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O PENSAMENTO E O DISCURSO

I. LINGUAGEM E PENSAMENTO

Quando observamos as plantas, as flores e os animais não podemos deixar de


ficar admirados pela diversidade das formas e das cores que apresentam.

Hoje, em dia, admite-se que essas cores e formas constituem sistemas de


comunicação que permitem o estabelecimento de relações entre os diversos
intervenientes da vida do nosso planeta.

Sabemos, por exemplo, que as plantas utilizam as cores como formas de


linguagem na sua comunicação com os animais, seduzindo e atraindo uns,
advertindo e repelindo outros, como é o caso das plantas que usam as suas flores
para atrair os insectos a fim de permitir a o processo de polinização, essencial para
a reprodução e perpetuação de sua espécie

Sabemos também que os animais usam uma linguagem cromática, é o caso de


certas serpentes venenosas que usam cores muito vivas para alertar os outros
animais da sua, etc, etc.

A linguagem é um elemento essencial para a comunicação entre os seres vivos,


em especial no caso dos seres humanos, que é o que nos interessa agora. Com
efeito, o uso da linguagem faz parte essencial da vida e da acção humanas, é pela
linguagem que o ser humano se apropria da realidade

No entanto, diferentemente das plantas e dos animais, os seres humanos pensam,


falam e argumentam, isto é, usam sistemas de linguagem mais complexos para
pensar e comunicar, sendo, por isso que pensamento e linguagem estão
necessariamente interligados como as duas faces de uma mesma moeda.

A reflexão filosófica consiste, essencialmente, numa experiência de pensar. Ora,


pensar, é um acto lógico que implica o estabelecimento de relações entre conceitos
traduzidos na linguagem por palavras ou conjunto de palavras, os signos
linguísticos. É por isso que não podemos pensar sem palavras pois, com efeito,
pensar é pensar com palavras.

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Assim, podemos concluir que não há pensamento sem linguagem porque o


pensamento opera-se e exprime-se numa linguagem; é na linguagem que o
pensamento toma forma.

II. OBJECTO E SIGNIFICADO DA LÓGICA

A lógica é um termo derivado do vocábulo grego logos que significa ideia, palavra,
razão e regularidade, e emprega-se para designar tanto o conjunto de regras que
acata o processo de pensar, reflexo da realidade, como a ciência das regras de
raciocínio e das suas formas; o termo pode também, ser empregue para designar
as regularidades do mundo objectivo.

Etimologicamente o termo lógica significou, na antiguidade nas obras de Platão e


Aristóteles, teoria da ciência; também os filósofos medievais definiram a lógica
como a arte das artes ou a ciência das ciências.

O pensamento não é só objecto de estudo da lógica mas também de outras


ciências tais como, a psicologia, a cibernética, a pedagogia, etc., com a
particularidade de que cada uma só aborda um aspecto determinado do
pensamento. A psicologia por exemplo, investiga-o no que diz respeito às suas
motivações e descobre as suas peculiaridades individuais. A cibernética está
interessada nos seus aspectos relacionados com o processamento rápido e
eficiente da informação nos computadores, a interdependência do pensamento e
da linguagem (natural e artificial), a pedagogia estuda-o enquanto processo
cognoscitivo de instrução e educação da jovem geração.

A lógica aborda o pensamento a partir de posições distintas. Investiga-o como meio


de conhecer o mundo objectivo, assim como as suas formas e leis que reflectem o
mundo no processo de pensamento. Visto que os processos de conhecimento do
mundo são estudados em plena medida pela filosofia, a lógica é uma ciência
filosófica.

Assim sendo, podemos definir a Lógica como sendo a ciência que estuda as leis e
formas do pensamento correcto.

Podemos distinguir um duplo objecto da lógica: formal e material.

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O objecto material da lógica é o saber humano em toda a sua extensão. Abrange,


por isso, o conhecimento vulgar, o científico e o filosófico. Estes conhecimentos
apenas interessam à lógica no aspecto meramente formal, ou seja, enquanto às
várias formas que a razão utiliza na elaboração dos seus raciocínios.

O objecto formal da lógica é orientar a inteligência para a verdade, por meio de


operações racionais.

A lógica pode considerar-se como ciência e como arte.

Como ciência preocupa-se com as formas gerais do pensamento; como arte


apresenta-nos um conjunto de normas ou regras para pensar correctamente.

