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A lógica de Aristóteles

1. Introdução

[...]

Como bem deixou claro o nosso douto professor Luis Rodolfo Souza Dantas: "...
Aristóteles criou a lógica propriamente dita..." Em verdade, Aristóteles foi o
primeiro a dar a Lógica um tratamento em separado.

A "analítica", nomenclatura da qual o próprio Aristóteles se utilizou para designar a


lógica, não foi considerada por ele uma ciência propriamente dita, mas sim um
estudo propedêutico. Por isso, suas exposições se conectam constantemente com o
ser, como se expusesse a lógica em função de outro ser filosófico.

Mesmo assim, Aristóteles empregou ao estudo da lógica amplidão e admirável


perícia.

A Dialética, onde encontramos uma tese e uma antítese, e dessas duas retiramos a
síntese, esta, então, se tornará uma tese, obteremos outra antítese e uma nova
síntese, e assim por diante até encontrarmos uma tese perfeita, foi a forma
encontrada por Platão para se acessar o mundo das idéias. Para Aristóteles era
desnecessário separar realidade e aparência em dois mundos diferentes e a
dialética, para ele, era um procedimento inseguro para o pensamento e a
linguagem da filosofia a da ciência, esse foi o motivo pelo qual Aristóteles criou um
conjunto de procedimentos, demonstrações e provas, ou seja, a lógica, ou analítica.

Em sua lógica, Aristóteles estabeleceu um conjunto de regras rígidas, as quais


deveriam ser seguidas para que uma conclusão fosse aceita e logicamente válida. A
linha de raciocínio lógico er baseada em premissas e conclusões. Como por
exemplo: Todo ser vivo é mortal (premissa 1), colocamos, então, outra premissa:
Fábio é um ser vivo,​ temos como conclusão que ​Fábio é mortal​.

O ponto de partida do procedimento lógico não está em opiniões contrárias, mas


sim em leis universais do pensamento.

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A lógica de Aristóteles possui seis características básicas, quais sejam:

● Instrumental – a lógica é utilizada como um instrumento, não pe


propriamente uma ciência, mas seve como uma técnica a ser utilizada nas
ciências;
● Formal – estuda a estrutura das proposições e do raciocínio dedutivo,
ignorando o conteúdo da preposição;
● Propedêutica – o conhecimento da lógica deve ser anterior, serve como
afinação do raciocínio. Deve ser conhecida antes de se iniciar uma
investigação filosófica ou científica;
● Normativa – estabelece meios de conformação ao raciocínio, o raciocínio
coreto deve obedecer a regras, princípios e Leis. Essa normatização pode ser
contestada;Doutrina da Prova – fundamentos necessários de todas as
demonstrações, deve existir uma base, algo que sustente a veracidade de
uma conclusão ou proposição;
● Geral – constatação de que esses princípios, regras e leis de raciocínio são
universais e imutáveis.

Passaremos agora a um estudo mais aprofundado da lógica Aristotélica.

2. A Lógica de Aristóteles

No século II da era cristã, as obras de Aristóteles sobre lógica foram reunidas por
Alexandre de Afrodisia sob a designação geral de ​Órganon​. Inclui seis tratados, cuja
seqüência corresponde à divisão do objeto da lógica. Estuda as três operações da
inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio.

O conceito é mera representação mental do objeto. Juízo é um ato de afirmação ou


de negação de uma idéia a respeito de outra. Raciocínio é a articulação de juízos. O
objeto da lógica é o raciocínio, não é o conceito, nem os juízos. Em outras palavras,
não há pensamento estruturado quando se consideram idéias isoladas.

A proposição é a expressão verbal do juízo, é estudada por Aristóteles no tratado


Peri hermeneias (Da interpretação)​, do ​Organon​. Um juízo é verdadeiro quando une
na proposição a realidade, ou separa, na proposição, aquilo que realmente está
separado. Verificamos, então o papel fundamental da verdade, como adequação
entre um juízo e a realidade.

A partir do juízo de existência ou realidade, Aristóteles estabelece as seguintes


modalidades de oposição e de negação: o animal é; o animal não é; o não-animal
é; o não-animal não é. As proposições simples apresentam as mesmas

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modalidades. Um outro tipo de proposições admitiria maior número de
modalidades: o homem é mortal; o homem não é mortal; o homem é não-mortal;
o homem não é não-mortal; o não-homem é mortal; o não-homem não é mortal,
seguindo entre todas as possibilidades...

Os juízos se dividem de acordo com a qualidade, a quantidade, a relação e a


modalidade. Quanto à qualidade, podem ser afirmativos ou negativos, são assim
considerados de acordo com a conveniência do predicado ao sujeito, por exemplo:
O homem é racional (juízo afirmativo). De acordo com a quantidade, os juízos
podem ser de três tipos: universais, quando o sujeito é tomado em toda a sua
extensão (todo homem é mortal); particulares, quando o sujeito é tomado em
parte de sua extensão (alguns homens são inteligentes); e individuais ou
singulares, o sujeito ´tomado no mínimo de sua extensão (aquele homem é
ladrão).

