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REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA

COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

MATERIAL DE APOIO DE FILOSOFIA

12ª CLASSE

NOME:

NUMERO:

TURMA:

SALA:

DOCENTE:

TEMA I - NOÇÕES BÁSICAS DE LÓGICA


1.1. Definição real e nominal da Lógica
Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Origem da Lógica tem sido alvo de polémica, como a própria filosofia, em geral. Tais discussões
tornaram-se ténues, porém, a partir do momento em que ocorre ser possível demostrar que na origem da
lógica se encontraram certas formas simples de dedução, usadas na vida social, comuns a todos os povos do
mundo; tal se afigura diferente de encarar a origem da lógica enquanto sistema estruturado e integrado num
campo científico.

É possível constatar, entre divergências e convergências, como existem significativas diferenças entre
falar de lógica como uma forma ou atitude simples de pensamento sobre o mundo e de lógica como ciência,
enquanto complexo modo sistemático de conhecimentos rigorosamente definidos.

O Conhecimento humano é um fenómeno complexo e misterioso. Três disciplinas filosóficas interessam-


se particularmente por seu estudo: a Psicologia, a Gnosiologia e a Lógica.

A Psicologia examina sua origem e seus tipos principais.

A Gnosiologia, determina seu valor, estudando as relações existentes entre o conhecimento e o objecto
conhecido.

A Lógica estuda as condições essências para a constituição do conhecimento e fixa as regras de seu
funcionamento correto.

A Lógica divide-se em três grandes ramos: Lógica formal, lógica transcendental e lógica matemática.

A lógica formal examina as características das ideias com a finalidade de estabelecer as normas da
argumentação correta. Diz-se formal justamente porque o que lhe interessa são as características das ideias
e não os seus conteúdos. Daí decorre que as normas por ela fixadas assegurem a correcção do discurso,
mas não a sua verdade.

A lógica transcendental trata da validade de nossos conhecimentos, ou seja, das condições às quais eles
devem sua possibilidade e verdade e, por isso, do modo peculiar de ser do pensado enquanto pensado.

A lógica matemática não parte de um determinado discurso com o propósito de determinar as regras que
lhe garantam a verdade, mas opera em sentido contrário: estabelece, antes de mais nada, um conjunto de
regras sobre as relações de certos termos entre si, e depois procura determinar qual discurso seja possível,
uma vez aceito tal conjunto de regras. A lógica matemática, portanto, é construída como um puro cálculo.

1.1.1. A origem da Lógica

A lógica enquanto ciência, a sua origem deve ser localizada na Grécia Antiga no século V a. C., através
do trabalho de alguns filósofos, em particular Aristóteles de Estagira, com a sua obra Organon, constituída por
seis livros e que quer dizer “instrumento do pensamento correcto”.

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A palavra Lógica provem do grego logos que significa: Razão, lei, estudo, princípios, regularidade,
discurso.

Quais terão sido as preocupações de Aristóteles para a criação desta disciplina? É necessário dizer que
nem sempre pensamos antes de agir, ou de falar, ou seja, nem sempre pensamos de forma correcta.
Portanto, se nem sempre pensamos de forma correcta, então algo acontece no interior do pensamento que
leva a que o nosso pensamento produza erros.

Para Aristóteles o erro do pensamento é resultado das distorções ou dos desvios e da falta de obediência
às leis do pensamento, que aplicamos de modo descoordenado à actividade do pensamento.

Em todas as coisas e situações da vida, se não se observarem os passos correctos de um processo


racional, ou seja, se as leis de um processo formal não forem seguidas, ou se forem seguidas em desordem,
a consequência será que tudo o que fizermos estará errado e teremos de voltar atrás e seguir a ordem
correcta. Para que haja um procedimento racional correcto, através da observância das leis do pensamento
correcto, é necessário estudar o próprio pensamento, para se descobrir como é o seu funcionamento.

Existe uma grande distinção entre a Lógica do material e a lógica do pensamento, isto é, há uma grande
distinção entre a lógica do pensamento correcto, que deve estudar as formas de apreensão e exteriorização
correcta das ideias dos objectos dentro do pensamento e a lógica do mundo natural, pela qual admiramos a
natureza, a coerência, a ordem, a organização dos objectos (pela ordem natural). Pois a lógica da natureza
material difere da lógica do pensamento, aplicável na produção de ideias correctas, coerentes, válidas e
verdadeiras. Daí a necessidade de se distinguir entre a ideia e a sua ordem e a matéria e a sua organização.

1.1.2. Objecto e método de estudo da Lógica


1.1.2.1. Objecto de estudo da lógica

Dizer que o pensamento é objecto da lógica carece de precisão, visto que existem também outras
ciências que se ocupam de aspectos do pensamento. É o caso da psicologia, da inteligência artificial, entre
outras disciplinas surgidas directamente da filosofia. Para que o objecto da lógica não fosse confundido com o
das outras ciências, nesta base de reflexão Aristóteles considera como objecto de estudo da lógica “o
pensamento correcto”, ou seja o pensamento enquanto instrumento de conhecimento correcto, associado
usualmente a designação de “raciocínio”.

Neste sentido o objecto da lógica tem uma dupla caracterização: o objecto material e o objecto formal. O
objecto material da lógica é um determinado conteúdo de pensamento, aquilo que o pensamento tem por
percepção no objecto; isto é, a matéria percebida no objecto-pensamento e no conteúdo do acto de pensar as
coisas do mundo: a ideia sobre aquilo que é pensado, a verdade e o seu oposto, sua validade ou coerência.
O objecto formal da lógica é o conjunto de leis, regras e princípios que observamos no pensamento e no acto
de pensar, que garantem a verdade, a forma da ideia, a coerência e a validade desse pensamento. É a parte
da lógica que impõe ao pensamento a observância das leis da razão, que formalizam universalmente a
verdade.

1.1.2.2. Método de estudo da lógica

Qualquer ciência ou disciplina científica requer uma metodologia para estruturar a sua investigação. A
metodologia estuda os métodos técnicos e científicos. Método é um processo racional que se segue para
atingir um fim. Existem dois métodos para a análise das operações lógicas que são: Método dedutivo e o
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Método indutivo. O primeiro, parte do geral para o particular e o segundo tem como base a indução e parte de
uma verdade particular para chegar a uma verdade geral.

1.1.3. Os princípios Lógicos

Os princípios da lógica formal, também designados por princípios da razão, ou seja, as “leis do
pensamento correcto”, são de ampla aplicação social, científica e prática. Na vida corrente, é necessário
identificar correctamente os objectos, as palavras e as acções. Precisamos de evitar contradições e discursos
confusos. Assim estes princípios garantem a orientação, a disciplina do pensamento e o correcto exercício do
mesmo; permitem distinguir o verdadeiro do falso; ajudam a fazer uma descrição certa das características
gerais e específicas dos objectos.

O princípio da identidade

O princípio da identidade regula o processo da univalência dos objectos no pensamento. Exige que o
pensamento use a razão para a identificação correcta, unívoca do ser de cada coisa. Permite, no acto de
identificação, a comparação e distinção dos objectos para agrupá-los em suas respectivas classes segundo
as suas características. A identidade propõe segurança e clareza das ideias em relação aos seus respectivos
objectos.

Este princípio é utilizado para expressar a unidade do objecto consigo mesmo. Aristóteles advertiu
para a necessidade de distinguir os objectos e agrupa-los em função das suas características semelhantes,
de modo a que cada coisa seja igual e idêntica a si e diferente das outras. Exemplo: A é A; A não é B. Ou
seja, não é verdadeiro afirmar que um determinado animal é mamífero e é um molusco.

A correcta identidade implica a elaboração de conceitos correctos e definições não contraditórias.


Significa que a correcta informação dos objectos depende da correcta identificação do respectivo objecto.
Pois só afirmamos correctamente aquilo que identificamos correctamente. O certo é que a má identificação do
objecto implica contradições na forma de pensar.

O princípio da não-contradição

A contradição é a negação de algo ao mesmo tempo e na mesma relação. A lei da contradição


regula o processo da incompatibilidade entre os opostos numa mesma situação. Exemplo: A não pode ser A e
não A. Ou seja, não é verdadeiro afirmar que um determinado animal é e não é um animal. Ou é um animal,
ou não é. Um animal não pode ser uma árvore.

Aristóteles formulou o princípio da não-contradição de modo seguinte: “não é possível que um mesmo
atributo pertença e não pertença à mesma coisa e na mesma relação”. Por consequência “não se afirma e
nem se nega a mesma coisa simultaneamente”. É falso dizer na mesma relação que A é A e A não é A. É
uma contradição a mesma coisa ser e não ser simultaneamente.

Será possível que o mesmo indivíduo se encontre em sua casa, em pleno sono, e ao mesmo tempo
consiga realizar actividades em outro espaço?

Na contradição os opostos não são compatíveis. Assim, os opostos acentuam sempre a contradição
caso sejam simultaneamente afirmação e negação.

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O princípio do terceiro excluído

Este princípio regula a impossibilidade de existir um meio-termo capaz de conciliar os opostos. Uma
ideia, um objecto, um sentimento, podem ser isto ou aquilo, não uma terceira possibilidade; apenas se pode
escolher entre essas duas hipóteses. No pensamento racional, os opostos são irreconciliáveis. Por isso
Aristóteles afirmou: “tão pouco pode haver um intermediário entre as afirmações contrárias”.

Assim, os contrários dormir e acordar, morrer e viver, alto ou baixo, magro ou gordo, feio ou bonito
são irreconciliáveis e uma das qualidades terá de ser excluída da afirmação do objecto. Como é possível ser
e não ser ao mesmo tempo? É bonito então não é feio; sendo que o feio e o bonito são irreconciliáveis no
mesmo sujeito. Então exclui-se uma das características opostas a outra. Exemplo: A é X ou A é Y. Ou seja,
não é verdadeiro afirmar que um determinado animal está parado e simultaneamente em movimento. Ou está
parado, ou está em movimento; não existe uma terceira possibilidade.

É neste sentido que se refere que o princípio do terceiro excluído é privativo, pelo facto de exigir a
que o pensamento opte, pela necessidade da coerência e validade do pensamento e prossecução da verdade
de uma das afirmações, ou de um dos opostos (ou feio ou bonito, ou alto ou baixo). A mesma proposição
lógica não pode ser assumida como verdade e ao mesmo tempo como falso.

A lógica formal apresenta portanto alguns princípios primeiros, também designados como leis e
outros dependentes destes como: conceitos, as definições, os juízos, os silogismos e outros instrumentos
lógicos do pensamento formal.

A lógica formal é de capital importância, inclusive quando ao rigor de funcionamento das estruturas
sociais, porquanto ajuda os indivíduos em campos que vão desde a ciência à vida quotidiana no melhor
ordenamento, quer na identificação das hipóteses científicas, quer no relacionamento social. Ex. Ajuda-nos a
identificar as falsas e verdadeiras formas de opinião que chegam até nós.

1.1.4. O pensamento e o discurso

Podemos chamar pensamento ao conjunto de ideias ou significados que o intelecto humano elabora
e atribui aos objectos reflectidos no interior do seu mecanismo perceptivo. Existe um vínculo intrinsecamente
inseparável entre pensamento e ideias. Não existem ideias que não resultam do pensamento ou do acto de
pensar, e o pensar implica produção de ideias sobre a realidade. O próprio pensamento é resultado do
processar da identidade atribuída pelas ideias aos objectos. O ser humano pensa sempre algo que identifica
como realidade. Como afirmou Parménides, no século V a. C.: “ O pensamento só reflecte o ser”.

Todos os seres vivos têm formas de Comunicação. Para o ser humano, também os aspectos da
linguagem são essenciais para a vida e a comunicação com os outros. É através da linguagem que os seres
humanos se apropriam da realidade, ou seja, foi pelo acto de pensar que os seres humanos desenvolveram
formas de linguagem mais complexas do que outras espécies Os seres humanos pensam, falam,
argumentam. Não há pensamento sem linguagem, é na linguagem que o pensamento se molda e através
dela que traduz os objectos percepcionados.
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Existe uma diferença entre o pensamento e o acto de pensar. O acto de pensar é o processo em si e
é estudado pela neurofisiologia e o pensamento é produto de um processo psíquico, estudado pela lógica,
que tenta sistematizar regras e relações, quer no próprio pensamento, quer no processo de enunciação, ou
seja, no discurso.

O discurso é tradução do acto de pensar e do pensamento que resulta desse acto. A palavra deriva
do latim dis cursos, que significa “discorrer da razão”. O pensamento é assim expresso pelo discurso, numa
forma de comunicação linguística. Ou seja, numa linguagem. O pensamento reflecte apenas o ser que se
estende a toda realidade e funciona como um armazém das nossas ideias que reflectem o mundo real.
Pensamento------ Ideias ----- Objecto.

No pensamento existe uma interpretação entre a ideia e a realidade para que nessa relação surja o
conhecimento. Por isso emprega-se uma fórmula de vice-versa, para mostrar a relação gnosiológica e lógica
existente entre o sujeito pensante e o objecto, por ser essa relação que confere ao objecto a hipótese de
autocomunicar-se ao pensamento para que seja perceptível; Assim, demostra-se o sentido do aparecimento
do conhecimento na relação estabelecida entre o pensamento e a realidade objectiva.

Para que os outros saibam o que pensamos é necessário comunicar. O processo de comunicação só
se completa e é servido quando queremos transmitir o conhecimento, quando o próprio pensamento, depois
de conhecer o objecto, estabelece a sua fundamentação. Deste modo o nome do objecto pensamento é
colocado na mensagem referente ao objecto: a fundamentação ou discurso, o nome desse objecto e a ideia
que reflecte o objecto fazem do discurso o meio mais seguro para o ser humano administrar o seu
conhecimento.

Portanto, na relação entre o pensamento e a realidade, mediada pelos objectos, juntam-se dois
elementos fundamentais para o processo de conhecimento: o conhecimento obtido sobre o objecto e a ideia
que reflecte o objecto. Daí a elaboração da linguagem como função pela qual o pensamento atribui e designa
os nomes que constituem os objectos e o discurso que desempenha a função de conservar o conteúdo do
objecto, o nome e a ideia que deve ser transmitida a outros sujeitos pensantes.

Todas as palavras criadas pelo pensamento identificam realidades e somente elas são objecto de
comunicação no seu discurso. O pensamento idealiza os objectos e torna-os inteligíveis. Mas o pensamento
estrutura e exterioriza as ideias dos objectos pensados através da função da linguagem e do discurso,
encerrando neles o significado do objecto.

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Linguagem
Gestual, oral e escrita: função
que encerra os nomes / Signos
dos objectos ; Ex: Cão

Sujeito pensante Conhecimento Objecto


Pensamento/ideia Ex: Cão

Discurso
Mensagem/Comunicação
objecto , nome e ideia

2.1- AS TRÊS DIMENSÕES DO DISCURSO: SINTAXE, SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

A linguagem é, em filosofia da linguagem, o modo codificado como os signos (sobretudo verbais)


permitem a expressão de um objecto. A linguagem oral e escrita apresenta, nas diversas línguas sociais,
palavras estruturadas em proposições locais ou frases.

O Discurso é um conjunto de códigos que inclui o objecto, o nome e a ideia para transmitir, para
comunicar aos outros sujeitos pensantes o produto do processo do conhecimento. Daí a divisão do discurso
em três partes ou dimensões: Sintaxe, semântica e pragmática.

A sintaxe lógica analisa os elementos formais que estruturam, ou sequenciam os enunciados ou


proposições. Esta conexão sintáctica entre os enunciados é estabelecida através de termos de ligação, que
asseguram a construção de mais do que proposições isoladas. Como exemplo, sem estes elementos de
ligação, apenas se poderiam construir produzir proposições isoladas, como: “tenho livros”. Com estes
elementos podemos construir um discurso: “tenho um livro que fala de lógica e é fácil de entender”.

Assim, podemos dizer que a sintaxe estuda as relações entre os signos e as proposições,
construindo-se como a teoria de toda a linguagem lógica e analisando ainda as regras que permitem a
combinação de símbolos elementares na construção de proposições correctas. Paralelamente, analisa as
questões colocadas pela definição das variáveis lógicas e respectivas relações, analisando o discurso
estritamente do ponto de vista da estrutura, ou seja, da sua forma, de modo a assegurar a sua validade
formal.

A semântica analisa as questões associadas ao significado dos signos e sua interpretação, tratando
portanto do valor de verdadeiro ou falso das proposições. A semântica estuda portanto a relação dos signos
com os seus referentes (com os objectos que representam), estudando também a relação dos signos com
outros signos de significado semelhante ou diferente (numa relação de falso ou verdadeiro).

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A pragmática é exactamente a área que estuda os signos no contexto do seu uso. Portanto, a
pragmática excede a “construção da frase”, estudada pela sintaxe e o “significado da frase”, estudado pela
semântica: estuda os objectivos da comunicação.

O pensamento, em termos básicos, actua de duas formas próprias: ou funciona como imaginação ou
como razão. É um conjunto de actividades que implicam a formação de conceitos ou a solução de problemas.
A razão funciona, dentro do pensamento, como um instrumento, que o pensamento utiliza para obter
raciocínios correctos, que permitem atingir a verdade. Alguns entendem a razão como faculdade. Mas a
precisão Aristotélica da razão como instrumento ou lei, que regula o nosso pensamento para um
conhecimento certo.

