântica trata da relação dos signos com o seu significado, logo,
com mundo.

A semântica trata das relações dos signos (palavras ou frases) com os seus siginificados
(significação) e destes com a realidade a qual dizem respeito (referência).

Dimensão pragmática – a palavra pragmática vem do grego “pragmatiké”, de “pragma”


(acção). Von Humbolt afirma que a essência da linguagem é a acão.

Michel Meyer define a pragmática como a disciplina que se prende com os signos na sua relação
com os utilizadores.

Considerado hipoteticamente como o fundador da disciplina, Charles Morris, exigiu a


pregmática como complemento da sintaxe e da semântica. Segundo ele, na comunicação, há um
signo, um significado e um intérprete, desenrolando-se entre eles uma tríplice relação.

A pragmática é o estudo do uso das proposições, mas também pode definir-se como estudo da
linguagem, procurando ter em consideração a adaptação das expressões simbólicas aos contextos
referenciais, situacionais, de acção e interpessoal. A pragmática lida com a procura de sentido
nos sistemas dos signos, tratando-os na sua relação com os utilizadores, considerando sempre o
contexto, os costumes e as regras sociais.

Qualquer texto oral ou escrito representa fundamentalmente a realização de três actos:

 Locutório – produção de um enunciado de acordo com as regras gramaticais da sua


língua, articulação e combinação de signos e relacionamento sintáctico dos referentes das
palavras;
 Ilocutório – o que faz, dizendo;
 Perlocutório – os efeitos resultantes da acção de dizer.

Do ponto de vista pragmático interessa considerarmos os aspectos ilocutório e perlocutório.

Estas três dimensões são intrinsecamente indissociáveis pois:

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 a sintaxe está preocupada com o que se poderia chamar a forma gramatical da
linguagem;
 a semântica lida com o problema do siginficado das palavras e frases que cosntituem os
nossos enunciados discursivos e remete assim para a relação que a linguagem estabelece
entre o mundo e os objectos, colocando assim o peoblema da referência;
 a pragmática preocupa-se com a utilização que fazemos da linguagem num dado
contexto.

Dimensões acessórias do discurso

Dimensão linguística – o discurso tem esta dimensão, porque é um acto individual de fala em
que um emissor enuncia algo numa determinada língua.

Dimensão textual – o discurso efectiva-se num texto escrito ou oral que se constitui como um
sequência de enunciados ordenados de uma forma coerente.

Dimensão lógico-racional – o discurso é formulado de acordo com uma dada sequência e


encadeamento lógico de proposições.

Dimensão expressiva/subjectiva – porque é humano, o discurso, é sempre expressão de


sentimentos, pensamentos, argumentos, emoções e perspectivas de um dado sujeito.

Dimensão intersubjectiva/comunicacional – o discurso pressupões sempre a possibilidade de


comunicaçõa entre sujeitos: comunicação com o outro ou outros.

Dimensão argumentativa – no discurso em situação de diálogo, ou outra, o(s) sujeito(s)


comunica(m) as suas razões, argumentos e provas para justificar os seus pensamentos e posições.

Dimensão apofântica – a designação foi originalmente estabelecida por Aristóteles e traduz a


relação do discurso com a realidade.

O discurso é sempre um juízo sobre alguma realidade, refere a verdade ou falsidade das coisas a
que diz respeito e traduz sempre uma representação do real.

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Dimensão comunitária e situacional – o discurso é sempre configurado numa língua que
assimilámos à nascença ou que aprendemos depois e que é pertença de uma dada comunidade ou
cultura, estando definidos e estabelecidos os termos da sua utilização.

Dimensão ética

O discurso deverá obedecer e respeitar um código do discurso que podemos chamar “ética da
discussão”, “ética argumentativa”.