Com relação à quantificação do sujeito, distinguem-se a compreensão, que é o


conteúdo do conceito, e a extensão, que indica a quantidade de objetos aos quais o
conceito se aplica. Quanto maior for o conteúdo, ou conjunto de atributos
característicos do conceito, menor será a extensão. Exemplo: ​livro ​(temos, por este
conceito, todo e qualquer livro), mas, se acrescentarmos o atributo ​vermelho​,
aumentaremos a compreensão e limitamos a quantidade de livros a que nos
referimos, diminui-se a extensão.

Quando à relação, os juízos se distinguem em categóricos, hipotéticos e disjuntivos.


No juízo categórico, o enunciado independe de condições (Aristóteles é grego); no
hipotético, é condicional (se fizer tempo bom, sairemos); no disjuntivo, também
condicional, a condição está na própria predicação (o objeto real é físico ou
psíquico).

Conforme a modalidade, os juízos podem ser assertóricos, problemáticos ou


apodícticos. No juízo assertórico, a validade do enunciado é de fato e não de direito
(o livro está aberto, mas poderia estar fechado); no problematico, a validade é
apenas possível (talvez as injustiças sejam reparadas); no apodíctico a validade é
necessária e de direito, a não de fato (dois mais dois são quatro).

Raciocinar, em lógica, significa estabelecer uma relação entre duas proposições ou


enunciados. No tratado ​Primeiras Analíticas​, terceira parte do ​Órganon,​ Aristóteles
estuda o silogismo, doutrina que este criou para estabelecer as condições
fundamentais do conhecimento científico. O silogismo é "um argumento do qual,
admitidas certas coisas, algo diferente resulta necessariamente de sua verdade,
sem que se precise de qualquer outro temo". Aristóteles distingue o silogismo, ou
dedução, da indução. A dedução vai do universal ao particular, e a indução do
particular ao universal.

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No tratado do Ó ​ rganon de nome ​Segundas analíticas,​ Aristóteles estuda a
demonstração e a definição.

A propósito, indica os temas possíveis da investigação científica, seguindo um


caminho;

1. o que apalavra significa;


2. o que o objeto correspondente é;
3. qual a essência desse objeto;
4. quais são suas propriedades;
5. porque tem essas propriedades.

Assim, o método cientifico começa com a determinação de um objeto conhecido


apenas pelo nome, e prossegue com a determinação da essência e da existência do
objeto.

A demonstração é um silogismo científico cujas premissas devem ser verdadeiras,


primeiras, indemonstráveis e mais inteligíveis do que a conclusão e a causa da
conclusão. Os pontos de partida do conhecimento são os axiomas e as teses das
diversas ciências, subdivididas em hipóteses e definições. Acrescentam-se ainda os
postulados que, ao contrário dos tipos de proposição mencionados, só devem ser
admitidos depois de demonstrados.

A ciência consiste no encadeamento lógico das proposições que, tomadas


isoladamente, não poderiam ser conhecidas como verdadeiras. A rigor, a
demonstração trata de evidenciar, por meio de mediações sucessivas, o que
inicialmente é admitido como simples hipótese ou suposição. Além da
demonstração ou da prova, Aristóteles admite, como forma de conhecimento, os
princípios, que excluem a demonstração.

Perguntar o que é alguma coisa é perguntar o qual é a essência dessa coisa, e


responder à pergunta é expor essa essência em sua definição: a indemonstrável (a
unidade em aritmética, por exemplo); a definição causal ou real; e a definição
nominal. A propósito da definição da espécie, recomenda: 1- só tomar como
características de espécie os atributos que pertencer à sua essência; 2- apresentar
os atributos em ordem, do determinável ao determinado; 3- dar as indicações
necessárias para distinguir o definido de tudo o que dele difere. A obediência a
essas regras permitirá definir, pela indicação do gênero próximo e da diferença
específica, determinações que, por hipótese, devem conter a essência do objeto
definido.

Por consistir numa redução à evidência, a demonstração implica a apreensão dos


primeiros princípios, indemonstráveis. No processo que conduz da percepção à

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ciência, Aristóteles vê que o primeiro momento é a memória (persistência da
percepção) e o seguinte é a experiência, que é a lembrança das percepções dos
mesmos objetos e a abstração daquilo que apresentam em comum. A passagem do
particular ao universal é possível porque o que se percebe no objeto particular não
é o que o particulariza, mas os caracteres que tem em comum com outros objetos
semelhantes. Ao ascender a universais cada vez mais extensos, chega-se, pela
razão intuitiva, aos primeiros princípios da ciência, os axiomas, as definições, os
postulados e as hipóteses. Segundo Aristóteles, é por indução que se apreendem os
primeiros princípios, pois é assim que a percepção produz o universal.

[...]

Fonte
F., Éder. ​A lógica de Aristóteles.​ ​22 nov. 2006​. Disponível em:
<http://pt.oboulo.com/a-logica-de-aristoteles-20308.html>. Acesso em: 03 set.
2009.

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