III. RELAÇÕES ENTRE A LÓGICA, A GRAMÁTICA E A PSICOLOGIA

Foi Aristóteles quem fundou a lógica como ciência, embora a palavra só fosse
generalizada pelos estóicos, para significar a ciência do raciocínio.

É frequente aproximar a lógica, que se ocupa das regras do pensamento válido, da


gramática, que estuda as regras para exprimir correctamente esse pensamento.

De facto, nota-se uma certa correspondência entre as categorias lógicas e as


categorias gramaticais. Assim, à categoria lógica substância corresponde a
categoria gramatical substantivo; à qualidade, o adjectivo; à quantidade, o numeral;
à acção e relação, o verbo; ao lugar, o tempo, o advérbio, etc..

No entanto, a lógica é mais rica do que a gramática, pois as vezes não


conseguimos exprimir convenientemente o nosso pensamento. Foi isto que levou a
procurar uma expressão mais rigorosa do pensamento por meio de símbolos
próprios – o que constitui o objecto da logística. É bom frisar ainda que há muitas
línguas e muitas gramáticas, mas existe uma só lógica.

Podemos concluir que a lógica perfeita deve utilizar uma linguagem correcta e a
gramática deve apoiar-se nas leis da lógica.

A lógica distingue-se da psicologia, pois esta estuda todos os fenómenos do


espírito, tais como eles se manifestam, pela observação e experiência; ela

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considera o espírito não apenas quando pensa, mas também quando sente e
actua; é a ciência dos fenómenos psíquicos, como são, considerados na sua
realidade. A lógica estuda somente as operações intelectuais ou a inteligência,
indicando como esta deve proceder para atingir a verdade; é a ciência das
operações da inteligência como devem ser, aprecia o seu valor em relação a uma
norma, que é a verdade.

A psicologia é positiva, descritiva e indutiva; a lógica é prática, normativa e


dedutiva. As leis psicológicas são positivas – ligam factos; as leis lógicas são ideais
– ligam ideias.

Embora diferentes, a psicologia é bastante útil à lógica. De facto, a psicologia,


estudando as condições em que se exercem todas as nossas actividades psíquicas
e, portanto, também as de natureza intelectual, permite ao lógico conhecer os
factores psicológicos que podem falsear o exercício válido dessas actividades.

A psicologia, esclarecendo as causas dos nossos erros e das nossas ilusões, é um


excelente auxiliar da lógica.

IV. DIVISÃO DA LÓGICA

A lógica divide-se em duas partes:

1. Lógica formal (teorética, pura ou dialéctica);


2. Lógica material (aplicada, especial ou metodologia).

A lógica formal interessa-se pelas formas mais gerais do pensamento – ideia, juízo
e raciocínio – procurando apenas que o pensamento seja coerente consigo
mesmo. Pode definir-se como sendo a ciência que estuda as leis a que devem
conformar-se as operações da inteligência para serem válidas e poderem atingir a
verdade.

A lógica material determina as leis do pensamento nas suas relações com este ou
aquele objecto, com esta e com aquela ciência; ela estuda o acordo do
pensamento com a realidade. Aplica as regras formais à matéria ou à investigação
da verdade, indicando os processos a seguir na procura da mesma. Esta pode

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definir-se como a ciência das condições da descoberta e processos de


demonstração da verdade.

V. HISTÓRIA OU EVOLUÇÃO DA LÓGICA

A lógica não teve sempre o aspecto que hoje apresenta; desde os gregos até os
nossos dias surgiram muitas ideias a este respeito, das quais aqui colocaremos as
principais.

Sócrates e Platão, consideravam a lógica como a arte de discutir, de persuadir e de


ensinar em forma de diálogo – era a dialéctica.

Aristóteles, aproveitando-se de elementos dialécticos anteriores, deu-lhes uma


sistematização rigorosa e criou a teoria do silogismo. Para este filósofo, a lógica é
um conjunto de leis, de valor universal e absoluto, reguladoras de todo o raciocínio.
O seu organon, que contém estas leis, é uma espécie de código do pensamento,
conhecimento poderia escapar à sua aplicação. Era por conseguinte, uma lógica
dedutiva, ou a priori, de carácter silogístico.

Esta lógica de carácter dedutivo-silogística foi retomada na Idade Média e


latinizada em alguns dos seus aspectos, mas sem alterar os princípios básicos
estabelecidos por Aristóteles.