Os particpantes no discurso podem e devem:

 falar com verdade;


 através do seu discurso chegar à verdade;
 procurar a verdade e fazer do discurso uma adequação racional à mesma;
 problematizar e questionar as proposições do interlocutor;
 afirmar o que acreditam;
 ser isentos, respeitar e fazer respeitar a sua isenção e a dos interlocutores;
 ter sempre presente, como sujeitos comunicacionais livres, a vontade de chegar a um
acordo ou consenso;
 evitar a contradição.

Os Novos Domínios da Aplicação da Lógica

No que diz respeito aos novos domínios da aplicação da Lógica, encontramos a Cibernética, a
Informática e a Inteligência artificial, como sendo as áreas em que a Lógica tem uma aplicação
prática. Isso significa que, a Lógica tem aplicação no campo técnico-cientéfico, dado que a
inteligência artificial, a cibernética e a robótica são alguns dos vários e novos domínios de
aplicação da Lógica.

Os novos domínios da Lógica surgem com a introdução da programação lógica como uma
tentativa de fazer os computadores usarem raciocínio lógico e a linguagem de programação.

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Esta é um tipo de linguagem usada pelo homem para desempenhar a comunicação com a
máquina, pelo facto desta não reconhecer a linguagem normal do ser humano.

Cibernética – a palavra vem do grego “kybernetiké” que pode ser traduzido por a arte do
piloto. Segundo Platão, cibernética designa a arte de pilotar navios.

Como ciência, a origem da cibernética remota aos anos 30 do século XX, momento em que a
comunidade científica e filosófica debatia a questão das novas máquinas.

A cibernética é uma ciência que nasce em 1942 e teve como impulsionadores Norbert Wiener e
Arturo Rosenblueth. Wiener criou o termo para designar a ciência do controlo, comunicação e
cognição nos animais e nas máquinas.

A cibernética visa “controle e comunicação no animal e na máquina” ou “desenvolver uma


linguagem e técnicas que nos permitirão resolver o problema do controle e comunicação em
geral”.

Arturo, estava convencido de que os sistemas de comunicação dos animais eram semelhantes
aos de uma máquina.

Wiener, criou uma ciência interdisciplinar para o estudo dos sistemas de controlo e comunicação
nos animais e nas máquinas (como se organizam, regulam, reproduzem, evoluem e aprendem).

Cibernética é a ciência da comunicação e do controlo de homens e máquinas. Os computadores


resultam da aplicação desta ciência e, toda a robotização que existe actualmente.

Informática – o termo provém do francês “informatique”, o mesmo foi implementado pelo


engenheiro Philipe Dreyfus (pioneiro da informática francesa) e criador da palavra informática
em 1962, para se referir às disciplinas vocacionadas ao tratamento automático da informação.

A palavra é uma junção de information (informação) e automatique (automática). Por isso, diz-se
que esta ciência dedica-se ao estudo do tratamento automático de informação, que é fornecida a
uma máquina a partir do meio exterior. A informática é a ciência do tratamento racional da
informaçõa por meio de máquinas automáticas.

Inteligência artificial – tem raízes no grande desenvolvimento do computador nos anos 40 e 50.
É inspirada na inteligência natural própria do Homem. A inteligência artificial é um ramo da

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informática que permite desenvolver programas com características de inteligência humana e
está preocupada com o estudo e criação de sistemas que exibam alguma forma de inteligência.

O seu objectivo é desenvolver sistemas computacionais que funcionem e sejam efectivamente


capazes de desempenhar tarefas que exigem altos níveis de inteligência. O importante é que
esses sistemas, sejam capazes de efectuar tarefas inteligentes com eficiência e eficácia.

Princípios da razão

Antes de tratar dos princípios da razão, importa distinguir a validade formal da validade material.

Validade formal – do ponto de vista lógico, refere-se à estrutura ou à articulação coerente dos
elementos de um raciocínio ou argumento, isto é, à sua estrutura formal, que deve obedecer às
regras da construção frásica.