1.2. LÓGICA DO CONCEITO


1.2.1. O Conceito e o Termo

O processo de pensamento do ser humano se faz através de conceitos, que se expressam em palavras
ou termos. O pensamento está estreitamente ligado à linguagem, sendo uma das operações mentais
elementares a de atribuir nomes aos objectos, às sensações, etc.

Um conceito é portanto a representação lógica de um conjunto de seres ou objectos, agrupando-os de


modo a que não sejam confundidos com qualquer conjunto. O conceito permite evocar as características do
referido conjunto que simboliza, representando a soma de conhecimentos que temos sobre os seres ou
objectos em causa.

Esta propriedade do conceito só se manifesta através da linguagem. No plano da linguagem, o conceito


passa a ser expresso pelo termo. O signo, em termos linguísticos, é constituído pelo conjunto do conceito e
do termo, não esquecendo a relação entre eles, visto que é uma relação de significado (conceito) e
significante (termo)

A palavra conceito deriva do latim conceptu, no sentido de “tudo o que o espírito concebe e entende”,
sentido que nos remete para a forma como o nosso pensamento funciona, na análise de Aristóteles: o
pensamento encontra-se repleto de ideias, que se referem a objectos, por sua vez reflectidos da realidade
observável.

Assim, podemos considerar que os conceitos são a representação dos objectos no pensamento. Esta
definição de conceito conduz-nos a outra: a forma que um objecto assume no nosso pensamento é a ideia.
Assim, identificamos o conceito como a ideia que reflecte o objecto que difere da imagem geral do objecto. O
conceito forma-se numa base racional, por isso aqui nasce o verdadeiro conhecimento dos objectos; ao
contrário da falsa identificação sobre um objecto, que pode nascer da imaginação ou do erro na aplicação
incorrecta do princípio da razão.

1.2.2. Formação e classificação dos Conceitos

Os conceitos dos objectos formam-se no nosso pensamento a partir da relação de participação que o
próprio pensamento estabelece com os objectos. Assim o processo de formação do conceito depende de um
conjunto de fenómenos psíquicos, psicológicos, perceptivos, que favorecem a formação dos conceitos como
objectos da mente. Porem o acto de condução dos objectos materiais da realidade para o pensamento é
exactamente o que se chama de formação dos conceitos.
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O processo de formação de conceitos no pensamento, ou seja, a conceptualização, consiste numa


operação lógica de classificação e de síntese, realizando-se diferentes operações intelectuais como
percepcionar, comparar, distinguir, abstrair, generalizar. É deste processo que resulta portanto a identificação
de propriedades gerais, como parte de um conjunto de seres ou objectos.

Para que o pensamento possa formar os seus respectivos conceitos, é necessário que, eles sejam
observados. A seguir à observação, o pensamento analisa-os, partindo de um geral (método dedutivo) ou de
um particular (método indutivo). A análise do objecto é a decomposição e separação mental das partes que o
caracterizam, de modo a assim estabelecer uma correcta compreensão dos seus indícios gerais e
particulares.

Portanto, a formação de conceitos faz-se através da generalização das características fundamentais de


um conjunto de objectos semelhantes entre si. A generalização faz-se também abstraindo-se as
características ocasionais, acidentais, que existem em cada objecto, mas não são representativa do conjunto.
Para salientar as características fundamentais, evidentes através da comparação de vários objectos, é
necessário proceder a várias operações tais como: a análise, síntese, comparação, abstracção e
generalização.

1- Análise: separação mental das partes de um objecto, no sentido de melhor identificar


características.
2- Síntese: reunião mental de todas as partes do objecto, de modo a filtrar as características
fundamentais do todo do objecto.
3- Comparação: verificação mental da semelhança ou da diferença entre objectos, conforme as
características fundamentais ou ocasionais.
4- Abstracção: separação mental das características do objecto, abstraindo-se as ocasionais.
5- Generalização: reunião mental de objectos num conceito, através das suas características
fundamentais.

A expressão do conceito no processo de comunicação é exercida e manifestada através de dois


elementos: o verbo mental e o termo. Verbo mental é a acção de interiorizar os objectos, no pensamento,
sem que sejam expressos ou comunicados para o exterior, para o conhecimento de outra pessoa. Termo é a
expressão do conceito, associado ao processo em que os nossos pensamentos, as nossas ideias são dados
em conhecimento para que as outras pessoas saibam o que pensamos. É um elemento constituído por um
conjunto de códigos. É o termo que encerra o discurso lógico, que gera a mensagem ou informação da ideia,
do objectivo e o seu nome.

Na linguagem comum, o termo identifica-se com uma palavra ou várias palavras discursantes, as quais
organizamos em preposições (lógica) ou frases (linguísticas) para garantir o acesso a informação em todo o
processo de comunicação entre o emissor e o receptor. Todo o conceito expresso pelo termo passa pelo
verbo mental.

O termo funciona como instrumento para identificar e comunicar um objecto nomeando-o e


caracterizando-o. Ex. O cão (pode ser definido na generalidade e ter algumas características em particular). O
termo funciona também como instrumento ou veículo, através do qual se exprime e comunica um conceito
não associado directamente a um objecto em particular, ou seja um desejo (não é possível ver um desejo).

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Deste modo, as pessoas a quem é comunicada uma ideia, um conceito deste tipo têm que ter um
conhecimento prévio.

Podemos distinguir dois aspectos intrínsecos à análise lógica dos conceitos, o de formalidade e o de
materialidade dos conceitos. O conceito formal é o que diz respeito aos objectos no pensamento, quando são
transformados em ideais. Só a ideia do objecto gera a apreensão correcta do objecto e a idealização
formalmente correcta do objecto. O conceito material é o próprio objecto na realidade, ou seja,
independentemente do pensamento. Por isso diz-se no nominalismo da lógica medieval, que o objecto é
independente do pensamento, posto que podemos ter a ideia de cão, não tendo o objecto cão na nossa
presença.

1.2.3. Definição de Conceitos

A definição é a operação intelectual que consiste em atribuir um conjunto de características que


limitam o objecto ou o conceito do objecto. Ou seja, revela por outro lado o conteúdo do conceito, podendo
também estabelecer o significado de um termo.

Em qualquer definição, o conceito deve ter dois elementos básicos: o primeiro é aquilo que se define
e o segundo é aquilo que define o conceito. Ao elemento que se define chama-se definido (do latim
definiendum: Dfd); este é geralmente o objecto e sujeito da definição, ao qual se aplicam características ou
qualidades inerentes ao objecto. O que definiu o definido é chamado por definidor (do latim definiens: Dfn); é
geralmente o conjunto das características que se elabora e se aplica ao definido para explicar o seu ser. Ex:
O homem (Dfd) é um animal racional (Dfn).

Um conceito é o produto da referência do pensar um objecto, ou seja, resulta da forma como a


consciência do ser humano apreende intencionalmente um objecto. Para fazermos a definição de um
conceito, temos de enumerar todas as suas notas caracterizadoras, o que permite distinguir esse conceito de
qualquer outro elemento, em termos ideias. Ao conjunto das notas caracterizadoras chama-se essência ou
conteúdo essencial.

A palavra definição deriva do latim definire, significando limitação das características do conceito de
um ou vários objectos, ou precisar um certo conceito nas suas características essenciais. É necessário fazer
uma distinção entre conceito entendido como entidade lógica e conceito entendido como apreensão
psicológica.

Associados à definição de um conceito surgem outros elementos, como a compreensão de um


conceito, que consiste no conjunto nuclear de notas da sua essência, a denotação, que consiste no conjunto
numerável de conceitos que podem ser subordinados ao inicial, ou a Extensão, que consiste na capacidade
de captar o conjunto de todos os conceitos que lhe estão subordinados, resultando da diversificação gradual
da sua essência.

A compreensão e a extensão são dois aspectos importantes que devem filtrar o enquadramento de
qualquer conceito, a classe, o grupo, o género, a espécie ou simplesmente o lugar e dimensão de um
conceito em relação ao seu respectivo objecto e deste em relação aos diferentes seres semelhantes e
idênticos a si. A compreensão e a extensão denotam o conceito de um objecto, estendendo-o numa relação
genérica com o ser em relação ao elemento específico em definição.

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Quanto maior for a compreensão menor será a extensão, de igual modo quanto maior for a extensão
menor será a compreensão. Ex. Palanca Negra. Assim, a compreensão e a extensão do conceito operam na
razão inversa entre o Ser e o seu “ser específico”. Contudo, os conceitos podem também ser concebidos em
termos das relações que estabelecem uns com os outros. É o que acontece quando se fala da relação de
equivalência, da relação de intersecção e da relação de subordinação.

A relação de equivalência é estabelecida pelo pensamento quando se verifica existir correspondência


entre um e outro conceito quanto ao seu valor; é o que acontece quando vamos a uma loja para comprar.

A relação de intersecção é estabelecida pelo pensamento nas situações em que dois conceitos se
encontram interligados, mas um deles depende do outro para a sua efectivação. É o que sucede quando
estamos diante de uma obra de algum autor conhecido e imediatamente activamos as ideias do autor do livro,
como se ele estivesse a falar connosco nesse momento. Ex. Sagrada Esperança de Agostinho Neto. Um
jovem que seja estudante e trabalhador.

A relação de subordinação é estabelecida pelo pensamento nos casos em que, na análise do


conceito, se identifiquem dois conceitos distintos, e pelas suas características um será de maior extensão ou
dimensão em relação ao outro, e por consequência o de menor extensão subordina-se. Ex. Conjunto e
subconjunto. Animal-Palanca Negra.

1.2.4. Tipos e regras de definição de Conceitos

É possível verificar, ao longo da evolução da lógica tradicional, que nem sempre o pensamento tem
sido capaz de estabelecer uma definição correcta, sobretudo se não se fundamentar na razão. Assim, é
necessário que se observem determinadas regras para que, partindo da razão, não permitam erros na
definição de conceitos.

A primeira regra diz que a “definição deve convir somente ao definido”, ou seja, qualquer definição
deve ser clara. Significa isto que se estivermos a definir um conceito não deveremos incluir na definição
aquelas características que, linguisticamente, impedem a percepção ou a compreensão do definido ou do que
se pretende definir.

A segunda regra diz que “uma definição deve ser elaborada a partir de termos conhecidos e não
estranhos”, ou seja, qualquer definição resultará estranha se o definidor contiver características que não
sejam as que o objecto tem concretamente.

A terceira regra diz que “o definido não pode entrar no campo do definidor”; se tal acontecer, incorre-
se em redundância.

Importa salientar que, qualquer definição deve ser elaborada a partir do género supremo e da sua
diferença específica. Ex. SER-Material-Orgânico-Sensível-Animal-Racional-Varão-Filósofo-ARISTÓTELES
(Classificação lógica da substância de Porfírio).

Existem várias formas de definir um conceito, existindo também vários tipos de definições. Daí a
necessidade de falarmos da tipologia das definições. Assim, os principais tipos de definições são: reais,
nominais e descritivas.

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Definições reais são aquelas que descrevem o conceito até às suas características essenciais e
reais. Ou seja, procura expressar a natureza do objecto que o termo representa. Ex. Um triângulo é uma
figura geométrica de trê

s lados.

Definições nominais são aquelas que o pensamento estabelece quando é necessário determinar
um termo ou o próprio conceito, ou seja, expressam o sentido do termo (palavra) usando para representar a
definição. Ex. A palavra Angola deriva de “Ngola” que em Kimbundo quer dizer “forte, duro”.

Definições descritivas são aquelas que enumeram as características essenciais do conceito, de modo
a que o possamos distinguir de outro. Ex. A irmã do José irá herdar a casa.

Existem ainda outras categóricas nesta tipologia: as definições ostensivas permitem definir e revelar o
objecto através de demonstrações; as definições negativas são aquelas que recusam a relação do definido
com o definidor, enquanto as positivas são as que afirmam e admitem a relação entre o definido e o definidor;
as definições evidentes são aquelas que estabelecem certa igualdade de relação entre o definido e o
definidor ao contrário das definições inevidentes, definem qualidades questionáveis mas de certo modo
implicativas; as definições são genéticas quando indicam a forma que origina um dado objecto; as definições
abstractas são aquelas que conferem ao definidor características gerais que podem ser aplicáveis ao
definido.

Os conceitos podem ter significados aplicáveis a seres inanimados, irracionais e racionais. Um


conceito pode ter um significado ou mais. Por isso se distingue entre conceitos unívocos, conceitos equívocos
e conceitos análogos.

Conceito Unívoco é sempre predicado pela mesma razão, ou seja pela mesma significação. É o que
acontece quando aplicamos a algo o conceito de animal (animal, ser humano, macaco, gafanhoto ou caracol).

Conceito equívoco é um conceito que tem sentido duplo, ou seja, sua aplicação pressupõe haver dois
significados opostos, mas passíveis de existirem no mesmo conceito por causa das suas características. O
pensamento pode encontrar neste caso uma dúvida (equivoca-se) quanto ao que o conceito dado refere. Ex.
O retrato de uma pessoa.

Conceito análogo corresponde ao modo pelo qual o pensamento aplica, em alguns casos, conceitos
com mais de um sentido, em que cada um dos sentidos se insere numa circunstância concreta. É o que
ocorre quando em certas situações se aplica o conceito de criança a um adulto.

1.2.5. Conceitos indefiníveis

Ao longo do tempo, alguns pensadores e filósofos, entre eles, Immanuel Kant, que consideram que
os únicos conceitos definíveis seriam os conceitos matemáticos. No seu oposto estariam conceitos empíricos,
logo indefiníveis.

Do ponto de vista destes filósofos, uma definição tem de partir de características com os seguintes
atributos: clareza, (ser claras), suficiência (ser consideradas suficientes), precisão (ser precisas), e por último,
origem (as características têm de ter a sua precisão determinada originariamente). Assim, os conceitos
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determinados a priori seriam sempre conceitos matemáticos, definíveis, sendo os conceitos empíricos
indefiníveis pelo facto de serem determinados a posteriori.

Para Kant os conceitos empíricos poderiam ser explicitados (através de palavras), mas não definidos.
A condição da origem das características será a mais relevante. Se esta condição não for satisfeita, não será
possível considerar o conceito como definível.

Alguns campos, como o dos valores, prestam-se particularmente à existência de conceitos


indefiníveis, como é o caso do campo dos valores estéticos ou morais. Ex. Em termos de gosto, belo, amor,
justiça, bem, mal.

1.3. Lógica do Juízo

No campo da filosofia, entende-se por juízo a actividade mental através da qual se admite como
verdadeira uma asserção ou se estabelece uma relação entre duas ideias.

No campo da lógica formal, o juízo é definido como um acto mental, pelo qual o pensamento afirma
ou nega algo do sujeito lógico na relação estabelecida entre dois ou mais conceitos. Quando uma afirmação
reúne as características que correspondem ao sujeito (objecto), diz-se que o juízo é verdadeiro, e quando as
características ou qualidades atribuídas ao sujeito não o identificam, diz-se que o juízo é falso. Sendo assim o
juízo pode ser afirmativo ou negativo, dependendo da sua qualidade.

A proposição é o modo pelo qual o pensamento exprime o juízo lógico.

No juízo, os conceitos que representam o sujeito e o predicado não apresentam normalmente a


mesma extensão. Por exemplo, na afirmação “a casa é confortável”, o conceito de “conforto” é muito mais
extenso do que o conceito “casa”, ou seja existem muitas coisas confortáveis. Nos casos em que essa
extensão é igual, como na afirmação “o ser humano é um animal racional”, o juízo é designado por definição.
A igualdade de extensão comprova-se pelo facto de ambos os conceitos (ser humano e animal racional)
apenas poderem referir-se ao mesmo conjunto de seres vivos, sendo que o juízo é a definição essencial de
um conceito.

Na lógica tradicional, aristotélica apenas se consideram juízos com três termos, na forma “ S é P” ou
“S não é P”.

Sujeito (S) – Corresponde ao conceito ou termo em causa, em relação ao qual se afirma ou nega
algo;

Predicado (P) – Corresponde ao conceito que menciona o atributo que é afirmado ou negado ao
sujeito;

Cópula (“é” ou “não é”) – Corresponde ao termo que permite estabelecer a relação entre o sujeito e o
predicado.

Estes juízos são designados atributivos, tendo a particularidade de a cópula ser sempre o verbo ser,
tendo também alguns juízos um quantificador (Q), que estabelece quantidade e está associado a
classificação dos juízos. O quantificador pode ser universal ou geral, particular e singular.

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Para o caso “todos”, o quantificador estabelece que o juízo é universal, tal como acontece com
“nenhum”, sendo uma proposição de forma negativa. Neste caso, o sujeito será tomado em toda a sua
extensão, tomando-se todos os objectos de um conjunto. Quando existe na proposição o quantificador
“alguns”, o juízo será particular, pois apenas parte dos objectos de um conjunto é tomada. Noutro caso, o
quantificador “este”, refere-se a um sujeito e a uma proposição singular ou individual. Exemplos:

- Todos (quantificador) os cães (conceito) são (cópula) mamíferos (conceito).


- Nenhum (quantificador) cão (conceito) é (cópula) mamífero (conceito).
- Alguns (quantificador) cães (conceito) são (cópula) mamíferos (conceito).
- Todos (quantificador) cães (conceito) não são (cópula) mamíferos (conceito).