Na época moderna, quando se começaram as ciências experimentais, os


investigadores, pondo de parte a lógica dedutiva, empregaram novos processos de
investigação, obtendo bons resultados. Apareceu assim uma nova lógica, fundada
na observação e na experimentação, que pode definir-se como um conjunto de
processos ou métodos para atingir a verdade em cada ciência. É uma lógica
indutiva, a posteriori, de carácter experimental. A lógica formal de Aristóteles perde,
assim, o predomínio, em benefício da metodologia.

Esta nova lógica foi desenvolvida por Francis Bacon que, na sua obra Novum
Organon, procurou substituir a dedução silogística pela indução amplificante, que
permite passar dos factos às leis.

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Vinte anos depois, Descartes no seu livro Discours de la Méthode afirmou que a
lógica aristotélica não permite fazer qualquer descoberta científica, e, por outro
lado, não chegavam as bases experimentais para o desenvolvimento das ciências.
Era por isso, necessário usar a razão, esboçando um novo processo dedutivo,
diferente do silogístico – a chamada dedução matemática ou construtiva que, em
vez de proceder sempre do geral para o particular, pode passar do geral para o
mais geral. Este raciocínio foi mais tarde usado por Poincaré, que via nele, uma
espécie de virtude criadora e precisado por Globot.

A lógica moderna, por conseguinte, é predominantemente uma lógica indutiva e


emprega uma nova forma de dedução – a dedução matemática.

Os filósofos de Port-Royal, ou sejam os jansenista, considerando a lógica como


sendo a arte de pensar, ligaram importância não só à lógica aristotélica, de carácter
dedutivo, como à baconiana, de carácter indutivo e mostraram que elas se
completavam uma à outra; uniram, assim, a lógica e a metodologia.

Ainda na Idade Moderna, entre muitas outras correntes, apareceram os trabalhos


de Leibniz. Este, seguindo Descartes, quis aplicar à lógica o cálculo matemático e
criar símbolos ou algoritmos que evitassem as deficiências das expressões verbais,
usadas na lógica aristotélica, e permitissem raciocinar à maneira algébrica.

Esta ideia de Leibniz foi desenvolvida mais tarde, já na Idade Contemporânea, por
Boole, Peano, Russel, etc., e deu origem à logística ou lógica matemática, que hoje
tem inúmeras aplicações e é objecto de diversos estudos.

A lógica indutiva de Bacon também encontrou continuadores, entre os quais Stuart


Mill, que insistiu na necessidade de desenvolver o raciocínio indutivo.

VI. CONCEITO DE FORMA LÓGICA E DE LEI LÓGICA


1. FORMA LÓGICA

A forma lógica de uma ideia concreta é a estrutura da mesma, ou seja, o modo de


ligação das suas partes componentes. As leis e as formas lógicas não são uma
mera envoltura, mas o reflexo do mundo objectivo. Mas não é o reflexo de todo o
conteúdo do mundo existente fora de nós, senão das suas concatenações

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estruturais gerais que se encarnam necessariamente na estrutura dos vínculos das


nossas ideias.

A estrutura de uma ideia, ou seja, a sua forma lógica, pode ser expressa mediante
símbolos. Ex.:

“Todos os carássios são peixes”; “Todos os homens são mortais” e “Todas as


borboletas são insectos”.

Estes juízos não têm o mesmo conteúdo mas, a mesma forma lógica: Todos os S
são P; sendo que, S é o sujeito, P é o predicado ou seja, o conceito de indício; são,
representa a cópula que às vezes pode ser subentendida e o Quantificador
universal, Todos.

Os seguintes juízos, também apresentam a mesma forma: “Se se aquecer um


ferro, ele dilatar-se-á” e Se um estudante estuda lógica, aumentará a precisão do
seu pensamento”. Os dois juízos têm a mesma forma: Se o S é P, o S será P1.

2. LEIS LÓGICAS

A observação das leis da lógica é a condição sine qua non do alcance da verdade
no processo de raciocínio. Podem considerar-se leis fundamentais da lógica formal:
1. A lei da identificação; 2. A lei da não contradição; 3. A lei do terceiro excluído; 4.
A lei do fundamento suficiente.

As leis lógicas agem independentemente da vontade dos indivíduos, não foram


criadas pela sua vontade e desejo. Reflectem as concatenações e relações das
coisas do mundo material. O carácter humano universal das leis da lógica formal
consiste em que, em todas as épocas históricas, os homens de todas as classes e
de todas nações pensam segundo as mesmas leis lógicas.