Validade material – é a adequação do conteúdo do nosso raciocínio ou argumento à realidade


pensada ou ao mundo real.

Portanto, o enunciado será formal ou materialmente válido se os elementos que o constituem


formarem um todo coerente e se o seu conteúdo estiver em conformidade com a realidade por ele
expressa.

Forma – refere-se à estrutura do raciocínio ou pensamento, sendo, por isso, sujeita à validade ou
a não validade.

Matéria – refere-se ao conteúdo de um determinado raciocínio ou pensamento, sendo, por isso,


susceptível de ser verdadeira ou falsa.

Conclusão:

 a validade ou invalidade de um argumento ou pensamento diz respeito à conformidade ou


não com as regras gramaticais e com as regras lógicas de inferência ou pensamento
válido;

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 certos argumentos ou pensamentos apresentam-se formalmente válidos, embora os seus
elementos constituintes não sejam verdadeiros;
 a verdade das premissas ou da conclusão de um argumento resulta do confronto do seu
conteúdo com a realidade referida. Portanto, logicamente falando, a verdade diz respeito
ao conteúdo ou matéria do argumento.

Princípios da Razão – são fundamento e garantia da coerência do pensamento. Sem eles não
poderíamos pensar nem formular qualquer verdade. Com efeito, quando pensamos em
determinada coisa, pressupomos o princípio de identidade, dado que pensamos em tal coisa
pressupomos que ela é tal e não outra coisa que não seja, respectivamente, essa determinada
coisa.

Os princípios da razão foram enunciados na Lógica clássica por Aristóteles em termos de coisas
e são modernamente enunciados em termos de proposições.

Proposição é a expressão verbal do juízo, ou seja, uma proposição lógica é uma frase
declarativa pela qual se expressam juízos e sobre a qual se pode afirmar a falsidade ou verdade.

Princípio de identidade

Em termos de coisas:

 Uma coisa é o que é.


 O que é, é, o que não é, não é.
 “A é A” (neste caso, o “A” designa qualquer objecto do nosso pensamento).

Em termos de proposições:

 Uma coisa é equivalente a si mesma.

Princípio da não contradição e a negação de proposições

Em termos de coisas:

 Uma coisa não pode ser e não ser simultaneamente, segundo uma mesma perspectiva.

Em termos de proposições:

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 Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, segundo uma mesma
perspectiva.
 Uma proposição e a sua negação não podem ser simultaneamente verdadeiras.
 Duas proposições contraditórias não podem ser simultaneamente verdadeiras.

Princípio do terceiro excluído (ou do meio excluído) e a negação dos conceitos

Em termos de coisas:

 Uma coisa deve ser ou, então, não ser; não há uma terceira possibilidade (o terceiro é
excluído).

Em termos de proposições:

 Uma proposição é verdadeira ou, então, é falsa; não há outra possibilidade.


 Se encararmos uma proposição e a sua negação, uma é verdadeira e a outra é falsa; não
há terceiro termo.
 De duas proposições contraditórias, se uma é verdadeira, a outra é falsa, e se uma é falsa,
a outra é verdadeira; não há terceira possibilidade.

Na lógica bivalente onde todo o juízo é verdadeiro ou falso, os três princípios fundem-se num
só, podendo ser enunciado da maneira seguinte: duas proposições contraditórias que são a
negação uma da outra não podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas; se uma é verdadeira a
outra é falsa e se uma é falsa reciprocamente a outra é verdadeira.

Princípio da razão suficiente: tudo que existe tem sua razão suficiente em si mesmo ou noutro
considerado sua causa.

Princípio da causalidade: todo o efeito pressupõe uma causa; o que vem a ser exige uma razão
explicativa.

Princípio de substancialidade: tudo o que é acidental pressupõe a substância; o que muda supõe
algo permanente.