A proposição é o enunciado do juízo, portanto, não deve ser confundida com uma frase gramatical.
Quando por exemplo formulamos um pedido ou uma ordem, estamos perante uma frase gramatical, mas não
diante de uma preposição, porque não podemos considerar o seu conteúdo verdadeiro ou falso, condição
para validar um enunciado como proposição.

Assim, numa proposição lógica, o quantificador é o elemento lógico que determina o grau de
extensão da proposição. O sujeito é o elemento a que o pensamento ajusta a acção ou o efeito, qualidade ou
característica manifestado no predicado da preposição. O predicado é a acção, a característica, a qualidade
ou o efeito que diz respeito ao sujeito, nele estão a característica ou a qualidade que o pensamento atribui ao
sujeito da proposição.

A cópula, por seu lado, tem uma função própria na proposição, surgindo para ligar o sujeito ao
predicado, mantendo-se um elemento constante. Ex.: Alguns animais são mamíferos.

1.3.4. CLASSIFICAÇÃO DOS JUÍZOS

Os juízos são classificados de diversos modos, conforme o contexto em que se estabelece a relação
entre sujeito e predicado. Em termos gerais, os juízos atributivos podem ser classificados da seguinte forma:

1- Classificação pela qualidade (ou forma); os juízos são analisados quanto à natureza da cópula que
liga o sujeito e o predicado.

- Afirmativos: Juízos em que o predicado convém ao sujeito, ou seja, quando a relação atributiva é
directamente estabelecida. Ex. O ser humano é um animal.

- Negativos: Juízos em que o predicado não convém ao sujeito, ou seja, quando existe negação de
que a qualidade referida pelo predicado pertence ao sujeito. Ex. O ser humano não é imortal.

2- Classificação pela quantidade ou extensão do sujeito; nesta classificação os juízos são analisados
quanto à sua quantidade, ou seja quanto à extensão do termo que desempenha a função de sujeito dos
juízos.

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- Universais: Juízos em que o sujeito é tomado em toda a sua extensão, ou seja, quando se referem a
toda a extensão dos elementos do conjunto. Ex. Todos os seres humanos são mamíferos.

- Particulares: Juízos em que o sujeito é considerado penas uma parte da sua extensão, ou seja,
quando se referem apenas a parte dos elementos do conjunto. Ex. Alguns seres humanos são professores.

- Singulares: Juízos em que é tomado apenas um elemento do conjunto a que se referem.

Deste modo de classificação se ramificam outra possibilidades, combinando as bases de análise


(qualidade e quantidade).

 Universais afirmativos – “Todo o S é P”.


 Universais negativos – “Nenhum S é P”.
 Particulares afirmativos – “Algum S é P”.
 Particulares negativos – “Algum S não é P”.

Classificação dos juízos quanto à relação entre sujeito e predicado, quanto à modalidade e quanto a
matéria.

1- Classificação de juízos estabelecida pela relação entre sujeito e predicado, analisada em três
variantes.

- Categóricos: Juízos em que a relação entre sujeito e predicado (podendo o juízo ser verdadeiro ou
falso) é afirmada de forma absoluta, não se encontra condicionada. Ex. A Maria gosta de chocolate.

- Hipotéticos: Juízos em que a relação entre sujeito e predicado se encontra condicionada. Ex. Se a loja
estiver aberta, a Maria vai comprar um chocolate.

- Disjuntivos: Juízos em que a relação entre sujeito e predicado se encontra condicionada, havendo
previsão de alternativa. Ex. A Maria vai comer um chocolate ou um gelado.

2- Classificação de juízos quanto à modalidade, ou seja, analisada em relação ao grau de vinculação que
se estabelece entre o sujeito e o predicado.

- Apodícticos: Juízos em que a vinculação entre sujeito e predicado se revela sempre necessária, não
podendo deixar de existir. Nestes juízos a relação entre conceitos não depende de circunstâncias. Ex. Um dia
tem 24 horas.

- Assertóricos: Juízos em que existe relação factual entre sujeito e predicado, mas não constante.
Esta relação pode ser pontual, sendo o juízo verdadeiro ou falso conforme a realidade. Ex.: O aroma destas
flores é agradável.

- Problemáticos: juízos em que existe uma afirmação ou negação da possibilidade de vinculação


entre sujeito e predicado. Ex.: Talvez vá chover amanhã.

3- Classificação de juízos quanto à matéria, ou seja, dependendo do predicado estar incluído no


conjunto das qualidades essenciais na definição do conceito que desempenha o papel de sujeito.

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- Analíticos: juízos em que o predicado se encontra contido na compreensão de sujeito. Nestes juízos
estabelece-se relação entre conceitos, sendo independentes da experiência (são portanto definidos a priori) e
apodícticos (a vinculação entre sujeito e predicado é necessária).

- Sintéticos: juízos em que existe uma afirmação ou negação de algo que não está necessariamente
contido na compreensão do sujeito. Estes juízos têm a experiência como base, sendo dela dependentes (são
portanto juízos a posteriori) e assertóricos.

1.4. Lógica do Raciocínio


1.4.4. Raciocínio e Argumentação

As inferências mediatas, processam-se a partir da relação que se estabelece entre duas ou mais
proposições, tomadas como premissas. Pelo facto do processo implicar mais do que dois termos (tomando-se
um deles como termo médio) as inferências mediatas são já designadas como raciocínios. É por tanto uma
operação de pensamento expressa por meio de proposições lógicas mediatas (premissas lógicas mediatas),
através da qual determinados juízos (antecedentes) passam a novos juízos (consequentes). Neste processo
de inferência pretende-se também estabelecer a veracidade ou falsidade da conclusão (ou seja, o valor lógico
da inferência).

Para ser possível obter uma conclusão a partir de duas ou mais proposições, é então necessário que
exista um nexo lógico entre as proposições (designado forma do argumento). Deste modo, se a inferência for
válida, a veracidade das premissas conduzirá a verdade da conclusão. No entanto, para assegurar a validade
do argumento, será necessário seguir os princípios lógicos e as regras lógicas das inferências.

Por outro lado, nas várias formas de raciocínio é também necessário ter em conta o contexto da
enunciação das proposições, que é o que frequentemente permite identificar as premissas e a conclusão. É
ainda de ter em conta os indicadores de premissas e de conclusão, que são palavras que, no discurso,
antecedem os enunciados (que funcionam como fundamento ou como justificação da conclusão) e permitem
dizer se se tratam de premissas ou da conclusão.

Indicadores de premissas: se, pois, devido a, porque, sabendo-se que, dado que, visto que, supondo
que, entre outros.

Indicadores de conclusão: então, logo, por conseguinte, portanto, deste modo, consequentemente,
entre outros.

O argumento é aplicado aos discursos comuns, as acções comuns. É possível encontrar argumentos
informais nos raciocínios que antecedem as acções quotidianas (embora nem sempre segundo regras
lógicas) e nos discursos comuns, do senso comum (na comunicação entre duas pessoas, por exemplo,
considerando-se uma delas como argumentador e outra como interlocutor). O conceito de argumento, em
lógica, coincide com o conceito de fundamento, que é uma intenção prévia do nosso pensamento perante a
realidade discursiva.

Na lógica, analisam-se os argumentos formais, ou seja, os conjuntos constituídos por uma ou mais
proposições (as premissas), a que se junta uma outra (a conclusão). Estão assim associados a um tipo de
raciocínio que permite provar, refutar ou fundamentar uma hipótese previamente estabelecida num discurso
lógico. A argumentação é portanto o modo de expor e justificar as ideias que constituem um dado discurso.
Ou seja, argumentação consiste essencialmente em obter conclusões através de vários tipos de raciocínios
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lógicos. Esses raciocínios, porém, podem ser válidos ou inválidos. Para serem válidos, é necessário que
tenham premissas aceitáveis e sejam desenvolvidos segundo as regras apropriadas.

Na argumentação existem vários tipos de argumentos, mais directos ou mais indirectos, conforme a
actividade filosófica em causa seja mais próxima da meditação, contemplação e elaboração autopessoal do
conhecimento em relação aos objectos, ou mais próxima do desenvolver de diálogos numa dinâmica de
argumentação. No argumento indirecto, examina-se primeiro para depois realizar a comunicação, o que é
diferente do acto de comunicar directamente com um interlocutor ou a um público.

A dialéctica é um método de diálogo que assenta na contraposição de ideias (argumentação e contra-


argumentação), de modo a surgirem novas ideias, cujo início data também da Antiga Grécia, embora tenha,
mais recentemente, ficado associado à obra de Georg Hegel. Neste método, o primeiro momento consiste na
formulação da tese, o segundo na antítese e o terceiro na síntese:

Tese: Neste momento procede-se à demostração do objecto da tese.

Antítese: Neste momento procede-se à crítica e à refutação da tese, expondo os seus


inconvenientes.

Síntese: Neste momento conclui-se sobre o que se apura estar certo na tese, diferenciando-o do que
está errado, o que constitui uma nova tese, que pode ser exposta e sujeita ao mesmo procedimento.

Para além da argumentação, existe uma outra via de fundamentação da veracidade de ideias
expostas: a demostração. Esta constitui-se num método logicamente susceptível a fundamentar, a evidenciar,
a veracidade ou a falácia de uma tese com o apoio de outros instrumentos dos juízos relacionados com a
hipótese. Daí que a demostração directa e indirecta sejam alguns daqueles elementos fundamentais da
argumentação do conhecimento. A demostração directa fundamenta imediatamente a tese através de um
argumento específico, enquanto a demostração indirecta auto-revela-se, ou seja, nas situações em que é
factualmente provada a verdade, compreende-se indirectamente a falsidade sem que esta seja demostrada.
Em termos da lógica, a demostração estabelece-se a partir de proposições indiscutíveis, quer se tratem de
afirmações objectivamente verdadeiras ou de hipóteses admitidas por convenção.

O pensamento deve ter a capacidade não de defender as hipóteses falsas, mas de procurar
determinar as hipóteses verdadeiras. Quer no domínio do pensamento lógico, quer no das situações da nossa
vivência quotidiana, a prática do raciocínio e da argumentação deve estar sempre dirigida para a busca da
verdade, da correcção de ideias e práticas. Seguir um princípio contrário leva, a curto ou longo prazo, à
destruição das estruturas comportamentais do indivíduo e da sociedade.

1.4.5. Tipos de Raciocínios

O conhecimento é construído de diversos modos, sendo cada um desses modos dependente de um tipo
específico de raciocínio, chegando a um tipo específico de verdade. As formas do raciocínio exercem uma
influência muito precisa para a definição de princípios correctos do pensamento.

Raciocínio dedutivo

A dedução é o método ou procedimento típico da razão. Sugere as conclusões do geral ao particular,


fundamentando todos os seus juízos e raciocínios gerais ou universais, fazendo transitar as suas

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características gerais do sujeito ou objecto em causa para os indícios específicos. Sai da causa para o efeito,
vai do princípio à norma, do antecedente geral ao consequente particular.

Raciocínio indutivo

A referência feita sobre o raciocínio indutivo, desde Aristóteles, Bacon e demais lógicos, coincide com
o carácter do método indutivo, daí ser o procedimento lógico através do qual conclui-se uma verdade
científica partindo dos factos ou características específicas de objectos idênticos para as características
gerais de todos os factos de igual natureza física, social e científica. Por isso, ele é o próprio método
experimental dos factos, porque exige provar desde cada indivíduo até ao geral.

Via de regra, a indução é de dois tipos: completa e incompleta. A indução completa é a forma de
raciocínio que permite concluir uma ilação por meio de enumeração exaustiva das características que
identificam o objecto, fenómeno ou sujeito. A indução incompleta é portanto, aquela em que o raciocínio não
enumeraria exaustivamente as características do sujeito em causa.

Raciocínio Análogo

Proveniente do grego, a palavra “analogia” significa “proporção matemática”, sendo usada, em geral,
para referir-se a aquilo que apresenta semelhanças, apesar das diferenças entre os objectos, tendo em conta
às circunstâncias.

O raciocínio por analogia é uma operação do pensamento que se forma a partir de uma característica
de um dado objecto (por meio da semelhança desse objecto em ralação aos outros, da mesma natureza ou
não). A dedução depende das características em comum, mas, em termos da análise lógica, o raciocínio por
analogia permite formar conclusões de grupo, família ou classe de objectos pela caracterização das
semelhanças.

A analogia das semelhanças é o raciocínio rigoroso que sustenta as investigações e definições dos
objectos nas ciências (reflectindo-se na estrutura da analogia rigorosa de modus ponens, da ilação
condicional, da categoria de tipo (a b) ^ a) b).

Exemplo: Todo o Homem é um ser, orgânico, vivo, animal, falante, racional;


Cristo é ser, orgânico, vivo, animal, racional;
Ser orgânico, vivo, animal, racional é humano;
Logo, Cristo é humano.

1.4.6. Validade formal e validade material

A lógica é formalizadora do conteúdo do pensamento e da matéria real. É nesse contexto que


podemos falar de lógica formal e de lógica material.

Os aspectos da formalidade na lógica centram-se nas regras, normas, leis ou princípios estruturantes
que obrigam ao pensamento a activar todas as condições necessárias para um pensamento correcto. Desde
Aristóteles que se faz referência aos princípios ou leis da lógica como os principais fundamentos do
pensamento para a verdade. De entre os princípios primeiros deste formalismo destacam-se o princípio da
identidade, o da não contradição e o do terceiro excluído. Na lógica formal prescrevem-se portanto princípios
que devem validar a verdade, de modo a poder ser universalmente aceite por todos.
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O problema da validade na lógica ou seja, da coerência e da certeza de um raciocínio ou de um


discurso. A validade (quando uma verdade é válida) é uma capacidade, no contexto da lógica, que consiste
em tomar certas ideias ou certas verdades como valores universalmente válidos.

A coerência refere-se à ordem, à conexão e à harmonia num sistema de conhecimento discursivo; é a


observância das formalidades (procedimentos) lógicas que ordenam e colocam as ideias num sistema
harmonioso compatível com as formas da prossecução da verdade; é o encadeamento harmonioso entre os
elementos do sistema do pensamento. A certeza, por seu lado, é uma capacidade que confere ao
pensamento a segurança subjectiva da verdade obtida sobre o conhecimento de um objecto; é a garantia que
o conhecimento oferece ao pensamento sobre a verdade retirada do objecto.

Pode definir-se a verdade como a conformidade do juízo (da razão) com o objecto; foi neste sentido
que Aristóteles definiu a verdade e a falsidade nos seguintes termos: A verdade consiste em dizer da coisa “o
que é, é” e “o que não é, não é”. A falsidade por sua vez, consiste em dizer da coisa “o que é, não é” e “o que
não é, é”. Razão pela qual é frequente associar, falsidade à mentira, pelo facto desta última também ter um
conteúdo que não corresponde ao que a coisa é.

A lógica formal é a lógica de Aristóteles, fundada na dedução, que estuda as leis e as diversas formas
que garantem o acesso à verdade, ou simplesmente ao pensamento correcto. Esta lógica coincide com o
objecto formal, sem ter em conta qualquer conteúdo material. Estuda todas as condições da razão que
atingem o pensamento certo, correcto e verdadeiro.

A lógica material consiste na aplicação das operações do pensamento, segundo a matéria, ou seja, a
natureza do objecto alvo de conhecimento. Neste sentido, a lógica é a própria metodologia de cada ciência.
É, portanto, somente no campo da lógica material que se pode falar da verdade: o argumento é válido quando
as premissas são verdadeiras e se relacionam adequadamente à conclusão.

Esta distinção entre lógica formal e lógica material permite entender o carácter verdadeiro ou falso de
raciocínios. É que um carácter pode ser válido tendo em conta a sua forma, mas a conclusão pode ser
verdadeira ou falsa, tendo em conta a sua matéria.

Exemplo: Nenhum homem sabe cozinhar


Este cozinheiro é homem
Logo, este cozinheiro não sabe cozinhar.

Assim, a validade formal incide sobre os aspectos formais, determinando a verdade lógica, ou seja, a
validade propriamente dita, e a validade material incide sobre os aspectos materiais, determinando a verdade
propriamente dita. Assim, a verdade lógica refere-se à estrutura dos elementos de um raciocínio, e a verdade
material refere-se à adequação entre o conteúdo de um raciocínio e o que a realidade é.

À lógica formal interessa aferir a validade dos raciocínios, não a verdade do seu conteúdo. Para que
um raciocínio seja verdadeiro é necessário que as premissas sejam verdadeiras. Para aferir da verdade
material do raciocínio determina-se a verdade do conteúdo das premissas, já que um raciocínio formalmente
válido pode ter uma conclusão falsa, se se partir de premissas falsas.

Exemplos de situações concretas de validade formal e validade material, partindo de uma situação
normal de raciocínio, com duas premissas e uma conclusão:
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Premissa A: Todos os A são B


Premissa B: Todos os C são A
Conclusão: Todos os C são B

Premissa A: Todos os seres vivos (A) são animais (B)


Premissa B: Todos os seres humanos (C) são seres vivos (A)
Conclusão: Todos os seres humanos (C) são animais (B)

Podemos facilmente constatar que o raciocínio é válido e verdadeiro, já que podemos aferir que cada
premissa é verdadeira, sendo assim também verdadeira a conclusão.