VII. VALIDADE DA IDEIA E JUSTEZA DOS RACIOCÍNIOS

O conceito de verdade e de falsidade diz unicamente respeito ao conteúdo


concreto de tal ou tal juízo. Se um juízo reflecte correctamente o que tem lugar na
realidade, é autêntico, caso contrário, é falso. Por exemplo, o juízo “Todos os lobos

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são carnívoros” é verdadeiro e o juízo “Todos os cogumelos são venenosos” é


falso.

O conceito de justeza formal do raciocínio diz unicamente respeito às acções e


operações lógicas do pensamento. Se as nossas premissas são justas e se
aplicarmos correctamente a elas as leis do pensamento, a dedução corresponderá
à realidade. Se entre as premissas da ilação há uma falsa, mesmo quando
observamos as regras da lógica, teremos na dedução ou uma verdade ou uma
falsidade.

VIII. LÓGICA DO CONCEITO

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Esquema 1

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Esquema 2

1. Ao pensar o homem utiliza conceitos (casa, carro, lápis...). Um conceito, em


lógica, define-se como uma representação mental dos objectos ou seres da
mesma espécie. Um conceito é uma ideia geral que representa aquilo que as
coisas da mesma espécie têm de permanente, imutável e comum.

2. Um conceito não é verdadeiro, nem falso, porque nada afirma, nem nega.
Podem todavia ser possíveis (animal racional) ou impossíveis (circulo quadrado),
segundo são formados por elementos logicamente compatíveis ou incompatíveis
entre si.

3. Formamos estas ideias por um processo de abstracção e generalização. Este


processo designa-se por conceptualização.

4.Os conceitos são expressos por múltiplos termos. Em Lógica não se pode
confundir o termo com a palavra visto que, um termo pode ser constituído por
várias palavras.

5. Nem sempre as palavras que usamos para nos referirmos a algo expressam

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com clareza o que pretendemos significar, o que se traduz em frequentes


equívocos na comunicação oral. Este facto mostra a importância não apenas do
estudo do conceito, mas também da adequação dos termos que usamos para os
exprimir.

6. Podemos considerar um conceito ou um termo sob o ponto de vista da sua


compreensão ou extensão.

a) A compreensão de um conceito/termo consiste no conjunto de propriedades


que atribuímos a uma coisa ou ser;

b) A extensão representa o número de seres abrangidos por essas


características.

7. Da relação entre a compreensão e a extensão podemos extrair a seguinte


regra: "Quanto maior é a compreensão menor é a extensão". O mesmo é dizer:
quanto mais nos afastamos do individual, menor é a compreensão, e maior é a
extensão.

1. CLASSIFICAÇÃO DOS CONCEITOS

Os conceitos podem classificar-se segundo diversos critérios; as suas espécies


mais importantes são as seguintes:

CRITÉRIOS CLASSES CARACTERIZAÇÃO EXEMPLOS


Segundo a Simples Que não tem partes Ser (a ideia de ser)
COMPREENSÃO Composto Que são Homem, Animal, Planta
decomponíveis/divisíveis
Concretos Aplicáveis a sujeitos ou Cão, Gato, Caderno
objectos
Abstractos Aplicáveis a qualidades, Beleza, Amizade, Alegria
acções ou estados
Segundo a EXTENSÃO Universais Aplicáveis a todos os Homem, Círculo, Mesa
elementos de uma classe
Particulares Aplicáveis apenas a parte Alguns homens; estes
de uma classe livros
Singulares Aplicáveis apenas a um Pedro, António, este
indivíduo carro
Vazios Possuem uma extensão Homem que viveu 500
vazia ou nula anos
Segundo a RELAÇÃO Contraditórios Oposição e exclusão mútua Ser/N ser; Branco/N
MÚTUA branco