Princípio da finalidade: todo o agente age para um fim; o fim é a primeira causa na intenção e a
última na realização.
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Princípio do determinismo: há uma ordem natural das coisas tal que as mesmas causas, postas
nas mesmas circunstâncias, produzem os mesmos efeitos.

Princípio da inteligibilidade: o ser é inteligível; a ordem do ser é a ordem do pensamento.

Princípio da realidade: o mundo exterior existe.

Lógica do Conceito e Termo

Conceito – é a representação mental universal de alguma coisa ou realidade. É o acto mental


pelo qual se confere uma certa qualidade ou qualificação a uma determinada classe de objectos
com características comuns.

Conceito é a apreensão que a mente faz da essência, ou seja, das características determinantes de
um objecto.

Pensar e ver um objecto é algo diferente. Quando vemos o objecto, estamos diante da percepção
ou intuição sensível, na qual o objecto concreto se encontra presente, com todas as suas
características essenciais e acidentais.

Os conceitos se formam graças à nossa capacidade de análise, de síntese, de comparação, de


abstração e de generalização.

Em si só, os conceitos não afirmam e nada negam. Para tal, devem formar juízos, que
sequenciados de forma coerente, formam um raciocínio.

No conceito, não temos o próprio objecto, mas apenas a essência e as características


determinantes de um objecto.

Termo – é a expressão verbal do conceito. O conceito como acto mental que qualifica uma
classe de objectos, ganha a sua forma na linguagem e pela linguagem que permite fixá-lo e
evocá-lo. Essa evocação ou fixação recebe o nome de termo.

Extensão e compreensão dos conceitos

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Um conceito pode ser utilizado para designar determinados indivíduos e determinados objectos.
Mas em simultâneo, o conceito corresponde também a determinadas propriedade e/ou qualidades
desses indivíduos e objectos.

Extensão dum conceito – é o conjunto de seres ou objectos que o conceito abrange e aos quais
se aplica.

 Corresponde ao conjunto dos indivíduos ou objectos que ele pretende designar.

Compreensão dum conceito – é o conjunto das propriedades que o caracterizam e são comuns a
todos os sujeitos ou objectos que formam a sua extensão.

 Corresponde ao conjunto das qualidades por ele (conceito) designadas.

A compreensão e a extensão variam na razão inversa: quanto maior é a extensão, menor é a


compreensão; e quanto menor é a extensão, maior é a compreensão.

Extensão do conceito de “ser humano” – é o conjunto dos indivíduos a que se chama seres
humanos.

Maria, João, Isac, Sócrates e todos outros indivíduos que integram o conjunto de seres humanos,
para que assim sejam designados, têm, também de possuir qualidades próprias dos seres
humanos: serem seres vivos, animais, vertebrados, mamíferos, bípedes.

Relação entre extensão e compreensão dos conceitos

Entre extensão e compreensão dos conceitos estabelece-se uma relação qualitativa.

A extensão do conceito “ser vivo” é enorme, porque abrange todas as plantas e todos os animais.
Por essa razão, a sua compreensão é menor.

A extensão do conceito “Homem” é muito menor que o conceito “ser vivo”. Por isso, a sua
compreensão é maior.

Quanto mais geral for o conceito, tanto mais vazio de significado será, e quanto menos geral for
o conceito, mais significativo e compreensível ele será.

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O conceito de maior extensão, em relação ao de menor extensão, chama-se género. E, o conceito
de menor extensão, comparativamente àquele (de maior extensão), é denominado espécie.

Ser – género em relação ao Ser vivo – espécie

Ser vivo – género em relação ao animal – espécie

Os géneros são conceitos cuja extensão constitui grandes ou menores conjuntos, sendo que nos
mesmos se agrupam outros conceitos ainda de menor extensão e que os referentes dos mesmos
têm em comum as mesmas características, mas cada um com a sua diferença específica.

Classificação dos conceitos e dos termos

Critérios para a classificação dos conceitos e dos termos

Segundo a compreensão

 Simples – não têm (não podem ter) partes.