Premissa A: Todos os seres que têm escamas (A) são peixes (B)
Premissa B: Todos os seres humanos (C) têm escamas (A)
Conclusão: Todos os seres humanos (C) são peixes (B)

Neste caso, podemos ver pela estrutura que o raciocínio é válido, mas não é verdadeiro, o que
podemos perceber analisando as premissas. Assim, o raciocínio é falso.

Premissa A: Todos os seres que têm asas (A) são aves (B)
Premissa B: Todos os seres humanos (C) são aves (B)
Conclusão: Todas as aves (B) são seres humanos (C)
Neste caso, o raciocínio não é válido, já que não corresponde a uma estrutura correcta (existe um
erro lógico), e tampouco é verdadeiro, o que podemos perceber pelas premissas.

1.4.7. As falácias

A palavra falácia deriva do latim fallacia, e significa, em termos gerais, “ardil” ou “engano”, coincidindo
também com o sentido de uma ideia resultante de uma ilação incorrecta, ou de uma forma de pensar
incorrecta, pré-definida ou espontânea. No campo da lógica, uma falácia é um argumento logicamente
inconsistente, sem fundamento, ou seja, não válido.

A falacia apresenta-se como um artifício aplicado a um raciocínio, no sentido de tentar transformar o


falso em verdadeiro. Pode ter a forma de uma operação mental associada a um pensamento impreciso (a
operação pode ser voluntária ou involuntária).

É difícil identificar as falácias, muitas, vezes, já que pode existir validade emocional ou psicológica
nos argumentos, embora não existindo validade lógica. Deste modo, é importante conhecer os diversos tipos
de falácia e saber como detectá-los, de modo a evitar situações enganosas e poder da melhor maneira
analisar os argumentos próprios e alheios, já que para além dos erros com intenção, podem ocorrer outros
sem intenção, no nosso próprio pensamento.
Quanto a sua origem e natureza, as falacias classificam-se em sofismas e paralogismos.

Sofismas (falácias intencionais) - são raciocínios em que as regras lógicas das inferências não são
seguidas, intencionalmente, com o propósito de “fazer passar por verdadeiro um raciocínio falso”. Os
sofismas são portanto, argumentos não válidos, que se assemelham a argumentos válidos. Este tipo de
falacias divide-se geralmente em falácias linguísticas e falácias verbais.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Paralogismo (falácias não intencionais) – trata-se de raciocínios nos quais as regras lógicas das
inferências não foram seguidas; esses raciocínios não são portanto válidos, sendo paralelos à lógica, mas
apenas na sua forma aparente. Na verdade, são contrários à lógica, mas não há neste caso intenção
enganosa.

Falácias linguísticas

Nestas inferências, o erro de raciocínios deriva da ambiguidade das palavras, organizando-se erros
associados ao sentido dos nomes dos objectos ou das ideias. Nos seus vários modos as falácias linguísticas
baseiam-se na identidade aparente de palavras (ou expressões). Principais modos:

Ambiguidade (ou anfibologia) – trata-se de erros derivados da construção de frases, incorrectas em


termos gramaticais, mas ainda assim fazendo sentido. Embora equívoco.
Ex.: Vi o João a correr atrás de umas pessoas em pijama.
(quem ia em pijama, o João, ou as pessoas?)

Equívoco (ou homonímia) – Trata-se de erros que a ambiguidade de sentido das palavras permite; os
equívocos ocorrem quando uma mesma palavra tende a atribuir um sentido a coisas diferentes. Logo, perde-
se o real sentido do raciocínio por causa da anfibologia do raciocínio em causa.
Ex.: A política é uma arte
A governação é política
Logo, a governação é uma arte.

Composição (ou divisão) – trata-se de erros nascidos do sentido tomado pelo todo em relação à parte
no caso da composição; ou seja, pertence à categoria de erros suscitados pelo sentido das expressões
formadas do colectivo em relação às particularidades dos objectos.
Ex.: Os angolanos são penta-campeões africanos em basquetebol
Jean-Jacques, Lutonda, Cipriano são angolanos
Logo, Jean-Jacques, Lutonda, Cipriano são penta-campeões africanos em basquetebol.

Falácias lógicas

Nestas falácias, o erro deriva das ideias que compõem os raciocínios. Neste caso, os erros ocorrem
nas inferências (podendo ocorrer na indução, na dedução ou na analogia). Nos seus vários modos, as
falácias lógicas baseiam-se no incumprimento de regras lógicas, dividindo-se em: falácias de indução,
falácias de dedução e de argumentação.

Falácias de indução

São falácias que respeitam as regras formais das inferências, mas não têm em conta a matéria do
raciocínio. Neste grupo estão portanto incluídas falácias materiais. As principais são:

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De falsa analogia – trata-se de erros suscitados por uma analogia, como o nome indica. Neste caso,
os erros nascem de se tentar estabelecer uma igualdade apenas pela existência de uma determinada
semelhança.
Ex.: As crianças são anjos
Os anjos são seres voadores
As acrianças são seres voadores.

De acidente – trata-se de erros que nascem da falta de distinção entre o que é acidental e o que é
essencial, considerando uma característica acidental da coisa como sendo essencial para a sua definição.
Ex.: Todo o álcool gera força
A cerveja é álcool
A cerveja gera força

De ignorância de causa – Trata-se de erros que derivam da ignorância, do desconhecimento. Neste


caso, atribui-se a algo acidental ou aleatório a causa da existência de qualquer objecto ou fenómeno.
Ex.: Após a ocorrência de um sismo, ocorreu uma seca
Logo, o sismo foi a causa da seca.

Falácias de dedução

São falácias que ou não respeitam as regras formais das inferências, ou não têm em conta a
realidade ou a matéria do raciocínio. Estão incluídas neste grupo falácias formais (quando não se observam
as regras das inferências) e falácias matérias (quando não se tem em conta a realidade ou a matéria de
raciocínio). As principais são:

De petição de princípio ou de círculo vicioso – trata-se de erros derivados de se pretender esclarecer


a causa pela consequência e vice-versa.
Ex.: Sem água não há vida
Sem vida não há água

De ignorância da questão – trata-se de erros associados a um desvio do cerne da questão em causa,


ou seja, trazendo à situação uma afirmação verdadeira, para tentar negar outra, também verdadeira.
Ex.: O João é acusado, mas o João é bom filho
Logo, o João deve ser inocente.

De dilema ou de falsa dicotomia – trata-se de erros derivados de se tentar chegar a uma mesma
conclusão a partir de premissas, sob a forma de duas alternativas, quando é possível existirem mais.
Ex.: A Maria está atrasada: ou adormeceu, ou perdeu o autocarro.
Como não atende o telefone de casa, deve ter perdido o autocarro.

Falácias de argumentação

São falácias que não respeitam as regras gerais das inferências, usando-se falácias como estratégia
argumentativa, no sentido de fazer com que o argumento pareça verdadeiro.

De argumento ad hominem (contra o homem) – trata-se de erros que ocorrem num argumento
quando em vez de se contrapor um contra-argumento ao argumento do oponente se ataca o oponente.

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Exemplo: A testemunha afirma que o réu está inocente, mas já foi em tempos condenada por roubo;
portanto está certamente a mentir.

De argumento de autoridade – trata-se de erros que derivam de se apelar para o respeito ou


autoridade que uma entidade, ou um indivíduo, inspira, para argumentar que uma determinada ideia ou facto
são verdadeiros.
Ex.: A testemunha é uma pessoa de grande reputação e afirma que o réu está inocente; portanto,
está certamente inocente.

De argumento ad terrorem – trata-se de erros lógicos que ocorrem numa argumentação quando se
recorre à descrição de consequências prejudiciais que a não-aceitação de um argumento pode ter.
Ex.: Se o réu não for condenado, todos nós, com as nossas famílias, estaremos em risco de vida.

1.4.8. OS SILOGISMOS

O silogismo é uma forma de raciocínio dedutivo, particularmente quando as proposições que o


constituem são categóricas, ou seja, proposições em que os quantificadores são “todos/todo, nenhum,
alguns/algum”, afirmando ou negando algo de modo absoluto. Este tipo de silogismos é conhecido como
clássico ou categórico.

O silogismo é portanto um raciocínio composto por duas premissas e uma conclusão, sendo esta
resultante da relação estabelecida entre os termos colocados nas premissas. A primeira premissa é a
hipótese em prova, em relação a convivência entre o sujeito e o predicado; dai o surgimento da segunda
premissa, que ajuda a certificar, ou não, essa relação, gerando-se a conclusão.

Nos silogismos, existem três termos: um termo médio (M), presente em ambas as premissas, mas
não na conclusão, um termo maior (T) e um termo menor (t), sendo estes dois últimos designados como
termos extremos. O termo maior (T) é o termo de maior extensão, comporta-se no silogismo clássico como o
predicado da premissa maior e da conclusão. O termos médio (M), ocupa o extremo do sujeito da premissa
maior e do predicado da premissa menor. O termo menor (t) é o de menor extensão, surge como sujeito da
premissa menor e sujeito da conclusão, por representar os indivíduos que estão dentro do termo médio.

Em resumo temos:

 Três termos: termo maior, termo médio, termo menor


 Duas proposições: premissa maior e premissa menor.
 Uma conclusão

Ex.: Premissa maior (inicial) – Todos os angolanos são humanos.


Premissa menor (relacional) – Mandume é angolano.
Conclusão – Logo, Mandume é humano.
É nas premissas que se encontram os termos que mantêm a relação intrínseca através da qual o nosso
pensamento determina a qualidade, a quantidade do valor lógico de um certo discurso.

Estrutura do silogismo clássico:


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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Todos os frutos (M) são nutritivos (T)


Ora, a laranja (t) é um fruto (M)
Logo, a laranja (t) é nutritiva (T)

1.4.9. Tipos de Silogismos

Existem diversos tipos de silogismos. Regulares que são formas clássicas de silogismos, irregulares e
hipotéticos.

Silogismos irregulares são formas de silogismos comuns, não correspondem a forma categórica
clássica.

Entinemas (silogismos incompletos); são aqueles em que uma das premissas ou mesmo ambas as
premissas não se encontra claramente expressa.
Ex. Os moluscos não são vertebrados porque não têm esqueleto.
Seria: Todos os vertebrados têm esqueleto: Os peixes não têm esqueleto. Logo, os peixes não são
vertebrados.

Epiqueremas são silogismos nos quais uma das premissas ou mesmo as duas se encontram
acompanhadas da demostração respectiva.
Ex.: Os seres humanos riem
Os maoris são homens (demostração de que os maoris, sendo homens, são seres humanos).
Logo, os maoris riem.

Polissilogismos são aqueles em que a disposição, ou seja, a respectiva sucessão leva a que a
conclusão do primeiro silogismo é a premissa do segundo silogismo, e assim sucessivamente.
Ex.: Os bons hábitos são saudáveis
Beber muita água é um bom hábito
Beber muita água é saudável.

Sorites são silogismos abreviados nos quais a ligação entre os termos extremos se produz através de
vários termos médios Apresenta pelo menos quatro proposições com ligações adequadas entre os seus
termos.
Ex.: Os coelhos são herbívoros
Os herbívoros são mamíferos
Os mamíferos são vertebrados
Os vertebrados são animais
Os coelhos são animais

Silogismos hipotéticos são silogismos que apresentam uma premissa maior em que se afirma ou
nega algo sob condição (s. condicionais) ou se estabelece uma alternativa (s. disjuntivos).

Condicionais são silogismos nos quais a premissa maior consiste numa proposição condicional. É
constituída por duas partes: a condição (antecedente) e o condicionado (consequente). Ambas ligadas pelo
conector “se” sucedida de “então” (se “p”, então “q”). Existe duas formas: afirmação do antecedente e
afirmação do consequente.
Ex.: Se tiver boa nota no teste, então irei para a praia.
Afirmação do antecedente: Tive boa nota no teste
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Irei para a praia


Afirmação do consequente: Não fui para a praia
Não tive boa nota no teste.

Disjuntivos são silogismos nos quais a premissa maior consiste numa proposição que se apresenta como
alternativa. (“p” ou “q”). Pode apresentar-se em duas formas: conclusão afirmativa e conclusão negativa.

Ex.: Esta manga ou está madura ou está verde.


Conclusão afirmativa: Não está madura
Está verde.
Conclusão negativa: Está madura
Não está verde.

Dilemas são silogismos que se apresentam de igual modo com forma disjuntiva, com a particularidade de
qualquer das alternativas conduzir à mesma conclusão. Tem as seguintes regras:

1- A disjunção deve ser completa.


2- A refutação de cada uma das hipóteses em alternativa deve ser validada.
3- Qualquer dos termos do silogismo deve ter características válidas.

Ex.: Se o João disser a verdade, o Joaquim ficará contra ele.


Se o João não disser a verdade, o Pedro ficará contra ele.
Quer o João diga a verdade, quer não diga a verdade, ou um ou outro ficará contra ele.

1.4.10. Regras e figuras do Silogismo

Ao longo do tempo, estabeleceu-se determinadas regras para os silogismos, de modo a ser possível
verificar se as premissas são formalmente válidas, o que valida a conclusão. É importante conhecer e aplicar
as regras do pensamento lógico, pois, elas nos permitem desenvolver raciocínios correctos e contrapô-los a
outros raciocínios incorrectos.

A validade de silogismos relaciona-se com a forma dos mesmos, não depende do conteúdo das
proposições que os constituem, já que, uma proposição falsa pode ser válida. Existem regras para os termos
e para as premissas.

Regras dos termos do silogismo

1- Um silogismo deve ter três termos e somente três: O termo maior, médio e menor.
Ex.: Toda mãe é mulher
Ora, a Sofia é mãe
Logo, a Sofia é mulher
2- Nenhum termo será mais extenso na conclusão do que nas premissas.
Ex.: O Manuel é hipertenso
O Manuel é estressado
Logo, o estressado é hipertenso
3- A conclusão não pode conter o termo médio.
Ex.: Toda mãe é responsável
Ora, Maria é mãe
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Logo, Maria é uma mãe responsável


4- O termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez na sua extensão, universalmente.
Alguns homens são génios
Ora, alguns homens são filósofos
Logo, Os filósofos são génios.

Regras das premissas

1- De duas premissas positivas não se forma uma conclusão negativa.


Ex.: Todo o peixe é aquático
Ora, carapau é peixe
Logo, Carapau é aquático
2- De duas premissas negativas nada se pode concluir.
Ex.: Nenhuma gasosa é cerveja
A cerveja não é gasosa
Logo,________________________
3- A conclusão segue sempre a parte mais fraca: significa que se um dos termos for tomado em
particular, a conclusão também será particular e se for negativo a conclusão será negativa.
Ex.: Todos os diamantes são minerais
Alguns diamantes são preciosos
Logo, alguns minerais são preciosos

4- De duas particulares não se forma uma conclusão.


Ex.: Certos cantores são músicos
Ora, certos alunos são cantores
Logo,___________________________

Figuras dos silogismos

A figura do silogismo consiste na estruturação dos termos por meio de certas posições que ocupam
nas premissas, nas quais cada termo, na posição que ocupa no silogismo, exerce uma influência no
pensamento que ajuda a definir a compreensão, extensão e a qualidade do raciocínio certo e determinado.
Assim, as figuras do silogismo formam-se pelo modo como os termos estão posicionados ou dispostos
logicamente nas premissas, definindo a sua compreensão, quantidade e qualidade.

A figura de um silogismo é determinada pelo papel que o termo médio desempenha nas
duas premissas, ora como sujeito numa e predicado na outra, ou como predicado numa e sujeito
na outra, ora como predicado ou sujeito em ambas as premissas. Assim sendo, existem quatro
figuras possíveis.

Premissas Figura 1 Figura 2 Figura Figura 4


3

Premissa maior M-P P-M M-P P-M

Premissa S-M S-M M-S M-S


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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

menor

Existem quatro figuras, e cada uma multiplica-se por outra, gerando 256 modos que advêm de
4×4×4×4=256. Apesar de serem muitas, apenas dezanove figuras são modos válidos e foram criadas
designações como mnemónicas para os diversos modos das quatro figuras principais, que são:

1ª Figura: tem os modos: Barbara, Celarent, Darii e Ferio. A estrutura denomina-se SUPRE, a qual todos
os seus modos devem manter.
M T
Ex.: A O cão é irracional Figura 1:
t M
A O Boxer é cão
t T
A Logo, o Boxer é irracional

2ª Figura: tem os modos Cesare, Camestres, Festino, e Baroco. A estrutura denomina-se PREPRE,
porque M ocupa a posição de predicado nas duas premissas.
Ex.: E Nenhum animal é extraterrestre Figura 2: T M
A Todo o disco-voador é extraterrestre t M
E Logo, nenhum disco-voador é animal t T

3ª Figura: tem os modos Darapti, Disamis, Datisi, Felapton, Bacardo, e Ferison. A estrutura denomina-se
por SUSU, porque M ocupa a posição de sujeito nas duas premissas.
Ex.: E Nenhum fruto é azul Figura 3: M T
I Alguns frutos são citrinos M t
O Logo, alguns citrinos não são azuis t T

4ª Figura: Tem os modos Bramantip, Camenes, Dimaris, Fesapo e Fresison. A estrutura denomina-se
PRESU. Porque M ocupa a posição de predicado na premissa maior e sujeito na premissa menor.
Ex. A Todo o selvagem é animal Figura 4:
A Todo o animal é homem T M
I Logo, algum homem é selvagem M t
t T

II- FILOSOFIA AFRICANA

2.1- INTRODUÇÃO A FILOSOFIA AFRICANA

Segundo alguns historiadores o termo “África” deriva da palavra grega “Aphriké”, significando “Colónia”,
ao passo que, do latim “Aprica” significa “o que está exposto ao Sol”. Foi a partir deste último significado que
se foi compondo a concepção errónea do africano como o indivíduo que não tem inclinação para o exercício
do raciocínio, ou seja, o africano não tem Filosofia.