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Contrários Oposição sem exclusão Branco/Preto; Alto/Baixo


mútua
Relativos Um não é sem o outro Pai/Filho;
(implicação mútua) Direita/Esquerda
Segundo o MODO DE Unívocos Atribuem-se de modo Homem (dito de Pedro,
SIGNIFICAÇÃO idêntico a objectos diversos …)
Equívocos Aplicam-se a sujeitos Cão (dito da
diversos em sentido constelação)
totalmente distinto
Análogos Aplicáveis a realidades Saudável (aplicado ao
diversas num sentido que corpo) Saudável (dito
não é totalmente idêntico dos alimentos)
nem totalmente distintos
Segundo a PERFEIÇÃO Adequados Quando representam com Falante (a propósito do
COM QUE perfeição o objecto Homem)
Inadequados Quando representam Ave (a propósito do
REPRESENTAM O
incompletamente o objecto morcego)
OBJECTO
Claros Quando suficientes para Omnipotente
fazer reconhecer o objecto
Obscuros Quando insuficientes para Vivente
fazer reconhecer o objecto
Distintos Quando permitem distinguir Maçã
bem um objecto de outro
Confusos Quando não permitem
distinguir suficientemente
um objecto de outro

2. RELAÇÕES ENTRE CONCEITOS

Os objectos do mundo intercomunicam e interdependem. Por isso, os conceitos


que reflectem tais objectos também, mantém determinadas relações entre si.

Os conceitos distintos pelo seu conteúdo chamam-se incomparáveis e os demais


conceitos, comparáveis.

Os conceitos comparáveis dividem-se pelo seu volume em compatíveis (os


volumes de tais conceitos coincidem por completo ou em parte) e incompatíveis (os
seus volumes não coincidem em nenhum elemento).

TIPOS DE COMPATIBILIDADES: equivalência (identidade), cruz (intercessão)


e subordinação (relação de género e da espécie)

As relações entre conceitos são apresentadas mediante esquemas circulares


(círculos de Euler), onde cada círculo designa o volume de um conceito. Se um
conceito é singular, também é representado por um círculo.

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Chamam-se equivalentes ou idênticos, aos conceitos que se distinguem pelo seu


conteúdo, mas coincidem nos seus volumes, isto é, que representam uma mesma
classe constituída por um elemento ou uma mesma classe de objectos constituída
por mais de um elemento. Ex.: Rectângulo equilátero e Quadrado! Os volumes dos
conceitos idênticos são representados por círculos totalmente coincidentes.

Os conceitos cujos elementos coincidem em parte, ou seja, contêm elementos


gerais, encontram-se numa relação de Cruz. Ex.: Engenheira e Mulher;
Desportista e Estudante! Representam-se com círculos cruzados.

A relação de subordinação é caracterizada pelo facto do volume de um conceito


se incluir por completo no volume de outro, mas não o esgota. É a relação do
género e da espécie. Ex.: Mamífero e Gato!

TIPOS DE INCOMPATIBILIDADE: co-subordinação, contrariedade, contradição

Co-subordinação ou coordenação: é a relação entre os volumes de dois ou mais


conceitos que se excluem reciprocamente, mas pertencem a um conceito genérico
mais geral. Ex.: Mangueira, Cajueiro, Pinheiro, pertencem ao volume do conceito
árvore. São representados com círculos separados, não cruzados, dentro de
círculo mais amplo. São espécies de um mesmo género.

Numa relação de contrariedade, encontram-se os volumes de dois conceitos que


são tipos de um mesmo género, quando um deles contém certos indícios e o outro,
além de negá-los, substitui-os por outros, que os excluem (ou seja, indícios
contrários). As palavras que expressam os conceitos contrários são antónimos. Ex.:
Valentia e Cobardia.

Na relação de contradição encontram-se dois conceitos que são espécies de um


mesmo género, quando um conceito indica uns indícios e o outro os nega, exclui,
sem substituí-los por outros. Se designamos um conceito com A (por ex., casa
alta), devemos designar outro conceito que se encontra na relação de contradição
com não-A (isto é, casa não alta). O círculo de Euler, que expressa o volume de
tais conceitos, divide-se em duas partes (A e não-A), sem que exista um terceiro
conceito entre eles. Ex.: Papel e Não papel.

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3. OPERAÇÕES COM CONCEITOS


3.1. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS

A definição do conceito é uma operação lógica que revela o conteúdo do conceito


ou estabelece o significado do termo. Definir um conceito é dizer o que uma ideia é,
é analisar a sua compreensão.

O conceito cujo conteúdo é preciso esclarecer chama-se definido (abreviadamente


Dfd) e o conceito com que se define, definidor (abreviadamente Dfn).