Ex: a ideia de Ser, Deus...
 Compostos – são divisíveis ou têm partes.
Ex: Homem, Animal, Planta...
 Concretos – aplicáveis a sujeitos ou objectos corpóreos, palpáveis.
Ex: cão, gato, livro, caderno...
 Abstractos – aplicáveis a qualidades, acções ou estados.
Ex: Amor, beleza, tristeza, amizade, alegria e ódio...

Segundo a extensão

 Universais – aplicáveis a todos os seres ou elementos duma classe ou conjunto.


Ex: Homem, cadeira, lápis, caderno...
 Particulares – aplicáveis apenas a uma parte de uma classe.
Ex: alguns homens, certos lápis, alguns cadernos...
 Singulares – aplicáveis apenas a um ser ou elemento duma classe.

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Ex: este caderno, esta cadeira, Pedro, Maria...

Segundo a relação mútua

 Contraditórios – oposição e exclusão mútua.


Ex: ser/não ser, branco/não branco...
 Contrários – oposição sem exclusão mútua.
Ex: branco/preto, alto/baixo...
 Relativos – um não é sem o outro (implicação mútua).
Ex: pai/filho, direita/esquerda, esposo/esposa...

Segundo o modo de significação

 Unívocos - atribuem-se de modo idêntico a objectos diversos.


Ex: Homem (Paulo e Joana); Animal (Gato e Leão)
 Equívocos – aplicam-se a sujeitos diversos em sentido totalmente distinto.
Ex: Cão (animal) e cão (constelação); canto (ângulo formado por duas paredes de uma
casa) e canto (som melodioso emitido por pássaros ou coro de uma igreja).
 Análogos – aplicáveis a realidades divirsas num sentido que não é totalmente idêntico
nem totalmente distinto.
Ex: saudável (corpo) e saudável (alimentos)...

Segundo a perfeição com que representam o objecto

 Adequados – quando representam com perfeição o objecto.


Ex: felino (tigre); carnívoro (cão)
 Inadequados – quando representam incompletamente o objecto.
Ex: ave (morcego); aquático (peixe)
 Claros – quando suficientes para fazer reconhecer o objecto.
Ex: racional (Homem)
 Obscuros – quando insuficientes para fazer reconhecer o objecto.
Ex: mamífero (Homem)
 Distintos – quando permitem distinguir bem um objecto dos outros.
 Confusos – não permitem uma boa distinção entre os objectos.

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A Definição

A palavra definir provém do latim “definire”, que significa delimitar ou indicar limites,
circunscrever, determinar a fronteira.

É um enunciado que explica o significado de um termo (palavra, frase ou conjunto de símbolos).

A definição manifesta a compreensão de um conceito, diferentemente da classificação e da


divisão, que manifestam a extensão dos conceitos.

Definir um conceito é pretender determinar com rigor a sua compreensão exacta. É indicar os
seus limites de modo a não se confundir com os demais conceitos. Portanto, a definição é a
operaçao lógica que consiste em determinar com rigor a compreensão exacta de um conceito. Ex:
definir gato (animal que mia).

Como definir um conceito?

A definição faz-se enumerando as qualidades essenciais de um conceito, para que sua noção seja
tão clara e precisa que, sabendo com exactidão o que ele é, o distingamos com nitidez do que ele
não é.

A definição faz-se em geral pelo género próximo (terreno comum; o que há de comum) e a
diferença espécifica (características que é preciso acrescentar ao género próximo para se obter a
espécie a definir; é a característica que torna algo diferente de qualquer outra coisa, é a
delimitação do próprio terreno). Ex: O Homem é um animal racional.

Tipos e subtipos de definição

Tipos Subtipos Caracterização


Essencial ou É feita indicando o género próximo e a diferença específica. Ex:
Metafísica O Homem é um animal racional; Triângulo é um polígono de
três lados.
Física É feita mediante as propriedades externas da coisa a definir.