Os historiadores africanos, assim como, a maioria dos seus filósofos vêem espicaçadas suas mentes
com objecções como: Será que o africano pode filosofar? Existe, realmente, uma Filosofia africana?

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

A tendência para a Filosofia faz parte da própria natureza humana, como é sabido, todo ser humano por
natureza é um filósofo, por isso, até certo ponto todo ser humano tem uma inclinação natural para a Filosofia
uma vez que está apto para reflectir e colocar questões sobre a totalidade do Universo mesmo que estás
questões não sejam tão rigorosas como aquelas colocadas pelos filósofos profissionais. Questões como:
Como apareceu o mundo? Porquê é que anoitece? O porquê da morte? São problemas que o homem comum
(homem da rua) se coloca mas que, igualmente, são estudados com maior rigor pelos filósofos de carreira. E
questões como estas não são colocadas apenas por homens e mulheres ocidentais, mas também por
homens e mulheres de todo o mundo incluindo africanos.

Deste modo, todo ser humano possui uma veia questionadora que o impele naturalmente a filosofar. Se o
africano faz parte a raça humana, é óbvio que, o africano está apto para reflectir, como dissemos antes.

Ao concordarmos com a expressão do professor Wilson Correia “onde há homem que pensa, valoriza,
escolhe, decide e age no mundo, ali também está o germe do pensamento filosófico” queremos demonstrar
que existe, sim, uma filosofia africana, embora este pensamento tenha aparecido a ribalta aquando das
questões levantadas pelos ocidentais; isto não significa que o africano não tenha raízes dum pensamento
filosófico, tal pensamento, querendo ou não, está desenvolvido e continua a ser desenvolvido, não o
encontramos mais ao período pré-lógico – como defendiam os ocidentais. Isto demonstra que não estamos
felizes quando se defende a “irracionalidade” do pensamento africano.

Embora a filosofia ocidental tenha nascido da harmonia sócio-económica e cultural que a Grécia vivia, ou
seja, surgido no espírito da politeia em que “havia um direito de igualdade na lei e ninguém poderia estar
acima da lei” – demonstrando o milagre grego – Não coloca o pensamento africano ao nível inferior perante
si, visto que, para muitos a filosofia africana é uma resposta aos discursos ocidentais sobre a África feita
pelos africanos residentes em Nova York na cidade de Harlem (E.U.A) que lutavam pela dignidade do homem
Negro.

Por outro lado, se voltarmos a génese dos povos encontraremos um problema de interpretação como
aquele que existe quando se discute sobre a originalidade da própria Filosofia (Filosofia é milagre grego ou
descoberta oriental? Aqui surge a questão se a Filosofia foi pensamento dos Hordas Dóricas “povos que se
fixaram na Grécia” ou dos Aqueus “povos autóctones da Grécia” que se fixaram mais tarde na Ásia Menor),
tal problema é levantado com relação ao Homem Negro.

Segundo Elisa Larkin Nascimento “a espécie humana nos livros didácticos é, geralmente, representada
com a imagem do homem branco e as teorias pseudo-científicas de hierarquia entre as raças destituíram o
africano de sua condição humana tratando-o como selvagem ou primitivo classificado como ser sub-humano
ou, irremediavelmente, inferior”.

Hoje, sabemos que, a África é o berço da humanidade e do desenvolvimento civilizatório e que a dois
milhões de anos, o homo erectus ou hominídeo – autor de importantes avanços na manufactura de
implementos com machado – saiu da África em ondas migratórias rumo à Ásia e à Eurásia, iniciando o
povoamento do mundo. Por isso, o continente africano é palco de exclusivos processos interligados de
hominização e de sapientização – o único lugar do mundo onde se encontram, em perfeita sequência
geológica, todos os indícios da evolução da nossa espécie a partir dos primeiros ancestrais hominídeos.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Se como afirmam alguns que a Filosofia «é uma forma de estar no mundo», então, podemos também
assegurar que qualquer comunidade ou povo, de qualquer raça e de qualquer região ou cultura tem uma
concepção própria de fazer Filosofia, típica da sua forma de encarar o mundo e da sua realidade particular;
visto que, nenhuma filosofia é feita fora do contexto sócio-cultural do filósofo que a faz. Ela faz-se dentro de
um povo, de uma cultura, de um tempo, de um espaço. Assim acontece e continuará acontecendo com a
filosofia ocidental, com a filosofia americana, com a filosofia africana, com a filosofia oriental e com qualquer
outro tipo de filosofia que surgir.

Neste sentido está certo o filósofo Karl Jaspers quando afirma que “cada filosofia defini-se a si própria
pelo modo como se realiza”.

No entender do filósofo Paulin Hountondji «a filosofia africana é aquela, apenas, feita em África e pelos
filósofos africanos independentemente de todos aportes externos»; caríssimos, o professor Hountondji clama
por um pensamento genuíno de carris africano. Mas, para o professor padre Maurice Makumba, é todo o
pensamento organizado e debatido por «pessoas que produzem e reflectem filosofia dentro do contexto
africano», quer sejam ou não africanos.

Em resposta a objecção levantada – existe sim, uma filosofia africana e o africano pode filosofar. Visto
que, A Filosofia é uma actividade racional e a racionalidade pertence a todos os seres humanos (sem
excepção).

DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA AFRICANA

Como já é sabida, a definição da Filosofia constitui-se como um problema filosófico, visto que, a
discussão a este respeito enquadra diferentes perspectivas e correntes filosóficas resultando daí diferentes
definições.

Deleuze, na sua obra O que é Filosofia? Apresenta-nos uma definição simplista de Filosofia, ao defini-la
como «o ponto singular em que o conceito e a criação se relacionam entre si».

Sendo Filosofia africana, um dos ramos da Filosofia, podemos defini-la como «o estudo científico sobre a
racionalidade africana tendo em conta seu modo de agir, de pensar, de ser, dentro do contexto cultural».

A Filosofia africana é «uma ciência que se preocupa em investigar desde a antiguidade até a
contemporaneidade, aspectos ligados ao atraso do continente e sua evolução».

Para Battista Mondin “a definição da Filosofia constitui em si um problema filosófico”. Se discorrermos


deste axioma veremos que as particularidades definitórias da Filosofia “também constitui um problema
filosófico” e para entendermos a Filosofia africana vale realçar as definições seguintes:

Segundo Karls Anyanwu (filósofo nigeriano) Filosofia Africana: «é um esforço para compreender ou
justificar os princípios gerais que regulam as crenças do indivíduo africano assim como a sua cultura». A
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

filosofia Africana não é uma Argumentação sobre a existência cultural Africana e nem se quer é a descrição
da aquela cultura, quer dizer que, não analisa ou descreve as crenças em deus nas divindades, nos
antepassados ou as máscaras, as lendas e os provérbios.

A filosofia africana – segundo o filósofo moçambicano Severino Elias Ngoenha - é «uma visão colectiva
do mundo, mas existirá uma filosofia na condição de confrontação do pensamento individual de discussão de
debates quer seja entre africanos quer com o resto do mundo».

Segundo Alexis Kagame, filósofo Rwandês, a filosofia Africana é «um pensamento especulativo que
subfaz nos provérbios, nas máximas, nos costumes que os africanos de hoje herdaram dos seus
antepassados». Esta definição apresenta como suporte a defesa das tradições africanas.

NATUREZA DA FILOSOFIA AFRICANA

A actividade filosófica está aberta a toda a espécie humana e é na base desta premissa que a Filosofia se
estrutura enquanto disciplina sistemática. Quando Placide Tempels nos diz que «quem pretender que os
povos primitivos não possuem um sistema de pensamento, excluiu-os, como consequência, da categoria dos
seres humanos» quer demonstrar que todos possuem uma filosofia enquanto empreendimento realizado com
as capacidades da racionalidade. Neste itinerário, encontra-se o filósofo africano Parrinder que alega: «dizer
que os povos africanos não têm sistemas de pensamento explícitos e assumidos, seria negar a sua
humanidade» e negar a humanidade do africano, simplesmente, através da cor da pele demonstraria a
incapacidade racional do europeu.

Uma Antropologia filosófica consistente e unitária não pode minimizar a importância da racionalidade na
definição da pessoa humana a partir da sua fisionomia e características. Enquanto não se pretender que
todos sejam filósofos, em virtude de serem todos racionais, já não é aceitável – segundo o professor Maurice
Makumba – que se negue o pensamento especulativo a uma raça particular.

A investigação realizada pelos filósofos africanos, como Henry Oruka, tem evidenciado com maior nitidez
que, no pensamento tradicional africano, não existia apenas o nível de primeira ordem da Filosofia, mas
também o nível da segunda ordem.

Para Tempels «declarar a priori que os povos primitivos não têm ideias acerca da natureza dos seres ou
que eles não possuem uma ontologia e que estão totalmente privados de lógica é simplesmente, virar as
costas a realidade». Não há dúvida de que existe uma contribuição cultural de cada povo, assim como do
africano dentro dos temas universais da Filosofia.

Cada povo tira do seu seio determinados elementos que oferece ao espírito universal.

Não se pode negar que um africano exposto a Filosofia ocidental clássica, como base de sua formação
filosófica, pense autenticamente como africano fruto do enraizamento da fusão de pensamentos.

A influência das novas ideias é inexorável e a tentativa de isolar a África do resto do mundo através de
um abraçar da africanidade é uma tentativa de atrasar o pensamento. O resultado que se pode conseguir é

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

apenas o empobrecimento intelectual. Nem o Nacionalismo nem o Panafricanismo se podem orgulhar da


promoção de uma filosofia isolacionista.

Por isso, segundo Paulin Hountondji “não chegaremos nunca a criar uma autêntica Filosofia africana,
uma Filosofia genuína, genuinamente africana”. A maior parte da literatura escrita a respeito da Filosofia
africana é relativamente recente; há indícios nas culturas africanas, de opiniões acerca de algumas das
principais questões debatidas na Filosofia ocidental.

A Filosofia africana é de natureza racional, assim como, todas as outras filosofias e não podemos nos
apartar desta realidade que é visível em todos os seres racionais.

Quando falamos de Filosofia africana pretendemos incluir todos os estádios de desenvolvimento do


pensamento humano como: o antigo pensamento literário; o pensamento tradicional oral e a Filosofia
profissional na África contemporânea.

OBJECTO E MÉTODO DE ESTUDO

A filosofia africana preocupa-se, principalmente, pela racionalidade do homem negro que se deve reflectir
na organização do continente. Hodiernamente, esta preocupação está virada à economia, política e literatura
africana e seus aspectos racionais (Filosofia Primeira).

Assim sendo, o objecto de estudo da filosofia africana é “a racionalidade do homem negro”.

MÉTODO DE ESTUDO

A existência da filosofia africana é dado bem adquerido, não há dúvidas da afirmação do povo africano
como um povo que possue um pensamento bem sistematizado e desenvolvido, onde o nivel intelectual e
discursivo é bastante elevado.

A filosofia africana tem os mesmos estatutos epistemológicos tal como a filosofia helénica. A filosofia
africana deve ser vista como as outras filosofias, ou seja, ser interpretada como a filosofia ocidental. O
pensamento africano tem uma referência subjectiva e objectiva, pois é preciso desmitizar que “África não
possue filosofia ou negação da filosofia africana”. E este é o tempo de colocar as ideias africanas no centro
de qualquer análise que envolve a cultura e o comportamento africano (afrocentrismo). A filosofia africana
apresenta caracteristicas bem explícita e analítica.

O método empregue pelos filósofos africanos foi sempre o «analítico».

PERTINÊNCIA DO ESTUDO DA FILOSOFIA AFRICANA

A filosofia africana enquanto campo de investigação procura debater assuntos relacionados com o
continente levando os estudiosos a interpretá-lo da melhor forma possível. É importante estudar a filosofia
africana por enumeras razões, tais como:

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

• Ajuda-nos a criar uma intelectualidade compacta à luz da razão através da análise temporal;

• Liberta-nos das hipocrisias eurocêntricas e assegura a nossa humanidade;

• Retira-nos, através da compreensão, a mentalidade de revolta e perseguição a dita “raça superior;

• Eleva-nos a tarefa de progressão e desenvolvimento de maneiras a efectivar a racionalidade africana.

PERÍODOS MARCANTES NA HISTÓRIA DA ÁFRICA

1. PERÍODO PRÉ-COLONIAL: Neste período verificou-se a existência de Reinos e impérios africanos


como: Reino do Congo, Império do Mali, Reino do Benin, Império Achanti, Império de Oyo…

2. PERÍODO COLONIAL: é o período no qual, do ponto de vista político, se verificou a invasão e a


ocupação dos reinos e impérios africanos pelas forças estrangeiras originando, no entanto, a perca de
soberania dos reis africanos.

3. PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA: A partir deste período a África volta a recompor-se tomando


assim a soberania antes retirada pelos invasores.

1– ETNOFILOSOFIA OU FILOSOFIA CULTURAL DO AFRICANO

A Etnofilosofia, em geral, define-se como corpo de crenças e de conhecimentos manifestados pelos


pensamentos e acções de pessoas africanas que partilharam uma cultura comum. A Etnofilosofia aponta a
existência de uma filosofia unificada africana (Bantu) que se expressa por meio de elementos linguísticos e
culturais.

Seus maiores expoentes são: Placide Tempels e Leópald Sènghor, podendo ser também encontrado
autores como: Alexis Kagame, John Mbiti e Valentim Mudimbe.

A narrativa colectiva e a revelação dos conteúdos por meio de diversos códigos como: os mitos, os
sistemas simbólicos, as linguagens religiosas e comuns apresentam-se como características fundamentais da
ETNOFILOSOFIA.

Placide Tempels, na sua obra FILOSOFIA BANTU, “procurou demonstrar o espírito da consciência negra
manifestado pelo discurso do nacionalismo cultural da África”.

Alexis Kagame deu continuidade a obra de Tempels ao apresentar uma formulação mais rigorosa sobre a
construção da filosofia subjacente à visão africana (ruandesa) do mundo, na sua obra «A filosofia bantu-
ruandesa do ser» publicada em 1956.

A cultura africana é única, como nos confirmou Cheikh Auta Diop e Mubabinge Bilolo, ao destacarem que
o antigo Egipto estava inserido na cultura africana quando deu grandes contribuições para as áreas da
Ciência como: Matemática, Arquitectura e Filosofia que foi, de certa forma, a base civilizacional da Grécia.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Um dos críticos desta corrente foi Paulin Hountondji. Segundo ele, não se pode confundir uma prática de
ordem científica e académica com um conjunto de crenças e práticas comum do quotidiano de uma etnia ou
população. Sendo assim, Filosofia é multiplicidade de pensamento e não sobrevalorização de formas
simplistas de pensamento.

2– NEGRITUDE OU FILOSOFIA DA RAÇA NEGRA: Leopold Sénghor

O termo negritude é um empréstimo feito ao Aimé Césaire, no poema escrito na obra: Caderno de um
regresso ao país natal, de 1939

«Desconsidero fronteiras no que diz respeito ao Negro; o mundo inteiro é a minha província até que o
negro seja livre» (apud Aimé, 2010: 13). Ou ainda como disse Fanon «sou um homem, e é todo o passado do
mundo que tenho a reassumir cada vez que um homem fez triunfar a dignidade do espírito, cada vez que um
homem disse não a uma tentativa de sujeição do seu semelhante, senti-me solidário com o seu acto».

A negritude foi concebida como a celebração do legado negro e um incentivo para a restauração da
dignidade da raça negra desvalorizada pela ideologia colonial.

Esta corrente filosófica procurou transformar em virtudes as supostas características negativas da cultura
negra.

A Negritude define-se como a soma total dos valores culturais da raça negra.

Seus maiores expoentes são: Aimé Césaire, Leon-Gontran Damas e Leópold Sènghor.

A Negritude foi impulsionada pelo movimento norte-americano denominado «Renascimento de Harlem».

A Negritude, além da valorização da raça, procurou também tratar da situação sócio-política do


continente. A vida política e social tem de ser inspirada por uma cultura a partir da qual se pode buscar um
sistema político responsável enraizado no coração de um determinado povo.

Para Julius Nyerere «a África tem de mudar as suas instituições para que a sua nova aspiração se torne
possível; o seu povo deve mudar de atitudes e práticas de acordo com estes objectivos».

Os pensadores acentuados apresentaram três importantíssimos conceitos ligados à Negritude, como:

1 – Identidade: Consiste em o negro assumir plenamente a sua condição de homem no mundo. Passa
pelo enegrecimento da pele branca e não branqueamento da pele negra.