Podemos distinguir duas espécies de definições:

A definição nominal, exprime o sentido de uma palavra a partir do étimo que lhes
deu origem – ex.: o filósofo é o amigo da sabedoria ou nos dá o significado dum
vocábulo por meio doutra palavra mais conhecida – ex.: um pigmeu é um anão; No
primeiro exemplo, a definição é etimológica e no segundo, é usual.

A definição real a que exprime a natureza do próprio objecto que a palavra


representa; esta pode ser: essencial ou característica, causal e descritiva.

A definição essencial ou característica atinge os caracteres essenciais das coisas


ou objectos; é aquela que se faz, tanto quanto possível, pelo género próximo e
diferença específica. Ex.: Homem é um animal racional. Animal (género mais
próximo) e Racional (a diferença específica).

A definição causal é aquela que indica quer a causa eficiente quer a causa final (ou
ambas) de algum objecto. Ex.: O relógio é um instrumento feito pelo relojoeiro e
serve para marcar as horas.

A definição descritiva é aquela que, por não se alcançarem os caracteres


essenciais (género próximo e diferença específica), enumera as características
exteriores mais salientes de um objecto que a individualizam e permitem distingui-
la de todas as outras. Ex.: Homem é um mamífero, bípede, de posição erecta, etc.!

REGRAS DA DEFINIÇÃO ESSENCIAL

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1. A definição deve ser mais clara do que o definido: não deve conter o termo a
definir, deve ser feita em termos precisos e distintos, deve ser breve e não
pode ser negativa.
2. A definição deve convir a todo o definido e só ao definido, quer dizer, não
deve ser muito restrita (ex., o homem é um ser racional de cor branca), nem
demasiado larga (ex., o homem é um animal).
3. A definição deve ser recíproca, isto é, sendo o definido o primeiro membro
de uma igualdade e o definidor o segundo, devem poder trocar o seu lugar;
com efeito, dizer que o “homem é animal racional”, pode transformar-se em
“o animal racional é homem”.

OS INDEFINÍVEIS

Do que ficou exposto a cima, podemos concluir que só é possível definir,


verdadeiramente, termos gerais (espécies).

Não é possível definir os indivíduos, por excesso de conteúdo ou compreensão; os


géneros supremos, por excesso de volume ou extensão; os dados imediatos da
experiência, pela sua clareza intuitiva e imediata; designam-se por indefiníveis.

Há, contudo, tentativas de definição, que poderemos chamar esclarecimentos


ocasionais, mas que não são autênticas definições.

3.2. LIMITAÇÃO E GENERALIZAÇÃO DE CONCEITOS

Suponhamos que sabemos que alguém é cientista. Precisemos: é um cientista


soviético, um célebre cientista soviético, um fisiólogo, Ivan Pavlov.

A operação lógica assim realizada chama-se limitação do conceito. Outro exemplo:


Dá-se o conceito “localidade”, depois de limitá-lo, obtemos os seguintes conceitos:
“cidade”, “capital”, “capital de uma Província”, “capital de uma Província
Moçambicana”, “capital da Província da Zambézia”, “Quelimane”.

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Vemos como através da operação da limitação se passa de um conceito com maior


volume para outro com menor volume, ou seja, do género para uma espécie e
desta para uma subespécie. Agregam-se novos indícios que permitem estreitar o
volume do conceito em questão.

Então, a limitação é uma operação lógica de passagem de um conceito genérico


para um específico, agregando ao conteúdo do conceito genérico indícios
formadores de espécie. O topo da limitação é um conceito singular.

A operação inversa à limitação, a generalização, consiste na passagem de um


conceito específico para o seu conceito genérico, ou seja, de um conceito com
menor volume para outro com maior volume. Esta operação realiza-se através do
abandono dos indícios formadores de espécie. Ex.: “Gato preto doméstico”,
generalizando, obteremos: “gato doméstico”, “gato”, “mamífero”, “animal
vertebrado”, “animal”, “organismo”.

Assim podemos definir a generalização, como sendo, a operação lógica de


passagem de um conceito específico para outro genérico, tirando do conteúdo do
conceito específico os indícios formadores da espécie. O topo da generalização é a
categoria.

No processo de generalização e de limitação de conceitos convém distinguir as


passagens do género para espécie, das relações de um todo para uma parte (e
vice-versa). Por exemplo, não é correcto generalizar o conceito “centro da cidade”
até ao conceito “cidade” nem limitar o conceito “fábrica” até ao conceito “secção”,
pois nos dois casos não se trata da relação género-espécie, mas da relação parte-
todo.

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