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Real É feita mediante a enumeração das características físicas
Descritiva relevantes e significativas do objecto. Ex: A água é um líquido
transparente, incolor, insípido e inodoro.

Genética É feita segundo a forma como foi produzida ou donde resulta a


coisa a definir.
Genética e É feita segundo a finalidade para a qual o objecto a definir foi
Causal Final feito.
Eficiente É feita segundo o agente produtor.
É feita segundo a origem da palavra a definir, isto é, segundo o
Etimológica étimo da palavra.
Nominal É feita com recurso a um termo sinónimo mais conhecido, ou
Sinonímica seja, recorrendo a outra palavra com mesmo significado. Ex: O
cheiro é um odor.
É feita segundo as regras e/ou operações que definem o
Operaciona Operacional conceito. Consiste em definir um conceito procedendo à sua
l avaliação e clasificação.

NB: a melhor definição, aquela que, em rigor, é uma definição, é a definição real – em primeiro
lugar a essencial, a que mais convém à metafísica; em segundo lugar a descritiva, aquela que as
ciências privilegiam quando têm de oferecer uma definição por classificação. Hoje, as ciências
recorrem preferencialmente às definições operativas.

Regras de definição

Para que uma definição seja considerada logicamente correcta, deve obedecer
incondicionalmente às regras que a seguir apresentaremos.

1ª A definição deve ser mais clara do que o definido. Por isso não deve conter o termo a definir;
deve evitar palavras da mesma família; deve ser elaborada em termos rigorosos, claros, distintos
e precisos; deve ser breve; não deve ser negativa, quando pode ser afirmativa (exceptuando a
definição de conceitos ou termos que são, por essência, negativos, os quais designam privação),
por exemplo: surdo é aquele que não ouve.

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Ex: O Homem é um ser humano; O rectângulo é uma figura rectangular; Bonito é o que não e
feio; Móvel é o que não é imóvel. (Nestes exemplos viola-se a regra da não circularidade).

Ex: As crianças são flores que nunca murcham. (Esta definição não é clara nem precisa).

2ª A definição deve convir a todo o definido e só ao definido, ou seja, a definição deve poder
aplicar-se a todos os seres que estão a ser definidos e só a eles. Por isso não deve ser muito
restrita nem muito ampla, pois, se for muito ampla, abrangerá seres ou objectos que não estão a
ser definidos e, ser for muito restrita, poderá excluir alguns elementos pertencentes à extensão do
conceito a definir, impossibilitando a reciprocidade.

Uma definição é válida quando aquilo que se atribui ao sujeito pertence só e só a ele. Ex: O
Homem é um animal racional; o gato é um animal que mia.

3ª A definição deve ser recíproca. Por isso o definido e a definição devem poder trocar de lugar.

Ex: O Homem é um animal racional. Ou então o Animal racional é Homem.

Os indefiníveis

Os conceitos considerados indefiníveis são agrupados em três espécies:

Géneros supremos – são indefiníveis por excesso de extensão, daí não possuírem os seus
géneros mais próximos em que se possam incluir. Ex: o conceito de “ser”.

Indivíduos – são indefiníveis por excesso de compreensão. Por conta disso, torna-se muito
difícil, descobrir num indivíduo uma característica (a diferença específica) que seja suficiente
para que se possa distinguir dos outros indivíduos conhecidos ou por conhecer. Sendo assim, eles
só podem ser nomeados ou descritos.

Dados imediatos da experiência – são por si só clarríssimos, não havendo, por isso, nenhuma
definição que possa clarificá-los ainda mais. Nenhuma definição do “prazer” ou “dor”,
“amargura” ou “doçura” nos tornaria mais claro o que a experiência sobre eles nos diz. Pois,
compreende melhor esses sentimentos, quem alguma vez teve essas experiências do que aquele
que ainda não as teve.

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