2 – Fidelidade: Consiste na ligação do homem negro à terra mãe (África). Em Kiswahili, reforça-se com o
seguinte teor: «shienyu ni shienyi khali shihunyi bukundu, ou seja, o teu irmão é teu irmão ainda que cheire a
mal (feda)»

3– Solidariedade: Consiste na actitude sentimental que liga secretamente todos irmãos negros
independentemente do país natal.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

3 – PAN-AFRICANISMO: William Du Bois

o pan-africanismo tem sido mais defendido fora de África, entre os descendentes dos africanos
escravizados que foram levados para as Américas até ao século XX e dos emigrantes mais recente.

O pan-africanismo foi desenvolvido na diáspora americana por descendentes de africanos escravizados


e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William Edward Burghardt Du Bois e
Marcus Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena política por africanos como Kwame
Nkrumah. No Brasil foi divulgada amplamente por Abdias Nascimento. No entanto, Henry S. Williams e o
William Edward Burghardt Du Bois são considerados como os pais do pan-africanismo.

Etimologicamente, [(Pan quer dizer todo), (african reporta-se àquilo que é concernente

a África) e (ismo exprime corrente ou doutrina)], assim definiremos Pan-africanismo toda a corrente ou
doutrina que procurava a unificar a África como um todo.

Do ponto de vista interpretativo, o Pan-africanismo é o movimento cultural, político, filosófico e social cuja
finalidade visava defender os direitos dos povos de África e a união do continente de forma a torná-lo um
Estado Soberano tanto para os que nele vivem como os que vivem na diáspora.

Eles propunham a unidade política de toda a África e o reagrupamento das diferentes etnias divididas
pelas imposições dos colonizadores valorizando a realização de cultos aos ancestrais, a defesa e ampliação
do uso das línguas nativas proibidos ou limitados pelos europeus.

Os seus maiores expoentes são: William Du Bois, Sylvestre William e Marcus Garvey

Os principais objectivos do movimento foram:

– A unidade espiritual de toda África sob pretexto de um Estado Único

– A capacidade de criar condições de prosperidade para todos os africanos

4– NACIONALISMO OU FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO

O Nacionalismo ao procurar criar uma teoria política única que colocasse a África ao progresso
apresentou a filosofia da libertação ideológica como um pensamento comum tanto da Negritude quanto da
Etnofilosofia.

As premissas iluministas e marxistas foram as bases da filosofia da libertação; embora a mesma esteja
ligada directamente ao movimento surgido na América latina nas décadas de 60 e 70 do século XX.

O papel do filósofo africano reside na procura de melhor opção tanto da organização social como da
política.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

A influência das sociedades antigas e tradicionais no pensamento contemporâneo catapultou a filosofia


nacionalistico-ideológica aos valores africanos para a criação de um sistema político para a África.

Os filosófos-reis africanos defenderam na sua maioria o Socialismo comunalista voltado ao pan-


africanismo e ao pan-humanismo do negro.

Os maiores expoentes do nacionalismo-ideológico são: Augusto Salazar-Bomdy, Leópold Zea, Aimé


Césaire, Leópold Sénghor e Henrique Dussel.

TEMA III: CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS

- Definição de Política

3.1. O que é a Política

Etimologicamente a palavra política tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em cidades-
estado chamadas pólis (πόλις), unidade de referência do pensamento e da acção dos gregos 1, nome do qual se derivaram
palavras como politiké (κή), que significa “política em geral”.Neste caso, a «cidade» mencionada, não é entendida
como um conjunto de ruas,casas e edifícios, a cidade aqui referenciada,é um espaço cívico, constituido por homens e
mulheres conscientes de seus deveres, direitos e igualidade perante a lei,ligados ao exercicio da cidadania.
Não é fácil definir a palavra política, pela sua abrangência de manifestações e possibilidades de exercício, na vida
de cada indivíduo, de cada sociedade ou país.
Ricoeur, entende por política « o conjunto de actividades que têmpor objectivo o exercício do poder; gradualmente,
será política, toda actividade que tiver por fim, ou até simplesmente por efeito,influenciar a repartição do poder».
Na filosofia aristotélica, a política é a ciência que tem por objecto a felicidade humana e divide-se em ética (que se
preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade
colectiva da pólis). O objectivo de Aristóteles com a sua política, em consonância com o pensamento platónico, é justamente
investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar uma vida feliz ao cidadão. Por isso mesmo, a
política situa-se no âmbito das ciências práticas, ou seja, as ciências que buscam o conhecimento como meio para acção.
Para ele, o homem por natureza é um ser político, querendo com isso dizer; que a dimensão política da existência humana é
inerente e conatural ao seu seio social.
A política é assim entendida como a arte ou ciência da organização, direcção e administração de nações ou Estados;
aplicação desta ciência aos assuntos internos das nações (política interna) ou aos assuntos externos (política externa). Nos
regimes democráticos, a ciência política é a actividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com
sua militância.
A política envolve tudo o que diz respeito à vida da cidade, aos problemas públicos da sociedade humana. De um
modo muito geral, pode-se dizer que a política é a ciência ou a arte de organizar a sociedade humana.

3.2. Para que serve a política?

1
Tenha-se em conta que a vida política dos gregos era condicionada pela existência da cidade . (cf. TOUCHARD, Jean,
História das Ideias Políticas, vol. I, Publicações Europa-América, Lisboa, 1991, p. 27).
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Em primeiro lugar, a política serve para ajudar as pessoas e a sociedade a viverem organizadas e a procurar o bem-
comum, o bem de todos. No sentido geral, a política serve para resolver da melhor maneira os problemas da população,
para promover e desenvolver a vida do povo, organizando os povos contra as desgraças da natureza, trabalhando pela paz,
pelo desenvolvimento, etc.
Por isso, todos os cidadãos se devem interessar pela política, todos devem sentir-se responsáveis pela vida das
pessoas e das comunidades2.

3.3. O que é o poder?

Poder é a capacidade de deliberar, agir, mandar e, dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania, a
posse de um domínio, da influência ou da força.

Poder é um termo que se originou a partir do latim possum (de “potere”), que significa “ser capaz de”, e é uma
palavra que pode ser aplicada em diversas definições e áreas.

Segundo a sociologia, poder é a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, e existem diversos tipos de
poder: o poder social, o poder económico, o poder militar, o poder político, entre outros.

Alguns autores importantes que estudaram a questão de poder foram Michel Foucault, Max Weber, Pierre Bourdieu.

As principais teorias sociológicas relacionadas ao poder são a teoria dos jogos, o feminismo, o machismo, o campo
simbólico e etc.

Para a política, poder é a capacidade de impor algo sem alternativa para a desobediência. O poder político, quando
reconhecido como legítimo e sancionado como executor da ordem estabelecida, coincide com a autoridade, mas há poder
político distinto desta, como acontece no caso das revoluções ou nas ditaduras.

O poder expressa-se nas diversas relações sociais, e onde existem relações de poder, existe política, e a política se
expressa nas diversas formas de poder.

3.3.1. Os tipos de poder

O poder está presente em várias esferas de actuação na sociedade: na família, com rara excepção, o poder é
paternal ou maternal; nas associações, por um corpo directivo ou um presidente credenciados para defender os seus
associados; numa sociedade empresarial, um dono ou um colegiado dirigido por um executivo que definem estratégias e
comandam o seu corpo funcional; nas igrejas, por uma hierarquia que, em nome de Deus, impõe regramentos dogmáticos a
serem obedecidos e seguidos por todos os seus fiéis; em um partido político, pelo seu directório ou comandante supremo e
nos Estados por várias formas de governos. Enfim, onde existirem humanos reunidos, em raríssimos casos, o factor poder,
conforme o conceito acima descrito, sempre se fará presente para ordenar e harmonizar a convivência colectiva.

É do poder político que os homens e as mulheres ao longo de toda a história da humanidade procuraram sempre
buscar para o seu bem-estar na sociedade os dois elementos fundamentais, a saber: a liberdade e a igualdade.
2
O Cidadão e a Política, 4.ª ed., Luanda: Centro Cultural Mosaiko, 2004,
36
Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

O poder pode ser exercido através de uma autocracia ou de uma democracia. Numa autocracia, o povo apenas tem
de obedecer, não tendo nenhum direito de manifestar as suas opiniões perante um ou vários autocratas que têm o direito de
impor e de fazer tudo o que lhes apetece. Já numa democracia, é o povo que escolhe os governantes, entre os políticos que
se candidatam para tal efeito em eleições “livres”. No primeiro caso, o povo existe para servir os caprichos dos governantes.
No segundo caso, os governantes existem para servir os caprichos do povo.

Ao longo da história, tem havido várias formas de autocracias (só para citarmos algumas):

• Monarquia absoluta

Neste regime político, o poder é exercido por um rei ou por um imperador, segundo os seus gostos e apetites
pessoais. É uma monocracia. A grandeza do seu reino ou do seu império é tanto maior, quanto maior for a fome, a miséria e
a ignorância do povo, desde que os recursos sejam usados na construção de palácios dourados e realização de serimoniais
de pompas. Para ajudar o rei ou imperador na sua tarefa de endeusamento,existe o poder militar, exercido pela nobreza ou
por exécito.

• Tirania

Atribui-se este nome ao regime político em que o poder é usurpado e mantido pela força, e é exercido por alguém
que é designado de tirano por quem não concorda com ele. O tirano é, normalmente um chefe militar.

• Aristocracia

É um sistema elitista onde quem comanda o Estado é um grupo de pessoas pertencentes a classe social
dominante (latifundiários, militares, sacerdotes...)

• Oligarquia

Do grego, ολιγαρχία, de ολιγος (= oligos), que significa “pouco” e αρχία (= arkhia ou arquia), de ἀρχή (= arkhé ou
arqué), que, por sua vez, significa “origem”, “princípio”, “governo”, “poder”, “soberania”, “reino”, “magistratura”. É o governo
de poucos onde um grupo reservado de famílias e cidadãos se revezam no poder. Normalmente, famílias de grandes
proprietários.

• Teocracia

É o governo onde tudo é voltado de acordo com os fundamentos de alguma religião. E clérigos assumem o papel de
controlar o Estado.

• República ditatorial
37
Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

O poder é exercido por um só partido político que, não tendo oposição, pode criar as leis que melhor servirem os
seus caprichos. Como se trata de um regime político de uma época em que é, talvez, impossível eliminar os meios de
comunicação social, é protegido por sistemas policiais de censura, de denúncia e de repressão contra quem não for a favor
dele.

Em suma o elemento específico do poder político pode ser obtido das várias formas de poder, baseadas nos meios
de que se serve o sujeito activo da relação para determinar o comportamento do sujeito passivo. Assim, podemos distinguir
três grandes classes de um conceito amplo do poder a saber:

 Poder económico

É o que se vale da posse de certos bens necessários ou considerados como tais, numa situação de necessidade,
para controlar aqueles que não os possuem, consistindo na realização de um certo tipo de trabalho. A posse dos meios de
produção é fonte de pode para aqueles que os têm em relação àqueles que os não têm. Quem possui abundância de bens,
por exemplo, é capaz de determinar o comportamento de quem não os tem pela promessa e concessão de vantagens.

 Poder ideológico

O poder ideológico actua de forma penetrante e complexa na sociedade. Esse tipo de poder domina todos os
núcleos sociais, também chamados de instituições que formam esta engrenagem, a saber: família, escola, igreja,
organizações e o Estado. São os organismos já estabelecidos para adaptar e enquadrar o indivíduo na condição desejada.
Outras forças também exercem papel fundamental neste jogo ideológico. É o caso do sistema jurídico, a mídia através das
notícias, entretenimento e propagandas, sindicatos, cooperativas, carnaval, futebol e moda.

 Poder político

O poder político baseia-se na posse dos instrumentos com os quais se exerce a força física; é o poder coactor no
sentido mais estrito da palavra. A possibilidade de recorrer à força distingue o poder político das outras formas de poder.
Isso não significa que seja exercido pelo uso da força; a possibilidade do uso é condição necessária, mas não suficiente
para a existência do poder político. A característica mais notável é que o poder político detém a exclusividade do uso da
força em relação à totalidade dos grupos sob sua influência.

 A formação social do poder

Homem, sociedade e poder são um trinómio indestrutível. Qualquer sociedade que vivesse sobre a face da terra
sem que nela houvesse o poder, ela desapareceria. A História, como ciência, prova-nos isso. Logo, não há sociedade sem
poder, nem poder sem sociedade.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Como se forma o poder?

Umas das principais hipóteses já examinadas são as teorias contratuais de Thomas Hobbes e de Jean-Jacques
Rousseau que explicam a formação do poder, do Estado e da sociedade como sendo um contrato (como acordo de
vontades) realizado entre os homens3. Esse consentimento, segundo os adeptos modernos das doutrinas em apreço, está
na base, na origem, da formação do poder.

Ao contrário das teorias contratuais de Hobbes e Rousseau, tal como acabamos de ver acima, outros autores
defendem a ideia de que o poder forma-se pela força. Outros, são as circunstâncias comuns a todas as sociedades
humanas, e inúmeras teorias sugerem como causas eficientes a necessidade natural, o hábito, o medo, a vontade de Deus,
a vontade de um homem excepcional, entre muitas outras teorias.

3.5. Ética e política

Tal como a palavra política, a palavra ética deriva de uma palavra grega ethiké, que em termos gerais se pode
definir como «ciência da moral». Na filosofia, a ética tornou-se um dos ramos de estudo dos julgamentos de valores, no
sentido de que estes se relacionam com as noções do bem e do mal.
A ética é entendida como um comjunto de normas princípios e valores que orientam o comportamento do indivíduo
no seio social. Assim, a moral tem um caracter «normativo», enquanto a ética tem um caracter «teórico» no sentido de
estudar os costumes de uma determinada sociedade, numa determinada época,tendo também o papel de contribuir com
valores e com soluções para os problemas com que os indivíduos se deparam no seu quotidiano, nos seus diversos
papéis,confrontando-se com as referidas noções do bem e do mal.
Sendo a ética e a política duas realidades inseparáveis, visto que o problema de uma é necessariamente o
problema da outra, eis que como a política é a arte de organizar a vida das pessoas, tendo em vista o bem-comum, a ética,
como prerrogativa da filosofia, tem, de qualquer das maneiras, de se interessar pela política, uma vez que a ética e a
política, na visão de Platão e Aristóteles, constituem apenas um único problema.

Assim, a política, como toda a profissão humana, tem uma dimensão técnica e uma dimensão ética. A primeira não
compete, de maneira nenhuma, à ética, mas a segunda, sim. Em Medicina, por exemplo, a ética não pode ensinar como se
faz uma operação; mas deve ensinar se uma operação é moral ou imoral. Em política, é a mesma coisa. É possivel perceber
que ao longo dos tempos, a filosofia interpelou a acção política no sentido de questionar as formas, que foram sendo
desenvolvidas e tratadas , a denominação de seres humanos por outros seres humanos.A filosofia, inclusive, através da
ética,tentou tornar claros valores como o de justiça, de liberdade, de tolerância, no sentido de que a acção política se
dirigisse para o bem comum,para o melhor governo das sociedades humanas.

3.6. O cidadão e a política

3
É de salientar que Platão, Aristóteles, muito antes destes, Demócrito de Abedera, assim como Santo Agostinho de Hipona,
posteriormente, e não só, já falaram também a respeito do assunto em causa há centenas de anos.
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

A própria dignidade da pessoa humana e a sua condição de cidadão exigem que os seres humanos tomem parte
activa na vida pública4, ainda que essas formas de participação nela estejam necessariamente condicionadas pelo grau de
maturidade alcançado pela comunidade política de que são membros. Ou melhor, devem exercer o direito que a lei da
isonomia oferece. A « questão política » é dirigida a todos os cidadãos que de consciência plena dão tudo o que de melhor
possuem para um desempenho eficaz dos governantes.
Ficámos, a saber, que a política é feita por todos os cidadãos, mas temos de destinguir entre « fazer política » e «
participar na política ». Este « fazer politica »compete exclusivamente a grupos de pesssoas especializadas, cujo papel é
exercer funções políticas, segundo um conjunto de regras. Ao passo que « participar na política» é extensivo a todos os
cidadãos , também segundo um determinado conjunto de regras. É nesta linha de participação que todos os cidadãos,
eleitores, podem exercer acções políticas, através de eleiçóes, por exemplo, ou tendo actividade partidária.

3.7. Política e globalização5

Falar de ploítica é obviamente falar da organização das sociedades, organização que, ao longo dos tempos foi
tomando diferentes formas; estas formas foram se alterando conforme a ideologia política num determinado tempo e lugar e
as circunstâncias das pessoas vivendo neste respectivo tempo e lugar. Podemos inclusive partir do exemplo das sociedades
tradicionais africanas, para analisar alguns aspectos relacionados com a rápida transformação das sociedades
contemporâneas com conceito de globalização.
A globalização é conjunto de transformações políticas, económicas e culturais que pretende a integração do mundo
e do pensamento num só mercado. A ideia da globalização é consequência da velocidade com que cada vez mais as
informações são processadas.

Trata-se de um processo de aprofundamento da integração económica e social dos países do mundo no final do
século XX. É ainda um fenómeno observado na necessidade de formar uma Aldeia Global que permita maiores ganhos para
os mercados internos já saturados. É necessário dizer que a globalização não veio apenas trazer vantagens ou facilitar a
vida, pois, também tem muitas desvantagens:

O processo de globalização em marcha acabou com os limites geográficos, mas não eliminou a fome, a miséria e os
problemas políticos de milhões de globalizados que vivem ou sobrevivem abaixo da chamada linha da pobreza absoluta.

Seguramente, os indivíduos vivem num mundo de problemas e desafios de globalização. Nunca se falou tanto em
dificuldades como nos tempos actuais. A velocidade que traz a mudança afasta a solução. Os problemas oscilam nos
extremos da inquietude ou nos deslimites da angústia. Os desafios não têm limites de exigências, renovam-se a todo
instante e tornam-se mais complexos, à medida que aumenta a globalização das relações sociais6.

As diversidades étnicas, culturais, económicas e políticas que compõem o mundo global, na verdade, não são
diferenças entre espaços físicos da globalização, mas, sim, entre indivíduos que têm línguas, costumes e diferentes graus
de desenvolvimento social e principalmente pensam diferentemente.

4
Cf. Romanos 13,1-7
5
Globalização – o termo globalização começou a circular no final dos anos 80 para sugerir a ideia de unificação do mundo,
como resultado dos três processos que marcaram o fim do “breve século XX” (Hobsbawn, 1995) .
6
BIANCARDI, F, I Nuovi Argomenti. Tematiche di grande attualitá per legger, per riflettere e…, Manna, Napoli, 2002, p, 14.
40
Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

3.7.1. Uma governação global

O referido conceito está associado ao conceito de «boa governação» que exige compromisso para com valores
éticos,erradicando práticas como a corrupção ou a manipulação de imformação.A «boa governação» terá de passar pela
resolução prioritária dos problemas das camadas mais desfavorecidas das populações de muitos países,por vezes
afectadas também por desastres naturais. Esta concertação impõe-se para que seja credível uma boa vontade política
comum. Tal implica certamente a reforma de sistema parcelares de governação, e de instituições de vários tipos, de modo a
que se tornem mais eficiente e aceites internacionalmente, de modo a fazer face a situações críticas existentes em muitos
pontos do globo.Com efeito, a nossa época, embora representa grande evolução em termos tecnológicos e cientifico, tem
vivido sucessivas críses económicas em largas escalas, associadas a instabilidades várias, que continuam a provocar
guerra,fome, ausência de segurança,etc.
A globalização é também o cenário do desenvolvimento desigual. Ela é problemática e contraditória, dissolve
espaços e tempos e impõe ao indivíduo padrões e valores desconhecidos. A mesma fábrica da sociedade global, que se
impõe e que ajuda a criar e recriar continuamente e torna-se o cenário que desaparece.

Ao falarmos duma governação global, não podemos não salientar aquelas que são as características do tema em
estudo. Assim sendo, podemos considerar como características principais da globalização a homogeneização dos centros
urbanos, a expansão das corporações para regiões fora de seu núcleo geopolítico, a revolução tecnológica nas
comunicações e na electrónica, a reorganização geopolítica do mundo em blocos comerciais regionais, a fusão entre
culturas populares locais e uma cultura de massa supostamente “universal”, entre outros.

Por exemplo, a economia globalizada permite que haja um movimento em direcção à globalização cultural e tudo
sempre em função de uma determinada política das nações. Hoje, através da Internet, por exemplo, um estudante ou
pesquisador tem acesso, sem sair de casa, a qualquer biblioteca ou universidade do planeta e os contactos humanos,
conhecimentos básicos do idioma de outros países.

Acontecimentos no outro lado do mundo podem ser acompanhados online e em tempo real. Apesar de globalização
uniformizar o pensamento, ela também o diferencia por sublinhar as características regionais e não deixar dúvidas, nos
consumidores, de que aqueles que não detêm tecnologias estão excluídos do grande sistema que pretende gerar um
pensamento universal. Porém, ainda é cedo para avaliar as consequências que esta interacção terá sobre as culturas
nacionais, principalmente nas dos países em via do desenvolvimento. Contudo, já se sabe que a vivência humana
globalizada está a criar uma nova ética, uma nova forma de pensamento e, nas novas gerações, uma posição mais
compreensiva diante de outras maneiras de ser e viver.

Em sentido económico, globalização é a mudança de um sistema de economias nacionais distintas para uma
economia global. Actualmente, na “Aldeia Global”, a produção de mercadorias é internacionalizada e o dinheiro fluiu livre e
instantaneamente através das fronteiras. É praticamente um comércio sem fronteiras. Com isso, as multinacionais detêm
grande poder, ao passo que investidores anónimos podem fomentar prosperidade material ou causar devastadora
depressão económica em qualquer parte do mundo. A globalização é tanto a causa como o resultado da moderna revolução
da informação. Foi impulsionada por surpreendentes melhoras nas telecomunicações, pelo incrível aumento na capacidade
de processamento dos computadores e pelo desenvolvimento de redes de informação, como a Internet. Essas tecnologias
ajudam a romper as barreiras da distância física.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

3.7.2. Globalização da cultura

Outros motivos de preocupação são os choques culturais e a disseminação de valores materialistas. O intercâmbio
de ideias é um aspecto importante da globalização, sendo a internet o ícone desses fenómenos. Lamentavelmente, a
internet não é usada apenas para divulgar informações, cultura e comércio benéficos. Alguns sites promovem a pornografia,
e o racismo. Há até o que dão instruções específicas sobre a construção de bombas caseiras.

A televisão e os filmes também exercem uma enorme influência sobre o modo de pensar das pessoas. Hollywood, a
maior fábrica de sonhos do mundo, é quem dita as mensagens passadas pelo cinema mundial. Os valores promovidos por
esta gigantesca indústria do entretenimento, com frequência, envolvem materialismo, violência ou imoralidade. Podem ser
totalmente incompatíveis com a cultura de muitos países. Mas as pessoas desses tais países, já influenciadas, sobretudo,
pelos EUA, “querem comer e copiar de tudo o que de lá vem”. Hoje o mundo tornou-se uma coisa só.

3.7.3. A globalização é a solução?

Como muitos empreendimentos da humanidade, a globalização tem o seu lado útil e o seu lado prejudicial. Ela
trouxe vantagens económicas para alguns e introduziu uma era de comunicações globais. Mas favorece os ricos e os
poderosos ao passo que exclui os pobres e os carentes. E tanto criminosos assim como os vírus causadores de doenças
têm-se aproveitado das vantagens da globalização com mais eficiência do que os governos.

A crescente integração mundial produziu uma série de consequências económicas, políticas, culturais e ambientais.
Infelizmente, algumas delas foram negativas. A publicação do Relatório de Desenvolvimento Humano, 1999, comentou:

A redução do espaço e do tempo e o desaparecimento de fronteiras ligam as vidas das pessoas mais
profundamente, mais intensamente e mais directamente que no passado. Isso abre muitas oportunidades e possibilidades,
tanto para o bem como para o mal7.

Assim, como existem inúmeras realizações humanas, a globalização tem o seu lado positivo e o seu lado negativo.

3.7.4. O lado ruim da globalização

A globalização económica está a criar um mercado mundial que dá maiores oportunidades para muitos, mas
também aumenta os ricos, diz um jornal britânico: “ A interdependência das nações na economia mundial emergente permite
que um evento aparentemente isolado desencadeie pânico financeiro no mundo”. Pense-se, e até chega a ser muita
verdade, que entre os maiores beneficiados pela globalização estão os criminosos, que agora podem explorar os mercados
mundiais de drogas, armas e prostituição.

Em Dezembro de 1999, a Conferência da Organização Mundial do Comércio, realizada em Seattle, EUA, foi
interrompida por uma manifestação. O que provocou a “batalha de Seattle”? Uma longa lista de protestos envolvendo
estabilidade no emprego, meio ambiente e injustiça social. Mas em síntese, o que os manifestantes temiam era a
globalização – e seus efeitos sobre as pessoas e o planeta. Seus temores não diminuíram. Desde 1999, manifestações anti-

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

globalização aumentaram em tamanho \e força. Em alguns casos, os líderes mundiais procuram agora realizar seus fóruns
em locais isolados, de difícil acesso aos manifestantes.

É claro que nem todos encaram a globalização como ameaça. Alguns a condenam como a causa de todos os males
do mundo, Trazendo consigo; o intervensionismo estrangeiro, a perda de identidade nacional, declínio das línguas
minoritárias, aumento de desemprego nos paises desenvolvidos,,concentração de capitais em grandes
multinacionais,desigualdade económicas,etc. Outros a aclamam como a solução para grande parte dos problemas do
mundo pêlo facto da mesma trazer consigo vantagens como: a diminuição das distâncias e de tempo, no campo da
comunicação e dos transportes cada vez mais rápidos e eficientes,intercâmbio cultural,desaparecimento das fronteiras
económicas,intercâmbio linguísticos, etc.É verdade que esse debate pode parecer irrelevante para a maioria da humanidade
que tem uma noção muito vaga do que é a globalização. Mas não importa qual o seu ponto de vista sobre o assunto, pois, já
está a ser afectado pela globalização e, provavelmente, sê-lo-á muito mais no futuro.

3.7.5. A tecnologia por detrás da globalização

A tecnologia revolucionou a indústria da comunicação na última década. O acesso a pessoas e a informações –


praticamente em qualquer parte do mundo – tornou-se mais rápido, mais barato e, mas fácil.

Televisão – a maioria das pessoas no mundo hoje tem acesso à TV, mesmo as que não possuem televisão. Em
1995, havia 235 aparelhos de TV para cada 1000 pessoas no mundo, quase que o dobro em relação a 1980. Uma pequena
antena parabólica permite que pessoas que vivem nas partes mais remotas do globo recebam transmissões do mundo todo.
“Hoje em dia, ninguem pode ficar completamente isolado na media mundial ”, diz Francis Fukuyama, célebre professor de
economia política.

Internet – Uns 300 mil novos usuários se conectem à Internet toda semana. Em 1999, calculava-se que o número de
usuários em 2001 seria de 700 mil. “ O resultado é que”, explica o escritor Thomas L. Friedman, “ nunca antes da história
mundial tantas pessoas puderam aprender tanto sobre a vida, os produtos e as ideias de outras pessoas e povos”.

Telefone – cabos de fibra óptica e transmissões por satélites diminuíram muito o custo dos telefonemas. O uso das
ondas de rádio fez com que o telefone celular ficasse tão comum como o computador.

Microchip (ou micro-chip) – todos os recursos acima mencionados, que são melhorados, constantemente,
dependem de microchip ou microprocessador. Nos últimos 30 anos, o poder de processamento do microchip tem duplicado
a cada ano e meio. Nunca tantas informações foram armazenadas em tão pouco espaço.

3.8. O que é a democracia?

Democracia, do grego antigo, δημοκρατία (= dēmokratía), termo criado, precisamente, no século V a.C., a partir de
dois termos gregos δῆμος (= demos), que significa “povo” e κράτος (= kratos), que, por sua vez, significa “poder”.
Literalmente, democracia quer dizer “governo (ou poder) do povo”.

Democracia é um antónimo para ἀριστοκρατία (= aristokratia), “regime de uma aristocracia” que se forma pela
aglutinação dos substantivos que significam «o melhor» (superlativo grego substantivado: ἀριστος [= aristos]) e «poder» (=
κράτος [= kratos, com o sufixo - ia]). Assim, a denominação - aristocracia - traduz um regime em que o governo está nas

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

mãos dos mais nobres homens, adjectivação que congrega a distinção de uma pessoa tanto no que toca à linhagem como
ao carácter.

De acordo com a história da Grécia antiga, foi em Atenas, no tempo de Péricles, que se ensaiou com especial êxito
a prática da democracia como sistema de governo, no qual todos os cidadãos tinham o direito de votar para escolher o
representante do povo, porém, as mulheres assim como os escravos e os estrangeiros não podiam votar, o que ainda
representava, sem dúvida, uma gravíssima limitação democrática.

No sentido real do termo, democracia foi definida por Abraão Lincoln como sendo o “ governo do povo, pelo povo e
para o povo”.

Diz-se que é governo do povo, porque provém do povo no qual reside o poder que pelo mesmo povo é delegado
aos seus mandatários; é governo pelo povo, porque é ele que governa através dos seus representantes devidamente
eleitos; é governo para o povo, porque se destina a servir os interesses do povo e não os interesses de minoria privilegiada8.

A democracia, portanto, é o sistema político pelo qual as pessoas de um país exercem sua soberania mediante a
forma de governo que tenham decidido estabelecer.

3.8.1. Democracia e cidadania

Sendo a democracia governo do povo, pelo e para o povo, os cidadãs têm à sua disposição mecanismos para
reivindicar os seus direitos e até mesmo chegar ao poder sem necessidade de recorrer à violência armada das guerras civis
ou dos golpes de estado. Com a estabilidade política, os cidadãos têm mais garantia da estabilidade da sua economia.

3.8.2. Campos do exercício democrático

Nas democracias modernas, a autoridade suprema é exercida e sua maior parte pelos representantes eleitos pelo
sufrágio popular em reconhecimento da soberania nacional. Esses representantes podem ser substituídos pelo eleitorado de
acordo com os procedimentos legais de destituição e referendo.

Embora utilizados indistintamente, os termos democracia e república não são sinónimos. A democracia pressupõe a
participação popular na nomeação dos governantes, algo que nem s empre ocorrem com as repúblicas, muitas delas
ditatoriais ou submetidas a um regime de partidos único.

Todo o cidadão tem o direito de manifestar o seu consentimento perante as estratégias usadas pelo governo na
organização da “res publica”, do Estado9.

O cidadão exerce o seu direito e dever democrático, participando nas eleições partidárias e presidenciais, através
do referendo e outras formas de participação democrática dos cidadãos na vida da Nação.
3.8.3. Democracia e cultura

8
Cf. DE MATAMOURISCA, F, África renascida. Políticas sine quibus non, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, Liboa, 204,
p. 113.
9
Cf. QUIPUNGO, J, Teologia e cultura africana no contexto sócio-político de Angola, Instituto metodista de Ensino Superior
São Bernardo do Campo, São Paulo, 1987, p. 47.
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Não é possível uma democracia autêntica numa sociedade em que a maioria absoluta dos seus habitantes é
analfabeta e ignorante. Decididamente, uma pessoa ignorante está também limitada do ponto de vista da convivência
política, onde se pretende iguais oportunidades para todos, porque mal conhece os próprios direitos enquanto pessoa e
enquanto cidadão; não conhece leis que o protegem e, por isso, não pode defender-se da arbitrariedade e dos abusos dos
políticos. A ignorância deixa o homem vulnerável e indefeso e, tantas vezes os políticos aproveitam-se disto para manipular
as populações segundo as suas ideias e interesses. A autêntica democracia exige uma cidadania responsável e participativa
na vida e na organização do estado.

3.8.4. Os riscos da democracia

Em qualquer sociedade democrática, o governo deve estar ao serviço da colectividade, a sua acção deve ser a de
promover o bem comum dos cidadãos. Se o poder não for exercído em beneficio dos cidadãos, então a democracia torna-se
vazia, torna-se um exercíto de demagogia, palavra herdada do grego demagogia, e que se pode definir como uma «forma
de actuação política que visa agradar»às populações,mas com o mero intuito de alcançar o poder.
A demagogia é, portanto, um dos riscos que a democracia enfrenta; pode revelar-se na utilização dos principios da
democracia para ocultar outras intensões.
Alguns pensadores contemporâneos crêem que um dos maiores riscos para os sistemas democráticos
contemporâneos, é o da apatia das populações que, arrastadas pelos valores do consumismo, se alheiam e afastam dos
valores mais profundos que devem guiar a vida em comumdos seres humanos.
A instabilidade traz desordem, podendo redundar em anarquia, um dos riscos da democrácia.Os regimes
democráticos permitem a liberdade individual de expressão e acção política. Mas, em caso de instabilidade, um regime
democático pode ficar em risco, já que o descontentamento e desorientação das populações perante uma crise podem levar
a uma situação anárquica, com corrupção, delinquência, violência, etc.

Em geral, a ética individua um dos riscos maiores para as actuais democracia no relativismo ético, que induz a
considerar inexiste um critério objectivo e universal para estabelecer o fundamento e a correcta hierarquia dos valores. Hoje,
tende-se a afirmar que o agnosticismo e o relativismo céptico constituem a filosofia e o comportamento fundamental mais
idóneos às formas políticas democráticas, que todos quantos estão convencidos de conhecer a verdade e firmemente
aderem a ela não são dignos de confiança do ponto de vista democrático, porque não aceitam que a verdade seja
determinada pela maioria, ou seja, variável segundo diversos ângulos políticos. A este propósito, é necessário nota que, se
não existe nenhuma verdade última que guie e oriente a acção política, então as ideias e as convicções podem ser
facilmente instrumentalizadas para fins de poder. Uma democracia sem valores converte-se facilmente, num totalitarismo
aberto ou dissimulado, como a história, como ciência, a demonstra.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

4.1- DEFINIÇÃO E COMPREENSÃO DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Emanuel Kant, considera que “O homem é a única criatura que precisa ser educada. Por educação
entende-se o cuidado de sua infância, a disciplina e a instrução”.

A palavra educar, do ponto de vista etimológico, deriva do latim educare, cujo sentido estava associado a
“conduzir” e a “extrair, no sentido de dentro para fora”. Assim, num sentido geral, por educação entende-se o
conjunto dos cuidados a ter com um ser humano, uma criança, desde a infância (o que abrange desde o
cuidado básico em manter do melhor modo a sua sobrevivência física até ao cuidado em acompanhar o
desenvolvimento de todas as suas potencialidades). “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem se
não pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz”. Emanuel Kant.

Para Sócrates, o homem é o que é através da educação. A filosofia vai até ao fundo das coisas, procura
sempre saber mais sobre o sentido das coisas. Interroga-se sobre o que vale a pena ser ensinado e porquê;
sobre quais os fins da educação.

Uma filosofia da educação tem de provocar uma reflexão determinada, rigorosa e de conjunto dos
problemas que a realidade educacional apresenta. Não estabelece métodos ou técnicas da educação; não
visa fornecer os meios da educação, antes funciona como elementos aglutinador do edifício pedagógico,
tentando levantar as questões no domínio da existência humana. Tais como: o que é a educação? Porquê
educar? É possível educar? Quem é o homem? O homem como ser humano, necessita de ser educado ou
não? Quem pode ser educado? A educação pode ser instrumento de libertação do ser humano? O que é ser
educador?

Associados à educação e à pedagogia encontram-se os seguintes conceitos: criar, ensinar e formar.

Criar é associado a alimentação, a sustentação. Coincide com a educação no núcleo da família, é uma
forma de educação que podemos considerar mais espontânea.

Ensinar é já um processo programado, designa uma forma intencional de ministrar conhecimentos, é uma
actividade que se integra numa instrução, com a intenção de atingir determinados fins, que são explícitos,
através de métodos mais ou menos codificados. É uma tarefa que pertence aos profissionais da educação.

Formar, é o conjunto dos dois primeiros conceitos, é um dos fins da educação, no fundo, preconizado em
todas as tendências desenvolvidas no âmbito da filosofia da educação. Pode ser entendido no sentido mais
restrito da formação profissional ou académica ou no sentido mais lato da formação cívica e moral. Formar é
portanto simultaneamente uma competência da família e da escola.

O processo educacional tem como objectivo a formação integral e harmoniosa do aluno, preparando-o
para a entrada na vida activa através de competências adquiridas e para a vida pessoal e social através de
valores adequados. Um dos fins da educação é a formação do indivíduo para a sua integração na sociedade,
no campo da integração profissional, do emprego, o indivíduo é sempre o seu objecto, o foco primeiro.

Fernoso, define a filosofia da educação como conhecimento contemplativo, sistemático, universal e último
da educação, isto é, dos processos de ensino por personalização, socialização e moralização.
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Está na origem da filosofia da educação procurar aprofundar e compreender o processo educativo tal
como é vivido, e levar os educadores, que são responsáveis pela orientação do processo educativo a
descobrir o ponto mais extremo desse processo. A filosofia da educação tem também como fim estabelecer a
relação com as várias ciências da educação. Que embora de modo diverso, incidem no educando.

4.2- FUNÇÃO, OBJECTIVO E OBJECTO DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

A função da filosofia da educação é, pensar sobre a educação, de modo a contribuir com novas
perspectivas. A educação, por seu lado, tem como objectivo desenvolver competências necessárias para a
realizar diversos actos, em diversos papéis, que dignificam o ser humano em todas as suas dimensões.

Um dos principais e primordial objectivo da filosofia da Educação no Ensino Secundário é ser capaz de
conferir aos conteúdos da ética uma moral dos valores e da responsabilidade que permeiam a prática
pedagógica e a formação de sujeitos activos, participantes e conscientes na construção da sua própria
identidade individual e colectiva.

A ética para os alunos (jovens) não deve ser separada da vida em família e da vida na escola, uma vez
que a educação está relacionada com a construção de uma nova sociedade, em função da participação de
seus cidadãos na realização concreta na política social, económica e cultural do País.

O ser humano encontra na cultura da humanidade, os valores que estruturam e que modificam a sua
inteligência para construir a sua personalidade e reconstruir a do seu grupo ou da sociedade. Cabe ao
professor transmitir aos alunos valores eminentemente positivos para construção das suas identidades, de
modo a torna-los autónomos, mais solidários e humanistas, numa sociedade coerente. A educação pode ser
um instrumento poderoso, desde a emancipação individual até À observância a sistemas de governo.
Tornando o indivíduo reflexivo e crítico, transforma-o em indivíduo integrando numa comunidade e não parte
de uma massa indistinta.

Quanto ao objecto, a filosofia da educação envolve considerações éticas, epistemológicas e até mesmo
metafísicas.

A dimensão ética trata do processo educacional, no seu conjunto social ou político e nas suas dimensões
religiosas e morais. Estabelece padrões capazes de aferir valores ou julgar comportamentos. Procura
estabelecer o que é bom em oposição ao que é mau, certo ou errado.

Na dimensão epistemológica ou do conhecimento, trata da natureza do conhecimento e de como é


organizado e ensinado. A sua abrangência é uma concepção da verdade e da liberdade, naquilo que é
ensinado.

Na dimensão metafísica, ou da abstracção, a filosofia aborda a natureza do ser humano. Relaciona-se


com o pensamento sobre tudo o que existe, numa tentativa de descobrir princípios de coerência no domínio
global do pensamento humano.

Em suma, a educação tem como função primordial uma prática de acção. Ela permite conhecer bem o
aluno (sujeito) que se destina a ser educado, clarificar as limitações que o condicionam, estudar o seu
comportamento habitual e criar leis que possam ser válidas para toda a humanidade.

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

4.3- DIMENSÃO DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO NO


CONTEXTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO, PEDAGOGIA E POLÍTICA

Não é possível falar de educação sem intercalar a pedagogia e, num determinado âmbito, sem analisar
também a política. O significado da palavra educação se encontra associado à noção de “tirar de dentro para
fora, fazer sair”. No entanto, podemos dizer que a educação se compõe de dois movimentos: um de dentro
para fora (desenvolvimento) e o outro de fora para dentro (recebimento). Tendo em conta a raiz etimológica
da palavra educação, enquadrando-a numa visão antropológica da filosofia, pode-se definir como
“desenvolvimento integral, harmonioso e progressiva da pessoa humana até a sua realização da plena
maturidade”.

A palavra educação designa um processo de conduzir, guiar o ser humano, consistindo em adoptar,
cuidar, cultivar, tendo atenção às condições de crescimento do ser, desenvolvendo as suas capacidades.
Desta feita, não se pode falar em educação sem ter em conta a pedagogia. Os seres humanos diferenciam-se
enquanto indivíduos, cada ser é único na sua identidade; mas enquanto social deve ser posto numa situação
de igualdade: sujeito do mundo e no mundo e consequentemente numa situação de igualdade nas relações
pedagógicas.

A pedagogia é uma teoria prática, que tem por objecto reflectir sobre sistemas e procedimentos do
processo do ensino aprendizagem com o fim de avaliar seu valor, como dirigir a acção dos docentes. A
pedagogia exige que o aluno seja activo em todas as actividades do ensino-aprendizagem, pois ele é o
sujeito principal do ensino. O modo de ser activo depende do conteúdo pode estar relacionado com actividade
física ou actividade mental.

O processo de ensino aprendizagem deverá sempre possibilitar que os sujeitos, professores e alunos, se
encontrem, troquem, socializem conhecimentos, experiências, afectos, histórias, sonhos e utopias.

Historicidade e autonomia da ciência pedagógica

A evolução da cultura moderna contribuiu para a configuração da pedagogia como ciência autónoma. Na
antiguidade a pedagogia era considerada como parte da política, a qual por sua vez era vista como ramo da
filosofia moral. O ideal de educação dos gregos e dos romanos, era a formação do homem como cidadão.
Com a revolução intelectual, moral e social, o cristianismo trouxe para primeiro plano, o problema ético-
religioso: a deixa de fazer parte da política e torna-se um capítulo da moral teológica, como o foi durante toda
a Idade Média.

Com o humanismo e o renascimento, o ideal educativo já não era o de ser perfeito cidadão, tendo
presente o ideal do santo, mas sim, ser um homem culto, homem de muitos conhecimentos científicos. A
pedagogia passa a articular-se com a filosofia.

A pedagogia tem como ciências auxiliares; a psicologia, a antropologia, a ética, a biologia e a sociologia.
Todas estas abordam o indivíduo na sua evolução científica, constituindo pressupostos necessários à
pedagogia. A pedagogia é uma ciência autónoma, embora requerendo um contributo interdisciplinar.

Finalidade da pedagogia moderna

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

A pedagogia moderna altera radicalmente a relação tradicional entre o mestre e o discípulo, confirmando
o papel primário do aluno no processo da sua educação, frente ao próprio mestre professor. A partir do século
XX, o aluno passou a ser o eixo da acção educativa, a cujas necessidades o professor deve adoptar-se,
procurando conhecê-las e fazendo de tal modo que o aluno se autopromova.

Os professores enquanto ensinam aprendem e os alunos enquanto aprendem ensinam. Do ponto de


vista teórico e científico, consideram-se três aspectos fundamentais para a educação:

1- Pessoal: porque o aluno é uma pessoa e não uma coisa ou objecto, sujeito dotado de actividade,
personalidade e criatividade. Ele pensa e age seguindo energias interiores. A educação deve, pois
promovê-lo ou melhorá-lo, tornando-o num indivíduo que se autopromova.
2- Social: Pode ser considerado como facto e como objectivo. Como facto, a educação é um
acontecimento eminentemente interpessoal e social, pois envolve pelo menos duas pessoas,
educador e educando. Como objectivo as finalidades primeiras do processo educativo fazem-nos
conhecer os outros e habituam-nos a conviver com eles, em harmonia, para a realização de um bem
superior, comum a todos. Mas é preciso que haja interacção entre indivíduo e o grupo.
3- Cultural: a educação transmite à pessoa os valores culturais elaborados pela humanidade, no
decurso de gerações, transformando um ser inculto num ser que pode contribuir para o progresso da
civilização na qual nasceu.

Os três aspectos interagem entre si. Alguém, ao formar-se, está necessariamente a socializar-se e ao
mesmo tempo a adquirir os padrões culturais, tanto tradicionais quanto modernos, positivos, ou negativos,
que hão-de ajudar a pessoa a formar a sua identidade individual e colectiva procurando ser aceite no seio dos
grupos e da sociedade em que vive. Portanto a finalidade educativa consiste em primeiro lugar, na realização
da personalidade entendida como afirmação da individualidade e originalidade de cada um; em segundo
lugar, na capacidade de participação na vida social.

Métodos educativos

A palavra “método” deriva do grego méthodos, que significa caminho para chegar a um fim. Em
pedagogia existem diversos métodos, ou seja diversos modos de conduzir o processo de ensino e
aprendizagem.

Cada método educativo implica um modo específico de organizar e comunicar os conhecimentos, tendo
em conta os objectivos. Em termos gerais os métodos variam em função da sua “passividade” ou da sua
“actividade”. Classificam-se comummente em três grupos que são: métodos afirmativos (expositivos e
demostrativos), métodos interrogativos e métodos activos.

Nos métodos afirmativos, a transmissão dos conhecimentos é sobre tudo oral, verbal, a mais clássica
forma de comunicação. (exposição dos conhecimentos, explicação dos conhecimentos expostos através de
debates, diálogo, uso de processo de interrogação).

Nos métodos intuitivos, a transmissão dos conhecimentos consiste em mostrar algo, de modo que o
educando, possa intuir o conhecimento que se pretende transmitir. (demostração dos conhecimentos, uso de
meios audiovisuais para a exposição dos conhecimentos, uso de processos de produção de textos escritos).

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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Nos métodos activos, os conhecimentos são transmitidos de várias formas em adaptação as


características dos educandos. (apropriação dos conhecimentos através do fazer (trabalhos de grupo,
projectos em equipa), uso do processo de casos reais para contextualização dos conhecimentos adquiridos;
uso de simulação de situações e recursos lúdicos para experimentação).

Nestes métodos, considera-se o que educando apenas poderá apreender bem os conhecimentos quando
essa apreensão se faz de vários modos: por observação, por reflexão e por experimentação. Na escolha dos
métodos pedagógicos, dever-se-ão ter em conta as características dos alunos, dos conhecimentos a
transmitir, da realidade envolvente, dos objectivos a curto e longo prazo.

Pedagogia e política

A política desempenha um papel preponderante na orientação das linhas pedagógicas do sistema de


ensino vigente em determinado país. As correntes pedagógicas e as ideias políticas estão interligadas entre
si, apresentando aspectos em comum. As ideias políticas acompanham e oferecem argumentos objectivos
para sustentar a educação, as diferentes teorias pedagógicas trazem implícitas ou explicitas diferentes
representações ideais da sociedade, conjuntos se valores e pautas de conduta.

A pedagogia funciona, como uma ideologia, já que pode canalizar uma ideologia para a realidade
económica, social e cultural de um país. A educação tem uma função política, pois, pode também lutar e
ajudar a lutar de forma esclarecida por melhores condições de vida, contribuir para a formação dos cidadãos,
dos dirigentes políticos, elevar a consciência das pessoas, socializar o conhecimento etc.

A escola é uma organização que está ligada a política, pois, ao transmitir modelos sociais deve obedecer
a regras que o Estado estabelece para todos os cidadãos.

Relação entre educação e Estado democrático

Uma sociedade só é realmente democrática se a escola ajudar realmente a formar democratas. A


pedagogia democrática exige que os alunos adquiram, sempre que possível, a autodisciplina, o sentido da
cooperação, o respeito do outro, o próprio princípio do seu funcionamento.

O ensino democrático deve ser objectivo. O papel do Estado democrático é, permitir a cada um encontrar
por si mesmo o sentido da sua vida como adulto e cidadão.

4.4- AGENTES DA EDUCAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO AMBIENTE FAMILIAR, SOCIAL E CULTURAL

A aprendizagem é uma tarefa activa que requer a intervenção de dois agentes mais directamente: o aluno
e o professor. A intervenção do aluno é aberta perante o professor pela sua vontade de aprender. O professor
activamente investiga e ensina. É nesta abertura das intervenções do aluno e do professor que surge o
conhecimento.

O objectivo do ensino aprendizagem é ensinar, usando um dos vários métodos por meio dos quais o
conhecimento passa para o aluno e este possa reproduzi-lo com facilidade.
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Filosofia 12ª Classe/ COORDENAÇÃO DE FILOSOFIA

Perfil do professor

O professor deve ser um indivíduo minimamente instruído, tanto no campo da educação dos valores
culturais quanto na instrução dos conhecimentos científicos; ele está ao serviço da escola e do aluno, como
orientador, facilitador, mediador dos valores culturais e dos conhecimentos científicos que os alunos
precisam.

Perfil do aluno

O aluno não é um elemento passivo, é o agente principal do ensino aprendizagem, é o centro, um agente
activo do processo educativo. Deve ser o motor que move o processo, o professor é apenas o guia; o aluno
deve por seu lado buscar a sua sabedoria com os seus esforços mentais, devendo guiar-se no campo da
investigação, tornar-se auto-aprendiz e procurar a sua própria evolução nas várias áreas do conhecimento.

Perfil dos pais

A interacção dos pais no processo de ensino aprendizagem é muito importante, forma-se em triângulo:
pais – filhos – escola. É este triângulo que em termos científicos se designa. Projecto pedagógico. O projecto
pedagógico é um projecto que a escola define, incluindo todos os agentes da educação: os pais ou
encarregados de educação, professores, funcionários, directores das turmas, vigilantes e equipa da direcção
da escola.

Os pais devem acompanhar o processo de ensino aprendizagem dos seus filhos sem prejuízos do lado
da escola. A influência de todo o ambiente familiar, social e cultural ajudará a qualidade do ensino para obter
sucesso no ensino aprendizagem dos alunos. É uma responsabilidade dos pais serem comparticipantes no
processo educativo dos seus filhos. É necessária uma família que reflecte sobre os problemas da educação,
nos aspectos económicos, cultural, político, educativo, intelectual e da organização da escola.

O projecto pedagógico tem como finalidade de estabelecer em conjunto as normas e os conselhos dos
educadores, para uma boa camaradagem, que se reflicta nas figuras familiares, na assimilação dos
conhecimentos científicos, dos valores culturais, tendo atitudes positivas de um estilo de vida que possa
influenciar, positivamente, o comportamento dos alunos.

Atitude dos encarregados de educação perante o projecto pedagógico

O ensino requer trabalho em grupo. A acção dos grupos é muito salutar, pois cada aluno inserido no
grupo vai adquirindo hábitos colectivos, e desse modo o grupo, de uma maneira geral, começa a assimilar um
modo comum de comportamento, tanto nos valores culturais, quanto nos valores técnico-científicos, tomando
juízos de valor e ideais.

As novas realidades exigem que os pais, os encarregados de educação estejam em sintonia


com a direcção da escola para acompanhar as actividades escolares e extra-escolares que
vão desenvolvendo ao longo do ano lectivo. No processo do ensino aprendizagem dos
alunos, a presença de todos os agentes da educação é imprescindível, pois constitui uma
força estimuladora da energia que deve ser desenvolvida espontaneamente pela interioridade
do aluno. O projecto pedagógico tem de ser convincente e atraente, para ambas as partes.

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Os encarregados de educação devem criar laços de confiança com a direcção da escola e


dialogar constantemente sobre os problemas e inquietações que a escola apresenta.

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